Você está na página 1de 23

www.revistaperspectivas.

org
ISSN 2177-3548

Programação de Condições para Desenvolvimento de


Comportamentos: Caracterização da produção científica brasileira
de 1998-2017
Programming Conditions for Behavior Development: Characterization of
Brazilian scientific production from 1998-2017
Programación de Condiciones de Desarrollo del Comportamiento:
Caracterización de de la producción científica brasileña de 1998 a 2017

Bruno Calábrio Cianca1, Mariana Gomide Panosso2, Nádia Kienen3

[1] Universidade Estadual de Londrina, Bolsista/CNPq [2] Universidade Federal de São Carlos [3] Universidade Estadual de Londrina, Apoio da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES). Código de financiamento n. 001 | Título abreviado: Programação de ensino no Brasil | Endereço
para correspondência: | Email: Bruno Calábrio Cianca – brunocalabrio@gmail.com | doi: 10.18761/PAC.2020.v11.n2.01

Resumo: Esta revisão bibliográfica teve por objetivo caracterizar os estudos analítico-
-comportamentais brasileiros sobre Programação de Condições para o Desenvolvimento
de Comportamentos (PCDC), com base em uma biblioteca da área. Dos 110 estudos recu-
perados, 69 foram incluídos para análise, produzidos entre 1998-2017 e que apresentaram
etapas da PCDC e/ou compromisso teórico-conceitual com princípios da programação de
ensino. Foram excluídos estudos com ênfase no procedimento de ensino sem descrição do
planejamento, relatos de experiência, revisões de literatura e livros. As variáveis analisadas
foram: ano de publicação, autores e instituições, tipo de obra, temas, conceitos, etapa da
PCDC, delineamento e resultados. Os temas mais pesquisados foram: formação/atuação do
psicólogo (27,5%), caracterização da atuação profissional (15,9%); dentre as etapas da PCDC,
descoberta dos comportamentos-objetivo (71,9%) foi a mais frequente. Quanto aos estudos
aplicados, todos (N=15) demonstraram eficiência dos programas de ensino aplicados e em
apenas quatro foi avaliada a eficácia desses por meio de follow up. Conclui-se que os estudos
são coerentes com as proposições de Carolina Bori de, primeiramente, caracterizar quais
comportamentos serão ensinados. A PCDC pode contribuir à produção de conhecimento e
desenvolvimento de tecnologias para intervenção nos mais variados contextos que envolvem
processos de ensinar e aprender.
Palavras-chave: Programação de Ensino; Análise do Comportamento; Tecnologia de
Ensino; Revisão de Literatura.

Revista Perspectivas 2020 vol. 11 n ° 02 pp. 114-136 114 www.revistaperspectivas.org


Abstract: This bibliographic review aimed to characterize the Brazilian behavioral analytical
studies about Programming of Conditions for the Development of Behaviors (PCDC), based
on a library of the area. Of the 110 studies retrieved, 69 were included for analysis, produced
between 1998-2017 and which presented stage(s) of the PCDC process and/or theoretical-
conceptual commitment to the principles of teaching programming. Studies that emphasized
the teaching procedure without describing the planning process, experience reports, literature
reviews without emphasis on PCDC, and books were excluded. The variables analyzed were:
year of publication, authors and institutions, type of work, themes, concepts, stage of the
PCDC, design, and results. The most researched themes were: Psychologist’s training/perfor-
mance (27.5%), characterization of professional performance (15.9%); among the stages of
PCDC, discovery of objective-behaviors (71.9) was the most frequent. Regarding the applied
studies, all of them (N=15) demonstrated that the applied learning programs were efficient,
and in only four their efficacy were assessed through follow-up. It is concluded that the stud-
ies are coherent with Carolina Bori propositions of first characterize which behaviors will be
taught. PCDC can contribute to the production of knowledge and development of technolo-
gies for intervention in the most varied contexts that involve teaching and learning processes.
Keywords: Programmed learning; Behavior Analysis; Tecnology of Teaching; Literature
Review.

Resumen: Esta revisión bibliográfica tuvo como objetivo caracterizar los estudios analí-
ticos-conductuales brasileños sobre la Programación de condiciones para el desarollo de
Comportamientos (PCDC), basados ​​en una biblioteca del área. De los 110 estudios recu-
perados, 69 se incluyeron para el análisis, producidos entre 1998-2017 y que presentaron
etapas del PCDC y/o compromiso teórico-conceptual con los principios de programación
de enseñanza. Se excluyeron los estudios con énfasis en el procedimiento de enseñanza sin
descripción de la planificación, informes de experiencia, revisiones de literatura y libros. Las
variables analizadas fueron: año de publicación, autores e instituciones, tipo de trabajo, temas,
conceptos, etapa del PCDC, diseño y resultados. Los temas más investigados fueron: capaci-
tación/desempeño del psicólogo (27.5%), caracterización del desempeño profesional (15.9%).
Entre las etapas de PCDC, el descubrimiento de comportamientos objetivos (71.9%) fue el
más frecuente. En cuanto a los estúdios aplicados, todos (N=15) demonstraron la eficiência de
los programas de enseñanza aplicados y solo en cuatro se evaluó su eficácia a través del segui-
miento. Se concluye que los estudios son coherentes con las proposiciones de Carolina Bori,
primero, para caracterizar qué comportamientos se enseñarán. El PCDC puede contribuir a
la producción de conocimiento y al desarrollo de tecnologias para la intervención en los más
variados contextos que involucran processos de enseñanza y aprendizaje.
Palabras clave: Programación de enseñanza; Análisis de comportamiento; Tecnología de
Enseñanza; Revisión de Literatura.

Revista Perspectivas 2020 vol. 11 n ° 02 pp. 114-136 115 www.revistaperspectivas.org


Programação de ensino no Brasil 114-136

A Programação de Ensino tem uma longa histó- sidades dos Estados Unidos e Brasil (Bori, 1974;
ria de desenvolvimento no Brasil. Como subárea Keller, 1968). No Brasil, o PSI foi utilizado como
de pesquisa da Análise do Comportamento, ela se principal método de ensino nos cursos de psicolo-
caracteriza por investigar os processos de ensino e gia experimental nas décadas de 1960 e 1970 (Nale,
aprendizagem de comportamentos em quaisquer 1998). A partir da sua utilização, surgiram algu-
contextos em que pessoas necessitam desenvolver mas variações nesse método, como consequência
e/ou aperfeiçoar comportamentos. Como tecnolo- de questionamentos de Carolina Bori a respeito de
gia de ensino, caracteriza-se pelo próprio processo limitações presentes no PSI.
comportamental do capacitador de construir con- O PSI, em seu formato tradicional, possuía um
dições de ensino que aumentem a probabilidade enfoque na construção de material e exercícios
de os aprendizes transformarem informações em programados por meio de textos comumente uti-
comportamentos que os tornem aptos a resolverem lizados nas disciplinas ofertadas pelas universida-
situações-problema em sua vida profissional ou des (Kienen, et.al, 2013; Nale, 1998). No entanto,
pessoal (Kienen, Kubo, & Botomé, 2013). Apesar Carolina Bori passou a destacar que, antes de adap-
de muitas vezes ser confundida com o Sistema tar textos e outros materiais, havia a necessidade de
Personalizado de Ensino (PSI) ou até mesmo com definir o que o aprendiz deveria aprender por meio
outras tecnologias de ensino derivadas da Análise daqueles materiais ou textos (Bori, 1974). A autora
do Comportamento, tais como a Direct Instruction enfatizava que o que deve ser ensinado são compor-
e o Precision Teaching, diferencia-se dessas, espe- tamentos relevantes na vida do aprendiz (que não
cialmente por sua ênfase na proposição de objeti- se restringem a conteúdos ou temas), os quais pre-
vos de ensino, considerados como classes de com- cisam ser derivados das necessidades sociais com as
portamentos significativas na vida do aprendiz e quais esse aluno lida em seu cotidiano (Bori, 1974).
que necessitam ser o ponto de partida de qualquer Embora a utilização de materiais contendo informa-
planejamento de ensino (Nale, 1998). ções sobre determinados temas seja importante para
Desde sua gênese no Brasil, a Programação viabilizar novas formas de agir, esses caracterizam-
de Ensino se diferenciou de outras tecnologias e/ -se como meios do processo de planejar ensino, já
ou métodos de ensino baseados na Análise do que aprender é mais do que “repetir informações”
Comportamento, passando por avanços teóri- ou “falar sobre elas”, pois requer que os aprendizes
cos e metodológicos ao longo do tempo por meio desenvolvam a capacidade de atuar no mundo a par-
dos quais muitos estudos têm sido produzidos tir de tais informações. Isso vale tanto para situações
e que ainda requerem maior investigação e sis- de aprendizagem tipicamente compreendidas como
tematização. O PSI, desenvolvido pelos psicólo- “teóricas”, em que os aprendizes necessitam apren-
gos Carolina Bori, Rodolfo Azzi, Fred Keller e J. der a lidar com conceitos e teorias, tais como avaliar
Gilmour Sherman, foi pensado pela primeira vez criticamente informações ou definir determinado
para o planejamento do Departamento de psico- conceito, quanto para situações comumente conce-
logia da Universidade de Brasília (Candido, 2017; bidas como “práticas”, tais como aprender a obser-
Keller, 1968). A partir disso, os cursos ofertados var diretamente comportamentos ou entrevistar al-
com a proposta do PSI possuíam diversas caracte- guém. Ambos os casos envolvem o desenvolvimento
rísticas fundamentais para promoção de processos de comportamentos, à medida que tratam de uma
de aprendizagem a partir de princípios da Análise interação entre o fazer dos aprendizes (e.g., avaliar,
Experimental do Comportamento, como: ritmo definir, observar, entrevistar) e aspectos do ambiente
individualizado, etapas pequenas de ensino, ensino (e.g., conceitos, teorias, comportamento de alguém
como objeto de pesquisa para aperfeiçoamento do a ser observado). Planejar ensino requererá, então,
curso, ênfase na comunicação escrita (Bori, 1974; que o capacitador tenha clareza sobre quais compor-
Keller,1968; Kubo & Botomé, 2001). Embora o tra- tamentos o aprendiz precisa desenvolver a partir do
balho tenha sido interrompido precocemente pela uso desses materiais, levando em consideração sem-
ditadura militar brasileira, em 1965, os professores pre as necessidades sociais com as quais ele terá que
permaneceram utilizando o PSI em outras univer- lidar depois de formado.

