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Porque a imprensa esconde as boas notícias

sobre armas de fogo


Por John R. Lott, Jr.

As pessoas temem as armas. E com tantas notícias horríveis sobre crimes cometidos
com armas de fogo, é difícil esperar que se sintam diferente. Verdade, armas facilitam
que coisas ruins aconteçam, mas também tornam mais fácil para as pessoas se
protegerem.

Logo, com a aparente avalanche de más notícias, não é de se estranhar que as pessoas
achem difícil acreditar que, de acordo com algumas estimativas, ocorrem 2 milhões usos
defensivos de armas de fogo a cada ano e que armas são empregadas defensivamente
quatro vezes mais do que são usadas para cometer crimes.

Uma reação normal seria: Se o uso defensivo realmente ocorre, não deveríamos escutar
estas histórias nos noticiários? Há uma boa razão para a confusão. Em 2001 (o último
ano disponível), ABC, CBS e NBC discorreram 190.000 palavras sobre crimes
cometidos com o emprego de armas de fogo em seus noticiários nacionais, matutinos e
noturnos. Entretanto, não mencionaram nenhuma história sobre um cidadão comum
usando sua arma para barrar um crime. A única emissora que encontrei que mencionou
relatos sobre o uso defensivo de armas de fogo foi o canal de notícias da FOX.

A mídia impressa fora quase toda assimétrica: O New York Times discorreu 50.745
palavras sobre crimes cometidos com armas de fogo, exceto uma pequena história (de
163 palavras) sobre um policial aposentado que usou sua arma para frustrar um roubo.
Para o USA Today, o computo foi de 5.660 palavras sobre crimes cometidos com armas
de fogo contra zero de usos defensivos.

Parte da razão de o uso defensivo de armas de fogo não ser mencionado talvez seja por
simples julgamento dos fatos a serem noticiados. Se o editor de um noticiário ficar
diante de duas histórias, uma com um corpo no chão e outra na qual uma mulher acenou
sua arma e o agressor fugiu, sem nenhum disparo, a maioria deles ficará com a primeira
história como a mais relevante. É estimado que quando pessoas usam armas
defensivamente, 90% das vezes eles barram os criminosos apenas acenando suas armas.

Poucas pessoas sabem que cidadãos usando armas ajudam a impedir quase um terço dos
massacres em escolas antes da polícia chegar. Elas não sabem disto porque apenas 1%
das notícias menciona estes casos.

Tome como exemplo a propalada cobertura do ataque ocorrido ano passado na


Appalachian School of Law, na Virginia. O ataque foi frustrado por dois estudantes que
pegaram suas armas que estavam dentro dos seus carros. Mas apenas três notícias –
dentre as 218 que apareceram na semana após o ataque – mencionaram que os
estudantes na verdade usaram suas próprias armas para cessar o ataque.

O desequilíbrio nos noticiários é provavelmente maior em casos nos quais crianças


morrem vítimas de disparos acidentais. A maioria das pessoas tem assistido a
propagandas públicas com gravuras ou vozes de crianças entre as idades de 4 a 8 anos –
nunca acima dos 8 anos – e a impressão que fica é a de que há uma epidemia de mortes
acidentais envolvendo crianças.

A verdade é que em 1999, 31 crianças menores de 10 anos morreram fruto de disparos


acidentais e apenas 6 destes casos pareceram envolver outra criança com menos de dez
anos como culpada. Qualquer morte é trágica, mas com mais de 90 milhões de
americanos detentores de armas de fogo, e quase 40 milhões de crianças menores de 10
anos, é difícil pensar em qualquer outro produto doméstico que represente tão baixo
risco a uma criança. Mesmo assim, mais crianças menores de 5 anos morrem afogadas
em banheiras ou baldes.

Mortes relacionadas a armas de fogo são cobertas extensivamente e com proeminência,


com casos individuais aparecendo em até 88 noticiários. Em contraste, quando uma
criança usa uma arma de fogo para salvar vidas, o evento no máximo ganha uma breve
nota no jornal local.

Como um grupo de repórteres me disse, jornalistas se sentem desconfortáveis


imprimindo estas noticias positivas sobre armas de fogo porque eles acreditam que elas
encorajarão crianças a terem acesso a armas. Todo o processo se torna uma bola de
neve, contudo, porque a exasperação dos riscos – acompanhada de uma falta de
cobertura dos benefícios – cimenta os riscos persistentes mais e mais firmemente nas
mentes dos editores e repórteres dos jornais. Isto os tornam ainda mais relutantes em
publicar estes fatos.

A falta de equilíbrio domina não apenas os meios de comunicação, mas também os


relatórios e pesquisas do governo. Estudos realizados pelos departamentos de Justiça e
do Tesouro tem a muito contabilizado apenas os custos que as armas impõem à
sociedade. Todos os anos, o Tesouro publica um relatório sobre as 10 armas mais usadas
em crimes, e cada relatório serve como base para dezenas de notícias. Mas porque
também não proporcionar nos relatórios – ao menos uma vez – as 10 armas mais usadas
defensivamente? Similarmente, inúmeros relatórios governamentais estimam os custos
decorrentes de ferimentos provocados com armas, mas nenhuma mensura o número de
ferimentos prevenidos quando armas são usadas para a defesa.

Contudo, se realmente queremos salvar vidas, precisamos lidar com a verdade sobre
armas de fogo na sua inteireza – incluindo os não possuir uma. Nós nunca, por exemplo,
escutamos sobre famílias que não puderam se defender e foram agredidas por não
possuir armas.

Discutir somente os custos das armas e não seus benefícios colocam em risco real
a segurança pública, com pessoas cometendo erros em como defenderem a si e à
sua família.

Tradução: Diogo Siqueira

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