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A ATUAÇÃO DO CONSELHO TUTELAR COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA

Solange Rodrigues da SILVA1


Eliel Ribeiro CARVALHO2

RESUMO

A violência doméstica, o abuso físico, emocional, psicológico e sexual é uma realidade cruel
em círculos familiares, principalmente entre adolescentes e crianças que são as maiores
vítimas desta realidade, que independe de classe social. Nesse sentido, o presente trabalho tem
como objetivo discorrer sobre a atuação do Conselho Tutelar junto às crianças e adolescentes
adol
vítimas de violência. Como objetivos específicos,
específicos conceituou a violência doméstica e seus
tipos; analisou as ações realizadas e medidas aplicadas pelo Conselho tutela às crianças e
adolescentes em casos de violência; discorreu
discorre sobre a atuação dos Conselheiros Tutelares e
analisou as dificuldades enfrentadas diante dos atendimentos de violência. A metodologia
usada foi pela pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo com realização de entrevistas com
cinco Conselheiros Tutelares,, da cidade de Iturama/MG.
Iturama Ao fim da pesquisa pode-se
pode concluir
que há necessidade de políticas públicas mais efetivas para a real solução das crianças e
adolescentes que estão em estado de abandono por parte de pais, tanto por negligência,
violência ou abandono, buscando garantias
garant de direitos e proteção.

Palavras-chave: Conselho Tutelar.


Tutelar Crianças e adolescentes. Violência doméstica.

THE ACTION OF THE TUTORING COUNCIL WITH CHILDREN AND


ADOLESCENTS VICTIMS OF VIOLENCE

ABSTRACT

Domestic violence, physical, emotional, psychological and sexual abuse is a cruel reality in
family circles, especially among adolescents and children who are the biggest victims of this
reality, which is independent of social class. In this sense, the present
present work aims to discuss
about the role of the Guardianship Council with children and adolescents victims of violence.
As specific objectives, he conceptualized domestic violence and its types; Analyzed the
actions taken and measures implemented by the Council
Council to protect children and adolescents in
cases of violence; Talked about the role of the Guardians Councilors and analyzed the
difficulties faced in dealing with violence. The methodology used was the bibliographical
research and field research with interviews
interviews with five Guardians Councilors, from the city of
Iturama / MG. At the end of the research, it can be concluded that there is a need for more
effective public policies for the real solution of the children and adolescents who are in the
state of abandonment
andonment by parents, either through neglect, violence or abandonment, seeking
guarantees of rights and protection.

1
Graduanda em Direito pela Faculdade Aldete Maria Alves/FAMA, Iturama/MG.
Iturama/MG carolsol20091982@gmail.com
2
Doutor em Ciências Sociais e Jurídicas, com ênfase em Direito Penal, pela Universidad Del Museo Social da
Argentina. Especialista em Direito Penal, Direito Processual Penal e Docência do Ensino Superior pela
Faculdade Integrada de Paranaíba-MS.
MS. Possui graduação em Ciências Sociais e Jurídicas pela Universidade
Camilo Castelo Branco (2006). Bacharel em Teologia pelo Seminário
S Teológico Moriá. Docente e Coordenador
do Curso de Direito - Faculdade Aldete Maria
Mar Alves/FAMA, Iturama/MG. carvalho.eliel@hotmail.com
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Keywords: Tutelary Council. Children and adolescents. Domestic violence.

