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O Básico Sobre Fios e Cabos

Elétricos – Parte 3 – Média Tensão

Thiago Ferreira

Gerente de engenharia de desenvolvimento de produtos


30 de abril de 2020

Nesse artigo abordarei a construção e os conceitos básicos sobre cabos


isolados de média tensão, tais conceitos serão aplicáveis para a maioria dos
cabos produzidos e instalados no mercado brasileiro. Esse material está
separado pelos componentes individuais que fazem parte da construção de um
cabo isolado de media tensão.

Há inúmeras configurações para os cabos isolados de média tensão, cada


qual deve obedecer a critérios rigorosos de desempenho, projeto até a
instalação, aqui abordarei os critérios mais básicos para não deixar o conteúdo
extenso e cansativo, itens tais como curto-circuito, armações, proteções
químicas entre outros falarei em breve.

De acordo a norma NBR 14039, são consideradas instalações elétricas


de média tensão as tensões nominais entre 1,0 kV a 36,2 kV. Para maiores
informações sobre seleção de tensão de isolamento do cabo em função das
características do sistema recomendo a leitura do anexo A da norma NBR 6251.
CARACTERÍSTICAS CONSTRUTIVAS GERAIS PARA CABOS DE MÉDIA
TENSÃO

ELEMENTOS BÁSICOS CONSTRUTIVOS

Em um cabo isolado de média tensão existem seis componentes mínimos,


sendo eles o condutor, a blindagem do condutor, a isolação, a blindagem da
isolação, a blindagem metálica e a cobertura.

A imagem a seguir demonstra os pontos acima mencionados e na


sequencia revelarei a função de cada uma delas assim como suas
características particulares.

1. CONDUTOR

Esse componente já foi conceituado e explorado no artigo anterior, mas


como complemento trago novas informações no que se aplica a cabos de média
tensão.

O condutor mais utilizado hoje em dia nos cabos de média tensão são
constituídos por uma corda do tipo redonda compactada, classe 2 de
encordoamento conforme NBR NM 280, podendo ser de cobre ou de alumínio.
Este tipo de corda apresenta algumas vantagens que se traduzem na redução
do diâmetro externo e uma superfície externa mais uniforme.

Somente em casos especiais são utilizadas outras classes de condutores,


por exemplo cabos moveis para guindastes utilizam a classe 5 ou 6 de
encordoamento.
Informação Complementar: Bloqueio longitudinal contra penetração de
água.

Existe no mercado há um bastante tempo, um elemento que é incorporado


entre interstícios dos fios componentes do condutor e tem a função de restringir
a propagação longitudinal de água dentro condutor para uma distância máxima,
sendo assim em caso de dano ou penetração de água pelo condutor, não
teríamos toda a extensão do cabo comprometida.

Esse elemento quando em contato com água torna-se um gel,


expandindo-se dentro dos interstícios e restringindo a penetração da água,
basicamente segue o mesmo princípio que as fraldas de bebês.

É fato que a água e umidade são grandes inimigos dos cabos, tanto na
baixa tensão mas principalmente na média tensão.

Há também restrições de utilização pois seria impossível bloquear um


condutor flexível, além de algumas outras mais previstas na norma NBR 6251.

2. BLINDAGEM DO CONDUTOR (SEMICONDUTORA INTERNA)

A blindagem do condutor se baseia em um material semicondutor, esse


componente é extrudado sobre o condutor para que tenhamos as seguintes
finalidades atendidas:

Uniformizar a distribuição de campo elétrico - a camada semicondutora


devido a sua condutibilidade pode ser considerada como parte integrante do
condutor, convertendo, do ponto de vista elétrico, sua superfície irregular em
uma superfície praticamente cilíndrica e lisa. Com isso minimiza-se as
concentrações de campo elétrico na isolação.

Impedir a ionização – a superfície da camada semicondutora fica em


íntimo contato com a da isolação, promovido pela extrusão simultânea,
eliminando a existência de vazios responsáveis por efeitos nocivos de descargas
parciais e trilhamento elétrico na isolação.

No caso de não haver a blindagem do condutor, o campo elétrico assume


uma forma distorcida, acompanhando as irregularidades da superfície do
condutor, provocando concentração de esforços elétricos em determinados
pontos. Nestas condições, as solicitações elétricas concentradas podem exceder
os limites permissíveis pela isolação, ocasionando uma depreciação na vida do
cabo.

