Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Laurinete de Souza1
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo ser uma contribuição para o debate acerca da
importância do brinquedo no desenvolvimento cognitivo das crianças da primeira
infância. Nessa intenção o trabalho busca explorar as posições mais correntes que dizem
respeito as atividades lúdicas. Para ampliar a discussão, buscou-se embasamento teórico à luz
da etimologia da palavra JOGO, além de pesquisas e abordagens de educadores como
Kishimoto, Félix e Ferreira sobre a promoção das brincadeiras. Em seguida, mostrou-se
sedimentar um posicionamento, explorando as origens e o significado do jogo, do brinquedo,
suas possibilidades como veículo motivador, sua importância e validade para o
desenvolvimento do aprendiz. Discorreu-se também sobre como o jogo interfere no
desenvolvimento humano. Abarcou-se esse trabalho apontando o desenvolvimento cognitivo
segundo os educadores Lev Vygotsky e Jean Piaget. Utilizamos a pesquisa bibliográfica,
fundamentada na reflexão de leitura de livros, artigos, revistas e sites, bem como pesquisa de
grandes autores referente a este tema. Além disso, como proposta também teve esse trabalho o
objetivo de compreender o jogo na pré-escola como possibilidade de desenvolvimento da
autonomia, da coordenação motora, da criatividade e da aprendizagem significativa, através
da mediação docente. Desta forma, a leitura desse material terá como intenção buscar
proporcionar uma postura consciente sobre a importância do brinquedo na vida da criança.
1
Pedagoga, Especialista em Planejamento, Implementação e Gestão da Educação à Distância pela Universidade
Federal Fluminense (UFF). E-mail: laurinetinha@hotmail.com.
INTRODUÇÃO
Antes de mais nada, interagir e brincar são os eixos fundamentais de trabalho com as
crianças da pré-escola. Sendo assim, o presente trabalho tem como objetivo tratar o tema
BRINQUEDO como eixo central de propostas de habilidades cognitivas na pré-escola. Isso
requer discussões sobre sua importância e papel, valorizando o lúdico como instrumento de
desenvolvimento humano.
É notório afirmar que o jogo é um recurso indispensável à saúde física e emocional do
ser humano, canalizando situações de aprendizagem. Através dele desenvolve-se a linguagem,
o pensamento, a dedução lógica, a socialização.
A escolha sobre o tema surgiu a partir da necessidade de promover discussões sobre a
importância dos instrumentos lúdicos, uma vez que a criança de hoje não faz uso dos
brinquedos infantis, pois a sociedade desconhece o verdadeiro papel do brincar.
Não pretende o presente trabalho ser um manual com fórmulas que possam vir a
resolver problemas da infância. Pretende-se sim, buscar discussões e reflexões sobre as
oportunidades que se deve proporcionar à uma criança de desenvolver suas habilidades
cognitivas através de jogos, promovendo assim aprendizagem e socialização.
O brincar permite à criança a oportunidade de construir uma identidade autônoma e
criativa. A criança que experimenta o brinquedo, mergulha no mundo da cultura.
O problema abordado nessa pesquisa será: É possível o brinquedo desenvolver o
cognitivo de crianças da pré-escola, fomentando as relações interpessoais através do ambiente
físico e a construção do conhecimento? Ao brincar, a criança aprende e se desenvolve e isso
se dá principalmente porque ela vai vivenciando suas experiências.
O objetivo dessa pesquisa é explorar o assunto a fim de propor um trabalho que
valorize o lúdico e suas formas, visando sempre a aprendizagem das crianças, seu
desenvolvimento cognitivo e seu papel no espaço pré-escolar.
O texto está estruturado em três capítulos: o primeiro trata do conceito da palavra
jogo, sua etimologia e conceito conforme alguns educadores, o que ele pode proporcionar,
além da concepção de brinquedo e brincadeira para Piaget e Vygotsky e sua importância para
o desenvolvimento de uma criança. O segundo faz uma abordagem sobre o desenvolvimento
cognitivo da criança segundo alguns educadores que valorizam o movimento, as relações
interpessoais, inteligência, e as ações através dos jogos e brincadeiras presentes na pré-escola,
território frequentado por crianças da primeira infância. O terceiro e último capítulo aponta o
espaço da pré-escola na atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, assim como na
Base Nacional Comum Curricular.
