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Inventando nações: notas sobre os nacionalismos judaico e

palestino durante o Mandato Britânico (1917-1948)


LUIZ SALGADO NETO*

Resumo
Um dos tópicos mais discutidos do conflito Israel-Palestina se refere à
identidade nacional dos atores envolvidos. O objetivo deste ensaio é refletir
sobre a ideia de nação na Palestina durante o controle político da Grã-Bretanha,
entre 1917 e 1948, quando o confronto entre os árabes palestinos e judeus
sionistas pelo controle do território se agravou consideravelmente. Busca-se,
com as reflexões, problematizar a própria ideia de nação e o lugar dessa
categoria analítica e política no conflito entre israelenses e palestinos da
atualidade.
Palavras-chave: Nação; palestinos; Palestina; sionismo; conflito árabe- 90
sionista; Israel.
Abstract
One of the most discussed topics of the Israel-Palestine conflict is the national
identity of the people involved. The goal of this essay is to raise reflections
about the idea of nation in Palestine under British rule, between 1917 and 1948,
when the conflict between Arabs of Palestine and Zionist Jews for the control
of the territory was aggravated considerably. The aim of these reflections is to
discuss the own idea of nation and the role that this analytical and political
category plays in the today Israel-Palestine conflict.
Key words: Nation; Palestinians; Palestine; Zionism; Arab-Zionist conflict;
Israel.

*
LUIZ SALGADO NETO é doutorando em História Comparada pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro.
91

Moeda emitida pelo governo da Palestina. Apresenta o nome "Palestina" nos três idiomas oficiais: árabe,
inglês e hebraico. Fonte: Wikimedia Commons.

Em 1969, a então Primeira-Ministra de construir um Estado judeu. O que ela


Israel Golda Meir declarou que os disse foi que esses árabes não
palestinos não existiam (MEIR, 1969, p. constituíam uma nação, ou seja, não
12). Tal assertiva gerou polêmica à havia uma “nação palestina” antes da
época e em 1976 ela afirmou que fora fundação do Estado de Israel. Segundo
mal compreendida. Em artigo escrito Meir, não havia uma comunidade árabe
para o jornal The New York Times, ela palestina estabelecida, dotada de uma
afirmou que, na verdade, dissera que identidade nacional e que pudesse
não havia um “povo palestino”, apenas reivindicar direitos políticos no
“refugiados palestinos” (MEIR, 1976, p. território em que Israel se formou como
35). Ou seja, Meir não negou que Estado.
houvesse árabes na Palestina no período
Anos depois, na década de 1980, um
em que a Grã-Bretanha controlou
livro deu ares “científicos” à declaração
politicamente o território, entre 1917 e
de Golda Meir. A obra From time
1948, pessoas reais que viviam no
immemorial, de Joan Peters, publicada
território almejado pelos sionistas para
em 1984, pareceu sanar todas as interpretações distorcidas foram as
dúvidas nas mentes daqueles que ainda táticas de Peters para comprovar que os
se questionavam sobre as pessoas que palestinos não apenas não se
habitavam a Palestina durante o constituíam como nação, como também
Mandato Britânico e que, em 1948, não formavam uma sociedade ligada
foram expulsas ou fugiram (o tópico é àquela terra.
altamente controverso). A tese de Peters
O livro também foi criticado por
diz que durante o Mandato Britânico
acadêmicos israelenses. O historiador
não existiam palestinos, apenas
Yehoshua Porath (1986) afirmou que
imigrantes árabes vindos da Síria,
Peters pretendeu conferir legitimidade
Líbano, Egito etc. que afluíam à
acadêmica ao “mito” sionista de que a
Palestina em busca das melhores
Palestina era uma terra vazia. Além
oportunidades econômicas abertas pelos
disso, Porath afirmou que Peters
empreendimentos sionistas. Os árabes
analisara as fontes “seletivamente, para
da Palestina, para ela, não possuíam
dizer o mínimo” (PORATH, 1986, p. de
qualquer ligação efetiva com a terra e,
internet). Até mesmo o ensaísta e
portanto, nenhuma reivindicação
colunista norte-americano Daniel Pipes,
política válida. Por meio da análise de
conhecido por sua simpatia por Israel,
documentação estatística produzida por
criticou a obra (embora de forma leve),
otomanos e britânicos, ela concluiu que
dizendo que o livro “sofre de uma
não havia uma população árabe
caótica apresentação e de um excesso de
enraizada na Palestina e que, portanto,
parcialidade” (PIPES, 1984, p. de
os árabes que viviam na Palestina não
internet).
tinham uma “identidade nacional”. Para
Peters, a “nação palestina” teria sido 92
O livro de Peters é um dos casos mais
simplesmente fabricada posteriormente extremos de um debate que ainda é
com objetivos políticos. profundamente controverso. Discussões
acaloradas ainda giram em torno da
O livro de Joan Peters se tornou
identidade de uma coletividade social
extremamente famoso nos Estados
que vivia na Palestina havia gerações e
Unidos e se tornou quase um Best-
que entrou em confronto com judeus
Seller. Houve reações efusivas com a
europeus que desejavam criar um
publicação: “O mundo todo poderá
Estado judaico na Palestina. A questão
agora saber a verdade da origem dos
não é meramente acadêmica, mas é,
palestinos”, exclamou o escritor Saul
fundamentalmente, política.
