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ATERRAMENTOS ELÉTRICOS

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA - DEE


CURSO DE ENGENHARIA ELÉTRICA – CEE

Requisitos Básicos de um Sistema de Aterramento

Professor: Rafael Silva Alípio


1 – Introdução
As características desejáveis de um aterramento devem estar em
consonância com as funções que ele desempenha que são:

 Permitir o escoamento para a terra de correntes perigosas, correntes de


descargas e cargas eletrostáticas;
 Possibilitar o uso da terra como condutor de retorno;
 Influenciar no desempenho eletromagnético do sistema (referência de
potencial ou desempenho do sistema de proteção);
 Limitar os níveis de potenciais a patamares seguros.

Para desempenhar adequadamente essas funções, um aterramento


deve apresentar, basicamente, três características:

 Capacidade de condução;
 Baixo valor de impedância (resistência) de aterramento (esse “baixo valor” é
relativo e depende da região e da área disponível!!!);
 Arranjo de eletrodos que possibilite o controle dos níveis de potencial
desenvolvidos em resposta a uma injeção de corrente.
2 – Técnicas para redução da resistência de aterramento
 Os principais fatores que influenciam o valor da resistência de
aterramento são a resistividade do solo (sobretudo da terra
circunvizinha aos eletrodos de aterramento) e a área coberta pelo
arranjo de eletrodos;

 Com base nesse conhecimento, as principais técnicas para


redução da resistência de aterramento atuam, basicamente,
modificando a resistividade do solo nas proximidades do eletrodo,
ou alterando o arranjo de eletrodos de modo a cobrir uma área
maior;

 A escolha da técnica a ser aplicada depende de uma série de


fatores, dentre os quais aspectos econômicos, área disponível e
tipo de sistema de aterramento; ainda, é fundamental a análise
crítica do engenheiro.
2 – Técnicas para redução da resistência de aterramento
A. Aumento do número de eletrodos em paralelo

 O uso dessa técnica é bastante comum no caso de aterramentos


constituído por eletrodos verticais (hastes), embora também seja
empregado em outros arranjos (por exemplo, o uso de 4 cabos contrapeso
em aterramentos de linhas de transmissão).

 A interligação de hastes em paralelo permite reduzir sensivelmente o valor


da resistência de aterramento. No entanto, deve-se atentar para o fato de
que o cálculo da resistência de um sistema de aterramento constituído por
hastes interligadas em paralelo não segue a lei simples do paralelismo de
resistência elétricas. Isso se deve à superposição das zonas de influência
de cada haste individual, conforme ilustrado a seguir.
2 – Técnicas para redução da resistência de aterramento
A. Aumento do número de eletrodos em paralelo (cont.)

 O fato de existir uma superposição das zonas de influência de cada haste


individual implica que a resistência de aterramento do conjunto não é igual
à resistência de cada haste individual divida pelo número de hastes.

 A “interferência” entre as zonas de influência de cada eletrodo individual é


quantificada por meio do conceito de resistência mútua, que corresponde à
relação entre a elevação de potencial produzida em um eletrodo em função
da corrente que dispersa de outro, dividido por essa corrente.
2 – Técnicas para redução da resistência de aterramento
A. Aumento do número de eletrodos em paralelo (cont.)

Seja um sistema formado por duas hastes interligadas, conforme abaixo.


Desprezando-se o efeito do condutor de interligação, com o intuito de focar
apenas nas hastes, temos:
VT V1  R11 I1  R12 I 2
IT

V2  R21 I1  R22 I 2
I1 V1 V2 I2
R11 e R22 são as resistência próprias das
hastes 1 e 2, respectivamente, e R12=R21 é
a resistência mútua entre as hastes.

Considerando duas hastes idênticas, R11=R22=RP e I1=I2=IT/2. Ainda, devido à


conexão física, tem-se V1=V2=VT. Finalmente, fazendo R21=R12=RM:
IT I V R R
VT  RP  RM T  T  RT  P  M
2 2 IT 2 2

Da equação anterior depreende-se que a resistência de aterramento do conjunto é igual


à resistência de cada haste divido por dois, acrescida de uma parcela que está
associada à resistência mútua entre as hastes.
2 – Técnicas para redução da resistência de aterramento
A. Aumento do número de eletrodos em paralelo (cont.)

