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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

ESCOLA DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA


FÍSICA EXPERIMENTAL II - ENSINO REMOTO

Roteiro Experimental 4: Elementos Resistivos - Resistor e Diodo

1 Objetivos Gerais
• Introduzir o primeiro componente linear de um circuito: o resistor R.

• Verificar a relação entre a corrente e a tensão num resistor.

• Introduzir o primeiro elemento não-linear de um circuito: um diodo D.

• Verificar a relação entre a corrente e a tensão num diodo.

• Comparar o comportamento de dispositivos ôhmicos (que seguem a lei de Ohm) com o de dispositivos
não-ôhmicos (que não seguem a lei de Ohm).

2 Objetivos Específicos
• Montar circuitos usando um simulador online;

• Realizar medidas de corrente e tensão no resistor e no diodo;

• Usar a ferramenta PROJ.LIN() para analisar os dados e obter as estatísticas da regressão para a
corrente versus a tensão no resistor.

• Realizar a linearização da curva aproximada para a corrente versus tensão no diodo e usar a ferramenta
PROJ.LIN() para analisar os dados e obter as estatísticas da regressão.

• Verificar se os modelos esperados para as respostas do resistor e do diodo à aplicação de uma tensão em
seus terminais são compatíveis com os dados experimentais, fazendo-se o uso dos testes de significância
local (Teste-t) e global (Teste-F ).

3 Configurações Experimentais

Figura 1: Primeira janela ao se abrir o simulador.


Figura 2: Janela limpa para a montagem de um novo circuito.

O experimento será feito usando o simulador online https://www.falstad.com/circuit/circuitjs.


html. A figura 1 mostra o aspecto do simulador assim que a página na web é acessada. No teclado de
seu computador digite simultaneamente as teclas “Ctrl”+“A” e em seguida clique em “Delete”. Se você
estiver usando um smartphone, a maneira mais simples é clicar na aba “Editar”→“Selecionar Tudo” e depois
“Editar”→“Cortar”. O resultado deste procedimento é mostrado na figura 2:
Então, agora deve-se clicar na aba “Desenhar” e ir adicionando os componentes para montar o circuito.
Para isso, basta clicar no componente desejado e “arrastar” o cursor do mouse no quadro negro. A lista de
componentes é:

• Componentes Passivos:

– 1 resistor de 100 Ω;
– 1 resistor R de 470 Ω;
– 1 resistor de 500 kΩ;
– 1 chave SPDT.

• Componentes Ativos:

– 1 diodo D.

• Entradas e Fontes:

– 1 fonte de tensão contínua com 2 terminais;


– 1 gerador de ruído;
– 1 aterramento.

• Saídas e Rótulos:

– 1 amperímetro;
– 1 voltímetro.

A conexão entre os componentes é feita pressionando-se a tecla “w”, arrastando-se em seguida o cursor do
mouse no quadro negro e conectando os terminais dos componentes. Se você estiver usando um smartphone,
clique em “Desenhar”→“Inserir Conexão Elétrica”.
Existem outros atalhos no teclado para a inserção de componentes. Por exemplo, pode-se inserir um resistor
pressionando a tecla “r” e depois arrastando o cursor do mouse no quadro negro. As teclas “d”, “v”, “g” e “S”
fazem o mesmo para o diodo, a fonte de tensão contínua, o aterramento e a chave SPDT, respectivamente.

2
Os valores dos componentes podem ser editados clicando-se duas vezes no componente e digitando-se o valor
desejado.
Na figura 3 são mostradas as montagens do circuito durante a tomada de dados: na figura 3a temos a
montagem para a tomada de dados no resistor R, enquanto na figura 3b temos a montagem para a tomada
de dados no diodo D.

(a) Primeira montagem: configuração do circuito para medidas (b) Segunda montagem: configuração do circuito para medidas
de corrente e tensão no resistor R. de corrente e tensão no diodo D.

Figura 3: Imagens das montagens dos circuitos para as medidas de corrente e tensão no resistor e no diodo. Como se pode
observar, a diferença entre as duas montagens é apenas a posição da chave SPDT.