Revista Perspectivas 2020 vol. 11 n ° 02 pp. 114-136 116 www.revistaperspectivas.org


Bruno Calábrio Cianca, Mariana Gomide Panosso, Nádia Kienen 114-136

Com isso, a ênfase da Programação de Ensino senvolver comportamentos) quanto sua aplicabili-
passa a ser não apenas na transformação de cur- dade a diferentes contextos nos quais os processos
sos tradicionais em cursos programados indivi- de ensinar e aprender ocorrem.
dualizados, mas no processo que envolve desde Atualmente, estudos em PCDC têm contribu-
a proposição e análise dos comportamentos que ído para a investigação e intervenção sobre dife-
se constituirão como objetivos de ensino, até o rentes tipos de fenômenos que envolvem o proces-
planejamento das contingências e procedimentos so de desenvolvimento de comportamentos, tais
para o ensino desses comportamentos (Kienen como caracterização do perfil básico de diferen-
et al., 2013; Matos, 1998a e 1998b; Nale, 1998). tes profissionais como o de psicólogos e pedago-
Trata-se de um processo que não se restringe a gos (Joaquim, 2013; Silva 2004; Suhett, 2017; Tosi,
definir como ensinar algo, mas também de defi- 2010; Viecili, 2008), de pais sociais (Nascimento
nir, previamente a isso, o que deve ser ensinado. & Gusso, 2017), do terapeuta comportamental
As contribuições de Carolina Bori para o desen- (Mattana, 2004; Moskorz, 2011), de líderes ou ges-
volvimento da Programação de Ensino estão re- tores em contextos organizacionais (Cortegoso,
lacionadas à sua ênfase na ideia de que o ensino 2001; Neri, 2017; Pinheiro, 2010; Silva, 2017). Há
precisava se tornar mais científico e, para isso, a também estudos que têm como objetivo caracte-
importância de utilizar os princípios da Análise rizar classes de comportamentos requeridas das
Experimental do Comportamento em todo o pro- pessoas em diferentes contextos, tais como o com-
cesso de planejamento de ensino, que inicia na portamento criativo (Souza & Kubo, 2010), com-
definição do que ensinar (i.e., quais comporta- portamento assertivo (Müller, 2013), “senso crítico”
mentos) a partir da caracterização das necessida- (De Luca, 2008; 2013), ler textos (Goecks, 2011),
des dos aprendizes por meio de um levantamento dirigir defensivamente (Canali, 2017), ensino de
de informações acerca das situações-problema história (Bordignon-Luiz, 2013), projetar a vida
com as quais os aprendizes precisam lidar após profissional (Luiz, 2008) etc. Em outros estudos,
finalizar o programa de ensino, passando para as o foco é na construção, aplicação e avaliação da
etapas relacionadas a como ensinar (metodologias eficiência e/ou eficácia de programas de capacita-
de ensino), como avaliar o processo de aprendiza- ção como para ensinar professores a planejarem
gem e os procedimentos de ensino, e como aper- aulas de matemática (Médici, 2016), desenvolver
feiçoar esses processos e procedimentos (Kienen ou aperfeiçoar o comportamento de ler textos em
et al., 2013). contexto acadêmico (Agassi, 2013), dentre outros
A proposta de Carolina Bori contribuiu não (Carvalho, 2015; Gonçalves, 2015; Vettorazzi et al.,
apenas para o desenvolvimento de uma tecnolo- 2005). Essas referências, além de indicarem a di-
gia de ensino que, por meio do arranjo de con- versidade de fenômenos investigados, evidenciam
tingências embasado em princípios científicos do a utilização das diferentes etapas da PCDC para a
comportamento, visa a promover aprendizagens produção de conhecimento como a proposição de
significativas para o aprendiz, mas também para comportamentos-objetivo (i.e., caracterizar classes
o desenvolvimento de uma área de estudos, cujo de comportamentos), a partir da caracterização
foco reside na investigação de processos de desen- da situação-problema com as quais os aprendizes
volvimento de comportamentos nos mais variados precisam lidar, a elaboração, aplicação, avaliação e
contextos em que esses ocorrem, quer seja nas es- aperfeiçoamento de programas de ensino.
colas ou universidades, nas organizações jurídicas, Os estudos da PCDC podem contribuir para
de trabalho, de saúde, ou até mesmo ao se tratar de o desenvolvimento e aperfeiçoamento de diversas
papéis que alguém exerce como cidadão, pai, filho, profissões e atuações de indivíduos na sociedade.
cônjuge etc. (Kienen, 2008). Por isso, pesquisado- No entanto, a literatura dessa área está dispersa e
res da área (ver Kienen et al., 2013) propuseram suas contribuições ainda não são integralmente re-
nomeá-la como Programação de Condições para o conhecidas. Considerando sua relevância histórica
Desenvolvimento de Comportamentos (PCDC), a para a Análise do Comportamento no Brasil e suas
fim de enfatizar tanto a função desse processo (de- contribuições teórico-metodológicas, este trabalho

Revista Perspectivas 2020 vol. 11 n ° 02 pp. 114-136 117 www.revistaperspectivas.org


Programação de ensino no Brasil 114-136

tem como objetivo caracterizar os estudos analí- 1998 e 2017. Foram excluídos estudos (a) com ên-
tico-comportamentais brasileiros em PCDC com fase no procedimento de ensino sem a descrição
base nos trabalhos disponíveis em uma biblioteca do planejamento de ensino (e.g., Fornazari, Kienen,
desenvolvida por pesquisadores da área. Tadayozzi, Ribeiro, & Rossetto, 2012), (b) relatos de
experiência, (c) revisões de literatura cujo fenôme-
no central não era a PCDC e (d) livros ou capítulos
Método de livros. A maioria dos estudos foi obtida online,
pelo banco de teses e dissertações das respectivas
Em 2017 foi criado um grupo de pesquisa no universidades ou pelos próprios sites dos periódi-
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico cos. Os trabalhos não encontrados online foram so-
e Tecnológico (CNPq) intitulado “Programação de licitados a partir de envio de e-mail para os autores
condições para o desenvolvimento de comporta- do estudo, tendo sido recebidas três dissertações.
mentos”, que objetiva produzir conhecimento so- Para selecionar os estudos para análise, foi feita
bre processos de ensinar e aprender em variados a leitura do resumo e, quando necessário, leitura do
contextos, contribuindo também com a geração texto na íntegra para verificar se o estudo atendia
de tecnologia para promover a capacitação de di- aos critérios de inclusão. No caso de dissertações
ferentes agentes sociais envolvidos com tais pro- e teses, foi lido o resumo, sumário e seus princi-
cessos. Esse grupo desenvolveu uma biblioteca de pais tópicos, e caso fosse necessário, era feita uma
PCDC, que se caracteriza como um banco de da- busca no texto pelos termos “Programação”, “pro-
dos eletrônico com o objetivo de organizar referên- gramação de ensino”, “programação de condições
cias das produções de pesquisadores brasileiros e de ensino”, para verificar se o trabalho correspon-
sistematizar os estudos da área a fim de torná-los dia aos critérios de inclusão. O procedimento de
acessíveis à população em geral1. Tal biblioteca foi seleção dos estudos foi realizado também por uma
feita a partir dos currículos lattes de pesquisadores juíza, pesquisadora na área de PCDC, que utilizou
que orientam ou orientaram pesquisas em PCDC os mesmos procedimentos do pesquisador para de-
no Brasil (Universidade Federal de Santa Catarina finir os estudos a serem analisados. Divergências
- UFSC, Universidade Federal de São Carlos - entre pesquisador e juíza foram discutidas até al-
UFSCar, Universidade Estadual de Londrina - UEL, cançar consenso na seleção dos estudos. A Figura
Universidade Federal do Paraná - UFPR). 1 apresenta o fluxograma de seleção de estudos.
Foram excluídos 30 artigos e 11 dissertações a par-
Seleção dos Estudos tir dos critérios selecionados. Além disso, a partir
Foram selecionados artigos, dissertações e teses pu- da leitura na íntegra e discussão com juíza, mais
blicados entre 1998 e 2017 (últimos 20 anos), pro- quatro artigos foram excluídos.
duzidos nas universidades UFSC, UFSCar, UEL e
UFPR. Os critérios para a inclusão dos estudos fo- Instrumento de coleta de dados
ram: (a) que tinham como foco qualquer etapa do Foi utilizado um protocolo de registro contendo as
processo de PCDC como a proposição dos compor- seguintes variáveis: ano de publicação, autores, afi-
tamentos-objetivo a partir da situação-problema, liação institucional, tipo de obra (artigo teórico, de
construção, aplicação e avaliação das condições de caracterização e/ou aplicado, dissertações, teses),
ensino); e/ou (b) compromisso teórico-conceitual delineamento, objetivos, tema do estudo, resulta-
com os princípios básicos da programação de en- dos, etapas da PCDC. Nos casos dos artigos, ainda
sino (e.g., ensino de comportamentos, definição de foram registrados: conceitos definidos com suas
quais comportamentos ensinar, princípios de ensi- respectivas definições.
no e/ou relatar que foi baseado na programação de
ensino ou em seus princípios); (c) publicados entre Coleta e registro de dados
Foram adotados dois procedimentos distintos de
1  A biblioteca deve ser disponibilizada online ao longo de leitura e registro de dados, conforme a natureza da
2020. obra analisada. Artigos foram lidos na íntegra para

Revista Perspectivas 2020 vol. 11 n ° 02 pp. 114-136 118 www.revistaperspectivas.org


Bruno Calábrio Cianca, Mariana Gomide Panosso, Nádia Kienen 114-136

registro das informações pertinentes. Em relação às de informações relacionadas às conclusões gerais


dissertações e teses, foi feita a leitura dos resumos do estudo e limitações). Nos casos de dissertações
e de partes do estudo como: o método (para coleta ou teses contendo mais de um estudo, as seções de
de informações relacionadas ao procedimento) e as resumo, método e considerações finais de todos os
considerações finais ou capítulo final (para coleta estudos foram lidas e devidamente registradas.

Figura 1. Fluxograma de seleção dos estudos.

Análise de dados Resultados


Os resultados foram divididos em: estudos apli- Do total de 110 estudos recuperados, 69 foram in-
cados, que correspondem àqueles em que houve cluídos para análise, dos quais 16 (23,1%) eram ar-
aplicação de um programa de ensino; estudos de tigos de caracterização ou aplicados, cinco (7,2%)
caracterização de classes de comportamentos, que artigos teóricos, 37(53,6%) dissertações e 11(15,9%)
são estudos que majoritariamente possuem como teses2. A Figura 2 apresenta a frequência acumulada
objetivo caracterizar comportamentos ou avaliar de estudos publicados no período de 1998 a 2017,
objetivos de ensino; e estudos teóricos, que exami- conforme natureza desses.
nam conceitos e/ou proposições teóricas da PCDC
e temas relacionados. Os dados foram representa-
dos em gráficos e tabelas e tratados por meio de
estatística descritiva. As variáveis referentes aos te-
mas e conceitos foram categorizadas com base no 2  Todos os estudos selecionados estão marcados com um as-
conteúdo principal ao qual se referiam. terisco (*) na seção de referências.

Revista Perspectivas 2020 vol. 11 n ° 02 pp. 114-136 119 www.revistaperspectivas.org


Programação de ensino no Brasil 114-136

Figura 2. Frequência acumulada conforme tipo de produção acadêmica (artigos, dissertações e teses).

Destaca-se que a produção de dissertações repre- de ensino diferentes. Destaca-se que a UFSC é a
senta mais da metade dos trabalhos analisados instituição com a maior quantidade de estudos, in-
(53,6%, N=37). Além disso, é possível observar cluindo os quatro tipos de produções acadêmicas,
que nos anos de 2010 a 2014 há o período de maior sendo também a única universidade em que foram
quantidade de publicações de dissertações (N=13). produzidas teses em PCDC. Na UEL e na UFSC há
A produção de teses ocorreu apenas no período de um predomínio de produções de dissertações e, na
2008 a 2014, sendo que essa produção é relativa- UFSCar, a maior produção é de artigos de caracte-
mente constante, três teses a cada dois anos. Quanto rização ou aplicados. Nota-se que dos seis artigos
aos artigos, é possível observar que a quantidade de colaborativos com pesquisadores de diferentes uni-
publicações de artigos de caracterização ou aplica- versidades, a UFSC é a única universidade que está
dos é maior do que a de artigos teóricos. Vale des- presente em todos.
tacar ainda que, no período de 2012 a 2016, não Ainda, é possível observar que as produções de
houve nenhum artigo de caracterização ou aplicado dissertações e teses estão distribuídas entre sete orien-
publicado e que, a partir de 2014, nenhum artigo tadores. Os trabalhos orientados por Botomé e Kubo,
teórico foi publicado. individualmente ou em coorientação, representam
No que diz respeito aos periódicos de publica- 75% (N=36) do total de dissertações e teses orien-
ção, conforme apresentado na Figura 3, é possível tadas. Ambos estiveram vinculados ao Programa de
observar que os 21 artigos estão distribuídos em Pós-graduação de Psicologia na UFSC. Os outros tra-
13 periódicos diferentes, sendo que o periódico balhos foram orientados por Kienen (N=6), Programa
que possui maior quantidade de publicações foi de Pós-graduação em Análise do Comportamento
“Interação em Psicologia” (N=4), seguido da “Acta da UEL; Cortegoso (N=3), Carmo com coorientação
Comportamentalia” (N=3). Além disso, os periódi- de Cortegoso (N=1), Programas de Pós-graduação
cos “Educação Brasileira”, “Psicologia da Educação”, de Educação Especial e de Psicologia da UFSCar,
e “Revista Brasileira de Terapia Comportamental e respectivamente; De Luca (N=1), Programa de Pós-
Cognitiva” possuem duas publicações cada. graduação de Psicologia na UFPR e, Zanin com
Ao examinar a quantidade de produções por coorientação de Cortegoso (N=1) , Programa de
universidade (Figura 4), foi possível observar que Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade
os trabalhos estão distribuídos em sete instituições da UFSCar.

