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SAÚDE COLETIVA
MARIA DAS GRAÇAS VICTOR SILVA
MALAQUIAS BATISTA FILHO
RECIFE, 2016
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SUMÁRIO
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BLOCO 03
POLÍTICAS
PÚBLICAS
3.1 Introdução e Conceito
Para maiores informações sobre a CEBES e a ABRASCO, bem como pesquisas, textos e
notícias acessar:
http://cebes.org.br/publicacao/revista-saude-em-debate-
-vol-40-ed-108/
https://www.abrasco.org.br/site/
Continuando o pensamento de Paim, base deste texto, o conceito de políticas tem duas
dimensões: a do discurso oficial, que coloca plano, diretrizes, normas e o conceito aca-
dêmico do campo de Saúde Coletiva, abrangendo questões relativas do poder e como o
poder transita nas relações dos diversos atores que pensam, formulam, programam e ava-
liam as políticas de saúde. No entanto, podemos compreender este conceito de maneira
mais ampla. Segue um diagrama sobre esse campo transdisciplinar de saberes e práticas.
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Seriam aquelas políticas de educação, assistência, saúde, habitação, cultura e outras
necessárias para garantir os direitos constitucionais da coletividade contribuindo para o
desenvolvimento humano de forma integral, ética, sustentável e coparticipativa.
Paim (2003) a define como:
... a ação ou missão do Estado, enquanto resposta social, diante dos pro-
blemas de saúde e seus determinantes, bem como da produção, distribui-
ção e regulação de bens, serviços e ambientes que afetam a saúde dos
indivíduos e da coletividade (p. 589).
Ainda, segundo Paim, as políticas devem ser entendidas na sua transversalidade temporal
e constituídas por determinadas conjunturas a partir dos aspectos políticos, econômicos,
culturais e como se materializam nos discursos, planos, programas, documentos, interven-
ções, mídia, leis, etc. Isso se dá em virtude do desenvolvimento das políticas em função de
cada gestão governamental.
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3.2 Políticas Públicas, Poder e o Estado
O poder está e sempre esteve presente em todas as sociedades. Este é um tema universal,
que seduz e reprime ao mesmo tempo em que protege e beneficia, dependendo assim
das condições e dos usos que se faz dele. Tem sido parte das reflexões dos filósofos gre-
gos, pelos teólogos da Idade Média e pelos filósofos modernos, desde Maquiavel, Hobbes,
Kant, Rosseau, Hegel e Marx, até os pós modernos. Todos esses pensadores tentaram de-
cifrar as manhas, manobras e armadilhas e suas misérias nas várias formações sociais do
mundo ocidental. Por estas e outras razões não temos o direito de fazer de conta que o
poder não existe e muito menos não tentar compreendê-lo. (NOGUEIRA, 2008)
Em 1517, Maquiavel (Figura 3) escreveu: “não se pode determinar com clareza que espécie
de homem é mais nociva numa república: a dos que desejam adquirir o que não possuem ou
a dos que só querem conservar as vantagens já alcançadas” (apud, NOGUEIRA, 2008).
Já Hobbes (Figura 4) (1651) dizia existir uma tendência geral de todos os homens uma
perpétua e irriquietante desejo de poder que cessa apenas com a morte (apud, NOGUEI-
RA, 2008), justifica-se este modo de pensar se compreendermos que na verdade o que
se buscava era a conservação e mais acúmulo constante de poder com a finalidade de
garantir o que já se possuía.
Weber (Figura 5), sociólogo alemão, afirmava que quem lidava com o poder fazia pacto
com potências diabólicas (apud, NOGUEIRA, 2008). Embora, tanto Maquiavel como Hobbes
destacassem as relações entre o poder e o Estado, falavam deste também como inerentes
a cada indivíduo. No entanto, a potência que Weber citava é genérica e imprecisa, pois
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nem toda potência pode ser exercida. Assim, nas relações políticas, por exemplo, esta po-
tência se materializa em poder, utilizando diversos mecanismos para derrubar qualquer tipo
de resistência ou oposição para quem o detém. Sendo assim, Weber definiu o poder como
um fenômeno cuja existência se dá enquanto potência que se vale de certos recursos para
afirmar-se: pela dominação seja pelo uso da lei da coerção ou por ambos. .