4 Definição do Problema
4.1 O Resistor

Todo dispositivo elétrico exibe resistência à passagem de uma corrente elétrica. Se uma tensão V é aplicada
aos terminais do dispositivo e, como resultado, uma corrente elétrica i o atravessa, então a resistência elétrica
desse dispositivo é definida pela equação:

V def
R(V ) =
. (1)
i
Note que R é uma função da tensão. Para dispositivos que obedecem à lei de Ohm, a tensão aplicada ao
dispositivo é proporcional à corrente que o atravessa, ou seja, a resistência elétrica é independente da tensão.
Assim, a corrente elétrica i = iR ao se aplicar uma tensão V = VR nesses dispositivos pode ser escrita como

VR
. iR = (2)
R
Como R é constante, um gráfico de iR versus VR deve ser uma linha reta que passa pela origem. Um
dispositivo que obedeça à lei de Ohm é chamado de resistor.

4.2 O Diodo

Um exemplo de dispositivo que não obedece à lei de Ohm é o diodo. Um diodo é um dispositivo que deixa
corrente passar apenas num sentido (num resistor a corrente pode passar em qualquer dos dois sentidos). No
diodo, a relação entre a corrente iD e a tensão VD é dada pela equação de Shockley:
 
iD = is eβVD − 1 . (3)

Na equação anterior is é uma constante característica do diodo, chamada de corrente de saturação, e β é


uma constante dada por
1 qe
β= = , (4)
ηVT ηkB T

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onde VT = kB T /qe é a voltagem térmica e η é uma quantidade adimensional chamada de fator de idealidade,
que depende do modo de fabricação do diodo: tipicamente, os valores de η então entre 1 e 2. As constan-
tes qe e kB são, respectivamente, a carga elementar e a constante de Boltzmann, cujos valores no SI são
aproximadamente
qe ≈ 1,602 × 10−19 C ,
kB ≈ 1,381 × 10−23 J/K .

Pela equação 3 é simples constatar que a corrente varia exponencialmente para βVD  1:

iD ≈ is eβVD , (para βVD  1) . (5)

Façamos uma estimativa do valor mínimo de VD para o qual o erro cometido ao se trocar a equação 3
pela equação 5 para a corrente no diodo é menor que 0,1%. Considerando uma temperatura ambiente de
T = 300 K, a tensão térmica tem valor VT ≈ 25,8 mV. Considerando ainda o maior valor para o fator de
idealidade, η ≈ 2, encontramos β ≈ 19,3 V−1 . Para que o erro cometido seja menor que 0,1%, necessariamente

eβVD > 1001 =⇒ VD > 357 mV . (6)

Assim, a equação 5 pode ser usada com bastante segurança na descrição da corrente para voltagens no
diodo acima de 0,36 V, à temperatura ambiente, que o erro cometido será menor que 1 parte em 103 .
Logo, um gráfico de iD contra VD tem um comportamento aproximadamente exponencial, caracteri-
zando assim o diodo como um dispositivo não-ôhmico.

5 Procedimento Experimental
1. Monte o circuito como mostrado na figura 3. Assegure-se de que todos os elementos do circuito estejam
com as características descritas na seção 3.

2. Clique na aba “Opções”→“Outras Opções. . . ”. Digite “10” no campo “Faixa p/Cores de Tensão (V)”.

3. Clique na aba “Opções”→“Outras Opções. . . ”. Digite “1m” no campo “Tamanho do intervalo de tempo
(s)”.

4. Clique duas vezes no amperímetro e no campo “Scale” escolha a opção “mA”.

5. Clique duas vezes no voltímetro e no campo “Scale” escolha a opção “mV”.

5.1 Primeira Montagem

6. Clique na chave para deixá-la na posição mostrada na montagem 3a.

7. Clique duas vezes na fonte de tensão e digite o valor desejado no campo “Tensão”. O separador decimal
a ser usado é o “.” e não a “,”.

8. Aperte o botão “Reiniciar”. O cronômetro vai começar a correr e você irá observar o valor da corrente
no amperímetro. Você pode controlar a velocidade da simulação movendo o botão “Velocidade de
Simulação” para a direita ou para a esquerda.

9. Após alguns segundos, aperte o botão “Parar” e anote o valor da corrente no resistor. Não é necessária
a leitura da tensão no resistor. Como este circuito é formado por um único resistor em paralelo com a
fonte, a tensão no resistor é igual à tensão da fonte: VR = V0 .

4
5.2 Segunda Montagem

10. Clique na chave para deixá-la na posição mostrada na montagem 3b.


11. Aperte o botão “Reiniciar”.
12. Após alguns segundos, aperte o botão “Parar” e anote os valores da tensão no diodo e da corrente.
13. Retorne ao passo 6 e repita o procedimento até que se chegue ao último valor da tensão e a tabela 1
seja preenchida.