Bellow (apud SAID, 2001, p. 23),
“Meramente acadêmica” aqui não é um
enquanto a historiadora Barbara
sinal de desprezo ou diminuição, pois a
Tuchman disse que “o próprio livro é
discussão acadêmica em Israel e na
um fato histórico” (apud SAID, 2001, p.
Palestina a respeito do assunto
23). No entanto, todo esse ânimo
tangencia aspectos identitários
arrefeceu quando historiadores
profundos.
demonstraram que o estudo era uma
farsa. O historiador judeu norte- Evidentemente, a negação da identidade
americano Norman Filkenstein (2003, p. nacional palestina, cujos argumentos
21-50) demonstrou que Joan Peters centrais encontram expressão na obra de
fraudara as informações estatísticas para Peters, tem sua contrapartida na busca
provar sua tese. Tabelas repetidas, pela afirmação da identidade palestina
manipulação grosseira de dados, por outros autores. O historiador e
citações fora de contexto e Professor da Universidade de Columbia
(EUA), Rashid Khalidi (neto de um que poderiam ser usados militarmente
árabe palestino nascido em Jerusalém), (ISRAEL, 2010).
publicou em 1997 a obra Palestinian
identity: the construction of modern Além disso, há os árabes que residem
national consciousness, que versa sobre em Israel, que hoje perfazem
a formação da identidade nacional aproximadamente 20% da população do
palestina. Para ele, tudo se iniciou em país, mas não possuem direitos plenos.
um sentimento de pertencimento ao Eles são descendentes dos árabes que
lugar, para depois se desenvolver em viviam no território da Palestina antes
uma identidade nacional. Khalidi (1997) da criação de Israel e que não foram
busca demonstrar que líderes políticos expulsos ou fugiram de suas terras
árabes passaram a se enxergar como durante a Primeira Guerra Árabe-
palestinos enquanto nação na década de Israelense (1948-1949). Desde 1948,
1920, quando o Mandato Britânico eles receberam diversas denominações:
delineou as fronteiras da Palestina e “árabes-israelenses”, “árabes cidadãos
quando o sionismo se tornou uma força de Israel”, “palestinos em Israel” ou
política considerável. Para ele, a “árabes palestinos de Israel” (COHEN,
identidade nacional palestina se 2010, p. xii), o que gera uma discussão
constituiu em oposição ao sionismo. profunda sobre a identidade dessas
pessoas e um embate entre a forma que
Com efeito, entre os palestinos e seus
as próprias pessoas se identificam e as
descendentes na diáspora, muita ênfase
identidades que outros querem lhes
tem sido dada à construção de uma
imputar.
identidade puramente “nacional”. Tal
postura é perfeitamente compreensível, 93
Diante disso, também em Israel há um
tendo em vista que os palestinos ainda
debate fecundo sobre a construção da
não possuem um Estado próprio, vivem
identidade nacional palestina. Os
sem plenos direitos e em diferentes
historiadores israelenses Baruch
condições precárias: ou estão à mercê
Kimmerling e Joel Migdal (2003, p. 7-
de uma ocupação militar na Cisjordânia
9) veem os primeiros indícios da
– onde não têm liberdade de
formação da identidade nacional
movimento, sujeitos a revistas
palestina no ano de 1834. Nesse
constantes em postos de controle,
período, a Palestina estava sob controle
demolição de casas, prisões sem
egípcio (que durou de 1831 a 1840) e o
acusação formal, escasso fornecimento
comandante militar local Ibrahim Paxá,
de água (enquanto as colônias judaicas
filho do governador do Egito Mohamed
têm água até para piscinas), retirada de
Ali, quis adotar medidas centralizadoras
oliveiras (base da economia familiar
que iam contra a autonomia da elite
palestina) etc. (UNITED NATIONS,
política local. Para Kimmerling e
2014; 2015); ou vivem sob um bloqueio
Migdal, esse foi o período em que
na Faixa de Gaza – isolada do resto do
árabes de diversas localidades na
mundo, onde a pobreza grassa sem
Palestina e de diversos estratos sociais
limites e ataques da aviação israelense
se uniram contra o governo central e
podem acontecer a qualquer hora do dia
começaram a desenvolver uma
ou da noite, com hospitais precários,
identidade separada dos outros árabes, o
fornecimento de energia não confiável
que, no século XX, se estabeleceria
(B’TSELEM, 2014), sem falar na
como uma identidade nacional
limitação de entrada de diversos
palestina.
