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no semiárido: ideias,
pensadores e períodos
José Nilson B. Campos I
Introdução
P
olíticas públicas são as ações, práticas, diretrizes fundadas em leis e em-
preendidas como funções de Estado por um governo, para resolver ques-
tões gerais e específicas da sociedade (Heidmann, 2006, p.29). Nesse con-
ceito, as políticas públicas de secas somente iniciaram após o governo reconhe-
cê-las como problema nacional e agir no sentido de solucioná-las. Isso só acon-
teceu com a tragédia e repercussão mundial da Grande Seca de 1877 a 1879,
quando morreram centenas de milhares de pessoas.
A maioria das políticas públicas praticadas no Nordeste brasileiro no sé-
culo passado foi formulada no âmbito do combate às secas. A evolução dessas
políticas foi objeto de várias propostas de periodização elaboradas nas décadas
de 1980 e 1990 (Andrade, 1970; Carvalho, 1988; Magalhães; Glantz, 1992).
Andrade (1970) estruturou as políticas de secas em quatro fases: 1) huma-
nitária; 2) intervenção e sistematização com estudos e obras; 3) diferenciação; e
4) integração do desenvolvimento regional e promoção universitária. A fase hu-
manitária refere-se à comiseração às vítimas das secas. A fase da intervenção, tam-
bém denominada fase hidráulica, inicia-se com a criação da Inspetoria de Obras
Contra as Secas em 1909. Nessa fase construíram-se açudes e sistematiza-se a rede
de dados meteorológicos e hidrológicos. A fase de diferenciação inicia com a cria-
ção do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) em 1951. A fase de desenvolvimento
regional tem como marco o Seminário para o Desenvolvimento Econômico do
Nordeste, realizado em Garanhuns (PE), de 26 de abril a 3 de maio de 1959.
Em sua proposta, Carvalho (1988, p.202) analisa as políticas em quatro
fases: 1) a presença governamental até 1950; 2) a mudança de padrão, de 1950
a 1959; 3) a modernização com reformas de 1959 a 1964; e 4) a modernização
conservadora, decorrente da implantação do regime militar. A fase da presença
governamental é avaliada por Carvalho (1988, p.203) em dois caminhos: 1)
as medidas tomadas pelos governos para socorro das populações diretamente
afetadas pelas secas (ações de socorro público); e 2) as ações preventivas dos
governos para resolverem os problemas das secas que corresponde ao que se
denomina de solução hidráulica. Como fase de mudança de padrão Carvalho
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resumo – O artigo analisa a evolução das políticas públicas contra as secas praticadas no
Nordeste a partir do período Colonial. Uma proposta de periodização com base nas
políticas predominantes é apresentada. A periodização é organizada em cinco fases: 1)
defrontando-se com as secas; 2) a busca do conhecimento; 3) a hidráulica da solução; 4)
o desenvolvimento regional; 5) a gestão das águas e o desenvolvimento sustentável. As
lógicas e os pensamentos dos principais intelectuais que deram suporte a essas políticas
são objetos de análise e discussão.
palavras-chave: Políticas de secas, Semiárido, Periodização de políticas de secas.