A imagem abaixo deixa claro a funcionalidade da blindagem do condutor.


Alguns requisitos gerais da blindagem do condutor segundo a NBR 6251:

(1) Deve ser empregada em cabos com tensões de isolamento iguais ou


maiores que 6/10 kV, sendo extrudada simultaneamente com a isolação.

(2) É opcional em cabos com tensões de isolamento iguais ou menores que


3,6/6 kV.

3. ISOLAÇÃO

A isolação deve ser constituída por um dielétrico extrudado, segundo


prática do mercado os materiais mais utilizados como isolações de cabos de
media tensão são os termofixos de borracha EPR, HEPR, EPR 105 e de
polietileno reticulado XLPE.

A isolação é aplicada por extrusão sobre a blindagem do condutor


(semicondutora interna), por um processo continuo e simultâneo, de tal modo
que a interface semicondutora/isolação seja isenta de espaços vazios.

Assim como os cabos de baixa tensão, aqui também há limites térmicos


que devem ser obedecidos em função da temperatura máxima no condutor
conforme quadro a seguir.
Importante saber que quanto maior for a temperatura de operação em
regime permanente maior será a capacidade de condução de corrente para uma
mesma seção de condutor. Isso pode ser constatado comparando as tabelas de
capacidades de condução corrente (tabela 28 a 31) presente na norma NBR
14039.

Para escolher a isolação mais adequada devemos levar em consideração


vários fatores, tais como: a sensibilidade a umidade dos componentes, as
características elétricas intrínsecas ao material isolante, por exemplo o fator de
perdas no dielétrico - tangente delta (tg δ) e permissividade relativa ao
isolamento (ε) entre outros fatores do ambiente de instalação que podem afetar
a vida útil do cabo.

A isolação pode ter diferentes espessuras para uma mesma classe de


tensão, isso é possível graças ao material isolante utilizado. Em alguns casos
conseguimos obter cabos mais leves, com diâmetros menores. Na NBR 6251 é
possível encontrar essas espessuras de isolação sendo denominadas como
espessura coordenada (menor) e espessura plena (maior). Vale consultar a
norma e também os catálogos dos fabricantes para comparação dessas
características.

4. BLINDAGEM DA ISOLAÇÃO

PARTE NÃO METÁLICA (SEMICONDUTORA EXTERNA)

Consiste em uma camada de material semicondutor e, na maioria dos


casos, também uma camada de material condutor (blindagem metálica), ambas
aplicadas sobre a superfície da isolação. Sua principal função é confinar o campo
elétrico dentro do cabo isolado.

A parte semicondutora, aplicada sobre a isolação, permite uma


distribuição uniforme e radial do esforço elétrico na isolação e evita a presença
de vazios ionizáveis entre a isolação e a blindagem metálica, tornando o cabo
um capacitor cilíndrico, ou seja, com capacitância uniforme de condutor à terra
em toda a extensão do mesmo.

Como podemos observar nas imagens abaixo, o cabo sem blindagem,


que denominamos “a campo não radial”, apresenta distribuição irregular do
campo elétrico enquanto no cabo com blindagem, denominado “a campo radial”,
o campo elétrico distribui-se de forma equilibrada e radialmente em relação ao
condutor. A construção a campo radial é preferível, principalmente para tensões
mais elevadas, pois garante solicitações elétricas uniformes em camada
isolante.
Alguns requisitos gerais da blindagem da isolação segundo a NBR 6251.

(1) Deve ser empregada em cabos com tensões de isolamento iguais ou


maiores que 6/10 kV, sendo extrudada simultaneamente com a isolação.

(2) Deve ser constituída de uma parte não metálica associada de uma parte
metálica.

(3) É opcional em cabos com tensões de isolamento iguais ou menores que


3,6/6 kV, desde que os cabos possuem proteção metálica ou sejam instalados
em eletrodutos metálicos adequadamente aterrados.

5. PARTE METÁLICA (BLINDAGEM METÁLICA)

Como vimos anteriormente, a blindagem metálica é parte integrante da


blindagem da isolação, normalmente formada por fitas ou fios de cobre, tem
como função (principal) confinar o campo elétrico à isolação, também vai
fornecer um caminho de baixa impedância para condução de correntes induzidas
em casos de curto-circuito.