produtos que o governo israelense alega
Portanto, a discussão sobre a existência Como bem aponta Homi Bhabha (1997,
de uma comunidade nacional palestina p. 48-9), a ideia de nação está imersa na
pré-1948 ainda é um dos pontos centrais ambivalência. A narrativa nacionalista
entre acadêmicos e políticos palestinos aponta “origens” e processos de
e israelenses. A história como campo de evolução social, mas está ancorada em
conhecimento está imersa nesse debate, um momento histórico específico. A
tanto nas suas discussões acadêmicas construção da nacionalidade busca a
internas quanto na luta política pela origem da nação em um passado
“verdade histórica” sobre a “real” longínquo, quando, na verdade, articula
identidade dos árabes que viviam na elementos identitários e políticos de um
Palestina antes da fundação de Israel. presente conflituoso. Assim, ao mesmo
Para a história oficial israelense e tempo em que se volta para um passado
muitos historiadores alinhados a essa primordial, a narrativa nacionalista está,
interpretação, os árabes não formavam na verdade, em sintonia com uma
uma nação, eram meros habitantes da situação histórica específica no
Palestina, sem conexão entre si e com a presente, onde o passado é mobilizado
terra (PETERS, 1984; DALIN e em uma narração linear politicamente
ROTHMAN, 2008); para a história orientada. Nesse processo, as narrativas
oficial palestina, eles eram uma nação nacionalistas “inventam tradições”,
estabelecida, os legítimos cidadãos que tradições que, como bem delineou Eric
viviam como “palestinos” na terra desde Hobsbawm (1983, p. 1), “parecem ou
tempos imemoriais (KHALAF, 1991; afirmam ser antigas, [mas] são
HASSASSIAN, 1990; AYYAD, 1999; frequentemente de origem recente e
KAYYALI, 1978). Essas são duas algumas vezes inventadas”.
narrativas nacionalistas que colidem na 94
arena política. Assim, a busca pela identidade
nacional, primordial e originária, está
relacionada a questões do presente, em
Contudo, tais discussões perdem, em que, como nos diz Homi Bhabha (1998,
meu entender, o aspecto mais p. 20), são elaboradas “estratégias de
fundamental. Sob o ponto de vista subjetivação – singular ou coletiva –
acadêmico, as questões que os que dão início a novos signos de
historiadores se colocam quanto a esse identidade e postos inovadores de
tema ainda estão presas a uma colaboração e contestação, no ato de
concepção de “nação” que não dá conta definir a própria ideia de sociedade”. E
da realidade da vida das diversas é nessa articulação de elementos do
comunidades que viviam na Palestina passado e do presente que “o interesse
antes da criação de Israel. Por estarem comunitário ou o valor cultural são
ancorados em uma visão unificadora da negociados”.
narrativa da nação, estes autores adotam
Diante disso, não caberia problematizar
uma visão que não nos ajuda a pensar os
a narrativa nacionalista e questionar se o
laços identitários e comunitários
que se quer ver como nacionalismo é
multifacetados construídos por árabes e uma tentativa de aplicar acriticamente
judeus que viviam na Palestina durante
uma ideia pré-concebida a uma
o Mandato Britânico, período em que as
população para quem tal ideia não
oposições políticas se acirraram, diante possuía o mesmo valor para quem olha
dos recorrentes sucessos do projeto
de fora? Não caberia deslocar a
sionista.
pergunta sobre uma identidade nacional
palestina e questionar a relação século XIX. Os sionistas tiveram que
daquelas pessoas com a terra em que lidar com as diferenças intrajudaicas de
viviam e sua vivência concreta no imigrantes oriundos não só da Europa –
interior da comunidade em que estavam Rússia, Polônia, Romênia, Alemanha
inseridas? E, por fim, sob o ponto de etc. – mas também de outras partes do
vista exclusivamente político, será globo – Iêmen, Iraque, Marrocos,
mesmo que deve ser buscada uma Etiópia... A tarefa primordial da
“identidade nacional pura” para narrativa nacionalista sionista antes de
defender os direitos daquelas pessoas? 1948 (e da narrativa oficial do Estado
de Israel desde então) foi apagar essa
É claro, o simples fato de levantar tais
diversidade em nome de uma identidade
questões pode gerar imensas
idealizada, uma identidade “hebraica”
controvérsias, tendo em vista as
na Palestina.