Revista Perspectivas 2020 vol. 11 n ° 02 pp. 114-136 120 www.revistaperspectivas.org


Bruno Calábrio Cianca, Mariana Gomide Panosso, Nádia Kienen 114-136

Figura 3. Quantidade de artigos publicados conforme periódicos.


Nota: O artigo do “Anais Eletrônicos II do Seminário de Pesquisa em Turismo do Mercosul” (Onzi, 2004) foi considerado como
publicação em periódico por constituir-se como um artigo completo.

Figura 4. Quantidade de estudos por tipos de produção, por universidade.

Na Tabela 1 são apresentados os temas investiga- trabalhadores da agroindústria (Lamonato, 2011),


dos nos estudos analisados, o total de estudos rea- de agentes de entrega de correspondência (Gomes,
lizados por tema e as referências correspondentes. 2005) e de programadores de computadores
“Formação e atuação do psicólogo” (27,5%, N=19); (Lazzari, 2013). O terceiro tema mais pesquisado
“caracterização da atuação profissional” (15,9%, envolve processos de caracterizar e propor inter-
N=11) e “comportamentos de estudo e/ou faci- venções sobre comportamentos acadêmicos tais
litadores do comportamento do estudo” (11,6%, como comportamentos de estudo (e.g., Cortegoso
N=8) correspondem à mais da metade dos estu- & Botomé, 2002; Goecks, 2011; Kienen et al.,
dos desenvolvidos (55%, N=38), configurando-se 2017). Embora não esteja entre os temas mais
como os temas mais pesquisados. É possível obser- pesquisados, destaca-se que comportamentos re-
var também que, além da profissão do psicólogo, lacionados a ambientes não acadêmicos, tais como
tema relacionado à primeira categoria, há também o ambiente organizacional (e.g., liderar, manejar
a caracterização de diferentes profissões, conforme conflitos etc.) (e.g., Cortegoso, 2001; Silva, 2017)
apresentadas na segunda categoria, tais como de também foram pesquisados.

Revista Perspectivas 2020 vol. 11 n ° 02 pp. 114-136 121 www.revistaperspectivas.org


Programação de ensino no Brasil 114-136

Tabela 1. Temas investigados nos estudos analisados

Temas Qtde de estudos Referências


(%)
Formação e atuação do psicólogo 19 (27,5%) e.g., Assini, 2011; Gonçalves, 2015; Joaquim, 2013;
Kienen, 2008; Mattana, 2004; Silva, 2010; Tosi, 2010;
Viecili, 2008; Wruck, 2004.

Caracterização da atuação profissional 11 (15,9%) Benevenuti, 2012; Botomé, 2009; Gomes, 2005;
Hoffmann, 2013; Kawasaki, 2013; Lazzari, 2013;
Nascimento & Gusso, 2017; Onzi, 2004; Onzi & Botomé,
2003; 2005; Suhett, 2017.

Comportamentos de estudo e/ou facilitadores 8 (11,6%) Agassi, 2013; Cortegoso & Botomé, 2002; Coser et al.,
do comportamento de estudo 2011; Coser, 2009; Kienen et al,. 2017; Goecks, 2011;
Gurgueira & Cortegoso, 2009; Lorena & Cortegoso,
2008 .

Estabelecimento de objetivos de ensino para/na 7 (10,1%) Alberici, 2005; Bordignon-Luiz, 2013; Bordignon-Luiz &
educação básica Botomé, 2017; Carvalho, 2015; Frisanco, 200; Médici,
2016; Silva, 2013.

Classes de comportamento em ambiente orga- 6 (8,7%) Cortegoso, 2001; Lamonato, 2011; Marcon, 2008; Neri,
nizacional 2017; Silva, 2017; Pinheiro, 2010.

Classes de comportamentos de avaliar a con- 2 (2,9%) De Luca, 2008; 2013.


fiabilidade de informações
Análise de Programa de Pós-Graduação 2 (2,9%) Botomé, 1998; 1999.

Escolha profissional 2 (2,9%) Gomes, 2014; Luiz, 2008 .

Habilidades sociais 2 (2,9%) Müller, 2013; Vettorazzi et al., 2005.

Comportamento de dirigir 2 (2,9%) Canali, 2017; Russi, 2016 .

Ensino Aprendizagem 2 (2,9%) Carvalho et al., 2014; Kubo & Botomé, 2001.

Outros 7 (10,1%) Cortegoso & Botomé, 2001; Gusso, 2013; Lorenzo et al,.
2010; Mezzacappa, 2013; Silva, 2007; Souza & Kubo,
2010; Teixeira, 2010.
Total 69 (100%)

Em relação aos conceitos definidos nos artigos conceito de “programação de ensino” foi definido
teóricos e empíricos examinados3 (Tabela 2), foi em oito estudos (38%) e apresentado basicamente
possível identificar que os conceitos de comporta- de duas formas: (a) como um processo compor-
mento, programação de ensino, ensinar, aprender tamental complexo, que envolve programar con-
e comportamento-objetivo foram os mais cita- dições para a produção de aprendizagens e que é
dos. “Comportamento”, definido em 12 trabalhos constituído por diversos outros comportamentos
(57,1%), foi referido como sendo as relações es- menos complexos (e.g., propor os comportamen-
tabelecidas entre ação do organismo e ambien- tos-objetivo, construir, aplicar e avaliar um pro-
te (antecedente e consequente). Na sequência, o grama de aprendizagem para desenvolver esses
comportamentos-objetivo etc.), (Botomé, 2006;
3  O exame dos conceitos foi feito apenas para os artigos, já Kubo & Botomé, 2001; Kienen et al., 2013); (b)
que nas dissertações e teses partes do trabalho, tais como a como uma tecnologia de ensino que “envolve di-
introdução, não foram examinadas.

Revista Perspectivas 2020 vol. 11 n ° 02 pp. 114-136 122 www.revistaperspectivas.org


Bruno Calábrio Cianca, Mariana Gomide Panosso, Nádia Kienen 114-136

versas etapas e procedimentos (...)” (Kienen et nar compreendido como um arranjo de contingên-
al., 2017), derivada do conhecimento da Análise cias sob as quais os alunos aprendem (Bordignon-
Experimental do Comportamento (Lorena & Luiz & Botomé, 2017; Carvalho et al., 2014; Lorena
Cortegoso, 2008; Carvalho, Silva, Kienen, & Melo, & Cortegoso, 2008; Lorenzo et al., 2010; Kubo &
2014; Bordignon-Luiz & Botomé, 2017; Lorenzo Botomé, 2001; Santos et al., 2009 ) e o aprender
et al., 2010). como mudança de comportamento decorrente
Já os conceitos de “ensinar” e “aprender” foram das condições planejadas pelo professor (Kubo &
definidos em sete estudos (33,3%) e ambos foram Botomé, 2001; Lorena & Cortegoso, 2008; Lorenzo
concebidos como comportamentos, sendo o ensi- et al., 2010; Onzi & Botomé, 2005).

Tabela 2. Principais conceitos definidos nos estudos teóricos, de caracterização e aplicados

Conceitos Qtde de estudos (%) Referências

Comportamento 12 (57,1%) Bordignon-Luiz & Botomé 2017; Carvalho et al., 2014; Kienen
et al., 2013; Kienen et al., 2017; Kubo & Botomé, 2001;
Lorena & Cortegoso, 2008; Lorenzo et al., 2010; Onzi &
Botomé, 2003, 2005; Nascimento & Gusso, 2017; Santos et
al., 2009; Souza & Kubo, 2010.

Programação de ensino 8 (38%) Bordignon-Luiz & Botomé, 2017; Botomé, 2006; Carvalho et
al., 2014; Vettorazzi et al., 2005; Kienen et al., 2017; Kienen et
al., 2013; Lorena & Cortegoso, 2008; Lorenzo et al., 2010.

Ensinar (ensino) 7 (33,3%) Bordignon-Luiz & Botomé 2017; Carvalho et al., 2014; Lorena
& Cortegoso, 2008; Lorenzo et al., 2010; Kienen et al., 2013;
Kubo & Botomé, 2001; Santos et al., 2009.

Aprender (aprendizado) 7 (33,3%) Bordignon-Luiz & Botomé 2017; Lorena & Cortegoso, 2008;
Lorenzo et al., 2010; Onzi & Botomé, 2003, 2005; Kienen et
al., 2013; Kubo & Botomé, 2001.

Comportamento-objetivo 5 (23,8%) Bordignon-Luiz & Botomé, 2017; Carvalho et al., 2014;


Kienen et al., 2013; Kubo & Botomé, 2001; Lorena &
Cortegoso, 2008.

Ensino Programado 3 (14,2%) Carvalho et al., 2014; Kienen et al., 2013; Kubo & Botomé,
2001
Competência/ habilidade/ 3 (14,2%) Botomé, 2006; Onzi & Botomé,2003; Santos et al., 2009.
capacidade de atuação
Mercado de trabalho e campo de 3 (14,2%) Botomé, 2006; Onzi & Botomé, 2003; 2005.
atuação
Decomposição de comportamento 2 (9,5%) Nascimento & Gusso, 2017; Santos et al., 2009.

Nota: Em vários artigos há definição de mais de um conceito. Dissertações e teses foram excluídas desta análise.

No que diz respeito ao conceito de “comporta- Bordignon-Luiz e Botomé (2017), esse conceito é
mento-objetivo”, esse foi definido em cinco estu- definido de forma mais precisa, uma vez que indica
dos (23,8%) os quais, em geral, fizeram referência que o comportamento-objetivo visa“(...) ressaltar a
sobre esse ser um comportamento que o aluno diferença entre simplesmente dar forma ‘compor-
precisa aprender (Kubo & Botomé, 2001; Kienen tamental’ a qualquer expressão com o acréscimo
et al., 2013; Lorenzo et al., 2010). Já no artigo de de um verbo a um complemento caracterizando-

Revista Perspectivas 2020 vol. 11 n ° 02 pp. 114-136 123 www.revistaperspectivas.org


Programação de ensino no Brasil 114-136

-a como um “objetivo-comportamental”. No caso É possível observar ainda que em 18 estudos


da expressão comportamentos-objetivo, há uma (28,1%) os pesquisadores desenvolveram mais de
inversão em que o que precede é a descoberta de uma etapa da PCDC tais como “Construção, apli-
comportamentos relevantes a serem ensinados e, cação e avaliação de um programa de ensino” (14%,
por essa relevância eles podem ser ‘eleitos’ como N=9), “descoberta dos comportamentos-objetivo,
‘objetivos’ de um programa de aprendizagem ou construção, aplicação e avaliação de um programa
de ensino (...)” (p. 332). Ao examinar as etapas da de ensino”(4,6%, N=3), “Aperfeiçoamento, aplicação,
PCDC desenvolvidas nos trabalhos, é possível ob- avaliação de um programa de ensino” (4,6%, N=3),
servar que a categoria “Descoberta dos comporta- “descoberta dos comportamentos-objetivo, constru-
mentos-objetivo” representa, isoladamente, mais da ção de um programa de ensino”(3,1%, N=2), e, por
metade (71,9%, N=46) do total de estudos produ- fim, “descoberta dos comportamentos-objetivo, ava-
zidos (Tabela 3). liação de um programa de ensino” (1,5%, N=1).

