Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1 1 d2 T (t) 1 d2 F (x)
2 2
= = −k 2 (2)
∗ thcfreitas@yahoo.com.br c T (t) dt F (x) dx2
Physicæ 8, 2009 19
T. C. de Freitas e A. L. Junior
Assim tem-se uma equação espacial em F (x) e outra tem- guitarra elétrica, cavaquinho ou bandolim, onde temos a
poral em T (t), nominalmente: palheta ou plectro. No cravo, temos um mecanismo que
aciona uma espécie de plectro de pena de ganso ou casco
d2 F (x) de tartaruga contra a corda. No caso do piano existe
+ k 2 F (x) = 0 (3)
dx2 uma peça móvel chamada martelo, o qual colide direta-
d2 T (t) mente com as cordas, fornecendo assim energia para elas
+ k 2 c2 T (t) = 0. (4) vibrarem, sendo estas as cordas percutidas.
dt2
A evolução espaço-temporal de uma corda é regida pela
Para ambas trabalharemos com as famı́lias de soluções seguinte equação
oscilatórias, sendo A e B constantes a serem definidas
pelas condições de contorno. Definindo a freqüência
angular através da relação de dispersão ω = kc, lem- 1 ∂ 2 f (x, t) ∂ 2 f (x, t)
brando a relação entre a freqüência e a freqüência an- 2 2
= (9)
c ∂t ∂x2
gular como sendo ω = 2πf , e introduzindo uma fase φ
na solução temporal, a ser determinada pelas condições onde a função f (x, t) representa o deslocamento da
iniciais, temos posição de equilı́brio da corda em função do espaço e
do tempo e c é a velocidade de propagação da onda
na corda. A dedução detalhada desta equação pode ser
F (x) = A cos(kx) + B sin(kx), (5) encontrada em [17]. A separação desta equação, com
T (t) = cos(ωt + φ). (6) f0 = 0, resulta na eq.(3) para a parte temporal cuja
solução é dada pela eq.(6) e na eq.(4) para a parte espa-
O mesmo processo pode ser usado para a equação da cial, cuja solução, eq.(5), deve satisfazer as condições de
viga contorno para uma corda fixa em ambas as extremidades:
f (x = 0, t) = f (x = L, t) = 0. A primeira condição apli-
cada a eq.(5) leva a A = 0, e da segunda condição é
1 ∂ 2 f (x, t) ∂ 4 f (x, t) necessário que se verifique a igualdade B sin(kL) = 0.
= − =0 (7)
c4 ∂t2 ∂x4 Para que a solução não seja trivial é necessário que
k = nπL , com n inteiro.
onde −k 4 é usado como constante de separação, resul-
tando na eq.(4), para a parte temporal, porém com a Assim a solução geral pode ser escrita como uma
seguinte relação de dispersão ω̃ = k 2 c2 , onde a freqüência combinação linear adequada destas soluções para cada
angular passa a ser proporcional ao quadrado do número valor de n, onde ωn = nπc L , sendo Cn o coeficiente que
de onda. está associado à intensidade de cada harmônico e φn a
Para a parte espacial resulta fase associada ao n-ésimo harmônico, a qual advém das
condições iniciais.
d4 F (x)
− k 4 F (x) = 0 (8)
dx4 ∞
X nπx
f (x, t) = Cn sin cos(ωn t − φn ). (10)
cujas soluções de interesse serão obtidas com mais L
n=1
detalhes na seção 5, por ser raramente tratada em livros
de Fı́sica e geralmente fazendo parte do conteúdo op- O comportamento espacial do primeiro harmônico, n =
cional nem sempre visto nos cursos de cálculo integral e 1, e do segundo harmônico, n = 2, correspondente à eq.
diferencial [16]. (10) é mostrado na figura 1.
