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3. A ehess foi criada em 1975 com base na sexta seção da École Pratique des Hautes Études, de 1947.
O real acesso ao conhecimento dos objetos que são os mais frequentemente investidos de
todos os valores do sagrado como condição de liberar as armas do sacrilégio só ocorre se se
acreditar na força intrínseca da ideia verdadeira; o charme da crença só pode ser rompido
opondo-se a violência simbólica à violência simbólica e fornecendo, quando necessário, as
armas da polêmica a serviço das verdades conquistadas pela polêmica da razão científica
(Bourdieu, 1975, p. 3).
4. O primeiro número de L’Année Sociologique (1898), dirigida por Durkheim, então professor em Bor-
deaux, contou com a colaboração de Simmel, Richard, Lévy, Bouglé, Fauconnet, Hubert, Lapie, Mauss,
Milhaud, Muffang, Parodi, Simiand. Ver Simiand ([1898] 1987) e Karady (1988).
5. Tradução nossa: “isto é, à toda sociologia do passado”.
É mais uma revista científica que intelectual, de maneira que a validade metodológica e a ade-
quação empírica têm prioridade sobre a elegância literária e a retidão política. Em contraste
com L’Homme ou Annales: économies, societés, civilisations, entretanto, é obstinadamente
transdisciplinar, e atenta aos temas sociopolíticos da atualidade: é o órgão de uma ciência da
sociedade militante cujo público é basicamente, embora não exclusivamente, composto por
intelectuais (2002, p. 105, grifos no original).
[…] resenhas curtas, peças polêmicas, notas de leitura, documentos inéditos e relatórios de
campo ou experimentos rigorosamente editados, auto-reflexivos […]. Em segundo lugar, o
artigo arquetípico dos Actes tece o texto com fotografias, fac-símiles de exposições e excertos de
entrevistas ou dados crus de observações em caixas e barras laterais dispostas ao longo do texto.
A revista utiliza também diferentes tipos e fontes e mistura estilos diretos e indiretos, tudo
em um esforço para uma precisão analítica com acuidade experimental (Idem, 2002, p. 105).
6. Essa afirmação de Wacquant acerca da arss integra o trabalho de consagração por ele realizado e por
muitos daqueles que trabalharam com o autor. Para nós, a importância da revista no âmbito das Ciên-
cias Sociais reside em como Bourdieu a utilizou como mecanismo de divulgação de sua expedição so-
ciológica vinculado a um programa de investigação de caráter universal. Após sua morte, o jogo da
preparação dos dossiês rompe com essa dinâmica.
Erving Goffman, Eric Hobsbawm, Carlo Ginzburg, Gershon Scholen, Joan Scott,
Carl Schorske, Paul Willis, Raymond Williams etc. Grande quantidade de colabo-
radores franceses também frequentaram as páginas da revista: Robert Castel, Luc
Boltanski, Abdelmalek Sayad, Patrick Champagne, Jean-Claude Chamboredon,
Yvette Delsaut, Monique de Saint Martin, Remi Lenoir, Louis Pinto, Gisèle Sapiro,
Michael Pollack, Roger Chartier, Nathalie Heinich, Christophe Charle, Jean Bollack,
Louis Marin, Jacques Bouveresse, Robert Linhart, Bruno Latour.
As atividades editoriais do sociólogo haviam se iniciado nos anos de 1960, com a
coleção Le Sens Commun, nas Éditions de Minuit, que dirigiu por quase trinta anos.
Após a arss, tal empreendimento estendeu-se com a criação, em 1989, da Liber:
Revista Européia de Livros (depois, com o subtítulo Revista Internacional de Livros),
veículo trimestral, encartado na própria Actes e também publicado sob a forma de
suplemento em jornais de grande circulação7. A Liber abriu-se para autores de vários
países, englobando aqueles que pertenciam a centros de produção intelectual situados
mais à margem. Tendo durado até 1998, era publicada em francês, alemão e italiano,
contando com versões em búlgaro, húngaro, sueco, romeno, grego, norueguês e turco.
Em 1995, além de integrar o Parlamento Internacional dos Escritores e o Comitê
Internacional de Apoio aos Intelectuais Argelinos, Bourdieu criou a editora Liber-Rai-
sons d’Agir, depois apenas Raisons d’Agir (após sua morte seu filho, Jérôme Bourdieu,
passou a dirigir a editora), publicando pequenos livros densos, bem documentados
e baratos sobre problemas políticos e sociais da atualidade, escritos por sociólogos,
historiadores, economistas, escritores e artistas, que possuíam “a vontade militante
de difundir o saber indispensável à reflexão e à ação política em uma democracia”
(Wacquant, 2002, p. 100). Sua intenção era a de constituir uma espécie de “enci-
clopédia popular internacional”. A maioria desses livros foi publicada em reação ao
cerceamento da mídia e do mercado editorial, que se recusavam a discutir, aprofundar
e editar temas que, se escamoteados, continuariam a contribuir para a manutenção
do que o autor definiu como sendo “os fundamentos ocultos da dominação”.