Tabela 3. Quantidade e percentagem de estudos, conforme etapas da PCDC e exemplos


de referências desses

Etapa da PCDC Qtde de estudos (%) Referências

Descoberta dos Comportamentos- 46 (71,9%) e.g., Assini, 2011; Canali, 2017; Cortegoso & Botomé,
Objetivo 2001; Marcon, 2008; Nascimento & Gusso, 2017; Onzi,
2004; Queiroz, 2005; Tosi, 2010; Joaquim, 2013; Kienen
et al., 2017.

Construção, Aplicação e Avaliação de 9 (14%) Agassi, 2013; Carvalho, 2015; Lorena & Cortegoso,
um Programa de ensino 2008; Gonçalves, 2015; Gurgueira & Cortegoso, 2008;
Kawasaki, 2013; Lorenzo et al., 2010; Médici, 2016;
Vettorazzi et al., 2005.

Descoberta dos Comportamentos- 3 (4,6%) Frisanco, 2001; De Luca, 2013; Teixeira, 2010.
Objetivo, Construção, Aplicação e
Avaliação de um Programa de ensino
Aperfeiçoamento, Aplicação, Avaliação 3 (4,6%) Coser, 2009; Coser et al., 2011; Gusso, 2013.
de um Programa de Ensino
Descoberta dos Comportamentos- 2 (3,1%) Botomé,1999; Lamonato, 2011.
Objetivo, Construção de um programa
de ensino
Descoberta dos Comportamentos- 1 (1,5%) Botomé,1998
Objetivo, Avaliação de um Programa
de ensino

Nos estudos de caracterização de classes de com- de disciplinas (e.g., Franken, 2009) e participan-
portamentos, foi frequente o uso de diferentes ti- tes envolvidos com o fenômeno investigado (e.g.,
pos de fontes de informação para a sua identifica- Cortegoso, 2001) (10 estudos cada; 20,4%), artigos
ção. Dentre elas, as mais utilizadas foram: livros (14,2%, N=7;) (Kienen et al., 2017), outros (e.g.,
e capítulos de livros (36,7%, N=18) (e.g., Assini, apostilas, textos não publicados, painéis) (10,2%,
2011), documentos legais (resoluções) (26,5%, N=5) (Mattana, 2004) e, por fim, apenas um (2%)
N=13) (e.g., Bordignon-Luiz & Botomé, 2017), (Botomé, 1999) trabalho não especificou a fonte
teses e/ou dissertações (e.g., Moskorz, 2011), pro- de informação.
jetos de cursos (e.g., Silva, 2010), planos de ensino

Revista Perspectivas 2020 vol. 11 n ° 02 pp. 114-136 124 www.revistaperspectivas.org


Bruno Calábrio Cianca, Mariana Gomide Panosso, Nádia Kienen 114-136

Tabela 4. Resultados dos estudos de caracterização e aplicados

Resultados Qtde de estudos Referências


(%)*
Identificação e/ou caracterização de clas- 39 (60,9%) e.g., Assini, 2011; Cortegoso, 2001; Garcia, 2009;
ses de comportamentos constituintes de Hoffmann, 2013; Lazzari, 2013; Marcon, 2008; Müller,
uma classe mais geral 2013; Pinheiro, 2010; Silva, 2010).

Melhora de desempenho em comporta- 15 (100%)* Agassi, 2013; Carvalho, 2015; Coser, 2009; Coser
mentos-objetivo na situação de ensino et al., 2011; Lorena & Cortegoso, 2008; De Luca,
2013; Frisanco, 2001; Gonçalves, 2015, Gurgueira &
Cortegoso, 2008; Gusso, 2013; Lorenzo, Kawasaki, &
Kubo, 2010; Médici, 2016; Kawasaki, 2013; Teixeira,
2010; Vettorazzi et al., 2005).

Avaliação de Objetivos de ensino 10 (15,6%) Bordignon-Luiz & Botomé, 2017; Franken, 2009; Onzi &
Botomé, 2003; 2005; Onzi, 2004; Santos, 2006; Silva,
2004; Silva, 2013; Tosi, 2010; Wruck, 2004.

Manutenção de desempenho relacionado 4 (26,7%)* Coser et al., 2011; De Luca, 2013; Teixeira, 2010;
a comportamentos-objetivo na situação Vettorazzi et al., 2005.
natural
Apresentação de novos comportamentos 3 (20,2%)* Carvalho, 2015; De Luca, 2013; Vettorazzi et al., 2005
relacionados aos comportamentos-objeti-
vo aprendidos (generalização)
Proposição sistematizada de aprendiza- 2 (3,1%) Botomé, 1998; 1999.
gens a serem desenvolvidas (grades curri-
culares, minuta de projetos etc.)
Outros 1 (1,5%) Mezzacappa, 2013.

Nota: Há trabalhos com mais de um tipo de resultado. *Os resultados referentes ao desempenho dos participantes após o
período de ensino foram calculados em relação ao total de estudos aplicados (N=15).

No que diz respeito ao delineamento, nos estudos neamento de sujeito único com linha de base múl-
nos quais foi realizada caracterização de classes de tipla com critério móvel e follow-up (6,7%, N=1)
comportamentos (71%, N=49), a coleta e análise (De Luca, 2013). Além disso, três estudos utiliza-
de dados foi feita por meio de documentos (e.g., ram também delineamentos de grupo: AB entre
diretrizes curriculares) ou outras fontes bibliográ- grupos por meio do qual a variável experimental
ficas (e.g., livros, artigos, currículos de cursos), foi inserida em semanas diferentes para cada gru-
assim como por entrevistas ou observação direta, po (6,7%, N=1) (Gusso, 2013), entre grupos com
caracterizando-se como estudos descritivos. Em linha de base múltipla (6,7%, N=1) (Agassi, 2013) e,
relação aos estudos aplicados (N=15), foi possível por fim, multielementos entre grupos (6,7%, N=1)
observar uma variedade de delineamentos, sendo (Lorena & Cortegoso, 2008).
que a maioria (80%, N=12,) utilizou algum tipo de Ao examinar os resultados obtidos nos estudos
delineamento de sujeito único conforme descrito de caracterização e aplicados (N=64) (Tabela 4), é
a seguir: delineamento de sujeito único com pré e possível observar que o resultado mais frequente
pós-teste (53,3%, N=8) (e.g., Coser, Cortegoso, & foi “Identificação e/ou caracterização de classes de
Gil, 2011; Médici, 2016), delineamento de sujei- comportamentos constituintes de uma classe mais
to único com pré e pós-teste e follow-up (13,3%, geral” (60,9%, N=39).
N=2) (Coser, 2009; Teixeira, 2010), delineamento Já ao analisar os resultados dos estudos apli-
de sujeito único com linha de base múltipla entre cados, é possível observar que em todos houve
participantes (6,6%, N=1) (Frisanco, 2001) e deli- “Melhora de desempenho em comportamentos-

Revista Perspectivas 2020 vol. 11 n ° 02 pp. 114-136 125 www.revistaperspectivas.org


Programação de ensino no Brasil 114-136

-objetivo na situação de ensino” (100%, N=15), se mental dos aprendizes de modo a torná-los aptos a
comparados aos desempenhos apresentados pelos manejarem as situações-problema com que se de-
participantes no pré-teste. Por outro lado, apenas frontam no seu dia a dia a fim de produzir resulta-
26,7% desses estudos (N=4) apresentaram resulta- dos de valor para si e para a sociedade. Entretanto,
dos em relação à manutenção de comportamentos esse processo de caracterização das necessidades
na situação natural. requer a utilização e/ou a produção de informa-
ções. Essas informações podem ser obtidas a partir
de fontes que já apresentam o conhecimento dis-
Discussão ponível para ser consultado como, por exemplo,
livros, artigos, teses e/ou dissertações (e.g., Kienen
A partir da análise dos dados, foi possível identifi- et al., 2017; Nascimento & Gusso, 2017), documen-
car que a maioria dos estudos se refere à caracteri- tos oficiais (e.g., Bordignon-Luiz & Botomé, 2017;
zação de classes de comportamentos constituintes Onzi & Botomé, 2005; Silva, 2013; Viecili, 2008) ou
de uma determinada classe mais geral (e.g., Garcia, produzindo informações por meio do acesso dire-
2009; Marcon, 2008; Queiroz, 2005) e/ou à avalia- to à população-alvo, como por observação direta
ção de objetivos de ensino propostos (e.g., Franken, no ambiente natural dos aprendizes (Cortegoso &
2009; Nascimento & Gusso, 2017; Santos, 2006) Botomé, 2001; 2002; Hoffmann, 2013; Lamonato,
(71%, N=49). O desenvolvimento desse tipo de es- 2011), realização de entrevistas (Alberici, 2005;
tudo demonstra a influência da proposta de Bori Cortegoso & Botomé, 2002; Marcon, 2008; Queiroz,
(1974) no que se refere à importância de definir os 2005), aplicação de questionário (Panosso, 2019)
comportamentos a serem ensinados, com base nas etc. Há ainda, a possibilidade de utilizar essa diver-
necessidades sociais dos aprendizes, como uma eta- sidade de fontes de informações para caracterizar as
pa anterior ao planejamento de contingências para necessidades dos aprendizes. Na tese de doutorado
o ensino (Nale, 1998). Esses dados ilustram tam- de Panosso (2019), por exemplo, foram utilizados
bém a mais importante contribuição de Carolina dados estatísticos de documentos oficiais, estudos
Bori para a distinção entre o PSI e a Programação científicos e dados resultantes de um questionário
de Ensino: aplicado com a população-alvo de um programa de
ensino (i.e., professores) para descrever a situação-
o formato tradicional dos cursos programados -problema relacionada ao bullying escolar com as
individualizados tal como proposto no Plano quais eles precisavam lidar em sua rotina laboral e
Keller (...) não constituía o mais importante. O caracterizar as necessidade sociais deles. De posse
mais importante era: partindo da proposição e desses dados, foi possível propor comportamen-
análise dos comportamentos propostos como tos a serem desenvolvidos e que fossem relevantes
objetivos de ensino, planejar contingências e pro- àquela população-alvo.
cedimentos para o ensino desses comportamen- Caracterizar as necessidades sociais dos apren-
tos. A partir disso, Bori introduziu o conceito de dizes, por meio das informações fornecidas dire-
“programação de ensino”, um conceito com mui- tamente por eles, poderá produzir informações
to maior abrangência e muito mais flexibilidade mais claras e precisas acerca do fenômeno estuda-
que os de curso programado individualizado e do e, consequentemente, aumentar a probabilidade
instrução programada (Nale, 1998, p. 286). de que os programas de ensino que venham a ser
desenvolvidos para atender essa população sejam
O processo de caracterizar as necessidades adequados às necessidades dela (Panosso, 2019).
sociais dos aprendizes é requisito essencial para a De todo modo, a proposição de comportamentos é
construção de programas de ensino (Bori, 1974; sempre algo que requer produção de conhecimento
Kubo & Botomé, 2001). Se bem realizada, tal carac- por meio da caracterização das situações-problema
terização fornece dados para que o capacitador pos- com as quais os aprendizes se deparam, bem como
sa derivar comportamentos a serem desenvolvidos, dos comportamentos necessários para manejá-las,
mantidos e/ou eliminados no repertório comporta- com base no conhecimento científico (Botomé,