Sendo µ a densidade linear da corda e τ a tensão apli-
cada na corda, a energia cinética Ek (t) e a energia po-
3. CORDAS
tencial Ep (t) da corda são dadas por
Physicæ 8, 2009 20
Introdução à modelagem fı́sica dos instrumentos musicais
ω2
2
∇ + 2 h(x, y) = 0. (13)
c
1 ∂ ∂f 1 ∂2f 1 ∂2f
r + 2 2 = 2 2. (14)
Isto sugere que cada modo de vibração pode ser r ∂r ∂r r ∂θ c ∂t
considerado como possuindo um valor próprio de energia,
sendo independente dos demais. Para as cordas percu- Supondo a solução como um produto de três funções
tidas os coeficientes seguem Cn ∝ n−1 e para as cordas da forma f (r, θ, t) = R(r)Θ(θ)T (t), onde R(r) está
dedilhadas e friccionadas Cn ∝ n−2 . associada à parte radial da solução, Θ(θ) à parte angu-
Como se verifica na figura 1, cada harmônico está lar e T (t) à parte temporal, a equação torna-se separável
associado a uma divisão geométrica da corda em segmen- dando origem às equações
tos iguais, de tal forma que para um harmônico n qual-
d2 T (t) d2 Θ(θ)
quer, a corda se divide em n segmentos iguais de com- = −k 2 c2 T (t) , = χΘ(θ) ,
primento L/n. No caso de um violão, quando se dedilha dt2 dθ2
a corda exatemente no meio, o primeiro harmônico é fa-
vorecido pois possui um máximo nesta posição, porém d2 R(r) 1 dR(r) 2 χ
o segundo harmônico é assim eliminado uma vez que 2
+ + k + 2 R(r) = 0.
dr r dr r
apresenta um nó nesta posição. Sempre que uma corda
é dedilhada, friccionada ou percutida em L/n, ocorre a A partir da relação de dispersão kc = ω, porém usando
eliminação do harmônico associado a n, o que provoca exponenciais complexas no lugar da eq.(6), as soluções da
mudanças no timbre obtido. Isso é usado no piano [3], equação temporal serão dadas por:
onde o martelo atinge a corda em L/9 de sua extremi-
dade, eliminando o 9◦ harmônico, o que dá um timbre T (t) = eiωt + e−iωt . (15)
mais agradável ao som.
Na equação em Θ(θ), χ é o autovalor que está associado
às oscilações angulares da solução, o argumento de peri-
4. MEMBRANAS odicidade da função angular exige que χ = −m2 , com
m = 0, 1, 2, . . . , o qual será responsável pelo número de
nós angulares na membrana. Para cada valor de m a
Uma membrana pode ser entendida como sendo a
solução é:
extensão para mais uma dimensão espacial de uma corda,
desta forma deseja-se obter o deslocamento de um ponto Θm (θ) = Am cos(mθ) + Bm sin(mθ). (16)
(x,y) em torno da posição de equilı́brio como função do
tempo. A equação diferencial associada à membrana Em termos das quantidades definidas anteriormente a
bidimensional [18] é: equação radial fica
1 ∂ 2 f (x, y, t) ∂ 2 f (x, y, t) ∂ 2 f (x, y, t) d2 R 1 dR 2 m2
2 2
= + . (11) + + k − 2 R = 0. (17)
c ∂t ∂x2 ∂y 2 dr2 r dr r
Physicæ 8, 2009 21
T. C. de Freitas e A. L. Junior
Sendo esta a equação de Bessel, que admite soluções Da segunda condição, por meio da diferenciação em
da forma: relação a t, obtemos
0 ∞ X
∞
R(r) = Cm Jm (kr) + Cm Nm (kr) (18) X r
v(r, θ, t = 0) = Jm αmn × (24)
m=0 n=1
a
sendo Jm (kr) a função de Bessel de ordem m e Nm (kr)
a função de Neumann de ordem m. Como as funções iωmn [(Amn − Āmn ) cos mθ+
de Neumann apresentam comportamento irregular na (Bmn − B̄mn ) sin mθ]
origem, elas devem ser descartadas.