1 INTRODUÇÃO

A violência doméstica, o abuso físico, emocional, psicológico e sexual é uma


realidade cruel em muitos círculos familiares, principalmente entre adolescentes e crianças
que são as maiores vítimas dessa realidade, independente de classe social. Isso é uma
realidade presente em qualquer lugar, o que chama a atenção para a necessidade do preparo
dos profissionais envolvidos nessa questão.
Assim, o interesse pela realização da pesquisa “A atuação do Conselho Tutelar com
crianças e adolescentes vítimas de violência” deu-se frente à atuação profissional
desenvolvida nesse órgão na cidade de Iturama/MG.
O presente estudo pretende contribuir com uma discussão sobre as lacunas do
conhecimento nesta área, trazendo informações do dia-a-dia enfrentado pelos Conselheiros
Tutelares com relação a crianças e adolescentes que são vítimas de violência.
Para tanto, buscou-se responder às seguintes questões: como se dá o trabalho
desenvolvido pelo Conselho Tutelar juntamente com as crianças e adolescentes vítimas de
violência e quais as principais dificuldades enfrentadas nos atendimentos?
Para responder aos questionamentos, a pesquisa teve como objetivo geral analisar a
atuação do Conselho Tutelar na cidade de Iturama/MG, junto às crianças e adolescentes
vítimas de violência e as dificuldades do dia-a-dia. Como objetivos específicos, analisou as
ações realizadas e medidas aplicadas pelo Conselho Tutelar às crianças e adolescentes em
casos de violência; discorreu sobre a atuação dos Conselheiros Tutelares e analisou as
dificuldades enfrentadas diante dos atendimentos de violência, verificando possíveis soluções
para reduzi-las.
Para fazer a discussão das questões propostas foram seguidos dois passos. No
primeiro foi desenvolvida uma pesquisa bibliográfica e no segundo foi feita uma pesquisa de
campo com a realização de entrevista com cinco Conselheiros Tutelares.
De acordo com Marconi e Lakatos (2010), a pesquisa bibliográfica busca explicar
um problema a partir de referências teóricas publicadas em documentos. Busca, portanto,
conhecer e analisar as contribuições culturais ou científicas existentes sobre um determinado
assunto, tema ou problema. Para o desenvolvimento dessa parte da pesquisa foram utilizados
livros doutrinários, artigos científicos, códigos, leis específicas; jornais e periódicos.
Ainda segundo Marconi e Lakatos (2010, p. 159), pesquisas de campo “são
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realizadas com pessoas que podem fornecer dados ou sugerir possíveis fontes de informações
úteis”. Assim, é aquela utilizada com o “objetivo de conseguir informações e/ou
conhecimentos acerca de um problema, para o qual se procura uma resposta, ou de uma
hipótese, que se queira comprovar, ou, ainda, descobrir novos fenômenos ou as relações entre
eles” (MARCONI; LAKATOS, 2010, p. 186).

2 DA VIOLÊNCIA: CONCEITO E TIPOS

O vocábulo violência é composto pelo prefixo vis, força em latim. Sugere, em


primeiro lugar, as ideias de vigor, potência ou impulso. Para Cavalcanti (2008, p. 50) a
violência doméstica é:

Aquela que acontece dentro da família, ou seja, nas relações entre os membros da
comunidade familiar, formada por vínculos de parentesco natural (pai, mãe, filha
etc.) ou civil (marido, sogra, padrasto ou outros), por afinidade (por exemplo, o
primo ou tio do marido) ou afetividade (amigo ou amiga que more na mesma casa).

A violência doméstica é um problema que acomete ambos os sexos e não costuma


obedecer nenhum nível social, econômico, religioso ou cultural específico, independente da
idade, como poderiam pensar alguns. Nesse sentido, Cavalcanti menciona ainda que:

A violência doméstica fundamenta-se em relações interpessoais de desigualdade e


de poder entre mulheres e homens ligados por vínculos consanguíneos, parentais, de
afetividade ou de amizade. O agressor se vale da condição privilegiada de uma
relação de casamento, convívio, confiança, amizade, namoro, intimidade,
privacidade que tenha ou tenha tido com a vítima, bem como da relação de
hierarquia ou poder detenha sobre a vítima para praticar a violência.
(CAVALCANTI, 2008, p. 51).

A vítima também se sente violada e traída, já que o agressor promete que nunca mais
vai repetir este tipo de comportamento e termina não cumprindo a promessa.
Nesse contexto, a criança e adolescente são pessoas que se encontram em fase de
desenvolvimento e para que seja um desenvolvimento saudável é necessário que ocorra de
forma equilibrada, com um ambiente familiar propondo condições saudáveis de
desenvolvimento, incluindo estímulos positivos, boa relação familiar, vínculo afetivo e
diálogo.
Para Weiss (2004, p. 23),

[...] aspectos emocionais estariam ligados ao desenvolvimento afetivo e sua relação


com a construção do conhecimento a expressão deste através da produção escolar
[...]. O não aprender pode, por exemplo, expressar uma dificuldade na relação da
criança com sua família; será o sintoma de que algo vai mal nessa dinâmica.