 Note-se que um aumento do espaçamento entre as hastes paralelas leva a


uma diminuição da região de superposição das zonas de influência de cada
haste individual e, consequentemente, redução da resistência mútua.
Teoricamente, para um espaçamento infinito, a superposição é nula e a
resistência mútua entre as hastes tende a zero; obviamente, um espaço
infinito não é possível. Na prática, o espaçamento aconselhável gira em
torno do comprimento da haste.
2 – Técnicas para redução da resistência de aterramento
B. Aprofundamento dos eletrodos

 Essa técnica é utilizada primordialmente com eletrodos verticais (hastes) e


consiste em aumentar a profundidade atingida pela haste aumentando-se
o seu comprimento.

 A técnica é particularmente eficiente quando se tem camadas mais


profundas de baixa resistividade.

 Note-se, adicionalmente, que tem-se um aterramento com um valor de


resistência relativamente estável ao longo do tempo, uma vez que as
camadas mais profundas estão menos susceptíveis às alterações
sazonais.

 Esse aterramento é comumente conhecido na prática como “haste


profunda”.
2 – Técnicas para redução da resistência de aterramento
C. Aumento da seção reta do eletrodo

 Aumentando-se a área da seção do eletrodo, tem-se uma redução da


resistência de aterramento. Essa redução, no entanto, é pequena.
(Considerando uma haste, por exemplo, a resistência diminui com o
logaritmo neperiano do raio.)

 Vale salientar que o aumento da área da seção do eletrodo não é uma


prática usual para redução da resistência de aterramento, sobretudo do
ponto de vista de custo/benefício. Na prática, dimensiona-se a seção do
eletrodo por questões de resistência mecânica ou em função da sua
capacidade de condução de corrente.
2 – Técnicas para redução da resistência de aterramento
D. Tratamento químico do solo

 Consiste na adição de um produto químico de baixa resistividade, e com


algumas características especiais, na terra circunvizinha ao sistema de
aterramento.

 Essa prática é particularmente eficiente do ponto de vista de


custo/benefício no caso de aterramentos de pequenas dimensões. Nesses
casos, reduções superiores a 50% podem ser obtidas aplicando-se uma
pequena quantidade do produto nas proximidades dos eletrodos. (Lembre-
se que é justamente a porção de solo mais próxima aos eletrodos que é a
responsável pela maior parcela da resistência de aterramento!)

 Embora a técnica possa ser aplicada no caso de aterramentos mais


extensos, por exemplo, malhas de aterramento, é muito grande a
quantidade de produto necessária para se obter uma redução razoável da
resistência, o que torna inviável a aplicação da técnica do ponto de vista
econômico.

 Outras informações podem ser obtidas em catálogos de fabricantes.


2 – Técnicas para redução da resistência de aterramento
E. Tratamento físico do solo

 Consiste em envolver o eletrodo de aterramento com algum material de


valor reduzido de resistividade, “simulando” uma aumento da seção reta
do eletrodo.
 Há um tempo atrás era comum a utilização de sucata e carvão nessa
prática. Contudo, tendo em conta o avanço das questões de
conscientização ambiental, o emprego desses materiais caiu em desuso.
 A prática atual mais comum de tratamento físico do solo consiste no
envolvimento dos eletrodos numa camada de concreto, que apresenta
valor relativamente reduzido de resistividade além de propriedade
higroscópica. Normalmente, a prática é empregada em aterramentos
compostos por hastes, sendo comum em sistemas de aterramentos de
RDs. O aterramento envolvido por concreto é chamado na prática de
“aterramento encapsulado”.
 A utilização de ferragens embutidas em concreto nas fundações de
construções civis como eletrodos de aterramento também pode ser
considerado um aterramento encapsulado. Essa prática é bastante comum
no caso de sistemas de aterramento de SPDAs.
Referências Bibliográficas
1. S. Visacro, Aterramentos elétricos, Artliber, São Paulo, 2002.

2. G. F. Tagg, Earth Resistances, London, U.K.: Newnes, 1964.

3. G. Kindermann, J. M. Campagnolo, Aterramento elétrico, Sagra Luzzatto, 4ª


Ed, Porto Alegre, 2002.

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