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Saúde Globalizada

A ideia de que o lazer é algo a se fazer quando não está trabalhando não é 100% correta, mas
não deixa de ser a realidade de muitos brasileiros que tanto trabalham e que só encontram
lazer no tempo que não estão trabalhando. A questão é quantas pessoas realmente tem
interesse em aproveitar seu tempo de lazer, e as possibilidades que ela tem de praticar o
mesmo. É muito mais fácil imaginar uma pessoa que tem uma jornada de trabalho reduzida e
flexível, que possui condições financeiras melhores, praticando e indo atrás de atividades de
lazer, tendo em vista seu maior tempo livre disponível e seu maior alcance à tipos variados de
lazer, não se limitando a ideia básica de lazer que consiste na prática de atividade física. Outro
fator essencial para que a prática de atividades de lazer ocorra é o acesso as mesmas, sabendo
disso, ressalto aqui a desigualdade presente dentro de cada país, estado e até mesmo cidade,
que investem e proporcionam que seus habitantes pratiquem o lazer em grande parte nas áreas
consideradas de alto escalão.

Vale ressaltar que os moradores dessas regiões, geralmente são pessoas com alto poder
aquisitivo, que como já dito anteriormente possuem uma maior facilidade de acesso as
práticas. Mas e os menos favorecidos e que vivem em regiões periféricas ou pouco
contempladas pelo governo? Bom, esses sofrem ainda mais abruptamente com a falta de um
espaço adequado para o lazer. Por não ter condições muitas das vezes de ingressar numa
academia, ou participar de um clube ou algo do tipo, essa classe sai em desvantagem e precisa
de estrutura governamental para combater a falta de lazer nessas áreas. Espaços como
parques, praças, onde se vê a formação de um ciclo cultural e social, são de extrema
importância na missão de dar alegria e significado a vida de quem precisa, praticar atividades
como futebol, skate, corrida, a possibilidade de estar mais próximo e em maior contato com a
natureza, as atividades culturais e entre outros, criam um espaço de lazer fantástico para
população se adequadamente instalados. Mas é justamente quem menos precisa que recebe
mais instalações como essa, e para quem se faz necessário, quando é beneficiado por
instalações como essa, ainda encontram outros problemas, como o estado de utilização do
local em questão. Uma região carente que recebe um parque por exemplo, certamente sofrerá
com problemas em relação a uso de drogas no local, a insegurança, falta de limpeza adequada
e ainda outros, assim, vai ficando cada vez mais difícil o processo de ensinar a quem mais
precisa a importância do lazer em suas vidas. Pior do que isso, é inserir nessas pessoas de
várias formas como faz hoje a sociedade, a ideia de que a culpa por elas não serem
socialmente ativas, é delas mesmo, o que é um grande engano que deve ser desmascarado,
ainda mais quando possuímos informações como hoje em dia, onde e possível notar que a
saúde física e psicológica, expectativa e qualidade de vida das pessoas menos favorecidas são
bem inferiores aos de classe alta. Problemas como ansiedade, depressão, e outros que derivam
de razões muitas vezes sociais, são notados em pessoas que possuem problemas diretamente
atrelados a pobreza, como a não realização pessoal por exemplo, onde o indivíduo se sente
culpado por não alçar o que queria e se sente responsável por tal, quando não foram lhes
dados as ferramentas e o acesso para isso.

Portanto, esse acesso dificultado ao lazer, a falta de estimulo a práticas que levem a realização
do indivíduo vem tornando a sociedade cada vez mais doente, principalmente ao ver a
população sempre dando tudo de si para buscar se igualar a algum modelo proposto pela
sociedade/mercado, só que é impossível que algo como isso aconteça. Somos seres humanos
com fragilidades e limitações que facilmente veem seu temporário “hype” acabar, isso é,
quando o alcançam. Mas a busca por esses produtos ofertados pelo mercado torna a vida
insuportável, uma eterna escalada ao nada, que é o que geralmente se encontra quando se
limita a capacidade de “ser feliz” e a criatividade na busca por isso. O vazio alcançado é tão
grande, mas tão grande, que na maioria dos casos, leva a pessoa a buscar um alívio dessa
sensação, encontrado em diversas fontes, como por exemplo a ideia de que a culpa de tudo de
ruim que acontece com você é biológica, e não social, as drogas propriamente ditas como as
ilícitas, que trazem uma sensação de prazer na qual até se parece ter finalmente alcançado
esse objetivo, pura ilusão