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Assim, pode-se dizer que um ambiente familiar hostil e desequilibrado pode afetar
tanto a aprendizagem como também o desenvolvimento físico, mental e emocional.
Os tipos de violência contra crianças e adolescentes podem ser a violência física,
violência sexual, violência psicológica e a negligência.
A violência física é entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou
saúde corporal, ou ainda ação ou omissão que coloque em risco ou cause danos à integridade
física de uma pessoa. Essa violência, segundo Cavalcanti (2008), consiste em atos de
acometimento físico através de tapas, chutes, golpes, queimaduras, mordeduras,
estrangulamentos, punhaladas, mutilação genital, tortura, assassinato, entre outros.
Já a violência psicológica é a ação ou omissão destinada a degradar ou controlar as
ações, comportamento, crenças e decisões de outra pessoa por meio de intimidação,
manipulação, ameaça direta ou indireta, humilhação, isolamento ou qualquer outra conduta
que implique prejuízo à saúde psicológica, à autodeterminação ou ao desenvolvimento
pessoal.
A violência sexual é a violência que obriga uma pessoa a manter contato sexual, físico
ou a participar de outras relações sexuais com uso da força, intimidação, coerção, chantagem,
suborno, manipulação, ameaça ou qualquer outro mecanismo que anule ou limite à vontade
pessoal.
Considera-se como violência sexual também o fato de o agressor obrigar a vítima a
realizar alguns desses atos com terceiros. Consta ainda do Código Penal Brasileiro que a
violência sexual pode ser caracterizada de forma física, psicológica ou com ameaça, nos
crimes de estupro, atentado violento ao pudor e ato obsceno (BRASIL, 1940).
A negligência caracteriza-se com desleixo, descuido, desatenção, indolência, podendo
ser caracterizada como uma das formas de violência que consistem e não dar à criança aquilo
de que ela necessita, quando isto é fundamental para seu desenvolvimento sadio (ASSIS,
1994).

3 CONSELHO TUTELAR E CRIANÇAS E ADOLESCENTE

O Conselho Tutelar (CT) é um órgão de grande importância para a sociedade. Em


número expressivo, vem crescendo nos municípios, sendo encarregados de identificar e
acolher crianças e adolescentes com situação de risco (ROMANO, 2012).
Em 1990, no dia 13 de julho, o Conselho Tutelar surgiu junto com o Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), então criado pela Lei nº 8.069/90. É um órgão autônomo
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não fazendo parte do judiciário.
O ECA surgiu para dar maior garantia, proteção e segurança para crianças e
adolescentes frente à família e sociedade. De acordo com Martins (2004), o direito passou a
ter um novo paradigma com relação à infância e juventude: crianças e jovens foram elevados
à condição de titulares de direitos fundamentais. O ECA revogou o Código de Menores de
1979, superando a política repressiva e de caráter assistencialista.
Como novas formas de articulação propostas entre o Estado e a sociedade civil, o ECA
sustenta três eixos fundamentais: o de proteção integral da criança e do adolescente; o de
vigilância, que relaciona ao cumprimento do próprio ECA, e o de responsabilidade pelo não
atendimento, atendimento irregular ou violação de direitos individuais ou coletivos
(MARTINS, 2004).
Os agentes principais dessas diretrizes passam a ser Secretarias de Segurança Pública,
Ministério Público, Conselhos de Direito da Infância e Adolescência, os Conselhos Tutelares,
Centros de Defesa da Criança e do Adolescente e as Associações legalmente constituídas.
Nesse contexto, surge o Conselho Tutelar com a finalidade de fiscalizar entidades de
atendimento e defesa da criança e do adolescente.
O art. 88 do ECA afirma que:

Art. 88. São diretrizes da política de atendimento:


I - municipalização do atendimento;
II - criação de conselhos municipais, estaduais e nacional dos direitos da criança e
do adolescente, órgãos deliberativos e controladores das ações em todos os níveis,
assegurada a participação popular paritária por meio de organizações
representativas, segundo leis federal, estaduais e municipais; (BRASIL, 1990, p. 25).

Assim, a municipalização do atendimento foi a principal mudança no processo de


políticas públicas, buscando soluções dentro da própria comunidade com a participação de
pessoas que participam da mesma realidade diariamente.

