Abrir portas onde se erguem

em muros Director: Manuel Carvalho Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021 • Ano XXXI • n.º 11.256 • Edição Porto • Assinaturas 808 200 095 • 1,80€
Director

E
Entrevista a Colonialismo
Como se resolve a nossa
G
Graça Fonseca (má) relação com o passado?
“Não vai acontecer”
“A Cultura não Cultura, 32/33
ti
tinha historial Música
d
de atribuir Luca Argel pôs
toda a história
ap
apoios sociais” sco
do Brasil num disco
Destaque, 2 a 4
De Ípsilon

Regiões usam critérios diferentes

para decidir quem vacinar primeiro
No Norte e no Centro, a regra de ouro é a idade, mas em Lisboa a escolha é aleatória • Médicos lamentam falta
de orientação da DGS • Maior alívio nos hospitais permite retomar cirurgias programadas Sociedade, 14/15
NASA

Constitucional
Marcelo tenta
travar eutanásia
com extenso
parecer ao TC
Presidente não esperou um dia para
enviar lei para o Constitucional. É Olá, mundo.
apenas a segunda vez que o faz no
mandato Política, 10/11 e Editorial O meu primeiro
Layoff olhar para a minha
Só 0,3% das casa eterna
empresas Robô da NASA já
pediram planos
de formação pousou em Marte
Ciência, 30/31
Das 113 mil empresas com trabalha-
dores parados em 2020, só 310 reque-
reram este apoio Economia, 24/25

Diplomacia
Joe Biden e a
Europa: a ordem
dos telefonemas
não é arbitrária
Um mês depois da posse, Presidente
dos EUA dirá hoje o que espera da
Europa e o que os europeus podem
esperar dele Mundo, 20/21

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ESTA
SEXTA-FEIRA

ISNN-0872-1556
2 • Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021
Destaque Entrevista à ministra da Cultura
“O Ministério
não tinha
historial
de atribuir
apoios
sociais”
Graça Fonseca Criticada por não ter
acudido às emergências do sector com a
robustez e a celeridade que se exigia, a
ministra defende o que fez no último ano
Entrevista
Inês Nadais e Luís Miguel Queirós
Texto Rui Gaudêncio Fotografias
D
ias depois de fazer chegar
ao Diário da República mais
um pacote de apoios de
emergência para a área que
tutela, Graça Fonseca
assegura nesta entrevista,
feita através de uma plataforma
digital, que a máquina do Ministério
da Cultura (MC) está há um ano a
trabalhar em contra-relógio para
evitar que o impacto da pandemia
no tecido cultural e artístico,
confrontado agora com novo
conÆnamento, seja ainda mais
devastador. Dizendo-se empenhada
em inscrever o sector como eixo
estratégico do país, não explica no
entanto por que não conseguiu
pô-lo entre as prioridades do Plano
de Recuperação e Resiliência (PRR),
empurrando para a sociedade civil a
tarefa de alcançar esse objectivo nos
15 dias de consulta pública do
documento. E mesmo tendo-se
afastado do reivindicado 1% do
Orçamento do Estado (OE),
sublinha que conseguiu em três
anos aumentar a dotação da Cultura
em mais de cem milhões de euros.
A pandemia expôs de forma
trágica as vulnerabilidades do
sector. Em Março percebeu logo
que teria de pôr na gaveta o
programa que tinha na cabeça?
No dia em que tivemos de tomar a
decisão muito difícil do primeiro
conÆnamento, antecipámos que
teríamos de trabalhar a dois
momentos, a dois níveis. O nível
do já, do desenhar medidas, do
colocar apoios — a linha de
emergência, a linha de apoio às
livrarias, enÆm, um conjunto de
medidas que não estavam
inscritas no Programa do Governo
e no OE —, e o de preparar o
futuro. Ao longo de 2020
prosseguimos com o trabalho em
torno do modelo de apoio às artes
e da rede de teatros e cineteatros e
respectiva regulamentação, e
acelerámos muito a criação do
grupo de trabalho para o Estatuto
do ProÆssional da Cultura. Não
pusemos de lado o Programa do
Governo, pelo contrário.
Os ministros da Cultura tendem
a durar pouco e raramente têm
conseguido aumentar a fatia que
lhes cabe do OE. Ser um quadro
do PS, ter ocupado vários cargos
governativos, trazer reputação
de fazedora e gozar de
proximidade com António Costa
prometiam-lhe um peso político
que a generalidade dos seus
antecessores não teve. Tem-no
usado eÆcazmente?
Eu procuro fundamentalmente
usar o peso da minha experiência
de trabalho. Há 21 anos que
trabalho no sector público, o
serviço público é o que me move. E
no período que me diz respeito,
2018 a 2021, o orçamento do MC
(sem comunicação social)
aumentou cem milhões de euros,
dos quais 42 milhões entre 2020 e
2021, porque é um ano difícil. E
pela primeira vez o orçamento
global do investimento nas artes —
que inclui a Direcção-Geral das
Artes (DGArtes) mas também as
aquisições de arte, o Plano
Nacional das Artes, os apoios às
fundações… — ultrapassou os cem
milhões de euros, está nos 105.
EspeciÆcamente na DGArtes, o
aumento foi de 130%. O
compromisso do Governo é
aumentar gradualmente o
investimento público na Cultura. E
o que eu tenho procurado é
trabalhar o mais aÆncada e
assertivamente possível para que
este compromisso seja
aprofundado e que ano após ano
haja um universo mais alargado e
mais abrangente de artistas e
entidades artísticas que têm apoio.
À baixíssima percentagem do
orçamento do MC responde com
outro indicador, o da despesa
discricionária do Estado — que
por ser tão pouco usado não
permite comparações com o
historial do ministério nem com
as outras áreas governativas…
Não é a ministra da Cultura que usa
esse indicador, é o que está inscrito
no Programa do Governo.
Mas por que razão o Governo
Æxou a meta dos 2% da despesa
discricionária em vez de outra
que compare com o OE?
É apenas um referencial. O facto de
entre 2018 e 2021 o orçamento do
MC ter crescido cem milhões de
euros é mais importante do que
qualquer percentagem. Tem
havido um claro crescimento e
iremos prosseguir neste caminho.
Até chegar ao 1% do OE?
Já disse várias vezes que 1% pode
até ser pouco. As percentagens
estão sempre em relação com um
todo, e se o todo for menor... Por
isso é que me parece mais
relevante, insisto, olhar para os
números absolutos.
Nos grandes documentos
estratégicos nacionais como o
PRR ou a Estratégia Portugal
2030, a Cultura desaparece, ou
só aparece como instrumento de
coesão territorial ou inclusão
social. Que motivos tem o sector
para se sentir optimista?
Ao longo de demasiados anos a

Cultura não surgiu per se num
conjunto de documentos
estratégicos, desde logo o último
quadro comunitário de apoio, e é
muito importante mudarmos essa
realidade. Tenho procurado que
todas as actividades do sector
cultural e artístico sejam incluídas
nos programas de apoio à
economia, e é por essa razão que
no Apoiar todos os códigos de
actividade económica (CAE) da
área estão abrangidos — e estamos
a falar, à data de hoje, de 18
milhões de euros. No próximo
quadro Ænanceiro plurianual, a
Cultura tem de surgir não apenas
como sector transversal mas como
área fulcral e estratégica per se.
Por que é se perdeu a
oportunidade de o fazer já no
PRR?
O Governo estruturou os próximos
anos em torno de dois incentivos
Ænanceiros, o PRR e o quadro
Ænanceiro plurianual, que têm de
ser vistos como programas
complementares. Ainda não é
conhecida a proposta do quadro
Ænanceiro plurianual... Não
obstante, deixe-me apelar a todos
os que queiram melhorar o PRR:
ele está em consulta pública, este
é o momento certo.
Mas do seu lado fez o suÆciente?
Fiz o trabalho que tenho vindo a
fazer de tentar transformar a forma
como durante demasiados anos se
colocou a Cultura em documentos
estratégicos. Insisto: está em
consulta pública um plano muito
importante, é o momento de a
sociedade civil apresentar
propostas para mudar o futuro.
Esta semana foram publicados
em portaria os novos apoios de
emergência ao sector. Quando
chegarão aos seus destinatários?
Logo a 14 de Janeiro anunciámos
que na parte dos apoios que sai do
orçamento do MC nos focaríamos
em colocar os recursos Ænanceiros
no terreno o mais rapidamente
possível. Foi o que Æzemos na
DGArtes, tomando decisões que
abrangem 644 entidades artísticas.
Depois, há o programa Garantir
Cultura — 42 milhões de euros que
acrescem ao OE —, cujo calendário
também se mantém: estará
disponível ainda em Março. O
apoio social extraordinário aos
trabalhadores da cultura,
equivalente a um Indexante de
Apoio Social, terceira componente
deste pacote, já pode ser pedido
desde ontem; tinha-me
comprometido a lançá-lo até ao Æm
de Fevereiro, mas conseguimos
antecipar. E sobre este apoio é
preciso realçar que não há mais
nenhum sector que tenha uma
medida de apoio social exclusiva e
que seja, como esta é,
complementar aos apoios da
Segurança Social. Eu sei que um
mês é muito tempo nesta
conjuntura inédita e de gravidade
imensa para o sector. Mas não há
nenhum historial de o MC alguma
vez ter atribuído apoios sociais,
sendo essa uma competência do
Ministério da Segurança Social, e
portanto não tinha — agora já tem
Ao longo de — a infra-estrutura e o know-how.
Mesmo assim, no espaço de um
demasiados anos, a mês, Æcou online o requerimento
Cultura não surgiu para o apoio. Estamos todos, não é
só a ministra, a trabalhar muito.
per se nos É uma prestação única. Existe
algum cenário de extensão, se o
documentos conÆnamento se prolongar?
O que está previsto é que seja uma
estratégicos como o prestação única a pagar em Março
quadro comunitário e para já não está contemplado
novo apoio social. Temos
de apoio, e é muito procurado que o MC tenha
instrumentos para dar resposta aos
importante tempos difíceis, mas garantindo ao
mesmo tempo que as medidas da
mudarmos essa Segurança Social são
realidade suÆcientemente abrangentes e
Çexíveis nos seus requisitos para
não deixar de fora o sector. Dou
um exemplo: no primeiro
conÆnamento, a fórmula utilizada
para o apoio aos trabalhadores
Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021 • 3
independentes permitia abranger
também o trabalho intermitente.
Para lhe ser concedido este
apoio, o trabalhador não podia
ter à data de 1 de Janeiro de 2020
qualquer contrato, mesmo que a
tempo parcial ou de duração
muito limitada. Por outro lado,
há pelo menos dois CAE do
sector (edição de livros e
exploração de salas de
espectáculos) não abrangidos. A
medida pode ser rectiÆcada?
Se esses CAE não estão incluídos
têm de estar. O universo é o mesmo
do apoio social extraordinário para
os proÆssionais da Cultura que
lançámos em Junho, com a ressalva
de que adicionámos [entretanto] o
código de IRS dos arqueólogos.
Quanto à questão dos contratos, as
regras também são exactamente as
mesmas de Junho: é um apoio ao
trabalhador independente.
Mas tem noção de que existe esta
realidade dos contratos pontuais
e a tempo parcial e que há
trabalhadores prejudicados.
Conheço bastante bem a realidade
laboral do sector. Vamos ver as
situações que vamos detectar.
Nunca no passado fechei qualquer
porta a ajustar seja o que for e
também não o farei agora.
Esta medida reedita, como disse,
a que foi criada em Junho.
Quantas pessoas beneÆciaram
desse primeiro apoio social?
Confrontando as estatísticas da
Segurança Social e as do nosso
lado, o universo era de 12 mil
abrangidos entre o apoio geral para
os trabalhadores independentes e
o complementar do MC para os
proÆssionais da Cultura.
A pandemia afectou
severamente os Çuxos turísticos.
Isso não obriga a repensar
projectos muito ancorados no
turismo de massas, como o
Museu do Tesouro Real, o
módulo hoteleiro do Centro
Cultural de Belém, ou o
programa Revive, que tem
promovido sobretudo a
conversão de património em
unidades hoteleiras?
A relação entre Cultura e turismo é
muito importante. E é decisivo
promover em Portugal o turismo
cultural, que na Europa representa
cerca de 40% do turismo. Há que
trabalhar para existir cada vez mais
um cruzamento entre a procura
turística e a oferta cultural. E isso
implica fazer projectos em
conjunto com a área do turismo. O
Museu do Tesouro Real, sendo
uma parceria com a Câmara de
Lisboa e com a Associação do
Turismo de Lisboa, é um projecto
muito importante como âncora
territorial que atrairá turismo, mas
também os portugueses.
Em Maio e Junho foram abertos
concursos para a direcção de 18
museus e monumentos
nacionais e chegou a dizer
Livrarias fechadas
“Tempos
difíceis exigem
decisões
difíceis”
As restrições ao comércio do
livro têm sido muito discutidas.
Defendeu junto dos seus colegas
de Governo que as livrarias
deveriam manter-se abertas?
No primeiro conÆnamento, as
livrarias fecharam. E o Governo
decidiu que iria manter o mesmo
nível de conÆnamento, sendo que
os números da pandemia são agora
muito mais graves. Passámos por
dias em que 300 pessoas morriam.
Como ministra da Cultura, preferia
naturalmente que as livrarias
estivessem abertas, como os
teatros, os cinemas ou as salas de
espectáculos. Entre Setembro e
Dezembro, quando felizmente
conseguimos ter em Portugal todos
estes equipamentos abertos, ao
contrário do que se passava na
maior parte dos países europeus,
eu e muitas pessoas fomos o mais
possível a livrarias, a teatros e
cinemas. Mas desde Janeiro de
2021 a situação tornou-se muito
grave. E o que precisamos, agora, é
de fazer um esforço para sair dela o
mais rapidamente possível.
Neste momento só as livrarias
estão impedidas de vender
livros presencialmente. Não é
uma situação pouco defensável?
O que o Governo fez nessa matéria
foi colocar ipsis verbis no seu
decreto o que está no decreto do
sr. Presidente da República,
palavra por palavra. Ou seja, não
podemos proibir a venda de livros
em estabelecimentos comerciais
que estejam abertos.
Há dias um representante da
APEL dizia que quando
questiona o MC acerca da
situação do livro é remetido
para o Ministério da
Economia…
…mas aqui não estou a remeter
para o Ministério da Economia.
Sim, mas não lhe parece que a
lealdade intergovernamental
não pode servir de argumento
para uma ministra da Cultura se
demitir de ter uma posição
clara sobre o livro e a leitura?
Aqui não há nenhuma questão
interministerial. O Governo tomou
uma decisão clara, que foi dizer
aos portugueses que a situação que
estamos a viver em 2021 é muito
grave, e que portanto iria adoptar
o mesmo regime que adoptou em
Março de 2020, quando tudo
encerrou, incluindo livrarias.
Naturalmente que são decisões
muito difíceis. Mas os tempos são
c difíceis e exigem decisões difíceis.
4 • Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021
Destaque Entrevista à ministra da Cultura
que as nomeações seriam
anunciadas ainda em 2020.
Quando acontecerá?
O primeiro conjunto de concursos
já foi concluído e os resultados
começarão a ser divulgados ainda
este mês. O segundo conjunto
Æcará para Maio. Houve 146
candidatos, no total, e foi um
processo importante. Ainda a
propósito dos museus, mais dois
pontos relevantes. Em 2021,
iniciar-se-á um programa a três
anos da Direcção-Geral do
Património Cultural (DGPC) e da
Fundação para a Ciência e
Tecnologia para colocarmos cem
bolseiros de doutoramento e 30
contratos de trabalho de emprego
cientíÆco em museus e
monumentos, com grande foco
nos laboratórios,
fundamentalmente no Laboratório
José Figueiredo. O segundo ponto
prende-se com as alterações do
regime do mecenato cultural:
passou a haver uma majoração
para entidades que invistam na
preservação do património
cultural e em projectos
museológicos. São alterações
importantes em 2021, que é
também o ano em que abrirá
portas o Museu do Tesouro Real. E
2022 será o ano da abertura do
Museu da Resistência e Liberdade,
em Peniche, e do Museu da Música
no Palácio de Mafra.
Em Novembro, o director-geral
do Património Cultural previa
que a DGPC irá perder 40% dos
seus quadros nos próximos anos.
Há um plano para resolver o
problema?
O emprego cientíÆco que referi faz
parte desse trabalho: estamos a dar
resposta não só em termos
numéricos, mas também quanto
ao tipo e à qualidade de recursos
que queremos na DGPC. Mas não
resolve todo o problema. Sabemos
que existe a necessidade de
renovação dos quadros. É um
trabalho que o MC está a
desenvolver com as várias
direcções-gerais, porque não é
apenas na DGPC que a questão se
coloca. Temos identiÆcado as
necessidades que sabemos que
vamos ter nos próximos cinco ou
dez anos, para que cada uma das
áreas faça o trabalho que tem de
ser feito com o Ministério das
Finanças e com o Ministério da
Modernização do Estado e da
Administração Pública.
A morte de Bruno Navarro
deixou a Fundação Côa Parque
com uma direcção interina. Já há
nome para o substituir?
Foi um choque para todos nós. O
Bruno fez um trabalho
extraordinário no Parque
Arqueológico (PAVC), conseguiu,
num curto prazo de tempo,
projectá-lo no panorama global.
Quando tomei posse, em Outubro
de 2018, ele foi uma das primeiras
pessoas com quem falei. E a sua
grande preocupação na altura era
conseguir, de uma vez por todas,
ao Æm de 20 anos, ter um
instrumento territorial de
planeamento daquele território, o
Programa Especial do PAVC. É algo
que construímos com ele, o
despacho de elaboração do plano,
que está em curso, foi publicado
recentemente. A sua substituição
tem de garantir que o trabalho irá
ser prosseguido. Conto nos
próximos dias ou semanas ter um
nome à altura do legado do Bruno
e da importância daquele território
e daquele projecto.
O maestro Borges Coelho
demitiu-se no Verão da
administração da Casa da Música
em protesto com a forma como a
instituição tratou os seus
colaboradores. Por que não foi
ainda nomeado representante
do Estado para o substituir?
Em Junho, o maestro Borges
Coelho remeteu-me uma carta
onde colocava um conjunto de
condições para continuar a exercer
o seu lugar. Não apresentou a
demissão, colocou o seu lugar à
disposição. Depois a ACT realizou o
seu trabalho e os tribunais têm
estado a decidir, até com
celeridade. E em Dezembro, aí sim,
o maestro apresentou-me a
demissão. Entretanto o conselho
Se não estiver em
cargos públicos, o
que provavelmente
me movimentará
é cuidar da
qualidade das
nossas democracias
de administração vai mudar na sua
globalidade e o MC indicará os seus
dois representantes no âmbito da
nova administração.
Tem declarado que o MC não
Ænancia precariedade. As
situações que a ACT encontrou
na Casa da Música e em Serralves
não deveriam levá-la a
certiÆcar-se de que esta não é
uma situação generalizada?
Procuro sempre não generalizar.
Temos acompanhado de perto,
ainda que não necessariamente na
praça pública, a situação dessas
duas fundações, e de todas as
outras com as quais temos relação.
E o que sempre transmiti aos
conselhos de administração é que
as instituições que recebem apoio
do Estado não utilizem o chamado
falso recibo verde. Mas o MC não
pode nem deve substituir-se à ACT.
E cá estará o MC para não permitir
que, existindo decisões judiciais
favoráveis à sua realização, os
contratos de trabalho não sejam
concretizados.
Ainda acredita que pode haver
festivais de Verão este ano?
Sou uma optimista. Tento não ser
irritante, mas sou optimista. E são
muitos anos de contaminação de
optimismo. Estamos a trabalhar
muito com o sector e com a
Direcção-Geral de Saúde para
deÆnir as condições para a
realização de espectáculos ao vivo.
Precisamos todos muito, mesmo
muito, de voltar a estar com os
artistas, e os artistas precisam
muito de voltar a ver o seu público.
Agora se é com este ou aquele
número de pessoas, não é possível
dizer.
Já admitiu que o seu futuro
político poderá passar pela
Câmara de Lisboa. Voltar a ser
ministra da Cultura, ou tutelar
outro ministério, não está nos
seus planos?
Fui muito feliz na Câmara de
Lisboa, foram seis anos
extraordinários, e, ao contrário do
que diz o ditado, não digo que não
volte aonde fui feliz. Não
necessariamente agora, mas o
futuro é imprevisível. Neste
momento estou focada no que
estou a fazer. Mas se não estiver em
cargos públicos, o que
provavelmente me movimentará
nos próximos anos é cuidar da
qualidade das nossas democracias.
É algo que me preocupa há muito.
Se virem o título de uma entrevista
que dei ao PÚBLICO em 2015, dizia
que era preciso ter muita atenção
aos movimentos de extrema-direita
na Europa. Gostaria de me dedicar
a trabalhar para que aquilo que
recebi de muitos antes de mim —
crescer em democracia, com
liberdade de expressão e de
associação, com a possibilidade de
ser quem sou em plenitude —, as
gerações a seguir a mim também o
possam receber de nós.
Apoio às artes
“Faremos esforço para
reforçar os concursos”
Em Dezembro disse que a
proposta do Estatuto do
Profissional da Cultura estava
praticamente pronta…
Estávamos a concluir as reuniões
bilaterais com as entidades que
fazem parte do grupo de trabalho.
Ao longo deste trimestre, nós — MC,
Ministério do Trabalho e da
Segurança Social e [Secretaria de
Estados dos] Assuntos Fiscais —
vamos trabalhar em questões
técnicas como o impacto Ænanceiro,
a deÆnição do universo de
trabalhadores a abranger, etc. O
passo seguinte é eu submeter ao
Conselho de Ministros um diploma.
Mas não iniciarei trabalho legislativo
sem voltar a falar com todos.
Um dos receios do sector é que se
este estatuto não for
acompanhado de um reforço
orçamental significativo no
apoio às artes poderá deixar as
estruturas em dificuldades ainda
mais graves, obrigando-as, por
exemplo, a reduzir as equipas
por não poderem pagar a
transição de recibos verdes para
contratos de trabalho.
O estatuto não tem apenas impacto
nas entidades com apoio Ænanceiro
do Estado. Estamos a falar de tudo:
cinema, audiovisual, artes visuais,
circo, um universo global em que há
dezenas de milhares de empresas e
entidades. E queremos um estatuto
abrangente. Mas na revisão do
modelo de apoio às artes e da rede
de teatros e cineteatros colocámos
os vínculos laborais como critério
de avaliação das candidaturas.
Sabemos bem que isto implica um
esforço Ænanceiro adicional e por
isso a revisão do modelo prevê um
aumento da respectiva dotação
orçamental para os anos seguintes
— o primeiro será 2023, uma vez que
em 2022 abrem os concursos. Mas
todas as entidades, as privadas e as
que recebem apoio público, têm de
incorporar a necessidade de
promover a estabilidade nos
vínculos laborais. À luz da
legislação, já podem fazer-se
contratos de muito curta duração, e
portanto é muito importante que
exista a consciência de que a opção
por um contrato tem impactos
decisivos em situações como a que
estamos agora a viver, de
inactividade. Também por isso
decidimos que tem de existir um
grupo de acompanhamento da
implementação do estatuto. Não
podemos largá-lo após a sua
aprovação em Conselho de
Ministros, temos de monitorizar
muito de perto a forma como vai ser
implementado. A lei é fundamental,
mas não basta.
A aprovação do novo modelo de
apoio às artes chegou a estar
prevista para Janeiro...
O objectivo era o primeiro trimestre
de 2021. E vamos manter que este
prazo é importante para esse
diploma e o da rede de teatros e
cineteatros irem a Conselho de
Ministros. Porque as entidades,
para variar do que tem sido o
passado de muitos anos, devem ter
tempo suÆciente para conhecer as
regras, de modo a que, no início de
2022 estejam preparadas para se
candidatar.
Já se experimentaram muitos
modelos, mas todos esbarram na
insuficiente dotação financeira
dos concursos, que está longe de
acompanhar o crescimento e a a
qualificação do tecido artístico.
Este ano o Governo decidiu
excepcionalmente alargar os
apoios a todas as entidades
elegíveis, mas o sector defende
que essa devia ser a regra. O que
tem a dizer às estruturas que
ficam na terra de ninguém entre
a elegibilidade e o apoio?
No novo modelo deixa de haver
apoios a quatro e a dois anos;
propomos que o apoio seja a três
anos, renováveis por mais três, sem
concurso, o que permite uma
estabilidade diferente. E também
são Æxados patamares de
Ænanciamento. Por outro lado, as
entidades dizem que têm todos de
ter apoio. Mas num concurso nunca
há 100% de candidatos abrangidos,
e temos de manter o princípio do
concurso, porque é a melhor forma
de garantir que as decisões de um
concurso da DGArtes não são as
decisões do ministro ou do
director-geral A ou B. Há um
concurso, uma avaliação, um júri.
Quanto às entidades que referiu,
trabalhamos para aumentar as
dotações de modo a que mais
estruturas sejam apoiadas. Quando
tomei posse, a reivindicação era 25
milhões de euros para a DGArtes.
No ano a seguir, a DGArtes teve, de
facto, 25 milhões, e alguns júris
disseram que não era suÆciente. O
que diz é verdade: o crescimento e a
qualidade do tecido cultural são
felizmente muito superiores ao que
eram, e é por isso que temos de
fazer este esforço para aumentar a
dotação orçamental. Mas mesmo
que aumentemos 250% devemos
manter o princípio concursal. E se
me pergunta se é possível que 100%
das entidades sejam apoiadas, se
calhar não será.
 A TUA OPINIÃO É FEITA DE CERTEZAS
OU DE "EU VI NA NET"?