No entanto, o poder pressupõe algo mais do que a força. É o que Nogueira (2008) chama
de vigilância e manutenção de “segredos”, que serve para aumentar sua eficiência, pois
quem detém o poder dissimula ou oculta suas reais intenções. É exatamente o segredo
que aumenta a potência para ocultar práticas que o enfraqueceriam que por sua vez pu-
desse dar forças aos seus opositores. As ditaduras usam e abusam deste poder, enquanto
as democracias trabalham para desocultá-los e diluir os segredos.
Segundo Nogueira (2008) o poder tem varias facetas que aparecem na diversidade das
relações sociais. As discussões que o envolvem levantam algumas questões, quem detêm
o poder? Que tipo de questão está submetidas? Quem toma as decisões (pai ou mãe,
diretor da escola, gerente da empresa, o exército, os governantes, etc). Em cada uma
dessas situações quem detêm o poder utiliza meios para condicionar os comportamentos
e obediência para acatá-lo.
Como vemos, o poder pode mobilizar vários atores espaços e ambientes da sociedade,
é o caso do poder na política e seus enlaces econômicos e ideológicos. Ainda segundo
Nogueira (2008) o poder ideológico se organiza e é exercido mediante posse do conheci-
mento e dos instrumentos ideológicos existentes para influenciar a conduta daqueles que
integram uma comunidade. No caso do poder econômico ele controla bens e meios de
produção, a propriedade e o acesso a eles obtido pela força o trabalho que direciona a
produção. Já o politico como poder supremo, se distingue por reivindicar exitosamente
a exclusividade do uso da força. Deste modo, garante que decisões obrigatórias sejam
acatadas e cumpridas pelos diversos atores sociais.
No entanto as comunidades também possuem recursos para se organizar e agir em opo-
sição as diversas formas de poder e desta forma modificar ou apoiar determinadas orien-
tações políticas, como no caso das políticas públicas. Portanto, o poder social é uma re-
alidade ativa e dinâmica principalmente quanto mais relevantes forem as questões que
devem ser escolhidas, principalmente aquelas que mais aproxima do poder político que é
autorizado por um grupo social e que se vale da lei e da força na tomada de decisão. È o
caso das manifestações de rua realizada por diversos grupos sociais por diversas demandas.
O poder político vale-se do Estado que, segundo Faleiros (1991), se apresenta como uma
unidade administrativa de um território, formado por um conjunto de instituições públicas
que tem como objetivo representar, organizar e atender os anseios de sua população.
Como já vimos esse poder se exerce pela lei e pela força, além das inúmeras media-
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ções entre os organismos que constituem o próprio governo. Este mesmo autor entende
o governo como uma formação de um número específico de pessoas que controlam os
cargos de decisão política dando direção ao Estado, num movimento muito bem determi-
nado. Assim, ambos situam-se no cenário internacional, já que as relações nas formações
capitalistas são condicionadas pelas relações de forças mundiais, que variam em cada
estrutura e cada momento histórico. Como exemplo, temos o modelo econômico da Glo-
balização mundial da economia, que pode ser definido o modelo como associações de
diversos países, que estabelecem relações comerciais privilegiadas entre si e atuando de
forma conjunta no mercado internacional como se fosse um único país.
O que predomina no poder político é o fato de que ele reivindica e obtém o direito de
se constituir como o centro das decisões em ultima instância. Muitas vezes admite que se
faça oposição desde que não seja para desrespeitá-lo ou destruí-lo. Vale dizer que existe
meios legais para tal nem sempre verdadeiros e justos como um impeachment. muitas
vezes questionados por representantes de instâncias legislativas e jurídicas ao darem nova
interpretação à Constituição lei maior de cada país
Numa ditadura o poder é seu núcleo central ao decidir sobre várias questões cruciais que
as impõe aos indivíduos e ao mesmo tempo impede mobilizações contra tais decisões. A
política perde o poder quando a democracia avança e se combina com processos que
alteram o equilíbrio social e as relações de força entre seus atores sociais. Como por exem-
plo, na formação social capitalista em que ocorrem mudanças em ciclos e ao mesmo
tempo coexistem os avanços democráticos. O poder na gestão do Estado não fica imune
a estas mudanças, principalmente quando são exigidas por associações, sindicatos após
negociações entre as partes.