4 DA ATUAÇÃO DO CONSELHO TUTELAR

O Conselho Tutelar sendo um órgão que surgiu juntamente com o Estatuto da Criança
e do Adolescente (ECA) é uma entidade vitalícia que não faz parte do judiciário, e tem como
finalidade fiscalizar as entidades de atendimento e defesa da criança e do adolescente.
Rege-se sob os princípios do cidadão e da exigibilidade pelas vias administrativas ou
jurisdicionais de que as políticas públicas cumpram com o seu dever. Foi criado com a
finalidade de fiscalizar as entidades de atendimento e defesa da criança e do adolescente, um

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órgão autônomo, colegiado, permanente, com participação de profissionais especializados e
com equipe interdisciplinar (MARQUES, 2004).
Compostos de 10 membros eleitos pela comunidade, o Conselho Tutelar atende às
crianças e adolescentes que tiverem direitos ameaçados seja por ação ou omissão da sociedade
ou do Estado, omissão ou abuso dos pais ou responsáveis ou em razão da sua conduta, atende
e aconselha os pais e responsáveis a aplicar algumas medidas como encaminhamento a cursos
ou programas de orientação e promoção a família e tratamento especializado (ROMANO,
2012).
Para Cury, Silva e Mendez (1996), o novo modelo substituiu a verticalidade
centralizadora pela horizontalidade com fundamentos na descentralização decisória gerencial,
na articulação interinstitucional e na participação popular paritária na tomada de decisões,
coordenação e controle das ações em todos os níveis.
Assim, de acordo com Martins (2004), no campo do atendimento à infância e
adolescência, o ECA substituiu o assistencialismo filantrópico vigente por propostas de
trabalho socioeducativos direcionados à cidadania, criando uma nova estrutura para a política
de defesa e promoção dos direitos da criança e do adolescente baseada na descentralização,
participação popular efetiva e na responsabilização pelo atendimento ausente ou deficiente
prestados pelos entes responsáveis.
Os casos encaminhados para o Conselho Tutelar são de discriminação, exploração,
negligência, opressão, violência, crueldade, tendo como vítima crianças ou adolescentes. O
Conselho Tutelar acompanha o caso, buscando resolver o problema e proporcionando o
direito de poderem exercer suas garantias pela legislação.
No artigo 136 do ECA encontram-se as atribuições do Conselho Tutelar, quais sejam:

Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar:


I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98 e 105,
aplicando as medidas previstas no art. 101, I a VII;
II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas previstas no
art. 129, I a VII;
III - promover a execução de suas decisões, podendo para tanto:
a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social,
previdência, trabalho e segurança;
b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de descumprimento
injustificado de suas deliberações.
IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua infração
administrativa ou penal contra os direitos da criança ou adolescente;
V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência;
VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciária, dentre as
previstas no art. 101, de I a VI, para o adolescente autor de ato infracional;
VII - expedir notificações;
VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança ou adolescente
quando necessário;
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IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta orçamentária para
planos e programas de atendimento dos direitos da criança e do adolescente;
X - representar, em nome da pessoa e da família, contra a violação dos direitos
previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da Constituição Federal;
XI - representar ao Ministério Público para efeito das ações de perda ou suspensão
do poder familiar, após esgotadas as possibilidades de manutenção da criança ou do
adolescente junto à família natural.
XII - promover e incentivar, na comunidade e nos grupos profissionais, ações de
divulgação e treinamento para o reconhecimento de sintomas de maus-tratos em
crianças e adolescentes.
Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições, o Conselho Tutelar entender
necessário o afastamento do convívio familiar, comunicará incontinenti o fato ao
Ministério Público, prestando-lhe informações sobre os motivos de tal entendimento
e as providências tomadas para a orientação, o apoio e a promoção social da família.
(BRASIL, 1990, p.37-38).

Assim, os Conselheiros Tutelares atendem as crianças e adolescentes que tiverem seus


direitos ameaçados seja por ação ou omissão da sociedade ou do Estado, abuso ou omissão
dos pais e responsáveis, ou em razão de sua conduta. Ademais, atende e aconselha os pais e
responsáveis a buscarem aplicar medidas como encaminhamento a cursos e/ou programas de
orientação e promoção à família e tratamento especializado. Nesse sentido, para Maior Neto
(2010), as crianças e adolescentes são vítimas frágeis e vulneradas por omissão da família,
sociedade e do Estado na garantia de direitos elementares da pessoa humana.