condições precárias em que vivem os
palestinos hoje e a necessidade de que Desde o início do movimento sionista
possam erigir uma base institucional organizado, no final do século XIX, o
estatal para livrarem-se da ocupação sionismo buscou apagar a diversidade
militar israelense na Cisjordânia e do judaica em nome da criação de uma
cerco à Faixa de Gaza. Porém, não nova figura: o “hebreu”, um judeu novo,
estou querendo sugerir que os palestinos meio “ocidental” e meio “oriental”. O
“inexistem” como nação e que a “nação hebreu não era o “judeu do gueto”,
judaica existe” (e sempre existiu) e que, fraco e vulnerável, exposto à
portanto, a identidade nacional perseguição de não-judeus; era, assim,
israelense é mais “real” e “verdadeira” mais próximo dos povos “vigorosos” do
que a palestina. Devemos problematizar Oriente Médio e, portanto, mais 95
ambas. Tanto palestinos quanto judeus “oriental”. Muitas imagens propagadas
israelenses construíram idéias de nação pelos sionistas no início do século XX
e inventaram tradições, mobilizando um igualavam os imigrantes judeus aos
passado histórico para a construção de árabes, usando a keffiyeh1 ou
narrativas nacionalistas. aparecendo sobre um cavalo e
segurando um rifle (RAIDER, 1998, p.
Schlomo Sand, um intelectual judeu, 85 e p. 87). Além disso, muitos
demonstrou de forma interessantíssima imigrantes adotaram as vestimentas e as
o processo pelo qual o “povo judeu” práticas alimentares dos camponeses
(SAND, 2009) se inventou e como o
sionismo “inventou” a “Terra de Israel” 1
Peça de vestimenta utilizada amarrada em
(SAND, 2014). Nesse ponto, palestinos torno da cabeça que passou a ser símbolo do
e israelenses não são diferentes: ambos nacionalismo palestino. Até meados do século
inventaram uma narrativa nacionalista XX, essa era uma peça de vestimenta utilizada
exclusivamente pelos camponeses. Na década
e, no processo, se inventaram como de 1930, com a radicalização política e a
nação. oposição de crescentes números de líderes
políticos, a keffiyeh passou a representar os
Com efeito, o nacionalismo judaico setores políticos que queriam demonstrar seu
sionista lutou (e a narrativa nacionalista rompimento com a elite política palestina,
israelense ainda luta) para moldar e urbana e das classes altas e médias. Com o
fixar uma identidade nacional judaico- advento das organizações políticas palestinas
israelense ideal, acima das diferenças nas décadas de 1950 e 1960, a peça de
vestimenta foi incorporada ao simbolismo
dos imigrantes judeus oriundos de político dos militantes nacionalistas palestinos.
diversas partes do mundo que afluíram à Uma keffiyeh quadriculada era a marca do líder
Palestina desde as últimas décadas do palestino Yasser Arafat (1929-2004).
árabes e dos beduínos (EVEN-ZOHAR, respostas indignadas de judeus que
1998, p. 18; LAQUEUR, 1972, p. 230). entendem que são perfeitamente judeus
Contudo, o hebreu não era mesmo vivendo fora de Israel.
completamente “oriental”, pois o Com efeito, antes da fundação do
sionismo enfatizava a figura do Estado de Israel em 1948, o sionismo
“hebreu” como um homem moderno, encontrou sérios obstáculos para se
“civilizado”, que saía da Europa para afirmar entre os próprios judeus.
levar o progresso à Palestina, uma terra Evidentemente, mais fácil era enunciar
que, segundo o discurso civilizatório uma identidade idealizada do que torná-
sionista, havia sido negligenciada e
la real para pessoais reais vivendo no
abandonada pelos árabes e pelos turcos. mundo real. O problema era descobrir
Vemos, assim, que mesmo a identidade uma maneira de formar uma unidade em
idealizada propagada pelos sionistas era torno da ideia de nação em um território
problemática. Era uma identidade onde não havia um movimento judaico
ambígua. Estava nos “entre-lugares”, nacionalista. O nacionalismo sionista
como afirma Homi Bhabha (1998, p. foi levado à Palestina por imigrantes e
20). Tratava-se de uma “hebreidade” não emergiu primariamente entre os
nos interstícios entre as imaginações judeus que já habitavam a Palestina. Ou
predominantes de “Oriente” e seja, o nacionalismo sionista precisou
“Ocidente”. A fronteira – aqui inventar uma nação fora do território
entendida não como linha, mas como proclamado para abrigar essa nação.