Objetivo Geral:
. Analisar a influência dos jogos no desenvolvimento cognitivo nas crianças da pré-
escola, contribuindo para o processo de aprendizagem e socialização do sujeito.
Objetivos Específicos:
. Reconhecer a importância dos jogos no desenvolvimento cognitivo, considerando o
trabalho educativo da Psicopedagogia.
. Admitir os jogos como recursos que colaboram na educação, promovendo uma
aprendizagem rica e prazerosa.
PROBLEMA
JUSTIFICATIVA
METODOLOGIA
DESENVOLVIMENTO
O JOGO
Pesquisando a história dos brinquedos, passeamos por culturas, modos de vida e regras
sociais diferenciados. Os brinquedos são muito antigos e sua origem vai de encontro à história
do próprio homem. Com a intenção de retratar crenças e costumes, brinquedos e brincadeiras
habitam o mundo do faz-de-conta da humanidade.
De acordo com KISHIMOTO (op cit, p. 33) “o brinquedo é representado como um
objeto suporte da brincadeira", ou seja, brinquedo aqui estará concebido por objetos que
adquirimos para proporcionar lazer e aprendizagem à criança. Além disso, o brinquedo pode
promover o desenvolvimento das habilidades físicas e mentais.
Ao brincar, o ser humano interage, constrói sua identidade, estabelecendo a diferença
entre si mesmo e o outro. Conforme afirma Pereira, (2002, p.7), “O ser humano brinca desde
tenra idade. De maneira geral, a criança pequena traz consigo o impulso da descoberta, da
curiosidade e do querer apreender as coisas.”
Brinquedos realizam desejos, sonhos, e na pré-escola, o brinquedo é a peça chave das
atividades da criança. O brinquedo carrega em si uma história pessoal recheada de
significado, sentimento, afeto, ação. Quem brinca, o sente intensamente.
Para Bassan, 1997, p. 40, "a estruturação de um jogo se constrói dos recortes feitos
pela criança no que ela percebe em sua cultura, elaborados criteriosamente de uma seleção
que tem como referência as suas possibilidades de verossimilhança com o real."
Através da brincadeira, a criança se sente mais segura e estimulada a desenvolver sua
autonomia e sua identidade. Por ser a ação do brincar, provoca diversão e entretenimento,
abusando da criatividade e da imaginação.
É a partir da brincadeira e da interação que a criança desenvolve as estruturas,
habilidades e competências que serão importantes ao longo de toda a vida. Na pré-escola,
enquanto brinca, a criança convive com regras, contribuindo na sua integração no grupo.
Zanluchi (2005, p. 89) reafirma que “Quando brinca, a criança prepara-se para a vida,
pois é através de sua atividade lúdica que ela vai tendo contato com o mundo físico e social,
bem como vai compreendendo como são e como funcionam as coisas”. Brincadeiras nada
mais são do que jogos realizados livremente pelo ser humano, ora vivenciando, ora se
distanciando da realidade. As brincadeiras provocam espaços para que se expressar medos e
desejos, pois brincar é rico, porém complexo, proporcionando a quem brinca, oportunidades
de resolução de problemas. O brincar e a brincadeira na pré-escola devem ser consideradas
formas comunicativas e expressivas, através das quais a criança experimenta e vive ações
coletivas.
Carvalho (1992, p.28) diz: “(...) o ensino absorvido de maneira lúdica, passa a adquirir
um aspecto significativo e afetivo no curso do desenvolvimento da inteligência da criança, já
que ela se modifica de ato puramente transmissor a ato transformador em ludicidade,
denotando-se, portanto, em jogo.” As trocas entre a criança e outras crianças, o contato direto
com as variadas formas de brincar, assim como as capacidades de atenção, memória,
imaginação e criatividade, são alguns exemplos da importância das brincadeiras na construção
do ser humano e seu desenvolvimento. Levando-se em conta esse estudo, podemos perceber
que a criança em idade pré-escolar, encontra-se na fase onde o desenvolvimento da linguagem
torna-se marcante, necessitando do concreto para suas atividades e apresentando-se ainda
egocêntrica, tendo como suporte para superar essa fase os jogos e as brincadeiras infantis.