Revista Perspectivas 2020 vol. 11 n ° 02 pp. 114-136 126 www.revistaperspectivas.org


Bruno Calábrio Cianca, Mariana Gomide Panosso, Nádia Kienen 114-136

1981; Kubo & Botomé, 2001; Kienen et al., 2013; tudar de forma mais eficiente (Kienen et al., 2017),
Nale, 1998). promover comportamentos de estudo (Coser et al.,
Vale destacar que, tão importante quanto sele- 2011), comportar-se criativamente (Souza & Kubo,
cionar as fontes de informações que serão utiliza- 2010), assertivamente (Müller, 2013), ou ainda,
das para a produção de dados que irão subsidiar atuar em seu contexto cotidiano como profissio-
o processo de proposição de comportamentos- nal (e.g., psicólogo, enfermeiro, engenheiro etc.).
-objetivo, é avaliar se elas estão fornecendo dados Considerando a necessidade de definir os compor-
que tornem explícitas as condições nas quais uma tamentos a serem desenvolvidos pelos aprendizes,
pessoa vive e o que consegue realizar nelas, o que os objetivos de ensino podem ser mais precisa-
precisaria conseguir para viver melhor e produzir mente denominados “comportamentos-objetivo”,
uma vida melhor para outros, e que aspectos das uma vez que evidenciam a necessidade de defini-
condições atuais precisam ser alteradas para que a ção dos comportamentos a serem ensinados e que
transformação necessária possa acontecer por meio serão, por isso, escolhidos como objetivos de um
das próprias ações (Kienen, Kubo, & Botomé, no programa de ensino (Botomé, 1981; Bordignon-
prelo). Ao considerar essas variáveis, é possível ca- Luiz & Botomé, 2017; Kienen et al., no prelo). Ou
racterizar as necessidades sociais dos aprendizes a seja, não basta descrever “conteúdos” na forma de
fim de derivar comportamentos-objetivo que sejam comportamentos, no sentido de especificar objeti-
relevantes para torná-los aptos a transformarem a vos de ensino com sentenças contendo um verbo
situação-problema em resultados de valor para si e e um complemento qualquer. Caracterizar com-
para a sociedade. portamentos que constituirão objetivos de ensino
Conquanto a etapa de proposição de comporta- requererá especificar três elementos: (a) classes de
mentos seja essencial para desenvolver programas estímulos antecedentes (situações com as quais o
de ensino que capacitem os aprendizes a lidar com aprendiz irá se defrontar, após o período de ensi-
as situações-problema com que irão se deparar no no e em relação às quais necessitará fazer algo); (b)
dia a dia, esses programas necessitam ser testados classes de respostas (o que o aprendiz terá que fazer
empiricamente e, consequentemente, avaliados. Por em relação às situações com as quais se deparará)
meio dos resultados desta revisão de literatura foi e (c) classes de estímulos consequentes (o que o
possível identificar que apenas 15 estudos tiveram aprendiz deverá produzir como resultado de suas
como foco a aplicação e avaliação de programas de ações em relação às situações com as quais se depa-
ensino (21,7%), indicando a necessidade de elabo- rará) (Botomé, 1981). Tais componentes têm sido
rar mais programas de ensino a partir de pesquisas descritos nos estudos analisados, cuja ênfase está
que produziram conhecimento relacionado a iden- na primeira etapa da PCDC (e.g., Bordignon-Luiz,
tificar e/ou caracterizar classes de comportamen- 2013; De Luca, 2008; 2013; Russi, 2016) e parecem
tos de uma classe mais geral (Cortegoso & Botomé, ampliar a visibilidade acerca de quais relações o
2001, Gomes, 2014; Kienen, 2008; Russi, 2016) ou aprendiz terá que estabelecer com o ambiente no
mesmo produzir novos estudos relacionados a pro- qual atuará depois de formado a fim de agir eficaz-
cessos comportamentais que ainda não foram in- mente no mundo, tanto no plano verbal como no
vestigados em PCDC. não-verbal (Skinner 1968/1972).
No que diz respeito aos conceitos que serviram Por sua vez, o conceito de “programação de
de base aos estudos analisados, um dos mais fre- ensino” é apresentado de diferentes formas nos es-
quentemente definidos foi o de comportamento, tudos analisados, ora sendo referido como (a) um
o que indica sua relevância para os trabalhos em processo comportamental – de programar condi-
PCDC. Tal conceito foi referido, de modo geral, ções de ensino – constituído por uma série de com-
como interação entre a ação do organismo e o am- portamentos envolvendo desde caracterizar neces-
biente (antecedente e consequente) (Botomé, 2013) sidades de aprendizagem, até construir, aplicar e
e tem servido de base para “auxiliar a descobrir avaliar programas de ensino (e.g., Botomé, 1981;
‘os fazeres’ que um aprendiz precisa desenvolver” 2006; Kubo & Botomé, 2001; Kienen et al., 2013);
(Kienen et al., no prelo) para estar capacitado a es- ora como (b) uma tecnologia de ensino, deriva-

Revista Perspectivas 2020 vol. 11 n ° 02 pp. 114-136 127 www.revistaperspectivas.org


Programação de ensino no Brasil 114-136

da do conhecimento da Análise Experimental do servar que a maioria dos estudos teve como foco
Comportamento (e.g., Lorena & Cortegoso, 2008; a descrição de diferentes “perfis profissionais”
Carvalho et al., 2014; Kienen et al., 2013; Lorenzo (e.g., Assini, 2011; Gomes, 2005; Gonçalves, 2015;
et al., 2010). Desde sua gênese, a programação Joaquim, 2013; Kienen, 2008; Lamonato, 2011;
de ensino, neste trabalho também denominada Lazzari, 2013) objetivando caracterizar necessida-
PCDC, tem sido compreendida como um processo des de formação desses profissionais, ou seja, ca-
comportamental que envolve não apenas o com- racterizar comportamentos básicos relacionados a
portamento do aprendiz (e o que se pretende ensi- eles, considerando as necessidades sociais e possi-
nar a ele!), mas também o comportamento daquele bilidades de atuação a partir dessas necessidades.
que planeja as contingências de ensino (Bori, 1974; Caracterizar perfis de diferentes profissionais, no
Kubo & Botomé, 2001; Nale, 1998). Nas palavras sentido de sistematizar quais comportamentos são
de Bori (1974), “nós não mais ensinamos pessoas a definidores da atuação de determinado profissional
programarem cursos, mas a procurar pelas contin- na sociedade é essencial para o desenvolvimento e
gências nas atividades e a programá-las” [tradução treinamento desses profissionais. Estudos desse
dos autores] (p. 72). tipo podem, inclusive, orientar o desenvolvimento
Porém, o quanto esse processo pode ou não ser e/ou aperfeiçoamento de diretrizes para a formação
caracterizado como uma tecnologia de ensino ain- profissional (e.g., Kienen, 2008; Santos, 2006; Silva,
da parece carecer de mais exame e debate. Botomé 2010; Suhett, 2017; Viecili, 2008).
(2018), por exemplo, afirma que a PCDC Ainda com relação aos temas, foi possível ob-
servar um conjunto de pesquisas relativas a diferen-
não é uma técnica, mas um procedimento bási- tes áreas do conhecimento da educação básica e su-
co, ainda não descrito de maneira tecnológica, perior (e.g., Educação Matemática [Médici, 2016];
para construir e programar condições que pos- Ensino de História [Bordignon-Luiz, 2013]; Ensino
sam desenvolver aprendizagem, ainda como um de Turismo [Onzi & Botomé, 2005]), estudos rela-
recurso de ensino. (...) [isso porque]. Há mui- cionados ao ambiente acadêmico (e.g., caracterizar
tas versões de procedimentos - e de conceitos e propor intervenções sobre comportamentos de
envolvidos - no que recebe o nome genérico estudo [Cortegoso & Botomé, 2002; Goecks, 2011;
de Programação de Condições de Ensino ou, Kienen et al., 2017; Silva, 2007]) e não acadêmicos
na perspectiva de uma utilização mais ampla (e.g., classes de comportamentos em ambiente or-
desse procedimento básico, de condições para ganizacional [Cortegoso, 2001; Silva, 2017]). Dados
o desenvolvimento de comportamentos (p. 18). produzidos por meio desses estudos demonstram o
quanto a PCDC aumenta a visibilidade sobre o que
Por outro lado, segundo Skinner (1968/1972), a constitui o perfil de diferentes profissionais, poden-
tecnologia de ensino pode ser considerada o próprio do contribuir para o desenvolvimento de currícu-
processo comportamental de construir condições los profissionais (Botomé, 1998; 1999) e de capa-
que maximizem a probabilidade de que os aprendizes citação desses em diferentes atuações (Carvalho,
desenvolvam os comportamentos de valor para si e 2015; De Luca, 2013; Frisanco, 2001; Gonçalves,
para a sociedade. Talvez o desafio seja avaliar o quan- 2015; Kawasaki, 2013). Tais dados têm indicado
to esse processo comportamental está suficientemen- não apenas a relevância de comportamentos mais
te definido e sistematizado a ponto de se caracterizar complexos diretamente envolvidos com a inter-
como uma tecnologia de ensino que possibilite pro- venção profissional, mas também a de comporta-
gramar condições para desenvolver comportamentos mentos pré-requisitos relativos à formação teórico-
com base nas descobertas da Análise Experimental -conceitual, metodológica, ética etc. (e.g., De Luca,
do Comportamentos. Estudos que envolvam exames 2013, Kienen, 2008, Viecili, 2008). Kienen (2008)
mais aprofundados acerca do que define algo como e Viecili (2008), por exemplo, ao examinarem as
uma “tecnologia de ensino” podem contribuir para o contribuições das Diretrizes Curriculares Nacionais
encaminhamento dessa questão. para a formação do psicólogo, destacam o quanto
Sobre os temas investigados, foi possível ob- os comportamentos, designados nas referidas di-

Revista Perspectivas 2020 vol. 11 n ° 02 pp. 114-136 128 www.revistaperspectivas.org


