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“Eu sou jovem, não importa a minha idade.”

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Millennials, geração Y, geração da internet, digital, global,
We. Ser jovem transcende rótulos. Por este motivo que o título do
e-book ficou apenas “Geração Crowdsource”. O original era
“Geração Y e o Crowdsourcing”, mas ser jovem é mais do que ter 20
e poucos anos. Conheço jovens de quase 50 e velhos de 18.

A partir de agora, sem rótulos, vou contar algumas histórias:

O jovem da foto ao lado se chama Mark, homônimo daquele


outro, do Facebook, o Zuckerberg. E do Twain também, mas falar
em Mark Twain seria apelação. Mark tem 20 e poucos anos, poucos
mesmo, o suficiente apenas para criar um perfil no Orkut.

Mas vamos voltar um pouco a história, antes de Mark ter 20


e poucos anos.

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Mark é neto de Baby Boomers americanos nascidos em 1946, jovens que viram os
assassinatos de JFK, Kennedy, Martin Luther King, o homem pisar na Lua, a Guerra do Vietnã e a
liberdade sexual. Uma geração idealista. Os Boomers também foram a primeira geração que
cresceu em frente à televisão. Eles puderam compartilhar eventos culturais e marcos com todas
as pessoas no seu grupo de idade, independentemente de onde elas estavam. Todos eles
assistiram “Bonanza” ou “Deixe isso para o castor” e viram a Guerra do Vietnã nas suas salas de
estar, conforme cresciam. Outro elemento cultural que distinguiu os Boomers dos seus pais foi o
rock and roll. Artistas como Elvis Presley, Little Richard, Buddy Holly e, posteriormente, Bob
Dylan, Beatles, Rolling Stones e The Who tomaram conta das ondas sonoras e deram aos
Boomers a identidade de uma geração.

E foi num festival de rock que o avô de Mark conheceu aquela que seria a sua avó. Alguns
anos depois e, em meados da década de 70, nascia o pai de Mark, um legítimo Generation X.

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A Geração X é a primeira geração moderna realmente reativa, ou seja, inconformada com
a situação e altamente inquieta. O pai e a mãe de Mark aproveitaram os direitos conquistados
pelos Baby Boomers, vivendo uma busca por prazer sem culpas. Inconformados e entusiastas,
eles levaram a novas grandes mudanças. Se os Boomers já tinham a chave de casa, a geração X
já era dona do seu quarto, e tomavam conta de suas individualidades. Influenciada pelo avanço
do marketing e da publicidade, eram apaixonados por estereótipos. Era a juventude
competitiva.

Então Mark nasceu, e mudou as regras do jogo.

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Vou contar outra história. De Raj. Ou melhor, Rajesh
Ramayan Koothrappali. Sim, eu sei. O Raj que estou usando
nesta história é o mesmo da popular séria americana The
Big Bang Theory. Eu explico.

Raj é um indiano que buscou estudo fora do seu


país. Cresceu em um país com alto nível de pobreza,
analfabetismo, doenças e desnutrição. Quando não tudo
isso junto. É neto de uma geração que procurava a
liberdade e a independência, mesmo que tardia. Seus avós
viram a Índia se separar do domínio britânico apenas em
1947.

Recebeu de herança de seus pais três guerras com o

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Paquistão pela posse da Caxemira e a recusa total do Tratado de Proliferação de Armas
Nucleares. Mas também se aproveitou dos benefícios de uma reforma econômica feita desde
1991 que posicionou o país como a décima segunda maior economia do mundo em taxas de
câmbio e a quarta maior em poder de compra.

Graças a este poder de compra elevado, jamais imaginado pelos seus pais e avôs, é que
Raj tem um iPad e um iPhone, fabricados na vizinha China. Viaja o mundo para estudar e faz
parte de uma geração onde a internet acabou com as fronteiras, tanto do conhecimento quanto
de relacionamento.

Sempre conectado, Raj vai começar a mudar as regras.

