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Egito
As Instituições
O Rei
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Apontamentos de Civilizações Pré-Clássicas - Egito
Não se pode falar da sociedade sem se começar pelo rei e pela monarquia que perdurou,
com períodos de grande esplendor e também de profundas crises, desde as dinastias
tinitas (Período Arcaico) até à época romana, ou seja, mais de 3000 anos.
O rei é deus e como tal está acima das coisas e tudo lhe pertence, desde as terras, com as
suas riquezas, até às próprias pessoas. A ele são devidos os impostos e, para ele, se
organizam expedições ao estrangeiro ou se promovem as guerras.
A monarquia egípcia, mais do que uma instituição ou um regime político, deve ser vista
como uma doutrina religiosa. (teologia real). A ideia de que o rei, sempre conhecido por
faraó (“grande casa”), está no princípio e no fim de todo o edifício nacional, político,
social e económico, pode avaliar-se pela titulatura (conjunto de nomes que faraós
usava). Os egípcios consideravam o seu rei como um deus. Ele era o Hórus
(deus dos céus e dos vivos) que mandava sobre a terra, tal como deus no céu; era o
senhor das “Duas Damas”, ou seja, do Alto e do Baixo Egito.
A partir da V Dinastia acrescentar-se-lhe-á o título de Filho de Rê, significando que era
um filho, no sentido físico, do deus solar, cujo domínio se estendia não só ao Vale do
Nilo, mas também ao mundo inteiro de que era o criador. Tendo sido este,
provavelmente, o último título, foi o que ganhou mais importância. A ideia de que rei
era gerado pelo deus Sol mantém-se e é expressa por imagens, cerca de três séculos
mais tarde, nos templos de Deir el Bahari e Luxor.
A divinização do soberano constituiu ponto essencial para sustentar as estruturas
ideológicas, religiosas e metafísicas sobre as quais assentava toda a ordem social
Na vida real, o faraó tinha grandes limitações, seja no exercício dos seus poderes, seja
na própria vida pessoal. Eram os próprios conselheiros, que já haviam servido o pai;
eram os funcionários e os escribas da corte; eram as famílias nobres e ricas que tinham
contacto com as populações locais, a quem o rei não poderia desapontar; era o clero,
sempre cioso das suas regalias e à espera de receber outras; eram os soldados, cheiros de
ambições pessoais. Era nestes meios que se geravam intrigas e se fomentavam
rivalidades que chegavam a levar ao assassínio do rei, para que outro, mais do agrado da
feição dominante, subisse ao trono. É nestes movimentos e revoltas que se encontra a
explicação para as frequentes mudanças de dinastia ou golpes de Estado.
Obviamente o rei não era deus, mas apenas um homem como os outros. Foi sobretudo
na experiência da anarquia (ideologia política que se opõe a todo tipo de hierarquia e
dominação) que o Egito experimentou a partir da VI Dinastia, que se começaram a
salientar estes aspetos de debilidade humana do faraó. É bem exemplo, o Ensinamento
para o rei Merikaré: o rei é escolhido por deus para proteger os humildes, ao mesmo
tempo que esclarece que o rei não deixa de ser um homem entre os homens com
particulares funções e responsabilidades. A realeza aprende-se como um ofício e que
para o rei impor a ordem, deverá ele próprio conformar-se à ordem universal.
A imagem do rei divino foi-se enfraquecendo progressivamente no I Período
Intermédio, mas foi, em parte, restaurada a partir da XII Dinastia. Os períodos de glória,
como foi o caso da XVIII Dinastia, favoreceram a teoria da divinização do rei.
Contribuíram para tal crença, não só os templos e celebrações de cultos à divindade do
faraó, mas também os solenes rituais da liturgia da morte do rei, recordando o bom deus
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que ia para juntos dos outros deuses. Nem a reforma religiosa, empreendida por
Akhenaton, diminuiu essa crença. O rei, dentro da sua conceção, continuava a ser filho
de Rê e filho de Amon (ou Aton, no caso deste faraó).
Apesar de ser um homem como os demais, a sua imagem distinguia-se da dos outros
homens. O faraó cortava o cabelo e a barba, mas o costume impunha que colocasse no
queixo uma barba postiça, comprida e em ponta, e usasse uma espécie de xaile a cair
sobre os ombros e, sobre a nuca, a insígnia real, uma serpente, designada habitualmente
por uraeus. Em ocasiões solenes, o faraó trazia duas coroas especiais: a branca, símbolo
do Alto Egito e a vermelha, do Baixo. Outras vezes, usava, simultaneamente, uma
espécie de barrete com a forma de coroa dupla.