A ignorância é um inimigo. E a desinformação, o sectarismo ou as fake news são o combustível

da ignorância. No PÚBLICO, produzimos armas contra esse inimigo: um jornalismo aberto,
empenhado na verdade, qualidade e consciência social. Mas o combate não se faz só com armas
ASSINE O PÚBLICO
e argumentos. Precisa de soldados. Assine o PÚBLICO e coloque-se do lado certo da trincheira.
Não é só a sua opinião que ganha. É a sociedade, o país, todos nós.
NUM SÓ CLIQUE.
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6 • Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021

Espaço público

A lei da eutanásia está onde deve estar: no TC

J
á se suspeitava que, na sua
Editorial qualidade de católico, o
Presidente da República usaria
todas as armas ao seu dispor
para tentar travar a
despenalização da morte
medicamente assistida no Código
Manuel Carvalho Penal. Sabia-se também que a sua
condição de reputado
constitucionalista lhe fornecia meios
poderosos para concretizar essa sua
determinação de consciência.
Aconteceu portanto o que se esperava.
O diploma aprovado pela Assembleia
da República, com divisões entre
Independentemente do partidos e fracturas entre correntes
que disser o TC, há uma ideológicas naturais numa matéria
sensível como a linha que separa a
certeza: que uma morte da vida, vai parar ao Tribunal
questão tão sensível Constitucional. Não é causa para
como esta foi travada encontrarmos nesta decisão outra
por imposição da nossa certeza senão a da sua própria
inevitabilidade.
lei fundamental ou É legítimo supor que a
avançou com a força argumentação de Marcelo Rebelo de
dessa mesma lei Sousa não passa de uma colectânea de
expedientes usados para impor a sua
proÆssão de fé e a sua consciência
moral ao Parlamento. Mas uma leitura
atenta da sua exposição obriga
igualmente a reconhecer que o
diploma em causa abriu o Çanco à sua
vontade e à sua determinação em
colocar obstáculos ao avanço da
eutanásia. Porque, mesmo os que
acreditam no direito supremo de cada
um de nós de dispor da sua vontade
em circunstâncias extremas da sua
existência (é o caso do autor deste
editorial), deve reconhecer validade às
críticas que o Presidente faz a várias
“indeterminações” da lei.
Uma vez que o diploma tem de
estabelecer as regras em que a morte
medicamente assistida Æca conforme
ao Código Penal, essas regras teriam
de ser claras, objectivas e
insusceptíveis de interpretações de
acordo com cada médico ou cada
colégio de médicos que sobre elas
tenham de decidir. Ora, na sua
brilhante exposição, o Presidente
considera, com uma boa margem de
razão possível, que o signiÆcado de
“situação de sofrimento intolerável”
ou a deÆnição de “lesão deÆnitiva de
gravidade extrema” abrem portas a
um quadro de “insegurança jurídica
que seria de todo em todo de evitar,
numa matéria tão sensível”.
Podemos suspeitar que é o
Presidente católico a encontrar
subterfúgios jurídicos na lei para fazer
prevalecer a sua recusa ao avanço da
lei. Mas, sublinhe-se, é indispensável
reconhecer que a sua argumentação é
pertinente e sensata. Face a essa
argumentação, o processo segue o
único caminho possível no quadro da
Constituição: a Æscalização preventiva
do Tribunal Constitucional.
Independentemente do que disser o
tribunal, Æcaremos com uma certeza:
que uma questão tão sensível como
esta foi travada por imposição da
nossa lei fundamental ou avançou
com a força dessa mesma lei. Num e
noutro caso, Æcaremos a ganhar.

CARTAS AO DIRECTOR
Direito à indignação
Num país em que facilmente se
apreciam os medíocres, e
diÆcilmente se elevam “os
grandes” pelos seus méritos, deve
a sociedade portuguesa reÇectir
sobre opiniões como a da jornalista
Ana Sá Lopes sobre Marcelino da
Mata, onde faz a elegia da
condenação de uma Ægura que
tanto fez ao serviço de Portugal e
das suas Forças Armadas. A
história deste rectângulo é rica de
Æguras ilustres e abnegadas. Não
devemos levar para a bruma do
esquecimento o que deve ser
sempre lembrado.
É fácil hoje acusar o
tenente-coronel de crimes. A sua
voz já não se ouvirá, para ser
advogado em causa própria.
Marcelino da Mata escolheu servir
Portugal como militar pelas suas
convicções, tal como milhares de
jovens portugueses. Também ele
foi subjugado pelo peso do regime.
Resta perguntar se os guerrilheiros
do PAIGC não Æzeram atrocidades
e crimes de guerra, na selva
longínqua e dura, desse então
território de bandeira portuguesa.
Carlos Miranda Henriques, Lisboa
Marcelino da Mata
Sobre a controversa Ægura de
Marcelino da Mata (M.M.), o
historiador Fernando Rosas
aÆrmou que traiu a causa da
independência do seu país.
AÆrmação absurda, pois enquanto
cidadão português M.M. escolheu
entrar para as Forças Armadas e aí
fez carreira. Pena que tanta gente
tenha falado de M.M. sem
compreensão da envolvente da sua
vida; nem o Presidente da
República parece tê-la
compreendido.
A M.M. sucedeu que, enquanto
jovem, teve de encarar o
cruzamento de dois caminhos que
devem ter tornado difícil a sua
escolha sobre qual seguir. Foi
vítima da inverdade da política
colonial do Estado Novo, Estado
que se serviu dele visando
interesses políticos inconfessados;
foi vítima, também, do facto de ter
nascido africano guineense, o que
não pode ter deixado de o afectar
aquando da escolha que o separou
do seu povo de origem — o dilema
por que passaram muitos
ex-colonizados. Os interesses a que
antes me referi levaram a que os
poderes de Estado Æzessem dele o
que entenderam necessário e
exigissem dele o comportamento
adequado a esses mesmos
interesses.
De M.M. pode dizer-se que foi o
Homem e a sua circunstância. A
melhor homenagem que lhe
poderia ser prestada era a de ser
compreendido na dimensão
trágica dessa circunstância, apenas
isso, sem que fosse envolvido em
quaisquer polémicas para Æns
também inconfessados; e deixá-lo
repousar em paz lá na parte incerta
para que se ausentou.
Elder Fernandes, Lisboa
Vamos aos factos
Marcelino da Mata morreu e o seu
passado militar reportado à longa e
mortífera Guerra Colonial, longe
de ser consensual, veio à baila.
Alguns ou muitos concidadãos
deste rincão que ainda se chama
Portugal, apelidaram-no de
criminoso de guerra, e
recriminaram quem oÆcialmente
esteve nas suas exéquias. Se o
acima militar é considerado
criminoso de guerra, então as
centenas de milhares de militares
milicianos e do quadro que
estiveram no mesmo conÇito
também são criminosos de guerra?
E quem são, aÆnal, os “heróis do
mar, nobre povo, nação valente e
imortal”? Serão, então, os
refractários, os desertores e todos
aqueles que acham que quem
andou na guerra do ultramar é/foi
criminoso de guerra?
José Amaral, Vila Nova de Gaia
Ofensas
O artigo de Ana Sá Lopes no
PÚBLICO de quarta-feira e a
entrevista de Fernando Rosas na
TVI ofenderam-me, a mim que já
com três Ælhos nascidos fui
mobilizado para comandar uma
companhia militar na zona Leste
de Angola e talvez a cerca de
800.000 militares que em África e
Timor combateram para defender
as pessoas e bens dos colonos e
naturais dessas colónias, durante a
Guerra Colonial. Uma esquerda, de
jornalistas, políticos,
comentadores, surgida com o 25 de
Abril, muitos deles Ælhos, netos ou
sobrinhos desses militares que
cumpriram um dever cívico,
parecem culpar-nos a nós,
militares, como se tivéssemos tido
culpa da Guerra Colonial e não a
ditadura salazarista. Durante a
guerra não vi os crimes que
apregoam. Desconheço o passado
militar de Marcelino da Mata e de
Vasco Lourenço nas matas da
Guiné, mas o facto de Marcelo e de
chefes militares e outras forças
terem estado no funeral de
Marcelino e exaltarem as suas
qualidades militares parece ser
uma forma “envergonhada” dessas
altas personalidades políticas
reconhecerem o valor, pundonor e
abnegação desse 800.000
militares que as “esquerdas”
envergonhadas ou extremistas não
deixam reconhecer. Comparar-nos
aos exércitos nazis, que invadiram
o mundo, parece gozo jornalístico.
Duarte Dias da Silva, Lisboa