Bruno Calábrio Cianca, Mariana Gomide Panosso, Nádia Kienen 114-136

retrizes como “competências e habilidades”, ainda os princípios da AEC como graduar as condições
possuem uma dimensão eminentemente técnica e de ensino e as exigências das respostas consideran-
evidenciam, por meio de procedimentos da PCDC, do o processo da modelagem; promover respostas
lacunas importantes no sentido de explicitação de ativas do participante do programa de ensino; res-
comportamentos pré-requisitos que promoveriam peitar o ritmo de cada um com a aprendizagem
uma intervenção mais crítica, criativa e ética, que passo a passo e planejando consequências imedia-
poderia ser viabilizada por uma formação mais tas para o desempenho de cada participante; au-
científica e filosófica. mentar gradualmente as exigências de desempenho
Quanto aos resultados dos estudos analisa- durante a capacitação e promover a equivalência
dos, foi possível observar que esses envolveram entre a situação de ensino e a situação natural na
“Identificação e/ou caracterização de classes de qual os participantes apresentem as classes de com-
comportamentos constituintes de uma classe mais portamentos-objetivo (Botomé, 1975; Cortegoso
geral” (N=39, 60,9%) e “Avaliação de Objetivos de & Coser, 2011; Skinner, 1968/1972), aumentam a
Ensino” (N=10, 15,6%), o que pode contribuir para probabilidade de que os comportamentos-objetivo
definir objetivos de programas de ensino que vi- sejam apresentados durante o programa de ensino
sem ao desenvolvimento de tais repertórios em di- e em ambiente natural (Botomé, 1997; Cortegoso
ferentes contextos de ensino-aprendizagem (Bori, & Coser, 2011; Nale, 1998).
1974; Kubo & Botomé, 2001). Além disso, foram Ainda, programar condições de ensino consi-
identificados, nos estudos aplicados, resultados re- derando aspectos como graduar as condições de
ferentes à “Melhora de desempenho em comporta- ensino de forma que as atividades finais sejam si-
mentos-objetivo dos participantes em situação de milares às situações naturais, variá-las colocando as
ensino” (N=15, 100%) e “Manutenção de desem- respostas sob controle de uma ampla variedade de
penho relacionado a comportamentos-objetivo na estímulos, ensinar comportamentos que sejam se-
situação natural” (N=4, 26,7%). A indicação do melhantes às condições naturais de reforço às quais
quanto um programa de ensino foi eficiente, se- o indivíduo será exposto; programar o treino com
gundo De Luca (2013), relaciona-se ao quanto os estímulos comuns àqueles da condição natural e
aprendizes apresentam, no ambiente de ensino, os estabelecer como parte do treino uma resposta que
comportamentos-objetivo a serem desenvolvidos poderá ser utilizada em outras situações podem au-
por eles ao serem capacitados. Já a indicação do mentar a probabilidade de que os comportamentos
quanto o programa foi eficaz, relaciona-se ao quan- desenvolvidos no ambiente de ensino sejam apre-
to os comportamentos-objetivo passam a ser apre- sentados em ambiente natural e generalizados para
sentados no ambiente profissional e/ou cotidiano outros ambientes (Gadelha & Vasconcelos, 2005;
(natural) do aprendiz (De Luca, 2013). Portanto, os Martin & Pear, 2018). Quanto mais similares fo-
resultados dos estudos aplicados indicaram que os rem as contingências de ensino às situações natu-
programas de ensino analisados têm sido eficientes rais, maior poderá ser a generalização de estímulo
no desenvolvimento de comportamentos-objetivo entre elas (Martin & Pear, 2018). Adicionalmente,
que foram alvo dos programas de ensino aplicados. se a manutenção de um comportamento se vincula
Adicionalmente, alguns desses programas de ensi- ao fato de ele continuar sendo reforçado ou não em
no também mostraram algum grau de eficácia em ambiente natural então, o arranjo de contingências
relação à manutenção dos comportamentos-objeti- para o desenvolvimento de comportamentos úteis
vo dos participantes em situação natural. ao aprendiz para a solução dos problemas que se
Além da definição clara dos comportamentos- apresentam em sua rotina, pode aumentar a proba-
-objetivo de programas de ensino, a forma como bilidade de que eles sejam reforçados em seu am-
as condições de ensino são construídas também biente natural (Martin & Pear, 2018). Elaborados
contribui para a eficiência e a eficácia do programa dessa maneira, os programas de ensino têm maior
e, consequentemente, à melhora, à manutenção e probabilidade de serem eficientes e eficazes para
à generalização do desempenho dos aprendizes. A o desenvolvimento dos comportamentos-objetivo
construção de condições de ensino tendo por base propostos, haja vista os resultados dos estudos

Revista Perspectivas 2020 vol. 11 n ° 02 pp. 114-136 129 www.revistaperspectivas.org


Programação de ensino no Brasil 114-136

de De Luca (2013), Gonçalves (2015) e Panosso tudos quase-experimentais são mais da metade das
(2019). No caso de 47% dos estudos aplicados aqui pesquisas aplicadas e que, dentre os delineamentos
analisados (N=7), não houve avaliação em follow- experimentais, poucos estudos utilizaram o deli-
-up, a fim de verificar se os comportamentos desen- neamento com linha de base múltipla (N=3, 20%),
volvidos por meio das condições de ensino foram o qual permite um maior grau de controle das va-
apresentados em ambiente natural. Isso sinaliza riáveis (Cozby, 2003) sugere-se que novos estudos
para a necessidade de consideração desse aspecto utilizem delineamentos mais sofisticados para ava-
em futuros estudos da área. liar a eficiência e eficácia de programas de ensino
Avaliar o quão eficientes foram as condições elaborados.
de ensino planejadas para o desenvolvimento dos A diversidade dos temas e os resultados de-
comportamentos-objetivo dos aprendizes impli- correntes dos trabalhos demonstram que os es-
ca na realização de verificações experimentais por tudos em PCDC, no período de 1998 a 2017,
meio do planejamento dos delineamentos de pes- constituem-se como contribuições significativas
quisa. No que diz respeito aos delineamentos em- para diversas áreas do conhecimento e para a pró-
pregados nos estudos aplicados, o delineamento ex- pria Análise do Comportamento. Desde 1960, a
perimental de sujeito único foi o principal utilizado Programação de Ensino, no Brasil, se diferenciou
(N=12, 80%). O objetivo de um experimento é es- de outras tecnologias de ensino baseadas na Análise
tabelecer relações causais entre variáveis, ou seja, as do Comportamento (e.g., Precision Teaching, PSI),
variáveis independentes (VI), aquelas manipuladas passando por avanços teóricos e metodológicos ao
pelo pesquisador e a variável dependente (VD), o longo do tempo. Portanto, prosseguir pesquisando
comportamento a ser mensurado pelo experimen- sobre as suas contribuições e possibilidades de avan-
tador, a fim de observar os efeitos da primeira sobre ços se constituiu um importante objeto de pesquisa.
a segunda (Sampaio et al., 2008). Uma das princi- Algumas limitações neste estudo se referem à
pais características dos delineamentos de sujeito dificuldade de acesso online a alguns estudos e à
único e que os diferencia de outros delineamentos, falta de exame, na íntegra, das dissertações e teses.
é a exposição do sujeito da pesquisa a diferentes Destaca-se também que os estudos analisados po-
condições experimentais e a mensuração repetida dem se configurar como um possível viés desta pes-
do comportamento dele. Dessa maneira, é possível quisa, haja vista que foram incluídos apenas traba-
verificar se há a ocorrência de uma relação ordena- lhos da biblioteca construída com base no currículo
da entre a VI e a VD utilizando o sujeito como seu lattes de alguns pesquisadores da área. Sugere-se
próprio controle (Matos, 1990). Por meio desse tipo que, em estudos futuros, sejam analisadas as dis-
de delineamento é possível avaliar e demonstrar, de sertações e teses na íntegra para avaliar aspectos
forma clara, a relação de determinação das contin- tais como o desenvolvimento dos procedimentos de
gências de ensino (VIs) em relação aos comporta- derivação, decomposição, organização de classes de
mentos-objetivo (VDs), sendo, portanto, o delinea- comportamento, bem como revisões de literatura
mento mais empregado nos estudos analisados. que utilizem como fontes de informação livros e ca-
Por outro lado, os delineamentos quase experi- pítulos de livros, excluídos desta pesquisa, a fim de
mentais, também empregados nos estudos aplica- obter uma visão mais ampla e completa dos estudos
dos avaliados neste artigo (N=10, 66,7%), possuem desenvolvidos na área. Além disso, sugere-se buscas
a limitação no que se refere ao grau de controle das em bases de dados para localização de mais artigos,
variáveis, uma vez que empregam apenas pré e pós- teses e dissertações em PCDC.
-teste, sem medidas constantes ao longo do tempo,
em diferentes momentos. Considerando que os es-

Revista Perspectivas 2020 vol. 11 n ° 02 pp. 114-136 130 www.revistaperspectivas.org


Bruno Calábrio Cianca, Mariana Gomide Panosso, Nádia Kienen 114-136

Referências4 Botomé, S. P. (1981). Objetivos comportamentais no


ensino: A contribuição da Análise Experimental
*Agassi, I. (2013). Avaliação da eficácia de um pro- do Comportamento (Tese de Doutorado não
grama de condições de ensino para desenvolver publicada). Universidade de São Paulo, São
ou aperfeiçoar a cadeia de classes de comporta- Paulo, SP.
mentos “ler textos em contexto acadêmico” como Botomé, S. P. (1997). Um procedimento para en-
parte do repertório de estudantes de cursos de contrar os comportamentos que constituem as
graduação. Recuperado de https://repositorio. aprendizagens envolvidas em um objetivo de
ufsc.br/handle/123456789/122737 ensino. Não publicado.
*Alberici, S. M. (2005). Comportamentos de plane- *Botomé, S. P. (1998). Qualificação de cientistas e
jar o ensino do professor em uma organização professores de nível superior para o desenvolvi-
formadora de novos professores (Dissertação de mento científico, tecnológico e universitário no
Mestrado). Recuperado de https://repositorio. país por meio de mestrados e doutorados de-
ufsc.br/handle/123456789/103036 scentralizados: Avaliação de uma experiência.
*Assini, L. C. (2011). Classes de comportamen- Educação Brasileira, 20(41), 49-77.
tos profissionais do psicólogo constituin- *Botomé, S. P. (1999). Um currículo estratégico
tes da Classe “prevenir comportamentos- para o desenvolvimento de mestrados e dou-
-problema” (Dissertação de Mestrado). torados em diferentes áreas do conhecimento.
Recuperado de https://repositorio.ufsc.br/han- Educação Brasileira, 21(42), 97-120.
dle/123456789/95346 *Botomé, S. P. (2006). Comportamentos profission-
*Benevenuti, J. (2012). Classes comportamentais ais do psicólogo em um sistema de contingên-
para administrar condições que afetam a vida de cias para sua aprendizagem. Revista Brasileira
crianças e jovens que vivem em unidades de abri- de Análise do Comportamento, 2(2), 171-191.
go (Tese de Doutorado). Recuperado de https:// doi: 10.18542/rebac.v2i2.811
repositorio.ufsc.br/handle/123456789/99488 Botomé, S.P. (2013). O conceito de comportamento
*Bordignon-Luiz, F. (2013). Classes de comporta- operante como problema. Revista Brasileira de
mentos-objetivo de aprendizagem de história de- Análise do Comportamento, 9(1), 19-46. doi:
rivadas de documentos oficiais (Dissertação de http://dx.doi.org/10.18542/rebac.v9i1.2130
Mestrado). Recuperado de https://repositorio. Botomé, S.P. (2018). Apresentação. (pp. 9-38). In
ufsc.br/handle/123456789/123147 N. Kienen, S.R.S.A. Gil, J.C. Luzia, J. Gamba
*Bordignon-Luiz, F., & Botomé, S. P. (2017). (Orgs.). Análise do Comportamento: Conceitos
Avaliação de objetivos de ensino de História e aplicações a processos educativos, clínicos e or-
a partir da contribuição da Análise do ganizacionais. Londrina: UEL. Recuperado de
Comportamento. Acta Comportamentalia, http://www.uel.br/pos/pgac/wp-content/up-
25(3), 329-346. Recuperado de http://www. loads/2019/01/UELlivro5dez18press.pdf
revistas.unam.mx/index.php/acom/article/ *Botomé, S. S. (2009). Classes de comportamentos
view/61630/54289 que compõem a sub-etapa “Segmentar fluxo
Bori, C. M. (1974) Developments in Brazil. In: de eventos para compor figuras de quadrinhos”
F.S. Keller, & J.G. Sherman, (Orgs.). The Keller do processo comportamental “produzir história
Plan handbook. Menlo Park, California: W.A. em quadrinhos” (Dissertação de Mestrado).
Benjamin. Recuperado de https://repositorio.ufsc.br/han-
Botomé, S. P. (1975). Um procedimento para en- dle/123456789/106689
contrar os comportamentos que constituem as *Canali, G.Z. (2017). “Dirigir defensivamente em
aprendizagens envolvidas em um objetivo de en- vias públicas”: Caracterização das classes de
sino. Não publicado. comportamentos (Dissertação de Mestrado).
Recuperado de http://www.bibliotecadigital.
4  As referências sinalizadas com “*” foram aquelas conside- uel.br/document/?code=vtls000217417
radas para análise neste estudo. Candido, G. V. (2017). Novas perspectivas para a

