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Universidade Federal de Itajubá – UNIFEI

Instituto de Física & Química – IFQ

UNIFEI, uma instituição centenária.

Universidade Aberta do Brasil – UAB


Curso de Licenciatura em Física – EaD

Textos Auxiliares para as disciplinas:

Física Experimental

Metodologia Científica

Prof. Gabriel Rodrigues Hickel

Baseado em material didático criado por


Prof. Agenor Pina da Silva & Profa. Mariza Grassi

Ano 2017

 Todos os direitos reservados à UNIFEI e UAB. O uso deste material para fins
didáticos, não lucrativos, é permitido, desde que mantidos os créditos.

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Conteúdo deste texto:

I – Introdução
II - Grandezas Físicas e Padrões de Medida
III - Noções sobre medidas: medidas diretas e indiretas
IV - Algarismos significativos em medidas diretas
V - Critérios de arredondamento

Referências Bibliográficas recomendadas para este texto

Livros:

1 - Vuolo, J.H., Fundamentos da Teoria de Erros. Editora Edgard Blücher LTDA,


2a Edição, São Paulo, SP, 2000.

Endereços eletrônicos:

1 – IPEM; “Medidas Antigas”


https://ipemsp.wordpress.com/category/historias-de-metrologia/medidas-antigas/
(acesso em 01/Março/2017)

2 – Depto. de Física – CCT – UDESC; “Medidas e Algarismos Significativos”


http://www.joinville.udesc.br/portal/professores/franca/materiais/Medidas_e_Algarismos.pdf
(acesso em 01/Março/2017)

3 – ITA; “Algarismos Significativos”


http://www.fis.ita.br/labfis24/erros/errostextos/erros1.htm
(acesso em 01/Março/2017)

4 – Lima Júnior, P. et al.; “Incerteza e Algarismos Significativos”


http://www.if.ufrgs.br/fis1258/index_arquivos/TXT_03.pdf
(acesso em 01/Março/2017)

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I – Introdução

A Física é uma ciência que se baseia fortemente na observação do


fenômeno natural, na identificação e na medida das propriedades que o
caracterizam. Através das observações é que podemos identificar quais
são as propriedades que realmente caracterizam um dado fenômeno e
depois medi-las. Essas medidas são realizadas através da utilização de
equipamentos com as mais variadas funções. Através das experiências
realizadas com esses equipamentos, é que podemos obter valores
quantitativos consistentes para certas propriedades da matéria. O
sucesso de qualquer modelo físico criado pelos físicos teóricos está
pautado na concordância das previsões do modelo com os resultados
obtidos experimentalmente. Derrubar ou sustentar um modelo científico
faz com que o trabalho do físico experimental seja de extrema
importância para o desenvolvimento do conhecimento científico.

Para alcançar a compreensão de um fenômeno físico é preciso


adotar um procedimento que se possa repetir e variar tantas vezes
quantas for necessário, até que se tenham reunido dados suficientes e
confiáveis através da observação. Esses dados são invariavelmente
obtidos através de processos de medição. A importância desses
processos bem como sua complexidade, torna o ato de medir uma
tarefa fundamental e nada trivial. Em Física, a importância da idéia de
medida pode ser realçada quando lemos a frase atribuída a Lord Kelvin
(cientista britânico que ficou conhecido por suas contribuições à
eletricidade e magnetismo, mecânica e termodinâmica):

“Tenho afirmado freqüentemente que quando se pode medir aquilo de que


está falando, e exprimir essa medida em números, então ficamos sabendo
algo a seu respeito; mas quando não se pode exprimi-la em números, o
conhecimento é limitado e insatisfatório. Ele pode ser o começo do
conhecimento mas o pensamento terá avançado muito pouco para o estágio
científico, qualquer que seja o assunto.”

Os trabalhos experimentais normalmente são realizados com o


objetivo de se medir grandezas de interesse prático, ou ainda, para se
determinar a relação de interdependência entre duas ou mais grandezas
que estão presentes em um fenômeno. O procedimento adotado nesse
estudo é chamado de método científico. Ele é basicamente composto
de 3 etapas: observação, raciocínio e experimentação. A primeira etapa
é a observação do fenômeno a ser compreendido. Realizam-se
experiências para poder repetir a observação e isolar, se necessário, o
fenômeno em estudo. Na etapa de raciocínio, propõe-se um modelo
(hipótese) com o propósito de explicar e descrever o fenômeno.
Finalmente, esta hipótese sugere novas experiências cujos resultados

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irão ou não confirmar a hipótese feita; se ela se mostra adequada para
explicar um grande número de fatos, constitui-se no que chamamos de
uma lei física. Estas leis são quantitativas, ou seja, devem ser expressas
por funções matemáticas.

