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Dimensionamento de condutores e eletrodutos

Alex S. Pereira, pereiraalexs@gmail.com

I. OS CONDUTORES ELÉTRICOS
Em geral são de cobre eletrolítico e, em alguns casos de
alumínio. Considera-se que fio é um condutor sólido, maciço,
de seção circular, com ou sem isolamento. Por outro lado, o
cabo que também é isolado ou não, é um conjunto de fios
Tabela 1a. Seções mínimas dos condutores.
encordoados, não isolados entre si. O cabo é mais flexível que
o fio de mesma capacidade de carga elétrica. Além da comerciais, ou para seção maior que 16 mm² nas instalações
isolação, há uma camada de cobertura para os cabos em industriais, caso a potência instalada seja maior que 50 kW e
instalação exposta, em bandejas ou no solo. Os fios e cabos a instalação e a manutenção seja feita por pessoal com a
podem ser unipolares com apenas uma cobertura isolante devida qualificação. As seções mínimas dos condutores
protetora vista na Fig. 1. Primeiramente, o detalhe 1 mostra podem ser vistas na tabela 1a. O condutor neutro deve possuir
um fio, e o detalhe 2 mostra um cabo, ambos de cobre mesma seção dos condutores fase em circuito monofásicos, e
eletrolítico nu, têmpera mole. Por fim, ambos os detalhes de em circuitos trifásicos até 25 mm², ou sempre que houver
número 3 são isolação de composto termoplástico de cloreto previsão de correntes harmônicas, ou de acordo com a tabela
de polivinila, isto é, PVC (70 °C), tipo BWF, com 1b.
características quanto à não propagação e auto extinção de Os materiais de isolações não propagadoras de chama são
chama. Os cabos multipolares possuem dois ou mais o etileno propileno (EPR) de boas características dielétricas.
condutores isolados e protegidos por uma camada protetora Exemplo deste último é o Fiter Flex da Nexans. Como
de cobertura comum. Primeiro, o detalhe 1 mostra um também o (cross linked) polietileno reticulado (XLPE) de
condutor flexível formado por fios de cobre. O detalhe 2 boas características mecânicas. Exemplos: o Afitox da
mostra uma isolação de composto termo fixo de borracha Nexans e Afumex (1kV) da Prysmian, que também não
etileno-propileno flexível, isto é, HEPR (90 °C). Os detalhes propagam fumaça. Os materiais de isolações resistentes à
de número 3 se referem ao mesmo tipo de cobertura em PVC. chama são o Neoprene e o cloreto de polivinila (PVC).
A seção nominal é a área da seção transversal dos condutores Exemplos deste último são o cabo Superastic (750V) e o
sem isolação e cobertura. Vale frisar que em instalações Sintenax Antiflam (0,6/1kV), ambos da Prysmian, e o Noflam
residenciais deve ser usado apenas condutor de cobre. O BWF 750V da Nexans.
condutor de alumínio pode ser usado como condutor de Calculada a corrente de projeto, a seção do condutor deve
aterramento, ou em seção maior que 50 mm² em instalações ser dimensionada para conduzir tal corrente sem excesso nem
de aquecimento, nem de queda de tensão. Eles também devem
ser compatíveis com os dispositivos de proteção de
sobrecarga e de curto-circuito. Ele não deve ser submetido a

Tabela 1b. Seção do condutor neutro a partir do condutor fase.


Figura 1. Fio e cabo Noflam BWF 750, da Nexans/Ficap.
Tabela 2. Equivalência de diâmetro externo e de rosca
em eletrodutos.

