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Mecânica Quântica
Andre Luiz Alves Lima
Conteúdo
1 A Integral de Caminho de Feynman 3
1.1 A amplitude de probabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.2 Amplitude de probabilidade para instantes infinitesimalmente próximos . . 6
1.3 A integral de caminho sobre o espaço de fase . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.4 Interlúdio : Integrais Gaussianas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.5 A integral de caminho sobre o espaço das configurações . . . . . . . . . . . 15
1.6 A partı́cula livre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.7 Comentário sobre a ação clássica e a função Hamiltoniana . . . . . . . . . 23
1.8 O valor médio de operadores sob ordenamento temporal . . . . . . . . . . . 24
1.9 Problemas de convergência; Integral de caminho Euclideana e funções de
partição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
1
Bibliografia 44
2
1
A Integral de Caminho de Feynman
e assim a relação de completeza para a base do espaço de Hilbert formado por eles fica
Z ∞Y
dqA |q, tihq, t| = 1, (1.1.4)
−∞ A
válida (independentemente) para cada valor de t, sendo aqui 1 entendido como o opera-
dor identidade no espaço de Hilbert. Da mesma forma, podemos encontrar autovetores
simultâneos de todos os operadores de momento,
PA (t)|p, ti = pA (t)|p, ti, (1.1.5)
3
que formam uma segunda base para o mesmo espaço de Hilbert, podem ser tomados como
ortonormais,
Y
hp0A , t|pA , ti = δ(p0A − pA ), (1.1.6)
A
Devido à não comutatividade das posições com os momentos, Eq.(1.1.1a), a projeção das
bases formadas pelos autovalores de cada um destes operadores tem a forma
Y 1
hq, t|p, ti = √ Exp (i pA qA /~) , (1.1.8)
A
2π~
4
Em particular, para o Hamiltoniano que evidentemente comuta consigo mesmo, esta
equação fornece
onde
Uma consideração exatamente igual vale para os autovetores |p, ti introduzidos na Eq.(1.1.5).
5
1.2. Amplitude de probabilidade para instantes
infinitesimalmente próximos
Calculemos a amplitude de probabilidade (1.1.9), considerando primeiramente que
0
τ − τ = dτ é um intervalo infinitesimal de primeira ordem. A Eq.(1.1.17) acima nos dá
(abandonamos as nomenclaturas ‘Heis’ e ‘Sch’)
|q 0 , τ + dτ i = Exp ~i H(Q, P ) dτ |q 0 , τ i,
e assim
Supomos também (sem muita perda de generalidade) que o operador Hamiltoniano seja
dado por uma função analı́tica dos operadores QA e PA , no sentido de que H(Q, P )
possa ser escrito como uma série de potências. Pode-se, então, reordenar as posições
dos operadores usando a relação de comutação (1.1.1a). Vamos adotar, a partir daqui,
a convenção de que o Hamiltoniano seja ordenado com todos os operadores PA à
direita dos operadores QA . Com isto, o último termo do lado direito da última linha
da equação acima fica
6
Ou seja, o elemento de matriz transforma os operadores QA (τ ) e PA (τ ) no operador Ha-
miltoniano do lado esquerdo em números reais qA (τ ) e pA (τ ) numa função Hamiltoniana
à direita. Com isso, podemos escrever, em primeira ordem em dτ ,
hq 0 , τ |Exp − ~i H(Q(τ ), P (τ )) dτ |p, τ i ≈ hq 0 , τ |p, τ i 1 − ~i H(q 0 (τ ), p(τ )) dτ .
E então
0 i 0 i 0
hq , τ |Exp − H(Q, P ) dτ |p, τ i ≈ hq , τ |p, τ iExp − H(q (τ ), p(τ )) dτ
~ ~
Y 1
i 0
= √ Exp qA (τ )pA (τ ) ×
A
2π~ ~
i 0
×Exp − H(q (τ ), p(τ )) dτ ;
~
ou, mais resumidamente,
i
hq 0 , τ |e− ~ H(Q,P ) dτ|p, τ i ≈
i P 0
1
( A qA pA − H(q 0 (τ ), p(τ ))) dτ . (1.2.3)
(2π~)D/2
Exp ~
Repare: duas hipóteses são fundamentais para a validade da fórmula acima. A pri-
meira é o ordenamento especı́fico de H(Q, P ) que permite que a substituição do operador
hq 0 , τ |H (Q, P ) |p, τ i pela função real H(q, p). A segunda, mais sutil, é o fato de que esta-
mos trabalhando em primeira ordem em dτ , em um limite em que a exponencial é linear
em H(Q, P ): Se considerarmos ordens maiores, de nada adianta o ordenamento fixado.
{ Por exemplo (fixando D = 1 por simplicidade), em um Hamiltoniano inicialmente
com a forma
H(Q, P ) = 12 Q2 + g P QP,
com g uma constante de acoplamento, o último termo deve ser reescrito no procedimento
acima como P QP = (QP − i~)P , e assim (tome g = 1 por simplicidade)
H(Q, P ) = 12 Q2 + QP 2 − i~P.
Assim,
1 0
hq 0 , τ |H(Q, P )|p, τ i = hq , τ |Q2 |p, τ i + hq 0 , τ |QP 2 |p, τ i − i~hq 0 τ |P |p, τ i
2
1 0
= hq , τ |q 02 (τ )|p, τ i + hq 0 , τ |q 0 (τ )p2 (τ )|p, τ i −
2
−i~hq 0 τ |p(τ )|p, τ i
0 1 02 0 2
= hq , τ |p, τ i q (τ ) + q (τ )p (τ ) − i~ p(τ )
2
= hq 0 , τ |p, τ iH(q 0 (τ ), p(τ )).
Porém se tivéssemos que avaliar um termo, digamos, quadrático em H, i.e. um eventual
termo de segunda ordem em dτ , terı́amos em hq 0 , τ |H 2 (Q, P )|p, τ i termos do tipo
− i~ hq 0 , τ |P QP 2 |p, τ i =
6 −i~ hq 0 , τ |pq 0 p2 |p, τ i,
7
tornando impossı́vel transformar o operador H 2 (Q, P ) na função real correspondente
H 2 (q 0 , p). }
Finalmente inserindo o resultado (1.2.3) na última igualdade em (1.2.2), obtemos
uma expressão para a amplitude de probabilidade entre dois instantes infinitesimalmente
próximos:
"Z # "
∞ Y
dp B i X 0
hq 0 , τ + dτ |q, τ i = Exp qA (τ ) − qA (τ ) pA (τ )−
−∞ B 2π~ ~ A
!# (1.2.4)
− H(q 0 (τ ), p(τ )) dτ ,
8
Inserimos então N relações de completeza na amplitude hq 0 , t0 |q, ti:
Z Z
0 0
hq , t |q, ti = dq1 · · · dqN × hq 0 , t0 |qN , τN ihqN , τN |qN −1 , τN −1 i ×
×hqN −1 , τN −1 |qN −2 , τN −2 i · · · hq1 , τ1 |q, ti,
ou
N Z
Y
0 0
hq , t |q, ti = dqn hq 0 , t0 |qN , τN i × hqn , τn |qn−1 , τn−1 i. (1.3.5)
n=1
Enfatizamos que se trata de apenas N integrais — uma integral a menos que o número
de intervalos da partição (1.3.1) — com o ı́ndice n variando de 1 a N (e não de 0 a
N ), correspondendo às relações de completeza que devem ser inseridas nos intervalos
intermediários, e sendo que os dois intervalos das extremidades da partição surgem au-
tomaticamente da presença dos brakets “originais” Q hq 0 , t0 | e |q, ti. Repare que o primeiro
0 0
braket, hq , t |qN , τN i, não está inserido no produto n , embora faça parte do integrando
da última integral deste mesmo produto.