As cartas destinadas a esta secção têm de ser enviadas em exclusivo para o PÚBLICO e não devem exceder as 150 palavras (1000 caracteres). Devem indicar o nome, morada e contacto
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BARTOON LUÍS AFONSO
ESCRITO NA PEDRA
“A democracia muitas vezes significa o poder
nas mãos de uma maioria incompetente”
Bernard Shaw (1856-1950)
“Agradeço a Rui Rio ter-me feito um ataque vil e
pessoal. (...). Ataques que vindos de Rui Rio não
são cadastro, são enriquecimento de curricu-
lum” Carlos Carreiras (resposta ao líder do PSD)
O NÚMERO NESTE DIA 19 DE FEVEREIRO
1810 Assinados os Tratados de Comércio e Nave-
3
gação e de Aliança e Amizade, entre Portugal e
o Reino Unido 1906 O americano William Kellog
funda a 1.ª companhia comercial de flocos de
cereais 1963 Moscovo concorda com a retirada
das tropas de Cuba. É o ponto final na crise dos
mísseis 1975 Morre, aos 64 anos, o arquitecto
Francisco Keil do Amaral, nome fundador da
moderna Arquitectura Paisagística portuguesa
1997 Morre Rómulo de Carvalho, professor,
Três missões chegaram a Marte cientista, investigador e poeta, sob o pseudó-
este mês: as sondas espaciais da nimo de António Gedeão 2016 Morre, aos 89
China e EAU e ontem pousou no anos, Harper Lee, vencedora do Prémio Pulitzer
solo o robô Perseverance com o livro Por Favor, Não Matem a Cotovia
Estatistica-
mente
Ainda ontem
tem
G
Miguel Esteves Cardoso
osto tanto das crónicas
de Nicholas Lezard
que só assino o New
Statesman por causa
dele.
Esta semana ele
contou o princípio e o fim de uma
anedota mas omitiu a parte do
meio. Eis a anedota inteira, roubada
do repositório de Susan Stepney,
professora de informática da
Universidade de Cavaco, vulgo
York:
Um engenheiro, um físico e um
matemático estão num comboio
para Miranda do Douro. A certa
altura, vêem uma ovelha churra e o
engenheiro diz:
“Olha — as ovelhas churras
mirandesas são pretas.”
“Não”, diz o físico, “algumas
ovelhas churras mirandesas são
pretas”. E o matemático, irritado,
remata: “Em Miranda, há pelo
menos um prado contendo pelo
menos uma ovelha churra que, pelo
menos de um dos lados, é preta.”
Há ainda uma versão que contém
um cientista da computação (que
estraga a anedota, claro) em que é
ele que remata: “Ó não! Um caso
especial!” Nestas piadas que só
contêm cientistas falta o toque
literário e filosófico. Falta quem
diga, deprimido: “Bolas, aqui em
Miranda até as ovelhas são pretas...”
A estatística presta-se às piadas e
há colecções delas tão antigas como
a Internet, como a de Gary
Ramseyer, que morreu em 2012 mas
cujo sítio é mantido pela filha, Vicky
Morrow. Uma das mais antigas é a
minha preferida. Três homens estão
num balão que flutua por cima de
um desfiladeiro desconhecido. Um
deles decide gritar, na esperança
que as palavras dele façam eco:
“Socorro! Não sabemos onde
estamos!”
Passado um quarto de hora vem a
resposta: “Amigos: vocês estão
perdidos!” “Olha, é um estatístico”,
diz um deles.
“Como é que sabes?”, pergunta
outro. “Por três razões”, responde:
“Porque levou muito tempo a
responder, porque tem toda a razão
e, terceiro, porque a resposta dele é
completamente inútil.”
Qual era a chance?
Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021 • 7
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8 • Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021
Espaço público
A falar é que se (a)prende
Escrever
Direito
O
Francisco Teixeira da Mota
rapper espanhol Pablo Hasél
foi, há dias, detido para
cumprir uma pena de nove
meses de prisão — a que
acrescerão mais dois anos e três
meses se não pagar, como é
provável, as multas a que foi condenado —
pela prática de três crimes, cometidos
exclusivamente através de palavras: insultos à
Coroa, apologia do terrorismo e insultos às
instituições do Estado. Saliente-se que o
próprio tribunal de recurso, que reduziu a
pena, reconheceu que as expressões usadas
não criaram qualquer risco para a ordem
pública nem conÆguraram um incitamento à
prática de quaisquer crimes. Enquanto este
cantor espanhol entrava nos calabouços, o rei
emérito Juan Carlos, um dos principais
insultados por Pablo Hasél, gozava
tranquilamente as suas imunidades e
impunidades nos Emirados Árabes Unidos,
após aí se ter refugiado na sequência dos
escândalos de corrupção em que está
envolvido.
A homofobia não é constitucional
H
Pedro Filipe Soares
á um século, Kafka
resignava-se: “Na luta que
opõe o indivíduo ao mundo,
apostem sempre no mundo.”
A vida mostrou como esse
desalento foi desmentido
pelas lutas que Æzeram caminho, que
conseguiram o que antes era impossível.
Nem sempre o mundo venceu e muitas
vezes foi vencido por homens e mulheres
que não desistiram. Por mundo
entendam-se ideias, preconceitos, regimes,
os vários poderes estabelecidos que
parecendo eternos foram caindo com a
marcha da história.
Na luta contra as discriminações, o novo
milénio trouxe novos direitos e, acima de
tudo, uma maior plenitude da palavra
igualdade. A palavra já estava na
Constituição como um direito fundamental,
mas todos sabemos que a lei impedia que
Esta disparidade na actuação da máquina
da justiça criminal — de que se encontram,
permanentemente, casos similares — é
sempre algo de chocante quando nos
debruçamos sobre o funcionamento da
Justiça. E, no entanto, é assim mesmo o
sistema: na verdade, os tribunais não existem
para fazer justiça, mas tão-somente para
aplicar as leis. Se a isto acrescentarmos as
possibilidades que têm os transgressores,
pertencentes às elites sociais, de “torcer” o
sistema judicial a seu favor, fácil é concluir
que nada tem de surpreendente o rapper ir
para a prisão e o rei (sem mérito) ir para Abu
Dhabi.
O evidente absurdo que é condenar um
cidadão, num país democrático, a uma pena
de prisão efectiva por crimes como a injúria, a
calúnia, a difamação e o insulto,
nomeadamente quando estão em causa
Æguras do poder, foi sublinhado por um
abaixo-assinado de mais de 200
personalidades do mundo das artes em
Espanha solidárias com o cantor. E o Governo
espanhol já veio anunciar que “o Ministério da
Justiça vai propor a revisão dos crimes relativos
a excessos no exercício da liberdade de
expressão para que somente sejam punidas as
condutas que claramente envolvam a criação de
risco para a ordem pública ou provocação de
algum tipo de conduta violenta, com penas
dissuasoras, mas não privativas da liberdade”.
Mais acrescentou o Governo espanhol que
“na sua proposta de lei considerará que aqueles
fosse plena. Mudámos a lei, acabámos com
o Æm da discriminação no casamento e na
adoção, colocámos identidade e igualdade a
caminhar juntas: avançámos muito em
matéria de direitos. Acho que hoje podemos
dizer que Æzemos o mundo mudar, graças a
muitas lutas solitárias, individuais,
minoritárias, que foram ganhando até
vencerem as leis que oprimiam.
Esta semana conhecemos como há
mundos ainda por mudar. Ideias e cabeças
que continuam agarradas ao passado do
qual já virámos a página. Antes da
resignação equívoca de Kafka, Tolstói tinha
escrito muito sobre a mente humana: “Os
temas mais complexos podem ser
explicados ao menos inteligente dos
homens, caso ele ainda não tenha uma ideia
formada sobre eles; mas o assunto mais
banal não pode ser esclarecido ao mais
inteligente dos homens caso ele esteja
convencido de que já conhece sem sombra
de dúvida o que tem diante de si.” Acho que
é esse o ponto de partida para analisar as
palavras de João Caupers, o
recém-empossado presidente do Tribunal
Constitucional.
Em 2011, quando o país festejava o Æm da
discriminação no casamento, Caupers
construía um muro para conter estes
avanços civilizacionais. Quase parecendo
excessos verbais cometidos no contexto de
manifestações artísticas, culturais ou
intelectuais devem permanecer à margem da
sanção penal”.
Uma das criminalizações que, certamente,
deixarão de existir será a que proíbe a
utilização da imagem do rei e de outras Æguras
da família real de “qualquer forma que possa
prejudicar o prestígio da Coroa”. De resto, já
em 2018, o Tribunal Europeu dos Direitos
Humanos (TEDH) condenara a Espanha por
violação da liberdade de expressão, no caso
Stern Taulats e Rora Capellera contra
Espanha, exactamente por os tribunais
espanhóis terem condenado, pelo crime de
insultos à Coroa, dois catalães que, numa
Espera-se que Pablo
Hasél seja um marco
importante na expansão
dos limites da liberdade
de expressão em
Espanha. E, claro, que
seja restituído à
liberdade rapidamente!
querer vingança perante esta vitória da
igualdade, escreveu que “uma coisa é a
tolerância para com as minorias e outra,
bem diferente, a promoção das respetivas
ideias: os homossexuais não são nenhuma
vanguarda iluminada, nenhuma elite. E nas
sociedades democráticas são as minorias
que são toleradas pela maioria — não o
contrário. (...) A verdade — que o chamado
lobby gay gosta de ignorar — é que os
homossexuais não passam de uma
inexpressiva minoria, cuja voz é enorme e
despropositadamente ampliada pelos
media”.
Enquanto perorava contra o “lobby gay”,
João Caupers não percebia como a sua
análise era absurda. O que estava em causa
não era saber se a heterossexualidade era
maioritária ou se o era a homossexualidade,
o que tinha mudado no país é que a
homofobia tinha deixado de ser maioritária.
Era essa a vitória que se celebrava e contra a
qual ele estava. No fundo, esbracejava para
esconder a derrota do seu mundo
homofóbico num país que avançava nos
direitos.
Passou uma década, muita coisa mudou.
O que foi objeto de amplas discussões, o que
era considerado uma causa fraturante faz
agora parte da nossa identidade, um dos
direitos que ninguém tem coragem de
manifestação pública, tinham pegado fogo a
uma imagem, de grandes dimensões, do rei e
da rainha virados de cabeça para baixo, o que,
no entender do Tribunal Constitucional
espanhol, ultrapassava os limites da liberdade
de expressão para se situar no domínio do
discurso de ódio ou do incitamento à
violência. Para o TEDH, pelo contrário, esta
era uma forma de discurso, claramente
simbólico e de intervenção política, que não
devia ser proibido numa sociedade
democrática.
Espera-se, pois, que Pablo Hasél, para além
de um mártir, seja um marco importante na
expansão dos limites da liberdade de
expressão em Espanha. E, claro, que seja
restituído à liberdade rapidamente!
P.S.: O facto de o novo presidente do
Tribunal Constitucional ser uma pessoa com
opiniões marcadamente conservadoras com
grandes diÆculdades em se relacionar com a
homossexualidade não me parece que o
impeça de exercer plenamente as suas novas
funções, mas já o facto de ter aÆrmado “estou
convencido de que existem mais vegetarianos
do que homossexuais em Portugal — e,
porventura, ate mais adeptos do Dalai Lama.
Na o beneficiam, pore m, do mesmo ni vel de
acesso aos jornais, aos microfones das ra dios e
às objetivas das televiso es” me parece não
abonar muito quanto às suas competências
intelectuais e sociais.
Advogado. Escreve à sexta-feira
questionar por parecer tão natural, tão
óbvio, tão fundamental. E, passados estes
anos, desconstruídos os mitos e derrubados
os muros, seria de esperar que João Caupers
tivesse evoluído. Mas parece que não.
Quando questionado sobre o que
escreveu, a resposta de João Caupers não
augura nada de bom: “Na maioria dos casos,
voltaria a escrever o que escrevi.” A
homofobia não deixa de o ser por se passear
no Palácio Ratton. As frases de 2011, que
eram discriminatórias e ofensivas para
milhões de homens e mulheres enquanto
proferidas por um professor de Direito,
assumem outra dimensão quando são
perpetuadas pelo presidente do Tribunal
Constitucional. Se não se retratar, Caupers
aÆrma a manutenção de uma visão
homofóbica da sociedade.
Haverá quem diga que, sendo juiz do
Tribunal Constitucional, a sua
independência deve ser respeitada. Com
isso tentarão calar a legítima contestação.
Mas não há juízes acima da crítica, seja ela
política ou cidadã, em particular quando
põem em causa um dos princípios
fundamentais que devem defender: a
igualdade.
Presidente do Grupo Parlamentar do
Bloco de Esquerda. Escreve à sexta-feira

Um ano a dar cabo da vida dos sub-30
Susana Peralta
Se os idosos sofrem os efeitos
diretos do vírus, são os
jovens que apanham com os
danos colaterais. É para eles
e sobre eles que escrevo hoje
A
ndamos há um ano de volta dos
mais velhos, principais vítimas
da covid-19. Descobrimos o
Çagelo dos lares ilegais e a falta
de meios dos legais. Já aqui falei
disso em agosto. Mas se os
idosos sofrem os efeitos diretos do vírus, são
os jovens que apanham com os danos
colaterais. É para eles e sobre eles que
escrevo hoje.
São urgentes políticas públicas para os
jovens. A OCDE publicou em junho o
relatório Youth and Covid-19: Response,
recovery and resilience sobre os custos para a
educação, emprego, saúde mental e
rendimento dos mais jovens e logo na
segunda página alerta para a necessidade de
“alinhar as respostas de emergência de curto
prazo com investimentos em objetivos de
longo prazo para assegurar o bem estar das
gerações futuras”.
Começa nos mais pequenos, vítimas do
encerramento de creches e jardins de
infância. Estes espaços são fundamentais
para as competências das crianças,
sobretudo as de famílias mais
desfavorecidas, que não têm em casa o
ambiente estimulante das restantes. No
relatório Starting Strong 2017, sobre a
importância do ensino pré-escolar, a OCDE
mostra que quem frequentou a creche e
jardim de infância durante mais do que três
anos tem uma nota 40 pontos superior a
quem frequentou menos de um ano, no
teste PISA de ciências, aos 15 anos. É um
atraso de meio ano letivo nos
conhecimentos adquiridos.
Subindo um degrau, estão as crianças do
ensino básico, que em Portugal têm condições
especialmente más para o ensino a distância,
devido à pobreza habitacional, digital e
energética, às baixas qualiÆcações das
famílias e à má cobertura da rede de internet
pelo país. No Reino Unido, em 2020, as
crianças da primária acumularam um atraso
de dois meses na aquisição de competências;
esse atraso é de sete meses para as mais
desfavorecidas. As escolas estiveram fechadas
durante dois meses e meio no Reino Unido e
as férias do verão duram escassas seis
semanas. Por cá, tudo somado, foram seis
meses sem escola. É fazer as contas.
Os adolescentes, pelo menos os que têm
meios, têm mais facilidade em aprender em
casa. Mas não são por isso menos
prejudicados com a pandemia. Um ano de
covid-19 retirou-lhes a vida social e o convívio
normal com as pessoas da mesma idade, com
consequências brutais na saúde mental. O
Instituto de Apoio à Criança recolheu,
durante o conÆnamento de 2020, informação
junto de crianças entre os oito e os 18 anos.
Cerca de um terço sentia-se triste, confuso,
com diÆculdade de dormir ou de se
concentrar. Quase 10% tinham um nível de
ansiedade acima do considerado funcional.
Um artigo do The Lancet mostra que no
Reino Unido a prevalência de problemas de
saúde mental nas crianças entre os cinco e os
16 anos aumentou de 10,8% para 16% durante
o conÆnamento de 2020. Mais de um quarto
das crianças tinha perturbações do sono. O
The Guardian noticiava em outubro que a
prescrição de medicamentos para dormir a
menores de idade aumentou 30% entre
março e junho de 2020. A ONG Save the
Children produziu uma série de relatórios
sobre os impactos escondidos da covid-19 nas
crianças. As respostas de mais de 13 mil
crianças e adolescentes com menos de 17
anos, de 46 países, revelam que 57% se
sentem menos felizes, 54% mais preocupadas
e 58% menos seguras. Quase metade dos pais
revela ter observado sinais de mal estar
psicológico nas crianças.
A saúde mental é um assunto sério; muitas
vezes, de vida ou morte. Começa a haver
sinais preocupantes de mais suicídios entre
crianças e jovens. Em Las Vegas, o governo
local de Clark County tem um sistema de
atendimento de saúde mental desde que as
escolas fecharam em março de 2020. Recebeu
mais de três mil alertas de jovens, incluindo
pensamentos suicidas ou comportamentos de
automutilação. Entre março e dezembro,
houve 18 suicídios de adolescentes, um a cada
duas semanas. Em todo o ano de 2019, neste
county, tinham sido nove. Um outro estudo
feito numa área metropolitana do Texas
analisou mais de 18 mil urgências hospitalares
de jovens até aos 21 anos e concluiu que as
tentativas de suicídio em março de 2020
foram quase 2,5 vezes superiores à do mesmo
mês de 2019. Em julho, ainda eram 77% acima
das de 2019.
E que dizer da vida suspensa dos jovens
adultos? Em França, a Fondation
FondaMental realizou em janeiro, com o
instituto de sondagens IPSOS, um inquérito
sobre a saúde mental dos jovens entre os 18 e
os 24 anos. Dois em cada três diziam que o
estado emocional das últimas semanas teve
um impacto negativo na capacidade de
trabalho e na vida pessoal, mais de 40%
Mas o que falta a estes
jovens? Perspetivas de
futuro, para começar.
Mas também lhes faltam
perspetivas de presente.
Uma geração a precisar
urgentemente que a
política a olhe de frente
Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021 • 9
DANIEL ROCHA
revelam problemas de ansiedade, quase um
quarto reporta depressão moderada ou
severa. Também em janeiro, um inquérito a
25 mil jovens em dez países concluiu que 22%
dos jovens entre os 18 e os 24 anos têm
pensamentos suicidas.
Mas o que falta a estes jovens? Perspetivas
de futuro, para começar. Entrar no mercado
de trabalho numa recessão tem
consequências nos salários durante pelo
menos uma década. Os jovens trabalhadores
têm empregos menos estáveis e por isso
medidas como o layoff não lhes pagam as
contas. Portugal é o segundo país da UE,
depois de Espanha, onde o risco de
desemprego jovem atingiu os níveis mais
elevados em 2020. Mas também lhes faltam
perspetivas de presente. O imaginário do
conÆnamento assenta numa família nuclear
ou alargada, em que os afetos e a própria vida
sexual das pessoas se encontram no
domicílio. Acontece que os jovens adultos não
vivem assim. E não são menos do que nós.
Em outubro, alguns membros do grupo de
especialistas que aconselha o Governo
britânico — o chamado SAGE — alertaram para
as cicatrizes mentais, económicas e sociais
que estamos a deixar nos mais jovens. Chris
Bonell, professor de Sociologia da Saúde
Pública na London School of Hygiene and
Tropical Medicine, dizia ao The Guardian:
“Estas adversidades vão manifestar-se ao
longo da vida dos jovens; cicatrizes destas não
desaparecem — são permanentes.” Uma
geração, portanto, desÆgurada. A precisar
urgentemente que a política a olhe de frente.
Professora de Economia na Nova SBE.
Escreve à sexta-feira
10 • Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021