espaço de hibridismos – favorecia a É interessante abordar esse tópico, pois
mescla de traços culturais diversos e a um dos principais problemas dos
mobilização variada de elementos sionistas foi integrar o antigo Yishuv2, a 96
disponíveis para a construção de comunidade judaica já existente na
identidades. Isso, evidentemente, Palestina3, a um projeto puramente
entrava em rota de colisão com a europeu de renascimento judaico na
tentativa de líderes sionistas de criarem Terra de Israel. A distância entre as
uma identidade unívoca, normativa e percepções de si e da terra entre
ideal. sionistas, saídos da Europa, e o antigo
Yishuv, formado em sua maioria por
Até hoje a relação entre as diversas devotos religiosos, era abissal. Não
comunidades judaicas e o Estado de havia praticamente um aspecto da vida
Israel é tema de profundas
controvérsias. Em março de 2012, o
renomado e premiado escritor israelense 2
Yishuv: comunidade judaica na Palestina antes
A. B. Yehoshua afirmou em entrevista da criação de Israel. Os judeus da Palestina
ao jornal israelense Haaretz que os antes de 1948 se viam diferenciados
judeus norte-americanos eram apenas principalmente pela clivagem entre o velho
“parcialmente judeus” e que somente Yishuv, a comunidade judaica que vivia havia
gerações na Palestina, e o novo Yishuv, aqueles
vivendo em Israel alguém poderia se que chegaram à Palestina a partir de 1882.
considerar um judeu completo. Para 3
Segundo estimativas, o número de judeus que
Yehoshua, “Israel é o autêntico e habitavam a Palestina antes da primeira
profundo conceito de povo judeu” imigração sionista, em 1882, era de
(BLUMENFELD, 2012, p. de internet). aproximadamente 24 mil, 4% da população
total. Viviam no interior e nos arredores da
Sua afirmação provocou acalorados cidade de Jerusalém, além das cidades de
debates em comunidades judaicas Hebron, Safed e Tiberíades (MASSOULIÉ,
espalhadas pelo mundo e gerou 1996, p. 4).
comunitária que não fosse alvo de origem a algo como o relatado pela
contendas entre eles. Professora de Estudos Culturais Ella
Os judeus que já habitavam a Palestina Shohat, judia e iraquiana, que se diz
uma “mulher judia árabe”, e que luta
eram avessos aos sionistas
para que essa identidade não seja tratada
principalmente por dois motivos: 1)
como exotismo, anomalia ou um
religioso: os sionistas desejavam
“paradoxo ontológico” (SHOHAT,
implantar um Estado judaico por meio
s.d.).
de ações políticas laicas, sem a ajuda de
Yahweh e, portanto, eram apóstatas; 2) Os judeus que viviam na Palestina antes
comportamental: os sionistas eram de 1948 também se viam, politicamente,
seculares em sua vida comunitária, como parte da comunidade mais geral e
pondo lado a lado homens e mulheres antes da Primeira Grande Guerra, se
(que, para espanto dos religiosos, viam como “judeus otomanos”, o que
usavam roupas demasiado curtas para levou líderes do antigo Yishuv a
seus padrões) e, como, por necessidades denunciar imigrantes sionistas ilegais às
econômicas, não poderiam ficar um dia autoridades otomanas no início do
sem trabalhar, iam para as lavouras século XX (LAQUEUR, 1972, p. 76).
mesmo no Shabat (LAQUEUR, 1972, p. A integração entre ambos os segmentos
76). judaicos da Palestina somente foi
Não surpreende, portanto, que os judeus possível, embora não de todo eficaz,
do antigo Yishuv não se identificassem após os distúrbios ocorridos no ano de
com os sionistas, a quem chamavam de 1929, quando árabes atacaram judeus
“anarquistas russos” (já que as em várias cidades, principalmente em
primeiras levas de imigrantes eram Jerusalém e em Hebron, diante de 97
oriundas principalmente da Rússia e de rumores de que os sionistas queriam
outras partes do Leste Europeu). Os tomar posse do Haram Ash-Sharif5, na
judeus que já viviam na Palestina não se Cidade Velha de Jerusalém, destruir os
viam como parte daquela nova santuários muçulmanos e reconstruir em
comunidade. Aliás, muitos se viam seu lugar o Templo Judaico (destruído
como árabes, do ponto de vista étnico e pelos romanos em 70 E.C. e que ficava
cultural. Muitos falavam árabe exatamente no mesmo lugar). Como
fluentemente e, assim como a maioria grupos de árabes atacaram judeus
dos judeus em terras de maioria indiscriminadamente, sem se
muçulmana, chamavam Yahweh de preocuparem em diferenciar sionistas e
Allah4. Eles percebiam-se judeus por não sionistas, os judeus do antigo
crença, mas árabes cultural e Yishuv repensaram as clivagens
etnicamente, o que também ocorreu identitárias na Palestina e muitos deles
quando os judeus de países como o concluíram que, como judeus, eram
Iraque e a Síria migraram para Israel na mais próximos dos sionistas do que dos
década de 1950. Tal migração deu árabes (SELA, 1994, p. 82). Ou seja, a
identidade se forjou em meio a uma
4
Desde o advento do Islã, judeus e cristãos têm
5
usado a palavra “Allah” como tradução para o Haram Ash-Sharif ou “Nobre Santuário” é a
Deus monoteísta. Embora haja controvérsias a Esplanada onde estão localizadas importantes
respeito, é bastante comum que cristãos e judeus construções islâmicas, dentre elas o Domo da
de fala árabe chamem seu Deus de Allah, assim Rocha e a Mesquita Al-Aqsa. Está no local
como o termo “Allah” apareça nas traduções da exato onde existia o Templo Judaico – por isso,
Bíblia para o árabe (Cf. THOMAS, 2006, p. o local é conhecido pelos judeus como “Monte
171-4). do Templo”.
situação específica no presente, a colônias sionistas foram estabelecidas
questões que emergiram não na “aurora inicialmente – nas áreas da Palestina em
dos tempos”, mas no século XX. que o solo era mais difícil de cultivar.