Tabela 1: Tabela a ser preenchida com os valores da corrente (leitura do amperímetro) e tensão (leitura do voltímetro) nas
montagens 3a e 3b.

Primeira montagem Segunda montagem


Medida VR [V] iR [mA] VD [mV] iD [mA] ln iD
1 0,500
2 1,000
3 1,500
4 2,500
5 3,500
6 5,000
7 6,500
8 8,000
9 10,00

6 Análise dos Dados


6.1 Valores Estimados

Uma vez preenchida a tabela 1, preciso será analisar os dados para verificar se estes são compatíveis com
a resposta do resistor (equação 2) e com a resposta do diodo (equação 5) à aplicação de uma tensão nos
seus terminais. Para isso, vamos analisar a curva de corrente contra a tensão nos dois dispositivos (resistor
e diodo) e vamos fazer isso com o auxílio da função PROJ.LIN() do Excel.
Como sabemos, para podermos usar a função PROJ.LIN() é necessário que a relação entre a variável
dependente Y e as q ≥ 0 variáveis independentes Xk seja linear, isto é,

q
X
Y = bk Xk , (7)
k=0

onde os bk são constantes. No caso do resistor, espera-se que a relação entre a corrente e a tensão seja linear,
como mostrado na equação 2. Já no caso do diodo, para tensões suficientemente grandes (inequação 6),
espera-se que a relação entre a corrente e a tensão seja exponencial, como mostrado na equação 5. Neste
caso, embora a relação entre iD e VD não seja linear, ela é linearizável: para isso, basta tomar o logaritmo
natural dos dois lados da equação 5. Logo,
ln iD ≈ βVD + ln is . (8)

Tanto a equação 2 como a equação 8 podem ser escritas numa forma como a da equação 7 com q = 1
e X0 = 1,

5
Y = a0 + a1 (X1 − µ1 ) , (resistor) (9)
Y = b0 + b1 (X1 − ν1 ) , (diodo) (10)

com, para a montagem 3a, Y = iR , X1 = VR e µ1 = MÉDIA (X1 ). Para a montagem 3b, Y = ln iD , X1 = VD


e ν1 = MÉDIA (X1 ). Os valores esperados para os coeficientes a0 , a1 , b0 e b1 correspondem então a

1
a 0 − a 1 µ1 = 0 , a1 = . (resistor) (11)
R

b0 − b1 ν1 = ln is , b1 = β . (diodo) (12)

Aplicando-se a função PROJ.LIN() aos dados, teremos os valores estimados {âk } e {b̂k } dos coeficientes
e, com eles, podemos encontrar os valores estimados R̂, îs e β̂ para os parâmetros dos circuitos por meio das
equações 11 e 12.

6.2 Incertezas

Para a regressão linear do modelo 10, a incerteza-padrão ŝf do estimador fˆ para uma função f (b0 , b1 )
qualquer dos coeficientes será
q
ŝf = ŝ20 fˆ02 + ŝ21 fˆ12 , (13)

onde ŝj (com j = 0 ou 1) é a incerteza-padrão do estimador b̂j para coeficiente de regressão bj e


 
∂f
fˆj = . (14)
∂bj bj =b̂j

Em particular, considerando Y como uma função dos coeficientes, teremos

Y = f (b0 , b1 ) = b0 + b1 (X1 − µ1 ) .

Então,

Y = Ŷ ± kŝY , (15)

Ŷ = b̂0 + b̂1 (X1 − µ1 ) , (16)


q
ŝY = ŝ20 + ŝ21 (X1 − µ1 )2 . (17)

A equação 13 pode também ser usada para calcular a incerteza-padrão de funções dos coeficientes do
modelo 9, bastando para isso trocar os coeficientes bj pelos aj .

7 Resultados e Discussões
Obs.: Sempre que necessário, considere um nível de confiança de 99,5%.

1. Preencha a tabela 1 e anexe ao questionário.

6
7.1 O Resistor

2. Faça o gráfico de iR versus VR e anexe ao questionário.

3. Faça a regressão linear dos dados da primeira montagem pelo modelo 9.

(a) Faça o relato do coeficiente linear: Y (0) = ( ± ) mA.


