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Curso de Mestrado em Estruturas de Engenharia Civil - FEUP

2 – ENQUADRAMENTO DO PROBLEMA DA ANÁLISE DA


SEGURANÇA

2.1 − INCERTEZAS NA SEGURANÇA ESTRUTURAL

A segurança absoluta de uma estrutura não pode ser garantida devido à incapacidade de prever as
condições de carga futuras e de conhecer com rigor as propriedades dos materiais, devido ao uso
de hipóteses simplificadoras para prever o comportamento da estrutura às acções actuantes e às
condições ambientais, às limitações dos métodos numéricos usados e aos factores humanos
(Ayyub, 1987). As inúmeras fontes de incerteza no dimensionamento podem resultar, em
situações extremas, em desvios significativos da realidade. A consideração de dados
experimentais na definição das dispersões das variáveis envolvidas no problema não são
suficientes para eliminar as incertezas. Na maioria das vezes os dados disponíveis são insuficientes
para representar integralmente essas variáveis ou ainda estão sujeitas a erros (König, 1985).

Os métodos clássicos de dimensionamento de estruturas, anteriores ao conceito de estados


limites, utilizavam coeficientes de segurança globais para limitar as tensões admissíveis na
estrutura. A distribuição dos esforços ao longo da estrutura era avaliada através da teoria da
elasticidade linear e as tensões calculadas de acordo com os métodos clássicos da resistência de
materiais. Através destes coeficientes de segurança reconhecia-se, implicitamente, a
impossibilidade de prever e conhecer exactamente a resistência e as solicitações reais. Estavam
ligados, em parte, à experiência acumulada em estruturas idênticas já construídas.

A filosofia de verificação da segurança aos estados limites introduziu novos métodos de cálculo
que permitem considerar simplificadamente o comportamento real dos materiais e um tratamento
mais adequado do carácter incerto da resposta estrutural e das acções, através da definição dos
valores característicos e de cálculo. O desenvolvimento ocorrido no campo dos modelos de
análise, acompanhado pela execução de obras cada vez mais arrojadas e de padrões pouco
correntes do ponto de vista estrutural, tem conduzido à implementação de metodologias de
verificação de segurança baseadas em conceitos probabilísticos que permitem um tratamento
racional e global deste tipo de problemas.

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Como se constatou, existem diversas fontes de incerteza que condicionam a avaliação do


comportamento de uma estrutura. Entre esses diferentes tipos de incerteza destacam-se, pela sua
importância, os seguintes grupos (Thoft-Christensen, 1982; Melchers, 1987):

Incerteza física: Este grupo está associado à inerente natureza incerta das propriedades
dos materiais, da geometria dos elementos, da variabilidade e da simultaneidade das
diferentes acções, etc.. A incerteza física pode ser controlada através de uma base de
dados suficientemente grande, ou através de um controlo de qualidade conveniente.
Geralmente, este tipo de incerteza não é conhecido à priori, mas pode ser estimado
através de observações das variáveis, ou recorrendo a experiências anteriores.

Incerteza na modelação: Resulta das aproximações teóricas ao comportamento real dos


materiais e das simplificações na consideração das acções e dos seus efeitos. Este tipo de
incerteza pode ser considerado através de uma variável que represente a relação entre a
verdadeira resposta e a resposta prevista pelo modelo.

Incerteza estatística: Este grupo está associado com a inferência estatística, uma vez que a
estimativa dos parâmetros que caracterizam os modelos probabilísticos é realizada a partir
de um número limitado de dados disponíveis. A incerteza estatística pode ser considerada
através de uma função de distribuição de probabilidade. É possível usar uma aproximação
Bayesiana (Baecher, 1982; Ditlevsen, 1991) para redefinir essa função de distribuição de
forma a incorporar mais informação obtida a partir de novos dados.

Incerteza devida a factores humanos: Resulta do envolvimento humano durante a vida da


obra. Este tipo de incerteza deve-se não somente à variação natural durante a execução
das várias tarefas, mas também às intervenções e aos erros cometidos nos processos de
documentação, dimensionamento, construção e utilização da estrutura. O conhecimento
destas incertezas é limitado, sendo na sua maioria de carácter qualitativo. É, no entanto,
evidente que o seu efeito provoca um aumento da incerteza da resistência estrutural para
um valor superior àquele que é devido somente às propriedades mecânicas e geométricas
da estrutura.