No item anterior vimos que para entender sobre políticas públicas sociais, é importante
saber que o poder nas relações com o Estado numa formação social capitalista, como no
caso da sociedade brasileira, não é exterior às relações de produção e a divisão do tra-
balho. Pelo contrário, o Estado materializa e reproduz as relações político-ideológicas nas
relações de produção, as classes sociais: burguesia, pequena burguesia, operários e cam-
poneses. A burguesia apresenta forte determinação na política econômica na formação
social capitalista aparecendo em frações do capital – monopolista, não-monopolista, in-
dustrial, financeiro, comercial – que forma um bloco de poder cuja luta política entre si é
pela hegemonia. Isto é, pelo predomínio de uma determinada posição política capaz de
conduzir o aparelho de Estado/Nação e nele definir que tipo de políticas públicas devem
ser ofertadas.
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A política social, portanto, é um tipo de política pública cujas diretrizes orientam a ação
do poder público com a sociedade e a burguesia proprietária dos bens de produção.
Sendo esta sociedade marcada pela desigualdade entre as classes sociais – sobretudo
na organização e capacidade de luta por direitos de cidadania – o espaço da política
social envolve uma disputa política pela distribuição e redistribuição de poder, custos e
benefícios sociais. Como por exemplo, pode ser citada a luta pela Reforma Agrária no
Brasil, que se agudizou no governo do presidente João Goulart, na primeira metade dos
anos 60, e, ainda hoje presente.
Portanto, as políticas de saúde, educação, habitação, trabalho, lazer, dentre outras são
objetos de luta entre diferentes forças sociais e conjunturas políticas, não sendo, pois resul-
tado mecânico da acumulação nem do poder hegemônico. São ganhos conquistados
em duras lutas sociais e resultados de processos muito complexos de relações de força
(FALEIROS, 2006). Mais adiante, no bloco IV será possível verificar concretamente como as
ideias acima foram e ainda são materializadas pela Reforma Sanitária Brasileira na con-
quista do SUS. (Figura 6)
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As forças que pressionam o estado capitalista não são hegemônicas, não tendo por isso
o mesmo peso político, bem como o Estado não se coloca em posição de neutralidade,
seu posicionamento, se dá de acordo com as forças dominantes a fim de dividir e articular
os custos e benefícios das políticas com os grupos interessados. Os governos podem ainda
transferir os ônus dos programas sociais para toda a população através de impostos ou
contribuições que são repassadas aos consumidores inclusive aumento a carga tributária
dos mais pobres (FALEIROS, 2006). O imposto CPMF (Contribuição Provisória sobre Movi-
mentação Financeira) é um exemplo disso.
Por essas razões é importante que a sociedade civil participe e aprenda a decidir sobre a
elaboração e execução de um programa social, na qualidade de política social – como
o Bolsa Família, por exemplo – e as consequências para a redução dos níveis da desigual-
dade social.
A política social governamental, portanto, tem como objetivo atender demandas sociais
para reduzir desigualdades e efetivar direitos de cidadania. Pois, quanto maior a sua área
de abrangência mais se universaliza benefícios. Ou seja, o bem ou serviço alcança todos
os cidadãos.
A cidadania se caracteriza como um conjunto de direitos, e segundo Marshall (1967), no
seu livro ”Cidadania, Classes Sociais e Status” existem três categorias de direitos: os direitos
civis, os direitos políticos e os direitos sociais, abaixo melhor elucidadas.
Os direitos civis que estão associados à liberdade individual, liberdade de imprensa, de ir
e vir, de pensamento, da prática da religião, de reunião, de associação, de direito à pro-
priedade e justiça, se constituíram no século XVIII, com o surgimento da burguesia.
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A Distinção Social pelo Traje
No próximo bloco, será apresentada a história das políticas públicas no Brasil, onde será possí-
vel uma melhor compreensão sobre as relações de poder travadas em seu desenvolvimento.
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TEXTO COMPLEMENTAR
Não podemos deixar de expor algumas questões muito caras à Psicologia no nosso país.