Muito embora estaremos ao longo deste curso analisando o


processo de medida como parte da análise física de fenômenos naturais,
é importante salientar que as medidas fazem parte do nosso dia-a-dia.
Utilizamos inúmeros instrumentos de medida, ainda que fora do rigor
científico, como medidores de água e luz, relógios, balanças,
termômetros; só para citar alguns mais comuns. Nossa sociedade
necessita de quantidades determinadas (embalagens, transportes,
construções, etc...) para as mais diversas atividades. Então, de certa
forma, o processo de medida e utilização de instrumentos de medição é
algo comum a todo tipo de cidadão, seja ele consciente disto ou não. No
Brasil, existe legislação específica sobre pesos e medidas e órgãos
fiscalizadores com o INMETRO e IPEM.

II - Grandezas Físicas e Padrões de Medida

Todas as grandezas físicas podem ser expressas em termos de um


pequeno número de unidades fundamentais. Fazer uma medida física
significa comparar uma quantidade de uma dada grandeza com outra
quantidade da mesma grandeza, definida como unidade ou padrão da
mesma. Estas unidades e padrões surgiram e evoluíram junto com as
diversas culturas humanas, muitas de forma independente. Inicialmente
as unidades e padrões eram relacionados a quantidades “práticas”, que
não necessariamente implicavam na utilização de instrumento. São
exemplos; a polegada, o dia (rotação terrestre), a libra. Posteriormente,
cada cultura de maior expressão desenvolveu seus próprios
instrumentos e padrões de medidas, alguns dos quais permanecem até
os dias de hoje.

Somente a partir do século XVI, com a Renascença e o surgimento


do método científico moderno, é que surgiram as primeiras propostas de
unificação dos sistemas de medidas naturais. A resistência inicial à
adoção de um sistema ou outro era obviamente natural, uma vez que
toda as atividades de cada sociedade estavam vinculadas às unidades e
padrões historicamente adotados. Em 1799 a França, buscando unificar
as unidades e padrões de medida em seus territórios, deu início ao que
nos dias de hoje conhecemos como “Sistema Internacional de
Unidades”, adotado em todo mundo, exceto em três países: EUA, Libéria
e Myanmar.

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O Sistema Internacional de Medidas (SI) foi adotado pelo Brasil
em 1855, mas legalmente, só foi implementado em 1962. O SI é
adotado pela comunidade científica internacional, mas devido à forte
influência econômica-política-científica dos EUA, é ainda bastante
comum nos dias de hoje nos depararmos com textos técnicos e/ou
científicos utilizando unidades e padrões de medidas fora deste Sistema.

O SI possui 7 unidades e padrões básicos, a partir dos quais,


todas as outras unidades são derivadas. A Tabela 1.1 abaixo lista as
grandezas fundamentais, unidades, símbolos e definições modernas
destes padrões básicos do SI:

Tabela 1.1 – Grandezas e Padrões Básicos do SI

Grandeza Unidade Símbolo DEFINIÇÃO (Padrão)


Metro é o comprimento da trajetória percorrida pela
Comprimento metro m luz no vácuo, durante um intervalo de tempo de 1/299
792 458 do segundo.
Massa do protótipo internacional, conservado no
Massa quilograma kg Bureau Internacional de Pesos e Medidas, em Sévres,
França
Um segundo é o tempo decorrido entre 9.192.631.770
Tempo segundo s vibrações da luz (de comprimento de onda
especificado) emitido pelo átomo de césio-133 (133Cs).
Mol é a quantidade de matéria de um sistema que
Quantidade de
mol Mol contém tantas entidades elementares quanto são os
Matéria átomos contidos em 0,012 quilograma de carbono-12.
Fração 1/273,16 da temperatura termodinâmica do
Temperatura kelvin K ponto tríplice da água.
O Ampère é definido como uma intensidade de uma
corrente constante que, mantida entre dois condutores
Corrente paralelos, retilíneos, de comprimento infinito, de seção
ampère A circular desprezível e colocados a uma distância de um
Elétrica
metro um do outro, no vácuo, produz uma força
0.0000002 Newton por metro de comprimento.
Intensidade luminosa, numa direção dada, de uma
Intensidade fonte que emite uma radiação monocromática de
candela cd freqüência 540×1012 hertz e cuja intensidade energética
Luminosa
naquela direção é 1/683 watt por esferorradiano.