2.2 – SEGURANÇA E FUNCIONALIDADE DAS ESTRUTURAS. ESTADOS LIMITES

A segurança estrutural e o adequado comportamento em serviço são dois aspectos básicos a ter
em conta no dimensionamento de estruturas. O primeiro requisito corresponde à necessidade de
minimizar o risco de colapso inerente a qualquer realização humana e o segundo está relacionado
com a necessidade de proporcionar aos utentes um funcionamento adequado e, ao mesmo tempo,
minimizar os custos de manutenção.

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A validação de uma solução estrutural é realizada através da verificação do seu comportamento


previsível e da concepção de sistemas de cargas possíveis de ocorrer para um determinado
conjunto de situações designadas por estados limites. Para tal, utilizam-se modelos teóricos de
cálculo, ou modelos experimentais, que permitem estimar a resposta estrutural de forma
suficientemente precisa. Em relação às situações a verificar, devem-se definir hipóteses e modelos
apropriados para caracterizar as acções (e suas combinações) durante a vida útil da estrutura,
quer quanto às suas grandezas, quer quanto à sua permanência.

De acordo com as actuais normas de dimensionamento de estruturas (por exemplo, estruturas de


betão), a verificação da segurança é estabelecida para certos níveis de solicitação.
Simplificadamente, podem-se dividir em dois grupos: os estados limites últimos e os estados
limites de utilização.

Na realidade, os estados limites de uma estrutura são estados idealizados (apresentando por isso
um certo carácter convencional) de forma que se forem ultrapassados, a estrutura não satisfaz as
exigências estruturais ou funcionais definidas regulamentarmente.

Os estados limites referidos são caracterizados do seguinte modo:

Estados limites últimos: Estão associados a situações em que a estrutura, ou parte dela,
atinge o colapso colocando em causa a segurança de pessoas ou de equipamento. Neste
grupo distinguem-se as seguintes situações: perda de equilíbrio estático, rotura devido a
tensões elevadas nos materiais, instabilidade resultante de efeitos de segunda ordem e
fadiga provocada por acções elevadas repetidas.

Estados limites de utilização: Estão associados a situações em que a estrutura, ou parte


dela, apresenta danos que, embora limitados, a deixam fora de serviço por razões
funcionais, de durabilidade ou estética. Estes estados limites são ainda subdivididos em
classes, geralmente associados às seguintes durações de referência:

• muito curta - correspondente a poucas horas da vida da estrutura;

• curta - correspondente a durações da ordem dos 5% da vida da estrutura;

• longa - correspondente a durações da ordem dos 50% da vida da estrutura.

Os estados limites de utilização têm como principal objectivo controlar o funcionamento


das estruturas em condições de uso corrente. Esse controlo é realizado através da
limitação de tensões, da abertura de fendas ou da ausência de qualquer fendilhação,
deformações, vibrações, etc.. Todos estes aspectos encontram-se ligados com critérios de
funcionalidade, durabilidade e estética.

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A classificação dos estados limites pode estar associada a diversos critérios, como por exemplo
(CEB, 1980a):

1 − fenómenos ligados à primeira ocorrência da solicitação ou a um certo número de


solicitações. Neste grupo encontra-se, por exemplo, as situações de colapso,
formação de estados imprevisíveis (grandes deformações), fendilhação, problemas de
dano acumulado, fadiga, etc.;

2 − fenómenos que originam ruína imediata (frágil) ou progressiva (dúctil);

3 − fenómenos associados a riscos de vidas humanas, riscos catastróficos ou ordinários.

A distinção entre estados limites últimos e estados limites de utilização não permite considerar
todos os casos possíveis de ocorrer (Calgaro, 1996). Existem estados limites, que se podem
designar por intermédios, que não se incluem nos dois grupos definidos. Além disso, o
comportamento estrutural pode não ser independente para diferentes estados limites. Por
exemplo, a experiência mostra que a capacidade resistente de pontes de betão armado e
pré-esforçado aos estados limites últimos, é afectada significativamente pelas violações sucessivas
aos estados limites de utilização. O funcionamento da estrutura pode ser de tal modo afectado
que, em geral, a rotura resulta directamente destas repetições, sem que as acções atinjam as
intensidades extremas.

