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Disciplina: DIREITO DO CONSUMIDOR

Prof. Amadeu Vidonho Junior


*Está proibida a publicação e uso do presente material sob qualquer forma em qualquer espaço sem autorização do autor. Lei n.
9.610/98 ®

Unidade I (CONT.) – RELAÇÃO DE CONSUMO

UNIDADE I. A RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO.


O CONCEITO DE CONSUMIDOR: A ABRANGÊNCIA DAS NORMAS
DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR FRENTE AO
CONSUMIDOR POR EQUIPARAÇÃO;

1.RELAÇÃO DE CONSUMO:

O Código de Defesa do Consumidor, Lei n. 8.078/90, tem o objetivo de


proteger o consumidor que adquire produtos e serviços do fornecedor, assim,
relação de consumo é a que se dá entre o consumidor e fornecedor prestador de
produto (bem móvel ou imóvel) ou serviço (atividade). Como em regra o poder
econômico de quem fornece é bem superior ao de quem adquire e se alie a isso a
completa ausência na modernidade de cláusulas escritas, ou se existentes,
extremamente onerosas, logo, a norma deve equilibrar (equidade), igualar, tais
sujeitos desiguais em poder e suas prestações, evitando abusos e injustiças. Daí
seu interesse econômico e social:

Art. 1° O presente código estabelece normas de proteção e defesa do


consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos
arts. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas
Disposições Transitórias.

-interesse social: coletividade de consumidores em face do poder econômico.

Gratuidade?!

Ao contrário de algumas legislações o Código de Defesa do Consumidor não


mencionou se é aplicável aos produtos e serviços gratuitos, como estacionamento
de supermercado, ou mesmo nas relações da internet as contas de e-mail, redes
sociais etc., o que nos leva a crer que cada situação será analisada de forma
concreta, contudo na grande maioria tem sido aplicado.

Para o Uruguai: Ley 17.250


Articulo 4º. La provisión de productos y la prestación de servicios que se
efectúan a título gratuito, cuando ellas se realizan en función de una eventual
relación de consumo, se equiparan a las relaciones de consumo.

STJ Súmula nº 130 - 29/03/1995 - DJ 04.04.1995


Reparação de Dano ou Furto de Veículo - Estacionamento -
Responsabilidade
A empresa responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou furto de
veículo ocorridos em seu estacionamento.

“Turma negou provimento ao recurso especial originário de ação de obrigação


de fazer c/c indenização por danos morais proposta pela recorrente em
desfavor do provedor de rede social de relacionamento (recorrido) sob a
alegação de que foi alvo de ofensas proferidas em página da internet.
Inicialmente, afirmou a Min. Relatora que a relação jurídica em questão
constitui verdadeira relação de consumo sujeita ao CDC, mesmo se
tratando de serviço gratuito, tendo em vista o ganho indireto alcançado

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pelo fornecedor.” (REsp 1.193.764-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado


em 14/12/2010.)

ARTIGO CIENTÍFICO
A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PROVEDORES DE CONTEÚDO NA
INTERNET E PELA PRODUÇÃO DE DANOS DIGITAIS À PESSOA HUMANA:
REFLEXÕES.
AUTOR: AMADEU DOS ANJOS VIDONHO JUNIOR
Fonte: http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=319a67432f51ed53

Conceito de Consumidor

Tendo em vista que o consumidor não dispõe dos meios de


produção/fabricação de produtos ou prestação de serviços há a necessidade de
consumi-los de terceiros, de se “submeter” ao poder dos fornecedores.

Conforme o art. 2º do CDC que ministra o conceito legal de Consumidor


“estrito sensu” ou “standard”:
Código de Defesa do Consumidor
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica (Elemento
Subjetivo) que adquire ou utiliza produto ou serviço (Elemento
Objetivo) como destinatário final.(Elemento Teleológico)
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de
pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas
relações de consumo.

Conceito doutrinário simples é de Othon Sidou1, “consumidor é quem


compra para gastar em uso próprio”, ou seja, no seu uso privado, não tendo
finalidade profissional de venda ou revenda a terceiros. Alargue-se o conceito ainda
para a locação de bens e prestação de serviços que por não dispor, submete-se
ao poder da figura do fornecedor/produtor (pecuária, agricultura)/fabricante
(indústria).

