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E foi num festival de rock que o avô de Mark conheceu aquela que seria a sua avó. Alguns
anos depois e, em meados da década de 70, nascia o pai de Mark, um legítimo Generation X.
Graças a este poder de compra elevado, jamais imaginado pelos seus pais e avôs, é que
Raj tem um iPad e um iPhone, fabricados na vizinha China. Viaja o mundo para estudar e faz
parte de uma geração onde a internet acabou com as fronteiras, tanto do conhecimento quanto
de relacionamento.
Carlos tem a sorte de viver num país economicamente estável, onde a democracia recém
estabelecida ainda é sinônimo de orgulho entre os mais velhos. Pela primeira vez na história o
país começa a competir de igual para igual com grandes potências e as novidades não tardam
para desembarcar por aqui, mesmo com preços abusivos por causa dos altos impostos que
ainda são reflexos de décadas de péssima administração e endividamento.
O poder aquisitivo nunca foi tão alto entre os jovens brasileiros. Ensino superior deixa,
aos poucos, de ser item de luxo e quase todos andam por aí com seus celulares comprados em
Fortes programas de inclusão digital permitem que quase todos os jovens tenham acesso
a internet perto de casa. Lan houses espalham-se como ervas daninhas e já se fala em
“orkutização”.
Carlos, mas poderia ser eu ou você, está prestes a mudar as regras do jogo.
Vou mostrar porque o crowdsourcing está acabando com as fronteiras geográficas e onde
estão os novos centros de inteligência. Mas também vou mostrar os problemas do excesso de
conteúdo, informação e como, apesar da multidão, é fácil sentir-se sozinho e irrelevante.
Estados Unidos, Índia e Brasil. Mark, Raj e Carlos. Bem-vindo à Geração Crowdsource.
Acaba de amanhecer em São Paulo. Carlos recém acordou. Enquanto toma a segunda
xícara da café, sem açúcar, confere as atualizações dos amigos no Facebook e checa os e-mails
que chegaram durante a madrugada. Antes de sair para trabalhar numa webstartup no centro,
certifica-se que seu iPhone 3GS, ainda não deu para comprar o 4, está com a bateria completa.
Vai aproveitar o tempo ocioso no trânsito para colocar os feeds em dia. Mal sabe ele que a
internet 3G não vai colaborar.
No mesmo momento, porém respeitando o fuso horário: 14:56 em Nova Deli, Índia.
Raj acaba de chegar dos Estados Unidos para passar as férias com a família. Trouxe na
Paralelamente, 00:30 na Califórnia. Mark não vai dormir. Está decidido! Mais uma noite
programando aquela que será a próxima grande coisa da internet. Ao certo, nem ele sabe o que
será. Mas será incrível! Mark sonha em trilhar o mesmo caminho que seu homônimo famoso, o
Zuckerberg não o Twain, e ficar bilionário antes dos 30. Ou dos 25 mesmo. Para isso não se
importa em trocar sua vida social, ou o mesmo bar para falar as mesmas coisas, por uma noite
de trabalho. Querendo ou não, em tempos virtuais, vida social é Second Life.
A 3G não funcionou. Nada mais do que o esperado, afinal, que empresa entregaria um
serviço de qualidade por R$0,50/ dia? Resta a Carlos continuar ouvindo The Abbey Road, dos
Raj refletiu tanto sobre a diferença entre americanos e indianos que chegou a uma
conclusão que agora soa simples na sua cabeça: os Estados Unidos fedem! Fedem como se o
país e a sua cultura tivessem tomado banho no Ganges. Tudo está errado! Enquanto parte da
população morre de fome, outra morre de comer no McDonald’s. Tratam seus vizinhos como
inimigos e constroem muros para mantê-los longe. Chega a ser repugnante, pensa Raj. Precisa
compartilhar seus pensamentos com o mundo. Vai escrever um post, em inglês.
Alheio a Raj, Mark termina mais umas linhas do seu “código para ficar rico” e abre uma
Coca-Cola. É a segunda da noite. Acompanhada de fritas grandes e um hambúrguer de bacon.
Mal sabe ele que esta mesma Coca-Cola vai matá-lo antes mesmo que possa gastar todo o
O novo cliente da webstartup onde Carlos trabalha precisa de uma solução inovadora.