O objectivo básico que conduziu à definição dos estados limites regulamentares é essencialmente
prático: definir regras unificadas, exactas ou aproximadas, de modo que para cada categoria as
probabilidades de ocorrência desses estados limites, ou dos efeitos das acções correspondentes,
sejam comuns à grande maioria dos casos correntes. Pretende-se assim evitar fenómenos ou
situações indesejáveis para a segurança e funcionalidade das estruturas.

2.3 – VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA AOS ESTADOS LIMITES

Os métodos de verificação da segurança devem considerar de forma apropriada as incertezas


associadas às variáveis que intervêm na caracterização das acções e da resposta estrutural. A
solução de dimensionamento resultante da aplicação destes métodos deverá assegurar uma
margem de segurança em relação aos diferentes estados limites, de acordo com as respectivas
probabilidades de ocorrência.

O dimensionamento, tendo em conta os vários estados limites, pode ser considerado como um
processo de decisão (CEB-FIP, 1978). As incertezas associadas às variáveis intervenientes e a
forma como elas condicionam o comportamento da estrutura, devem ser tidas em conta de modo
a obter uma probabilidade de rotura aceitável.

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Existem vários métodos para abordar o estudo da segurança estrutural. A tipologia habitualmente
utilizada é a seguinte:

• Nível 0: corresponde a análises puramente determinísticas. As variáveis envolvidas no


processo de dimensionamento têm valores estritamente determinísticos, sendo as
incertezas consideradas através de coeficientes de segurança globais. Geralmente, estes
coeficientes são estimados empiricamente através de experiências passadas.

• Nível 1: Refere-se aos métodos designados por semi-probabilísticos. A variabilidade


das acções e das características resistentes dos materiais é considerada através de
valores representativos (nominais ou característicos) associados com coeficientes
parciais de segurança, γ. Os valores característicos são definidos a partir dos valores
médios, dos coeficientes de variação (ou desvios-padrão) e da função de distribuição.
Os coeficientes parciais de segurança são aferidos, geralmente, a partir de métodos
probabilísticos do nível 2 ou, menos correntemente, do nível 3. Os métodos de nível 1
são habitualmente utilizados nas actuais normas de estruturas para definir regras de
dimensionamento.

• Nível 2: Corresponde a métodos probabilísticos baseados na caracterização das


variáveis básicas que intervêm no processo, através de medidas estatísticas que
descrevem a tendência central (geralmente os valores médios) e a sua dispersão, e no
cálculo da probabilidade de ser atingido um dado estado limite. A avaliação
probabilística da segurança é efectuada por técnicas numéricas aproximadas,
recorrendo a hipóteses simplificadas na determinação dessa probabilidade.

• Nível 3: Diz respeito a métodos puramente probabilísticos, baseados em técnicas que


têm em conta a distribuição conjunta de todas as variáveis básicas. A probabilidade de
ser atingido um dado estado limite é calculada analiticamente (viável somente para
casos muito simples) ou, mais correntemente, usando métodos de simulação.

2.4 – NÍVEIS DE RISCO ASSOCIADOS AO DIMENSIONAMENTO

A qualidade estrutural e os níveis de fiabilidade em relação a estados limites a exigir às estruturas


é um problema de decisão que envolve áreas fora da jurisdição exclusiva do engenheiro (Ferry
Borges, 1982; Augusti, 1984). O estabelecimento de níveis de risco associados às regras de
dimensionamento regulamentares constitui uma solução de compromisso entre conveniências
políticas, industriais e comerciais, pareceres técnico-científicos e opiniões várias (Santos, 1993).

A probabilidade de rotura (isto é, de ser atingido um estado limite) representa o custo que a
sociedade está "disposta" a assumir, em termos de perdas de vidas humanas, consequências

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económicas e perigos vários para a comunidade em geral. A resolução deste tipo de problemas
implica a definição e a optimização de uma função objectivo, que poderá traduzir uma utilidade
envolvendo teoricamente factores essencialmente sociais e económicos.

A formulação do problema pode ser realizada, com alguma generalidade, através da


representação de uma utilidade média de natureza sócio-económica, U , a qual se definirá como
uma média ponderada dos valores das qualidades médias de índole sócio-técnica, Q S , e
económica, Q E , das estruturas. Ter-se-á então (Mascarenhas, 1992):

U = PS QS + PE QE , (1)

em que PS e PE representam os pesos com que essas qualidades intervêm no valor da utilidade,
sendo PS + PE = 1. Os pesos referidos traduzem à partida a política a seguir na escolha da solução
a adoptar.