Política Dúvidas do Presidente da República atingem o âmago do diploma

Marcelo envia
eutanásia para
o Tribunal
Constitucional
Presidente pede Äscalização da lei,
por considerar que “recorre a conceitos
excessivamente indeterminados”
Leonete Botelho
O Presidente da República não hesi-
tou: mal recebeu do Parlamento a
lei que despenaliza a morte medica-
mente assistida, enviou ontem o
diploma para o Tribunal Constitu-
cional, o que faz apenas pela segun-
da vez neste primeiro mandato.
Marcelo Rebelo de Sousa pede a Æs-
calização preventiva da constitucio-
nalidade do diploma por considerar
que “recorre a conceitos excessiva-
mente indeterminados” — atingindo
assim o âmago da lei aprovada pelos
deputados a 29 de Janeiro.
“Considerando que recorre a con-
ceitos excessivamente indetermina-
dos, na deÆnição dos requisitos de
permissão da despenalização da
morte medicamente assistida, e con-
sagra a delegação, pela Assembleia
da República, de matéria que lhe
competia densiÆcar, o Presidente da
República decidiu submeter a Æsca-
lização preventiva de constituciona-
lidade, o Decreto da Assembleia da
República, que regula as condições
especiais em que a antecipação da
todo o caso, a questão de saber se a
eutanásia, enquanto conceito, é ou
não conforme com a Constituição”,
sublinha Marcelo no texto enviado
para o Palácio Ratton, fazendo ques-
tão de deixar de fora a sua opinião
pessoal enquanto católico. Antes “a
questão de saber se a concreta regu-
lação da morte medicamente assis-
tida operada pelo legislador no pre-
sente decreto se conforma com a
Constituição, numa matéria que se
situa no core dos direitos, liberdades
e garantias dos cidadãos, por envol-
ver o direito à vida e a liberdade da
sua limitação, num quadro de digni-
dade da pessoa humana”.
Marcelo considera que o conceito
de situação de sofrimento intolerá-
vel “não se encontra minimamente
deÆnido, não parecendo, por outro
lado, que ele resulte inequívoco das
leges artis médicas”. Na opinião do
Presidente, o sofrimento é algo com
“uma forte dimensão de subjectivi-
dade” e, como estes conceitos
devem ser preenchidos pelo médico
orientador e pelo médico especia-
Conselho de Estado tem dois novos membros
lista, “resulta pouco claro como LUSA

morte medicamente assistida não é
punível e altera o Código Penal, nos
termos do requerimento, em anexo,
enviado hoje ao Tribunal Constitu-
cional”, diz a nota divulgada aos
jornalistas pela Casa Civil da Presi-
dência da República.
Em particular, o Presidente refere-
se aos conceitos de “situação de
sofrimento intolerável” e de “lesão
deÆnitiva de gravidade extrema de
acordo com o consenso cientíÆco”,
previstos na lei como condições
essenciais para que a eutanásia não
seja punida. Sendo dois elementos
essenciais da lei, colocam em causa
a sua aplicabilidade, e por isso Mar-
celo Rebelo de Sousa pede também
que se avaliem outras normas, como
as que dizem respeito à forma como
o médico especialista e a Comissão
de VeriÆcação e Avaliação devem
ponderar a sua decisão.
“Não é objecto deste requerimen-
to ao Tribunal Constitucional, em
deve ser mensurado esse sofrimen-
to: se da perspectiva exclusiva do
doente, se da avaliação que dela faz
o médico”.
Do mesmo modo, considera que
também o conceito de “lesão deÆni-
tiva de gravidade extrema” carece
de “densiÆcação” e de “consenso
cientíÆco”. Tudo junto, “não parece
que o legislador forneça ao médico
interveniente no procedimento um
quadro legislativo minimamente
seguro que possa guiar a sua actua-
ção”. “Acresce que, sendo o único
critério associado à lesão o seu
carácter deÆnitivo, e nada se referin-
do quanto à sua natureza fatal, não
se vê como possa estar aqui em cau-
sa a antecipação da morte, uma vez
que esta pode não ocorrer em con-
sequência da referida lesão, tal como
alerta, no seu parecer, o Conselho
Nacional de Ética para as Ciências
da Vida”, acrescenta Marcelo Rebe-
lo de Sousa.
S
em aviso prévio e num
momento registado apenas
com uma fotografia e uma
frase no site da Presidência,
Marcelo Rebelo de Sousa deu
anteontem posse a dois novos
conselheiros de Estado, que
entram para o órgão de
aconselhamento do chefe de
Estado por inerência de funções:
o presidente do Tribunal
Constitucional, João Caupers
(cujas considerações sobre a
homossexualidade, em artigo de
2010, causaram polémica esta
semana); e o presidente do
Governo Regional dos Açores, que foi eleito a 24 de Janeiro para República, estão a ser definidas
José Manuel Bolieiro. um segundo mandato. Segundo pelos dois gabinetes, tendo em
Os gabinetes de Eduardo Ferro a porta-voz da conferência de conta as limitações adoptadas no
Rodrigues e de Marcelo Rebelo líderes parlamentares, Maria da Parlamento nos últimos meses (e
de Sousa estão a acertar os Luz Rosinha, as restrições sobre o que se manterão no dia 9) por
detalhes de outra tomada de número de deputados e de causa da pandemia de covid-19.
posse, marcada para 9 de Março: convidados na cerimónia, que Leonete Botelho e Sofia
a do Presidente da República, decorre na Assembleia da Rodrigues

A decisão é dos médicos?
Num outro plano, Marcelo Rebelo de
Sousa recupera o parecer do Conse-
lho Superior do Ministério Público
para alertar para outra dimensão em
que “essa falta de densidade se revela
especialmente problemática”. Caben-
do ao médico a concretização daque-
les conceitos, poderá estar a ser vio-
lada a norma constitucional que
impede a delegação de poderes para
decidir sobre matéria de direitos,
liberdades e garantias.
“Ao utilizar conceitos altamente
indeterminados, ademais em matéria
de direitos, liberdades e garantias,
remetendo a sua deÆnição, quase
total, para os pareceres dos médicos
orientador e especialista, o legislador
parece violar a proibição de delega-
ção, constante no artigo 112.º da Cons-
tituição”, lê-se no requerimento
enviado ao Tribunal Constitucional.
Em suma, escreve o Presidente
com o bisturi cirúrgico do constitu-
cionalista que também é: “O legisla-
dor criou uma situação de inseguran-
ça jurídica que seria, de todo em todo,
de evitar, numa matéria tão sensível.
MIGUEL MANSO
Marcelo sempre disse que não
avaliaria o diploma como
católico, mas como defensor da
Constituição
2.ª
Esta foi só a segunda vez que o
Presidente pediu a fiscalização
de um diploma ao TC. A primeira
foi em 2018 e referia-se aos
direitos da mulher que servia de
“barriga de aluguer” na
gestação de substituição
Esta insegurança afecta todos os
envolvidos: peticionários, proÆssio-
nais de saúde, e cidadãos em geral,
que assim se vêem privados de um
regime claro e seguro, num tema tão
complexo e controverso.”
Marcelo usa também um argumen-
to político que se dirige mais ao Par-
lamento do que aos juízes do Palácio
Ratton, quando recusa, por antecipa-
ção, a eventual tese de que a regula-
mentação da lei poderia corrigir a
falta de densiÆcação dos pressupostos
da eutanásia: “Sendo o presente
decreto o único instrumento legisla-
tivo que pode ser analisado neste
momento, e padecendo ele das insu-
Æciências assinaladas, a sua inconsti-
tucionalidade não pode ser sanada
com a expectativa de um regime futu-
ro, cujo conteúdo se desconhece,
ainda que dele o legislador faça
depender a entrada em vigor do regi-
me presente.”
A lei da eutanásia foi aprovada com
136 votos a favor das bancadas parla-
mentares do PS (com excepção de
oito deputados), do Bloco, do PAN e
do PEV, assim como 14 deputados do
PSD, o deputado da IL, João Cotrim
Figueiredo, e as deputadas não-ins-
critas Joacine Katar Moreira e Cristina
Rodrigues. O PCP, o CDS e o deputado
do Chega, André Ventura, votaram
contra, assim como nove deputados
do PS e 56 do PSD — num total de 78
votos contra. Houve ainda quatro abs-
tenções — duas do PS e duas do PSD.
Nas reacções à decisão de Belém,
os partidos que votaram contra mos-
traram-se mais satisfeitos. O CDS, que
já anunciara que procuraria apoios
noutras bancadas para requerer a
Æscalização sucessiva da lei que con-
sidera inconstitucional, disse que o
Presidente “fez bem”. André Ventura,
do Chega, aceitou a argumentação de
Marcelo Rebelo de Sousa, mas ressal-
vou que teria preferido já um veto
político.
À hora de fecho desta edição, o
PCP, que também votou contra a lei e
o PSD, que se dividiu na votação, e o
PS, que votou a favor, não tinham rea-
gido à decisão de Marcelo.
Também do lado dos que votaram
a favor, o Bloco comentou que o Pre-
sidente da República tomou esta deci-
são, que o BE encara com “naturali-
dade”, em “resposta a algumas pres-
sões sociais de sectores políticos mais
próximos” de si, à direita. E lembrou
que Marcelo Rebelo de Sousa já mani-
festara reservas a aspectos da lei e
indicara que não a vetaria por ques-
tões políticas.
O PAN criticou Marcelo por, duran-
te a campanha das presidenciais, não
ter assumido que pretendia enviar ao
TC o diploma que o partido acredita
ser constitucional. Tal como a IL, que
considera normal a decisão do chefe
de Estado. Só o PEV disse já que, ape-
sar de discordar de que haja conceitos
indeterminados na lei, está disponível
para expurgar o diploma das normas
eventualmente consideradas incons-
titucionais.
Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021 • 11
Palácio de Belém
Paulo Sande e António
Araújo deixam assessoria
política da Presidência
Leonete Botelho
Ambos dizem que não houve qual-
quer atrito com Marcelo Rebelo de
Sousa e garantem que foram cinco
anos excepcionais em Belém, mas
dois assessores políticos do Presi-
dente da República pediram para
deixar estas funções no Ænal do man-
dato para se poderem dedicar a
outras actividades. António Araújo
e Paulo Sande saem de Belém a seu
pedido, tal como o assessor de
imprensa Paulo Magalhães.
“Foram cinco anos extraordiná-
rios, mas há um tempo para tudo,
tenho muita coisa para fazer na
vida”, disse ao PÚBLICO Paulo San-
de, que durante este mandato che-
gou a suspender funções para ser o
cabeça de lista da Aliança às eleições
europeias. Terá agora outras ambi-
ções políticas? “O futuro a Deus per-
tence”, responde, sem querer adian-
tar quais os seus planos para o futu-
ro. Mas decerto irá continuar como
sócio da Cruz Vilaça Advogados e
docente da Universidade Católica.
António Araújo também sai por sua
vontade e confessa-se “um bocadinho
cansado de política”. “Estava em
Belém há 15 anos, tenho muitos pro-
jectos desaÆantes na Fundação [Fran-
cisco Manuel dos Santos, onde é
director de Publicações e membro da
comissão executiva]. E é nesta altura
que as pessoas saem, não é a meio do
mandato”, diz ao PÚBLICO.
Para a decisão terá contribuído a
análise que faz da situação actual. O
jurista e historiador considera que a
evolução política dos últimos tempos
é preocupante. “Há muitos sinais de
degradação do ambiente político, de
aumento da crispação”, reconhece,
Paulo Sande foi cabeça de lista da Aliança nas europeias
referindo-se aos efeitos secundários
da pandemia no tecido social.
O terceiro elemento da assessoria
política de Marcelo Rebelo de Sousa
é Nuno Sampaio, cuja continuidade
em Belém ainda não é certa. O tam-
bém docente e investigador da Uni-
versidade Católica, que em 2017 foi
candidato à Câmara da Lourinhã,
não esteve disponível para respon-
der às perguntas do PÚBLICO.
Com estas saídas, é já de grande
alcance a mudança que Marcelo
Rebelo de Sousa terá de fazer em
Belém no segundo mandato. Na Casa
Civil, já era conhecida a saída do jor-
nalista Paulo Magalhães da assesso-
ria de comunicação social, também
por sua vontade, assim como da
assessora diplomática, Ana Marti-
nho, que atingiu o Æm da carreira.
Para a substituir, o Presidente da
República escolheu Maria Amélia
Paiva, actual embaixadora de Portu-
gal em Maputo.
Também mudará o chefe da Casa
Militar (CCM), de acordo com uma
informação adiantada pelo Expresso.
Mas aqui é mais uma dança de cadei-
ras: o actual CCM, general João Vaz
Antunes, passará a secretário do Con-
selho Superior de Defesa Nacional,
continuando em Belém. E para che-
Æar a Casa Militar foi escolhido o vice-
almirante Luís Carlos de Sousa Perei-
ra, que desempenhou funções de
cheÆa a vários níveis, incluindo o
comando da fragata Álvares Cabral e
da Força Naval Portuguesa.
Esta é a terceira vez que Marcelo
Rebelo de Sousa muda o chefe da
Casa Militar e, com esta escolha de
um general da Armada, será o único
Presidente que entregou o cargo aos
três ramos das Forças Armadas.
MIGUEL MANSO
 12 • Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021
Política
Campanhas locais do PSD terão de pedir
autorização para sondagens e outdoors
Sofia Rodrigues
Estruturas do PSD vão ter
de informar a sede nacional
do partido sobre o tema
da mensagem política e até
sobre os materiais a usar
As estruturas locais do PSD vão ter de
pedir uma autorização prévia à direc-
ção do partido para poderem enco-
mendar outdoors, brindes e sonda-
gens para a campanha autárquica,
além de terem de informar sobre os
materiais e os slogans utilizados nos
Autárquicas Rio com palavras duras para Carlos Carreiras e Rui Moreira
DANIEL ROCHA
No dia em que completou três
anos como líder do PSD, Rui Rio
deu ontem uma entrevista à
Rádio Observador na qual
classiÆcou o autarca de Cascais,
Carlos Carreiras, como
incompetente e em que disse que
Rui Moreira não é conÆável. Um
dia após Carreiras o ter acusado
outdoors, de acordo com um despa-
cho a que o PÚBLICO teve acesso.
As novas regras enviadas às estru-
turas obrigam a uma “autorização
prévia” por parte da secretaria-geral
para a aquisição de material de cam-
panha como “aluguer de outdoors,
brindes, estudos de opinião ou son-
dagens” até Outubro, independente-
mente de se destinar às autárquicas.
No pedido de autorização têm de ser
submetidos três orçamentos, devem
ser considerados os “preços médios”
apresentados pela Entidade das Con-
tas e não podem ser incluídas empre-
sas constituídas há menos de três
de querer adiar as eleições locais
por o processo autárquico do PSD
ser “uma inexistência”, Rio
atirou: “Carlos Carreiras é o pior,
é o incompetente nisto, devia
assumir a desgraça que foi em
2017”, disse, referindo-se ao facto
de, com Carreiras como
coordenador autárquico, o PSD
anos, de acordo com o despacho assi-
nado pelo secretário-geral adjunto
Hugo Carneiro.
Na instalação de outdoors, mesmo
que pertençam às estruturas locais,
é obrigatório enviar para a sede nacio-
nal cópia da factura e fotograÆas das
estruturas bem como a indicação do
período em que vão ser utilizadas. As
estruturas têm de ver o aluguer de
outdoors validado e informar a direc-
ção sobre os materiais escolhidos
para imprimir a imagem e sobre o
“tema” da mensagem.
O despacho também proíbe qual-
quer despesa de campanha até que
ter conseguido 98 câmaras contra
161 do PS — Carreiras diria horas
depois que “ataques vindos de
Rui Rio não são cadastro, são
enriquecimento de curriculum”.
Rio admitiu que Ricardo Baptista
Leite e Filipa Roseta têm perÆl e
para se candidatarem à Câmara
de Lisboa. Quanto ao Porto, Rio
Hugo Carneiro,
secretário-geral
adjunto, assinou
o despacho
enviado
às estruturas
do partido
os orçamentos sejam “aprovados pela
sede nacional” e “nomeados os res-
pectivos mandatários Ænanceiros”. Só
o mandatário Ænanceiro nacional ou
os locais podem “efectivamente adju-
dicar despesa ou comprometer fun-
dos de campanha eleitoral”. No mes-
mo documento, Æca um aviso: “Quem
garantiu nunca ter ponderado
uma aliança com o independente
Rui Moreira, que acusou de ter
deturpado o que se passara num
jantar privado: “Ele queria que o
PSD não se apresentasse e
integrava pessoas do PSD na lista;
nós propusemos-lhe o contrário”,
vincou.
contrair uma despesa sem autoriza-
ção é pessoalmente responsável pelo
fornecedor, ou seja, é responsável
pelo pagamento bem assim como das
coimas que vierem a ser aplicadas
pela Entidade das Contas.”.
Numa outra circular, a direcção do
PSD detalha a preparação Ænanceira
da campanha autárquica, colocando
regras sobre a elaboração de orça-
mentos e angariação de fundos. A
circular cita a lei para lembrar que os
fundos angariados nos seis meses
anteriores às autárquicas “abatem na
subvenção pública que vier a ser devi-
da em função dos resultados”.
PS e direita
chumbam
regras anti-
embalagens
Maria Lopes
André Silva levou para o plenário
bolachas, pasta dentífrica, bananas,
cenouras e batatas para mostrar aos
deputados a quantidade de embala-
gens supérfluas que envolvem os
produtos — papel e plástico que vão
para o lixo mal o consumidor chega
a casa e que afastam Portugal das
metas de redução e reciclagem de
resíduos, lembrou ontem deputado
do PAN. O consumidor não as pediu,
mas pagou por elas, vincara antes a
ecologista Mariana Silva.
Mas os argumentos do PEV, PAN,
PCP e BE não foram suficientes para
o PS e a direita deixarem passar as
propostas dos três primeiros para a
criação de uma escala de embalagens
no comércio e distribuição, da primá-
ria (a que envolve directamente o
produto) à terciária (de transporte),
com regras apertadas para o seu uso,
com vista à redução de invólucros
supérfluos.
Só foi aprovado — pelo PS e pela
direita — um projecto de resolução do
PS que recomenda ao Governo, entre
outras medidas, o “reforço da recolha
selectiva” de resíduos com a imple-
mentação de metodologias que “pri-
vilegiem o princípio do poluidor-pa-
gador”. André Ventura bem pergun-
tou ao PS “quanto, como e o quê os
consumidores vão pagar”, mas ficou
sem resposta. O CDS lembrou que a
taxa de resíduos duplicou do ano pas-
sado para este de 11 para 22 euros e
em 2025 chegará aos 35 euros.