Em seu número inaugural, a arss continha um “manifesto reivindicando,
explicitamente, o direito de publicar textos não definitivos”. Nessa sistemática
adotada, explica Bourdieu em entrevista, “as retomadas dos artigos em livros não
são simplesmente patchworks”. Na maioria das vezes, foram trabalhos planejados
que desenvolveu por etapas, produzindo “peças pensadas como elementos de um
conjunto […]. Por esse procedimento chega-se a fazer construções de uma coerência
7. Em três jornais diários (Le Monde, França; El País, Espanha; Frankfurter Allgemeine Zeitung, Alema-
nha) e em outras duas publicações especializadas (Indice, Itália e Times Literary Supplement, Inglaterra),
ver Ferenczi (2004). No Brasil, Sergio Miceli foi o responsável pela seleção e organização de uma cole-
tânea de artigos publicados na Liber (Edusp, 1997).
A educação aparece como objeto na arss desde seu primeiro número, na sessão in-
titulada ‘Estudo comparado dos modos de dominação’, cujos autores Francine Muel
e Claude Grignon apresentaram, respectivamente, os artigos “L´école obligatoire
et l’invention de l’enfance anormale” (A escola obrigatória e a invenção da infância
anormal, 1975, pp. 60-74) e “L’enseignement agricole et la domination symbolique
de la paysannerie” (O ensino agrícola e a dominação simbólica dos agricultores,
1975, pp. 75-92).
No número 2 da arss aparece pela primeira vez um artigo de Bourdieu e Luc
Boltanski, “Le titre et le poste: rapports entre le système de production et le systéme
de reproduction” (O diploma e o cargo: relações entre o sistema de produção e o
sistema de reprodução10). Nele se enfatiza a análise da relação entre o aparelho eco-
nômico e o sistema de ensino, ressaltando-se a necessidade de distinguir a dinâmica
própria da economia – responsável pelas mudanças da estrutura de cargos – e o
sistema de ensino, produtor das capacidades técnicas dos produtores e dos diplomas
de que são portadores (1975, p. 98). Evidencia-se a questão da mobilidade social,
demonstrando-se ser ela reduzida à mobilidade individual, uma vez que é produto
da transformação das relações entre o aparelho de produção dos agentes (sistema
escolar) e da mudança do aparelho econômico, entre a defasagem do habitus e as
estruturas. O artigo terá prolongamento em “Classement, déclassement, reclasse-
ment” (1978), publicado na arss, comentado nas páginas seguintes, e integrando
o segundo capítulo de La distinction (1979).
Nada escapa ao julgamento operado pelo docente na hora de avaliar o produto do trabalho
discente […]. Para além dos “critérios internos” de avaliação de um determinado tipo de conhe-
cimento (domínio do campo, vocabulário técnico, entre outros), levam-se em conta, sobretudo,
“critérios externos” tais como postura corporal, maneiras, aparência física, dicção, sotaque,
estilo da linguagem oral e escrita, cultura geral etc. (Nogueira e Catani, 1998, pp. 12-13).
Serão analisadas, assim, as formas escolares de classificação que, a exemplo das “for-
mas primitivas de classificação” das quais falavam Durkheim e Mauss, transmitem-se
essencialmente na e pela prática, externa a qualquer intenção pedagógica (Bourdieu
e Saint Martin, 1975, p. 69). Destacam os efeitos lógicos inseparáveis dos efeitos
políticos, considerando a taxionomia escolar pela qual o sistema de classificação
expressa ideologia em estado prático, uma vez que guarda relação com a definição
explícita de excelência, valendo-se de predicados daqueles que são socialmente do-
Sem chegar a dizer, como Durkheim, que “a sociedade é Deus”, eu diria: Deus não é nada
mais do que a sociedade. O que se espera de Deus somente se consegue obter da sociedade, da
contingência […]. O juízo dos outros é o juízo final; e a exclusão social é a forma concreta do
inferno e da danação. É também porque o homem é um Deus para o homem que o homem
é um lobo para o homem (Bourdieu, 1982, p. 33).