Na regulamentação existente a nível internacional está subjacente, explícita ou implicitamente, a


consideração de uma função objectivo do tipo indicado em (1). Mascarenhas (1985) apresenta o
valor de algumas grandezas para os valores das qualidades referidas para determinados níveis de
riscos associados com probabilidades de serem atingidos os estados limites correntes.

Os valores máximos admissíveis das probabilidades de serem atingidos os estados limites últimos
para os diversos tipos estruturais são determinados na regulamentação inglesa (CIRIA, 1977)
com base na fórmula:

10 −4 ⋅ Tr
p ′fu = K S ⋅ , (2)
np

sendo Tr o período de referência considerado (em anos), n p o número médio de pessoas vitimadas
em caso de rotura estrutural e K S é um coeficiente cujo valor (ver Quadro 1) depende do tipo de
utilização e função social da estrutura, e pretende traduzir o grau de aversão da sociedade em
admitir a ocorrência de roturas estruturais.

Quadro 1 - Coeficiente K S da expressão (2), de acordo com CIRIA (1977).

Tipo de utilização e função social da estrutura KS


Lugares de reunião pública, barragens 0.005
Uso doméstico, escritórios ou comércio e indústria 0.05
Pontes 0.5
Torres, mastros, estruturas off-shore 5

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De acordo com o documento de aplicação nacional no Reino Unido (UK-NAD, 1996), com base
na parte 1 do Eurocódigo 1 (EC1-1, 1994), o tempo de vida útil da uma estrutura (período
durante o qual é utilizada para o fim em que foi dimensionada sem que seja necessário efectuar
qualquer reparação relevante exceptuando manutenções periódicas) é definido de acordo com a
classe da estrutura (Quadro 2).

No Quadro 3 apresentam-se os valores de p ′fu calculados de acordo com (2), considerando


edifícios correntes da classe 3, de acordo com o Quadro 2, e três patamares de segurança,
nomeadamente reduzido, normal e reforçado, correspondentes a valores de np = 0.1; np = 1 e
np = 10, respectivamente.

O Comité Europeu do Betão (CEB-FIP, 1978) utiliza critérios sócio-económicos para definir os
valores de referência de p fu , agravando os valores de p ′fu obtidos pela expressão (2) conforme a
severidade das consequências económicas de serem atingidos os estados limites últimos, de
acordo com as relações definidas no Quadro 4.

Quadro 2 - Tempo de vida útil das estruturas, Tr (adaptado de Gulvanassian, 1996).

Classe Tr (anos) Exemplos


1 1-5 Estruturas temporárias
2 25 Elementos estruturais substituíveis
3 50 Edifícios e outras estruturas correntes
4 100 Obras de arte e outras estruturas especiais ou importantes
5 120 Pontes

Quadro 3 - Probabilidades, p ′fu , de serem atingidos os estados limites último para edifícios correntes
(K S = 0.05) , de acordo com a expressão (2).

Patamar de Tempo de vida útil da estrutura, Tr


segurança (np) 1 ano 5 anos 10 anos 25 anos 50 anos
reduzido (0.1) 5×10-5 2.5×10-4 5×10-4 1.25×10-3 2.5×10-3
normal (1) 5×10-6 2.5×10-5 5×10-5 1.25×10-4 2.5×10-4
reforçado (10) 5×10-7 2.5×10-6 5×10-6 1.25×10-5 2.5×10-5

Quadro 4 - Critérios sócio-económicos para as probabilidades de referência, p fu (CEB-FIP, 1978).

Consequências da rotura Classe p fu

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Risco de vidas humanas diminuto


Pequenas consequências económicas pouco grave 10 ⋅ p ′fu
Danos localizados
Risco de vidas humanas moderado
Consequências económicas consideráveis grave p ′fu
Funcionamento normal da estrutura afectado
Risco de vidas humanas elevado
Consequências económicas grandes muito grave p ′fu /10
Estrutura pode ficar inoperacional

Quadro 5 - Valores de referência de probabilidade de rotura (CEB-FIP, 1978).

Patamar de Consequências económicas


segurança (np) pouco grave grave muito grave
reduzido (0.1) 10-3 10-4 10-5
normal (1) 10-4 10-5 10-6
reforçado (10) 10-5 10-6 10-7

Considerando os critérios sócio-económicos referidos, os valores de referência de p fu


encontram-se indicados no Quadro 5.