Para os Portugueses e a Lei n. 24/96 de 31 de julho, art. 2º:

1 - Considera-se consumidor todo aquele a quem sejam fornecidos bens,


prestados serviços ou transmitidos quaisquer direitos, destinados a uso não
profissional, por pessoa que exerça com carácter profissional uma actividade
económica que vise a obtenção de benefícios.
2 - Consideram-se incluídos no âmbito da presente lei os bens, serviços e
direitos fornecidos, prestados e transmitidos pelos organismos da
Administração Pública, por pessoas colectivas públicas, por empresas de
capitais públicos ou detidos maioritariamente pelo Estado, pelas Regiões
Autónomas ou pelas autarquias locais e por empresas concessionárias de
serviços públicos.

1GRINOVER, Ada Pellegrine et al. Código de defesa do consumidor comentado pelos autores do
anteprojeto. 8ª ed., Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004, p. 28.

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Para os Argentinos (Ley n. 24.240, LEY DE DEFENSA DEL CONSUMIDOR,


de 22 de julho de 1993):

Se considera asimismo consumidor o usuario a quien, sin ser parte de una


relación de consumo, como consecuencia o en ocasión de ella adquiere o
utiliza bienes o servicios como destinatario final, en beneficio propio o de su
grupo familiar o social, y a quien de cualquier manera está expuesto a una
relación de consumo.

Para o Uruguai: Ley 17.250

Consumidor es toda persona física o jurídica que adquiere o utiliza productos o


servicios como destinatario final en una relación de consumo o en función de
ella.
Aspectos:

-Econômico: aquisição de bens ou serviços como destinatário final;


-Sociológico: indivíduo de certa classe social que se utiliza de bens e
serviços;
-Psicológico: motivações internas que o levam a consumir.

2.2. Teorias:

2.2.1. Teorias Finalista e Maximalista (Cláudia Lima Marques2).

Teoria Finalista (Minimalista (STJ) ou subjetiva):


Para a teoria finalista, consumidor seria aquele que adquire um
produto/serviço para uso próprio e de sua família e não para revenda ou
acrescentar na cadeia de consumo, sendo assim, o consumidor é o “não
profissional”. Assim, para Cláudia Lima Marques:

“Para os finalistas, pioneiros do consumerismo, a definição de consumidor é o pilar


que sustenta a tutela especial, agora concedida aos consumidores. Esta tutela só
existe porque o consumidor é a parte vulnerável nas relações contratuais
no mercado, como afirma o próprio CDC no art. 4.º, inciso I. Logo, convém delimitar
claramente quem merece esta tutela e quem não a necessita, quem é o consumidor e
quem não é. Propõem, então, que se interprete a expressão "destinatário final" do art.
2.º de maneira restrita, como requerem os princípios básicos do CDC, expostos no
art. 4.º e 6.º.
destinatário final fático (retirada da
Destinatário final é aquele
cadeia de produção) e final econômico (destinação
própria não para revenda nem para uso no processo
produtivo lucrativo) do bem ou serviço, seja ele pessoa jurídica ou física.
Logo, segundo esta interpretação teleológica não basta ser destinatário fático
do produto, retirá-lo da cadeia de produção, levá-lo para o escritório ou residência, é

necessário ser destinatário final


econômico do bem, não
adquiri-lo para revenda, não adquiri-lo para uso profissional, pois
2
MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor. 4ª ed., São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2004, pp. 253-255.

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o bem seria novamente um instrumento de produção cujo preço


será incluído no preço final do profissional que o adquiriu. Neste
caso não haveria a exigida "destinação final" do produto ou do
serviço.
Esta interpretação restringe a figura do consumidor àquele que adquire (utiliza) um
produto para uso próprio e de sua família, consumidor seria o não profissional,
pois o fim do CDC é tutelar de maneira especial um grupo da
sociedade que é mais vulnerável. Consideram que restringindo o campo de
aplicação do CDC àqueles que necessitam de proteção, ficará assegurado um nível
mais alto de proteção para estes, pois a jurisprudência será construída em casos,
onde o consumidor era realmente a parte mais fraca da relação de consumo e não
sobre casos em que profissionais-consumidores reclamam mais benesses do que o
Direito Comercial já lhes concede.” Conforme o STJ:

“Note-se que, de uma posição inicial mais forte, influenciada pela doutrina francesa e
belga, como veremos, os finalistas evoluíram para uma posição mais branda, se
bem que sempre teleológica, aceitando a possibilidade do Judiciário, reconhecendo a
vulnerabilidade de uma pequena empresa ou profissional, que adquiriu, por
exemplo, um produto fora de seu campo de especialidade, interpretar o art. 2.º de
acordo com o fim da norma, isto é, proteção ao mais fraco na relação de consumo, e
conceder a aplicação das normas especiais do CDC analogicamente também a estes
profissionais.”