Há pelo menos duas décadas havia uma ausência da Psicologia nas Políticas Públicas do
Brasil. Justifica-se em grande parte esta omissão pela própria constituição teórica deste
campo de conhecimento. Até então, o modelo da ciência psicológica, era baseado na
lógica adaptativa, da avaliação, controle e naturalização dos fenômenos psíquicos ten-
do como referência padrões idealizados de normalidade, que embora atenuado perdura
até hoje, por estarmos vivendo ainda um processo de transição, embora em consolida-
ção, para o modelo que tem como diretriz os compromissos sociais desta ciência aliada
ao paradigma da Psicologia Sócio Histórica que articula a questão a subjetividade como
prática emancipadora dos sujeitos.
As mudanças na sociedade brasileira foram fundamentais para produzir novos rumos na
Psicologia Social e comunitária, trazendo influências para a Psicologia no campo da saú-
de. Nesta perspectiva, a Psicologia inaugurou um novo discurso e uma nova forma de
interpretar as demandas da sociedade brasileira na direção do compromisso e da inser-
ção social, estabelecendo uma ruptura com o modelo positivista da Psicotécnica que se
estruturou no Brasil desde sua origem e que nas últimas décadas foi se transformando no
modelo de uma clínica para a elite. Este novo discurso, tem produzido cientificamente
novos conhecimentos e práticas, permitindo no nosso país o avanço dessa ciência. Abai-
xo segue link do Relatório do I Seminário Nacional de Psicologia e Políticas Públicas e do I
Fórum Nacional de Psicologia e Saúde Pública, respectivamente:
http://crepop.pol.org.br/novo/wpontent/uploads/2010/11/semina-
rio%20nacional%20de%20psicologia%20e%20politicas%20publicas.pdf
http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2007/05/relatorio_sau-
de_publica_final.pdf
Sua entrada definitiva no campo das políticas públicas empreendidas nos diversos ministé-
rios, especialmente no da Saúde significou e tem significado novas referências práticas e
mudanças na sua concepção e prática, permitindo o exercício de formas promissoras de
conhecimentos e atividades interdisciplinares e transdisciplinares em diálogo constante
com outros campos do saber que fazem interlocução com a saúde.
Enquanto campos específicos de conhecimento, tanto a Psicologia quanto a Biologia,
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têm seus instrumentos e técnicas de trabalho. No entanto, vale destacar também a ne-
cessidade de colocar a interdisciplinaridade no centro destes conhecimentos. Se cada
campo disciplinar recorta seu objeto de conhecimento, sozinha não poderá explicar a
realidade em seus diversos aspectos e dimensões. A preocupação não é mais com partes
de cada uma delas, e sim reconhecer a relação entre elas para se alcançar mais eficiên-
cia e resolutividade das ações. Assim, não se pode pensar apenas nas patologias isoladas
numa lâmina, mas como agente de relação integrada, da mesma forma, para pensar a
violência não se deve recorrer apenas aos indicadores, mas, pensar principalmente nas
relações sociais violentas, já que a violência não se constitui como um fato em si mesma,
mas como uma produção das relações sociais que podem ser violentas ou não. Se violen-
tas, produzem sofrimento e morte. Assim, a própria exclusão social é um ato de violência,
de barbárie para milhões de excluídos em pleno século XXI.
A entrada neste campo demandou da Psicologia: Implementação de Fóruns, Seminários
Regionais e Nacionais e a criação do Banco Social de Serviços que deu origem a uma
série de documentos sobre a atuação dos psicólogos nos vários espaços públicos de saú-
de. Este banco transformou-se depois no Centro de Referências Técnicas em Psicologia e
Políticas Públicas (CREPOP) e outras iniciativas institucionais do Conselho Federal junto aos
diversos órgãos do governo.
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REFERÊNCIAS
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ALGUNS LINKS PARA APROFUNDAMENTO
DO TEMA:
https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/7078/1/Paim%20J.%20Desafio%20
da%20Saude%20Coletiva.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rsp/v40nspe/30625
https://www.icict.fiocruz.br/content/jairnilson-paim-fala-sobre-%E2%80%9Cdesa-
fios-do-sistema-de-sa%C3%BAde-brasileiro%E2%80%9D-na-fiocruz
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/sus_az_garantindo_saude_munici-
pios_3ed_p1.pdf
VÍDEOS DIDÁTICOS:
História da saúde pública no Brasil - Um século de luta pelo direito a saúde Filme.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=SP8FJc7YTa0. Acesso em:
11/07/2016
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