No limite em que N 1, cada um dos brakets no integrando tem a forma (1.2.4),
com dτ dado pela Eq.(1.3.2). Assim, a Eq.(1.3.5) fica
N Z
Y
0 0
hq , t |q, ti = dqn ×
n=1
Z " !#
dpN i X
× Exp (qA,N +1 − qA,N )pA,N − H(qN , pN ) dτ
2π~ ~
Z " A !#
dpn−1 i X
× Exp (qA,n − qA,n−1 )pA,n−1 − H(qn−1 , pn−1 ) dτ .
2π~ ~ A
Há, do lado direito da equação acima, N + 1 integrais sobre os momentos, uma a mais
do que as integrais sobre as posições (são N integrais sobre os q’s, como já mencionado
acima); esta integral a mais — presente na segunda linha da equação — está associada ao
0 0
braket “extra” no integrando Q da Eq.(1.3.5), hq , t |qN , τN i, que (como mencionado acima)
não faz parte do produto n presente nesta mesma equação. Podemos organizar as N + 1
integrais sobre os momentos em um produtório, e o produto das exponenciais se torna
uma soma dos expoentes; em suma,
"N Z #" N Z #
Y Y dpn
hq 0 , t0 |q, ti = dqn ×
n=1 n=0
2π~
" N +1 !# (1.3.6)
i X X
× Exp (qA,n − qA,n−1 )pA,n−1 − H(qn−1 , pn−1 ) dτ .
~ n=1 A
9
Ora, neste mesmo limite, o expoente do integrando se torna uma soma de Riemann, com
vemos a seguir.
Os números qA,n e pA,n são respectivamente os autovalores dos operadores QA (τn ) e
PA (τn ). A princı́pio, os autovalores qA,k e qA,l para dois instantes quaisquer τk e τl , k 6= l,
não são relacionados; o mesmo vale para pA,n . Porém suponhamos a partir daqui que
existam funções contı́nuas qA (τ ), interpolando entre os valores qA,n , e tais que qA (τn ) =
qA,n , etc. Neste caso, podemos escrever a soma no expoente do integrando na Eq.(1.3.6)
como
PN +1 P
n=1 ( A (qA,n − qA,n−1 )pA,n−1 − H(qn−1 , pn−1 ) dτ ) =
PN +1 P qA (τn−1 +dτ )−qA (τn−1 )
= n=1 A dτ
p A (τ n−1 ) − H(q(τn−1 ), p(τ n−1 )) dτ,
integração” as funções qA (τ ) e pA (τ ).
10
1.4. Interlúdio : Integrais Gaussianas
Pausemos o raciocı́nio para obter alguns resultados que serão importantes para os
parágrafos seguintes.
Considere um conjunto de D variáveis ξA , com A = 1, . . . , D, e uma forma quadrática
1X X
Q(ξ) = KAB ξA ξB + LA ξA + M, (1.4.1)
2 A,B A
onde KAB , LA e M são constantes, com a matriz KAB = KBA simétrica e não singular,
i.e. Det KAB 6= 0. A integral
Z ∞Y
I = dξA Exp [−Q(ξ)] (1.4.2)
−∞ A
que pode ser escrito em termos do ponto estacionário da forma quadrática (1.4.1):
Exp −Q ξ¯
Z ∞Y
¯A tal que ∂Q(ξ)
dξA Exp [−Q(ξ)] = r , com ξ = 0.
−∞ A
∂ξA ξA =ξ̄A
Det K̂/2π
(1.4.4)
Ou seja:
Uma integral Gaussiana I tem como resultado o seu integrando avaliado no ponto
estacionário do expoente, a menos de um fator multiplicativo dado pelo determinante.
11
com kA ∈ R. Façamos então a mudança linear de coordenadas ξ → x, com
X
ξA = OAB xB . (1.4.7)
B
onde renomeamos os ı́ndices mudos do segundo termo na última linha. Assim, o integrando
de I vira um produto trivial de exponenciais contendo separadamente cada uma das D
coordenadas xA :
h P i
Exp − 12 A kA x2A − A,B LB OBA xA − M =
P
1 2 1 2 1 2
= e−M e− 2 k1 x1 −(L·Ô)1 x1 × e− 2 k2 x2 −(L·Ô)2 x2 × · · · × e− 2 kD xD −(L·Ô)D xD .
Com isto, a integral múltipla (1.4.2),
Z ∞Y " #
∂ξ 1X X
I = dxA Det Exp − kA x2A − LB OBA xA − M
−∞ A ∂x 2 A A,B
Uma vez que todas as integrais são definidas, e possuem os mesmos limites de integração,
os ı́ndices das variáveis de integração xA são irrelevantes, e podemos escrever resumida-
mente
" #
YZ ∞ 1 X
I = e−M dx Exp − kA x2 − LB OBA x . (1.4.9)
A −∞ 2 B
12
Estas são integrais Gaussianas ordinárias:
Z ∞
1
IA ≡ 2
dx Exp − kA x − `A x
−∞ 2
r s 2
Z ∞ 2 2
kA `A `
= dx Exp − x+ + A
−∞ 2 2kA 2kA
r 2 Z ∞
2 2k`A
dy Exp −y 2 ,
= e A
kA −∞
q q 2
`
com y = k2A x + 2kAA e
X
`A ≡ LB OBA . (1.4.10)
B
R∞ −y 2
A integral −∞
e dy pode ser calculada com o seguinte truque:
Z ∞ 2 Z ∞ Z ∞ Z ∞Z ∞
−y 2 −y 2 −x2 2 2
e dy = e dy × e dx = e−(x +y ) dydx,
−∞ −∞ −∞ −∞ −∞
e a última expressão é uma integração sobre todo o plano cartesiano x-y, que pode ser
reparametrizada em coordenadas polares, nas quais x2 + y 2 = r2 , e dxdy = rdθdr; ou
seja:
Z ∞ 2 Z 2π Z ∞ Z ∞
2 ∞
h i
−y 2 −r2 2
e dy = dθ e rdr = π e−r dr2 = π −e−r = π, (1.4.11)
−∞ 0 0 0 0
logo
∞
r 2
√
Z
−y 2 2π 2k`A
e dy = π, consequentemente IA = e A (1.4.12)
−∞ kA
e por fim
s " #
(2π)D 1 X `2A
I = e−M Q Exp . (1.4.13)
A kA 2 A kA
Q Q
pois Ô é ortogonal; e por outro lado Det [kA δAB ] = A kA . Assim A kA = Det K̂, e com
isso
s s v
(2π)D (2π)D u 1
= =t . (1.4.14)
Q u
A kA Det K̂ Det K̂/2π
13
Também usando a Eq.(1.4.6) para isolar KAB , temos
X X
T T
KCD = kA OCA δAB OBD = kA OCA OAD ,
A,B A
¯ = 1
X X
−1 −1 −1
Q(ξ) KAB KCA LC KDB LD − LA KAB LB + M
2 A,B,C,D A,B
1 X
−1
X
−1
= LB KDB LD − LA KAB LB + M
2 A,B,C,D A,B
1X −1
= − LA KAB LB + M.