Associada ao rei, estava a esposa, sendo apenas uma a que era considerada esposa e
rainha, apesar de, em teoria, todas as mulheres lhe pertencerem. Esta provinha da
linhagem real, sendo nalguns casos, filha do rei defunto, ou seja, irmã do rei, mas filha
de outra mãe. A figura oficial da rainha e a sua função na corte e no aparelho de estado
é habitualmente esquecida, mas não se deverá diminuir a sua importância. Desde o
início do Império Novo, o papel da rainha é posto em grande evidência. O seu nome
aparece, por vezes, em documentos especiais ao lado do nome do rei, usando também a
uraeus, como insígnia.
Apesar de apenas uma ser a rainha, tal não excluía a existência de outras esposas
(segundas) na vida do faraó, havendo ainda o harém, que era constituído não apenas por
mulheres egípcias, mas também por estrangeiras, por vezes princesas ou jovens de
nobre linhagem que desempenhavam funções que se inseriam no âmbito da diplomacia
da época.
A administração
Em épocas antigas, o território era dividido em 42 nomos (províncias). No Império
Antigo, a administração estava nas mãos de diversos funcionários, sendo o mais
importante em cada nomo, o governador, também conhecido por príncipe do nomo. No
Império Médio, eram na prática funcionários hereditários, embora o poder lhes viesse
do rei, que os nomeava. Eram também, habitualmente, sacerdotes da divindade principal
do lugar.
Os nomos estavam agrupados em dois “Estados”, as duas Terras ou as duas Casas do
Alto e Baixo Egito. Que continuariam sempre como uma vaga lembrança dos dois
antigos reinos, unidos no princípio da Época Tinita. Esta dualidade de raízes históricas
manteve-se representada, não só nas duas coroas do rei como em muitos outros aspetos:
templos, campos, fazem parte de uma ou de outra Casa; os altos funcionários são o
diretor das “duas tesourarias”, o diretor dos “dois celeiros de trigo”, etc.
Para a administração do país existia o vizir (mais alto funcionário do Antigo Egito para
servir ao faraó), sendo o intendente geral do reino, competindo-lhe praticamente o
governo de todo o Egito e a administração da justiça. O prestígio do vizir no conceito
popular era elevadíssimo, pois era, acima de tudo, “o amigo do Egito”.
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O exército
É a partir do Império Novo que o exército ocupa lugar de importância no Egito. Aliás,
esse “Império” foi criação do exército, sem que, entretanto, se pudesse afirmar que o
Egito no Império Novo fosse um estado militar. Desde o início desse período existia um
exército, divido em unidades de 40 homens, arqueiros ou lanceiros, comandados por
oficiais. A partir da XVIII Dinastia, para além da infantaria e da marinha, havia carros
de guerra puxados por cavalos (o cavalo não era animal para ser montado, sendo
utilizado apenas para tração). O uso do carro puxado por cavalos tinha sido importado
da Ásia Menor, sendo que sobre ele, além e uma caixa de armas, havia lugar para dois
homens: o condutor e o combatente.
A hierarquia militar era bem definida com generais e oficiais. Os comandantes de
companhia formavam o corpo de oficiais de divisão. Havia generais de divisão e outros
que, apesar de não o serem, tinham esse o título honorífico. O comando geral pertencia
a um general com honras de lugar-tenente do rei, embora, na realidade, o comandante
supremo fosse o soberano. Não faltou ao exército, nesta época, uma forte organização
administrativa.
Em todos os tempos, o exército egípcio contou com mercenários. No Império Novo,
alguns desses foram os mesmos que anteriormente haviam sido inimigos, como
aconteceu com alguns que provinham dos Povos do Mar. De inimigos passaram a servir
como tropas auxiliares e chegaram a ocupar postos de chefia no exército.
No Império Novo, a marinha desempenhou igualmente uma função importante. Havia
também uma marinha mercante destinada aos transportes pelo Nilo e pelo Mediterrâneo.
A Sociedade
A Família
A família egípcia assentava no casamento monogâmico. O homem tinha uma única
esposa legítima, embora ao lado dela pudessem viver várias concubinas e servas. O
número de umas e de outras dependia das possibilidades e económicas do homem. No
Egito, como em outras civilizações antigas (e não só), as mulheres, fossem elas
segundas esposas, concubinas ou servas, eram sinal de riqueza e ostentação do homem.
A importância deste avaliava-se pelo número de mulheres que tinha.
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Não obstante o seu número, apenas uma era a esposa legítima com a função importante
de senhora da casa. Nas famílias ricas, não faltavam, além das servas, destinadas ao
serviço doméstico, as jovens cantoras, muito elegantes e graciosas.
A imagem que nos chega é a de harmonia familiar.
Embora a monogamia fosse regra, também se conhecem casos de bigamia e poligamia,
principalmente na corte. O casamento revestiu sempre o aspeto de contrato em que
ficava garantida a situação económica da mulher e dos filhos. Também se ignoram
formalidades quanto ao divórcio, embora se saiba que tal era possível.
Não deve ser omitido o casamento entre irmãos, prática testemunhada na época
helenística. A maior parte dos soberanos da dinastia dos Ptolomeus tinha por esposa
uma irmã.