*OBS: Para alguns a teoria Minimalista seria a que não vê a existência de relação
de consumo em casos em que ela pode ser claramente percebida como ex.
doutrinário e jurisprudência a aplicação aos contratos bancários (banco e correntista)
onde o CDC já prevê expressamente a relação de consumo (art. 3º, § 2º, CDC).
Sobre o tema ver STF, ADIn 2.591 decidida a favor da relação de consumo, portanto
o CDC é aplicável às instituições financeiras – Súmula 297/STJ).

2.2.2.Teoria Maximalista (ou objetiva):

Para esta teoria o CDC é o Código Geral do Consumo, e o art. 2º deve ser
aplicado de forma extensiva, também ao consumidor
profissional (empreendedor, empresa, que tem fins lucrativos...), necessário
apenas ser o destinatário final fático.

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“Já os maximalistas veem nas normas do CDC o novo regulamento do mercado de


consumo brasileiro, e não normas orientadas para proteger somente o
consumidor não-profissional. O CDC seria um Código geral sobre o consumo, um
Código para a sociedade de consumo, o qual institui normas e princípios para todos
os agentes do mercado, os quais podem assumir os papéis ora de fornecedores, ora
de consumidores. A definição do art. 2.º deve ser interpretada o mais
extensamente possível, segundo esta corrente, para que as normas do
CDC possam ser aplicadas a um número cada vez maior de relações no
mercado. Consideram que a definição do art. 2.º é puramente objetiva, não
importando se a pessoa física ou jurídica tem ou não fim de lucro
quando adquire um produto ou utiliza um serviço. Destinatário final seria o
destinatário fático do produto, aquele que o retira do mercado e o utiliza, o
consome, por exemplo, a fábrica de celulose que compra carros para o
transporte dos visitantes, o advogado que compra uma máquina de escrever
para o seu escritório, ou mesmo o Estado quando adquire canetas para uso nas
repartições e é, claro, a dona de casa que adquire produtos alimentícios para a
família.” Conforme o STJ:

2.2.3 Teoria Finalista Mitigada ou Aprofundada (vulnerabilidade)

Pessoa Jurídica, profissional, com fins lucrativos, podem ser


consumidores, contudo a vulnerabilidade deve ser comprovada:
“DIREITO DO CONSUMIDOR. PESSOA JURÍDICA. INSUMOS. NÃO
INCIDÊNCIA DAS NORMAS CONSUMERISTAS.

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“A Turma entendeu que a recorrida não se insere em situação de vulnerabilidade,


porquanto não se apresenta como sujeito mais fraco, com necessidade de
proteção estatal, mas como sociedade empresária, sendo certo que
não utiliza os produtos e serviços prestados pela recorrente como sua
destinatária final, mas como insumos dos produtos que manufatura. Ademais, a
sentença e o acórdão recorrido partiram do pressuposto de que todas as pessoas
jurídicas são submetidas às regras consumeristas, razão pela qual entenderam ser
abusiva a cláusula contratual que estipula o consumo mínimo, nada mencionando
acerca de eventual vulnerabilidade – técnica, jurídica, fática, econômica ou
informacional. O art. 2º do CDC abarca expressamente a possibilidade de as
pessoas jurídicas figurarem como consumidores, sendo relevante saber se a
pessoa – física ou jurídica – é "destinatária final" do produto ou serviço. Nesse
passo, somente se desnatura a relação consumerista se o bem ou serviço
passam a integrar a cadeia produtiva do adquirente, ou seja, tornam-se objeto
de revenda ou de transformação por meio de beneficiamento ou montagem,
ou, ainda, quando demonstrada sua
vulnerabilidade técnica, jurídica ou econômica
frente à outra parte, situação que não se aplica à recorrida.” (STJ - REsp
932.557-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 7/2/2012.)