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A próxima história é um pouco similar a todos nós. Poderia ser eu, você, seu irmão, seu
primo ou vizinho. O personagem da vez não terá um rosto, apenas um nome: Carlos. Carlos é
brasileiro. Classe média. Assim como Mark e Raj, tem 20 e poucos anos. Neto da ditadura e filho
das diretas tem pouca ou quase nenhuma bagagem reativa e pertence a uma juventude com um
alto espírito cívico desenvolvido, mas poucas ações no currículo.

Carlos tem a sorte de viver num país economicamente estável, onde a democracia recém
estabelecida ainda é sinônimo de orgulho entre os mais velhos. Pela primeira vez na história o
país começa a competir de igual para igual com grandes potências e as novidades não tardam
para desembarcar por aqui, mesmo com preços abusivos por causa dos altos impostos que
ainda são reflexos de décadas de péssima administração e endividamento.

O poder aquisitivo nunca foi tão alto entre os jovens brasileiros. Ensino superior deixa,
aos poucos, de ser item de luxo e quase todos andam por aí com seus celulares comprados em

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doze vezes nas Casas Bahia.

Fortes programas de inclusão digital permitem que quase todos os jovens tenham acesso
a internet perto de casa. Lan houses espalham-se como ervas daninhas e já se fala em
“orkutização”.

Neste novo cenário, onde a conectividade e as oportunidades são ilimitadas, Carlos


começa a ver o poder que está em suas mãos. A internet permite que todas as classes tenham
acesso a conteúdo e, mais do que isso, comecem a gerar conteúdo. Mesmo que, às vezes, a
qualidade seja duvidosa.

Carlos, mas poderia ser eu ou você, está prestes a mudar as regras do jogo.

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Três jovens, três países, três culturas, infinitas possibilidades. Nas próximas páginas
vamos descobrir como a internet e o crowdsourcing estão revolucionando a forma como estes
jovens produzem e compartilham conteúdo. Cada um a sua forma, eles são influenciados pela
internet, pelas redes sociais, pelos seus amigos e pelos amigos dos seus amigos. E eles estão
influenciando diretamente os hábitos de consumo.

Vou mostrar porque o crowdsourcing está acabando com as fronteiras geográficas e onde
estão os novos centros de inteligência. Mas também vou mostrar os problemas do excesso de
conteúdo, informação e como, apesar da multidão, é fácil sentir-se sozinho e irrelevante.

Estados Unidos, Índia e Brasil. Mark, Raj e Carlos. Bem-vindo à Geração Crowdsource.

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Cap. 01
06:16 da manhã.

Acaba de amanhecer em São Paulo. Carlos recém acordou. Enquanto toma a segunda
xícara da café, sem açúcar, confere as atualizações dos amigos no Facebook e checa os e-mails
que chegaram durante a madrugada. Antes de sair para trabalhar numa webstartup no centro,
certifica-se que seu iPhone 3GS, ainda não deu para comprar o 4, está com a bateria completa.
Vai aproveitar o tempo ocioso no trânsito para colocar os feeds em dia. Mal sabe ele que a
internet 3G não vai colaborar.

No mesmo momento, porém respeitando o fuso horário: 14:56 em Nova Deli, Índia.

Raj acaba de chegar dos Estados Unidos para passar as férias com a família. Trouxe na

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bagagem seu novo Mac, comprado nos EUA, mas fabricado perto de casa. Entre uma novidade e
outra, twitta sobre como os americanos são diferentes dos indianos e como, apesar de tantas
mudanças, a Índia ainda continua desigual. Na Índia, pelo menos, ele não é confundido com um
terrorista muçulmano e revistado 3 vezes no aeroporto. Sente-se confortável, mas não em casa.

Paralelamente, 00:30 na Califórnia. Mark não vai dormir. Está decidido! Mais uma noite
programando aquela que será a próxima grande coisa da internet. Ao certo, nem ele sabe o que
será. Mas será incrível! Mark sonha em trilhar o mesmo caminho que seu homônimo famoso, o
Zuckerberg não o Twain, e ficar bilionário antes dos 30. Ou dos 25 mesmo. Para isso não se
importa em trocar sua vida social, ou o mesmo bar para falar as mesmas coisas, por uma noite
de trabalho. Querendo ou não, em tempos virtuais, vida social é Second Life.