5 DIFICULDADES DO CONSELHO TUTELAR E POSSÍVEIS SOLUÇÕES

Para a pesquisa de campo, foram entrevistados cinco Conselheiros Tutelares da


cidade de Iturama/MG. Dentre os entrevistados, três pessoas eram do sexo feminino,
denominadas E1, E2 e E3; e duas pessoas do sexo masculino, denominadas E4 e E5. As
idades são respectivamente 33, 43, 48, 29 e 30 anos.
Foram realizadas 10 perguntas no total. Nesse sentido, quando questionados sobre a
visão do Conselho Tutelar, os entrevistados relataram que acreditam que é um órgão para
garantir direitos e defesa das crianças e adolescentes.
O Conselho Tutelar funciona quando tem denúncia de alguma violação de direito da
criança ou de adolescente (E1).
Quanto à atuação dos Conselheiros, observou-se que nem todos possuem a mesma
dedicação.
Aqui tem gente que quer trabalhar, conquanto há muita burocracia e dificuldade
para ter um andamento adequado para os adolescentes e crianças. (E3).
Outro fator é que alguns Conselheiros não possuem uma formação continuada para o
exercício da função.
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Acho que poderia ser melhor nosso trabalho, se tivéssemos treinamento mais
adequado, com inserção de novos conhecimentos e apoio especializado. (E5).
Nem nosso computador funciona direito, não possuímos mobília para recebermos
família e os jovens. Há muito abandono também. É muito precária nossa situação, não tem
condições para um trabalho melhor (E5).
Uma das dificuldades encontradas pelos Conselheiros Tutelares é por meio da
violência. Ela está presente em vários cenários, com diferentes formas, inclusive dentro de
casa, na escola. A violência na escola tem sido realizada, muitas vezes, por ex-alunos que
pensam que a escola é uma coisa inútil, o que pode se dar por abandono do prédio, desvio de
verbas, salários ruins, não valorização do docente (SCHILING, 2008).
Outras formas de violência que se dão também na escola são a discriminação,
professores desmotivados que não ensinam, roubos, furtos, agressões, brigas, etc.
(SCHILING, 2008).
Candau (2000) destaca que há uma banalização da violência na sociedade. Para a
autora, a banalização da violência está presente em veículos de comunicação, como a TV e as
mídias sociais, discriminação sexual, violência contra a mulher, contra a criança e
adolescente, agressão com palavras e atitudes por razões banais e fúteis do cotidiano.
Para Sposito (1998), a escola tornou-se um lugar de violência por não atender as
expectativas dos alunos. A violência é somente “a conduta mais visível de recurso ao
conjunto de valores transmitidos pelo mundo adulto, representados simbólica e materialmente
na instituição escolar, que não mais respondem ao seu universo de necessidades” (SPOSITO,
1998, p. 73).
Por diversas vezes, assumimos funções da escola, a de disciplinar, sendo chamados
por conta de alunos mal disciplinados, brigando na escola, xingando professores, etc. (E2).
Para Aquino (1998), não se pode afirmar que o que ocorre no interior das escolas é o
reflexo do que acontece fora dela. A violência escolar é uma adaptação da violência fora da
escola, uma nova versão.
É evidente que as relações escolares não implicam um espelhamento imediato dos
extraescolares. Não é possível sustentar que a escola tão somente reproduz vetores de força
exógenos a ela. “Algo de novo produz-se nos interstícios do cotidiano escolar, através de
reapropriação dos vetores de força por parte de seus atores constitutivos e procedimentos
instituídos/instituintes” (AQUINO, 1998, p. 10).
Segundo Gonçalves e Sposito (2002), a escola na década de 1990 passou por
mudanças onde o padrão de violência deixou de ser somente caracterizada por vandalismo,
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acrescentando agressões interpessoais, com xingamentos, ameaças e constrangimentos entre
estudantes e professores.
Com relação à responsabilidade quanto à negligência na violação dos direitos de
criança e adolescente, foram relatados que:
A maioria dos relatos é por negligência dos pais. Muitos pais utilizam drogas, como
crack, maconha (E4).
Teve um caso onde a mãe viajou e deixou seus três filhos menores trancados dentro
de casa, sem nenhum alimento. Vizinhos que iam lá e tentavam ajudá-los. Um absurdo. (E4).
É muito triste ver uma criança vítima de maus tratos, com má alimentação, sujo,
totalmente abandonado (E5).