Algo que está fora das paredes pintadas de um belo “azul Facebook”. E o chefe de Carlos não
pretende perder este novo cliente. É um cliente importante. Empresa grande. Pode dar uma boa
visibilidade para webstartup que ainda engatinha. O problema é de Carlos. Ele que precisa
encontrar esta solução. Seja onde for, seja como for. E que não custe muito. Ninguém está
querendo sacrificar a margem de lucro. Carlos se lembra de um link que viu no Facebook de um
amigo enquanto tomava a primeira xícara de café do dia. Mas são tantos links, onde encontrar?
O post está quase pronto e logo todos os seus seguidores do Twitter saberão que
indianos são melhores que americanos, na opinião de Raj, claro.
4 em ponto. Quase 3 horas até amanhecer e Mark ainda não sabe de onde vai tirar o
dinheiro para colocar seu novo serviço no ar. Possibilidades são muitas, amigos, família,
investidores. Todos podem dar certo. Nenhuma pode dar certo. No momento, arrepende-se dos
5 mil dólares perdidos em Las Vegas no último verão. Faria a diferença. Mas agora prefere parar
para atualizar seu Facebook. Precisa dizer para todos os amigos que está feito. O que? Ainda é
cedo para todos saberem. Atualiza: “It’s done!”
Raj acordou do cochilo revigorado. Para seu espanto, o post ganhou uma repercussão
maior do que o esperado. Provavelmente perdeu alguns amigos americanos, mas ganhou alguns
fãs indianos. Isso seria bom? Afinal, em alguns meses teria que voltar para os Estados Unidos
para ser confundido com homem-bomba e revistado 3 vezes em todos os aeroportos. Era cedo
para tirar qualquer conclusão sobre a repercussão do texto. Um RT aqui e outro ali não vão me
fazer mal, pensa ele. E Raj estava de férias. Na Índia.
Carlos tem 801 amigos no Orkut, mas não conhece nem a metade. Metade não, um
terço. No início dava parabéns a todos no dia do aniversário, agora não. Perdeu o sentido. Se um
algoritmo precisa avisar os aniversários dos meus amigos, talvez eles não sejam meus amigos.
Raj segue quase 600 pessoas no Twitter. Sua timeline parece uma torre de babel. Tantas
ideias, opiniões, comentários, críticas, sugestões. Quase tudo se torna insignificante.
Já faz 5 dias que Mark procura um meio de levantar dinheiro. Investidores viraram uma
opção enquanto “família e amigos” foram descartados. Não é o ideal para o jovem
empreendedor, já que ele teria que entregar uma boa parte da futura grande coisa da internet.
Talvez arranjar um trabalho fosse a melhor opção. Algo que fizesse entrar dinheiro rápido. Algo
que envolvesse suas habilidades e talentos.
Tudo pronto: valores, problema, prêmio, deadline. Carlos está contente. Agora é só lançar
o desafio crowdsource, criar buzz na internet e esperar que colaboradores e soluções cheguem
aos montes. O cliente precisa de algoritmos inteligentes que tracem perfis de consumidores que
visitam o seu e-commerce e indiquem os melhores produtos. Simples? Claro que não.
A era da colaboração chegou. Seja porque agora internet esta acessível para todos ou por
O desafio está lançado. A expectativa é grande. Carlos sabe que a ideia foi dele. O mérito
pelo sucesso também será dele, mas ônus do fracasso pode contribuir para uma forçada troca
de emprego. É a primeira vez que seu cliente tem contato com o crowdsourcing e o sucesso da
campanha pode ser decisivo. Mas Carlos foi esperto, contratou a melhor plataforma de
crowdsourcing do mercado, um tal de ideias.doc, e crowdsourcing precisa ser feito por gente
que sabe.
O pessoal do ideias.doc se preparou bem e seguiu três princípios básicos para montar a
campanha para o cliente do Carlos. Primeiro eles foram extremamente claros sobre os
Mark estava cansado. Passou a noite avaliando logos para o seu novo site comprados por
99 dólares no site 99designs.com. Pensou em dormir ou tomar mais uma xícara de café. Mas
antes de qualquer ação vai conferir pela décima segunda vez na última hora as atualizações dos
seus amigos no Facebook. Mark tem amigos brasileiros também. Os conheceu num fórum sobre
PHP. Ou foi num fórum sobre Rails? Não lembrava. Mas não tinha importância.