Quando dizemos, por exemplo, que um dado comprimento vale 10 m,


estamos dizendo que o comprimento em questão corresponde a dez
vezes o comprimento da unidade padrão, o metro. As unidades de
outras grandezas, como velocidade, energia, força, torque, etc; são
derivadas destas 7 unidades. Não é incomum que o SI adote nomes
especiais para unidades de outras grandezas, com o Newton (N) para
força e Joule (J) para energia, mas estas grandezas sempre podem ser
reescritas em função das 7 unidades básicas.

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III - Noções sobre medidas: medidas diretas e indiretas.

O objetivo imediato da operação de medir uma grandeza é


verificar quantas vezes ela contém o padrão da grandeza de
mesma espécie. Estes procedimentos normalmente envolvem o uso de
instrumentos, com os quais se efetuam medidas. Não basta apenas
registrar o resultado das medidas feitas durante uma experiência, é
necessário dar uma idéia da confiabilidade da medida. O valor numérico
de uma grandeza, em relação a uma unidade padrão, será sempre
determinado aproximadamente, devido à ocorrência inevitável de erros
de medida. Os fatores que intervêm na medida de uma grandeza podem
ser de ordem objetiva (natureza do objeto de medida, qualidade dos
instrumentos utilizados) ou de ordem subjetiva (escolha do método de
medida, habilidade do experimentador). Em suma, a qualidade e
confiabilidade de uma medida dependerão do observador, do
instrumento, da metodologia de medida e do ambiente em que ela é
executada.

O resultado da medida de uma grandeza G é composto por:


• um número proveniente do processo de comparação com um
padrão, representado aqui por m (o valor da grandeza em si);
• uma indicação da confiabilidade da medida, representada pelo
erro ou incerteza da medida, indicada aqui por ∆m;
• uma eventual notação científica (normalmente indicada em
potências de 10 ou prefixo), representada aqui por ×10n, mas
nem sempre presente;
• na grande maioria dos casos, uma unidade, representada aqui por
u (a unidade nem sempre existirá em uma medida, pois pode-se
medir valores adimensionais, como por exemplo, o valor de π).

Assim, a medida de uma grandeza G qualquer, será expressa como:

G = (m ± ∆m) ×10n u.

Por exemplo, o valor, atualmente aceito para a velocidade da luz


propagando-se no vácuo é:

c = (2,99792458 ± 0,00000004) x 108 m/s.

Isto significa que, apesar das sofisticadas técnicas empregadas e do


esforço de muitos cientistas, ainda persiste uma incerteza de medida de
4 m/s na velocidade da luz. Este e muitos outros exemplos que
poderiam ser citados permitem concluir que o erro está presente em
todo processo de medida e determina a faixa de incerteza dentro da
qual se conhece a medida de uma grandeza.

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Em relação à origem, as medidas de grandezas físicas podem ser
classificadas em duas grandes categorias: medidas diretas e
indiretas. A medida direta de uma grandeza é o resultado da leitura de
uma quantidade, mediante o uso de instrumento de medida, como por
exemplo, um comprimento com uma régua graduada, ou ainda a de
uma corrente elétrica com um amperímetro, a de uma massa com uma
balança ou de um intervalo de tempo com um cronômetro. Uma medida
indireta é a que resulta da aplicação de uma relação matemática
(modelo) que vincula a grandeza a ser medida com outras grandezas
que são medidas diretamente. Como por exemplo, a medida de uma
área retangular qualquer (A), pode ser obtida através das medidas
diretas dos lados do retângulo (L1, L2); ou seja, A = L1×L2.

Nas medidas diretas, a qualidade e confiabilidade da medida


dependem do observador, instrumento, metodologia e ambiente. Já nas
medidas indiretas, dependerão do modelo adotado, das operações com
algarismos significativos e da propagação dos erros.

IV - Algarismos significativos em medidas diretas

Vamos iniciar este item com uma pequena história: você vai a
uma vidraçaria e entrega o pedido de um vidro de 2 m de comprimento
para substituir em sua janela. Ao chegar em casa confere a medida de
comprimento do vidro e descobre que o vendedor cortou o mesmo com
2,002 m de comprimento. O vidro não encaixa no espaço da janela.
Será que nesse caso você tem direito a reclamar?

