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Universidade do Sul de Santa Catarina

MODELAGEM MATEMÁTICA MUSICAL

Silvia Regina Dowgan Tesseroli de Siqueira


silviadowgan@hotmail.com

Kelser De Souza Kock 1


Kelser.Kock@unisul.br

Universidade do Sul de Santa Catarina - Unisul

Resumo
A matemática e a música sempre caminharam juntos no universo da ciência, e sua
modelagem acompanha problemas em física dentro do escopo da ondulatória. O
objetivo deste trabalho foi modelar matematicamente a relação das ondas sonoras que
representam as notas ou frequências, bem como intervalos musicais. Foram
demonstradas as equações pertinentes e utilizados os softwares Graph e Modellus para
ilustrar as funções modeladas.

Palavras-chaves: modelagem matemática, música, frequências musicais.

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Professor(a) orientador(a) do Curso de Matemática - Bacharelado.
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Universidade do Sul de Santa Catarina

1. Introdução

A matemática e a música caminham juntas desde os primórdios. O Quadrivium


do matemático grego Pitágoras (540 a.C.) incluía o estudo dos números, dividido em
aritmética (estudo das quantidades) e música (relações entre essas quantidades), e o
estudo das grandezas, divididas em geometria (grandezas em ‘repouso’) e astronomia
(grandezas em movimento) (MARTINS, 2015, pg.15). Foi Pitágoras quem criou a
primeira escala musical com uma lógica científico-matemática (MARTINS 2015,
pg.15) e identificou primeiramente as frequências como importantes na construção da
consonância dos sons (GOTO, 2009, pg.2307-2). Utilizando uma corda única, ele
percebeu que as frações da corda que a dividiam em 2:1, 3:2 e 4:3 eram particularmente
agradáveis ou consonantes aos ouvidos, enquanto as demais eram dissonantes (GOTO
2009, pg.2307-2; ZANATO, 2017; pg.30).

Os intervalos da escala diatônica de Pitágoras correspondiam à oitava (1:2),


quinta (2:3) e quarta justa (3:4), cujos números compunham a Tetraktys (ou princípio
gerador de tudo) (MARTINS, 2015, pg.16). Na Idade Média, foi proposta por Guido
d’Arezzo a pauta para a notação musical e os nomes das notas (do, re, mi, fa, sol, la, si),
ampliando-se o interesse pelos intervalos em sua aplicação na harmonia. Houve grande
difusão da teoria musical nesse período, especialmente pela obra De Institutione Musica
de Boécio (MARTINS, 2015, pg.16; ZANATO, 2017, pg.26). A partir do século XVII,
a matematização característica da Revolução Científica também influenciou o estudo da
música, como nos trabalhos de Galileu Galilei (frequências sonoras, consonâncias e
dissonâncias), Marin Mersenne (Leis de Mersenne, velocidade do som, divisão da
oitava em 12 partes desiguais e iguais), Joseph Sauveur (ondas estacionárias em cordas
– nó e ventre – e harmônico), Christian Huygens (teoria ondulatória) e Isaac Newton
(ótica e sons musicais, propagação do som). A partir do século XVIII, desenvolveu-se a
acústica teórica e o temperamento igual, e nos séculos seguintes, houve grandes avanços
em tecnologia do som, que também dependeu dos modelos matemáticos desenvolvidos
para isso (MARTINS, 2015, pg.17).
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2. Dados gerais do problema de estudo

Ao ouvirmos música, em geral não ocorre que esta é um fenômeno físico


composto por ondas que vibram em determinadas frequências (PETERSEN, 2001, pg.1;
ZANATO, 2017, pg.38), e que por isso podem ser modeladas matematicamente.

2.1 Enunciado do problema

O objetivo deste trabalho foi apresentar a modelagem matemática das ondas


sonoras que representam as notas ou frequências musicais.

2.2 Relevância do problema

O som ou onda sonora é uma onda mecânica, ou seja, um fenômeno físico


caracterizado por propagação de energia e quantidade de movimento sem propagação de
matéria em vários meios, sejam eles gases, líquidos ou sólidos (ZANATO, 2017;
pg.38). Sendo periódica, é passível de modelagem matemática através de funções
trigonométricas (MARTINS, 2015, pg.22).

As ondas podem ser estacionárias (quando em meio de dimensão finita), e sua


propagação pode ser esférica ou plana, e transversal ou longitudinal quanto à direção de
propagação em relação à oscilação. Ao se encontrarem, ocorre interferência entre elas
(construtiva ou destrutiva), ou ainda pode haver picos de amplitude que caracterizam
batimentos (quando as frequências são muito próximas) (MARTINS, 2015, pg.23).