Governo
enfrenta
Ordem dos
Enfermeiros
Alexandra Campos
O Governo vai contestar a providên-
cia cautelar interposta pela Ordem
dos Enfermeiros (OE) que conseguiu
impedir provisoriamente a contra-
tação de enfermeiros estrangeiros
ou formados fora do país, um recur-
so criado ao abrigo do estado de
emergência. Para tentar reverter
este impedimento, o Conselho de
Ministros (CM) aprovou uma resolu-
ção fundamentada que decreta “o
especial interesse público” da manu-
tenção desta possibilidade, em res-
posta à providência cautelar apre-
sentada pela Ordem no Supremo
Tribunal Administrativo (STJ).
A resolução fundamentada deÆne
como “absolutamente crucial a apli-
cação das normas visadas, permitin-
do que, face ao aumento signiÆcativo
do número de doentes internados
em consequência da pandemia pro-
vocada pelo vírus SARS-CoV-2, se
contratem, em função das necessi-
dades sentidas, todos os enfermeiros
que o presente momento impõe”,
diz o comunicado do CM.
A OE tinha conseguido, através de
uma providência cautelar contra o
estado de emergência, suspender
estas contratações, pelo menos pro-
visoriamente. O STJ admitiu a provi-
dência cautelar e deu 15 dias ao
Governo para responder. Fonte da
OE explicou entretanto à Lusa que o
advogado da instituição vai apresen-
tar uma nova acção, dado que o STJ
rejeitou o decretamento provisório,
porque, quando a providência foi
entregue, apenas faltavam três dias
para terminar o estado de emergên-
cia. Apesar disso, a possibilidade de
contratação de proÆssionais forma-
dos no estrangeiro Æcou suspensa.
O decreto do estado de emergên-
cia prevê que os estabelecimentos
de saúde possam “excepcionalmen-
te” contratar “até ao limite de um
ano” médicos e enfermeiros forma-
dos em instituição de ensino supe-
rior estrangeira, mas estipula que os
enfermeiros devem ter mais de cinco
anos de experiência ou concluído
um ciclo de estudos com, pelo
menos, 3600 horas de ensino, das
quais 1800 em ensino clínico. Ou
seja, permite a contratação sem
reconhecimento de competências
ou inscrição na OE. Quando esta
possibilidade foi conhecida, a basto-
nária Ana Rita Cavaco contestou-a
de imediato, alegando que os hospi-
tais não possuem mecanismos para
garantir que a formação académica
apresentada pelos enfermeiros
estrangeiros é verdadeira.
PS vai propor ajustes à lei eleitoral
que afecta candidaturas de independentes
Sónia Sapage
PSD e CDS já responderam
ao desafio lançado por Ana
Catarina Mendes e abrem
a porta a mudanças, mas
querem conhecer detalhes
Rui Moreira é um dos autarcas que
mais têm protestado contra as
mudanças que PS e PSD aprovaram
em Julho de 2020 à lei eleitoral,
impondo novas regras, e limitações,
às candidaturas de independentes.
As queixas parecem ter resultado.
Anteontem à noite, na Circulatura do
Quadrado, a líder parlamentar do PS
reconheceu que “a discussão foi
mínima” e acrescentou: “As coisas
nem sempre são bem feitas.”
Ana Catarina Mendes deixou elo-
gios à lei aprovada no Verão, mas
referiu dois aspectos merecedores de
atenção e revelou que o PS apresen-
tará “nos próximos dias” uma pro-
posta de alteração. “O facto de a sigla
não poder ser usada nas candidaturas
às juntas de freguesia é um absurdo e
tem de ser mudado, assim como a
diÆculdade de as assinaturas não
poderem servir para outra freguesia”,
sugeriu a socialista. “As coisas são
imperfeitas, nem sempre são bem
feitas e eu quero dizer que o PS fará
essa alteração nos próximos dias.
Apresentará uma alteração para cor-
Rui Moreira e a “lei imperfeita” do PS
Hora H
Helena Pereira
Sete meses depois de terem
aprovado alterações à lei eleitoral
que diÆcultam as regras para a
apresentação de candidaturas
independentes, os deputados vão
de novo debruçar-se sobre o
assunto porque, aÆnal, foi tudo feito
um bocado à pressa. Foi desta
forma que a líder parlamentar do
PS, Ana Catarina Mendes, anunciou
esta semana, num programa de
comentário político, que o seu
partido irá propor “correcções”. “A
lei foi feita, de facto, com uma
discussão mínima, a 20 e poucos de
Julho, já mesmo no Ænal da sessão
legislativa. (...) As coisas nem
sempre são bem feitas”, justiÆcou.
Vale a pena determo-nos na
Ana Catarina Mendes reconheceu duas limitações na lei actual
rigir uma situação que me parece
penalizadora da vida democrática.”
Estes dois aspectos têm sido frisa-
dos pelos movimentos de indepen-
dentes que se queixam ainda de os
grupos de cidadãos não poderem
usar as palavras “partido” e “coliga-
ção” no nome que levam aos boletins
de votos. Assumindo que o bloco cen-
tral lhe está a diÆcultar a vida, Rui
Moreira admitiu mesmo criar um par-
tido político. “Se a nossa candidatura
for indeferida (…), podemos formar
um partido político em Portugal”,
“discussão mínima”. O PSD
anunciou no início de 2020 que
tencionava apresentar um diploma
que tinha como um dos principais
objectivos “clariÆcar na lei que os
grupos de cidadãos eleitores não se
devem confundir com partidos
políticos”. Esse diploma foi
aprovado a 10 de Julho na
generalidade com os votos a favor
do PSD e a abstenção do PS.
Passadas duas semanas, a 23 de
Julho, o diploma foi aprovado em
votação Ænal, já com o apoio do PS,
que mudou de posição, da
abstenção para o voto a favor. A isso
se deve o facto de o projecto de lei
original ter sofrido algumas
alterações.
No seu documento, o PSD
propunha que os grupos de
cidadãos não pudessem usar a
palavra “partido” no seu nome e
que o mesmo grupo de cidadãos
tivesse de fazer a recolha distinta de
assinaturas para apresentar lista à
Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021 • 13
MIGUEL MANSO
declarou, há uma semana, deixando
claro que não é por causa das altera-
ções à lei eleitoral que deixará de
liderar uma recandidatura.
Em resposta às críticas, Ana Cata-
rina Mendes recordou que “foi pela
17
Número de candidaturas
independentes que passaram a
liderar câmaras em 2017
câmara municipal, à assembleia
municipal e a cada uma das
freguesias. Se isto passou
despercebido ao PS, não passou a
Rui Moreira (o autarca do Porto, a
quem ontem Rui Rio chamou não
conÆável), que desde a primeira
hora acusou o PSD de ter tomado
esta iniciativa só para prejudicar a
sua recandidatura.
Mas houve mudanças no texto
original que agradaram ao PS e que
Æzeram com que este mudasse de
ideias. E quais foram?
Foram acrescentados alguns
pontos, nomeadamente que Æcasse
proibida aos grupos de cidadãos a
utilização também da palavra
“coligação” na sua denominação,
que o tribunal que receber as listas
de candidatura faça a veriÆcação de
autenticidade de uma amostragem
de assinaturas, ou seja, a sua
validação em cartório notarial e,
por último, que “os recursos das
decisões proferidas sobre
Política
mão do PS que os movimentos de
cidadãos” passaram a poder candida-
tar-se. “Mas muitas vezes há movi-
mentos que não são independentes,
são dissidentes dos partidos: não é o
caso de Rui Moreira”, disse.
Ana Catarina Mendes desaÆou ain-
da o PSD a juntar-se ao PS para mudar
a lei a tempo das eleições de Outubro
e David Justino, vice-presidente
social-democrata, respondeu-lhe, na
TSF. Justino mostrou abertura para
discutir o assunto com o PS, mas fê-lo
de forma muito genérica por não
saber ainda, em concreto, que altera-
ções o PS vai apresentar. Mais tarde,
na Rádio Observador, também Rui
Rio abriu a porta à reÇexão. “Tenho
de entender quais as críticas em cau-
sa; se forem justas, tem de se olhar”,
aÆrmou. Não deixou de registar,
porém, que “o PS, à mínima contes-
tação, recua de imediato, é incapaz
de fazer uma reforma estrutural, tem
medo, recua”.
O CDS, pela voz de Telmo Correia,
disse não entender a posição de
recuo do PS e quer repor o diploma
que estava em vigor anteriormente.
“Vamos propor que sejam retirados
entraves às candidaturas indepen-
dentes. Não faz sentido terem as
mesmas regras dos dois partidos
centrais do sistema”, aÆrmou aos
jornalistas Telmo Correia, líder da
bancada parlamentar do CDS. com
SoÄa Rodrigues
denominações, siglas e símbolos de
grupos de cidadãos eleitores têm
carácter urgente sobre as demais e
devem ser decididas no prazo de 72
horas”.
Ou seja, em duas semanas, o texto
do PSD foi burilado para reforçar as
exigências aos grupos de cidadãos.
Quando agora Ana Catarina Mendes
veio falar sobre correcções, o que
quer corrigir exactamente: as
propostas iniciais do PSD ou
aquelas que o próprio PS
acrescentou ao projecto? Rui Rio,
autor do projecto que vingou em
Julho, já reagiu também com
estupefacção, mas cautela, dizendo
querer ver primeiro aquilo que o PS
quer mudar (“Tenho de entender
quais as críticas em causa; se forem
justas, tem de se olhar”). Farão
parte estas alterações de um acordo
autárquico entre PS e Rui Moreira?
Sabê-lo-emos em breve.
Jornalista. Escreve a sexta-feira
14 • Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021
Sociedade Primeira fase da vacinação contra a covid-19
Regiões usam
diferentes
critérios de
prioridade
nas vacinas
Direcção-Geral da Saúde não especiÄca
como deve ser feita a selecção das
pessoas a convocar em primeiro lugar.
Em Lisboa o critério é aleatório,
nas outras regiões é pela idade
Alexandra Campos
Os idosos a partir dos 80 anos e as
pessoas com 50 ou mais anos e pato-
logias associadas a maior risco em
caso de covid-19 já começaram a ser
vacinados mas o critério de chamada
não é uniforme no país. No Norte, no
Centro e no Algarve decidiu-se que as
pessoas devem ser convocadas pela
idade — primeiro são chamados os
mais velhos —, mas em Lisboa e Vale
do Tejo a escolha é determinada de
forma aleatória.
Em conjunto, estes dois grupos
prioritários representam “mais de
um milhão de pessoas”, calculam os
Serviços Partilhados do Ministério da
Saúde (SPMS), o organismo central
que envia as listagens dos cidadãos a
vacinar nesta primeira fase para os
centros de saúde. Depois de há duas
semanas terem arrancado os primei-
ros projectos-piloto com algumas
centenas de pessoas, a vacinação está
agora ser alargada progressivamente
a todos os centros de saúde, mas o
problema é que as doses estão a che-
gar a conta-gotas.
Por isso é preciso deÆnir quem é
chamado em primeiro lugar. Como é
que isso está a ser feito? A selecção “é
feita de forma automática e aleatória
na região”, sendo as pessoas convo-
cadas “à medida que as vacinas vão
sendo recepcionadas”, adianta a
Administração Regional de Saúde
(ARS) de Lisboa e Vale do Tejo. “As
listas de suplentes seguem o mesmo
princípio”, acrescenta.
Na ARS do Norte o critério é ir “da
idade maior (por exemplo, 90 ou
mais) para a menor (até 80)” e, no
grupo a partir dos 50 com comorbili-
dades, a regra é a mesma. De igual
forma, na ARS do Centro a prioriza-
ção nestes dois grupos “é feita por
ordem decrescente de idade”. No
Algarve, o critério é semelhante, mas
também é levada em conta a gravida-
de das doenças. A convocatória é
feita por ordem decrescente de ida-
de” e “atendendo [igualmente] à gra-
vidade das comorbilidades associa-
das”, precisa esta ARS.
Para a nova coordenação do grupo
de trabalho (task-force) responsável
pelo plano de vacinação, a idade deve
igualmente ser o principal critério,
mas esta orientação ainda não está
escrita, até porque caberá à Direcção-
Geral da Saúde (DGS) fazê-lo. “Dentro
desses dois grupos, em função das
doses [que vão chegando], a vacina-
ção deve ser feita de cima para bai-
xo”, disse ao PÚBLICO o comandante
Ramos de Oliveira, porta-voz da task-
force. Na norma sobre vacinação con-
tra a covid-19 que foi actualizada este
mês, a DGS não deÆne uma forma de
priorizar dentro destes dois grupos,
deixando assim ao critério das admi-
nistrações regionais de saúde a orga-
nização do processo. A DGS especiÆ#
ca apenas que as ARS, com o apoio
dos SPMS, fazem o “mapeamento das
pessoas elegíveis” e que os agrupa-
mentos de centros de saúde (Aces)
“procedem ao agendamento da vaci-
nação e à convocatória”, tendo em
conta as vacinas disponíveis. O
PÚBLICO perguntou à DGS se tencio-
na deÆnir uma orientação uniforme,
mas não obteve resposta.
“Era bom termos uma orientação
geral e já houve sindicatos [dos médi-
cos] que pediram um esclarecimento
e estão a aguardar”, recorda o presi-
dente da Associação Portuguesa de
Medicina Geral e Familiar, Nuno Jacin-
to, que trabalha em Évora. Enquanto
isso não acontece, têm sido os direc-
tores clínicos dos agrupamentos de
centros de saúde ou as ARS a decidir
Mais de um milhão de pessoas devem ser vacinadas contra a covid-19 nesta primeira fase
Alerta para SMS
fraudulentos
É
preciso explicar com
clareza às pessoas o que
têm de fazer se receberem
um SMS com a
convocatória para vacinação
contra a covid-19, alerta Diogo
Urjais. O SMS é enviado do
número de origem “2424” para
o telemóvel, com a data e o
local da vacinação, pedindo
que responda sim ou não. Os
problemas surgem porque é
necessário digitar na resposta
o número de utente. “A
mensagem é complexa e, se a
pessoa responder mal, a
resposta não é enviada.
Deviam fazer um vídeo em que
se explicasse de uma forma
simples este processo”,
sugere.
Diogo Urjais avisa ainda que
há pessoas que estão a receber
SMS fraudulentos. “As pessoas
apenas devem responder se o
número do SMS for 2424.” E
devem aguardar até que o
centro de saúde as convoque,
pede.
como fazer, explica. “No meu Aces,
estamos a seleccionar por idade
decrescente, do mais velho para o
mais novo.”
“A idade é o critério mais equitativo
e transparente”, considera José Luís
Biscaia, director executivo do Aces do
Baixo Mondego. No seu agrupamento,
a chamada começou pelos “centená-
rios” e, no caso do grupo dos acima
de 50 com comorbilidades, a opção é
priorizar quem tem mais de uma pato-
logia, combinando este critério com
o da idade. Mas há excepções. “No
outro dia chamei um casal, um tinha
mais de 90 anos e o outro, 80.” Fazia
sentido que viessem os dois. “É uma
questão de bom senso”, remata.
A escolha também depende das
vacinas que vão chegando aos cen-
tros de saúde. Como a da AstraZene-
ca só está indicada até aos 65 anos,
as doses que chegam têm de ser
administradas aos doentes de risco,
explica Diogo Urjais, presidente da
Associação Nacional das Unidade de
Saúde Familiar. Já se forem vacinas
da PÆzer ou da Moderna, começa-se
pela idade, em “escalões etários de
cinco anos”.
Localizada em Leiria, a USF de Dio-
go Urjais foi uma das seleccionadas
para projecto-piloto desta nova etapa
e têm sido testados e corrigidos os
processos de agendamento e de ope-
racionalização da vacinação. Estão a
ser corrigidos alguns erros e a expe-
riência tem-se revelado positiva,
observa o enfermeiro que considera
que a taxa de resposta às convocató-
rias até tem sido relativamente alta.
Ronda os 55% no grupo dos mais ido-
sos, o que é aceitável, uma vez que
uma parte signiÆcativa não tem tele-
móvel e alguns nem sequer têm um
número de telefone actualizado.
A vacinação dos idosos a partir
dos 80 anos, independentemente de
terem ou não doenças, apenas foi
incluída no plano nacional de vaci-
Era bom termos
uma orientação
geral e já houve
sindicatos [dos
médicos] que
pediram um
esclarecimento
Nuno Jacinto
Presidente da Assoc. Portuguesa
de Medicina Geral e Familiar

