Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
No que concerne o período do Brasil Império, a autora destaca a criação do Conservatório Dramático
Brasileiro (CDB) que inaugura a institucionalização da censura teatral no Brasil. O CDB tinha como
objetivo incentivar o desenvolvimento do teatro no país, além de zelar pela moral e bons costumes, pela
manutenção do status quo e pela preservação da língua. É importante ressaltar que a criação do CDB foi
um marco na história da censura no Brasil, pois criou precedentes para a estruturação futura da censura
de diversões públicas e serviu de fundamento para o exercício da censura da moral e dos bons costumes,
além de inaugurar a censura teatral.
A situação muda novamente no governo de Getúlio Vargas quando no ano de 1934 há a promulgação da
Constituição brasileira cuja garantia de liberdade de expressão não se estendia às diversões públicas
nem tolerava a difusão de mensagens de guerra ou violência e subversão de ordem política ou social e
com a publicação do regulamento de policia que reestruturou os órgãos censórios sob a responsabilidade
policial.
Com o passar do tempo à censura passava a concentrar não apenas mais no teatro, mas também nos
outros veículos artísticos, como no caso do cinema a partir da criação do Departamento de Propaganda e
Difusão Cultural (instituído pelo Decreto-Lei nº 24.521 no dia 10 de set.1934).
Existiam cinco divisões no DIP, e apenas três realizavam a censura prévia: a Divisão de Radiodifusão era
responsável pelos programas radiofônicos e letras de musicas, a Divisão de Cinema e Teatro pelas
representações teatrais, shows de variedades, peças declamatórias, espetáculos com mimicas,
execuções de balé, escolas de samba, cordões carnavalescos, marchas-rancho, atividades recreativas e
eventos esportivos, e a Divisão de Imprensa pelos veículos de informação e órgãos de imprensa.
“Ao resgatar a censura à imprensa, abandonada oficialmente no período imperial, e centralizar a censura
de diversões públicas, exercida anteriormente por organismos regionais, o DIP não só avaliava o
conteúdo político das manifestações públicas como também avaliava a pertinência do tema e corrigia
grafia das palavras.” (p.10)
Já na fase em que o Estado Novo dava sinais de seu declínio, como forma de diluir o autoritarismo do
governo de Getúlio Vargas, o DIP acabava por ser extinto e a censura passava agora a ser de
responsabilidade do Departamento Nacional de Informação (DNI) conforme estabelecia o Decreto-Lei nº
7.582. Das cinco divisões do DIP, o DNI uniu a Divisão de Censura com a de Divulgação, conservou as
Divisões de Radiodifusão, de Turismo e de Cinema e Teatro e criou a Agência Nacional.
Com a deposição de Getúlio Vargas, o sucessor presidencial, José Linhares, restaurou a liberdade de
manifestação de pensamento por meio da radiodifusão, visto pelo Decreto-Lei nº 8.356 de 12 de
dez.1945, além disso, criou o Serviço de Censura de Diversões Públicas (SCDP) que respondia pela
censura prévia das diversões públicas e manifestações artísticas e demarcava a separação definitiva
entre a censura da imprensa e censura de peças teatrais, filmes, letras musicais, programa de rádio e
televisão, ainda que cada núcleo se intercomunicassem com frequência, chegando algumas vezes a se
confundir.
Entre as atribuições do SCDP, competia aos órgãos descentralizados examinar a projeção de películas
cinematográficas, a apresentação de espetáculos teatrais, shows de variedades, pantomimas bailados,
peças declamatórias, escola de samba, marchas-rancho, cordões carnavalescos, a reprodução de discos
(cantados ou falados) e a exibição de espécimes teratológicas, anúncios publicitários, programas de rádio
e televisão, além de aprovar excursões de artistas ao exterior.
É importante ressaltar que, desde a criação do serviço de censura, em meados da década de 1940 até o
final do ano de 1967, a censura de diversões públicas permaneceu sob a ingerência do chefe de policia e
atuou de fora autônoma nos estados.
No período entre 1945 a 1964, a censura de diversões publicas concentrou-se, de forma assistemática,
em oito itens do decreto nº 20.493 para justificar a proibição de representações , exibição ou transmissão
radiotelefônica, são eles: contenção de qualquer ofensa ao decoro público; contensão de cenas de
ferocidade ou que fossem capaz de sugerir a prática de crimes; divulgação ou indução aos maus
costumes; cenas capazes de provocar incitamento contra o regime vigente, a ordem pública, as
autoridades constituídas e seus agentes; prejudicar a cordialidade das relações com outros povos; se
fossem ofensivo às coletividades ou às religiões; ferir, por qualquer forma, a dignidade ou o interesse
O que é singular nesse processo é que o SCDP foi criado no período de redemocratização brasileira, em
1945, na gestão de José Linhares, e o DIP durante o Estado Novo, em 1939, pelo presidente Getúlio
Vargas. Como se vê, a censura no Brasil existiu tanto no contexto de ditaduras quanto no período
democráticos.