E há ainda as drogas também lícitas, que aliviam o sofrimento e outros sintomas como
estresse que são causados pelo vazio existencial. Fato é que só explorando novas experiências
e tendo oportunidades de conhecer algo que realmente lhe faça sentido nós podemos
conseguir se livrar do peso de não ser o ideal da sociedade, mas vamos cada vez mais
caminhando na contramão da busca por essa solução, e nos deslocamos mais rapidamente
para via que nos leva a consumir mais e cada vez mais e cada vez de forma mais impactante e
mais variada de forma mais rápida.

A única saída é a reflexão acerca do próprio problema, feita por todos, mas principalmente,
por quem sofre com ela.

Aproveitando situações como essa explicada aqui, a sociedade vem através dos anos
desenvolvendo alguns aspectos como a criação de uma “doença” a cada tipo de problema que
venhamos a ter, e que todos esses problemas devem ser analisados e cuidados por um médico,
que vai também receitar alguma droga que haja no seu corpo para combater o mal ao qual está
enfrentando. Mas os males sempre existirão, e essas drogas nem sempre são capazes de
resolve-los. Aliás, a maioria das vezes não, se levarmos em consideração que as drogas que
tratam problemas de mal-estar social estão sempre evoluindo, e cada vez de mais difícil
aquisição, e o pior, como já dito, sem resolver o problema.

Somos doentes de tudo, falta de amor, falta de emprego, estabilidade financeira ou social e
diversos outros fatores, e muitas das vezes influenciados pelos próprios que colocam no
mercado medicamentos para curar esses problemas. A demanda dessas drogas jamais será
insuficiente pelo fato de que algumas doenças hoje são criadas em função da droga para
soluciona-la, e não o contrário como deveria ser.

Somente com a escola atuando de forma eficaz, ensinando e capacitando as crianças e


adolescentes a serem pessoas pensantes e capazes de raciocinar sobre esse tipo de coisa que
poderia haver algum tipo de mudança. Jovens que buscam soluções diferentes para as então
doenças da sociedade, como por exemplo o sedentarismo, que apesar de parecer algo
assustador a primeira, foi explorado em um dos textos que na verdade os números sobre ele
são bem mascarados e nada conclusivos, fato esse que mostra como o mercado “adoece” à
sociedade e dificulta até mesmo esse trabalho de criação de jovens mais capacitados, já que os
mesmos se encontram também acorrentados a problemas do tipo.

O sedentarismo como citado é mais um exemplo de algo que nós é ofertado e deve ser aceito,
se você se encaixa nos ditos sedentários, você é o maior culpado e deve fazer de tudo para
perder esse status. Isso em tempo que não se sabe nem mesmo sobre a veracidade do que é
dito à cerca do sedentarismo, seus efeitos, suas causas e tudo mais. Trata-se de uma doença
muito mais corporativa e mercadista do que de fato é apresentada. Não querendo colocar em
cheque a sua existência, mas os fatores que a causam não são muito bem esclarecidos. Diante
disso termino dizendo que a esperança está em uma escola que investe na educação social e
cultural dos jovens, crianças, adolescente, e todos que são capazes de alguma forma de mudar
o discurso, de pensar duas vezes antes de aceitar qualquer ideia, do jovem que tenta fazer
diferente, que inova, e que sobretudo não se sinta pressionado a comprar, ser, usar ou viver da
forma que lhe é imposta, mas da que lhe é conveniente.

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