Para Ferrari, (2004, p. 58), “Lev Vygotsky, em sua corrente pedagógica denominada
sociointeracionismo sustenta que, a aprendizagem acontece em contato com a sociedade, pois
na ausência do outro, o homem não se constrói.” Por promover interações, o jogo destaca-se
como elemento constitutivo da aprendizagem. Se ignoramos as necessidades da criança e os
incentivos que são eficazes para colocá-la em ação, nunca seremos capazes de entender seu
avanço de um estágio de desenvolvimento para outro, porque todo avanço está conectado com
uma mudança mais acentuada nas motivações, tendências e incentivos.
O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO
De acordo com Vygotsky (op. cit., p. 4), o aprendizado humano é de natureza social,
ou seja, a “característica essencial do aprendizado é que ele desperta vários processos de
desenvolvimento internamente, os quais funcionam, apenas, quando a criança interage em seu
ambiente de convívio.”
Ao brincar, a criança aguça sua capacidade cognitiva, aprendendo e se socializando.
Ela precisa do outro para se sentir segura e diferenciar-se. Por ser sócio e historicamente
construído, o ser humano convive e inter-relaciona-se, desenvolve sua fala e seu pensamento
reflexivo.
A brincadeira fornece, pois, ampla estrutura básica para mudanças da necessidade e
da consciência, criando um novo tipo de atitude em relação ao real. Nela aparecem a
ação na esfera imaginativa numa situação de faz-de-conta, a criação das intenções
voluntárias e a formação dos planos da vida real e das motivações volitivas,
constituindo-se, assim, no mais alto nível de desenvolvimento pré-escolar.
(VYGOTSKY, op. cit., p. 89)
A criança é um ser único, com toda as suas particularidades pessoais. Ela possui
capacidade de pensar, organizando suas experiências vivenciadas incluindo, em suas
interações, adultos e crianças. Suas atividades adquirem um significado próprio, através de
um sistema de comportamento social. “Toda criança é sujeito ativo e nas suas interações está
o tempo todo significando e criando o mundo ao seu redor. A aprendizagem é a possibilidade
de atribuir sentido às suas experiências.” (Corsino, 2009, p. 117).
a criança se inicia no mundo adulto por meios da brincadeira e pode antever os seus
papéis e os valores futuros. Por meio da brincadeira a criança vai se desenvolver
socialmente, conhecerá as atitudes e as habilidades necessárias para viver em seu
grupo social; usando a brincadeira ela estará estimulando o seu desenvolvimento,
aprendendo as regras dos mais velhos. (MARANHÃO, op. cit., p. 31).
A CRIANÇA DA PRÉ-ESCOLA
A pré-escola do passado era um lugar para onde as crianças iam para que os pais,
especialmente as mães, pudessem trabalhar. Os responsáveis procuravam as instituições de
Educação Infantil para que estas pudessem substituir o carinho, os cuidados e a atenção
voltadas para seus filhos enquanto aqueles estivessem ausentes. De um passado que
considerava a criança como um adulto em miniatura aos dias atuais, outros modos de olhar e
tratar a criança e novas concepções acerca da infância surgiram. Outrora, desde cedo a criança
era introduzida no mundo dos adultos, não havia uma concepção de infância definida. Assim
segundo Kramer, 1996, p. 54,
(...) a criança é concebida na sua condição de sujeito histórico que verte e subverte a
ordem e a vida social. Analiso, então a importância de uma antropologia filosófica
(nos termos que dela falava Walter Benjamin), perspectiva que, efetuando uma
ruptura conceitual e paradigmática, toma a infância na sua dimensão não-
infantilizada, desnaturalizando-a e destacando a centralidade da linguagem no
interior de uma concepção que encara as crianças como produzidas na e produtoras
de cultura.
. Art. 23 A educação pré-primária destina-se aos menores até sete anos, e será
ministrada em escolas maternais ou jardins de infância.
. Art. 24 As empresas que tenham a seu serviço mães de menores de sete anos serão
estimuladas a organizar e manter, por iniciativa própria ou em cooperação com os poderes
públicos, instituições de educação pré-primária.
. Art. 19 “Os sistemas de ensino velarão para que as crianças de idade inferior a sete
anos recebam conveniente educação em escolas maternais, jardins de infância e instituições
equivalentes”.
II - pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) anos de idade. (Redação dada pela
Lei nº 12.796, de 2013)
II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) horas, distribuída por um mínimo de 200
(duzentos) dias de trabalho educacional; (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) horas diárias para o turno parcial e de 7
(sete) horas para a jornada integral; (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
Percebe-se, assim, mudanças consideráveis, ao longo dos anos, para a criança da pré-
escola, respeitando-a como um sujeito de direitos. Com efeito,
A PRÉ-ESCOLA NA BNCC
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter
normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que
todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica. A
partir do ano letivo de 2019, algumas mudanças propostas pela Base Nacional Comum
Curricular (BNCC) devem começar a aparecer nas escolas de todo o país, com suas diretrizes
a serem implantadas no ano de 2020. A Base Nacional Comum Curricular não invalida os
documentos e leis que já estão postos, portanto, as diretrizes educacionais anteriores a Base
continuam valendo. Assim, a BNCC propõe um conjunto de orientações às equipes
pedagógicas para a elaboração dos currículos. Os eixos estruturais da Educação Infantil
continuam os mesmos, conforme propõem as Diretrizes Curriculares Nacionais de 2009, e os
documentos relativos ao segmento. Portanto, interagir e brincar continuam sendo o foco do
trabalho com as crianças desse nível de ensino. Os eixos estruturais, direitos de aprendizagem
da criança e campos de experiência na Educação Infantil já existiam, mas com a Base
Nacional Comum Curricular ganham um enfoque maior na prática pedagógica e na rotina
escolar, promovendo a consolidação de sua aprendizagem.
É a partir da brincadeira e da interação que ela desenvolve, nesta etapa, as
estruturas, habilidades e competências que serão importantes ao longo de toda a vida. A
grande mudança proposta pela BNCC na Educação Infantil está na definição de seis direitos
fundamentais para as crianças de 0 a 5 anos: conviver, brincar, participar, explorar, expressar
e conhecer-se. São eles que asseguram as condições para que as crianças aprendam em
situações nas quais possam desempenhar um papel ativo em ambientes que as convidem a
vivenciar desafios e a sentirem-se provocadas a resolvê-los, nas quais possam construir
significados sobre si, os outros e o mundo social e natural. Vejamos os seis direitos citados
acima:
conhecer-se; e construir sua identidade pessoal, social e cultural, construindo uma imagem
positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas diversas experiências de cuidados,
interações, brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em seu contexto
familiar e comunitário.
CONCLUSÃO
Através das brincadeiras e do brinquedo, a criança convive com seu contexto,
significando experiências, usando criatividade e imaginação. Através das brincadeiras, a
criança expressa pensamentos, emoções, fantasias, realizando desejos que às vezes a realidade
não permite realizar.
REFERÊNCIAS
BEDIN, Eliomar Inês; FADINI, Lia Fernanda César Glória. O brincar e o pensar:
organizando ambientes adequados às crianças de zero a três anos. Revista do professor,
Porto Alegre, n 21, p. 11-15, jan-mar. 2005.
CORSINO, Patrícia (Org). Educação Infantil: cotidiano e políticas. 6 ed. Campinas, São
Paulo: Autores Associados, 2009.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini Aurélio século XXI escolar. 4 ed. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 2000.
GARCIA, Regina Leite; FILHO, Aristeo Leite (Orgs). Em defesa da educação infantil. 1 ed.
Rio de Janeiro: DP&A, 2001.
________. (Org). Revisitando a pré-escola. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2001.
KRAMER, Sônia. Com a pré-escola nas mãos: uma alternativa curricular para a educação
infantil. 14 ed. São Paulo: Ática, 2003.
________. LEITE, Maria Isabel. Infância: Fios e Desafios da Pesquisa. 12 ed. São Paulo:
Papirus, 1996.
MARANHÃO, Diva. Aprender Brincando – ensinar brincando. 2 ed. São Paulo: WAK,
199-).
PENTEADO, Fernanda (2018). BNCC na Educação Infantil: saiba quais são os novos
enfoques. Disponível em: https://sae.digital/bncc-na-educacao-infantil/ Acesso em 20
set.2019
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. MEC. Brasília, DF, v.1, 1998a
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. MEC. Brasília, DF, v. 2, 1998b
WINNICOTT, Donald Woods. A criança e seu mundo. 3 ed. Rio de Janeiro: Editora
Guanabara Koogan S. A, 1982.