Você está na página 1de 13

Momentum e Impulso

A colisão de uma bola de tênis com a raquete constitui uma interação


“espetacular” e complexa em que o movimento da bola muda subitamente de
orientação. Tentar analisar a colisão por meio da segunda lei de Newton seria uma
tarefa intimidadora. Mesmo assim, nosso objetivo é obter uma relação simples entre
as velocidades dos objetos antes da interação e as velocidades dos mesmos após a
interação. Começaremos examinando as colisões; mais adiante, examinaremos as
explosões.
Uma colisão é uma interação de curta duração entre dois objetos. A colisão
de uma bola de tênis com uma raquete, ou de uma bola de beisebol com um bastão,
pode parecer instantânea aos nossos olhos, mas isso é apenas uma limitação de
nossos sentidos.
A duração de uma colisão depende dos materiais dos quais os objetos são
feitos, mas durações entre 1 e 10 ms (0,001 a 0,010 s) são bem típicas. Este é o
tempo durante o qual os dois objetos estão em contato um com o outro. Quanto
mais duros eles forem, mais curto é o tempo de contato. Uma colisão entre bolas de
aço dura menos de 1 ms.
Uma força intensa, exercida durante um curto intervalo de tempo, é chamada
de força impulsiva. A força de uma raquete de tênis sobre uma bola, é um bom
exemplo de uma força impulsiva. Note que uma força impulsiva possui uma duração
bem-definida.
Nota – até agora, não tratamos de casos de forças que variam em função do
tempo. Como uma força impulsiva é uma função do tempo, nós a representaremos
por F(t).
Podemos analisar a colisão através da segunda lei de Newton e determinar a
velocidade final. A aceleração em uma dimensão a x = d v x /dt , de modo que segunda
lei assume a forma

d vx
m a x=m = F x (t) (1)
dt

Após multiplicar os dois dessa equação por dt, a segunda lei fica escrita como
m d v x = F x (t)dt (2)

A força não é nula somente durante o intervalo de tempo que vai de t i a t f ,


logo vamos integrar a Equação (2) neste intervalo. Durante a colisão, a velocidade
varia de vix para v fx; então,

vf tf

m∫ dv x =mv f – mv i = ∫ F x (t)dt
x x
(3)
vi ti

Precisamos agora de novas ferramentas para dar sentido à Equação (3).

Momentum

O produto da massa de uma partícula por sua velocidade é chamado de


momentum da partícula:

Momentum = ⃗p = m ⃗v (4)

Como a velocidade, o momentum é um vetor. Sua unidade do SI é o kg m/s.


OBS: O plural de “momentum” é “momenta”, por causa de sua origem latina.

O vetor momentum ⃗p é paralelo ao vetor velocidade ⃗v, e pode ser


decomposto em dois componentes x e y. A equação (4), uma equação vetorial, é
uma maneira sintética de escrever duas equações simultâneas:

px = mvx
py = mv y

Nota – Um dos erros mais comuns em problemas sobre momentum consiste


no emprego errôneo de sinais algébricos. O componente p x do momentum tem o
mesmo sinal de v x . O momentum é negativo para uma partícula que se mova para a
esquerda (sobre o eixo x) ou para baixo (sobre o eixo y).
Momentum é outro termo que usamos cotidianamente na fala sem uma
definição precisa. Em física e engenharia, momentum é um termo técnico cujo
significado é definido pela equação (4). Um objeto pode possuir um grande
momentum por ter uma pequena massa, mas uma grande velocidade (uma bala
disparada por um rifle) ou por ter uma grande massa e uma pequena velocidade (um
caminhão grande trafegando lentamente a 1,5 km/h).
Newton de fato formulou sua segunda lei em termos do momentum, e não da
aceleração:

d ⃗v d (m ⃗v ) d ⃗p
F = m⃗a = m
⃗ = = (5)
dt dt dt

Esta forma da segunda lei, em que a força é a taxa de variação do


momentum, é mais geral do que a nossa versão prévia F = m⃗a . Ela abre a

possibilidade de que a massa do objeto possa variar, como em um foguete que


expele massa enquanto queima o combustível.
De volta à Equação (3), note que mv i e mv i são, respectivamente, pi e pf , os
x y x x

componentes x do momentum da partícula antes e após a colisão. Além disso,


pf − pi é ∆ p x, a variação do momentum da partícula. Em termos do momentum, a
x x

Equação (3) é

tf
∆ p x = pf − pi = ∫ F x (t) dt
x x
(6)
ti

Agora precisamos examinar o lado direito da equação (6).