A 3G não funcionou. Nada mais do que o esperado, afinal, que empresa entregaria um
serviço de qualidade por R$0,50/ dia? Resta a Carlos continuar ouvindo The Abbey Road, dos

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Beatles, enquanto imagina o dia em que o trânsito não será um problema e a internet 3G não o
deixará na mão.

Raj refletiu tanto sobre a diferença entre americanos e indianos que chegou a uma
conclusão que agora soa simples na sua cabeça: os Estados Unidos fedem! Fedem como se o
país e a sua cultura tivessem tomado banho no Ganges. Tudo está errado! Enquanto parte da
população morre de fome, outra morre de comer no McDonald’s. Tratam seus vizinhos como
inimigos e constroem muros para mantê-los longe. Chega a ser repugnante, pensa Raj. Precisa
compartilhar seus pensamentos com o mundo. Vai escrever um post, em inglês.

Contraditório. Mas agora está na internet.

Alheio a Raj, Mark termina mais umas linhas do seu “código para ficar rico” e abre uma
Coca-Cola. É a segunda da noite. Acompanhada de fritas grandes e um hambúrguer de bacon.
Mal sabe ele que esta mesma Coca-Cola vai matá-lo antes mesmo que possa gastar todo o

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dinheiro que irá ganhar com a nova grande coisa da internet. Mark pertence ao grupo que vai
morrer de tanto comer McDonald’s. Mas morrer esta fora dos seus planos, no momento ele
precisa de dinheiro para colocar sua grande coisa no ar. Mas como?

O novo cliente da webstartup onde Carlos trabalha precisa de uma solução inovadora.
Algo que está fora das paredes pintadas de um belo “azul Facebook”. E o chefe de Carlos não
pretende perder este novo cliente. É um cliente importante. Empresa grande. Pode dar uma boa
visibilidade para webstartup que ainda engatinha. O problema é de Carlos. Ele que precisa
encontrar esta solução. Seja onde for, seja como for. E que não custe muito. Ninguém está
querendo sacrificar a margem de lucro. Carlos se lembra de um link que viu no Facebook de um
amigo enquanto tomava a primeira xícara de café do dia. Mas são tantos links, onde encontrar?

O post está quase pronto e logo todos os seus seguidores do Twitter saberão que
indianos são melhores que americanos, na opinião de Raj, claro.

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Carlos encontrou o link. Precisou mandar um SMS para um amigo, que perguntou para
outro no MSN, mas encontrou o link. Agora é preciso entrar em contato com este novo serviço,
fazer um orçamento, montar um projeto e provar para o chefe que a ideia compensa. Que vale
a pena. Enquanto Carlos perde alguns segundos montando uma linha de pensamento, Raj
dispara um tweet com o link do post. Quer causar uma revolução, mas agora precisa descansar.
A viagem foi exaustiva.

4 em ponto. Quase 3 horas até amanhecer e Mark ainda não sabe de onde vai tirar o
dinheiro para colocar seu novo serviço no ar. Possibilidades são muitas, amigos, família,
investidores. Todos podem dar certo. Nenhuma pode dar certo. No momento, arrepende-se dos
5 mil dólares perdidos em Las Vegas no último verão. Faria a diferença. Mas agora prefere parar
para atualizar seu Facebook. Precisa dizer para todos os amigos que está feito. O que? Ainda é
cedo para todos saberem. Atualiza: “It’s done!”

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Carlos está animado. As notícias foram boas e a solução do seu próximo grande cliente
vai custar menos que o imaginado. A empresa onde trabalha vai usar um serviço novo. Quase
um conceito. Carlos, apesar de estar sempre conectado, pouco ou nada sabia desse tal de
crowdsourcing. Consultar a multidão para resolver problemas é utópico demais para ele. Mas o
custo era baixo e não havia saída. Vai arriscar. Ele ainda não sabe, mas acertou.