DANIEL ROCHA
nação há três semanas, já depois de
a Comissão Europeia ter deÆnido
como meta, até ao Ænal de Março, a
vacinação de pelo menos 80% das
pessoas nesta faixa etária e de 80%
dos proÆssionais de saúde. Nessa
altura, em 28 de Janeiro, o ex-coor-
denador da task-force, Francisco
Ramos, justiÆcou a inclusão deste
novo grupo na primeira fase com o
aumento da incidência de covid-19
nesta faixa etária.
Vacinas insuÄcientes
O problema da priorização apenas se
coloca porque as doses das diferentes
vacinas disponíveis estão a chegar
lentamente e já se percebeu que Por-
tugal vai receber quase menos de
metade do total inicialmente previs-
to no primeiro trimestre. Actualmen-
te, a capacidade instalada permitiria
administrar entre 50 a 60 mil doses
por dia, diz Ramos de Oliveira.
Tendo em conta as estimativas do
total de pessoas a vacinar nestes dois
grupos, facilmente se percebe que as
doses que estão a chegar a Portugal
não vão ser suÆcientes para vacinar
em simultâneo uma percentagem
elevada destes dois grupos até ao Ænal
de Março. Devido à escassez de vaci-
nas, o novo coordenador da task-for-
ce já assumiu, aliás, que a primeira
fase vai prolongar-se por Abril.
Dados de 2020 mostram “situação grave”
Menos 25 milhões de exames e análises por fazer
Ana Maia
“A situação é excessivamente grave e
vai ter um impacto brutal na saúde
das pessoas”, alerta o bastonário da
Ordem dos Médicos. No ano passado,
por comparação com 2019, realiza-
ram-se menos 11,4 milhões de contac-
tos presenciais nos centros de saúde,
menos 3,4 milhões de contactos hos-
pitalares, entre consultas, cirurgias e
urgências e menos 25 milhões de exa-
mes e análises. Números a que se
juntam milhares de pessoas que não
Æzeram rastreios oncológicas.
Os dados do Portal do SNS, analisa-
dos pela consultora MOAI, são apre-
sentados hoje pelo Movimento Saúde
em Dia, uma iniciativa da Ordem dos
Médicos e da Associação Portuguesa
de Administradores Hospitalares, em
parceria com a Roche. “Este não é um
diagnóstico novo, é mais um grito de
alerta para ver se o Ministério da Saú-
de olha para situação de forma dife-
rente”, diz o bastonário Miguel Gui-
marães sobre o acesso dos doentes
sem covid-19 aos cuidados de saúde.
Em Novembro de 2020 tinha-se
realizado menos um quarto dos
meios complementares de diagnósti-
co e terapêutica quando comparado
com Novembro do ano anterior. “A
reabilitação está praticamente para-
da. São menos 12 milhões de actos.
Esta é uma área fundamental para as
pessoas que sofreram um AVC ou aci-
Menor pressão da covid-19
Hospitais retomam consultas e cirurgias adiadas
Filipa Almeida Mendes
e Sofia Neves
À medida que os internamentos de
doentes com covid-19 começam a
diminuir e a pressão nos serviços de
urgência desce, alguns hospitais
começaram a retomar ou a programar
a retoma das cirurgias adiadas e da
actividade assistencial. É o caso do
Hospital de Santa Maria, em Lisboa,
que retomou esta semana as cirurgias
a doentes prioritários. “Há cerca de
dez dias o CHULN ultrapassou os 400
doentes internados. Esta semana, a
redução de necessidades permitiu
reduzir cerca de 50 camas de ‘inter-
namento covid’, reactivando-as na
vertente ‘internamento não-covid’
médico e cirúrgico. Na próxima sema-
na, se esta tendência se mantiver,
podemos reconverter mais 50”, refe-
re um porta-voz do Centro Hospitalar
Universitário Lisboa Norte, que inte-
gra o Santa Maria. E espera “que daqui
a alguns dias se reactive a cirurgia de
dentes para que possam Æcar sem ou
com menos morbilidade. Os meios
complementares são fundamentais
para vigilância e diagnóstico. Quando
se fazem menos 25% de exames é evi-
dente que há doentes que Æcaram
para trás”, aponta.
Também houve uma redução no
número de pessoas que participaram
nos rastreios oncológicos. Em 2020
havia menos 169 mil mulheres com
registo de mamograÆa feita nos últi-
mos dois anos (rastreio ao cancro da
mama), menos 140 mil com citologia
actualizada (rastreio ao cancro do
colo do útero) e menos 125 mil utentes
inscritos com rastreio ao cancro do
cólon e recto efectuado. “Estamos a
falar de mais de 400 mil pessoas que
deviam ter feito rastreios e não Æze-
Situação em Portugal
Em 18 de Fevereiro de 2021, às 14h30
Internados (total) Em UCI Mortes
3819 688 15.754
-318 -31 +105
NOVOS CASOS DIÁRIOS
17000
12750
8500
4250
0 de fazer uma grande campanha para
M A M J J A
Fontes: DGS
ambulatório, cujos recursos ainda
estão temporariamente afectos a
outras áreas assistenciais”. Porém,
admite que “ao nível dos cuidados
intensivos, as necessidades ainda se
mantêm a níveis muito elevados
(96%), pelos que as nove UCI em fun-
cionamento, das quais cinco ocupam
blocos operatórios, recobros e enfer-
marias, se irão manter durante algum
tempo”. O Centro Hospitalar de Lis-
boa Ocidental “já iniciou a actividade
cirúrgica” nos hospitais Egas Moniz e
Santa Cruz, embora “ainda em peque-
no volume, por necessidade de pro-
Æssionais que ainda se encontram a
trabalhar em ‘zonas covid’”.
Também o Centro Hospitalar Uni-
O Pavilhão do
Fontelo, em Viseu,
montado durante
o pico da terceira
vaga, já deixou de
ter doentes com
covid-19
Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021 • 15
ram. São menos diagnósticos em fase
precoce, em que o cancro é curável.
Vamos ter cancros detectados mais
tarde, haverá doentes sem possibili-
dade de cura porque a janela terapêu-
tica foi ultrapassada. Esta situação vai
ter um impacto negativo na vida des-
tes doentes”, refere o bastonário. No
caso das cirurgias oncológicas, o
Ministério da Saúde anunciou um
plano de recuperação.
Entre consultas médicas e actos de
enfermagem, de Janeiro a Dezembro
de 2020 comparando com o período
homólogo, houve menos 11,4 milhões
de contactos presenciais, embora no
total de consultas as não presenciais
tenham permitido compensar estes
números e até ultrapassá-los. Nos
hospitais, apesar do esforço, a quebra
Recuperados Activos
687.462 89.613
+4401 -2562
Total de casos
792.829 +1944
S O N D J F
PÚBLICO
versitário de São João, no Porto, tem
“restabelecido a actividade para
‘doentes não-covid-19’ (nas áreas clí-
nicas e cirúrgicas), sendo certo que a
consulta externa, o hospital de dia e a
cirurgia de ambulatório mantiveram
uma actividade próxima da expectá-
vel, de forma a não penalizar os doen-
tes”, refere o porta-voz do hospital.
No Hospital de Braga também se
está a “libertar espaços e proÆssionais
para recuperar consultas e a activida-
de cirúrgica convencional”, sendo
este agora o “principal foco”, segundo
admitiu à agência Lusa o presidente
do conselho de administração. No
Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa
“porque se notou uma franca dimi-
nuição de ‘doentes covid’ internados
— são somente 38, quando chegaram
a ser 235 —, está já em curso uma nova
aceleração desse processo de retoma”
da actividade não-covid, refere o con-
selho de administração.
O Centro Hospitalar Tondela-Viseu
(CHTV) também “retomou a activi-
também é visível na comparação com
2019: menos 1,3 milhões de consultas
e menos 126 mil cirurgias. “Esta é uma
situação crítica. Quando tivermos a
pandemia controlada, uma das gran-
des crises que vamos enfrentar é na
saúde em geral e na saúde mental. O
Estado tem de ter um programa para
isto, não chega fazer produção adicio-
nal. Para estes doentes, os tempos
máximos de resposta não existem.
Muitos destes doentes não têm rosto
nem nome [para o sistema] porque
não entraram nas listas de espera”,
aÆrma Miguel Guimarães.
“Não percebo esta inacção do
Ministério da Saúde, porque não
liberta os cuidados de saúde primá-
rios. Os médicos de família foram
destacados para apoiar lares, fazer
Trace Covid”, reforça, lembrando
quebras importantes nos pedidos de
primeiras consultas que permitem
desencadear processos de diagnósti-
co e tratamentos mais complexos.
Há ainda um número que exige
atenção. A diminuição de cerca de
1,7 milhões de episódios de urgência
que reÇectem uma redução dos
doentes triados com pulseiras ama-
relas (menos 31%), laranjas (menos
24%) e verdes (menos 30%). “As prio-
ridades amarela e a laranja nitida-
mente são situações urgentes. Temos
estas pessoas não terem medo de ir
à urgência.”
dade de cirurgia em ambulatório, na
unidade de Tondela”, disse fonte do
gabinete de comunicação, acrescen-
tando que estão actualmente inter-
nadas 108 pessoas com covid-19, das
quais 88 em enfermaria e 20 em UCI.
“Nos últimos dias já foram encerra-
das três ‘enfermarias covid’ no CHTV
e, se a tendência se mantiver, deverá
ser encerrada mais uma nos próxi-
mos dias.”
O Centro Hospitalar e Universitário
do Algarve — do qual fazem parte os
hospitais de Faro, Portimão e Lagos
—, retomou esta semana a actividade
cirúrgica programada e voltou a ter
todos os blocos operatórios a funcio-
nar. A presidente do conselho de
administração do Hospital do Espíri-
to Santo de Évora, Maria Filomena
Mendes, esclarece que o hospital não
cancelou nem suspendeu “cirurgias,
consultas ou exames emergentes/
urgentes, nem prioritários”, encon-
trando-se a retomar a restante activi-
dade assistencial “gradualmente”.
16 • Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021
Sociedade
Advogado quer anular perícias a telemóveis
e computadores no caso do juiz Rui Rangel
Ana Henriques
Defesa de um dos arguidos
no Lex alega que nove
funcionários da PJ não
estavam habilitados a
realizar estas tarefas
O advogado de um dos arguidos da
Operação Lex está a tentar deitar abai-
xo parte da investigação realizada
pela Polícia Judiciária alegando que
nove dos funcionários desta polícia
que realizaram perícias a telemóveis
e computadores não estavam numa
categoria proÆssional que os habili-
tasse a fazê-lo. “É como se fossem
enfermeiros a fazer peritagens médi-
co-legais, apesar de elas só competi-
rem aos médicos”, compara o advo-
gado Paulo Graça, que defende um
funcionário judicial acusado de ter
sido cúmplice do principal arguido do
processo, o juiz Rui Rangel. “Porque
ninguém tem dúvidas de que só um
médico pode fazer uma autópsia.”
O defensor pediu por isso à juíza de
instrução criminal que tem o proces-
so em mãos no Supremo Tribunal de
Justiça para anular estas provas — o
que, a acontecer, implicaria a perda
de muito material probatório (men-
sagens de telemóvel e de correio elec-
trónico) incriminador, não só deste
arguido como de vários outros,
incluindo Rui Rangel. “Isto pode ter
um efeito de contágio, comprometen-
do seriamente todo o processo”,
declara Paulo Graça.
Na Judiciária, contudo, o expedien-
te do advogado é visto como pouco
credível e votado ao insucesso. E se a
direcção desta polícia se limita a dizer
que apresentará as suas razões quan-
do e se vier a ser confrontada com
esta questão pelo Supremo Tribunal
de Justiça, já um dos dirigentes sindi-
cais da corporação, João Fonseca, que
representa os peritos forenses, aÆrma
taxativamente que a realização de
perícias não está vedada a nenhuma
categoria funcional da Polícia Judiciá-
ria. O que conta, sublinha, são a for-
mação e a experiência de quem leva
a cabo estas tarefas. “O advogado está
no direito de pedir uma contraperí-
cia. Mas não pode contestar aquela
que foi feita com base na categoria
proÆssional do funcionário.” E diz
mais: que o Ministério Público, que
dirige os inquéritos judiciais, pode
aceitar como perito em determinada
matéria qualquer pessoa que entenda
estar habilitada para o efeito, inde-
pendentemente da sua categoria pro-
Æssional.
Parte destes funcionários — não se
trata de inspectores — trabalham na
ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA
Unidade de Telecomunicações e
Informática da Judiciária. Mas têm a
categoria de especialistas adjuntos.
No entender de Paulo Graça, só a
categoria de especialistas superiores
lhes daria autonomia proÆssional suÆ#
ciente para procederem, sem super-
visão, e nos termos da lei orgânica da
Judiciária, à extracção de dados dos
equipamentos electrónicos.
“Essa lei orgânica já não está
sequer em vigor”, contrapõe o diri-
gente sindical dos peritos forenses,
muito embora admita que questões
burocráticas têm impedido estes
especialistas de transitar para as
novas categorias proÆssionais que
surgiram com a publicação, em 2019,
do estatuto proÆssional do pessoal
da Polícia Judiciária.
O advogado que quer deitar abaixo
a Operação Lex representa o oÆcial de
justiça Octávio Correia, acusado de
corrupção passiva, abuso de poder e
fraude Æscal. É visto pelo Ministério
Público como muito próximo de Rui
Rangel, com quem trabalhava no Tri-
bunal da Relação de Lisboa, ao ponto
de ter ajudado, com a sua mulher, a
esconder o dinheiro ganho pelo juiz
em vários negócios que este não
podia ter por estar obrigado, enquan-
to magistrado, à exclusividade.
Pelas contas bancárias do funcio-
nário e da mulher, empregada de
balcão de proÆssão, passaram eleva-
das somas de dinheiro. A acusação
assaca-lhes também uma ou outra
despesa sumptuária, como a compra
de um relógio Rolex por 5500 euros.
Delegado da Liga durante as épocas
2009/10 e 2010/11, Octávio Correia
era também amigo do empresário
José Veiga, a quem terá fornecido, tal
como a outras pessoas, informações
sobre processos judiciais em que elas
estavam envolvidas ou interessadas.
Recebia certas contrapartidas por
isso: “Disponibilizando informações
sobre o estado de processos judiciais,
solicitava bilhetes para jogos do SLB,
nomeadamente em situações em que
os ingressos se encontravam esgota-
dos”, refere a acusação.
Depois de muitos anos a viver uma
vida faustosa que o seu salário de juiz
não lhe permitia — e que incluía por
exemplo o pagamento de rendas de
casa que chegaram a ser da ordem
dos 3500 euros mensais — Rui Rangel
diz-se agora sem dinheiro, tendo
pedido à Segurança Social a isenção
do pagamento das taxas de justiça e
demais encargos neste processo em
que é arguido. Como Æcou sem salário
por ter sido expulso da magistratura
e a Segurança Social não lhe conhece
outros rendimentos, aprovou-lhe o
Em causa está muita matéria probatória do caso em que o juiz Rui Rangel é arguido pedido no passado dia 21 de Janeiro.
 Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021 • 17

Sociedade

Tribunal recua e considera constitucional

criminalizar lenocínio sem coacção
Ana Cristina Pereira
Constitucional alega risco
elevado de exploração para
sustentar que criminalizar
cabe dentro da lei
fundamental
O Tribunal Constitucional revogou
uma decisão inédita tomada no ano
passado por uma das suas secções:
aÆnal, dentro do respeito pela lei fun-
damental, pode criminalizar-se
“quem, proÆssionalmente ou com
intenção lucrativa, fomentar, favore-
cer ou facilitar” a prostituição de
adultos que agem de livre vontade.
Tal como está redigido o número 1
do Artigo 169.º do Código Penal, nem
é preciso haver exploração de situa-
ção e vulnerabilidade. Como já escla-
receu a jurisprudência, o lenocínio
simples abarca “casos de exercício de
prostituição por ‘pessoa autodetermi-
nada’”. Aqui reside a controvérsia:
para ser constitucional, tem de haver
perigo concreto de lesão da liberdade
sexual ou basta um perigo abstracto?
Ao longo de 16 anos, o tribunal foi
aÆrmando a conformidade da norma
com a Constituição (2004, 2006,
A criminalização do lenocínio tem sido alvo de muita controvérsia
2007, 2010, 2011, 2012, 2014, 2016,
2017, 2018, 2020), embora sem una-
nimidade. No ano passado, pela pri-
meira vez, saiu da terceira secção
uma decisão em sentido contrário.
Este recurso para o plenário destina-
va-se, “precisamente, a superar a
divergência”.
O acórdão de 2004 tem servido de
base a sucessivas deliberações. Nele
o colectivo reconhece “que a prosti-
PAULO PIMENTA
tuição possa ser, num certo sentido,
uma expressão da livre disponibilida-
de da sexualidade individual”. Defen-
de, todavia, “que o aproveitamento
económico por terceiros não deixa de
poder exprimir já uma interferência,
que comporta riscos intoleráveis,
dados os contextos sociais da prosti-
tuição, na autonomia e liberdade do
agente que se prostitui (colocando-o
em perigo)”. Diversos conselheiros
procuraram rebater essa posição,
votando vencidos.
Em 2020, surgiu o primeiro acór-
dão em sentido contrário, que enca-
rou o crime como desproporcional.
Embora não vede a prostituição, o
lenocínio simples limita “as condi-
ções em que a mesma pode ser des-
envolvida, designadamente a possi-
bilidade de associação de quem se
prostitui a uma pessoa ou organiza-
ção de pessoas que fomente, facilite
ou favoreça essa prática”. Veja-se o
exemplo dos proprietários de aloja-
mento no qual se pratica prostituição.
Tanto pode estar a “facilitar, fomen-
tar ou favorecer a prostituição de uma
pessoa que se encontre numa situa-
ção de vulnerabilidade como a de
uma pessoa que tenha decidido pros-
tituir-se, por exemplo por ver nisso
um modo de obter um nível mais
satisfatório de rendimento Ænancei-
ro”. E “não poderá também dar-se
como adquirido ou sequer como
signiÆcativamente mais provável, a
partir do carácter proÆssional e/ou da
intenção lucrativa do/a dono/a da
pensão, que a sua acção tenha carác-
ter exploratório, desde logo quando
o valor cobrado for um valor normal,
idêntico ao que é cobrado a qualquer
cliente”. Questiona-se até “a necessi-
dade de recurso à via da criminaliza-
ção”. Isto por comparação com
“outras medidas aptas a alcançar o
mesmo objectivo com menor restri-
ção de direitos fundamentais, desi-
gnadamente a pura descriminaliza-
ção do lenocínio e a regulamentação
da prostituição”.
Na decisão agora tomada, insiste-se
que “a intervenção penal assenta
numa perspectiva fundada de que as
situações de prostituição, relativa-
mente às quais existe promoção e
aproveitamento económico por ter-
ceiros, comportam um risco elevado
e não aceitável de exploração de uma
situação de carência e desprotecção
social, interferindo com — colocando
em perigo — a autonomia e liberdade
do agente que se prostitui”. Ainda
assim, o legislador tem liberdade de
alterar a lei: “Decidir se o risco impli-
cado para a autonomia do agente que
se prostitui deve ser considerado
como um perigo a prevenir pela via
da incriminação da exploração pro-
Æssional ou com Æns lucrativos da
pessoa que se prostitui é […] uma
opção que cabe dentro do poder de
deÆnição da política criminal que
pertence ao legislador.”