As probabilidades de serem atingidos os estados limites de utilização, pfu=10−4, são definidas de forma
a ter em conta a perda de funcionalidade e os custos de reparação. Essas probabilidades devem ter
em conta a duração dos respectivos estados limites. As probabilidades associadas aos estados
limites de utilização variam entre 10-1 e 10-2. No entanto, esses valores poderão ser menores se as
consequências devidas às perdas de funcionalidade forem elevadas ou se não houver
empenhamento em reduzir o risco de rotura.

Para finalizar esta secção saliente-se dois aspectos essenciais na caracterização das probabilidades
de rotura definidas anteriormente:

1 − as probabilidades utilizadas no estudo de segurança das estruturas são geralmente


muito pequenas. Por exemplo um valor de p fu = 10 −4 é um valor comum para os
estados limites últimos, tem como significado prático que 1 em cada 10.000 estruturas
(ou elementos estruturais) do mesmo tipo atinge provavelmente esse estado limite
durante o tempo de vida útil. Em obras de engenharia de estruturas é praticamente
impossível obter valores experimentais à rotura de 10.000 amostras do mesmo tipo de
estruturas. Por isso, tais valores de probabilidades têm somente um significado
convencional como meros valores comparativos.

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2 − Em termos práticos, a probabilidade de rotura é interpretada como uma medida


adequada da incerteza no dimensionamento. Esta afirmação quer dizer apenas que
essa probabilidade é um valor para o qual a estrutura atingiu um estado extremo
relativamente às condições de projecto. Isto não significa que a estrutura real entrará
em rotura, mas indica que precisará de ser reavaliada se esse valor for atingido.

2.5 – ABORDAGEM PROBABILÍSTICA DA SEGURANÇA

2.5.1 - Generalidades

Os métodos probabilísticos de avaliação da segurança estrutural consistem na determinação da


probabilidade de rotura da estrutura, em condições reais de funcionamento, utilizando técnicas
baseadas na teoria da fiabilidade estrutural (técnicas probabilísticas aplicadas à avaliação da
segurança estrutural).

O emprego de métodos probabilísticos na prática corrente de projectos de engenharia civil, tem


sido limitada ao âmbito da engenharia marítima e hidráulica. A avaliação de cheias numa bacia
hidrográfica com o objectivo de definir valores extremos do nível das águas numa albufeira para
estabelecer a cota máxima de uma barragem, ou a avaliação dos caudais máximos de redes de
águas ou saneamentos, são problemas vulgarmente tratados com técnicas probabilísticas. Na
engenharia de estruturas a aplicação deste tipo de métodos encontra-se restringido a aplicações
muito particulares, nomeadamente, a plataformas off-shore (Bea, 1980; Madsen, 1988; Leira,
1997), acções do vento e do tráfego em pontes de grande vão (Faber, 1996; Croce, 1997),
valores máximos da acção do vento em estruturas de altura elevada (Holicky, 1997) e em poucos
mais casos.

Actualmente, as técnicas da fiabilidade estrutural têm sido aplicadas na definição de planos de


inspecção e de manutenção de obras importantes de engenharia das estruturas (NG, 1996; Faber,
1996). De igual modo, apareceram estudos relativos à determinação da capacidade resistente de
elementos de betão, caracterizando a resposta estrutural de um modo probabilístico (Vanmarcke,
1983; Henriques, 1994, 1996 e 1998; Val, 1994).

Os métodos de avaliação probabilística da segurança baseiam-se na caracterização realista da


resposta estrutural, R, e das solicitações, S, a que está sujeita, através de variáveis aleatórias. Para
tal, adoptam-se valores que têm em conta as distribuições reais das propriedades mecânicas dos
materiais, das imperfeições geométricas dos elementos estruturais, das acções ou dos seus efeitos
e de outras características significativas. Uma vez definidas, R e S, o critério utilizado para saber

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se uma estrutura é segura resulta do cálculo de probabilidade de rotura através de modelos de


cálculo adequados.

Nas secções seguintes apresenta-se a base probabilística da teoria da fiabilidade estrutural.


Previamente apresenta-se ainda algumas noções elementares de probabilidade, podendo ser
complementada através de vários textos base sobre o assunto (Benjamin, 1970; Ang, 1975;
Thoft-Christensen, 1982; Augusti, 1984; Melchers, 1987; Leitch, 1995).

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