Revista Perspectivas 2020 vol. 11 n ° 02 pp. 114-136 131 www.revistaperspectivas.org


Programação de ensino no Brasil 114-136

história do Sistema Personalizado de Ensino: org/10.31505/rbtcc.v13i2.454


Seus fundadores. Memorandum, 33, 51-67. Cozby, P. C. (2003). Métodos de pesquisa em ciên-
Recuperado de https://periodicos.ufmg.br/in- cias do comportamento. São Paulo: Atlas.
dex.php/memorandum/article/view/6651 *De Luca, G. G. (2008). Características de compo-
*Carvalho, G. S. (2015). “Estabelecer objetivos de nentes de comportamentos básicos constituintes
ensino”: Um programa de ensino para capacitar da classe geral de comportamentos denomina-
futuros professores (Dissertação de Mestrado). da “avaliar a confiabilidade de informações”
Recuperado de http://www.bibliotecadigital. (Dissertação de Mestrado). Recuperado de
uel.br/document/?code=vtls000209719 https://rep ositorio.ufs c.br/xmlui/han -
*Carvalho, G. S., Silva, S. Z., Kienen, N., & Melo, dle/123456789/91008
C. M. (2014) Implicações éticas na proposição *De Luca, G. G. (2013). Avaliação da eficácia de
de comportamentos-objetivo a partir da per- um programa de contingências para desenvol-
spectiva behaviorista radical. Perspectivas em ver comportamentos constituintes da classe geral
Análise do Comportamento, 5(1), 93-105. doi: “avaliar a confiabilidade de informações” (Tese
10.18761/perspectivas.v5i2.135 de Doutorado). Recuperado de https://reposi-
*Cortegoso, A. L. (2001). Análise e programação torio.ufsc.br/handle/123456789/122722
de contingências ao administrar agência de Fornazari, S. A., Kienen, N., Tadayozzi, D. S.,
atendimento educacional a crianças e jovens: Ribeiro, G. D., & Rossetto, P. B. (2012).
Da caracterização de necessidades sociais à Capacitação de professores em análise do com-
implementação do funcionamento. Argumento, portamento por meio de programa educativo
3(6), 69-96. Recuperado de https://revistas.an- informatizado. Psicologia da Educação, 35, 24-
chieta.br/index.php/revistaargumento/article/ 52. Recuperado de https://revistas.pucsp.br/psi-
view/537 coeduca/article/view/27939
*Cortegoso, A. L., & Botomé, S. P. (2001). Relações *Franken, J. V. (2009). Avaliação da formação es-
comportamentais ao ensinar em situações de pecífica do psicólogo organizacional e do traba-
recreação dirigida. Psicologia da Educação, 13, lho a partir daquilo que está proposto nos pla-
71-99. Recuperado de https://revistas.pucsp.br/ nos de ensino de disciplinas relacionadas ao seu
psicoeduca/article/view/32838 campo de atuação profissional (Dissertação de
*Cortegoso, A. L., & Botomé, S. P. (2002). Mestrado). Recuperado de https://repositorio.
Comportamentos de agentes educativos como ufsc.br/handle/123456789/92468
parte de contingências de ensino de com- *Frisanco, M. L. (2001). Efeitos da capacitação de pro-
portamentos ao estudar. Psicologia Ciência e fessores para programar ensino sobre seus compor-
Profissão, 22(1), 50-65. doi: 10.1590/S1414- tamentos ao ensinar arte para pessoas portadoras
98932002000100007 de necessidades educacionais especiais (Dissertação
Cortegoso, A.L., & Coser, D.S. (2011) Elaboração de Mestrado não publicada), Universidade
de programas de ensino: Material autoinstruti- Federal de São Carlos, São Carlos, SP.
vo. São Carlos: Edufscar. Gadelha, Y.A, & Vasconcelos, L.A. (2005).
* Coser, D. S. (2009). Avaliação de um programa Generalização de estímulos: Aspectos con-
para capacitar pais como agentes de promoção ceituais, metodológicos e de intervenção. In
de comportamento de estudo (Dissertação de Rodrigues, J.A. & Ribeiro, M.R. Análise do com-
Mestrado). Recuperado de https://repositorio. portamento: Pesquisa, teoria e aplicação. Porto
ufscar.br/handle/ufscar/3029 Alegre, RS: Artmed, 139-158.
*Coser, D. S., Cortegoso, A. L., & Gil, M. S. C. A. *Garcia, M. P. (2009). Classes de comportamentos
(2011). Promoção de comportamentos de constituintes de intervenções de psicólogos no
estudo em crianças: Resultados de um pro- subcampo de atuação profissional de psicoterapia
grama de ensino para pais e responsáveis. com apoio de cães (Dissertação de Mestrado).
Revista Brasileira de Terapia Comportamental Recuperado de https://repositorio.ufsc.br/han-
e Cognitiva, 13(2), 58-78. doi: https://doi. dle/123456789/92255

Revista Perspectivas 2020 vol. 11 n ° 02 pp. 114-136 132 www.revistaperspectivas.org


Bruno Calábrio Cianca, Mariana Gomide Panosso, Nádia Kienen 114-136

*Goecks, C. A. (2011). Comportamentos consti- Recuperado de https://repositorio.ufsc.br/han-


tuintes da classe geral de comportamentos “ler dle/123456789/122697
textos acadêmicos” (Dissertação de Mestrado). *Kawasaki, H. N. (2013). Avaliação da eficiên-
Recuperado de https://repositorio.ufsc.br/han- cia de um programa de contingências para de-
dle/123456789/95870 senvolvimento de comportamentos da classe
*Gomes, J. F. (2005). Dimensões críticas dos com- “Caracterizar comportamentos-objetivo” a pro-
portamentos que caracterizam a tarefa profissio- fissionais de organização não-governamental no
nal de ”triar objetos” de um agente de entrega campo da educação (Dissertação de Mestrado).
de correspondência (Dissertação de Mestrado Recuperado de https://repositorio.ufsc.br/han-
não publicada). Universidade Federal de Santa dle/123456789/123011
Catarina, Florianópolis, SC. Keller, F. S. (1968). “Good-bye, teacher...”. Journal
*Gomes, J. F. (2014). Processo de identificar compor- of Applied Behavior Analysis, 1(1), 79-89. doi:
tamentos que compõem a classe geral “Decidir https://doi.org/10.1901/jaba.1968.1-79
sobre participação em processo de seleção para *Kienen, N. (2008). Classes de comportamentos
cargo em organização” (Tese de Doutorado). profissionais do psicólogo para intervir, por
Recuperado de https://repositorio.ufsc.br/han- meio de ensino, sobre fenômenos e processos
dle/123456789/129439 psicológicos, derivadas a partir das diretrizes
*Gonçalves, V. M. (2015). Avaliação da eficiên- curriculares, da formação desse profissional e
cia de um programa de ensino para capacitar de um procedimento de decomposição de com-
estudantes de graduação em Psicologia a “de- portamentos complexos (Tese de Doutorado).
finir variáveis relacionadas a processos com- Recuperado de https://repositorio.ufsc.br/han-
portamentais” (Dissertação de Mestrado). dle/123456789/92016
Recuperado de http://www.bibliotecadigital. *Kienen, N., Kubo, O. M., & Botomé, S. P. (2013).
uel.br/document/?code=vtls000202697 Ensino programado e programação de
*Gurgueira, L. H., & Cortegoso, A. L. (2008). condições para o desenvolvimento de compor-
Avaliação de um programa de ensino para ca- tamentos: Alguns aspectos no desenvolvimento
pacitar mães como agentes favorecedoras do de um campo de atuação do psicólogo. Acta
estudar. Psicologia da Educação, (27), 5-30. Comportamentalia, 21(4), 481-494. Recuperado
Recuperado de https://revistas.pucsp.br/psico- de http://www.revistas.unam.mx/index.php/
educa/article/view/43122 acom/article/view/43611
*Gusso, H. L. (2013). Avaliação da eficiência de *Kienen, N., Sahão, F. T., Rocha, L. B., Ortolan,
um procedimento de apresentação semanal de M. L., Soares, N. G., Yoshiy, S. M., & Prieto, T.
consequências informativas ao desempenho de (2017). Comportamentos pré-requisitos do es-
alunos em nível superior (Tese de Doutorado). tudar textos em contexto acadêmico. CES Psico,
Recuperado de https://repositorio.ufsc.br/han- 10(2), 28-49. doi: http://dx.doi.org/10.21615/
dle/123456789/130910 cesp.10.2.3
*Hoffmann, P. M. (2013). Classes de comportamen- Kienen, N., Kubo, O. M., & Botomé, S. P. (no
tos a serem desenvolvidas por professores deriva- prelo). “Objetivos comportamentais” ou
das de dados de observação direta das interações “comportamentos objetivo”: Distinções con-
com comportamentos de alunos com deficiên- ceituais fundamentais à capacitação e à
cia intelectual em sala de aula (Dissertação de atuação de um psicólogo como profissional.
Mestrado). Recuperado de https://repositorio. In C.E. Costa, S.R.S.A. Souza, & V.B. Haydu,
ufsc.br/handle/123456789/122642 (Orgs.). Psicologia: Avaliação e intervenção ana-
*Joaquim, E. P. (2013). Classes de comportamentos lítico-comportamental.
a serem desenvolvidos pelo psicólogo para inter- *Kubo, O. M., & Botomé, S. P. (2001). Ensino-
vir diretamente em comportamentos de pacien- aprendizagem: Uma interação entre dois
tes hospitalizados (Dissertação de Mestrado). processos comportamentais. Interação em

Revista Perspectivas 2020 vol. 11 n ° 02 pp. 114-136 133 www.revistaperspectivas.org