uma corrente que leve a um aquecimento exagerado e não


venha danificar a isolamento, a depender do seu tipo. A
Figura 3. Queda de tensão limite quando a rede externa for em BT.
depender também do número de condutores carregados (fase-
neutro), da maneira da instalação dos elementos da linha eletroduto por uma ocupação máxima de 40%.
elétrica, da proximidade a outros condutores e da temperatura Para que as cargas operem satisfatoriamente, a tensão sob
ambiente. As seções mínimas e esses parâmetros de a qual a corrente lhes é fornecida deve obedecer a limites
dimensionamento são disponibilizados pelos fabricantes em prefixados pelo fabricante de cada equipamento. Ao longo do
forma de tabelas. As tabelas consideram a temperatura circuito, desde o quadro geral ou subestação até o ponto de
ambiente em 30 °C, e a temperatura do solo em 20 °C. Se a utilização num circuito terminal, ocorre uma queda de tensão.
temperatura real for diferente, há uma tabela para fator de Assim, o dimensionamento dos condutores também deve
correção da corrente de projeto com respeito à temperatura. atender esse critério de que a queda de tensão não pode
Por outro lado, há outro tipo de fator tabelado para correção ultrapassar os limites estabelecidos pela Norma NBR 5410.
dos casos em que houver mais de 3 condutores carregados. Primeiramente, em instalações alimentadas por subestação, a
Finalmente, há outro fator tabelado para correção de queda de tensão limite é de 7% a partir da baixa tensão,
agrupamento de eletrodutos. Já os eletrodutos são conforme indicado na Fig. 2. Por fim, em instalações
dimensionados pelo diâmetro externo em milímetro, ou pelo alimentadas diretamente da concessionária em baixa tensão, a
diâmetro da rosca em polegada. Mas, veja na Tabela 2 como queda de tensão limite é de 5%, conforme indicado na Fig. 3.
é feita essa equivalência de eletrodutos em mm e polegada. Em qualquer um dos dois casos, a queda de tensão, a partir do
Para isso, seu diâmetro também é parametrizado por tabelas quadro terminal até a carga, deverá ser no máximo de 4%. O
de acordo com a seção externa e o número de condutores. Se procedimento de dimensionamento também é feito por
os eletrodutos forem do tipo flexível metálico, não deverão tabelas, e inicia-se escolhendo o material do eletroduto
ser embutidos. Os que podem ser embutidos são do tipo magnético (aço p. ex.) ou não magnético (PVC p. ex.), e o
rígido, em aço ou PVC, e do tipo semirrígido em polietileno. fator de potência. Com a tensão nominal do equipamento e
Em eletrodutos são permitidos apenas condutores com sua taxa percentual de queda de tensão admissível, calcula-se
isolação. Circuitos diferentes, caso originem do mesmo a queda de tensão admissível ∆𝑈 [V]. Depois, multiplica-se
quadro de distribuição, tiverem a mesma tensão de ∆𝑈 pelo comprimento do circuito [km] e o multiplica pela
isolamento, e as seções dos condutores fases estiverem num corrente nominal de projeto do equipamento [A], obtendo-se
intervalo de três valores normalizados (p. ex. 1,5, 2,5 e 4 outro parâmetro de queda tensão em V/A x km, que define em
mm²). Nesse caso, existe outra tabela que dimensiona o tabela a seção do condutor. Por outro lado, é possível também
usar um método mais simples quando se tratar de circuitos
com cargas pequenas, que consiste na soma dos produtos
potência [W] distância [m], sendo tabelados para as tensões
fase-fase e fase-neutro.
Quantos aos condutores de aterramento, eles são
necessários para proteger pessoas, edificações e materiais