“A jurisprudência do STJ adota o conceito subjetivo ou finalista de consumidor,


restrito à pessoa física ou jurídica que adquire o produto no mercado a fim de
consumi-lo. Contudo, a teoria finalista pode ser abrandada a ponto de autorizar a
aplicação das regras do CDC para resguardar, como consumidores (art. 2º
daquele código), determinados profissionais (microempresas e empresários
individuais) que adquirem o bem para usá-lo no exercício de sua profissão.
Para tanto, há que demonstrar sua vulnerabilidade
técnica, jurídica ou econômica (hipossuficiência). No caso,
cuida-se do contrato para a aquisição de uma máquina de bordar
entabulado entre a empresa fabricante e a pessoa física que utiliza o bem para sua
sobrevivência e de sua família, o que demonstra sua vulnerabilidade
econômica. Dessarte, correta a aplicação das regras de proteção do
consumidor, a impor a nulidade da cláusula de eleição de foro que dificulta o livre
acesso do hipossuficiente ao Judiciário. Precedentes citados: REsp 541.867-BA, DJ
16/5/2005; REsp 1.080.719-MG, DJe 17/8/2009; REsp 660.026-RJ, DJ 27/6/2005;
REsp 684.613-SP, DJ 1º/7/2005; REsp 669.990-CE, DJ 11/9/2006, e CC 48.647-RS,
DJ 5/12/2005. REsp 1.010.834-GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
3/8/2010.”

*CASO MB COMERCIAL ELETRO-ELETRÔNICO LTDA X CIELO S/A


AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
RESPONSABILIDADE CIVIL. VENDA PELA INTERNET. CARTÃO DE CRÉDITO
CLONADO. INAPLICABILIDADE DO CÓDIGO CONSUMERISTA.
INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULA CONTRATUAL E REEXAME DE PROVAS.
DESCABIMENTO. SÚMULAS STJ/5 E 7. DECISÃO AGRAVADA MANTIDA.
IMPROVIMENTO.
1.- A jurisprudência desta Corte tem mitigado a teoria finalista
para autorizar a incidência do Código de Defesa do Consumidor nas hipóteses
em que a parte (pessoa física ou jurídica), embora não seja tecnicamente a
destinatária final do produto ou serviço, se apresenta em situação de
vulnerabilidade, hipótese não observada caso dos autos. (STJ – AgRg
no AREsp. 328043/GO, Dje 05/09/2013.)

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Vulnerabilidade - Do lat. vulner- (< vulnus, eris, ‘ferida’)

Então o que seria a vulnerabilidade tão preponderante para o conceito de


consumidor? O consumidor tem no mínimo quatro espécies de vulnerabilidade:

Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento
das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança,
a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem
como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes
princípios: (Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)

I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de


consumo;

Técnica (Científica): falta de conhecimento específico e técnico


sobre a produção ou fabricação de bem ou serviço, o que lhe traz dificuldades e a
possibilidade de ser facilmente enganado sobre a utilidade do bem adquirido, sendo
em regra presumida aos não profissionais;
-Informacional: falta de informação (Claudia Lima Marques)

Fática ou sócio-econômica: fundamenta-se na outra parte que ostentando maior


poder econômico ou jurídico (monopólio) impõe-se com superioridade e
como regulamentadora da relação jurídica colocando a relação em desequilíbrio
contratual. O CDC presume ao consumidor pessoa física e não-profissional. Ex. os
grandes monopólios, as grandes multinacionais, as concessionárias de serviços
como telefonia, seguros, energia elétrica etc. Contudo, há ressalvas quanto à
pessoa jurídica como dispõe o art. 51, I, CDC:

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Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais
relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor
por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia
ou disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o
consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações
justificáveis;

Jurídica ou científica: falta de conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos


específicos, sendo presumida para as pessoas físicas, não profissionais, a exceção
da pessoa jurídica e os profissionais cuja presunção milita sobre o conhecimento
dos aspectos jurídicos, contábeis, econômicos das relações jurídicas que se
envolve.