Impulso

A Equação (6) significa que a variação do momentum da partícula está relacionada à


integral da força no tempo. Vamos definir a grandeza J x, chamada de impulso, como

tf

Impulso = J x = ∫ F x ( t ) dt = área sob a curva F x (t ) entre t i e t f . (7)


ti
Estritamente falando, o impulso tem por unidade o Ns, entretanto você deve ser
capaz de mostrar que Ns equivale a kg m/s, a unidade de momentum.
A interpretação para a integral na Equação (7) como área sob uma curva tem
uma especial importância.
A equação (3), a qual obtivemos por integração da segunda lei de Newton,
pode agora ser reescrita em relação ao impulso e ao momentum como

∆ p x = J x (teorema impulso-momentum) (8)

Este resultado é chamado o teorema impulso-momentum. O nome é um


pouco incomum, mas não é ele que importa. O importante é a nova idéia de que um
impulso exercido sobre uma partícula faz variar o momentum da mesma. O
momentum pf “após” uma interação, como uma colisão ou uma explosão, é igual
x

ao momentum pi “antes” da interação mais o impulso comunidade pela interação:


x

pf = pi + J x
x x
(9)

O teorema impulso-momentum significa que não precisamos conhecer todos


os detalhes da função força F x (t ) para aprender como a partícula ricocheteia. Não
importa quão complicada seja a força, somente a sua integral – a área sob a curva
da força – é necessária para determinar pf . x

Embora a interação seja muito complexa, o impulso – a área sob a curva da


força – é tudo o que precisamos saber para determinar a velocidade da bola depois
que ela ricocheteia na parede. O momento final é

pf = pi + J x = pi + área sob a curva da força


x x x

Portanto, a velocidade final é:

pf área sob a curva da força


vf = x
= vi +
x
m x
m
Conservação do momentum

O teorema impulso-momentum foi derivado da segunda lei de Newton e constitui, de


fato, uma maneira alternativa de olhar para aquela lei. Ele é usado no contexto da
dinâmica da partícula única.
Interações complexas como dois trens que se acoplam, às vezes produzem
resultados muito simples. Para prever os resultados, precisamos verificar que a
terceira lei de Newton é expressa na linguagem de impulso e momentum. Ela nos
levará a um dos mais importantes princípios da conservação da física.
Dois objetos com velocidades iniciais ( v ¿ ¿i x )1 ¿ e ( v ¿ ¿i x )2 ¿ colidem depois
ricocheteiam e se afastam com velocidades ( v ¿ ¿ f x )1 ¿ e ( v ¿ ¿ f x )2 ¿ . Durante a colisão,
enquanto os objetos interagem, as forças exercidas formam um par ação/reação
F 1 sobre 2 e ⃗
⃗ F 2 sobre 1. Por ora, continuaremos a considerar que o movimento seja
unidimensional, ao longo do eixo x.

Nota – a notação, com todos os subscritos, pode parecer excessiva, mas


existem dois objetos, e cada um possui uma velocidade inicial e outra final, de modo
que precisamos distinguir entre quatro diferentes velocidades.
A segunda lei de Newton para cada objeto, durante uma colisão, é

d ( p¿¿ x)1
F ¿¿ x )2 sobre 1 ¿
¿ = (⃗
dt
(10)
d ( p¿¿ x)2
F ¿¿ x )1 sobre 2 ¿ = –( ⃗
¿ = (⃗ F ¿¿ x )2 sobre 1 ¿
dt

Usamos explicitamente a terceira lei de Newton na segunda equação.


Embora as equações (10) sejam para dois objetos diferentes, suponha – só
para ver o que acontece – que adicionemos as duas equações membro a membro.
Se fizermos isso, obteremos
d ( p¿¿ x)1 d ( p¿¿ x )2 d
+ ¿¿ = (( p¿¿ x)1 +( p ¿¿ x )2 ¿ ¿ = ( F ¿¿ x )2 sobre 1 ¿ + (–
dt dt dt
( F ¿¿ x )2 sobre 1 ¿) = 0 (11)

Se a derivada no tempo da grandeza ( p¿¿ x)1 +( p ¿¿ x )2 ¿ ¿ é nula, trata-se,


então, de um caso em que

( p¿¿ x)1 +( p ¿¿ x )2=constante ¿ ¿ (12)

A Equação (12) é uma lei de conservação! Se ( p¿¿ x)1 +( p ¿¿ x )2 é ¿ ¿ uma


constante, então a soma dos momentos após a colisão é igual à soma dos momenta
antes da colisão, ou seja,

( p¿¿ fx)1 +( p ¿¿ fx )2=( p ¿¿ ix)1 +( p ¿¿ix)2 ¿ ¿ ¿ ¿ (13)

Além disso, essa igualdade independe da força de interação. Não precisamos


F 1 sobre 2 ou ⃗
saber nada sobre⃗ F 2 sobre 1 para usar a Equação (13).