A fidelidade conjugal era proclamada como um valor a defender.
O pai desejava ter um filho para lhe transmitir a herança, para lhe perpetuar o nome e
para lhe prestar o culto funerário. Competia ao filho dar sepultura honrosa ao pai,
conservar em bom estado a sua inscrição funerária e fazer-lhe a oferta de alimentação
adequada nos dias de festa.
O quotidiano
Para se conhecer como seria a vida real, no seu dia-a-dia, deverá “ir-se” aos túmulos. É
no monumento aos mortos que está representada a vida terrena. O Egito amava-a tanto
que não podia imaginar a vida do Além sem ser à semelhança desta. Nos túmulos
avaliamos como era: a casa, as distrações preferidas, o uso da música e os instrumentos
musicais, as vestes, os penteados e as joias, o cultivo dos campos e a criação de animais,
a caça e pesca, os utensílios para o trabalho, etc.
São sobretudo cenas da vida do campo que aí podemos admirar, visto que o Egito era,
antes de mais, agricultor. Aparecem representadas as vindimas e as diversas fases de
preparação do vinho, tal como a colheita dos cerais e a preparação do pão e da cerveja,
sem faltarem também cenas de caça e de pesca.
Ao lado da vida do camponês, ficaram também representadas cenas da vida urbana. No
apogeu do Império, em pinturas de Tebas, podemos admirar como seria o luxo e o
requinte das receções mundanas. Tebas era “a mais rica capital do mundo antigo”.
Para além das reuniões, concertos e banquetes da alta sociedade, havia o trabalho do
povo comum. Camponeses, operários especializados nas mais diversas profissões, os
que tratam os animais, os padeiros e os que fabricam a cerveja, as mulheres nos seus
teares, os que trabalham para os mortos, os construtores de túmulos ou de mobiliário
fúnebre, os técnicos de mumificação, os médicos, os curandeiros, etc. O Egito era um
país de reis e altos funcionários, mas era igualmente um país de trabalhadores.
Mesmo as classes mais humildes tinham um nível de vida razoável para a época
(camponeses e operários). A grande maioria da população dedicava-se à agricultura. A
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vida dos operários não era fácil quando trabalhavam por conta de outrem e os grandes
empregadores eram o faraó e os templos.
Os escravos
Eram prisioneiros de guerra ou aprisionados por mercadores que, tendo entrado no
Egito, fiavam na posse do rei. Os escravos eram, portanto, de origem estrangeira. A
escravatura foi uma realidade considerável durante o Império Novo, quando as
campanhas militares na Ásia levaram ao Egito grande quantidade de prisioneiros.
As condições de trabalho desses prisioneiros escravizados não eram diferentes daquelas
que tinham os trabalhadores livres naturais do país. Era-lhes atribuído o direito de
arrendar ou cultivar a terra nas mesmas condições que qualquer outro indivíduo, fosse
ele militar, sacerdote ou escriba. Podiam ser herdeiros ou mesmo casar com mulheres
livres.
A Economia
A agricultura e a pesca
A economia do Egito assentava na agricultura. No entanto, há uma questão que se
impõe: a quem pertencia a terra que o camponês trabalhava?
Desde que existe a realeza no Egito, o faraó é teoricamente o proprietário de todo o
solo. O palácio real é um grande estabelecimento económico, um enorme armazém com
numerosas sucursais, para onde eram levados os produtos do país. Graças a essas
reservas estavam asseguradas as necessidades da família real, da multidão de
funcionários e dos trabalhadores que estavam ao serviço do rei.
Os camponeses trabalhavam para o soberano e a maior parte do que produziam dirigia-
se aos celeiros reais. Este sistema atingiu o seu ponto culminante no Império Antigo,
quando se contruíram as pirâmides.
As explorações económicas do país e dos habitantes exigiam um aparelho
administrativo eficaz. A partir da IV Dinastia os abusos do funcionalismo, das ambições
e interesses pessoais, obrigam o rei a pagar favores.
No decorrer da IV Dinastia, verificou-se a tendência para a privatização do solo. Na V
Dinastia, já os grandes templos se afirmavam proprietários dos campos. Com a
imunidade fiscal, o poder económico dos templos aumentou, bem como a sua influência
política, pois escapavam ao controlo da administração.
Os problemas daqui resultantes são evidentes: o faraó ao fazer certas concessões aos
sacerdotes, príncipes ou altos funcionários, para pagar ou obter favores, perdia margem
de manobra política.
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Não havendo estradas por terra, o Nilo era navegável a toda a extensão do país,
contando ainda com a rede de canais tão importantes para a fertilidade dos campos
como para as comunicações.
Existia uma grande variedade de barcos, desde aqueles que se destinavam à pesca, até
aos navios largos para transporte de obeliscos; desde os navios rápidos de remos ou de
velas, até outros bem equipados, destinados à guerra.
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