Teoria Finalista Teoria Maximalista


Finalista Mitigada,
Aprofundada ou
Abrandada
Uso não profissional Uso Profissional Uso Profissional
(revenda, reutilização (revenda,
na produção reutilização na
produção)
Consumidor: Consumidor: Consumidor:
destinatário final destinatário final destinatário final
fático (retira) e final fático (retira) fático (retira), mas
econômico (consumo em situação de
próprio) vulnerabilidade
comprovada (prova
pelo consumidor).
Ex. consumidor que Ex1. produtor que Ex. contrato de venda
compra no compra adubo para de máquina de costura
entre a empresa
supermercado para plantação(lucro). fabricante e a pessoa
consumo próprio ou Ex2. Advogado que física que utiliza o bem
de sua família compra uma máquina para sua sobrevivência.
para escritório.
Interpretação Interpretação Interpretação
restritiva, teleológica extensiva extensiva
Mais vulnerável - Mais vulnerável
Encampa a pessoa Encampa pessoa Microempresas e
física ou jurídica física e jurídica empresários
individuais em
situação de
vulnerabilidade

OBS: Hipervulnerabilidade (4º, caput, e inc. I; 7º, caput; 39, IV, CDC): em certas
condições o consumidor tem sua vulnerabilidade agravada, ou seja,
hipervulnerabilidade como é o caso de estado de saúde, idade, idoso (AREsp
1382660), das crianças e indígenas não integrados (por exemplo).

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ARTIGO CIENTÍFICO
Responsabilidade civil nas redes sociais e a hipervulnerabilidade da pessoa
humana. (Revista eletrônica Cocar-UEPa)
AUTOR: AMADEU DOS ANJOS VIDONHO JUNIOR
Fonte: https://paginas.uepa.br/seer/index.php/cocar/issue/view/33/showToc

2.3 Consumidor por equiparação ou “bystander”.

Até então verificamos as conotações do conceito de consumidor “estrito


sensu”, contudo o CDC acaba por elastecer a proteção do consumidor aos
terceiros que não retiram pessoalmente o produto ou
serviço, mas que também consomem ou sofrem dano, é o
denominado consumidor “bystander”, cujo fundamento recai sobre a utilização da
cláusula geral de boa-fé (arts. 4º, III e 50, IV, CDC):

Da Política Nacional de Relações de Consumo


Art. 4º
(...)
III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e
compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento
econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a
ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé
e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores;
(...)
Das Cláusulas Abusivas
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao
fornecimento de produtos e serviços que:
(...)
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o
consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou
a eqüidade;

Fundamentos:

TÍTULO I
Dos Direitos do Consumidor
CAPÍTULO I
Disposições Gerais
Art. 2º.
(...)
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que
indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.

CAPÍTULO IV
Da Qualidade de Produtos e Serviços, da Prevenção e da Reparação dos Danos
(...)
SEÇÃO II
Da Responsabilidade pelo Fato do Produto e do Serviço
(...)

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Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as
vítimas do evento.

CAPÍTULO V
Das Práticas Comerciais
SEÇÃO I
Das Disposições Gerais
Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores
todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele
previstas.
Ex. dois profissionais; dois fornecedores; grupos de empresários.

2.4. Coletividade de pessoas.

Assim, pode ser tutelada a coletividade de consumidores ou potenciais


consumidores que ao serem destinatários de propaganda ou publicidade ou
adquirir produto ou serviço venham a ser lesados.

CDC. Art. 2º
(...)
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que
indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.
Ex.
Lei n. 7.347/85 (Ação Civil Pública)
Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as
ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: (Redação
dada pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994) (Vide Lei nº 12.529, de 2011)
(...)
ll - ao consumidor;
(...)
IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo. (Incluído pela Lei nº 8.078 de 1990)
(...)
Art. 5o Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: (Redação
dada pela Lei nº 11.448, de 2007).
I - o Ministério Público; (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007).
II - a Defensoria Pública; (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007).
III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; (Incluído pela Lei nº
11.448, de 2007).
IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista;
(Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007).
V - a associação que, concomitantemente: (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007).
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil; (Incluído pela
Lei nº 11.448, de 2007).
b) inclua, entre as suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao
consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos
raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico
e paisagístico. (Redação dada pela Lei nº 12.966, de 2014)
IDEC – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor: Ações
Judiciais

STJ

“ANTICONCEPCIONAL. PLACEBO. DANO MORAL. CONSUMIDOR.