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Havendo contextualizado o problema no campo matemático-físico, as


características das ondas e do som que serão objeto de estudo neste trabalho
apresentam-se descritas na próxima seção.

2.3 Objetos de Estudos

As ondas possuem comprimento (distância de uma oscilação completa, λ),


amplitude (distância entre a crista da onda e o eixo de propagação, A), frequência
(número de oscilações por unidade de tempo, f) e período (tempo de uma oscilação
completa, inverso à frequência, T) (MARTINS, 2015, pg.23; ZANATO, 3017, pg.39).
Como o som é caracterizado por ondas, então também possui estas características, além
de outras próprias (oriundas destas), que são denominadas: altura, intensidade e timbre.

A altura está relacionada à frequência das ondas que caracterizam as notas


musicais; a intensidade é o volume do som, ou, em termos físicos, a taxa média de
transmissão de energia por unidade de amplitude da onda; e o timbre é o tipo de som
que caracteriza cada instrumento musical ou fonte de som, definido pelo formato da
onda (ZANATO, 2-017; pg.28). Também devemos definir o intervalo (i), que é a razão
entre duas frequências ou notas musicais (MARTINS, 2015, pg.23-24).

Podemos dividir o estudo matemático da música na compreensão da frequência


sonora (que determina as notas musicais) e da consonância ou dissonância dos sons (que
corresponde à harmonia de intervalos entre notas) (GOTO, 2009, pg.2307-1).

2.4 Variáveis e parâmetros do problema

As variáveis e os parâmetros do problema encontram-se listadas abaixo:

λ: comprimento de onda (distância de uma oscilação completa)

L: comprimento total de uma corda

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n: números inteiros positivos 1,2,3,...,n

v: velocidade de propagação da onda sobre a corda

r: razão

k, a, p e φ: parâmetros da função genérica de uma onda

A: amplitude em decibéis (dB) ou Pascais (Pa), influenciada pelo parâmetro a

T: período em metros: , influenciado pelo parâmetro p

f: frequência em Hertz (Hz – oscilações por segundo)

i: intervalo entre duas frequências em f1 : f2

k e φ (fase): parâmetros que deslocam verticalmente e horizontalmente o gráfico,


respectivamente

t: tempo, relativo ao eixo x no gráfico da onda sonora

P: pressão em decibéis (dB) ou Pascais (Pa), relativo ao eixo y no gráfico da


onda sonora

Pa: Pascal (unidade de pressão):

dB: decibéis (unidade de pressão). A constante 2 x 10-5 Pa é considerada o limiar


auditivo, ou 0 decibéis (20*log1 = 0) (PETERSON, 2001, pg.3).

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N (Newton): tensão em

d: densidade em

3. Resolução detalhada do problema

3.1 Modelagem matemática das frequências musicais

Como descrito anteriormente, as frequências ou notas musicais devem ser


compreendidas como ondas, cuja característica oscilatória determina que o modelo
matemático adequado é o da representação trigonométrica (MARTINS, 2015, pg.25;
ZANATO, 2017, pg.41), cuja função genérica é:

Os parâmetros k, a, p e φ apresentam as seguintes influências no gráfico da onda


mecânica (MARTINS, pg.25-26):

k: deslocamento vertical do gráfico

a: mudança da amplitude A

p: mudança do período T

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φ: deslocamento horizontal do gráfico

Estes aspectos podem ser observados nos gráficos 1 a 4, que foram elaborados
com o auxílio do software Graph.

Gráfico 1. Influência do parâmetro k na onda mecânica

Fonte: adaptado de MARTINS, 2015, pg.25-26

Gráfico 2. Influência do parâmetro a na onda mecânica

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Fonte: adaptado de MARTINS, 2015, pg.25-26

Gráfico 3. Influência do parâmetro p na onda mecânica

Fonte: adaptado de MARTINS, 2015, pg.25-26

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Gráfico 4. Influência do parâmetro φ na onda mecânica

Fonte: adaptado de MARTINS, 2015, pg.25-26

No caso da música, temos que a frequência da onda corresponde à altura do som ou nota
musical (PETERSON, 2001, pg.1), sendo que quanto maior a frequência (mais
oscilações por segundo), mais aguda é a nota, e quanto menor a frequência (menos
oscilações por segundo), mais grave é a nota (ZANATO, 2017, pg.40). Além disso,
temos que a pressão (frequentemente em dB, no caso de ondas sonoras) é a variável
dependente (eixo y), e o tempo é a variável independente (eixo x). A amplitude A da
onda é uma medida de pressão (dB ou Pa), a frequência f é uma medida de oscilações
em relação ao tempo (Hz) e o comprimento da onda é a distância entre as duas cristas
(PETERSON, 2001, pg.1). O gráfico 5 ilustra a onda mecânica da frequência musical.