Tanto que os primeiros experimentos
Outra questão a exigir intensos esforços
sionistas nas últimas décadas do século
dos líderes sionistas foi o trabalho na
XIX foram, em sua maioria, um
agricultura. Um dos lemas centrais para
fracasso do ponto de vista da produção
o ideário sionista era o trabalho na terra.
agrícola. Até meados da década de
A construção da identidade desse novo
1930, quando escolas na Europa
judeu requeria a negação das
prepararam os candidatos à migração
características comportamentais que
para o trabalho na terra, era comum ver
eram atribuídas aos judeus na Europa.
árabes e judeus trabalhando lado a lado
Na Europa, os judeus eram acusados de
na lavoura (KAYYALI, 1978, p. 7-8;
viverem de lucros e da usura e,
LAQUEUR, 1972, p. 487).
portanto, de serem parasitas nas
sociedades onde viviam. Assim, a Para isso contribuiu o trabalho
criação do “novo judeu” se deu por filantrópico. É equivocado pensar que
meio do que George McCall (2003, p. todos os judeus que afluíam à Palestina
20) chamou de “identidade reativa”, a nesse período estavam imbuídos de um
elaboração de uma identidade que ideário sionista bem articulado e que
reagia à representação estereotipada que almejavam criar um Estado judeu em
outros imputavam a eles. Ou seja, é um um dado futuro. No final do século
contra-discurso, cujo objetivo é negar XIX, filantropos judeus, como o Barão
aspectos considerados negativos e a de Hirsch, financiavam colônias
afirmar atributos identitários vistos judaicas fora da Europa para aliviar a 98
como positivos por outros. condição de extrema pobreza e
Assim, para a construção desse “novo preconceito sofridos pelos judeus no
judeu”, a agricultura se tornou central, Velho Continente, especialmente no
como meio de provar que o judeu era Leste Europeu. Com isso, colônias
produtivo, que poderia produzir na judaicas foram criadas na Argentina,
terra. Diante disso, os sionistas criaram nos Estados Unidos e na Palestina. Na
uma estratégia discursiva que enfatizava Palestina, a organização central para
aspectos positivos dos imigrantes judeus lidar com essas colônias era a Palestine
sionistas, como a força física, o vigor Jewish Colonization Association – a
para o trabalho, a pele bronzeada PJCA (KRÄMER, 2008, p. 114).
oriunda da labuta sob o sol. Esse
Inicialmente, o objetivo principal das
discurso tinha o objetivo de enaltecer o
colônias da PJCA era filantrópico.
“novo judeu”, o “hebreu”, e diferenciá-
Posteriormente, no entanto, a
lo do “judeu do gueto”, o “judeu da
organização se guiou por critérios
diáspora”.
econômicos e algumas colônias
Com isso, um elemento central na chegaram a demitir trabalhadores judeus
criação de colônias sionistas na (KRÄMER, 2008, p. 114). Além disso,
Palestina era a contratação exclusiva de as colônias da PJCA contratavam árabes
mão de obra judaica. No entanto, a sem problemas de consciência e havia
esmagadora maioria dos judeus que uma relação amistosa entre
chegavam à Palestina não possuía a trabalhadores árabes e judeus nas
mínima experiência na agricultura, colônias administradas pela PJCA
ainda mais nas partes em que as (SIMPSON, 1930, p. 49-53). Essas
colônias diferenciavam-se, desse modo, judaica passou de 4.000 para 12.000
das colônias sionistas, que eram erigidas (PAPPE, 2004, p. 77-8). Além disso,
sob a supervisão do Fundo Nacional houve exemplos de lutas políticas em
Judaico. organizações conjuntas – sindicatos,
associações bi-nacionalistas, o Partido
O Fundo Nacional Judaico – FNJ
Comunista da Palestina etc.