2 A,B
14
Mas esta é justamente (menos) a expressão no expoente da Eq.(1.4.16), isto é
1 ¯
I =r
Exp −Q(ξ) .
Det K̂/2π
com uma energia potencial V (Q) que não depende dos momentos. Para esta (ampla)
classe de exemplos, a integração sobre os momentos em (1.3.10) se torna uma um produto
de integrais Gaussianas que podem ser avaliadas utilizando-se a fórmula (1.4.4).
Olhemos a forma discretizada da integral de caminho, Eq.(1.3.6),
"N Z #" N Z #
Y Y dpn
hq 0 , t0 |q, ti = dqn ×
n=1 n=0
2π~
" N +1
!#
i X X 1 2
× Exp dτ q̇A,n−1 pA,n−1 − pA,n−1 − V (qn−1 ) ,
~ n=1 A
2m
onde usamos (1.3.7), e temos em mente que o resultado deve ser avaliado sempre no limite
N → ∞. As integrais sobre os momentos são
N
( Z ∞Y )
Y 1
J = dpA,n ×
n=0
(2π~)D −∞ A
" N
!# (1.5.2)
i X X 1 2
× Exp dτ q̇A,k pA,k − p − V (qk ) ,
~ k=0 A 2m A,k
15
tendo sido renomeados (e deslocados) os ı́ndices do somatório no expoente. Cada uma das
integrais para cada valor de n é uma integral Gaussiana — cuja variável de integração é
pA,n —, como em (1.4.2), em que a forma quadrática2 nos momentos é (menos o expoente
do integrando)
N
!
idτ X X
Q(pn ) = − q̇A,k pA,k − H(qk , pk ) . (1.5.3)
~ k=0 A
A matriz KAB , formada pelos coeficientes do termo quadrático em pA,n , é neste caso
diagonal, e constante (lembre do fator 21 na definição de KAB na Eq.(1.4.1)):
D
idτ idτ
KAB = δAB ; Det K̂ = . (1.5.4)
m~ m~
Note que as grandezas qn , pn , etc., avaliadas em cada um dos instantes n são independen-
tes. Ou
P seja,Pvale, por exemplo, ∂pA,k /∂pA,n = δkn , ∂qA,k /∂qA,n = δkn , etc, e termos como
1 2
− 2m k6=n A pA,k são vistos aqui como constantes.
Podemos então usar a fórmula (1.4.4). O ponto estacionário de Q(pn ) satisfaz a
condição ∂Q(pn )/∂pA,n = 0, i.e.
∂H(qn , pn )
q̇A,n − = 0.
∂pA,n
E uma vez que o instante τn é arbitrário, a condição acima pode ser escrita, no limite
N → ∞, para qualquer instante τ no intervalo contı́nuo τ ∈ [t, t0 ],
∂H(q, p)
q̇A (τ ) = . (1.5.5)
∂pA
De acordo com a Eq.(1.4.4), cada integral sobre os momentos dá, então, novamente
a exponencial do integrando, mas agora com o respectivo momento pA,n substituido por
uma função das velocidades, pA,n = pA,n (q̇A ), determinada pela condição (1.5.5); além
disso, cada integral (para cada n) contribui com um fator multiplicativo que resulta do
determinante dos coeficientes do termo quadrático em pA,n , Eq.(1.5.4), a saber
16
Assim, a integral (1.5.2) fica
(N ) " N
!#
Y i X X 1 2
J = Nn × Exp dτ q̇A,n pA,n − p − V (qn )
n=0
~ n=0 A 2m A,n
" N
!#
m (N +1)D/2 i X X 1 2
= Exp dτ q̇A,n pA,n − p − V (qn ) ,
2πi ~dτ ~ n=0 A 2m A,n
a ser dada por uma integral de caminho que envolve apenas as posições:
"N Z #
Y
hq 0 , t0 |q, ti = N dqn ×
n=1
"N
! #
iX X
×Exp q̇A,n pA,n (q̇n ) − H(qn , pn (q̇n )) dτ , (1.5.7)
~ n=0 A
m (N +1)D/2
N = . (1.5.8)
2πi ~dτ
No limite em que N → ∞ e dτ → 0, o somatório no expoente se torna uma soma de
Riemann, como visto na Eq.(1.3.8),
PN P
n=0 ( A q̇A,n pA,n (q̇n ) − H(qn , pn (q̇n ))) dτ =
R t0 P
= t { A q̇A (τ ) pA (q̇(τ )) − H(q(τ ), p(τ ))} dτ ;
ora com pA (q̇) sendo dado pela Eq.(1.5.5), o integrando acima é simplesmente a função
Lagrangeana cássica do sistema (cf. §1.7), e sua integral, a ação:
Z t0 Z t0(X )
S= L (q, q̇) dτ = q̇A (τ ) pA (q̇(τ )) − H(q(τ ), p(τ )) dτ.
t t A
17
Em suma, no limite N → ∞,
" N Z
# " Z 0 #
t
Y i
hq 0 , t0 |q, ti = N dqn Exp L (q(τ ), q̇(τ )) dτ . (1.5.11)
n=1
~ t
3
A integral de caminho, em rigor, não é sempre bem definida ou convergente para quaisquer siste-
mas; pode-se entretanto calcular vários exemplos e tratá-la como uma ferramenta; a respeito do rigor
matemático, já dizia alguém (o próprio Feynman?) que “na fı́sica há dois tipos de rigor: o rigo fı́sico e o
rigor mortis”.