Gráfico 5. Onda da frequência musical: gráfico produzido no software Modellus a partir


da equação:

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P: pressão (dB), t: tempo (segundos), A: amplitude (60 dB), f: frequência (100 Hz), T: período
(1/f = 0,01 segundos)

Fonte: adaptado de PETERSON, 2001, pg.1

O comprimento de onda λ de sons produzidos por uma corda de comprimento L


é determinado por: . Tanto frequência (f) quanto comprimento de onda (λ) estão

relacionados com a velocidade (v) com que a onda se propaga na corda: ,

sendo que: (GOTO, 2009, pg.2307-2; ZANATO, 2017, pg.40).

As frequências audíveis aos humanos variam de 20 Hz a 20.000 Hz


(PETERSON 2001, pg.2, GOTO 2009, pg.2307-1), o que proporciona um amplo
espectro que corresponde a uma variedade de instrumentos musicais, com amplitude de
frequências variada. Instrumentos maiores geralmente são mais graves do que os
menores (independentemente se são de cordas ou sopro), e as trastes do violão são
situadas cada vez mais próximas uns das outras quanto mais próximas do corpo do
instrumento (PETERSON, 2001, pg1). Temos que o piano é um dos instrumentos com
maior amplitude, indo de 27,5Hz a 4.224 Hz, ou do la mais grave (la0) até o do mais
agudo, sete oitavas acima (do8) (GOTO, 2009, pg. 2307-1). A Figura 1, adaptada de

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PETERSON (2001, pg.2), apresenta a amplitude de frequências de alguns instrumentos


e registros de vozes humanas.

Figura 1. Amplitude de frequência de alguns instrumentos musicais e registros de vozes


humanas

CONTRALTO

BAIXO

Fonte: adaptado de PETERSON, 2001, pg.2

Na escala logarítmica em decibéis, temos que, enquanto 0 é o limiar auditivo


humano, 120 é o limite de dor à pressão auditiva. Podemos observar na Figura 2 uma
linha de intensidade de sons variados.

Figura 2. Distribuição dos sons de acordo com sua intensidade, em decibéis (dB)

0 20 40 60 80 100 120

Limiar auditivo Sala de estar Tráfego intenso Avião

Farfalhar das folhas Conversação Discoteca Limiar doloroso

Fonte: adaptado de PETERSON, 2001, pg.2

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As frequências (f) ou notas musicais podem ser determinadas pelo comprimento


da corda que vibra e as produz, de acordo com a fórmula (PETERSON, 2001, pg.3):

, onde L é o comprimento da corda, d é a densidade da corda e f a


frequência produzida.

Observa-se que a frequência f da nota musical pode ser aumentada com o


aumento da tensão da corda ou ao ser encurtada (seja porque foi cortada, ou porque foi
limitada pelo dedilhado ou por trastes, por exemplo), e pode ser diminuída com o
aumento da densidade d da corda (PETERSON, 2001, pg.3). A metade do comprimento
de uma corda dobra a sua frequência e corresponde ao que denominamos uma oitava
acima, ou seja, a mesma nota, porém mais aguda. Como exemplo, se observarmos uma
corda cuja vibração produza a nota la na frequência de 440 Hz (que é a frequência
utilizada para a afinação dos instrumentos em geral) e formos dividindo-a sempre pela
metade, geraremos notas la cada vez mais agudas, e teremos uma série com progressão
geométrica (440Hz, 220Hz, 110Hz, 55Hz) cujo elemento posterior é sempre dividido
por 2, o que, em ordem crescente, corresponde à multiplicação por 2 e a uma função
exponencial (PETERSON, 2001, pg.4) (Gráfico 6).

Gráfico 6. Função exponencial das oitavas. Gráfico produzido no software Modellus a


partir da equação: f(x) = 2x

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3.2 Série harmônica

Se observarmos as curvas efetivamente emitidas pelos instrumentos (Figura 3),


perceberemos que há diferenças entre eles, o que caracteriza seus diferentes timbres
(ZANATO, 2017, pg. 41). Isso se deve ao fato de que os sons geralmente não são
únicos e sim complexos, caracterizados por uma soma de frequências sonoras ou série
harmônica (MARTINS, 2015, pg.24). Cada uma das partes dessa série é denominada
parcial (sendo a primeira, fundamental, e os harmônicos, seus múltiplos inteiros)
(MARTINS, 2015, pg.24). Ao traduzirmos este texto para termos matemáticos, teremos
que o som é uma combinação linear de ondas sonoras com frequências harmônicas de
acordo com a fórmula: fn = n.fo, em que fo é a frequência fundamental para n inteiros
positivos = 1,2,3,...,n (GOTO, 2009, pg. 2307-3).