[…] impôs-se, primeiramente, como uma hipótese indispensável para dar conta da desigualda-
de de desempenho escolar de crianças provenientes das diferentes classes sociais, relacionando
o ‘sucesso escolar’, ou seja, os benefícios específicos que as crianças das diferentes classes e
frações de classe podem obter no mercado escolar, à distribuição do capital cultural entre as
classes e frações de classe (1979, p. 3).
Acrescenta que tal ponto de partida significa “uma ruptura com os pressupostos
inerentes tanto à visão comum, que considera o sucesso ou o fracasso escolar como
efeito das ‘aptidões’ naturais, quanto às teorias de ‘capital humano’” (1979, p. 3).
Entende que o capital cultural possui relação de homologia com o capital econômico,
permitindo a seu possuidor a obtenção de vantagens ou lucros sociais. Ele se materia-
liza em três formas: no estado objetivado, sob a forma da detenção de bens culturais
(quadros, livros, dicionários, máquinas, instrumentos, monumentos), transmissíveis,
como dinheiro, de maneira quase instantânea no que se refere à propriedade jurídica.
A segunda no estado institucionalizado, consolidado em títulos, diplomas, certifi-
cados escolares, que agem como atestados de formação cultural. Da mesma maneira
que o dinheiro possui relativa independência em relação ao portador do título:
14. No sistema de ensino superior francês há uma nítida separação entre as Grandes Écoles, criadas na tra-
dição universitária do Ancien Régime, mas compondo as instituições da Revolução, e as Universidades,
mais novas, receptoras das massas e hierarquicamente menos prestigiosas.
15. Khâgnes (primeiro ano superior): “nos liceus, classes superiores de letras que operam também como
cursos preparatórios para as Escolas Normais (Ulm, Sèvres) nas áreas humanísticas de letras e filosofia,
nos quais são recrutados os professores do ensino superior, os pesquisadores e demais intelectuais de
maior prestígio no campo intelectual francês; por extensão, os alunos dessas classes”. Seus alunos são
chamados de khâgneux. Nota de Sergio Miceli para a tradução brasileira de Bourdieu (2005, p. 41).
16. Taupes: classes de matemáticas especiais que preparam para o ingresso nas grandes escolas e na Escola
Politécnica; seus alunos são chamados de taupins.
tos relativos ao aspecto mais ritualizado da vida nas classes preparatórias (boletins,
comunicados), além do recenseamento das expressões da experiência mais íntima dos
efeitos produzidos pelo processo de consagração e de produção da crença (1981, p. 6).
O texto é ricamente ilustrado com resultados das análises e o relato das percep-
ções das experiências de alunos e professores dessas instituições. Procurando romper
com as evidências e se afastar da familiaridade, reflete sobre os efeitos da seleção e
da transformação durável e profunda da consagração escolar como garantia de dis-
posições cultivadas, identificando, assim, os fundamentos dessas classes dominadas
pela lógica dos concursos de admissão.
O que distingue as classes preparatórias das outras instituições de ensino superior […] é o
sistema dos meios institucionais de iniciação, constrangimentos e controles que são acionados
para reduzir toda a existência daqueles que se chamam ainda, aqui, de alunos (em oposição
aos estudantes) a uma sucessão ininterrupta de atividades escolares intensivas, rigorosamente
regradas e controladas tanto em seu momento quanto em seu ritmo (1981, p. 7).
O processo de transformação que se realiza nas escolas de elite é um rito de passagem que,
por meio de operações mágicas de separação e de agregação […], tende a produzir uma
elite consagrada, quer dizer, não somente distinta, separada, mas também reconhecida e
reconhecendo-se como digna de ser, em uma palavra, distinguida (Bourdieu, 1981, p. 30).
17. Além de alguns textos que sistematizam a noção, como “Quelques propriétés des champs” (Bourdieu,
1980), ela é melhor compreendida nos seus livros – destaquem-se Les règles de l´art (1992), sobre a
constituição do campo literário na segunda metade do século xix e La noblesse d´État, que está sendo
aqui debatido. Para uma discussão do campo acadêmico brasileiro, ver Hey (2008); sobre outras pos-
sibilidades analíticas dessa noção, ver Catani (2013).
[…] é na condição de se ter em mente todas as transformações pelas quais passou a estrutura
do campo das instituições de ensino superior – e do subcampo das Grandes Escolas de forma
particular – que se podem interpretar de forma adequada fatos aparentemente tão simples
como a representação, em distintas épocas, dos alunos oriundos de diferentes classes sociais
em uma instituição determinada (1987, p. 3).