18
1.6. A partı́cula livre
Como um exemplo prático, calculemos a integral de caminho (1.5.13) para o sistema
mais simples possı́vel: uma partı́cula livre de massa m, cuja Lagrangeana é
mX
L = q̇A (τ ). (1.6.1)
2 A
Temos
" N Z
# N
" #
q 0 (t0 )
i X m A (qA,n+1 − qA,n )2
Z Y P
Dq eiS/~ = N dqn Exp dτ
q(t) n=1
~ n=0 2 dτ 2
"N Z # " N
#
Y im X X
= N dqn Exp (qA,k+1 − qA,k )2 .
n=1
2~dτ k=0 A
e com isso
" 2 #
Z q 0 (t0 ) Z
im q A,2 + q A,0
Dq eiS/~ = N dq1 Exp 2 qA,1 − ×
q(t) 2~dτ 2
"N Z # " ( N
)#
Y im X 1 X
× dqn Exp (qA,2 − qA,0 )2 + (qA,k+1 − qA,k )2
n=2
2~dτ A
2 k=2
podemos escrever
Z " 2 #
(−)im X qA,2 + qA,0 1
dq1 Exp − qA,1 − = D/2 . (1.6.2)
~dτ A 2 2 Nn
19
Assim, obtemos para a integral de caminho
q 0 (t0 )
(1/2)D/2
Z
Dq eiS/~ = N × ×
q(t) Nn
" N Z
# " ( N
)#
Y im X 1 X
× dqn Exp (qA,2 − qA,0 )2 + (qA,k+1 − qA,k )2 .
n=2
2~dτ A 2 k=2
e com isso
Z q0 (t0 ) " 2 #
N
Z
im 3 1 2
Dq eiS/~ = D/2 dq2 Exp qA,2 − qA,0 − qA,3 ×
q(t) 2 Nn 2~dτ 2 3 3
"N Z # " ( N
)#
Y im X 1 2
X
2
× dqn Exp (qa,3 − qA,0 ) + (qA,k+1 − qA,k ) .
n=3
2~dτ A 3 k=3
Mais uma vez, temos uma integral Gaussiana, agora sobre qA,2 , e com um novo coeficiente:
Z " 2 # s D
im 3 X 1 2 2π~i dτ 2
dq2 Exp qA,2 − qA,0 − qA,3 = ,
2~dτ 2 A 3 3 m 3
20
com o que teremos
Z q0 (t0 )
(1/2)D/2 (2/3)D/2 (`/(` + 1))D/2
Dq eiS/~
=N × × × ··· × ×
q(t) Nn Nn Nn
" N Z # " (
Y im X 1
× dqn Exp (qA,`+1 − qA,0 )2 +
n=`+1
2~dτ A
` + 1
N
)#
X
+ (qA,k+1 − qA,k )2 .
k=`+1
***
21
e temos que
0 0 0 i 0
hq , t |q, ti = hq , t|Exp − H(t − t) |q, ti
~
0 i 2 0
= hq , t|Exp − P (t − t) |q, ti
2m~
Z ∞Y
0 i 2 0
= dpA hq , t|Exp − P (t − t) |p, tihp, t|q, ti
−∞ A 2m~
Z ∞Y " #
i X 2 0
= dpA Exp − pA (t − t) hq 0 , t|p, tihp, t|q, ti
−∞ A 2m~ A
Z ∞Y " #
i X 2 0
= dpA Exp − p (t − t) ×
−∞ A 2m~ A A
Y 1 Y
i 0 1 i
× √ Exp pB q B √ Exp − pC qC
B
2π~ ~ C
2π~ ~
Z ∞Y " #
1 X i(t0 − t) i(q 0
− q A )
= dpA Exp − p2A − A pA
(2π~)D −∞ A A
2~m ~
onde usamos (1.1.7) e (1.1.17). A última integral é uma integral Gaussiana, cuja forma
quadrática no expoente pode ser reescrita como
0 −q ) 2
h 0 −q )
i 0 −q )2
im(t0 −t) P 2m(qA i(t0 −t) P m(qA m2 (qA
Q(p) = − 2~ 2
A pA − (t0 −t)
A
pA = − 2~m A pA − (t0 −t)A
− (t0 −t)2A
,
m(qA0 −q )
A
e cujo mı́nimo, em p̄A = (t0 −t)
assume o valor
m A (qA0 − qA )2
P
Q(p̄) = − ,
2~i (t0 − t)
enquanto o determinante dos coeficientes do termo quadrático
X i(t0 − t) D
i(t0 − t)
1X KAB
− KAB pA pB = − p2A é Det = ,
2 AB A
2~m 2π 2π~m
donde
R∞ Q h P 0 0 −q )
i
i(t −t) 2 i(qA
−∞ A dpA Exp − A 2~m A
p − ~
A
pA = √ 1 Exp [−Q(p̄)] =
Det(K̂/2π)
D/2 h P 0 −q )2
i
2π~m m A (qA A
= i(t 0 −t) Exp − 2~i (t0 −t)
,
e com isso
D/2
m A (qA0 − qA )2
P
0 0 m
hq , t |q, ti = Exp − ,
2π~i(t0 − t) 2~i (t0 − t)
que é o mesmo resultado encontrado na Eq.(1.6.3).
22
1.7. Comentário sobre a ação clássica e a função Hamiltoniana
Vimos no §1.5 que a integral de caminho para Hamiltonianos do tipo (1.5.1) são
escritos em termos da ação clássica, como na Eq.(1.5.13). Entretanto, em geral, para
Hamiltonianos arbitrários, isto não é verdade.
Voltemos à fórmula geral para “a integral de caminho no espaço de fase”, Eq.(1.3.10),
antes de se efetuar a integração sobre os momentos. A expressão no expoente do inte-
grando,
Z t0 X !
q̇A (τ ) pA (τ ) − H(q(τ ), p(τ )) dτ, (1.7.1)
t A
já possui uma similaridade muito forte com a ação clássica do sistema em questão. De
fato, dado um sistema Hamiltoniano clássico, com Hamiltoniana H(q, p), sua função La-
grangeana correspondente é definida como
X
L (q, q̇) ≡ q̇A pA − H(q, p) , (1.7.2a)
A
onde entende-se que do lado direito todos os momentos pA são substituı́dos pelas veloci-
dade generalizadas q̇A através da relação pA (q̇) definida implicitamente por4
q̇A ≡ ∂H(q, p)/∂pA . (1.7.2b)
Caso fosse válida a esta relação (1.7.2b) entre velocidades e momentos, o integrando da
Eq.(1.7.1) seria de fato a Lagrangeana do sistema, e a integral correspondente seria a ação
clássica:
Z t0
S≡ L dτ. (1.7.3)
t
Ocorre que, na integral de Feynman, as funções pA (τ ) não são relacionadas às veloci-
dades através da Eq.(1.7.2b). Em nenhum momento da construção da expressão (1.3.10)
utilizou-se qualquer relação desse tipo entre os autovalores dos operadores QA (τ ) e PA (τ );
na verdade, no que diz respeito à Eq.(1.3.10), as funções qA (τ ) e pA (τ ) são variáveis de
integração absolutamente independentes.
Portanto, em geral, a integral de caminho (1.3.10) não é uma integral da exponencial
da ação clássica.
Vale insistir, todavia, que a mais ampla classe de exemplos é dada por Hamiltonianas
que são funções quadráticas dos momentos, e neste caso, como visto no §1.5, o expoente
(1.7.1) se torna uma forma quadrática cuja condição de extremização é precisamente a
Eq.(1.7.2b); logo nestes casos — e repare que basta que H(Q, P ) seja quadrático em PA ;
não é necessário que os coeficientes do termo quadrático nos momentos sejam constantes,
como foi assumido no §1.5 — a integral (1.7.1) é, sim, a ação clássica.
