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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

FACULDADE DE CIENCIAS HUMANAS E SOCIAIS/ CAMPUS FRANCA

DISCENTE: Manuela Ramos Mora     RA: 211223425

DOCENTE: Prof. Regina Laisner

PERÍODO: Noturno 

DISCIPLINA: Formação política e econômica do Brasil 

CURSO: Relações Internacionais, 1º ano

Relatório- Discussão do livro “Úrsula”

Grupo 4: Tatiane

No dia 22 de julho de 2021, foi realizado o debate da obra Úrsula, de Maria Firmina
dos Reis. Desta forma, o relatório irá abordar as respostas e elementos que respondem as três
perguntas discutidas durante a aula.
A priori, o primeiro questionamento foi a respeito de como o livro pode ser inserido no
contexto da Formação Política e Econômica do Brasil. Assim, para responder a pergunta
foram trazidas as questões da escravidão, a objetificação do papel da mulher, o coronelismo e
o poder da Igreja. A temática escravista no livro traz um ponto interessante que é a visão dos
escravos, especificamente dos personagens Túlio e Susana, humanizando-os ao mostrar que
antes de sua captura eles tinham uma família, um lar, cultura e costumes, esses últimos sendo
incorporados e bases para a nossa formação cultural. Deste modo, ao tirar o indivíduo de seu
continente de maneira tão fria, mostra o como a figura do negro era vista como um objeto,
fato que reflete até hoje como a presença do racismo e de estigmas deixados pela escravidão,
como uma profunda desigualdade social motivada por fatores racial.
Em relação a mulher, esta não possuía direitos políticos, não estudava e era vista como
passiva e vulnerável, o que ajudou a construir um cenário machista que perdura até a
atualidade, no qual a figura masculina é enxergada como superior e bem mais preparada para
certos tipos de trabalho, fazendo com que as mulheres sofram preconceitos, recebam salários
menores ou tenham suas capacidades contestadas.
A respeito do coronel, identificado na personagem do Comendador, como estudado na
obra “Coronelismo, enxada e voto”1, era um indivíduo de grande influência política e
econômica, além de ser temido e respeitado, características enfatizadas com desesperada
obediência a essa personagem, o que somado ao uso do voto de cabresto e mandonismo,
marcou as relações políticas até atualmente. Por fim, também foi discutida a relevância da
Igreja, a qual legitimava o poder dominante devido ao seu desejo de se expandir e manter seu
poder, apoiando os coronéis, como percebido nas interações do Padre e de Fernando.
A posteriori, a segunda pergunta desejava saber como o papel da protagonista e de sua
mãe poderiam ser descritos e como foi retratada a organização social da época. Iniciando com
a função dessas duas mulheres, foi apontado o comportamento manso, dócil e desamparado
dessas, que destacava a dependência econômica e social em relação aos homens e seus papéis
como esposa, mães ou empregadas. Pode-se perceber isso em alguns eventos, por exemplo, o
fato de Adelaide ver o casamento como uma vantagem, já que era sua única forma de
enriquecer; a submissão da mãe de Tancredo; a miséria de Úrsula e de sua mãe, além da
crença do Comendador de que podia exigir sua mão; e por último a percepção de que as
mulheres angelicais eram brancas.
Sob esse mesmo viés, explicado o papel feminino objetificado, a divisão social da
época também incorporava os escravos e os homens brancos. A autora traz diferentes
perspectivas da escravidão, mas que convergem para uma figura submissa, servil, em certos
casos como inferior, e força trabalhadora da época, exemplificando, o próprio Túlio não sabia
o que fazer com a sua liberdade; Fernando os açoitava e os inferiorizava; mesmo na situação
financeira delicada, a família de Úrsula ainda possuía escravos. Ao mesmo tempo, do outro
lado tinham os indivíduos brancos retratados nessa história, como ricos senhores de terras e
escravos, que no caso do pai de Tancredo e de Fernando, eram homens severos, violentos e
maus, ou no de Tancredo, um homem bom e virtuoso.
Em terceiro lugar, a discussão gerou ao redor de como esse volume se relacionava
com um desafio do Instagram proposto pela autora Layla Saad, no qual os participantes
tinham que refletir sobre suas atitudes preconceituosas e racistas, o que acabou inspirando a
dona do projeto a lançar o livro “Eu e a supremacia branca”, que reuniu elementos culturais,
históricos, experiencias e histórias para ajudar o leitor a desconstruir sua forma de pensar.
Desta maneira, foi lembrado para esse momento do debate o ponto de que a imagem
que era passada por alguns personagens era bondosa, amigável e empática, porém, diante de
diversas situações de injustiça, eles permaneceram imóveis e continuavam escravizando. Os
momentos marcantes que comprovam isso são quando a Úrsula mesmo sabendo da ira que
seu tio sentiria ao não a encontrar, deixou sua escrava, Susana, em casa, o que causou a morte
da mulher; o momento no qual o Padre vê as ameaças e a violência do Comendador para com
Susana, mas se opõem de maneira superficial, sem muita confrontação; e o fato de Tancredo,
apesar de libertar Túlio, ainda possuir outros escravos, como visto na hora em que ele visitou
o pai. Destarte, essas atitudes são próprias do homem cordial, estudado no livro “Raízes do
Brasil” de Sérgio Buarque de Holanda, no qual o brasileiro é identificado como generoso;
contudo, esse ideário não passa de um mito, logo, se relacionando coma perpetuação racismo
estrutural, na qual o individuo diz ser contra o racismo, mas tem ações que fazem com que ele
prevaleça ou não seja completamente vencido.

Referências bibliográficas
BUARQUE DE HOLANDA, Sergio. Raízes do Brasil, 26 ed. São Paulo: Companhia das
Letras, 1995
LEAL, Victor Nunes Leal. Coronelismo, enxada e voto. O município e o regime
representativo no Brasil. São Paulo, Ed. Alfa-Omega, 1976.
REIS, Maria Firmina. Úrsula. Brasília: Edições Câmera. 2018.

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