Para os autovalores do problema temos kmn = αmn a , de maneira inteiramenta análoga a anterior temos que
onde αmn são raı́zes da função de Bessel, o que garante Z a Z 2π
que sempre teremos u(r = a, θ, t) = 0, que é a condição
r
v0 (r, θ) cos(mθ)rJm αmn drdθ = (25)
da membrana estar engastada. Escrevendo a solução 0 0 a
como uma soma dupla, em m e n, e usando a condição de πa2
que a solução deve ser real, temos que ter a combinação i wmn [Jm+1 (αmn )]2 (Amn − Āmn ), m 6= 0
2
das exponenciais complexo conjugadas eiωt e e−iωt , bem
como os coeficientes da soma. Assim tem-se: Z a Z 2π
∞ X
∞
r
X r v0 (r, θ) cos(mθ)rJm αmn drdθ = (26)
u(r, θ, t) = Jm αmn × (19) 0 0 a
a
m=0 n=1 iπa2 wmn [Jm+1 (αmn )]2 (Amn − Āmn ), m = 0
[(Amn eiωmn t + Āmn e−iωmn t ) cos mθ+
Para o cálculo dos coeficientes Bmn e B̄mn os mesmos
(Bmn eiωmn t + B̄mn e−iωmn t ) sin mθ] passos são seguidos atentando para o fato de que a inte-
gração de sin2 mθ possui valor nulo quando m = 0. Os
Os coeficientes Amn e Bmn são determinados com o
coeficientes são:
auxı́lio das condições iniciais
Z a Z 2π h
1 iv0 (r, θ) i
u(r, θ, t = t0 ) = u0 (r, θ), Amn = u0 (r, θ) −
πa2 [Jm+1 (αmn )]2 0 0 ωmn
r
× cos(mθ)rJm αmn drdθ, m 6= 0 (27)
u̇(r, θ, t = t0 ) = v0 (r, θ). a
Physicæ 8, 2009 22
Introdução à modelagem fı́sica dos instrumentos musicais
d4 F (x) ω2 ρ
4
− F (x) = 0. (31)
dx EK 2
Usando a relação de dispersão, obtida em [17], onde v
é a velocidade de propagação do som na barra,
s
E
v2 = Kω
ρ
d4 F (x) ω 4
− 4 F (x) = 0 (32)
dx4 v
Para a qual supõe-se como solução F (x) = Aeγx , visando
determinar γ, cujas raı́zes corresponderão aos possı́veis
números de onda permitidos, assim obtém-se
ω4
γ4 =
v4
donde γ assume os seguintes valores
ω ω
Figura 2: Superior: primeiro modo normal, γ=± ou γ=± i
v v
correspondente a n = 1, m = 0. Meio: modo normal
correspondente a n = 2, m = 0. Inferior: modo normal sendo i a unidade imaginária.
correspondente a n = 1, m = 1. As linhas e circulos A solução geral é o produto da parte temporal pelas
representam regiões nodais destes modos, os sinais + e - quatro exponenciais correspondentes a cada valor de γ.
indicam que regiões adjuntas se movem em antifase. O
número n esta associado aos nós radiais, enquanto o e ωx/v + Be
f (x, t) = cos(ωt + φ)[Ae e −ωx/v +
número m esta associado aos nós angulares. e −iωx/v ].
e iωx/v + De
Ce
a equação diferencial associada [17] é agora de quarta or- Usando as propriedades das exponeciais complexas e
dem na derivada espacial, sendo esta conhecida também reais,
como equação da viga.
e±x = cosh(x) ± sinh(x) ,
Vários instrumentos musicais utilizam-se de barras em
seu mecanismo gerador de som, entre estes podemos citar ei±x = cos(x) ± i sin(x) ,
diretamente o xilofone e a marimba, nos quais barras de
metal, madeira ou outro material sintético são percutidas e definindo o número de onda k = ωv , é possı́vel reescrever
com baquetas. uma solução real em termos de novas constantes
No caso da celesta, isto não é tão imediato uma vez que h
o mecanismo composto de um martelo, semelhante ao do f (x, t) = cos(ωt + φ) A(cos kx + cosh kx)+ (33)
piano, o qual colide com uma barra metálica encontra-se
B(cos kx − cosh kx) + C(sin kx + sinh kx)+
oculto no interior do instrumento.