4
Geralmente, está-se acostumado a, partindo da Lagrangeana L (q, q̇), obter-se a Hemiltoniana
H(q, p) = q̇ p − L com as velocidades substituidas pelos momentos através da definição p ≡ ∂L /∂ q̇.
Este procedimento é nada mais que uma transformação de Legendre na ação, que pode ser revertida (i.e.,
pode-se efetuar a transformação inversa. Neste caso, de posse da Hamiltoniana chega-se à Lagrangeana
por um processo completamente análogo, em que a substituição de p por q̇ é dada pela Eq.(1.7.2b).
23
1.8. O valor médio de operadores sob ordenamento temporal
Calculamos a amplitude de probabilidade (1.1.9) para que uma partı́cula saia de um
ponto q no instante t e chegue ao ponto q 0 no instante t0 > t. O resultado pode ser escrito
como a integral de caminho de Feynman, seja na forma (1.3.10) sobre o espaço de fase,
seja na forma (1.5.11)-(1.5.13) sobre o espaço das configurações:
Z Z
hq , t |q, ti = D qDp e
0 0 0 iS(q,p)/~
= Dq eiS(q)/~ . (1.8.1)
Agora q(t1 ) é simplesmente um número que vai ser integrado junto com as amplitudes
infinitesimais, comportando-se como um fator multiplicativo no integrando. O processo
para se obter a integral de caminho prossegue da mesma maneira, resultando em
Z
hq , t |Q(t1 )|q, ti = Dq eiS/~ q(t1 ).
0 0
(1.8.3)
24
onde o(tk ) = O(p(tk ), q(tk )) é um número. Cada um dos ok pode ser obtido do mesmo
jeito com que se chegou à Eq.(1.8.4), isto é, através de uma inserção de Ok no instante
apropriado dentro da partição do intervalo [t, t0 ],
ou seja: o operador que “acontece antes” (no caso O1 (t1 )) deve ser inserido à direita
por conta da estrutura da partição do intervalo [t, t0 ] na integral de caminho. Se acaso
tivéssemos escolhido t2 < t1 , a ordem seria a oposta. Em resumo, os operadores devem
ser inseridos sob ordenamento temporal. Isto é:
Z
D 0 qDp eiS/~ o1 (t1 )o2 (t2 ) = hq 0 , t0 |T{O(t2 )O(t1 )}|q, ti, (1.8.5)
25
de movimento. As reticências abarcam termos de ordem η 3 para cima. Para o osci-
lador harmônico, que será estudado em detalhes na Parte 2, tais termos não existem:
a separação acima é exata e corresponde à Eq.(2.2.4). Para um sistema genérico, com
um Hamiltoniano genérico, a expansão acima é uma uma aproximação estacionária, se-
miclássica, ao redor da solução clássica x(t). De fato, a ação clássica sendo tal que, por
definição, δScl /δq = 0, é ela o valor estacionário do expoente em Exp(iS/~). A vantagem
da decomposição acima é que, com essa mudança de variáveis (ver §§2.3-2.4) de q para η,
o fator eiScl /~ sai da integral funcional, e o que resta é uma generalização de uma integral
Gaussiana — todas as integrais restantes são quadráticas em η.
Mas há um detalhe. O resultado para a in-
tegral Gaussiana simples, em uma dimensão,
i𝝉 obtido na Eq.(1.4.12), depende crucialmente do
C fato apresentado em (1.4.11), ou seja:
2 ∞
h i
−e−r = 1.
t 0
Chega-se, assim, à conclusão de que uma integral funcional bem (ou, pelo menos, uma
melhor) definida pode ser obtida ao se fazer o expoente do integrando real, isto é
iS 7→ −S.
Para tanto, pode-se fazer uma ‘Rotação de Wick’ : faça o tempo imaginário,
t = −iτ , (1.9.1)
através de uma rotação contı́nua, anti-horário, do eixo real (o eixo dos t) do plano de
Argand, como na Fig.1. Então o espaço-tempo de Minkowski se torna o espaço Euclideano
R4 , e a ação
Z Z
2 2
dτ − 12 m(dq/dτ )2 − V (q) = −SEucl ,
1
iS = i dt 2 m(dq/dt) − V (q) = −i
26
D 0 q exp(−SEucl ), é a integral bem definida que
R
A ‘integral de caminho Euclideana’,
desejávamos.
*
A função de partição
Agora considere um caminho fechado, i.e. q(t) = q 0 (t0 ), e integre sobre os pontos q. As
autofunções têm norma unitária, logo o resultado
Z X Z X
0
dqhq, t |q, ti = exp[iEn (t − t )] dq|ψn∗ (q)ψn (q)| =
0
exp[iEn (t − t0 )]
n n
é o traço do operador ExpiH(t − t0 ). Por fim, faça uma rotação de Wick para o tempo
complexo (1.9.1). O expoente se torna a grandeza real −βEn , com
X
β ≡ τ 0 − τ, e Z[β] ≡ exp[−βEn ] = Tr [Exp(−βH)] (1.9.4)
n
é, por definição, a função de partição do sistema quântico com Hamiltoniano H, e com
uma temperatura
kB T ≡ 1/β. (1.9.5)
27
2
O Oscilador Harmônico e Determinantes
Funcionais
deve ser estacionária com respeito a pequenas variações ao redor da trajetória clássica;
δS = 0. (2.1.3)
segue daı́ que a trajetória clássica é solução do conjunto de equações diferenciais de se-
gunda ordem
d ∂L ∂L
= , (2.1.4)
dt ∂ q̇A ∂qA
conhecidas como Equações de Euler-Lagrange. Denotemos por x(t) a solução destas
equações (um vetor com coordenadas xA ). Para uma Lagrangeana do tipo (2.1.1), A
28
Eq.(2.1.4) dá
∂V
mẍ(t) + = 0, (2.1.5)
∂x
(Trata-se da 2a Lei de Newton usual) que para um oscilador (2.0.1) se reduz a
ẍ + Ω2 (t) x = 0. (2.1.6)
Olhemos então para a ação clássica: a ação avaliada em uma trajetória que satisfaz a
equação de movimento (2.1.5); assim
d d 1 ∂
ẋ2 = dt
(ẋ · x) − x · ẍ = dt
(ẋ · x) + m
x · ∂x
V,
e a ação fica
Z tb n Z tb
m 2 o md 1 ∂
S= ẋ − V dt = (ẋ · x) + x · V −V dt,
ta 2 ta 2 dt 2 ∂x
ou
Z tb
m 1 ∂
S= {ẋ(tb ) · x(tb ) − ẋ(ta ) · x(ta )} + x· V − 2V dt. (2.1.7)
2 2 ta ∂x
sendo ηA (t) é uma função contı́nua, e sendo xA (t) uma solução das equações de Euler-
Lagrange (2.1.4). Para |η| 1, a função acima é muito similar à trajetória clássica, mas
29
note que mesmo trajetórias “muito quânticas”, i.e. que diferem muito da solução clássica
xA (t), podem ser escritas na forma (2.2.1) com ηA (t) tão grande quanto necessário.