Logicamente, o vendedor não irá se negar a cortar o vidro no


comprimento exato. Mas o seu pedido deveria especificar o valor exato
do comprimento do vidro até a casa do milímetro, o que o vendedor tem
condições de medir. Neste caso, escrever 2 m ou 2,000 m, faz muita
diferença. Mas isso realmente tem sentido? Ou é exagero do professor?

Para responder a esta pergunta, enfatizamos que para medir é


necessário se fazer uma comparação e transformar isto em números.
Por exemplo, vamos tentar expressar o resultado da medida do
segmento CD, na Figura A-1, abaixo. Primeiro, efetuamos a leitura de
todos os dígitos que podem ser lidos diretamente da escala que está
sendo utilizada, ou em outras palavras, aqueles dígitos que não
suscitam quaisquer dúvidas, independente do observador. Todos os
leitores deste texto irão concordar que o comprimento CD está entre os
valores 2 e 3 da escala presente na Figura A-1.

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Em seguida devemos estimar a fração do objeto que não
conseguimos ler diretamente. Sabemos que o valor do comprimento do
segmento CD é maior que 2 e menor que 3. Isto possibilita que façamos
a estimativa do valor fracionário em relação à unidade da escala. Note,
porém, que esta fração deve ser indicada apenas com um algarismo a
mais, uma vez que ele será duvidoso (alguns podem estimar 2,5 ou 2,6
ou 2,7, etc). Este algarismo a mais é chamado de dígito de
interpolação ou estimativa ou também de algarismo significativo
duvidoso.

Figura A-1: Medição do segmento CD.

Desta forma, concluímos que a medida do comprimento do


segmento CD será dada do seguinte modo:

• dígito lido diretamente da escala – 2 (objetivo, vemos que é


maior que 2 e menor que 3, na escala, então o comprimento do
segmento CD é no mínimo igual a 2 unidades da escala);
• dígito interpolado ou estimado – 6 (subjetivo, depende do
leitor, aqui estamos exemplificando a fração excedente como
0,6 a partir da marcação 2 da escala);
• medida do comprimento CD – 2,6

A interpolação surge quando o valor medido corresponde a uma


fração da unidade do padrão de escala do instrumento. Embora o dígito
resultante do processo de interpolação seja ligeiramente subjetivo,
ele carrega uma informação que exclui algumas possibilidades e,
portanto, é significativo também. Deste modo, podemos dizer que
uma medida direta é o resultado da leitura direta de valores em um
instrumento de medição e não envolve qualquer operação aritmética
(modelo) para sua obtenção. Em uma medida direta são considerados
algarismos significativos (A.S.):

• todos os algarismos resultantes da comparação por contagem com


o padrão – “são os lidos diretamente da escala”;

• um (e apenas um) algarismo decorrente do processo de


interpolação – “o duvidoso”.

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Assim, por exemplo, se acharmos que o resultado de uma medida é
3,24 cm estamos dizendo que os algarismos 3 e 2 foram lidos
diretamente na escala do instrumento, e que o algarismo 4 é duvidoso,
não tendo sentido físico escrever qualquer algarismo após o 4.

Seguem outros exemplos: Na figura A-2, o segmento FG é medido


com uma régua escolar comum, cuja unidade é centímetro, mas com
marcações de milímetros. Neste caso, podemos ler diretamente na
escala do instrumento dois dígitos ou Algarismos Significativos (AS): o
inteiro e o decimal. Uma leitura nos mostra que o comprimento do
segmento FG é entre 5,8 e 5,9. Desta forma, teremos:

Figura A-2: Medição do segmento FG.

• dígitos lidos diretamente da escala – 5,8;


• dígito interpolado ou estimado – 2 (subjetivo, depende do
leitor, aqui estamos exemplificando a fração excedente como
0,02 a partir da marcação 5,8 da escala);
• medida do comprimento FG – 5,82 cm

Neste exemplo, seriam igualmente aceitáveis os valores 5,80; 5,81;


5,83; 5,84 e 5,85.

Na Figura A-3, o ângulo θ é medido por um transferidor comum


graduado em graus. A leitura do instrumento de medida indica que o
ângulo em questão está entre 36 e 37 graus. Então, concluímos que a
medida do ângulo terá:

• dígitos lidos diretamente da escala – 36;


• dígito interpolado ou estimado – 7 (subjetivo, depende do
leitor, aqui estamos exemplificando a fração excedente como
0,7 a partir da marcação 36 da escala);
• medida do ângulo θ – 36,7 graus

Os valores entre 36,5; 36,6; 36,8 e 36,9 seriam igualmente aceitáveis.