Princípio da conservação do momentum

A Equação (2) ilustra a ideia de uma lei de conservação do momentum, mas


ela foi derivada para o caso particular de uma colisão unidimensional de duas
partículas. Nosso objetivo é desenvolver uma lei mais geral de conservação do
momentum, uma lei que seja válida em três dimensões e que funcione para todos os
tipos de interações. Os próximos dois parágrafos são principalmente matemáticos.
Considere um sistema que consiste de N partículas. As partículas podem ser
entidades grandes (carros, bolas de beisebol, etc.) ou podem ser os átomos
microscópicos de um gás. Podemos diferenciar cada partícula das outras por meio
de um número de identificação k. Cada partícula do sistema interage com cada outra
F j sobre k e ⃗
via pares de força ação/reação ⃗ F k sob ℜ j. Além disso, cada partícula está
F ext sobre k de agentes externos ao sistema.
sujeita a possíveis forças externas ⃗
Se a partícula k possui velocidade v⃗ k, seu momentum é ⃗pk = m k ⃗v k . Definimos o
P do sistema como o vetor soma
momentum total ⃗
N
P = momentum total = ⃗p1 + ⃗p2 + ⃗p3 + . . . + ⃗p N = ∑ ⃗p k
⃗ (14)
k =1

Em outras palavras, o momento total do sistema é a soma de todos os


momentos individuais.
P nos diz como o momentum total do sistema varia com
A derivada no tempo ⃗
o tempo:

d⃗
P d ⃗p k Fk
=∑

=∑ (15)
dt k dt k

Fk = d
onde usamos a segunda lei de Newton, para cada partícula, na forma ⃗
⃗pk /dt, que é a Equação (5).
A força resultante exercida sobre a partícula k pode ser dividida em forças
externas, com origem fora do sistema, e em forças internas, devido às outras
partículas do sistema:

F k=
⃗ ∑ ⃗F j sobre k + ⃗F ext sobre k (16)
j≠ k

A restrição j ≠ k expressa o fato de que a partícula k de fato não exerce força


sobre si mesma. Usando isso na Equação (15), obtemos a taxa de variação do
movimento total P do sistema:

d⃗
P F ext sobre k
=∑ ∑ ⃗ F j sobre k + ∑ ⃗ (17)
dt k j≠ k k

F j sobre k adiciona cada força de interação dentro do


A dupla somatória em ⃗
sistema. Mas as forças de interação formam pares ação/reação, com
F k sobre j=– ⃗
⃗ F j sobre k , de modo que ⃗
F k sobre j+ ⃗
F j sobre k = 0⃗ . Consequentemente, a soma de
todas as forças de interação é nula. Como resultado, a Equação (17) assume a
forma

d⃗
P ∑ ⃗F ext sobre k = ⃗F res
= (18)
dt k
F res é a força resultante exercida sobre o sistema pelos agentes externos ao
onde ⃗
mesmo tempo. Todavia esta é justamente a segunda lei de Newton escrita para o
sistema como um todo! Ou seja, a taxa de variação do momentum total do
sistema é igual à força resultante exercida sobre o sistema.
A Equação (18) tem duas implicações importantes. Primeiro, podemos
analisar o movimento do sistema como um todo sem precisar levar em conta todas
as forças de interação entre as partículas que constituem o sistema. De fato, temos
usado essa ideia como uma hipótese do modelo de partícula. Quando tratamos
carro, pedras e bolas de beisebol como partículas, consideramos que as forças
internas entre seus átomos – as forças que mantêm íntegro o objeto – não afetam
em nada o movimento do objeto como um todo. Agora acabamos de justificar essa
consideração.
A segunda implicação da Equação (18), e a mais importante a partir da
perspectiva deste capítulo, aplica-se ao que chamamos de sistema isolado. Um
sistema isolado é aquele sobre o qual não são exercidas forças externas ou para o
qual as forças externas exercidas se contrabalançam e sua soma resulta em zero.
Para um sistema isolado, a equação (18) é, simplesmente,

d⃗
P
=0 (19)
dt

Em outras palavras, o momentum total de um sistema isolado não varia.


P mantém-se constante, sejam quais forem as interações no
O momentum total ⃗
interior do sistema. A importância deste resultado é suficiente para elevá-lo à
categoria de uma lei da natureza, junto com as leis de Newton.