Uma vez que todas as trajetórias na integral de caminho devem ter como pontos inicial
e final qA (ta ) e qA (tb ), respectivamente, o mesmo é válido para a trajetória clássica em
particular, ou seja:
qA (ta ) = xA (ta ) ; qA (tb ) = xA (tb ). (2.2.2)
Isto impõe sobre a flutuação ηA (t) a condição de contorno
ηA (ta ) = ηA (tb ) = 0. (2.2.3)
Consideremos esta separação no caso de um oscilador harmônico, com Lagrangeana
(2.0.1). Temos
Z tb
m 2
q̇ − Ω2 q2
S = dt
t 2
Z atb
m
(ẋ + η̇)2 − Ω2 (x + η)2
= dt
t 2
Z atb
m 2
ẋ + η̇ 2 + 2ẋ · η̇ − Ω2 x2 + η 2 + 2x · η
= dt
t 2
Z atb Z tb
m 2 2 2 m 2
η̇ + 2ẋ · η̇ − Ω2 η 2 + 2x · η ;
= dt ẋ − Ω x + dt
ta 2 ta 2
a primeira integral na última linha é a ação avaliada sobre a trajetória clássica, i.e. Scl
dada pela Eq.(2.1.8). A integral restante pode ser reescrita notando que os termos que
possuem dependência da solução clássica x(t) se organizam em
d d
2ẋ · η̇ − 2Ω2 x · η = 2 (x · η) − 2 ẍ + Ω2 x · η = 2 (x · η),
dt dt
uma vez que x(t) satisfaz a equação de movimento (2.1.6) e o segundo termo da segunda
igualdade é, por isso, zero. Assim a contribuição à ação é uma derivada total:
m tb 2
Z
dt η̇ + 2ẋ · η̇ − Ω2 η 2 + 2x · η =
2 ta
Z tb
d tb
= dt (x · η) = m(x · η) = 0,
ta dt ta
que se anula por conta das condições de contorno (2.2.3) sobre η(t). Com isto, a ação
fica:
m tb 2
Z
dt η̇ − Ω2 η 2 ,
S = Scl +
2 ta
e a última integral pode ser mais uma vez reescrita com uma integração por partes:
Z tb tb Z tb
2 2 2 d
dt η · η̈ − Ω2 η 2 ,
dt η̇ − Ω η = (η · η̇) −
ta dt ta ta
30
e mais uma vez, por conta das condições de contorno sobre η(t), o termo integrado se
anula.
A conclusão é que a ação para o oscilador harmônico se separa em uma soma simples:
um termo sendo a ação clássica (2.1.8), contendo apenas a solução clássica conhecida x(t),
e o outro termo contendo apenas a flutuação quântica η(t):
m tb d2
Z
2
S[q] = Scl [x] + dt η · − 2 − Ω (t) η. (2.2.4)
2 ta dt
A interpretação desta equação é simples: Dq é uma medida sobre todas as curvas possı́veis
— integrando, percorre-se todas as possı́veis curvas q(t) arbitrárias. Mas na separação
(2.2.1), a trajetória clássica x(t) é uma curva fixa, e portanto toda a soma se dá sobre os
possı́veis valores da variável arbitrária η(t), ou seja: Dq = Dη enquanto para a curva fixa
x(t) vale Dx = 0. Os limites de integração acompanham de maneira trivial a mudança de
variáveis seguindo a condição de contorno (2.2.3). No cálculo diferencial Rtradicional, em
que as curvas equivalem a números reais, isto equivale a fazer na integral dq a mudança
de variáveis q = x + η, onde x e uma constante fixa: temos então dq = d(x + η) = dη,
com dx = 0.
A demonstração da Eq.(2.3.1) se baseia, a bem dizer, precisamente nesta propriedade
da integração de funções usuais. De fato, escrevendo a integral de caminho em sua versão
discretizada como na Eq.(1.5.10), temos uma infinidade de integrais ordinárias:
"N Z #
Y ∞
i
hqb , tb |qa , ta i = N dqn Exp SN , N → ∞,
n=1 −∞ ~
onde
N
m A (qA,n+1 − qA,n )2
X P
SN ≡ − V (qn ) dτ (2.3.2)
n=0
2 dτ 2
31
ficam
pois a trajetória clássica é fixa e única: a cada instante τn dentro do intervalo [ta , tb ] existe
apenas uma única posição classicamente possı́vel, ou seja: o valor xA (τn ) é uma constante,
determinada univocamente pela solução das equações de Euler-Lagrange. Assim cada uma
das integrais
Z ∞Y
dqA,n ,
−∞ A
onde usamos um certo abuso de notação nos argumentos, significando que Scl,N contém
apenas a discretização da trajetória clássica, enquanto em SQuant,N há apenas a discre-
tização da flutuação, η n ≡ η(τn ). Com isso o integrando da Eq.(2.3.1) fica
32
e como o fator eiScl /~ só depende de xn , ele pode ser retirado da integral,
"N Z #
i
Y ∞
i
hqb , tb |qa , ta i = Exp Scl,N [xn ] N dη n Exp SQuant,N [η n ] ,
~ n=1 −∞
~
ou
Z η(tb )=0
i i
hqb , tb |qa , ta i = e S [x(t)]
~ cl Dη Exp SQuant [η(t)] . (2.4.3)
η(ta )=0 ~
Chamaremos esta integral de caminho restante ‘fator de flutuações quânticas’.
No caso do oscilador harmônico, a contribuição quântica à ação, como definida na
Eq.(2.4.1), é lida da Eq.(2.2.4),
m tb d2
Z
2
SQuant [η] = dt η · − 2 − Ω (t) η, (2.4.4)
2 ta dt
e assim, de acordo com a Eq.(2.4.3), a amplitude de probabilidade fica
Z η(tb )=0
im tb d2
Z
i
hqb , tb |qa , ta i = e ~ Scl [x(t)]
Dη Exp 2
dt η · − 2 − Ω (t) η .
η(ta )=0 2~ ta dt
(2.4.5)
i
O fator cássico e ~ Scl [x(t)] é conhecido (desde que se saiba resolver as equações clássicas de
movimento), e dado pela Eq.(2.1.8). Resta a tarefa de se calcular o fator de flutuações
quânticas
Z η(tb )=0
im tb
Z
F = Dη Exp dt η · A η , (2.4.6)
η(ta )=0 2~ ta
onde definimos o operador diferencial
d2
A≡−
− Ω2 (t). (2.4.7)
dt2
Uma maneira de se efetuar esta integral é por meio de uma discretização do expoente,
a exemplo do que foi feito no §1.6 para a partı́cula livre. Este não será o método adotado
aqui; vamos prosseguir de outro modo, e introduzir o chamado ‘determinante funcional ’
do operador diferencial A.