Raj acordou do cochilo revigorado. Para seu espanto, o post ganhou uma repercussão
maior do que o esperado. Provavelmente perdeu alguns amigos americanos, mas ganhou alguns
fãs indianos. Isso seria bom? Afinal, em alguns meses teria que voltar para os Estados Unidos
para ser confundido com homem-bomba e revistado 3 vezes em todos os aeroportos. Era cedo
para tirar qualquer conclusão sobre a repercussão do texto. Um RT aqui e outro ali não vão me
fazer mal, pensa ele. E Raj estava de férias. Na Índia.

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Cap. 2
Mark tem 246 amigos no Facebook. Não entende quem tem mais de mil, como
conseguem conhecer tanta gente? Como que se relacionam? Complexo demais para ele. Tão
complexo quanto levantar o dinheiro que ele ainda precisa para colocar sua ideia no ar e ficar
rico.

Carlos tem 801 amigos no Orkut, mas não conhece nem a metade. Metade não, um
terço. No início dava parabéns a todos no dia do aniversário, agora não. Perdeu o sentido. Se um
algoritmo precisa avisar os aniversários dos meus amigos, talvez eles não sejam meus amigos.

Raj segue quase 600 pessoas no Twitter. Sua timeline parece uma torre de babel. Tantas
ideias, opiniões, comentários, críticas, sugestões. Quase tudo se torna insignificante.

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Cap. 3
O chefe de Carlos adorou a ideia de consultar a multidão. E o principal, o cliente também
adorou. Não é difícil vender algo quando você usa as expressões “ganhar mais dinheiro” e
“cortar custos” nos lugares certos. Carlos soube usar e agora o crowdsourcing vai trabalhar para
ele.

Já faz 5 dias que Mark procura um meio de levantar dinheiro. Investidores viraram uma
opção enquanto “família e amigos” foram descartados. Não é o ideal para o jovem
empreendedor, já que ele teria que entregar uma boa parte da futura grande coisa da internet.
Talvez arranjar um trabalho fosse a melhor opção. Algo que fizesse entrar dinheiro rápido. Algo
que envolvesse suas habilidades e talentos.

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Raj tem dúvidas. Da mesma forma que critica o modelo de vida e cultura americana, não
consegue tirar dos pés seus tênis Nike e nem ao menos se desligar de serviços como Facebook,
Gmail, Slideshare. Talvez a sociedade seja global e não exista uma cultura americana ou uma
cultura indiana. Talvez exista apenas uma cultura do mundo. Afinal, muitos hábitos estão
presentes em todas as culturas. A internet possibilitou que Raj compartilhasse a sua opinião. E a
internet seria o meio de Raj mudar essa cultura. Mas como?

Tudo pronto: valores, problema, prêmio, deadline. Carlos está contente. Agora é só lançar
o desafio crowdsource, criar buzz na internet e esperar que colaboradores e soluções cheguem
aos montes. O cliente precisa de algoritmos inteligentes que tracem perfis de consumidores que
visitam o seu e-commerce e indiquem os melhores produtos. Simples? Claro que não.

A era da colaboração chegou. Seja porque agora internet esta acessível para todos ou por

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causa do crescimento das redes sociais, o que se vê é que todos podem colaborar. A
webcolaborativa é a mais nova ferramenta para a geração de conteúdo, Raj sabe disso. E está
decidido que este é o caminho para iniciar uma discussão cultural. Como? Vídeo? Texto?
Facebook? Twitter? E-mail? Por que não todos?

O desafio está lançado. A expectativa é grande. Carlos sabe que a ideia foi dele. O mérito
pelo sucesso também será dele, mas ônus do fracasso pode contribuir para uma forçada troca
de emprego. É a primeira vez que seu cliente tem contato com o crowdsourcing e o sucesso da
campanha pode ser decisivo. Mas Carlos foi esperto, contratou a melhor plataforma de
crowdsourcing do mercado, um tal de ideias.doc, e crowdsourcing precisa ser feito por gente
que sabe.