Vale lembrar também que ângulo não tem unidade física. Utilizamos
graus ou radianos (e mais raramente grados), mas oficialmente os
ângulos são grandezas adimensionais.

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Figura A-3: Medição do ângulo θ.

Na Figura A-4, a temperatura ambiente T é medida por um


termômetro climático comum, com duas escalas: uma graduada em 2
graus Celsius e outra graduada em 2 graus Farenheit. Vamos nos ater à
escala graduada em grau Celsius. A leitura do termômetro indica que a
temperatura em questão está entre 14 e 16 graus Celsius. Então,
concluímos que a medida da temperatura terá:

• dígitos lidos diretamente da escala – 14;


• dígito interpolado ou estimado, a ser somado – 0 (subjetivo,
depende do leitor, aqui estamos exemplificando o inteiro
excedente como 0 a partir da marcação 14 da escala);
• medida da temperatura T – 14 graus Celsius

Somente os valores 14 e 15 seriam aceitáveis neste caso. Note que esta


situação é um pouco diferente das anteriores, pois o algarismo
significativo duvidoso está na casa da unidade de medida, devido à
graduação da escala do instrumento. No próximo módulo isto ficará
mais claro, quando estudaremos a incerteza ou erro de uma medida.

Vale lembrar também que, oficialmente, a unidade de temperatura


no SI é Kelvin, indicada pela letra K, sem o uso de “graus” ou “o” junto
aos valores numéricos. Este é mais um exemplo de unidades utilizadas
no nosso dia-a-dia que não seguem os padrões do SI, ainda que uma
variação de 1 grau Celsius em uma temperatura seja equivalente à
variação de 1 K na mesma temperatura.

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Figura A-4: Medição da temperatura ambiente T.

Observações importantes:

• Todas as medidas na mesma escala são significativas até a


mesma ordem decimal final, embora a quantidade de algarismos
significativos de cada medida feita com esta escala possa variar.
Por exemplo, L1 = 218,4 mm e L2 = 3,2 mm podem ter sido
obtidos a partir de um mesmo instrumento, pois têm o mesmo
número de casas decimais. Porém; S1 = 2,68 mm e S2 = 3,289
mm, como apresentam diferentes números de casas decimais,
necessariamente têm que ter sido feitas com instrumentos e
escalas diferentes. Veremos no próximo módulo que isto está
ligado à uma propriedade do instrumento, a precisão.

• O nome do padrão (unidade) é parte da medida, quando a


grandeza medida tiver dimensão. Por exemplo, uma velocidade
v = 2 é grande ou pequena? Depende da unidade:
- v = 2 cm/ano é muito pequena, típica da deriva continental;
- v = 2 m/s é moderada, típica de uma pessoa ligeira;
- v = 2 km/s é muito grande, típica de aviões supersônicos.
Assim, concluímos que sem a devida unidade, uma medida perde
completamente o sentido, estando incorreta.

• O processo de interpolação é subjetivo: a mesma pessoa ou


pessoas diferentes podem obter valores diferentes, mas próximos
entre si. Assim, o último algarismo significativo pode flutuar (por
isto, é duvidoso).

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• O dígito de interpolação pode ser nulo, mas tem que ser
obrigatoriamente escrito. Sendo assim, jamais acrescente ou
remova arbitrariamente os zeros à direita em resultados de
medição. As medidas A = 32,5 cm e B = 32,50 cm são
diferentes, ou seja, a primeira medida tem 3 A.S., enquanto que a
segunda tem 4 A.S. Lembre-se do problema do vidro.

• O zero (0) situado entre algarismos significativos é sempre


significativo: L = 3,25 m tem 3 A.S enquanto que L = 3,025 m
tem 4 A.S.

• As medidas a seguir são diferentes: 5 cm ≠ 5,0 cm ≠ 5,00 cm ≠


5,000 cm, já que estas medidas tem 1 A.S., 2 A. S. , 3 A. S. e 4
A. S., respectivamente.

• Não é algarismo significativo o zero à esquerda do primeiro


algarismo significativo diferente de zero. Assim, tanto A = 32,5 cm
como B = 0,325 m representam a mesma medida e tem 3 A.S.
Outros exemplos:

a) 5 s = 0,5x10 s = 0,05x102 s = 0,005x103 s (1 A.S.)

b) 26 g = 2,6x10 g = 0,26x102 g = 0,026x103 g (2 A.S.)

c) 0,00034606 s = 0,34606x10-3 s = 3,4606x10-4 s (5 A.S.)