(b) Calcule o escore-t para Ŷ (0). Escreva seu resultado com 4 casas decimais: tY(0) = .
(c) Faça o Teste-t. De acordo com o resultado do teste, é possível presumir que a corrente no resistor
de fato se anula quando a tensão aplicada é nula, como o afirma a equação 2? JUSTIFIQUE.
(d) Determine o valor estimado da resistência R e faça seu relato: R = ( ± )Ω.
(e) Calcule o escore-t para R̂. Escreva seu resultado com 4 casas decimais: tR = .
(f) A diferença entre os valores estimado e esperado para o resistor é significativa? JUSTIFIQUE.
(g) Faça o teste-F para esta regressão. Qual a sua conclusão? JUSTIFIQUE.

7.2 O Diodo

4. Faça o gráfico de iD versus VD e anexe ao questionário.

5. Faça a regressão linear dos dados da primeira montagem pelo modelo 10.

(a) Determine e faça o relato da corrente de saturação: iS = ( ± ) µA


(b) Determine e faça o relato da constante β: β = ( ± ) V−1
(c) Faça o teste-F para esta regressão. Qual a sua conclusão? JUSTIFIQUE.

7.2.1 Avaliando a acurácia da aproximação (5)

Analisemos agora o tamanho real do erro cometido ao se trocar a equação 3 pela equação 5 para
a descrição da resposta de um diodo à aplicação de uma tensão entre seus terminais. Tomando o
logaritmo natural dos dois lados da equação 3, a primeira correção à equação 8 fica:

ln iD ≈ βVD + ln is − e−βVD . (18)

Logo, uma primeira estimativa para a diferença entre o logaritmo da equação 3 e da aproximação 5 é

∆(ln iD ) ≈ e−β̂VD . (19)

A equação 19 mostra que a estimativa do erro cometido cai exponencialmente com a tensão, de maneira
que, a princípio, basta comparar a magnitude do erro 19 com a incerteza do valor estimado de ln iD
para o menor valor VD utilizado para a regressão.

(a) Escreva o menor valor de VD = Vm que você obteve em suas medidas: Vm = mV.
(b) Calcule o valor da incerteza de ln iD para VD = Vm . Escreva seu resultado em notação científica,
com 2 casas decimais na mantissa: .
(c) Calcule o valor do erro dado na equação 19 para VD = Vm . Escreva seu resultado em notação
científica, com 2 casas decimais na mantissa: .
(d) Comparando os dois resultados anteriores, pode-se dizer que é justificável a troca da equação 3
pela equação 5 para a obtenção dos estimadores β̂ e îs ? EXPLIQUE.

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8 Aplicando o conhecimento
1. Considere que o diodo usado no experimento possui um fator de idealidade η = 1,90. Determine a
temperatura na qual o diodo está operando, em graus Celsius. tC = o C.

(a) Considere que a tensão fornecida pela fonte seja fixada em 1,50 V (que é a voltagem de uma
pilha comum). Qual seria a variação percentual no valor da corrente se a temperatura do diodo
diminuísse 10,0 o C? Escreva seu resultado como um percentual e com 2 casas decimais:

δ (ln iD ) ≈ %.

Como sugestão, tome a diferencial da equação 8 e considere que, para pequenas variações da
corrente, diD ≈ δiD . Use também o fato de que, aplicando-se a lei das malhas para o circuito
da montagem 3b, pode-se mostrar que uma pequena variação na corrente está relacionada a uma
pequena variação na tensão do diodo pela equação
 
V0
δ (ln VD ) ≈ − − 1 δ (ln iD ) ,
VD

desde que a tensão V0 da fonte permaneça constante (que é o caso quando uma bateria alimenta
um circuito).
(b) Qual seria a variação percentual no valor da tensão no diodo para a mesma variação de tempera-
tura? Escreva seu resultado como um percentual e com 2 casas decimais:

δ (ln VD ) ≈ %.

(c) Qual seria a variação percentual no valor da resistência elétrica do diodo para a mesma variação
de temperatura? Escreva seu resultado como um percentual e com 2 casas decimais:

δ (ln RD ) = %.

(d) Suponha que se deseja construir um termômetro usando um diodo como este usado no experi-
mento. Em qual das três medidas você acha que deve se basear a escala de temperatura: (i)
medidas de corrente, (ii) medidas de tensão ou (iii) medidas de resistência? JUSTIFIQUE.

2. Considere que o diodo seja ligado com a polaridade invertida no circuito da montagem 3b. Considerando
que a tensão da fonte seja 1,50 V, determine:

(a) a corrente do circuito: iD = µA .


(b) a tensão no diodo: VD = V;
(c) Com base nos resultados que você obteve, em que medida é correto dizer que “o diodo só deixa
passar corrente em apenas um sentido”?

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