O pessoal do ideias.doc se preparou bem e seguiu três princípios básicos para montar a
campanha para o cliente do Carlos. Primeiro eles foram extremamente claros sobre os

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resultados que queriam. A empresa precisava de um algoritmo de recomendação baseado nos
hábitos dos clientes dentro do site de e-commerce. Foram transparentes. É fácil para os
colaboradores confiarem em alguém que não tem nada a esconder. E, principalmente, criaram
uma campanha de valor, não apenas um site ou uma fan page no Facebook. Tudo seria avaliado
e o melhor seria premiado. Simples, mas complicado de fazer.

Mark estava cansado. Passou a noite avaliando logos para o seu novo site comprados por
99 dólares no site 99designs.com. Pensou em dormir ou tomar mais uma xícara de café. Mas
antes de qualquer ação vai conferir pela décima segunda vez na última hora as atualizações dos
seus amigos no Facebook. Mark tem amigos brasileiros também. Os conheceu num fórum sobre
PHP. Ou foi num fórum sobre Rails? Não lembrava. Mas não tinha importância.

O que chamou atenção de Mark no Facebook não foi a nacionalidade dos seus amigos,
mas sim o link que um deles compartilhou no seu mural. Era de um post no blog LabelDESAFIOS,

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em português, mas como Mark usava o Google Chrome e sua tradução automática não
demorou muito para entender o que estava acontecendo e como aquilo era fascinante para ele.
Mark já havia tido contato com crowdsourcing. Por algumas vezes colaborou com a Fundação
Mozilla no desenvolvimento do Firefox (abandonou quando conheceu o Chrome) e outras vezes
na edição de artigos da Wikipedia. Mas agora era diferente.

A Wikipedia é soberana em geração de conteúdo através do crowdsourcing. Um artigo


pode ser escrito por diversas mãos em várias partes do mundo simultaneamente. Isso colabora
para se criar uma opinião heterogênea sobre qualquer tema. E era disso que Raj precisava,
opiniões heterogêneas. Criar uma nova Wikipedia estava fora dos seus planos, ele estava de
férias e só queria discutir a diferença entre americanos e indianos antes de voltar para a
faculdade, nos Estados Unidos.

Mas nem só de Wikipedia vive o mundo da colaboração de conteúdo. Raj sabia disso. Há

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diversas outras ferramentas disponíveis e era só uma questão de escolher. E Google Groups era
a resposta. Criar um grupo de discussão, mandar o link para alguns amigos, fossem americanos
ou indianos, e esperar que replicassem.

Estava feito.

No Brasil, Carlos recebe o primeiro relatório do pessoal do ideias.doc e quase cai da


cadeira. A campanha crowdsource atinge pessoas do mundo inteiro e colaboradores dos mais
diversos países resolvem participar. Pela primeira vez constata algo que começa a mudar a
forma como as coisas serão feitas: a inteligência e a inovação estão cada vez mais
descentralizadas no mundo da web 2.0.

Qualquer um, seja novo ou velho, especialista ou amador, americano, indiano ou


brasileiro, pode colaborar com soluções para o problema do cliente da empresa onde Carlos
trabalha. E isso é fascinante.

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Mark também. O prêmio que a empresa brasileira está dando pode resolver o problema
financeiro da futura grande coisa da internet que Mark está criando. Para isso ele precisa ganhar
este desafio. Precisa criar o melhor algoritmo de recomendação que o mundo já viu.

Enquanto Mark estrutura seu algoritmo, Raj começa a receber as primeiras respostas
para seu debate. Americanos discordam, indianos concordam. Tem até francês metido na
jogada. O link do grupo no Facebook já recebeu mais de 30 “Curtir” e outros tantos RT’s no
Twitter. Talvez nem Raj imaginasse que tanta gente se interessasse pelo assunto e resolvesse
colaborar com a discussão.

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Cap. 4
Raj entrou em colapso. As respostas à sua discussão tomaram um caminho fora de
controle. São tantas informações, críticas e replys que começa a ficar difícil administrar tudo.
Alguns o chamam de “novo Gandhi” enquanto outros o comparam com Bin Laden. Será difícil
voltar aos Estados Unidos e levar a mesma vida que levava antes. Sem ser apontado ou até
discriminado pelos colegas americanos da faculdade. Raj pergunta-se quando tudo saiu do
controle? Será quando o link foi para o Facebook? Para Twitter? Criar um Google Group terá
sido um erro? A vontade é de apenas desligar o computador e fingir que isso nunca aconteceu.
Mas agora é tarde. A colaboração em massa virou-se contra ele.

