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Fichamento:

O presente trabalho é fruto de um estudo apresentado à Coordenação-Geral de Pesquisa e Editoração-


CGPE exposto pela pesquisadora do Programa Nacional de Apoio à Pesquisa da Fundação Biblioteca
Nacional, Miliandre Garcia que discorre sobre a prática de censura em território nacional, no qual diz ser
um fenômeno histórico de longa duração com trajetória sinuosa que vai desde tempos da Colônia até em
períodos democráticos.

No que concerne o período do Brasil Império, a autora destaca a criação do Conservatório Dramático
Brasileiro (CDB) que inaugura a institucionalização da censura teatral no Brasil. O CDB tinha como
objetivo incentivar o desenvolvimento do teatro no país, além de zelar pela moral e bons costumes, pela
manutenção do status quo e pela preservação da língua. É importante ressaltar que a criação do CDB foi
um marco na história da censura no Brasil, pois criou precedentes para a estruturação futura da censura
de diversões públicas e serviu de fundamento para o exercício da censura da moral e dos bons costumes,
além de inaugurar a censura teatral.

Já com a proclamação da República em 1889 e a promulgação da Constituição em 1891, houve uma


reestruturação de competências transferindo a responsabilidade pela censura a organismos policiais, com
isso, ficou cada vez mais difícil separar a implicação moral do argumento político.

A situação muda novamente no governo de Getúlio Vargas quando no ano de 1934 há a promulgação da
Constituição brasileira cuja garantia de liberdade de expressão não se estendia às diversões públicas
nem tolerava a difusão de mensagens de guerra ou violência e subversão de ordem política ou social e
com a publicação do regulamento de policia que reestruturou os órgãos censórios sob a responsabilidade
policial.

Com o passar do tempo à censura passava a concentrar não apenas mais no teatro, mas também nos
outros veículos artísticos, como no caso do cinema a partir da criação do Departamento de Propaganda e
Difusão Cultural (instituído pelo Decreto-Lei nº 24.521 no dia 10 de set.1934).

A concretização do processo de expansão da censura se dá através da promulgação da Constituição do


Estado Novo que submetia o direito de liberdade de expressão do cidadão sob o argumento de defender
o Estado nacional e a manutenção da ordem, e também pela criação do Departamento de Imprensa e
Propaganda (através do Decreto-Lei nº 1.915 no dia 27 de dez.1939) que tinha como finalidade o controle
sobre a comunicação e acabar com a propaganda dos adversários.

Existiam cinco divisões no DIP, e apenas três realizavam a censura prévia: a Divisão de Radiodifusão era
responsável pelos programas radiofônicos e letras de musicas, a Divisão de Cinema e Teatro pelas
representações teatrais, shows de variedades, peças declamatórias, espetáculos com mimicas,
execuções de balé, escolas de samba, cordões carnavalescos, marchas-rancho, atividades recreativas e
eventos esportivos, e a Divisão de Imprensa pelos veículos de informação e órgãos de imprensa.

“Ao resgatar a censura à imprensa, abandonada oficialmente no período imperial, e centralizar a censura
de diversões públicas, exercida anteriormente por organismos regionais, o DIP não só avaliava o
conteúdo político das manifestações públicas como também avaliava a pertinência do tema e corrigia
grafia das palavras.” (p.10)

Já na fase em que o Estado Novo dava sinais de seu declínio, como forma de diluir o autoritarismo do
governo de Getúlio Vargas, o DIP acabava por ser extinto e a censura passava agora a ser de
responsabilidade do Departamento Nacional de Informação (DNI) conforme estabelecia o Decreto-Lei nº
7.582. Das cinco divisões do DIP, o DNI uniu a Divisão de Censura com a de Divulgação, conservou as
Divisões de Radiodifusão, de Turismo e de Cinema e Teatro e criou a Agência Nacional.

Com a deposição de Getúlio Vargas, o sucessor presidencial, José Linhares, restaurou a liberdade de
manifestação de pensamento por meio da radiodifusão, visto pelo Decreto-Lei nº 8.356 de 12 de
dez.1945, além disso, criou o Serviço de Censura de Diversões Públicas (SCDP) que respondia pela
censura prévia das diversões públicas e manifestações artísticas e demarcava a separação definitiva
entre a censura da imprensa e censura de peças teatrais, filmes, letras musicais, programa de rádio e
televisão, ainda que cada núcleo se intercomunicassem com frequência, chegando algumas vezes a se
confundir.
Entre as atribuições do SCDP, competia aos órgãos descentralizados examinar a projeção de películas
cinematográficas, a apresentação de espetáculos teatrais, shows de variedades, pantomimas bailados,
peças declamatórias, escola de samba, marchas-rancho, cordões carnavalescos, a reprodução de discos
(cantados ou falados) e a exibição de espécimes teratológicas, anúncios publicitários, programas de rádio
e televisão, além de aprovar excursões de artistas ao exterior.

É importante ressaltar que, desde a criação do serviço de censura, em meados da década de 1940 até o
final do ano de 1967, a censura de diversões públicas permaneceu sob a ingerência do chefe de policia e
atuou de fora autônoma nos estados.

No período entre 1945 a 1964, a censura de diversões publicas concentrou-se, de forma assistemática,

em oito itens do decreto nº 20.493 para justificar a proibição de representações , exibição ou transmissão

radiotelefônica, são eles: contenção de qualquer ofensa ao decoro público; contensão de cenas de

ferocidade ou que fossem capaz de sugerir a prática de crimes; divulgação ou indução aos maus

costumes; cenas capazes de provocar incitamento contra o regime vigente, a ordem pública, as

autoridades constituídas e seus agentes; prejudicar a cordialidade das relações com outros povos; se

fossem ofensivo às coletividades ou às religiões; ferir, por qualquer forma, a dignidade ou o interesse

nacionais; induzir ao desprestígio das forças armadas.

A atuação do SCDP, subordinada ao Departamento Federal de Segurança Pública (DFSP), representou

uma continuidade da sistemática da Divisão de Cinema e Teatro, vinculada ao DIP e, em seguida, ao

DNI, ambos criados no governo Vargas.

O que é singular nesse processo é que o SCDP foi criado no período de redemocratização brasileira, em

1945, na gestão de José Linhares, e o DIP durante o Estado Novo, em 1939, pelo presidente Getúlio

Vargas. Como se vê, a censura no Brasil existiu tanto no contexto de ditaduras quanto no período

democráticos.

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