Quando perguntado sobre quais ocorrências são mais atendidas, em primeiro lugar
está a negligência, seguida por abuso sexual.
Muitos casos que vamos atender por violência física, os pais utilizam drogas, faz uso
de álcool. (E1).
Nesse contexto, o ECA surgiu por meio de preocupações com a segurança dos
direitos da criança e do adolescente, fortalecendo os Conselhos Tutelares.
Porém, os Conselheiros acabam atuando segundo seus preceitos e convicções
pessoais. Assim, é fundamental que seja fornecido mais formação e qualificação para o
Conselheiro, para possuírem conhecimento dos princípios do ECA.
Segundo relato dos entrevistados, por diversas vezes, o Conselho Tutelar assume
funções que deveriam ser da escola, como a disciplinarização. Outro caso ocorre também
dentro do ambiente familiar. Várias vezes, a sociedade cobra do Conselheiro Tutelar ações
que são obrigações de pais.
Já fui chamada na escola porque um aluno não queria copiar a matéria da
professora, e começou uma discussão entre professor e aluno. Isso não é serviço nosso. É
uma questão de disciplina da escola. (E2).
Segundo entrevistas com Conselheiros Tutelares, dentre soluções para melhorar a
vida das crianças e adolescentes seria fazer com que elas voltassem a frequentar as escolas.
Muitas crianças e adolescentes abandonam as escolas como primeiro sinal de que estão
entrando no mundo de drogas, violências.
Encontrar soluções para esse problema não é tarefa fácil para os Conselheiros.
Olha, há a falta de oportunidade de trabalho que com o fim do programa “Guarda-
Mirim”, os jovens deixaram de ter a chance de iniciar por meio período a um emprego
decente, com dignidade, gerando expectativas futuras e também proporcionando dignidade
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para sua família. (E4).
Assim, acreditam que a geração de emprego poderia ser um incentivo para a
transformação do jovem.
Foi relatado que também não há pessoal suficiente para acompanhar crianças e
adolescentes de forma eficaz para tirá-las daquele ambiente propício às drogas e proporcionar
uma mudança de vida com oportunidade. “Você se sente impotente algumas vezes, em não
poder ajudar de forma mais efetiva”, relata E2.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo discorrer sobre a atuação dos Conselheiros
Tutelares no atendimento às crianças e adolescentes. De tal modo, iniciou-se conceituando a
violência e os diversos tipos. Logo após, passou-se a discorrer sobre o Conselho Tutelar, para
adentrar na atuação do mesmo junto às crianças e adolescentes.
Passou-se em seguida a discorrer sobre o tema central do trabalho, as dificuldades
encontradas pelo Conselho Tutelar e as possíveis soluções para melhorar seu atendimento à
sociedade.
Para maior eficácia social é necessário mudança nos pensamentos dos operadores,
com tomada da postura prevista no ECA e observando os seus princípios. As entidades de
atendimento à infância e adolescência, os Conselhos Tutelares, o Ministério Público e o
Judiciário necessitam de pessoas especializadas para o trato dessas questões.
Foi verificado que há necessidade dos Conselheiros Tutelares terem preparo
profissional para exercer de forma efetiva e com eficácia seu trabalho, devendo ter amplo
conhecimento das formas de violência e possibilidades de tratamento.
Diante dos depoimentos fornecidos, foi possível observar que a maioria dos
Conselheiros possui preocupação com as crianças e adolescentes e o efetivo atendimento.
Alguns se sentem decepcionados por não conseguirem alcançar o que gostariam.
Ademais, observou-se que um dos desafios é a falta de formação continuada após o
processo de escolha dos Conselheiros, além da falta de estrutura para o efetivo
funcionamento, como equipamentos para ter controle das denúncias e apoio administrativo.
Ao fim, conclui-se que há necessidade de haver mais políticas públicas efetivas para
a real solução dessas crianças e adolescentes em estado de abandono por parte dos pais, seja
por negligência, por violência, por abandono. Proteger e garantir os direitos das crianças e dos
adolescentes é um dever do Estado, e deve-se cobrar para que seja realizado de forma efetiva
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Recebido em: 22 de junho de 2017


Aceito em: 29 de julho de 2017

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DOI: 10.29031/ros.v6i6.306

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