Cuidou-se de ação civil pública intentada pelo estado-membro e pelo órgão
estadual de defesa do consumidor contra laboratório farmacêutico,

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objetivando o morais causados à


pagamento de danos
coletividade, visto que colocara, no mercado, anticoncepcional
produzido sem o princípio ativo (placebo), do que decorreu a
gravidez de várias consumidoras desse medicamento. Neste Superior Tribunal, a
Turma, ao prosseguir o julgamento, não conheceu do recurso. Dentre outros temas,
entendeu haver a responsabilidade do laboratório como fornecedor, pois a simples
suposição de que houvera a participação de terceiros no derramamento do
medicamento ineficaz no mercado é relevada pela constatação da prova carreada
aos autos de que o laboratório produziu e deu essencial colaboração para que fosse
consumido e de que houve dano aos consumidores, o que afasta a cogitação de
aplicar-se a excludente de responsabilidade objetiva (art. 12, § 3º, I, do CDC). Sua
responsabilidade exsurge, sobretudo, do fato de ter produzido manufatura perigosa
sem adotar medidas eficazes para garantir que tal produto fosse afastado de
circulação. O Min. Castro Filho, em seu voto vista, adentra a questão da legitimidade
do órgão de defesa para a proteção dos interesses individuais homogêneos, apesar
de a Min. Relatora haver aplicado a Súm. n. 284-STF, a impedir o exame da questão.
REsp 866.636-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 29/11/2007.”

Defendendo a coletividade: REsp 1.010.130-MG, Rel. Min. Luiz Fux,


julgado em 9/11/2010; REsp 951.785-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 15/2/2011; REsp 436.853-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 4/5/2006.

2.5 Vítimas de acidente de consumo

Muito essa classe equiparada não mantenha nenhum contrato com a


prestadora de produto ou serviço, aqui presente a relação extracontratual, mas vê-se
acertada por um dano emanado de uma relação de consumo, também é
consumidora por equiparação em razão de ser vítima de um acidente que a levou a
um dano moral ou material de consumo(art. 17,CDC).

Ementa: RESPONSABILIDADE CIVIL. AUSÊNCIA DE CONTRATAÇÃO DE


SERVIÇO DE TELEFONIA. CONSUMIDOR POR EQUIPARAÇÃO.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA CONCESSIONÁRIA. CADASTRAMENTO
NEGATIVO POR FALTA DE PAGAMENTO. AUSÊNCIA DE CONFIRMAÇÃO DOS DADOS E
IDENTIFICAÇÃO CORRETA DO CONTRATANTE DOS SERVIÇOS. DANO MORAL.
QUANTUM REDUZIDO. 1. A controvérsia trazida ao feito deve ser analisada sob a
ótica do Código de Defesa do Consumidor, já que, a despeito da inexistência de
relação contratual entre as partes, tem pertinência o disposto no art. 17 da Lei
8.078/90, segundo o qual equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do
evento. Logo, em sendo o autor consumidor por equiparação, a responsabilidade da
concessionária é objetiva, incidindo, in casu, o estabelecido no art. 14 do CDC. Diante
desse contexto, incumbe à concessionária de serviços comprovar a solicitação da
instalação da linha telefônica mediante a apresentação do respectivo contrato ou de
outros documentos, de sorte que, em não o fazendo, responde pelos danos
provocados pela inscrição do nome da parte não contratante perante os
cadastros de controle de crédito. Dano moral que resulta do próprio fato da
inscrição indevida (dano in re ipsa). 2. Compensação. O valor da compensação deve
compreender, dentro do possível, a reparação pelo dano infligido à vitima, ao mesmo
tempo servindo de freio, de elemento inibidor e de sanção ao autor do ato ilícito.
Hipótese em que o quantum fixado a título de compensação por dano moral vai
reduzido, para fazer-se consentâneo aos parâmetros de fixação desta Corte. 3.
Honorários reduzidos para 15% sobre o valor da condenação, percentual que se
mostra adequado às operadoras do art. 20 do CPC, além de remunerar

Prof. Amadeu Vidonho Junior – Universidade da Amazônia – UNAMA Página 11 de 12


Disciplina: DIREITO DO CONSUMIDOR
Prof. Amadeu Vidonho Junior
*Está proibida a publicação e uso do presente material sob qualquer forma em qualquer espaço sem autorização do autor. Lei n.
9.610/98 ®

condignamente o profissional de direito em atuação neste feito. 4.