Figura 2. Queda de tensão limite quando a rede externa for em AT. Tabela 3. Seção mínima de condutores de proteção.
contra tanto descargas eletrostáticas quanto atmosféricas, e alimentação do consumidor em baixa tensão, o neutro deve
suas consequências. Para avaliar uma boa ligação à terra são ser aterrado na origem da sua instalação. Em princípio, todos
necessários critérios quantitativos simples. Primeiramente, há os circuitos de distribuição e terminais devem possuir um
a resistência de aterramento, porém ela não tem um condutor de proteção que convém ficar no mesmo eletroduto
significado realista. Isso porque a resistência de aterramento dos condutores vivos do circuito, podendo ser uma veia do
depende da resistividade do solo e da área de instalação. A seu cabo multipolar, ou um condutor isolado. A seção mínima
resistividade do solo por si só já limita o valor mínimo da do condutor de proteção é determinada pela Tabela 3. Caso a
resistência de aterramento. Estender a área de instalação para divisão resulte numa seção comercial inexistente, deve-se
reduzir a resistência é uma medida crítica porque para as aproximar para a seção imediatamente superior. O condutor
descargas atmosféricas, que são fenômenos de propagação PE deve ser verde ou verde-amarelo. O condutor neutro ou
rápida, a impedância de surto fica restrita à região mais PEN deve ser azul claro. Devem ser usadas quaisquer cores
próxima. A medição da resistência de aterramento, em diferentes dessas para os condutores fases.
especial nas instalações extensas, é trabalhosa, e se não for Apesar do isolamento, alguns equipamentos em condições
executada por profissional muito competente, pode levar a normais apresentam correntes de fuga para carcaça chamada
conclusões falsas. Portanto, mais importante que estabelecer de corrente diferencial residual. Em determinado valor deve
um valor para a resistência de aterramento, é realizar a ser protegida pelo dispositivo de proteção à corrente
instalação de modo a limitar diferenças de potencial diferencial residual (dispositivo DR), em geral incorporado ao
perigosas, interligando entre si todos os objetos condutores ou disjuntor termomagnético. Mas, existe o dispositivo DR à
carregados que não foram projetados como um elemento de parte, que é instalado nos quadros terminais. Ele atua
circuito elétrico. Além disso, o aterramento é muito desarmando o circuito para que uma pessoa não leve um
importante para assegurar a proteção contra sobrecargas, choque, drenando essa corrente por algum circuito fechado,
sobretensões, e limitar as interferências eletromagnéticas, caso esteja em contato com a carcaça neste momento.
provendo um percurso apropriado para correntes elétricas
indesejadas. Em suma, o aterramento proporciona uma II. TUBULAÇÕES TELEFÔNICAS E DE DADOS
ligação de baixa resistência com a terra, prevenindo: um A tubulação secundária é destinada à instalação da fiação
desvio entre o ponto de defeito e a fonte para reduzir os danos telefônica interna do prédio. As caixas de distribuição são
até a atuação da proteção, choques em caso de defeito interno dispositivos auxiliares destinada aos blocos terminais de
em equipamentos elétricos manuais, um percurso preferencial conexão. As caixas de saída são destinadas a dar passagem de
para descargas atmosféricas, eletrostáticas, e um plano fios de distribuição dos equipamentos. Elas devem ser locadas
comum de baixa impedância entre dispositivos eletrônicos, em cada apartamento, loja ou escritório do edifício. Sendo que
sistemas e circuitos. os pontos para equipamentos devem ser: 1 ponto/10 m² para
Essa ligação de um equipamento à terra, designada por PE, escritório, 1 ponto/50 m² para loja, 1 ponto residencial até 2
é feita nas carcaças metálicas de motores, transformadores, quartos, 2 pontos para 3 quartos, e 3 pontos em diante. A caixa
condutores metálicos, armações de cabos, e nos neutros de de saída principal deve ser locada próxima à caixa de
transformador e de alimentação de energia a um prédio, distribuição que atende ao andar, nas partes comuns do
designados pela letra N. Se o condutor combinar as funções prédio, em caso de consumidores distintos.
de proteção e neutro, é designado por PEN. Quando ele, Deve ser locado o menor trajeto possível de tubulação
assegura a função equipotencial ao sistema, denomina-se dentro de cada unida do edifício, interligando todas as caixas
condutor de equipotencialidade. Além do condutor de de saída. Caixas de passagem deve ser incluídas, caso seja
proteção, é empregado eletrodo de aterramento, que é um necessário limitar os comprimento da tubulação e o número
condutor ou uma barra chamada haste de aterramento, ou um de curvas. Para determinar o diâmetro das tubulações
conjunto delas, em contato direto com a terra, podendo secundárias e as dimensões das caixas, são disponibilizadas
constituir a malha de terra, ligados ao terminal de tabelas. Em prédios onde existem áreas com mais de 100 m²
aterramento. A NBR 5410 usa letras sequenciais para (10 caixas de saída), devem ser utilizados sistemas de
classificar os sistemas elétricos respectivamente quanto à distribuição no piso ou em canaletas. É conveniente usar
alimentação (T: um ponto aterrado diretamente, I: isolação espaçamento entre os eletrodutos de 1,5 m, e no máximo 3 m.
das partes vivas com uma impedância para a terra), e as Esse tipo de distribuição é usado apenas se o andar for
massas dos equipamentos (T: massas aterradas diretamente, inteiramente ocupado pela mesma empresa. Caso contrário,