[Keren Kayemet Le-Yisrael] foi fundado
(LOCKMAN, 1996; KRÄMER, 2008,
em 1901 no Quinto Congresso Sionista
p. 195-6). Assim, havia uma
e registrado em Londres em 1907, com
convivência, embora tensa, que era
o propósito declarado de comprar terras
odiosa para aqueles que defendiam
para os judeus. As terras compradas
projetos exclusivistas.
pelo FNJ seriam consideradas
exclusivas do povo judeu e, portanto, A ideia de um Estado bi-nacional era
não poderiam ser vendidas, sendo outro tabu para os sionistas. O principal
permitido o aluguel por um período de expoente dessa linha política era Judah
nove anos, mas apenas para judeus. Magnes, um rabino reformador norte-
Além disso, as colônias supervisionadas americano e um dos fundadores da
pelo FNJ não permitiam a contratação Universidade Hebraica de Jerusalém,
de trabalhadores árabes. Não que também ocupou os cargos de
surpreende, portanto, que, quanto a esse Chanceler e Presidente da instituição.
tópico, tenha se estabelecido uma Magnes defendia que a Palestina
contundente divergência entre sionistas deveria se constituir como um centro
e membros da PJCA (KRÄMER, 2008, espiritual, cultural e científico para os
p. 193, p. 114-5). judeus de todo o mundo. Ele enfatizava
que a Palestina seria o centro científico 99
A questão da contratação de
trabalhadores árabes era uma das mais judaico, e a Universidade Hebraica seria
complexas desde o início do o ambiente acadêmico em que os judeus
assentamento judaico na Palestina e poderiam exercer suas cátedras
perdurou até 1948. Na década de 1930, livremente (o que se mostraria
houve diversos piquetes sionistas em particularmente relevante após a
frente a fazendas de cítricos de ascensão do nazismo, que expulsou
propriedade de judeus que empregavam diversos professores judeus das
árabes e, por vezes, foram cometidos universidades alemãs). Para Magnes,
ataques físicos contra os trabalhadores em um Estado bi-nacional, árabes e
árabes para intimidá-los, para que se judeus conviveriam com direitos civis e
demitissem por medo. Essa prática de políticos iguais, ambos responsáveis por
intimidação obtinha base ideológica nas governar o país. Suas propostas diziam
narrativas sionistas da necessidade de que os judeus deveriam obter garantias
isolamento frente à população árabe de segurança, liberdade econômica e
(MATTHEWS, 2006: 203; LAQUEUR, direitos políticos, mas não que deveriam
1972, p. 221; PAPPE, 2004, p. 55). dominar politicamente a Palestina e
fazer deste território um “Estado judeu”.
Evidentemente, esse isolamento era Com esse objetivo em mente, Magnes
praticamente impossível. Árabes e fundou o partido Ichud (“União”) em
judeus conviviam em um mercado 1942.
interdependente e contra as ideias
segregacionistas de seus líderes. Entre Contudo, não podemos dizer que
1921 e 1935, o número de árabes Magnes não era sionista. Inspirado em
palestinos trabalhando na economia grande medida pelas ideias de Ahad
Aha’am (considerado pai do sionismo religioso, um imaginário que, além de
cultural), ele emigrou para a Palestina tudo, era tênue no seio de um segmento
em 1922 e realizou grandes esforços social amplamente secularizado. Para
para construir a Universidade Hebraica essas pessoas, o Judaísmo, embora base
de Jerusalém. Na verdade, o sionismo de práticas sociais importantes, não
de Magnes era peculiar. Suas propostas despertava qualquer ímpeto para sair da
políticas e sociais para a comunidade Europa e refazer suas vidas na “Terra de
judaica da Palestina eram baseadas em Israel” (AVINERI, 1983, p. 13-4).
suas ideias a respeito da própria
sociedade norte-americana. Ou seja, seu Esses recém-chegados, em sua maioria,
sionismo era equivalente às suas desejavam continuar suas vidas como
propostas idealizadas de como deveria na Alemanha, Polônia etc., agindo como
ser a “Nação Americana”. Segundo se estivessem na Europa. Para os
Daniel P. Kotzin (2000), Magnes tentou sionistas mais identificados com a
“americanizar o Yishuv”. esquerda, esses judeus eram
“burgueses” que queriam reproduzir
Magnes elaborou seu sionismo suas vidas na Palestina e não
compatível com o ideal norte-americano trabalharem para construir um lar
de democracia. Ele introduziu no nacional judaico. E, como meros
sionismo uma perspectiva, vinda de sua “burgueses” que só pensavam em seus
experiência no movimento progressista lucros, empregavam em seus
norte-americano, que valorizava o empreendimentos a mão de obra mais
pluralismo cultural, o que, por barata disponível: os árabes. Outro
conseguinte, o levou a defender a ponto de discórdia era que esses recém-
convivência com a população árabe da chegados conversavam em alemão ou 100
Palestina (KOTZIN, 2000, p. 4-5). Por iídiche, o que era anátema para os
causa disso, a figura de Judah Magnes sionistas. Para os sionistas, o “idioma
foi praticamente esquecida na nacional” era o hebraico. Não à toa,
historiografia sionista e israelense, só uma das tarefas mais emblemáticas do
vindo a ser mais profundamente fervor nacionalista sionista foi o
analisada bem recentemente, em 2010 trabalho hercúleo realizado por Eliezer
(KOTZIN, 2010). Ben-Yehudah para criar um dicionário
de hebraico moderno (MATTHEWS,
No entanto, na década de 1930, quando 2006: 203; AVINERI, 1983, p. 99-103).