33
De forma análoga, consideremos as autofunções de um operador diferencial, e em
particular o operador A da Eq.(2.4.7). Como no §2.7, vamos a partir daqui nos restringir
ao caso unidimensional (D = 1), em que o vetor η ∈ RD se resume à função real η(t) ∈ R1 .
Denotando por yk (t) as autofunções de A, e por λk seus respectivos autovalores, temos5
A yk (t) = λk yk (t). (2.5.2)
Definimos então Determinante Funcional de A como o produto (infinito)
Y
Det A = λk . (2.5.3)
k
34
2.7. Mudanças de variável na integral de caminho II — Modos de
Fourier
Estamos interessados na integral de caminho
Z η(tb )=0
i
F = Dη Exp SQuant [η(t)] . (2.7.1)
η(ta )=0 ~
Considere um conjunto (infinito) de funções {yn (t)} que sirva como base para o espaço
(de Hilbert) das funções η(t) sujeitas às condições de contorno η(ta ) = η(tb ) = 0. Neste
caso, uma função qualquer pode ser escrita como um vetor nesta base:
∞
X
η(t) = ck yk (t), (2.7.2)
k=1
Por formarem uma base completa, o conjunto de funções {yn (t)} é ortogonal (e o
supomos normalizado):
Z tb
yk (τ )yl (τ ) dτ = δkl , (2.7.5)
ta
e satisfaz as mesmas condições de contorno de η(τ ), yk (ta ) = yk (tb ) = 0 para todo k. Uma
vez que as autofunções yn (t) são fixas (são, por exemplos, senos); toda a arbitrariedade
das funções η(t) — i.e. das trajetórias a serem integradas — se encontra nos coeficientes
cn da soma infinita (2.7.2). Porém ocorre que na integral de caminho não utilizamos a
função η(t) para todos os valores contı́nuos de t; utilizamos apenas os valores discretos ηn
desta função avaliada em cada um dos N instantes τn que formam a partição do intervalo
[ta , tb ] em N + 1 segmentos (cf. Eq.(1.3.1)),
∞
X
ηn = ck yk (τn ),
k=1
35
e para determinar quaisquer N números (no caso os ηn ) basta uma combinação de linear
de outros N números (no caso coeficientes ck ). Ou seja: na discretização das trajetórias,
a soma acima não é infinita, ela tem apenas N termos independentes:
N
X
ηn = ck yk (τn ), (2.7.6)
k=1
que ordenamos como sendo os N primeiros termos da soma.6 Assim, a cada conjunto {ηn }
de N números correspondendo à trajetória discretizada corresponde um outro conjunto
de N números {cn } correspondendo aos coeficientes na Eq.(2.7.6).
Isto nos permite tratar a integral múltipla sobre os ηn como equivalente a uma integral
múltipla sobre os coeficientes ck . Para ser mais preciso, para cada N fixo, podemos
encarar o conjunto {ηn } como coordenadas em uma variedade N -dimensional, e olhar
para a integral
"N Z #
Y ∞
dηn e(i/~)S[ηn ]
n=1 −∞
como uma integral sobre esta variedade. Então a Eq.(2.7.6) fornece uma transformação
linear ligando {ηn } ao conjunto {cn }, que descreve a mesma variedade; a relação entre
estes conjuntos é simplesmente uma troca de coordenadas nesta variedade, e podemos
efetuar esta troca de coordenadas da maneira tradicional na integral. De acordo com a
Eq.(2.7.6), temos que
XN
dηn = yk (τn ) dck ,
k=1
e
" N Z
# " N Z
#
Y ∞ Y ∞
dηn e(i/~)S[ηn ] = J dcn e(i/~)S[cn ] , (2.7.7)
n=1 −∞ n=1 −∞
36
como na Eq.(2.7.2). As duas bases devem ser ligadas por uma transformação unitária (ou
ortogonal, neste caso em que nos restringimos a matrizes reais):
X † −1
yn = Unk zk , com Unk = Unk e Det U = 1.
k
Assim, vale
P
Det yk (τn ) = Det [ l Ukl zl (τn )] = DetUkl × Det zl (τn ) = Det zl (τn ),
ou seja:
Com isso,
N N/2
NJ
r
Y 2π~ 2π~
F =NJ , ou F = √ , (2.8.2)
n=1
imλk im Det A
com Det A =
Q
k λk como definido na Eq.(2.5.3).
37
Reescrevendo a Eq.(2.8.2) podemos deixar explı́cita a semelhança da integral de ca-
minho F com uma integral Gaussiana (1.4.4):7
R η(tb )=0 h R i m −1/2
im tb
η(ta )=0
Dη Exp 2~ ta
dt η A η = Det 2πi~ A (2.8.3)
não se sabe sequer se é um objeto bem definido, visto que se trata de um produto infinito
de autovalores. De fato, a constante de nosmalização N , definida em (1.5.8), é infinita e
portanto a combinação
√
J/ Det A
deve também ser infinita para que a amplitude de probabilidade do oscilador harmônico
seja bem definida. Sobre a constante J, sabemos que não depende das curvas arbitrárias
(cf. fim do §2.7, e.g. Eq.(2.7.8)). Além disso, sabemos que J é independente da escolha
particular da base do espaço de Hilbert das funções η(t), com t ∈ [ta , tb ] e η(ta ) = η(tb ) = 0.
d2
O conjunto {yk (t)}das autofunções do operador − dt 2 − Ω(t) fornece uma base para este
d2
espaço; para um outro operador − dt2 − Ω̃(t), com outra função Ω̃(t) 6= Ω(t) possui outro
conjunto de autofunções, digamos {zk (t)}, que também forma uma base para o mesmo
espaço de Hilbert. Com a Eq.(2.7.9) chega-se então à importante conclusão de que
38
e com a Eq.(2.8.2) podemos escrever
N/2
NJ
i 2π~
hqb , tb |qa , ta i = Exp Scl [x(t)] q . (2.9.1)
~ im d2 2
Det − dt2 − Ω (t)
Sendo válida para qualquer Ω(t), esta relação vale para Ω = 0, quando a ação clássica,
dada em geral pela Eq.(2.1.8), é
mv m(xb − xa )2
Scl Ω=0 = (xb − xa ) = , (2.9.2)
2 2(tb − ta )
onde
v = ẋ = (xb − xa )/(tb − ta )
a velocidade, constante, da partı́cula livre. Assim, a integral de caminho para a partı́cula
livre fica
N/2
NJ im(xb − xa )2
2π~
hqb , tb |qa , ta i = q d2 Exp 2~(tb − ta ) .
im Det − dt2
Comparemos este resultado com a Eq.(1.6.3) (obtida por método totalmente distinto):
1/2
im (xb − xa )2
m
hqb , tb |qa , ta i = Exp .