Para Bourdieu seria preciso abstrair, dos fatos mais gerais das experiências dos
agentes, os fatos mais anedóticos, que poderiam acabar ocupando todo o campo de
visão (os livros, os intelectuais da época, os filmes, as fotos antigas que mostram as
roupas e os cortes de cabelo usados) impedindo, talvez, de se verificar a constância
das estruturas profundas e as transformações que por acaso possam ter sofrido
(1987, p. 4). É esse o problema proposto pelo sociólogo no texto. A pesquisa inicial
realizada nos anos de 1960 passa a ser o parâmetro para identificar em que medida
a estrutura do campo dos estabelecimentos de ensino superior se conservou ou se
modificou – e, nesse caso, qual o sentido da transformação.
Examinando estatísticas do recrutamento social dos estudantes para 1984-1985 e
realizando comparações destes dados com os de bases análogas referentes ao período
1966-1970, é possível apreender a estrutura das instituições de educação superior na
França. Com base nisso, Bourdieu afirma que a distribuição dos estabelecimentos
de ensino superior apresenta uma estrutura global semelhante à do período anterior
a 1968. O movimento soixante-huitard, ao invés de atingir um dos seus objetivos,
qual seja, revolucionar as estruturas do campo das instituições de ensino superior,
parece ter favorecido reações coletivas e individuais que as reforçaram.
[…] uma das que tiveram maiores consequências foi […] a entrada no jogo escolar de cate-
gorias sociais que, até então, se consideravam ou estavam praticamente excluídas da escola,
como os pequenos comerciantes, os artesãos, os agricultores e mesmo […] os operários da
indústria; processo que implicou uma intensificação da concorrência e um crescimento dos
investimentos educativos por parte das categorias que já utilizavam, em grande escala, o
sistema escolar (1992, p. 72).
18. Entre os números 90 e 93 publicaram-se vários artigos sob essa rubrica, com base em pesquisa sobre
o sofrimento social daquelas pessoas que estão “mal dans leur peau”, geradas pelo incômodo de sua
posição social. Centrada na realização de mais de 150 entrevistas, origina a obra La misère du monde
(1993). Essa enquete foi financiada pelo Programa de Desenvolvimento Solidariedade, da Caisse des
Depôts et Consignations, da França.
19. Publicado em Nogueira e Catani (orgs.) (1998, pp. 217-228), e em La misère du monde; neste, porém,
sem a entrevista que compunha o texto original.
20. Esse termo não tem tradução exata para o português; refere-se, no contexto, aos conjuntos habitacio-
nais das periferias das grandes cidades.
21. O livro 80% au bac et après? Les enfants de la démocratisation scolaire, de Stéphane Beaud (2002),
ilustra esse desencantamento com a democratização escolar como categoria de promoção social aos
jovens de classes populares. O estudo longitudinal (1991-2001) merece atenção pelo relato daqueles
diretamente tocados pelas ilusões da mobilidade social via prolongamento da escolaridade.
22. Esse artigo dialoga com a quarta parte da obra La noblesse d’État e, ao lado de Les modes de domination
(1976), retoma a sistematização da ideia de “modos de dominação”, formulada pelo autor com base
em seus estudos sobre a sociedade Cabila e de sua própria região, o Béarn, cuja interrogação centra-se
nas maneiras de reprodução da vida social e nos mecanismos de dominação engendrados em estado
prático na dinâmica das diferentes classes. Tal inquietação perpassa suas obras, desde os trabalhos
iniciais, passando por La distinction e Sur l’État.
direito de sucessão etc.), que variam nas distintas sociedades em função do tipo de
capital que se quer transmitir e dos meios disponíveis para tal.
O modo de reprodução com componente escolar se funda na objetividade das
estruturas sociais mediado pela organização do Estado, garantidor de um poder ad-
quirido e vitalício, expresso no título escolar. Este abona uma competência objetivada
e incorporada à qualidade individual, uma vez que ancorada no dom e no mérito,
além de refletir disposições adquiridas no manejo da cultura legítima alinhadas pela
submissão à lógica do sistema escolar. Assim, as estratégias educativas se caracterizam
por serem de longo prazo, por produzirem agentes sociais capazes de receber a he-
rança do grupo a que pertencem e por torná-los legítimos socialmente (1994, p. 5).
A questão que se coloca é do uso diferencial da escola e da transmissão doméstica do
capital cultural, desigualmente observado entre as classes.