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Manuel Sobrinho Simões será

director por um dia do PÚBLICO
Andrea Cunha Freitas
O médico e cientista Manuel Sobrinho
Simões diz “não sei” com a maior sim-
plicidade e sinceridade e sem um
pingo de vergonha. Na mais recente
entrevista que deu ao PÚBLICO, hou-
ve mesmo quem tivesse contado as
vezes que o “consagrado” patologista
respondeu às perguntas com um
desarmante “não sei”. Foram 19,
escreveu António Guerreiro, na sua
crónica no Ìpsilon. Conta quem lá
esteve que terão sido até mais. Foi
nessa entrevista que também disse:
“Interessa-me saber coisas para con-
tar aos outros, como vocês, jornalis-
tas.” Estava feito o desaÆo. Em tempos
de tanta incerteza e porque temos em
comum o gosto de saber coisas para
contar aos outros, o PÚBLICO esco-
lheu Sobrinho Simões para ser “direc-
tor por um dia”, no 31.º aniversário
que se celebra no dia 5 de Março.
Manuel Sobrinho Simões é capaz
de achar “muita graça” (uma expres-
são que usa quase tanto como o “não
sei”) ao facto de o PÚBLICO e o Insti-
tuto de Patologia e Imunologia Mole-
cular da Universidade do Porto (Ipa-
timup), do qual é fundador, comple-
tarem 31 anos na mesma altura.
Arriscamos dizer que é o cientista
português mais (re)conhecido em
Portugal nos dias de hoje: recebeu o
Prémio Pessoa (em 2002) e foi nomea-
do o “patologista mais inÇuente do
mundo” pela revista britânica The
Pathologist em 2015. Sobrinho Simões
é mais do que um médico que nunca
quis exercer medicina (sempre disse
que gosta mais de estudar doenças do
que ver doentes), é mais do que um
patologista e até mais do que o pro-
fessor que “vive do sucesso dos tipos
que ensinou”. É mais do que o Ælho,
pai e avô, papéis que lhe foram dando
a noção cada vez mais nítida da sua
Sobrinho Simões
é fundador do
Instituto de Pato-
logia e Imunologia
Molecular da
Universidade
do Porto
mortalidade. É o homem que gosta
de conversar, que encontra defeitos
em si que praticamente ninguém
reconhece, que acha que é chato, que
assume que guia mal, que gosta de ler,
que não gosta de mudar e que teimo-
samente se recusa a usar telemóvel.
Há pouco tempo, o PÚBLICO foi
encontrar Manuel Sobrinho Simões
no lugar de sempre: na sala do I3S a
trabalhar. A mesa cheia de papéis,
umas lâminas a chegar de França para
analisar e alguma inquietação e triste-
za a travar-lhe o riso e até o sorriso.
Desta vez, assumiu estar angustiado
por sentir os anos de vida que a pan-
demia lhe roubou. A conversa séria
tinha pouca graça, mas toda a sabedo-
ria. Sobrinho Simões mostra-nos como
aquilo que não sabemos nos empurra
todos os dias para novas hipóteses e
mais e melhor conhecimento. É o
“não sei” que não hesita em assumir
que nos aproxima dele. E é a vontade
de saber coisas para contar aos outros
que o aproxima do que queremos
fazer no PÚBLICO. Conjugar tudo isto
agora faz todo o sentido.
AVISO
1. Nos termos e para os efeitos previstos no n.º 2 do artigo 47.º da Lei n.º 19/2012,
de 8 de maio, torna-se público que a Autoridade da Concorrência recebeu, em
2021-02-15, uma notificação de uma operação de concentração de empresas,
apresentada ao abrigo do disposto no artigo 37.º do referido diploma.
2. A operação de concentração em causa consiste na aquisição, pela Aire
Networks del Mediterraneo, S.L. (“Aire Networks”), do controlo exclusivo sobre
a AR Telecom – Acessos e Redes de Telecomunicações, S.A. (“AR Telecom”).
3. As atividades das empresas envolvidas são as seguintes:
• Aire Networks: operador de telecomunicações grossista ativo em Espanha
que fornece soluções wholesale de conectividade, voz, audiovisuais e
serviços de cloud e datacenter. É detida pela Magnum Capital II (SCA) SICAR,
que integra o grupo Magnum Capital Industrial Partners, ativo em Portugal
nos setores industrial, têxtil, da produção de equipamento médico e agrícola,
e pela European IO-N Investment Group, S.L., que presta, sobretudo em
Espanha, serviços de hosting e housing de websites e respetiva manutenção,
bem com serviços retalhistas de telecomunicações, não tendo atividade em
Portugal.
• AR Telecom: operador de telecomunicações e prestador de serviços de
comunicações e tecnologias de informação (“IT”) ativo em Portugal, que
fornece soluções integradas de voz, conectividade de dados, cloud e serviços
de IT, focando-se principalmente nos segmentos empresarial e wholesale.
4. Quaisquer observações sobre a operação de concentração em causa devem
identificar o interessado e indicar o respetivo endereço postal, e-mail, n.º de
telefone e fax. Se aplicável, as observações devem ser acompanhadas de
uma versão não confidencial, bem como da undamentação do seu caráter
confidencial, sob pena de serem tornadas públicas.
5. As observações devem ser remetidas à Autoridade da Concorrência, no
prazo de 10 dias úteis contados da publicação do presente Aviso, indicando
a referência Ccent. n.º 14/2021 – Aire Networks / AR Telecom, através do
seguinte e-mail: adc@concorrencia.pt.
18 • Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021

Local Alvará é válido desde a década de 1990 e obra avançará

Está a nascer uma minicidade feita

de torres dentro de Leça da Palmeira
Na viragem do século, após contestação, as duas torres Entre-Quintas (21 pisos) foram construídas nos
terrenos da Facar. Vinte anos depois serão construídas pelo menos quatro torres com mais de 20 andares
DR

André Borges Vieira

Pelo menos mais quatro torres com
mais de 20 andares vão ser construí-
das em Leça da Palmeira, no quartei-
rão que se estende entre as Ruas de
Entrequintas, Vila Franca, Camposi-
nhos e Óscar da Silva. Já lá existem
duas, as Entre-Quintas, com 21 anda-
res cada uma, que no início de 2000
foram alvo de contestação política
por parte da autarquia socialista — na
viragem do século, a câmara insurgiu-
se contra o volume da construção,
mas foi obrigada a cumprir o alvará
de loteamento emitido em 1992. A
próxima a furar os céus, assente em
terrenos da antiga empresa metalúr-
gica Facar, é a Flower Tower, que
começará a ser construída em Março.
Vinte anos depois, a autarquia volta
a dizer que o alvará é para cumprir. A
única forma de reverter o alvará seria
através da aquisição dos terrenos.
Ao todo, nos próximos anos serão
pelo menos seis as torres construídas
naqueles terrenos. Esta próxima
empreitada será realizada pela Nexity,
que já tem outro pedido na câmara
em vias de ser licenciado para o lote
1 para construção de outra torre com
21 pisos. A promotora proprietária de
oito lotes tem programada a constru-
ção de mais um edifício com a mesma
cércea para o lote 15, cujo pedido de
licenciamento ainda não foi emitido.
Para o lote 6, também ainda por licen-
ciar, prevê-se a construção de um
prédio de dez andares. Os restantes
lotes ainda não têm projecto deÆnido,
aÆrma ao PÚBLICO Fernando Vasco Projecto da Flower Tower, que começará a ser construída em Março
Costa, director-geral da Nexity Portu-
gal, que adianta saber da construção Ao Æm de duas décadas, com PDM sido concretizadas e integradas no ção, mas não sem custos para o muni-
de pelo menos mais uma torre acima
A antiga unidade revisto em 2019, a autarquia agora domínio público municipal as obras cípio. Para impedir a ediÆcabilidade
dos vinte andares nos mesmos terre- metalúrgica Facar liderada por Luísa Salgueiro, aÆrma de urbanização, e constituídos os res- prevista seria necessária a “aquisição
nos por parte de outra promotora.
Vinte anos depois, continua o pla-
Äcou autorizada ao PÚBLICO ter de continuar a cum-
prir o alvará de loteamento. Porém,
pectivos lotes para ediÆcação. O lotea-
mento em causa está válido”, adianta
dos terrenos pelo valor correspon-
dente a esse direito adquirido de
no de construção de uma minicidade para todo o diz a alínea g) do artigo 77.º, n.º 1 do a câmara, acrescentando que a alínea construção”.
feita em altura dentro de Leça da Pal- Decreto-Lei n.º 555/99, relativamen- invocada foi introduzida pelo DL Em Maio de 2000 calculava-se que
meira, como já tinha sido anunciado
sempre a construir te à caducidade dos alvarás, o seguin- 136/2014, de 9 de Setembro, o que as ediÆcações nos lotes da antiga
no início de 2000, quando teve início 225 mil metros te: “Prazo máximo para a conclusão signiÆca “que os alvarás anteriores a Facar iam chamar para aquela zona
a empreitada das torres Entre-Quin- das operações de ediÆcação previstas este diploma legal não continham, mais cerca de sete mil novos habitan-
tas, numa freguesia de Matosinhos
quadrados acima na operação de loteamento, o qual nas suas especiÆcações, esta causa de tes. Actualmente, de acordo com a
sem tradição de edifícios com cércea do solo deve observar o prazo previsto no caducidade”. Por isso, adianta, “a tais autarquia, está prevista a construção
semelhante. instrumento de programação da exe- alvarás de loteamento não se aplica de mais quatro edifícios. Dois, com
À data, era Manuel Seabra (1962- relativamente ao volume da constru- cução do plano territorial de âmbito esta particular causa de caducidade. “22 pisos acima do solo”, já estão
2014) presidente da câmara, após ter ção e explicava que, tendo sido o municipal ou intermunicipal aplicá- É o caso do alvará em apreço, que é aprovados, e outros dois, de “21 e 22
substituído Narciso Miranda que alvará número 533/92 emitido antes vel e não pode ser superior a dez de 1992”. pisos”, estão por aprovar. Ao todo,
seguiu para Lisboa para ser secretário de estar concluído e publicado o Pla- anos.” Questionada se esta alínea De acordo com a autarquia, o regis- em conjunto com os dois edifícios
de Estado da Administração Marítima no Director Municipal (PDM) de Mato- pode ser aplicada neste caso, a autar- to dos lotes na Conservatória do Entre-Quintas (21 pisos cada), existi-
e Portuária do Governo liderado por sinhos, a antiga unidade metalúrgica quia aÆrma não ser aplicável. Registo Predial com as prescrições do rão nos próximos tempos nos mes-
António Guterres. Nessa altura, o ex- Facar Æcou autorizada para todo o “A área urbana em apreço foi objec- alvará, “tornam perene o direito de mos terrenos pelo menos seis torres
autarca socialista demonstrou ao sempre a construir 225 mil metros to de uma operação de loteamento ediÆcabilidade de cada lote”. Porém, acima dos 20 andares, mais outros
PÚBLICO o seu descontentamento quadrados acima do solo. com alvará emitido em 1992, tendo existe uma forma de reverter a situa- prédios de cércea menor.