Esses sistemas de barras são regidos pela seguinte D(sin kx − sinh kx)] ,
equação diferencial, cuja solução é feita em detalhes em
[18] As barras de comprimento L geralmente aparecem nos
instrumentos com suas extremidades livres, como no caso
∂ 2 f (x, t) EK 2 ∂ 4 f (x, t) da celesta. Impondo as condições de contorno [19] sobre a
+ = 0. (30) parte espacial na extremidade x = 0 da eq.(33), obtém-se
∂t2 ρ ∂x4
de
em que f (x, t) é o deslocamento da posição de equilı́brio, 2
E é o módulo de Young, ρ é a densidade do material e ∂ f (x, t)
=0,
K é o raio de giração da barra. ∂x2 x=0
Physicæ 8, 2009 23
T. C. de Freitas e A. L. Junior
Physicæ 8, 2009 24
Introdução à modelagem fı́sica dos instrumentos musicais
Physicæ 8, 2009 25
T. C. de Freitas e A. L. Junior
[1] R. Resnick, D. Halliday, Oscilações. In: R. Resnick, D. [12] H. F. Olson, Music, Physics and Engineering, 2nd ed.,
Halliday, Fı́sica 2, 3a ed., Editora LTC, Rio de Janeiro, Dover Publications, Mineola, 1967.
1982, Cap. 15. [13] Disponı́vel em: http://audacity.sourceforge.net/.
[2] I. A. Hümmelgen, Cad. Cat. Ens. Fı́s. 13, 139 (1996). [14] V. Välimäki, I. Huopaniemi, M. Karjalainen, Z. Janosy,
Eur. J. Phys. 16 187 (1995). J. Audio Eng. Soc. 44, 331 (1996).
[3] J. P. Donoso, A. Tannús, F. Guimarães, T. C. de Freitas, [15] Ver: http://nusofting.liqihsynth.com/acousticmodels.html,
Rev. Bras. Ens. Fı́s. 30, 2305 (2008). http://ccrma.stanford.edu/ jos/pubs.html
[4] X. Boutillon, Mec. Ind. 1, 609 (2000). [16] W. E. Boyce, R. C. DiPrima, Higher Order Linear Equa-
[5] J. Woodhouse, A. R. Loach, Acustica-Acta Acustica 85, tions. In: Elementary Differential Equations and Bound-
734 (1999). ary Value Problems, 7th ed., John Wiley and Sons, New
[6] C. Gough, Eur. Phys. J. Special Topics 145, 77 (2007). York, 2001, Cap. 4.
[7] J. E. McLennan, Acustica-Acta Acustica, 89, 176 (2003). [17] D. E. Hall, Transverse Waves on a String, Waves: Further
[8] A. Matsutani, Jpn. J. Appl. Phys. 41, 1618 (2002). Examples. In: Basic Acoustics, 1st ed., John Wiley and
[9] E. Jansson, Acoustics for Violin and Guitar Makers Sons, New York, 1987, Cap. 7 e 8.
(KTH Institute, Sweeden 2002), 4th ed. Disponı́vel em [18] E. Butkov, Funções Especiais. In: E.Butkov, Fı́sica
http://www.speech.kth.se/publications. Matemática, 1a ed., Editora LTC, Rio de Janeiro, 1988,
[10] L. L. Henrique, Acústica Musical, 1a ed., Fundação Cap. 9.
Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2002. [19] J. W. S. Rayleigh, The Theory of Sound, 2nd ed., Dover
[11] J. Jeans, Science and Music, 1st ed., Dover Publications, Publications, New York, 1945.
New York, 1968.
Physicæ 8, 2009 26