2πi~ (tb − ta ) 2~ tb − ta
39
2.10. A Fórmula de Gel’fand-Yaglom (como apresentada por
Sidney Coleman)
−∂t2 − Ω2 ψ = λ ψ,
(2.10.1)
onde Ω = Ω(t) é uma função limitada no intervalo t ∈ [ta , tb ]. Para um valor qualquer de
λ, a solução ψλ (t) da equação (de segunda ordem) fica completamente determinada pelas
(duas) condições de contorno
Sejam Ω(1) (t) e Ω(2) (t) duas funções que definam dois operadores como em (2.10.1),
(1) (2)
cada qual com soluções ψλ (t) e ψλ (t). A seguinte fórmula, demonstrada por Coleman,9
h i
2 2
Det −∂t − Ω(1) − λ (1)
ψλ (tb )
h i = (2) , (2.10.3)
Det −∂t2 − Ω2(2) − λ ψλ (tb )
com o determinante funcional sendo o produto dos autovalores (cf. §2.5), é válida para
todo λ ∈ C.
(2)
Em particular, tomando λ = 0, e Ω(2) = 0, a solução ψ0 da Eq.(2.10.1) com as
condições de contorno (2.10.2) é trivial:
(2) (2)
∂t2 ψ0 (t) = 0 ⇒ ψ0 = t − ta ;
(1) d 2 (1) (1)
enquanto que ψλ=0 (t) é simplesmente a solução da equação − dt2 ψ0 = Ω2(1) ψ0 (t), ou
(1)
seja: a trajetória clássica do oscilador com frequância Ω(1) (t). Denotando então ψ0 (t) ≡
xGY (t), e omitindo os ı́ndices agora obsoletos, a fórmula de Coleman fica
h 2 i
d 2
Det − dt 2 − Ω (t) xGY (tb )
d2 = , com ẍGY = −Ω2 (t) xGY , (2.10.4)
Det − dt2 tb − ta
*
Prova da Fórmula (2.10.3)
8
Como é usual, denotamos ∂t ≡ d/dt, e ∂t2 ≡ d2 /dt2 , etc.
9
Em The uses of instantons, App.1., apresentada nas suas Erice Lectures [6].
40
Considere o lado esquerdo da Eq.(2.10.3) como uma função do parâmetro λ ∈ C,
digamos φ(λ),
h i
2 2
Det −∂t − Ω(1) − λ
φ(λ) ≡ h i.
Det −∂t2 − Ω2(2) − λ
Existem polos de φ(λ) nos pontos em que o denominador se anula, i.e. nos pontos em que
(2)
o operador possui um autovalor zero; isto ocorre quando λ é um dos autovalores λk de
(1)
−∂t2 − Ω2(2) . Fora destes pontos, φ(λ) é analı́tica, com zeros em λ = λk , que são os zeros
do operador −∂t2 − Ω2(1) .
Assim φ(λ) é analı́tica em todo o plano complexo a menos de sobre o eixo real (os
(2)
autovalores λk são reais). Além disso, no limite em que |λ| → ∞ em qualquer direção
de C que não seja o eixo real, temos φ → 1, já que (por hipótese) as funções Ω(t) são
limitadas, e podemos descartar sua contribuição assintoticamente:
h i
Det −∂t2 − Ω2(1) − λ Det [−∂t2 − λ]
φ(λ) ≡ h i −→ 2
=1
2 2
Det −∂ − Ω − λ Det [−∂ t − λ]
t (2)
quando λ Ω.
Considere agora o lado direito da Eq.(2.10.3) como uma segunda função do parâmetro
λ ∈ C, digamos
(1)
ψλ (tb )
ϕ(λ) = (2)
.
ψλ (tb )
Os polos de ϕ(λ) ocorrem quando o denominador se anula, i.e. quando
(2)
ψλ (tb ) = 0.
(2) (2)
Mas a função ψλ (t) já está sujeita à condição inicial expressa em (2.10.2), ψλ (ta ) = 0; a
combinação destas duas condições faz da Eq.(2.10.1) um problema de Sturm-Liouville, e
(2) (2)
ψλ é uma autofunção de −∂t2 − Ω2(2) e por isso λ é um dos autovalores λ = λk . Ou seja:
(2)
os polos de ϕ(λ) ocorrem nos mesmos pontos (viz. {λ = λk }) que os polos da função
φ(λ). Consequentemente, ambas as funções são analı́ticas no mesmo domı́nio. Além disso,
(1)
seus zeros também coincidem, uma vez que os zeros de ϕ(λ) ocorrem quando ψλ (tb ) = 0
(1)
e o mesmo argumento dado acima implica que então λ = λk é um dos autovalores de
(1) (2)
−∂t2 − Ω2(1) . Por fim, no limite λ Ω, ambas ψλ e ψλ são soluções da mesma equação
diferencial (viz. −∂t2 ψλ = λψλ ), e portanto ϕ → 1 quando λ → ∞, assim como φ(λ).
O que se tem, então, é um par de funções φ(λ) e ϕ(λ), com zeros coincidentes e
também com polos coincidentes. Assim, a razão φ(λ)/ϕ(λ) é uma função analı́tica em
todo o plano complexo (dita uma função ‘inteira’), e também é limitada. O teorema de
Liouville da análise complexa assegura então que φ(λ)/ϕ(λ) é constante. Consequente-
mente, como φ(λ)/ϕ(λ) → 1 no limite λ → ∞, este tem de ser seu valor em todo C, ou
seja: φ(λ)/ϕ(λ) = 1 para todo λ ∈ C.
Essa é a demonstração de que o lado direito e o lado esquerdo da Eq.(2.10.3) são iguais
para todo λ.
41
2.11. Uma fórmula final para a amplitude de transição do
oscilador harmônico
Repare que ambos xGY (t) e x(t) — que aparecem na amplitude e no exponente, respcti-
vamente — são soluções da mesma equação diferencial (a equação de movimento clássica
do oscilador harmônico), no entanto possuem condições contorno distintas. Na verdade,
xGY (t) obedece condições iniciais (viz. condições de Cauchy), em que se determina o valor
da função e de sua derivada em um único ponto (no caso, ta ); já x(t) obedece condições
de contorno propriamente ditas (viz. condições de Dirichlet), em que se determina o valor
da função em dois pontos distintos (no caso, ta e tb ), sem nada dizer a respeito de sua
derivada.
O resultado obtido na Eq.(2.11.1) é então o seguinte fato: Para determinar a amplitude
de transição (quântica), basta resolver as equações de movimento (clássicas).
***
e o exponente também coincide com o do resultado que já tı́nhamos (lembre que nos
pontos inicial e final a trajetória arbitrária q(t) coincide com a trajetória clássica x(t), i.e.
q(ta ) = x(ta ), etc.).
42
2.12. A amplitude de transição para o oscilador harmônico
simples
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Bibliografia
[4] J. Zinn-Justin, Quantum field theory and critical phenomena, vol. 113. Oxford
University Press, 2002.
[5] H. Kleinert, Path integrals in quantum mechanics, statistics, polymer physics, and
financial markets. World scientific, 2009.
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