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Aestranha memoria da Anilise do Discurso Jean-Jacques Courtine Université Paris-III/ Sorbonne Nouvelle Permitam-me, a fim de entrar no cerne da questao, ler para vocés uma passagem de um livro recentemente publicado. Trata-se de um Diciondrio de Anélise do discurso'. Os que trabalham nesse dominio, € hoje siio numerosos aqueles entre nds a ter dedicado seus ensinos € suas pesquisas a fazer existir a andlise do discurso (doravante AD) como disciplina, talvez. vejam nisso uma boa noticia. Nao ha disciplina sem diciondrio, nao hé contetido sem sumério, no hi autores sem index: a ‘AD, da qual nés fomos alguns dentre os quais viveram os principios incertos, da qual, depois, outros acompanharam na seqliéncia os desenvolvimentos problematicos, nao recebe assim uma consagragdo merecida, um reconhecimento académico que Ihe foi durante tanto tempo contestado? Ela teria, enfim, se tornado uma disciplina completa, uma disciplina dicionarizada. ‘Temo infelizmente que no se trate de uma noticia tio boa como essa, € que essa publicagao, quando se examina seu conteddo, langa uma luz singular sobre aquilo que nos retine aqui, o lugar que 0 pensamento © trabalho de Michel Pécheux ocuparam na constituigao da andlise do discurso na Franga. Por que nfo € paradoxal que, no momento em que um. dicion4rio retine e ordena os temas, os objetos, os métodos e os autores dessa corrente de pesquisa, no momento em que artigos nele reconstituem a hist6ria, no momento em que, enfim, o papel essencial que ai desempenhou Michel Pécheux parece estar na condigao de ser reconhecido, no € paradoxal que seja aqui, no Brasil, entre vocés, que seu pensamento seja interrogado, seus textos sistematicamente repertoriados, analisados € discutidos, como vocés se propuseram a fazé-lo no curso desses quatro dias que vao nos reunir em torno dele? Gostaria, portanto, de evocar aqui, diante de vocés, com voces, uma das questdes essenciais que me parece estabelecer a orientagio desse encontro: por que 6, portanto, aqui, ¢ nao 14 onde Michel Pécheux trabalhou, publicou, lutou, por que nio é em Paris que esse coléquio pode acontecer? Compreendam-me: quanto a isso nao tenho nenhuma queixa, por raz6es que jé precisei no passado e as quais vou voltar. Fico feliz de estar hoje entre vocés, e sou extremamente grato por terem organizado esse encontro e por terem convidado alguns daqueles que, apesar de suas diferencas e, as vezes mesmo, das divergéncias daquela época, acompanharam Michel Pécheux, na aventura intelectual que foi a sua?,eda 26 qual a AD constitui uma heranga que, me parece, voeés recusam deixar dispersar. Posso apenas, nesse sent ‘que o dscurso pode representa em sou (de PEcheux) pensamento parece perdido. Conceitos que jadoestio em erincia: banalizados, orados do terenoem que foram elaborades,tragtericode que sesqueceu ‘© enunciador (MALDIDIER, 2003, p08). ° Nenhum livro sobre Pécheux na Franga, nenhum desses Congressos cuja profissio é, entretanto, tio avida, poucas referencias: € Denise Maldidier quem tem razio: conceites sem enunciador, uma teotia 64f8 ou sol 8 ligagao entre memria e discurso, é, em primeiro lugar, a meméria da Prépria AD que convém sondar. E, por isso, retorno a esse ponto, a essa (bra, a esse dicionério, do qual um dos objetivos deveria de fato ser 0 de Constituir uma meméria da disciplina. Essa obra, permitam-me abri-la ‘a pigina 201, na rubrica Escola francesa de andlise do discurso, e ler para voces uma parte desse artigo: O r6tulo “Escola Francesa” permite de

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