O que chamou atenção de Mark no Facebook não foi a nacionalidade dos seus amigos,
mas sim o link que um deles compartilhou no seu mural. Era de um post no blog LabelDESAFIOS,
Mas nem só de Wikipedia vive o mundo da colaboração de conteúdo. Raj sabia disso. Há
Estava feito.
Enquanto Mark estrutura seu algoritmo, Raj começa a receber as primeiras respostas
para seu debate. Americanos discordam, indianos concordam. Tem até francês metido na
jogada. O link do grupo no Facebook já recebeu mais de 30 “Curtir” e outros tantos RT’s no
Twitter. Talvez nem Raj imaginasse que tanta gente se interessasse pelo assunto e resolvesse
colaborar com a discussão.
Mark está há duas noites sem dormir programando aquele que será a solução de todos os
seus problemas. O algoritmo vai bem, mas os concorrentes assustam. Será que ele criou algo
Carlos prepara-se para montar a segunda campanha crowdsource da empresa, para outro
cliente agora. Vai usar a plataforma ideias.doc novamente. Serviço de qualidade, os caras sabem
o que fazem, pensa ele, quando pipoca um novo e-mail na sua caixa de entrada. Um novo
relatório, novos algoritmos. Entre eles aquele que parece ser o vencedor.
O algoritmo é fora do comum. Totalmente inovador e diferente de tudo que já foi visto.
Mesmo o algoritmo de recomendação da Amazon não chega aos pés desse novo. Cliente
satisfeito. Campanha encerrada. Pensa ele. Quase 100 algoritmos até chegar o algoritmo
perfeito. Muito mais rápido e muito mais barato do que se fosse feito dentro da própria
empresa. Sem falar no tamanho da inovação. Incrível! Carlos está extasiado! Não sabe ao certo
como vai ser, mas tem certeza que o crowdsourcing vai revolucionar a forma como fazemos
Rak continua apreensivo. Recebe muitas críticas. Principalmente de pessoas que não o
conhecem, ou que não conhecem a Índia. Nem os Estados Unidos. É incrível como algumas
pessoas conseguem tirar conclusões equivocadas de assuntos que desconhecem. Se vivemos
num mundo onde a colaboração em massa quer acabar com as fronteiras geográficas, como
enfrentar pessoas preconceituosas que criticam culturas se nem ao menos terem saído dos seus
próprios quartos?
Carlos recebeu um bônus pela excelente ideia da campanha crowdsource. Criou outras
duas e foi promovido a diretor. Não aceitou. Largou a webstartup no centro e hoje trabalha em
casa com inteligência coletiva e crowdsourcing. Não precisa mais enfrentar o trânsito.
Ser jovem hoje é ter o poder de compartilhar com o mundo nossas ações. Não temos
limites para criar e a geografia não é mais barreira. O conhecimento está descentralizado e ao
alcance de qualquer dispositivo com conexão à internet. Mais do que isso, a internet possibilita
que qualquer um crie, edite e compartilhe este conhecimento. Nada mais é feito como antes.
É crônico.
Acreditamos que é preciso estar em todos os lugares que os nossos amigos estão.
Receber e compartilhar todas as informações e ainda precisamos trabalhar, estudar, namorar e
tentar ter uma vida offline. Impossível. Algo vai ser mal feito. Algo vai dar errado. Quando este
erro acontece no “offline” precisamos de pílulas para dormir, para acordar, para comer, para
parar de comer, para sorrir e até para sumir.
Nossos avôs viveram uma geração idealista, nossos pais uma geração reativa e nós
estamos criando uma geração com consciência cívica. A próxima geração será uma geração de
adaptação que, mais uma vez, direciona para uma geração idealista, recomeçando o ciclo. Assim
cria-se um século. Então não tomemos nossas mudanças como definitivas e não criemos
conceitos acreditando que vamos viver para sempre.
O crowdsourcing.
A internet revolucionou o mundo 10 anos atrás. E agora serve como base para o
crowdsourcing causar o mesmo impacto. Vivemos numa era onde a colaboração em massa
começa a transformar todo o mundo ao nosso redor e precisamos aprender a conviver com isso.
Principalmente para não sermos engolidos por ela, como aconteceu com Raj.
FIM.