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Figura 3. Curvas relativas a diferentes instrumentos ao emitirem a mesma nota em


mesmo volume, caracterizando seu timbre

FLAUTA

OBOÉ

VIOLINO

Fonte: adaptado de PETERSON, 2001, pg.5

Na série harmônica, a primeira ou fundamental vai se dividindo na seguinte


sequência: 1, ½, 1/3, ¼, 1/5, 1/6, 1/7, 1/8, o que a gera, como no exemplo: 55Hz (la
grave), 110Hz (la, uma oitava acima), 165Hz (mi), 220Hz (la duas oitavas acima),
275Hz (do sustenido), 330Hz (mi, uma oitava acima), 385Hz (sol), 440Hz (la, três
oitavas acima), .... Podemos observar que esta é uma série aritmética (progressão
aritmética), em que uma constante é adicionada ao próximo item (nesse caso, a
constante é 55) (PETERSEN, 2001, pg.5), cuja superposição de sons gera a função:

(ZANATO, 2017, pg.43). A princípio, toda fonte de som tem a capacidade de produzir
toda a série harmônica, no entanto, os materiais e o sistema mecânico do instrumento
acabam por amortecer partes do som, o que molda o timbre do instrumento (GOTO,
2009, pg.2307-3). Embora o comprimento de onda e a altura sejam os mesmos (se

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tocada uma determinada nota no mesmo volume, independentemente se for uma flauta,
um violino ou um piano), há uma diferença devido à amplitude relativa de harmônicos
mais altos (PETERSON 2001, pg.6). Essa variação no formato das curvas do som, de
acordo com o timbre do instrumento, pode ser definida pelos coeficientes de Fourier,
cuja imagem é a soma das curvas dos harmônicos que estamos ouvindo
simultaneamente. As Séries de Fourier são periódicas definidas por:

(ZANATO, 2017, pg.47-49). Os instrumentos eletrônicos utilizam desses modelos, e


embora se pareçam com os instrumentos originais, eles soam falsos porque não incluem
a variação natural do musico ao tocar o instrumento (interpretação, vibrato,
musicalidade...) (PETERSON 2001, pg.7).

3.3 Intervalos musicais

Se f1 e f2 são frequências ou notas, a notação matemática para o intervalo entre


elas é r = f2 : f1 (GOTO 2009, pg.2307-1). Os intervalos consonantes são frações da
oitava (GOTO 2009, pg.2307-2). Quando tocados simultaneamente, eles compõem um
acorde, que pode soar consonante ou desarmônico de acordo com as características da
série harmônica produzida pelos diferentes sons (ARCANJO, 1918, pg.144-148).

Os harmônicos dão a sensação de consonância do som entre duas notas musicais


(MARTINS, 2015, pg. 24). Quando há duas ondas simultâneas, mas com pequeno
intervalo entre elas (por exemplo, 100Hz e 110 Hz), elas são denominadas batimentos

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(ou picos de amplitude) e não são agradáveis ao ouvido humano (dissonâncias). Isso se
dá pela desarmonia na série harmônica entre elas. Uma oitava tem alinhamento perfeito
entre as séries harmônicas (e por isso as percebemos como a mesma nota, com diferença
de altura – MARTINS 2015, pg.25), a quinta tem um bom alinhamento e pouca
proximidade de frequências que criassem dissonâncias, e as terças apresentam distância
suficiente entre as frequências para também soarem como harmônicas. Já outros
intervalos soam mais desarmônicos, como quinta menor, terça menor e segundas
(PETERSON 2001, pg.10). A Figura 4 ilustra o grau de dissonância de acordo com o
intervalo musical.