Mark está há duas noites sem dormir programando aquele que será a solução de todos os
seus problemas. O algoritmo vai bem, mas os concorrentes assustam. Será que ele criou algo

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que seja totalmente diferente dos outros programadores ou apenas mais um algoritmo? Ainda é
cedo para saber. Vai enviar. Pronto. Enviou. Agora é esperar o resultado.

Carlos prepara-se para montar a segunda campanha crowdsource da empresa, para outro
cliente agora. Vai usar a plataforma ideias.doc novamente. Serviço de qualidade, os caras sabem
o que fazem, pensa ele, quando pipoca um novo e-mail na sua caixa de entrada. Um novo
relatório, novos algoritmos. Entre eles aquele que parece ser o vencedor.

O algoritmo é fora do comum. Totalmente inovador e diferente de tudo que já foi visto.
Mesmo o algoritmo de recomendação da Amazon não chega aos pés desse novo. Cliente
satisfeito. Campanha encerrada. Pensa ele. Quase 100 algoritmos até chegar o algoritmo
perfeito. Muito mais rápido e muito mais barato do que se fosse feito dentro da própria
empresa. Sem falar no tamanho da inovação. Incrível! Carlos está extasiado! Não sabe ao certo
como vai ser, mas tem certeza que o crowdsourcing vai revolucionar a forma como fazemos

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inovação. Vai esperar mais um dia, marcar uma reunião com o cliente e apresentar os
resultados. Mas já twittou.

Rak continua apreensivo. Recebe muitas críticas. Principalmente de pessoas que não o
conhecem, ou que não conhecem a Índia. Nem os Estados Unidos. É incrível como algumas
pessoas conseguem tirar conclusões equivocadas de assuntos que desconhecem. Se vivemos
num mundo onde a colaboração em massa quer acabar com as fronteiras geográficas, como
enfrentar pessoas preconceituosas que criticam culturas se nem ao menos terem saído dos seus
próprios quartos?

O resultado da campanha crowdsource foi anunciado. Todos os participantes já


receberam um e-mail e Mark está decepcionado. Foi o melhor algoritmo que ele já escreveu.
Era fantástico. Mas uma dupla coreana ganhou o desafio. Agora o garoto precisa de uma nova
estratégia para criar sua empresa e ficar milionário. O fato de participar de uma campanha

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crowdsource e perder não desmotivou Mark. Pelo contrário. Por alguns dias ele pode
desenvolver algumas habilidades e raciocínios em programação que somente um desafio deste
tamanho o motivaria. No fim, encarou tudo como um treinamento. Está satisfeito.

Carlos recebeu um bônus pela excelente ideia da campanha crowdsource. Criou outras
duas e foi promovido a diretor. Não aceitou. Largou a webstartup no centro e hoje trabalha em
casa com inteligência coletiva e crowdsourcing. Não precisa mais enfrentar o trânsito.

Mark descobriu o crowdfunding e a solução dos seus problemas. Conseguiu um


financiamento de dez mil dólares e colocou sua nova grande coisa no ar. Não deu certo.
Abandonou tudo e resolveu juntar-se a multidão. Hoje trabalha como freelancer em sites de
crowdsourcing, resolvendo problemas e criando conteúdo.

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Raj encerrou o grupo no Google e voltou para os Estados Unidos. Quando desembarcou
descobriu que todos falavam de um tal Assange e seu Wikileaks, não antes de ser revistado 3
vezes e confundido com um muçulmano. Hoje apenas quer terminar a faculdade e voltar para a
Índia, onde as pessoas morrem de fome, não de tanto comer.