Programação de ensino no Brasil 114-136

Psicologia, 5(1), 133-171. Recuperado de br/psicousp/article/view/107739. doi: https://


https://revistas.ufpr.br/psicologia/article/ doi.org/10.1590/psicousp.v9i1.107739
view/3321. doi:10.5380/psi.v5i1.3321 Matos, M.A.(1998b) Contingências para a análise
*Lamonato, C. (2011). Comportamentos profis- comportamental no Brasil.  Psicologia USP,
sionais de empregados em período de experi- 9(1), 89-100. Recuperado de https://www.re-
ência objeto de avaliação de desempenho em vistas.usp.br/psicousp/article/view/107744. doi:
uma agroindústria (Dissertação de Mestrado). https://doi.org/10.1590/psicousp.v9i1.107744
Recuperado de https://repositorio.ufsc.br/han- *Mattana, P. E. (2004). Comportamentos profis-
dle/123456789/95318 sionais do terapeuta comportamental como
*Lazzari, C. L. (2013). Características da classe objetivos para sua formação (Dissertação de
de comportamentos ‘programar computado- Mestrado). Recuperado de https://repositorio.
res’ como parte da capacitação de profissionais ufsc.br/handle/123456789/88195
da computação (Dissertação de Mestrado). *Médici, A. D. (2016). Ensino programado para o
Recuperado de https://repositorio.ufsc.br/han- planejamento de aulas de matemática no en-
dle/123456789/107528 sino fundamental (Dissertação de Mestrado).
*Lorena, A. B., & Cortegoso, A. L. (2008). Impacto Recuperado de https://repositorio.ufscar.br/
de diferentes condições de ensino no preparo de handle/ufscar/10569
agentes educativos. Revista Brasileira de Terapia *Mezzacappa, G. G. (2013). Relação Educação
Comportamental e Cognitiva, 10(2), 209-222. Ciência, Tecnologia e Sociedade e elaboração de
doi: https://doi.org/10.31505/rbtcc.v10i2.227 programas de ensino (Dissertação de Mestrado).
*Lorenzo, F. M., Kawasaki, N. H., & Kubo, O. Recuperado de https://repositorio.ufscar.br/
M. (2010). Programa para ensino de com- handle/ufscar/1110
portamentos de autocuidados, cognitivos e *Moskorz, L. (2011). Classes de comportamen-
sociais para jovem com necessidades espe- tos profissionais constituintes da classe geral de
ciais. Extensio, 7(10), 9–28. doi: https://doi. comportamentos do psicoterapeuta derivadas
org/10.5007/1807-0221.2010v7n10p9 de um sistema de categorização de compor-
*Luiz, E. C. (2008). Classes de comportamentos tamentos desse tipo de profissional na intera-
componentes da classe “Projetar a vida pro- ção com cliente (Dissertação de Mestrado).
fissional” organizadas em um sistema com- Recuperado de https://repositorio.ufsc.br/han-
portamental (Dissertação de Mestrado) dle/123456789/95801
Recuperado de https://repositorio.ufsc.br/han- *Müller, T. P. (2013). Classes de componentes de com-
dle/123456789/90921 portamentos constituintes da classe geral “com-
*Marcon, S. R. A. (2008). Comportamentos que portamento assertivo”: contribuições da Análise
constituem o trabalho de um gestor de curso de Experimental do Comportamento para desenvol-
graduação (Tese de Doutorado). Universidade vimento de interações humanas (Dissertação de
Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Mestrado). Recuperado de https://repositorio.
Brasil. Recuperado de https://repositorio.ufsc. ufsc.br/xmlui/handle/123456789/130911
br/handle/123456789/91270 Nale, N. (1998) Programação de Ensino no Brasil:
Martin, G. & Pear, J. (2018). Modificação de compor- O Papel de Carolina Bori. Psicologia USP, 9(1),
tamento: O que é e como fazer? Rio de Janeiro: 275-301. Recuperado de https://www.revis-
Roca (publicado originalmente em 2007). tas.usp.br/psicousp/article/view/107804. doi:
Matos, M. A. (1990) Controle experimental e con- 10.1590/psicousp.v9i1.107804
trole estatístico: A filosofia do caso único na *Nascimento, A. R., & Gusso, H. L. (2017). Classes
pesquisa comportamental. Ciência e Cultura, de comportamentos profissionais de pais sociais
42(8), 585-592. identificadas em literatura por meio de análise
Matos, M.A.(1998a) Carolina Bori: A Psicologia comportamental. Interação em Psicologia,
brasileira como missão. Psicologia USP, 9(1), 21(1), 39-54. doi: http://dx.doi.org/10.5380/psi.
67-70. Recuperado de https://www.revistas.usp. v21i1.46287

Revista Perspectivas 2020 vol. 11 n ° 02 pp. 114-136 134 www.revistaperspectivas.org


Bruno Calábrio Cianca, Mariana Gomide Panosso, Nádia Kienen 114-136

*Neri, N. J. M. (2017). Caracterização da classe ge- comportamentos denominada “Conduzir ve-


ral de comportamentos “Capacitar os liderados ículo motorizado” conforme o código de trân-
a se comportarem de forma produtiva e signifi- sito brasileiro (Dissertação de Mestrado).
cativa diante das situações de trabalho com as Recuperado de https://acervodigital.ufpr.br/
quais precisam lidar”: Uma contribuição analíti- handle/1884/47339
ca comportamental (Dissertação de Mestrado). Sampaio, A. A. S., Azevedo, F.H.B., Cardoso, L.R.D.,
Recuperado de http://www.bibliotecadigital. Lima, C., Pereira, M.B.R., & Andery, M.M.P.A.
uel.br/document/?code=vtls000215828 (2008). Uma introdução aos delineamen-
*Onzi, L. (2004). Comportamentos profissionais tos experimentais de sujeito único. Interação
como objetivos de aprendizagem para o ensi- em Psicologia, 12(1), 151-164. Recuperado
no de graduação em turismo (Dissertação de de https://revistas.ufpr.br/psicologia/article/
Mestrado). Recuperado de https://repositorio. view/9537/9218
ufsc.br/handle/123456789/112149 *Santos, G. C. V. (2006). Características das
*Onzi, L., & Botomé, S. P. (2003). Competências competências e dos comportamentos pro-
próprias dos agentes do turismo: A identi- fissionais propostos nas diretrizes curricu-
dade profissional nas disciplinas de graduação. lares como delimitação do campo de atua-
Anais Eletrônicos II do Seminário de Pesquisa ção do Psicólogo (Dissertação de Mestrado).
em Turismo do Mercosul, Caxias do Sul (RS), Recuperado de https://repositorio.ufsc.br/han-
1. Recuperado de: https://www.ucs.br/site/pos- dle/123456789/89429
graduacao/formacao-stricto-sensu/turismo-e- *Santos, G. C. V., Kienen, N., Viecili, J., Botomé,
hospitalidade/eventos-e-anais/i-semintur/ S. P., & Kubo, O. M. (2009). Habilidades e
*Onzi, L., & Botomé, S. P. (2005) Características do competências a desenvolver na capacitação de
ensino superior em Turismo: A organização do psicólogos: Uma contribuição da análise do
conhecimento como critério de planejamento comportamento para o exame das diretrizes
da formação profissional. Turismo em Análise, curriculares. Interação em Psicologia, 13(1),
16(2), 133-156. doi:10.11606/issn.1984-4867. 131-145. doi: 10.5380/psi.v13i1.12279
v16i2p133-156 *Silva, A. L. G. (2010). Classes de comportamen-
Panosso, M.G. (2019). Elaboração e avaliação da tos profissionais de psicólogos ao intervir dire-
eficiência e eficácia de um programa de ensino tamente sobre fenômenos psicológicos (Tese de
para capacitar professores a avaliar e a intervir Doutorado). Recuperado de https://repositorio.
em situações de bullying escolar. (Tese de douto- ufsc.br/handle/123456789/94254
rado). Recuperado de https://repositorio.ufscar. *Silva, A. L. P. (2004). Desenvolvimento de compor-
br/handle/ufscar/12155 tamentos profissionais de avaliação em Psicologia
*Pinheiro, P. L. (2010). Classes de comportamentos na formação de psicólogos (Dissertação de
constituintes da classe geral “Coordenar processo Mestrado). Recuperado de https://repositorio.
de mudança organizacional” como atribuições de ufsc.br/xmlui/handle/123456789/88053
um coordenador de curso de graduação (Tese de *Silva, C. E. (2013). Características de um projeto
Doutorado). Recuperado de https://repositorio. governamental de prevenção do uso de drogas
ufsc.br/handle/123456789/93738 e coerência delas com os conceitos de “preven-
*Queiroz, H. L. (2005). Comportamento do psicó- ção” e “comportamento-objetivo (Dissertação de
logo em instituição de atendimento a deficien- Mestrado). Recuperado de https://repositorio.
tes mentais: Contribuições da análise do com- ufsc.br/handle/123456789/106897
portamento para construção de uma prática *Silva, K. L. (2007). Comportamentos que consti-
crítica e relevante (Dissertação de Mestrado). tuem a classe geral delimitar problema de pesqui-
Recuperado de https://repositorio.ufscar.br/ sa no trabalho científico de alunos de pós-gradu-
handle/ufscar/3196?show=full ação em Psicologia (Dissertação de Mestrado).
*Russi, E. K. (2016). Identificar os comportamen- Recuperado de https://repositorio.ufsc.br/xm-
tos básicos componentes da classe geral de lui/handle/123456789/89946

Revista Perspectivas 2020 vol. 11 n ° 02 pp. 114-136 135 www.revistaperspectivas.org


Programação de ensino no Brasil 114-136

*Silva, N. L. F. (2017). Classes de comportamen- sos de graduação em Psicologia e da forma-


tos constituintes da classe geral “mediar con- ção desse profissional (Tese de Doutorado).
flitos de trabalho no contexto organizacio- Recuperado de https://repositorio.ufsc.br/han-
nal” (Dissertação de Mestrado). Recuperado dle/123456789/91417
de http://www.bibliotecadigital.uel.br/ *Wruck, D. F. (2004). Comportamentos carac-
document/?code=vtls000213343 terísticos da dimensão ética da formação
Skinner, B.F. (1972). Tecnologia do ensino. [R. Azzi, do psicólogo (Dissertação de Mestrado).
trad.]. São Paulo: E.P.U. (Trabalho original pub- Recuperado de https://repositorio.ufsc.br/han-
licado em 1968). dle/123456789/87029
*Souza, E. J., & Kubo, O. M. (2010). Características
dos componentes da classe geral denominada
comportamento criativo identificadas a partir
da literatura da Análise do Comportamento.
Acta Comportamentalia, 18(1), 107-134.
Recuperado de http://www.revistas.unam.mx/
index.php/acom/article/view/18170
*Suhett, L. B. R. (2017). Análise do Comportamento
e formação de pedagogos: Uma contribuições
a partir do exame das Diretrizes Curriculares
Nacionais (Dissertação de Mestrado).
Recuperado de http://www.bibliotecadigital.
uel.br/document/?code=vtls000212296
*Teixeira, F. C. (2010). Avaliação da eficácia de um
programa para ensinar pais a analisar e sinteti-
zar comportamentos na interação com seus filhos
(Tese de Doutorado). Recuperado de https://re-
positorio.ufsc.br/handle/123456789/94390
*Tosi, P. C. S. (2010). Caracterizar necessidades de
intervenção na relação entre condições de saú-
de do trabalhador e as situações em que ele tra-
balha: Uma subclasse de comportamentos a ser
desenvolvida na formação do psicólogo para
intervir nessa relação (Tese de Doutorado).
Recuperado de https://repositorio.ufsc.br/xm-
lui/handle/123456789/94578
*Vettorazzi, A., Frare, E., De Souza, F.C., Queiroz,
F.P., De Luca, G.G., Moskorz, L., & Kubo, O. M.
(2005) . Avaliação de um programa para en-
sinar comportamento empático para crianças
em contexto clínico. Interação em Psicologia,
9(2), 355–369, 2005. Recuperado de https://
revistas.ufpr.br/psicologia/article/down- Informações do Artigo
load/4780/3668.
Histórico do artigo:
*Viecili, J. (2008). Classes de comportamentos pro-
Submetido em: 30/01/2020
fissionais que compõem a formação do psicó- Primeira decisão editorial: 29/07/20
logo para intervir por meio de pesquisa sobre Aceito em: 20/08/20
fenômenos psicológicos, derivadas a partir das Editor associado: Marcelo Henklain
Diretrizes Curriculares Nacionais para os cur-

Revista Perspectivas 2020 vol. 11 n ° 02 pp. 114-136 136 www.revistaperspectivas.org

Você também pode gostar