Quando se deseja uma capacidade de condução de corrente bem definida


para curto-circuito na blindagem metálica, a construção mais indicada é a por
fios de cobre. Em casos específicos recomenda-se a aplicação de uma fita de
cobre em hélice aberta e descontinua contraria ao sentido dos fios, essa fita de
cobre tem caráter de melhorar a continuidade ao longo da blindagem metálica
em toda a extensão do cabo caso aja o rompimento de algum fio da blindagem.

Quando a blindagem metálica for constituída por fios de cobre, a seção


mínima recomendada pela NBR 6251 é de 6 mm² e os fios devem estar
distribuídos uniformemente sobre a blindagem da isolação.

Para o cálculo da corrente de curto-circuito na blindagem metálica pela


seção e tempo de duração, recomendo a leitura do Anexo E da norma NBR 6251.
Devemos aterrar a blindagem metálica em pelo menos um ponto da
instalação, pois sem esse aterramento a mesma perderia a sua função e
acabaria prejudicando o desempenho do cabo.

Para grandes comprimentos, deve-se fazer o aterramento em mais de um


ponto, escolhendo como pontos importantes de aterramento os terminais e
emendas. Em geral, é recomendável, mesmo em linhas curtas que sejam
aterradas as duas extremidades.

A falta de aterramento da blindagem em mais que um ponto, pode


ocasionar elevação muito grande da tensão induzida na mesma e com isso, criar
diferencia de potencial elevadas com relação a terra ou outros condutores
próximos, provando descargas elétricas sobre a capa, perfurando-a bem como
a queima do isolamento. Esses altos potenciais induzidos, representam também,
perigo a vida.

Assim como no condutor, em alguns casos especiais, a blindagem


metálica pode ser bloqueada longitudinalmente contra a penetração de água,
tornando o cabo mais seguro e aumentando possivelmente seu ciclo de vida.

6. COBERTURA

Conforme apresentado no artigo anterior sobre os cabos de cabo de baixa


tensão, as características e propriedades se mantem as mesmas para os cabos
de media tensão.

Basicamente, a cobertura externa nos cabos isolados são proteções


mecânicas e que são destinadas a suportar ataques abrasivos durante o
lançamento e servem também como proteção ao ataque químico ou ambiental.
A cobertura usualmente não possui características elétricas!

A cobertura também é categorizada podendo ser termoplástica ou


termofixa, mas diferente da isolação, os materiais de cobertura são descritos
pelos fabricantes pela terminologia da NBR 6251. Essa terminologia não
evidencia qual material de cobertura ele se refere, por isso disponho um breve
quadro comparativo entre as terminologias e os materiais de cobertura.

A cobertura segue a mesma orientação de aplicação e segurança no que


tange o limite da temperatura máxima no condutor durante a operação do cabo
em regime permanente.
Todos os materiais acima descritos podem ser utilizados como cobertura
nos cabos de média tensão, entretanto recomenda-se cautela e, em caso de
dúvida sempre consulte o fabricante para obter informações do produto para que
seja mais adequado ao seu projeto.

Espero que esse conteúdo lhe esclareça melhor sobre os modelos


construtivos e conceitos envolvidos nas características dos cabos de media
tensão.

Um ponto muito importante que gostaria de salientar é sobre o momento


da instalação dos cabos de média tensão e da montagem de seus terminais e
emendas.

Os cabos de media tensão acabam sendo "sensíveis" de certa forma, isso


porque o campo elétrico a que são submetidos é alto, e ao menor dano causado
no mesmo durante a instalação ou quando da montagem errada de um terminal
ou emenda pode ter consequências futuras muito grandes como parada de uma
fábrica ou até mesmo um acidente elétrico fatal.

Apesar dos cabos de media tensão terem um aspecto robusto isso não
quer dizer que possam sofrer demasiado esforço durante o lançamento,
negligencias de montagem entre outas coisas. Existem boas práticas, manuais
de instalações e limites a serem respeitados, em caso de duvidas sempre
consultem o fabricante do produto.
Referências

Cotrim, Ademaro A.M.B – Instalações Elétricas 3° Edição

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMA TÉCNICAS - Coletânea de diversas


Normas.

Pirelli – Condutores de potência media tensão condutores metrificados 1992

Obrigado!

Thiago Ferreira

Abril/2020

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