• Via de regra, não existem medidas como 0; 0,0 ou 0,000;


pois elas não contém nenhum A.S.. Se o instrumento não é capaz
de efetuar uma medida com pelo menos 1 A.S. diretamente lido
na escala, então ele não deve ser utilizado. Neste caso, faça uso
de um instrumento com melhor precisão, como veremos no
próximo módulo. Mas podem existir exceções, quando o valor
“0” não é o início da escala. Por exemplo, para termômetros
climáticos (temperatura ambiente), existem escalas como
exemplificado na Figura A-4, na qual a temperatura, em graus
Celsius (oC) pode ter valores negativos e positivos. Supondo que
em um dia muito frio, a temperatura fosse a zero graus Celsius,
neste caso, não seria absurdo escrever para a temperatura
ambiente a seguinte medida: T = (0 ± 1) oC. Tudo depende de
como a escala e sua unidade são construídas.

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V - Critérios de arredondamento

Frequentemente ocorre a necessidade de se arredondar os números


de uma medida. Quando for necessário fazer arredondamento de algum
número, utilizaremos as seguintes regras:

• quando o último algarismo significativo for menor que a metade,


os algarismos restantes são eliminados (arredondamento para
baixo);

Ex.1: L = 8,234 cm a ser arredondado à segunda casa


decimal. Então L = 8,23(4) cm é arredondado para L = 8,23
cm, pois o último dígito (4) é menor que a metade, 5.

Ex.2: t = 2,43356 s a ser arredondado à primeira casa


decimal. Então t = 2,4(3356) s é arredondado para t = 2,4
s, pois os últimos dígitos (3356) são menores que a metade,
5000.

Ex.3: v = 2,1302 m/s a ser arredondado à terceira casa


decimal. Então v = 2,130(2) m/s é arredondado para
v = 2,130 m/s, pois os último dígito (2) é menor que a
metade, 5.

• quando o último algarismo significativo for maior que a metade,


somamos 1 ao algarismo significativo anterior e os excedente são
eliminados (arredondamento para cima);

Ex.1: m = 13,2678 g a ser arredondado à terceira casa


decimal. Então m = 13,267(8) g é arredondado para
m = 13,268 g, pois o último dígito (8) é maior que a
metade, 5.

Ex.2: E = 6,59 J a ser arredondado ao inteiro. Então


E = 6,(59) J é arredondado para E = 7 J, pois os últimos
dígitos (59) são maiores que a metade, 50.

Ex.3: F = 2,97 N a ser arredondado à primeira casa decimal.


Então F = 2,9(7) N é arredondado para F = 3,0 N, pois o
último dígito (7) é maior que a metade, 5.

• quando o último algarismo for exatamente igual a 5 (metade), o


arredondamento deve ser tal que o algarismo significativo anterior
deve ser par.

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Ex.1: T = 9,05 K a ser arredondado à primeira casa decimal.
Então T = 9,0(5) K é arredondado para T = 9,0 K, pois o
último dígito (5) é exatamente a metade entre 9,0 e 9,1 K.
Mas note que 0 é par e 1 é ímpar. Desta forma, recuamos o
valor original ao par, no processo de arredondamento.

Ex.2: F = 35500 N a ser arredondado à casa do milhar.


Então F = 35(500) N é arredondado para 3,6×104 N, pois os
últimos dígitos (500) fornecem exatamente a metade entre
3,5×104 e 3,6×104 K. Mas note que 6 é par e 5 é ímpar.
Desta forma, aumentamos o valor original ao par, no
processo de arredondamento. Neste exemplo, também
fizemos uso da representação em notação científica, o que
muitas vezes é necessário para respeitar o número de A.S.
requeridos no problema. Veremos isto com mais detalhes no
Módulo 3.

Ex.3: I = 0,5 A a ser arredondado ao inteiro. Então I = 0,(5)


A é arredondado para I = 0 A, pois o último dígito (5) é
exatamente a metade entre 0 e 1 A, sendo 0, par e 1,
ímpar. Porém, como já foi citado neste texto, não podemos
escrever I = 0 A, já que o zero sem ser precedido de algum
algarismo não nulo, não é A.S.. Então, como proceder? O
correto é fazer é escrever: I = indeterminado, explicando
ao lado da medida que a instrumentação utilizada não
permitiu determinar o valor da medida.

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