Prequestionamento. Assenta-se totalmente desnecessária a manifestação expressa do
julgador a respeito de todos os argumentos e dispositivos legais mencionados e
citados pela parte, bastando que apresente as razões de acolhimento ou rejeição da
pretensão veiculada. APELO PARCIALMENTE PROVIDO. (Apelação Cível Nº
70034312330, Décima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Paulo Antônio
Kretzmann, Julgado em 27/05/2010)

Imputação de trote por empresa de telefonia à pessoa errada.


Ementa: RESPONSABILIDADE CIVIL. REPRESENTAÇÕES CRIMINAIS. USO INDEVIDO POR
TERCEIRO. AUTORIA IMPUTADA AO AUTOR. DANO MORAL. QUANTUM. MANUTENÇÃO. 1. A
controvérsia trazida ao feito deve ser analisada sob a ótica do Código de Defesa do
Consumidor, já que, a despeito da inexistência de relação contratual entre as partes, tem
pertinência o disposto no art. 17 da Lei 8.078/90, segundo o qual equiparam-se aos
consumidores todas as vítimas do evento.
(...)
Em seu petitório inicial descreveu o autor ter sofrido constrangimento, inclusive com a
instauração de inquéritos penais em seu desfavor, por informação prestada pela ré, que teria
informado à 2ª Vara Judicial da Comarca de Frederico Westphalen que os números
de telefones de onde teriam sido originados os “trotes” que perturbaram diversos
moradores da região, seriam do autor. A alegação encontra respaldo pelos documentos
juntados às fls. 57/59.
(...) RECURSOS IMPROVIDOS. (TJRS, Apelação Cível Nº 70031980113, Décima Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Paulo Antônio Kretzmann, Julgado em 28/01/2010)

RESPONSABILIDADE CIVIL E DIREITO DO CONSUMIDOR. RECURSO ESPECIAL.


ALEGAÇÃO DE OMISSÃO DO JULGADO. ART. 535 DO CPC. INEXISTÊNCIA.
ESPETÁCULO CIRCENSE - MORTE DE CRIANÇA EM DECORRÊNCIA DE
ATAQUE DE LEÕES - CIRCO INSTALADO EM ÁREA UTILIZADA COMO
ESTACIONAMENTO DE SHOPPING CENTER. LEGITIMIDADE PASSIVA DAS
LOCADORAS. DESENVOLVIMENTO DE ATIVIDADE DE ENTRETENIMENTO COM
O FIM DE ATRAIR UM MAIOR NÚMERO DE CONSUMIDORES.
RESPONSABILIDADE. DEFEITO DO SERVIÇO (VÍCIO DE QUALIDADE POR
INSEGURANÇA). DANO MORAL. VALOR EXORBITANTE. REDUÇÃO. MULTA.
ART. 538 DO CPC. AFASTAMENTO.
(...)
3- No caso em julgamento - trágico acidente ocorrido durante apresentação do
Circo VostoK, instalado em estacionamento de shopping center, quando menor
de idade foi morto após ataque por leões -, o art. 17 do Código de Defesa do
Consumidor estende o conceito de consumidor àqueles que sofrem a consequência
de acidente de consumo. Houve vício de qualidade na prestação do serviço, por
insegurança, conforme asseverado pelo acórdão recorrido.” (STJ – Resp.
1100571/PE (RECURSO ESPECIAL, 2008/0233876-60.)

Bibliografia consultada:

GRINOVER, Ada Pellegrine et al. Código de defesa do consumidor comentado


pelos autores do anteprojeto. 8ª ed., Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.
MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor. 4ª
ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.
MARQUES, Claudia Lima et al. Comentários ao Código de Defesa do
Consumidor, 3ª ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito do Consumidor. Direito Material e
processual. 7ª ed., Rio de janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2018.

Prof. Amadeu Vidonho Junior – Universidade da Amazônia – UNAMA Página 12 de 12

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