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Cap. 5
Mark, Raj e Carlos poderiam ser qualquer um de nós. Somos a primeira juventude
conectada e estamos prontos para causar uma revolução. Seja uma revolução na forma como
espalhamos nosso conteúdo ou mesmo como criamos novos serviços. Meus avôs são de um
tempo que os jovens não podiam contrariar as hierarquias impostas, meus pais tiveram um
pouco mais de sorte, foram às ruas, pintaram a cara. Lutaram por um país um pouco melhor.
Livre. Eu posso mais, eu posso quebrar as regras, mudar o jogo.

A juventude de hoje tem a sorte de possuir a internet e a colaboração como armas de


uma revolução silenciosa. Silenciosa não no sentido de quieta. Silenciosa no sentido de que não
precisamos quebrar, brigar, incendiar. Podemos criar mecanismos para engajar toda a
população por um causa.

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Voltando brevemente no tempo temos claros exemplos dessa revolução: #forasarney e
#fichalimpa são casos onde a juventude através da colaboração entre os pares conseguiu
mobilizar a multidão por causas políticas relevantes para o país. Isso é colaboração, é
crowdsourcing!

Mas não é só isso.

Ser jovem hoje é ter o poder de compartilhar com o mundo nossas ações. Não temos
limites para criar e a geografia não é mais barreira. O conhecimento está descentralizado e ao
alcance de qualquer dispositivo com conexão à internet. Mais do que isso, a internet possibilita
que qualquer um crie, edite e compartilhe este conhecimento. Nada mais é feito como antes.

Somos multitarefas. Podemos escrever um post, atualizar o Facebook, responder um e-


mail, twittar e ainda tomar Coca-Coca. Tudo ao mesmo tempo. Isso nos confere o dom de estar
em vários lugares ao mesmo tempo.

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Da mesma forma que conseguimos fazer várias coisas ao mesmo tempo, nunca nos
sentimos tão sozinhos. As relações estão cada vez mais rasas e virtuais e cada vez mais jovens
sofrem de doenças psicológicas que antes eram restritas aos mais velhos.

Estamos cada vez mais ansiosos.

É crônico.

Acreditamos que é preciso estar em todos os lugares que os nossos amigos estão.
Receber e compartilhar todas as informações e ainda precisamos trabalhar, estudar, namorar e
tentar ter uma vida offline. Impossível. Algo vai ser mal feito. Algo vai dar errado. Quando este
erro acontece no “offline” precisamos de pílulas para dormir, para acordar, para comer, para
parar de comer, para sorrir e até para sumir.

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É passageiro.

Nossos avôs viveram uma geração idealista, nossos pais uma geração reativa e nós
estamos criando uma geração com consciência cívica. A próxima geração será uma geração de
adaptação que, mais uma vez, direciona para uma geração idealista, recomeçando o ciclo. Assim
cria-se um século. Então não tomemos nossas mudanças como definitivas e não criemos
conceitos acreditando que vamos viver para sempre.

O crowdsourcing.

A internet revolucionou o mundo 10 anos atrás. E agora serve como base para o
crowdsourcing causar o mesmo impacto. Vivemos numa era onde a colaboração em massa
começa a transformar todo o mundo ao nosso redor e precisamos aprender a conviver com isso.
Principalmente para não sermos engolidos por ela, como aconteceu com Raj.

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A partir de agora, da nossa geração, o mundo nunca mais será o mesmo. Mesmo que não
tiremos todo o proveito que o crowdsourcing está proporcionando, estamos criando as bases
para os nossos filhos e netos. No futuro nada será feito e nenhuma decisão será tomada sem
consultarmos a multidão. Vamos aprender, mesmo que forçadamente, que modelos fechados e
excludentes serão impossíveis de ser mantidos. Distâncias geográficas não serão obstáculos
para nada. A inteligência será descentralizada e a inovação irá nascer em todos os cantos do
globo. O crowdsourcing está causando isso. Quase como um vírus, está mudando os hábitos e a
forma como fazemos as coisas. Mas, como um vírus, ele precisa de um hospedeiro: nós, a
juventude. Somos os novos agentes da mudança, responsáveis por marcarmos essa geração
como a primeira geração crowdsource.

FIM.

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