Figura 4. Quantidade de dissonância de acordo com o intervalo

Razão entre frequências

Quantidade
Oitava
Terça Quarta Quinta Sexta
de
menor justa justa maior
dissonância
Unís
sono Terça maior

Fonte: adaptado de PETERSON, 2001, pg.10

A razão entre as frequências de duas notas é inversamente proporcional ao


comprimento de corda, ou seja,

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, sendo 9/8 correspondente a diferença de um tom, 3/2 correspondente à quinta, 4/3


correspondente à quarta justa, e 2/1 correspondente à oitava (GOTO, 2009, pg.2307-2).
Há dois semitons na escala musical, que correspondem à razão 256/243 (GOTO, 2009,
pg.2307-3), e embora um semitom deve-se corresponder à metade do tom, na realidade
ele é um pouco menor do que isso, o que pode ser demonstrado conforme abaixo
(GOTO, 2009, pg.2703-3):

A partir dos estudos de Pitágoras, foi determinada a escala de entonação justa,


contendo intervalos de tom maior (9/8 = 1,125), tom menor (10/9, 1,111) e semitom
(16/15 = 1,06666...) (GOTO, 2009, pg.2703-3), cujas frequências (a partir do la 440Hz)
podem ser observadas nas Figuras 5 e 6. As diferenças observadas nas escalas menores,
quando comparadas às escalas maiores, são associadas a sentimentos antagônicos,
sendo que as escalas menores geram sentimentos tristes e as maiores, sentimentos
alegres (GOTO, 2009, pg.2703-3).

Figura 5. Intervalos entre notas na escala de entonação justa

Fonte: GOTO, 2009, pg.2307-3

Figura 6. Frequências relativas (em Hz) aos intervalos a partir de la central como nota
fundamental (440Hz)

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Fonte: GOTO, 2009, pg.2307-3

As escalas de entonação justa soam harmônicas e podem ser aplicadas a


diferentes fundamentais. No entanto, do ponto de vista prático, suas relações desiguais
de frequência dificultam a transposição musical entre tonalidades diferentes ou a
harmonia entre instrumentos distintos utilizados na mesma peça, o que levou à criação
da escala temperada ou cromática a partir do século XVIII (GOTO, 2009, pg.2703-3). O
cálculo é baseado nos 12 semitons da oitava (separadas em intervalos iguais), com razão
de frequência r (sendo fn = rn . fn-1, onde há uma fo que é a fundamental e serve como
referência, e n = 1,2,3,...,12). (PETERNSON, 2001, pg.12; GOTO, 2009, pg.2703-3).
Nesta escala, os bemóis e sustenidos adjacentes, que eram diferentes na escala justa,
passaram a ser iguais, o que é perceptível somente para ouvidos treinados. Temos assim
que os intervalos entre semitons tem razão 1,059 e os intervalos entre tons tem razão
1,122, conforme demonstrado pelo cálculo abaixo:

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho, pudemos observar a modelagem matemática da onda sonora


musical, que corresponde às frequências ou notas musicais, e que pode ser representada
por uma função trigonométrica devido à sua periodicidade. As oitavas musicais podem
ser dispostas em uma série de progressão geométrica, enquanto que as notas musicais da
série harmônica, que compõem o som que ouvimos a partir de uma nota fundamental,
apresentam-se como uma progressão aritmética. Há relações de proporção entre as
frequências das notas musicais que se apresentam mais consonantes ou dissonantes a

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depender do quão harmônicas são suas séries harmônicas individuais, e o timbre dos
instrumentos e registros vocais são compostos pelos valores desta mesma série,
modulados em sua intensidade por características mecânicas e físicas.

Os softwares Graph e Modellus foram utilizados para ilustrar as funções


modeladas, sendo ambos extremamente úteis para a visualização. O software Modellus,
em particular, dado seu caráter dinâmico, é mais representativo por apresentar o
desenvolvimento dessa função que é dependente do tempo.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARCANJO, Samuel. Lições elementares de teoria musical. São Paulo:


Ricordi.1918.163pp.

GOTO, Mario. Física e música em consonância. Revista Brasileira de Ensino de


Física, v. 31, n. 2, 2307 (2009).

MARTINS, Daniel Francisco de Paula Sodré. Escalas, Inversas e Tríades: A


Matemática aplicada à Música. Dissertação de Mestrado. Centro de Ciências e
Tecnologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. 2015. 59p.

PETERSEN, Mark. Mathematical Harmonies.


<http://people.math.sc.edu/sharpley/math750/MathMusic.pdf> acessado em
13/08/2019.

ZANATO, Fernando da Silva. Matemática e música: reações entre as séries e


transformadas de Fourier e a teoria musical. Dissertação de Mestrado. Universidade
do Estado de Mato Grosso. 2017. 85p. <https://docplayer.com.br/78022512-
Matematica-e-musica-relacoes-entre-as-series-e-transformadas-de-fourier-e-a-teoria-
musical.html> acessado em 15/08/2019.

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