Magnes defendia suas ideias, além do
desafio da relação com os árabes, havia Com isso, ao vermos todo esse trabalho
o problema mais urgente para os realizado pelos sionistas para
sionistas de incorporar os judeus que inventarem uma nação hebraica e uma
iam para a Palestina fugindo do nacionalidade judaico-israelense pura,
nazismo. Muitos judeus alemães não não caberia perguntar como essa
possuíam qualquer afinidade com o dinâmica se deu entre os palestinos?
ideário sionista e queriam somente viver Sendo assim, não caberia analisarmos as
livres de perseguições e em paz. Muitos identidades dos árabes da Palestina
deles sofriam com o fato de terem de levando-se em consideração os
sair da Alemanha, Áustria, Polônia, interstícios identitários em uma
abandonando suas vidas estabelecidas sociedade vivendo em uma zona de
para recomeçar uma vida na Palestina. fronteira que, como tal, era marcada
Para eles, a Palestina era um lugar que pela pluralidade e heterogeneidade
só tinha existência em um imaginário culturais? Ao invés de querermos
encontrar uma identidade unívoca entre se com sua família, clã, cidade, religião,
os árabes que viviam na Palestina ideários políticos? Mesclavam
durante o Mandato Britânico, não diferentes marcos identitários ou
deveríamos buscar identificar os alternavam identidades dependendo da
hibridismos, as ambiguidades e as circunstância?
diversas formas de negociação de
Essas são perguntas difíceis de serem
identidades?
respondidas e requerem uma análise
Nesse sentido, não caberia buscar atenciosa daquela sociedade. O trabalho
encontrar, como delineia Homi Bhabha é complexo e exige uma abordagem
(1997, p. 52), a nação “como está teórica profunda e procedimentos
escrita”? Ou seja, as formas narrativas metodológicos cuidadosos. Mas penso
da construção de identidades locais ou que somente quando problematizarmos
nacionais entre os palestinos? a noção de uma “identidade nacional
Apreender suas “estratégias textuais, pura” poderemos nos aproximar de uma
deslocamentos metafóricos, subtextos e melhor compreensão da vivência efetiva
artifícios figurativos”? Assim, não seria das pessoas daquele tempo histórico
mais adequado buscar apreender quais específico. Entendo que por esse
identidades eram formuladas pelos caminho poderemos construir uma
árabes da Palestina em seus discursos melhor aproximação da forma com que
políticos? Será que a busca por aquelas pessoas elaboraram seu
encontrar uma identidade nacional não “passado-presente”, que, como diz
desvia o olhar das formas mais Homi Bhabha, “torna-se parte da
concretas de identificação? necessidade, e não da nostalgia, de
viver” (BHABHA, 1998, p. 27). Ou 101
Como bem demonstra Stuart Hall seja, buscar compreender como aquelas
(2005), devemos superar a noção de pessoas, envolvidas nos embates
uma identidade unívoca, homogênea e políticos de seu presente, articulavam
centrada. Para Hall, mais do que falar uma visão de passado a um projeto
em identidade, devemos nos referir às político para o futuro e, nesse processo,
identidades, ou melhor, a processos de se inventavam e reinventavam enquanto
identificação, múltiplos, sujeitos às coletividade social.
contingências e mobilizados pelos
sujeitos ativos em suas práticas sociais. Entendo que essa abordagem possibilita
Como diz Hall, “em vez de falar da ao pesquisador romper com ideias
identidade como uma coisa acabada, preconcebidas, construídas a posteriori
deveríamos falar de identificação, e vê- e que tendem a criar generalizações
la como um processo em andamento” indevidas. Penso que tal olhar nos
[grifo no original] (HALL, 2005, p. 39). permite obter uma melhor compreensão
de como aquelas pessoas construíram
Diante disso, não seria mais interessante suas identidades, ativa e criativamente,
analisar quais marcos identitários foram e de forma intersubjetiva. Em suma,
mobilizados pelos árabes da Palestina entendo que, desse modo, poderemos
em seus textos políticos e/ou literários? romper com a tendência de tomar como
Poderíamos então perguntar: qual era a verdade absoluta a narrativa da nação,
ideia de coletividade construída por que exige que criemos homogeneidade
aquelas pessoas em suas vidas onde impera da heterogeneidade.
cotidianas e em suas lutas políticas?
Como se identificavam nas mais
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