Pde um
PRINCÍPIO DE CONSERVAÇÃO DE MOMENTUM – O momentum total ⃗
sistema isolado é uma constante. As interações dentro do sistema são incapazes de
alterar o momentum total do sistema.

Nota – É importante enfatizar o papel crucial da terceira lei de Newton na


derivação da Equação (19). O princípio de conservação do momentum é uma
consequência direta do fato de que todas as interações dentro de um sistema
isolado correspondente a pares de forças ação/reação.

Matematicamente, o princípio de conservação do momentum para um sistema


isolado é:
Pf = ⃗
⃗ Pi (20)

O momentum total após uma interação é igual ao momentum total antes da


mesma. Uma vez que a Equação (20) é uma equação vetorial, a igualdade é
verdadeira para cada um dos componentes do vetor momentum, ou seja,

( p¿¿ fx)1 +(p ¿¿ fx)2 +¿ ¿ ¿. . . = ( p¿¿ ix )1+( p¿¿ ix)2 ¿ ¿ + . . .


(21)
( p¿¿ fy)1 +( p¿¿ fy)2 +¿ ¿ ¿. . . = ( p¿¿ iy)1+( p¿¿ iy )2 ¿¿ + . . .

A equação em x é uma extensão da Equação (13) para N partículas em


interação.

Conservação do Momento linear e Colisões

Para a maioria das pessoas, o termo colisão está provavelmente associado a


algum desastre envolvendo automóveis. Usaremos o termo também nesse sentido,
porém estenderemos seu significado de modo que inclua qualquer vigorosa
interação entre dois corpos com uma duração relativamente curta. Portanto, não
incluiremos apenas acidentes envolvendo automóveis, mas também as bolas que
colidem em uma mesa de bilhar, os nêutrons que se chocam com núcleos atômicos
em um reator nuclear, o impacto de um meteoro na superfície terrestre, etc.
Quando as forças entre os corpos forem muito maiores do que as forças,
externas podemos desprezar completamente as forças externas e considerar os
corpos como um sistema isolado. Existe conservação do momento linear na colisão,
e o momento linear total do sistema é o mesmo antes e depois da colisão.

Colisões elásticas e inelásticas


Quando as forças entre os corpos também forem conservativas, de modo que
nenhuma energia mecânica é adquirida ou perdida durante a colisão, a energia
cinética total do sistema é a mesma antes e depois da colisão. Esse tipo de colisão
denomina-se colisão elástica. Uma colisão entre duas bolas de gude ou entre duas
bolas de bilhar é quase completamente elástica.
Uma colisão na qual a energia cinética total do sistema depois da colisão é menor
do que antes da colisão denomina-se colisão inelástica. Uma bala se encravando
em um bloco de madeira é um exemplo de colisão inelástica. Geralmente chamamos
d colisão completamente inelástica a que ocorre quando os corpos permanecem
unidos e se movem como um único corpo depois da colisão.

Colisões completamente inelásticas

As colisões nas quais a energia não se conserva são chamadas colisões


inelásticas. Parte da energia cinética inicial, neste tipo de colisão, é transformada em
outro tipo de energia, tal como energia térmica ou potencial. Dessa forma, a energia
cinética total, após a colisão, é menor do que a energia cinética inicial, portanto ela
não se conserva. As colisões macroscópicas típicas são inelásticas. Se dois objetos
ficam fixos um ao outro após a colisão, então a colisão é dita ser completamente
inelástica. A energia cinética, em alguns casos, é totalmente transformada em outro
tipo de energia e em outros casos apenas parte da energia é transformada.
Nas colisões completamente inelásticas, a quantidade máxima de energia
cinética a ser transformada é estabelecida pela conservação do momentum. Mesmo
que a energia cinética não se conserva, neste tipo de colisão, a energia total se
mantém constante, e o vetor momentum total é também conservado.
Referências

HALLIDAY, D., RESNICK, R., WALTER, J., Fundamentos de Física, Volume 1.


Livros Técnicos e Científicos Editora SA, 4ª edição, 1996.

,
Universidade Estadual da Paraíba

Centro de Ciências Exatas e Sociais Aplicadas

Curso de Licenciatura em Ciências Exatas

Física Básica II

Prof° Pedro Carlos de Assis Júnior

Crisley V. de Sousa

Camilo de L. N. de Souza

Neuriele M. S. de Souto

Cláudia

Impulso e Conservação do Momento


Patos 13 de Abril de 2011

Você também pode gostar