N: massas ligadas a um ponto neutro aterrado). A terceira letra cada sala deve ser um projeto diferente como visto na Fig. 4.
eventual indica a disposição entre os condutores neutro e de Os eletrodutos no piso próximos à caixa de distribuição
proteção (S: condutores distintos para cada função, C: devem ter diâmetros internos maiores que 25 mm. Na
condutor comum para ambas funções). No caso da preferência pelo sistema paralelo de piso, as canaletas podem
alimentação do consumidor for em alta tensão, o ponto neutro ser determinadas adotando-se 1 cm² de seção transversal para
do transformador em estrela é aterrado com um eletrodo de cada 1,5 m² de área a ser atendida. As canaletas de
terra. O neutro ao chegar no quadro geral de entrada também alimentação podem ser determinadas adotando-se 0,5 cm² de
deverá ser aterrado com um eletrodo de terra. Mesmo com a seção transversal para cada caixa de saída atendida. O
tiver mais que 21 pontos telefônicos, ou se o construtor
convencer a concessionária sobre a viabilidade técnica por
motivos estéticos. Se o prédio estiver em mais de uma rua, a
concessionária deve informar qual o lado das ruas passam os
cabos. Caso contrário, se o prédio estiver numa só rua, o
construtor deverá projetar uma caixa de entrada subterrânea,
interna ao alinhamento da edificação com o logradouro. As
dimensões da caixa são determinadas em tabela. Ela não deve
ser locada em entradas de garagem ou em outros pontos que
transitem veículos. Feito isto, a concessionária se encarregará
de ligá-la à rede. Vale ressaltar que a tubulação de entrada é
dimensionada também em tabela. Além disso, deve-se locar o
seu trajeto da caixa de entrada até a caixa de distribuição
geral, incluindo as caixas de passagem intermediárias, quando
necessário limitar o comprimento da tubulação e o número de
curvas. Por outro lado, se o cabo de entrada do prédio for
aéreo, deve-se locar a posição exata em que a tubulação de
entrada saírá na fachada do prédio. As alturas mínimas são
tabeladas, e vão variar se o prédio estiver locado abaixo do
Figura 4. Distribuição com mais de uma firma por andar passeio, ou se a rede estiver do mesmo ou do outro lado da
rua. Como também, o cabo telefônico não deve passar acima
espaçamento entre as caixas de junção deve ser de 1,2 m, uma
nem cruzar linhas de energia elétrica. Entretanto, deve estar
para cada caixa de saída.
afastado 2 m dos cabos de AT, e 0,6 m dos cabos de BT. Não
O sistema de canaletas de piso em « pente » consiste em
deve ser acessível aos ocupantes do prédio, nem cruzar
vários eletrodutos derivados de 90° e do mesmo lado de um
terrenos de terceiros. Para a outra opção com de poste de
conduto de alimentação, quando houver necessidade de
acesso, deve-se também locar o trajeto e dimensionar em
dividir distribuição de eletricidade sem excesso de espessura
tabelas o diâmetro da tubulação de entrada, desde a tubulação
de piso. Nos condutos derivados devem ser adotados 2 cm² de
vertical do poste de acesso, até a caixa de distribuição geral.
seção transversal para cada 1,5 m² de área atendida. Na
Se o prédio não possuir altura mínima prevista em tabela, o
canaleta de alimentação deve ser adotado 1 cm² de seção
construtor deve consultar a concessioária para determinar a
transversal para cada caixa de saída a ser atendida. Deverá ser
melhor forma de proceder com a ligação da rede externa ao
apresentado um corte longitudinal do conjunto com cotas
prédio.
verticais. O sistema de canaletas de piso « espinha de peixe »
O comprimento reto máximo de cada lance de tubulação é
é o caso particular do sistema « em pente », quando os
15 m se for vertical, 30 m se for horizontal, ou 60 m se for
condutores derivam de ambos os lados de um conduto de
uma entrada subterrânea. Só podem haver até 2 curvas não
alimentação central. A tubulação principal abrange a caixa de
reversas, o que reduz os comprimentos 9, 18 e 50 m. Se
distribuição geral (CDG), as caixas de distribuição e as
houver apenas 1 curva, os comprimentos máximos serão de
tubulações que as interligam. Poderá ser necessária mais de
12, 24 e 40 m, respecitvamente. Para o caso de blocos de um
uma prumada em caso de obstáculos instransponíveis,
edifício, haverá uma CDG ou sala de distribuição geral (SDG)
concepções arquitetônicas de diferentes bolcos sobre a mesma
para cada endereço. Onde houver endereço comum, haverá
base, ou em edifícios com várias entradas e áreas de
apenas um CDG ou SDG em um dos blocos. Se a opção for a
circulação independentes. Se para uma mesma prumada
SDG, consulte a concessionária para dimensinamento.
houver até 280 pontos, as caixas de distribuição devem se
localizar em áreas comuns, sendo que : a caixa de distribuição
geral deve ficar no térreo, fora de áreas de difícil acesso. Se
houver mais de 280 pontos, ou se o construtor decidir, devem
ser projetados um ou mais poços de elevação. Deve-se prever
um cubículo de distribuição em todos os andares para atender
os pontos acumulados em cada trecho de tubulação. Se o
prédio tiver mais de 280 pontos, ou mais de um poço de
elevação, deve ser projetada uma sala para o distribuidor geral
(DG).
A tubulação de entrada dá acesso ao cabo da rede externa
da concessionária e termina na caixa de distribuição geral,
incluindo a caixa de entrada subterrânea. Se a rede da
concessionária no local da obra for subterrânea, a tubulação
de entrada também deverá ser subterrânea, ou se a instalação

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