No volume Inconscients d’école (Inconscientes de escola), de 2000, a apresentação
do dossiê é um pequeno artigo de Bourdieu, de três páginas, com título similar. Ali
argumenta que o inconsciente cultural ou transcendental histórico que funda o
senso comum ou doxa constitui-se pelo sistema de esquemas cognitivos que estão
no princípio da construção da realidade, e que são comuns ao conjunto de uma
sociedade em dado momento (2000, p. 3). Assim, o inconsciente escolar é com-
posto pelo conjunto das estruturas cognitivas incorporadas paulatinamente nas
experiências propriamente escolares. Tais estruturas são partilhadas por todos os
“produtos” de um mesmo sistema escolar, a todos que ensinam e cursam a mesma
disciplina. O inconsciente escolar estabelece um arbitrário histórico que, incor-
porado – portanto naturalizado –, não permite que os agentes sociais dele tomem
consciência. Destarte, a análise desse inconsciente necessita priorizar a relação
pouco explorada “entre as estruturas institucionais (a história das disciplinas, por
exemplo) e as estruturas cognitivas ou, de modo contundente, sua objetivação nos
saberes e conhecimentos” (2000, p. 4).
Considerações finais
No período em que Bourdieu foi o editor de arss foram publicados 140 números e
31 deles contêm artigos relacionados à educação. Registre-se ainda que, entre 1975
e 1987, em 20 volumes foram detectados artigos na área, destacando-se os dossiês
Le déclassement (n. 24, 1978), L’institution scolaire (n. 30, 1979), Grandes et Petites
écoles (n. 39, 1981), Classements scolaires et classement social (n. 42, 1982), Éduca-
tion et philosophie (n. 47/48, 1983), Qu´est-ce que classer? (n. 50, 1983), Stratégies
de reproduction 1 (n. 57/58, 1985) e Pouvoirs d´école 1 et 2 (n. 69 e 70, 1987). Após
esse momento de maior concentração de dossiês e de produções sobre a educação,
23. “A esperança seria assim justificada se a sociologia um dia ocupasse seu lugar entre as ciências” (tradu-
ção nossa). A data entre colchetes refere-se à edição original da obra.
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Resumo
O texto apresenta uma incursão pelos artigos sobre educação do sociólogo francês Pierre Bour-
dieu (1930-2002) publicados na revista Actes de la Recherche en Sciences Sociales (arss). Fundada
por Bourdieu em 1975 e dirigida por ele até a sua morte, a arss acolheu onze de seus artigos na
temática educacional (sendo quatro em co-autoria) entre 1975 e 2000. Ressalta-se que nas pági-
nas do periódico o autor “rascunhou” vários trabalhos que viriam a se constituir em seus livros.
Nos textos ali apresentados Bourdieu reafirma a relevância da sociologia da educação como um
capítulo importante da sociologia do conhecimento e da sociologia do poder, fornecendo um
verdadeiro programa de investigação para enxergar os mecanismos instituídos de produção da
dominação e das estratégias de reprodução nas sociedades de classes contemporâneas.
Palavras-chave: Pierre Bourdieu; Actes de la Recherche en Sciences Sociales; Sociologia da educação;
Educação, cultura e dominação; Educação e reprodução social.
Abstract
The sociology of education by Bourdieu in the journal Actes de la Recherche en Sciences Sociales
The text presents an incursion in the articles by the french sociologist Pierre Bourdieu (1930-
2002), published in the scientific journal Actes de la Recherche en Science Sociales (arss) having
education as its subject. Created by Bourdieu in 1975 and directed by him until his death, arss
received eleven of his articles (being four as co-writer) between the years of 1975 and 2000.
Emphasising that in the pages of the periodical the author “drafted” several papers that would
become his books. In these presented texts Bourdieu reafirms the relevance of the sociology of
education as an important chapter of the sociology of knowledge and the sociology of power,
granting a real programme of investigation to unfold the instituted mechanisms in the produc-
tion of the domination and the strategies of reproduction in the contemporary society class.
Keywords: Pierre Bourdieu; Actes de la Recherche en Sciences Sociales; Sociology of education;
Education, culture and domination; Education and social reproduction.
ana paula hey é professora no Departamento de Sociologia da usp e uma das organizadoras
do Vocabulário Bourdieu (Autêntica, 2017). E-mail: anahey@usp.br.
afrânio mendes catani é professor na Faculdade de Educação da usp. Pesquisador do cnpq,
é um dos organizadores do Vocabulário Bourdieu (Autêntica, 2017). E-mail: amcatani@usp.br.
cristina carta cardoso de medeiros é professora no Departamento de Educação Física
da ufpr e uma das organizadoras do Vocabulário Bourdieu (Autêntica, 2017). E-mail: crisccm@
ufpr.br.