Câmara do Porto vai distinguir
os melhores alojamentos turísticos
Maria Monteiro
“Confiança Porto” quer
reconhecer os locais com
melhor segurança, limpeza,
higiene, acessibilidade
e acolhimento
Nos últimos anos, o Porto assistiu a
um crescimento sem precedentes no
turismo e em todas as actividades
relacionadas com o sector, como
comércio, hotelaria e restauração.
Em Março de 2020, esta prosperidade
sofreu uma travagem brusca com o
início da pandemia de covid-19. Ten-
do em conta a “necessidade de pre-
parar o Porto para as exigências da
procura turística, num futuro que se
espera próximo, e de maneira a man-
ter e assegurar os padrões de qualida-
de, respeitando sempre a sustentabi-
lidade económica, social e ambiental
da cidade”, a Câmara Municipal do
Porto (CMP) vai deliberar, na reunião
camarária de segunda-feira, a apro-
vação do programa “ConÆança Por-
to”, que visa distinguir os melhores
estabelecimentos de alojamento
turístico na cidade e que cumpram
com rigor e excelência critérios de
segurança, limpeza, higiene, acessi-
bilidade e acolhimento.
A proposta é assinada por Ricardo
Valente, vereador com os pelouros de
Economia, Turismo e Comércio, e vai
destacar “estabelecimentos de aloja-
mento turístico (alojamentos locais e
empreendimentos turísticos) em fun-
Salvou uma raposa e ganhou companhia diária
ao jantar numa aldeia de Bragança
Um habitante de uma aldeia de Bra-
gança ganhou uma companhia para
jantar depois de ter salvado uma
raposa que, agora, o visita todos os
dias em casa para comer e regressa à
vida selvagem depois do repasto.
Fernando Almeida tem partilhado
fotos e vídeos nas redes sociais desta
inesperada relação com o animal sel-
vagem, que já lhe entra literalmente
em casa, lhe come da mão e até par-
tilha o comedouro com outros ani-
mais domésticos, como dois gatos.
Fernando vive junto à estrada na
aldeia de Oleiros, perto de Bragança,
e contou à Lusa que a história desta
relação começou em Novembro,
quando ia a conduzir e viu uma rapo-
sa prostrada na estrada.
cionamento no concelho do Porto”
que apresentem “um conjunto de
boas práticas e iniciativas ao nível do
acolhimento, da limpeza, dos equipa-
mentos, das infra-estruturas, da
manutenção, do ambiente e da segu-
rança”, lê-se no documento consul-
tado pelo PÚBLICO. Adicionalmente,
serão considerados para este “selo”
de conÆança os estabelecimentos que
“promovam o desenvolvimento turís-
tico na cidade do Porto, particular-
mente ao nível dos pilares social,
ambiental e económica da sustenta-
bilidade”.
Os estabelecimentos que queiram
candidatar-se ao programa de reco-
nhecimento municipal deverão apre-
sentar o pedido no Balcão de Atendi-
O título terá uma validade de três anos
DesconÆa que “deve ter levado
alguma pancada de algum carro, por-
que não tinha ferimentos visíveis,
devia estar maçada”. Levou-a para
casa e deu-lhe de comer “durante
quatro ou cinco dias, até que Æcou
boa e foi-se embora”.
“De repente, desapareceu para aí
uns 15 dias”, contou, até que, numa
noite, Fernando Almeida estava a
ver um Ælme na cozinha e apanhou
um susto ao ver um vulto na janela
onde costuma pôr comida para os
gatos. AÆnal, era a raposa que tinha
regressado e, “a partir daí, volta
todos os dias à hora de jantar e não
se vai embora” até Fernando lhe dar
de comer. “Parece que conhece o
barulho da carrinha — quando che-
Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021 • 19
mento Virtual da CMP. Na plataforma
poderão solicitar a visita técnica “que
irá veriÆcar, in loco, o cumprimento
de um conjunto de requisitos que
validem a excelência do serviço pres-
[Será feita uma tado”. Esse trabalho será levado a
cabo por uma equipa técnica designa-
visita técnica] que da para o efeito pelo vereador com o
irá veriÄcar, in loco, pelouro do Turismo. Depois de veri-
Æcado o cumprimento dos requisitos
o cumprimento deÆnidos, cada alojamento será ava-
dos requisitos que liado com um valor percentual, sendo
validem a que aqueles que conseguirem um
resultado igual ou superior a 85%
excelência do “serão propostos a deliberação da
câmara municipal”. Uma vez aprova-
serviço prestado
Câmara do Porto
do, o título é válido por um período
de três anos e pode ser mostrado,
PAULO PIMENTA
Æsicamente, “em local visível ao públi-
co” e nas “ferramentas de comunica-
ção [online e físicas] e divulgação do
estabelecimento de alojamento”.
A iniciativa da autarquia integra,
ainda, um programa de formação
técnica que será disponibilizado a
“todas as entidades de AL que, não
tendo estes requisitos implementados
no seu modelo de negócio, preten-
dam adoptar, implementar e conso-
lidar boas práticas e iniciativas de
excelência”.
A proposta da maioria sublinha a
“importância que o alojamento tem
para a economia da cidade”, nomea-
damente pela forma como “contri-
buiu para o [seu] desenvolvimento,
particularmente no que se refere à
requaliÆcação urbana”. Em 2019, o
AL representava metade do total de
dormidas registadas na cidade.
go, aparece ela”, enfatizou, em rela- Fernando contou à Lusa que pas-
ção à pontualidade do animal quan- sou a comprar carne propositada-
do regressa a casa depois do dia de mente ou recolhe as chamadas “apa-
trabalho. ras” dos talhos para a raposa. “Ela é
A raposa come, “está por ali e maluquinha por frango”, diz.
depois desaparece até ao outro dia”. Fernando observa também o com-
A proximidade entre ambos permite portamento da raposa, que come no
até que o animal coma da mão deste local onde lhe põe a comida, mas
homem, que já levou uma mordidela também apanha e “leva na boca qua-
desculpada pela voracidade com que tro ou cinco pedaços, vai não se sabe
a raposa se atira ao alimento. para onde e volta para continuar a
comer”. Até pode ser “um raposo”,
Fernando mas Fernando baptizou-a Linda e
Almeida avistou garante que, quando a chama, ela
uma raposa na responde. E, da mesma forma que
estrada e levou-a aparece, desaparece para o monte até
para casa. Agora,
Linda regressa
à hora de jantar que se segue, pois,
todos os dias como vincou Fernando, “ela é selva-
gem, não está presa”.
Local
De Janeiro para Fevereiro,
houve menos 47% de utentes
Com menos
procura, STCP
reduz oferta
de autocarros
Ricardo Jesus Silva
A Sociedade de Transportes Colecti-
vos do Porto (STCP) anunciou alte-
rações nos horários dos seus auto-
carros a partir de segunda-feira, dia
22 de Fevereiro. A oferta vai ser dimi-
nuída em cerca de 19% nos dias úteis
devido à “renovação do estado de
emergência até dia 1 de Março, a con-
tinuidade do conÆnamento geral e
do teletrabalho, bem como a perma-
nência dos estabelecimentos de ensi-
no encerrados”, que diminui a popu-
lação com necessidade de transpor-
te, diz a empresa em comunicado.
Das 58 linhas disponíveis, 33 não
vão sofrer qualquer alteração nos
seus horários, continuando a operar
com a frequência actual. No entan-
to, as linhas 704 e 907 vão ter um
aumento da oferta, pois apresentam
pontualmente autocarros próximos
do limite de lotação
Já as linhas 206 e 304 vão passar
a funcionar de acordo com o horá-
rio de domingo. A linha 508 man-
tém os horários de “Verão/Agosto”,
mas é-lhe retirada a variante de
Esposade, e 20 linhas vão adoptar
o horário de sábado — 200, 205, 207,
300, 301, 305, 400, 401, 402, 403,
503, 506, 600, 601, 805, 900, 901,
902, 904 e 906.
Apesar disto, a empresa garante
que as alterações “foram desenha-
das tendo em conta os dois terços
da lotação máxima permitida por
veículo”. A STCP compromete-se,
ainda, a fazer “uma monitorização
constante da operação”.
No início de Janeiro, viajavam, em
média, 176 mil passageiros por dia
na frota de autocarros da STCP. Já
em Fevereiro, este número dimi-
nuiu para 94 mil, o que representa
uma descida de cerca de 47%.
20 • Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021
Mundo O futuro da relação transatlântica
Biden e a
Europa:
a ordem dos
telefonemas
não é arbitrária
O Presidente dos EUA usará hoje a
Conferência de Segurança de Munique
para dizer o que espera da Europa e o
que os europeus podem esperar dele
Teresa de Sousa
Joe Biden não podia ter sido mais cla-
ro nas suas intervenções sobre políti-
ca externa, antes e depois da tomada
de posse, a 20 de Janeiro. A aliança
transatlântica é “sagrada”. Depois de
quatro anos em que foi posta em cau-
sa todos os dias por Donald Trump, o
risco de uma ruptura parece afastado.
Hoje, o Presidente americano utiliza-
rá a sua primeira oportunidade para
se dirigir directamente aos aliados
europeus e dizer-lhes o que espera
deles e o que podem esperar da Amé-
rica. Será durante a Conferência de
Segurança de Munique, uma realiza-
ção anual que reúne o Ocidente em
torno das questões de segurança e
defesa, mas que, por causa da pande-
mia, viu a sua agenda muito reduzida.
A oportunidade de ouvir Biden será
o objectivo principal, com o devido
contraponto europeu. Angela Merkel
e Emmanuel Macron vão também
usar da palavra. António Guterres e
Bill Gates completam o painel de ora-
dores.
A operação de charme da nova
administração americana junto dos
aliados europeus começou na quarta-
feira, com a presença de Lloyd Austin,
o novo chefe do Pentágono, na reu-
nião dos ministros da Defesa da NATO
por videoconferência. Mas o relança-
mento da relação transatlântica já
conta como uma longa lista de inicia-
tivas do Presidente americano que
deviam tranquilizar os seus parceiros
europeus. Os EUA regressaram aos
Acordos de Paris sobre as alterações
climáticas, bem como à Organização
Mundial de Saúde, e congelaram a
ordem de Trump para a retirada de
parte do contingente americano na
Alemanha. Biden anunciou mais duas
ou três coisas que deveriam ser sau-
dadas na Europa — o Æm de qualquer
apoio americano à ofensiva da Arábia
Saudita no Iémen ou a suspensão de
parte dos contratos de venda de
armamento assinados por Trump
com Riad. Se os aliados europeus
insistem na importância de um “mul-
tilateralismo activo”, já têm não ape-
nas em palavras, mas também em
actos, o regresso da América às orga-
nizações em que assenta o sistema
internacional multilateral.
No seu primeiro discurso sobre
política externa, feito a 4 de Feverei-
ro no Departamento de Estado,
Biden retomou a linha de continui-
dade das relações da América com o
mundo desde a II Guerra, voltando a
colocar as alianças, os direitos huma-
nos e o multilateralismo no centro
dessas relações. “As linhas de orien-
tação da política externa do Presi-
dente Biden serão democracia, alia-
dos e multilateralismo, mas também
alterações climáticas, inovação eco-
nómica e tecnológica, sociedades
abertas e uma estratégia prudente de
defesa e de dissuasão”, escreve
Robert Zoellick, que trabalhou para
a administração Bush (Ælho), no
Financial Times.
Joe Biden, que tem quase 40 anos
de experiência no campo da política
externa no Congresso e nos oito anos
de Obama, que percorreu o mundo
e já se encontrou com toda a gente
que conta, não possui certamente
um único átomo de ingenuidade. É,
sem dúvida o mais atlantista dos Pre-
sidentes americanos das últimas
décadas. Mas sabe que vai ter de con-
vencer pacientemente os aliados
europeus de que podem voltar a con-
Æar na América e que é do seu inte-
resse fazê-lo, tanto como é do inte-
resse americano.
Essa vasta experiência talvez tenha
ditado a ordem dos seus telefonemas
aos líderes mundiais, a partir do dia
em que tomou posse. Para além de
Justin Trudeau e de López Obrador
— o Canadá e o México são os dois
únicos vizinhos dos EUA —, telefonou
aos principais aliados europeus por
uma ordem que não foi certamente
arbitrária.
As linhas de Ainda durante a campanha, deixou
claro que não haveria um acordo de
orientação da comércio com o Reino Unido, se não
política externa do houvesse primeiro um acordo com
Bruxelas. No entanto, Boris Johnson
Presidente Biden foi o primeiro líder europeu a quem
serão democracia, telefonou, no dia 23 de Janeiro. Por-
quê? Porque, no fundo, sabe que
aliados e poderá contar com o Reino Unido em
multilateralismo, algumas “frentes de batalha” que con-
sidera fundamentais: a China, a Rús-
mas também sia, o reforço e a coesão da Aliança
alterações Atlântica. No relato da Casa Branca,
o Presidente “transmitiu a sua inten-
climáticas, ção de fortalecer a special relationship
inovação e revitalizar os laços transatlânticos”,
com particular destaque para o
económica “papel decisivo da NATO”. O Presi-
e tecnológica, dente conÆrmou ainda a sua presen-
ça na reunião do G7 em Londres, em
sociedades abertas Junho, e na Conferência da ONU para
g
e uma estratégia o clima, em Novembro, na cidade de
Glasgow. Vale a pena lembrar que, até
Glasgo
prudente de agora, só o Reino Unido, Canadá e
agora
defesa e de Estad
Estados Unidos bloquearam as
imp
importações chinesas que explo-
dissuasão rram o trabalho forçado dos
Robert Zoellick u
uigures de Xinjiang. É apenas
Ex-presidente um exemplo. Hoje, o debate
do Banco Mundial britânico é sobre a oportuni-
dade que Biden oferece ao seu país
para redeÆnir o seu papel no mundo,
depois do “Brexit”.
O segundo telefonema no dia
seguinte (mais exactamente, o tercei-
ro, se contarmos com Dublin, a cujo
primeiro-ministro Biden recordou as
ligações pessoais e culturais e prome-
teu a defesa dos Acordos de Sexta-fei-
ra Santa), foi para Emmanuel Macron.
A cooperação entre os dois países no
Sahel e no combate ao terrorismo
islâmico não sofreu qualquer sobres-
salto, mesmo nos anos de Trump. Na
imprensa francesa, há um debate
interessante sobre como o Presidente
francês pode ser um aliado privilegia-
do de Biden, mesmo sem abdicar da
sua ideia de “soberania estratégica”
da Europa ou precisamente por cau-
sa dela. No relato do telefonema feito
pela Casa Branca, Biden manifestou
o desejo “de reforçar os laços bilate-
rais com o nosso mais velho aliado”.
Macron reaÆrmou-lhe o seu total
empenho na NATO. Kamala Harris
telefonou a Macron esta semana para
lhe agradecer o seu combate pela
igualdade de género e a cooperação
da França na missão Perseverante da
NASA em Marte
Merkel foi a terceira líder europeia
a atender o telefone a Biden. Na
“ordem natural das coisas”, esta des-
cida na lista de precedências seria

LEAH MILLIS/REUTERS
Joe Biden está empenhado
em tentar recuperar as relações
com os seus aliados europeus,
que com Donald Trump se
deterioram bastante
4
No primeiro discurso sobre
política externa, a 4 de
Fevereiro, Biden retomou a linha
de continuidade das relações da
América com o mundo desde
a II Guerra Mundial
G7
Biden já confirmou a presença
na reunião do G7 em Londres,
em Junho, e na Conferência da
ONU para o clima, em
Novembro, em Glasgow
estranha. Biden tem o maior interes-
se em cultivar Berlim, mas não pode
deixar passar em claro os vários sinais
poucos amistosos da Alemanha em
relação à sua administração. Merkel
ignorou todos os sinais do Presidente
eleito sobre a pressa em assinar um
acordo de investimento com a China
no último dia útil da presidência ale-
mã da União e a 20 dias da sua toma-
da de posse em Washington. A con-
clusão do Nord Stream 2, que divide a
Europa ainda mais do que o acordo
com a China, é vista em Washington
como um erro estratégico de enor-
mes consequências, ao aumentar
drasticamente a dependência euro-
peia da Rússia para o seu abasteci-
mento energético, dando a Putin uma
“arma” que não hesitará em usar para
dividir os europeus. A desastrosa visi-
ta de Joseph Borrell a Moscovo foi a
derradeira prova de que a União,
enquanto tal, não tem uma estratégia
em relação à Rússia — nem, de resto,
em relação à China —, predominando
quase sempre o interesse alemão.
“A Alemanha não vai abandonar o
seu atlantismo nem a França o seu
gaullismo”, escreve Philip Stephens
no Financial Times. “Mas (…) se o Pre-
sidente americano está à procura de
um parceiro conÆável na Europa,
faria melhor em dirigir-se ao Palácio
do Eliseu do que à chancelaria de Ber-
lim.” “Tal como Biden, Macron pre-
cisa de aliados capazes de ir além do
idealismo retórico” e a França “dis-
põe da vontade política e, quando
necessário, das capacidades militares
para trabalhar com os EUA.”
Biden vai tentar encontrar um equi-
líbrio entre os três “grandes” euro-
peus para poder reconquistar a con-
Æança da Europa, encontrando os
melhores aliados em cada domínio
da sua política externa, mas vai tam-
bém dar os sinais necessários para
expressar o seu apoio à União Euro-
peia e à NATO, para cuja criação os
EUA foram decisivos.
Escrevia Robert Kagan no Wall
Street Journal que “grande parte dos
dramas do século passado resultou
de grandes potências cujas aspirações
excediam as suas capacidades”. E
continuava: “A América tem o proble-
ma contrário. A sua capacidade para
exercer o poder global ultrapassa a
percepção do seu lugar e do seu papel
no mundo”. O risco europeu, visto a
esta luz, parece simples: sobrestimar
as suas capacidades e subestimar as
capacidades dos Estados Unidos. A
tentação do neutralismo ou da “ter-
ceira via” entre a América e a China é
talvez o maior risco que pode correr
a médio prazo, se não conseguir apro-
veitar a mão que Biden agora lhe
estende. A ausência da América nos
anos de Trump teve como conse-
quência não uma maior unidade em
torno dos seus interesses comuns,
mas a tentação do cada um por si.
Também nesta perspectiva, Biden
pode vir a ser o melhor caminho para
a sua própria coesão interna — como
a América sempre foi.
Diplomacia
Washington e Berlim tentam tirar uma
pedra do seu sapato: o Nord Stream 2
Maria João Guimarães
Aliados abordam assunto
especialmente espinhoso
quando tentam o recomeço
de uma ligação fragilizada
por quatro anos de Trump
O enorme suspiro de alívio na Ale-
manha depois da derrota de Donald
Trump nas eleições presidenciais
nos EUA foi quase audível: “Final-
mente, podemos respirar”, diziam
vários comentadores. Mas avisavam
também que não ia haver um regres-
so ao passado pré-Trump. E que
Washington e Berlim iam ter de con-
frontar em breve um assunto espi-
nhoso: o Nord Stream 2.
A construção do gasoduto sob o
mar Báltico (que duplicaria a capa-
cidade do já existente Nord Stream)
foi suspensa por causa da ameaça de
sanções americanas às empresas
envolvidas — as primeiras foram apli-
cadas há um mês. Mas, no mês pas-
sado, os trabalhos para terminar o
gasoduto (só falta 6% do percurso)
recomeçaram. Há quem veja aqui
um sinal de pressa para o concluir o
mais depressa possível, para que não
seja alvo de uma decisão de um
Governo que saia das eleições de
Setembro na Alemanha.
Cada vez mais se põe, na imprensa
alemã, a hipótese de uma coligação
CDU-Verdes, a primeira a nível nacio-
nal, após as legislativas. Nas sonda-
gens, a CDU fortaleceu-se num claro
primeiro lugar e os Verdes têm-se
mantido num constante segundo (o
SPD está agora em terceiro, os nacio-
nalistas da AfD em quarto).
“O projecto Ænancia um regime
corrupto e é uma aposta contra os
objectivos climáticos da Europa”,
dizem os Verdes no seu site. O Gover-
no deve “parar a construção do Nord
Stream 2”.
O gasoduto voltou a entrar na dis-
cussão política alemã quando che-
gou a Berlim o opositor russo Alexei
Navalny, para ser tratado a um enve-
nenamento que tudo indica ter sido
levado a cabo pelos serviços de segu-
rança russos, e que por pouco não o
matou. Sanções à Rússia não têm
tido grande efeito porque não têm
afectado o sector energético. A sus-
pensão do Nord Stream 2 faria toda a
diferença.
Mas Angela Merkel, que visitou
Navalny quando esteve internado,
tem dito que “para já” não está
em discussão uma suspensão do
projecto, repetindo que se trata
de uma questão económica e não
política. O Nord Stream 2 custou cer-
Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021 • 21
ca de 9,5 mil milhões de euros.
O novo líder da CDU, Armin
Laschet, que poderá ser o candida-
to a chanceler do partido, alertou
então contra “decisões apressadas”
— Laschet é visto como simpatizan-
te do regime russo. Por outro lado,
a imprensa alemã levanta a possibi-
lidade de ser o bávaro Markus Söder
o candidato a chanceler. Sobre o
Nord Stream 2, disse que o caso
Navalny trazia consequências “nega-
tivas”, mas também que a decisão
não cabia ao Governo.
Os críticos, do Presidente america-
no Joe Biden ao Parlamento Europeu,
de Kiev a Varsóvia, e entre os alemães,
sublinham que a questão não é eco-
nómica, mas estratégica: permite à
Rússia levar mais gás directamente ao
mercado alemão, contornando as
vias que passam pela Ucrânia e Poló-
nia, podendo cortar o fornecimento
a estes quando quiser, sem impacto
para a Alemanha.
“Grande erro de cálculo”
O gasoduto “divide a Europa, expõe
a Europa, e a Europa central, a
manipulação russa, e vai contra os
objectivos estratégicos de energia e
segurança traçados pela própria
Europa”, disse um porta-voz do
Departamento de Estado dos EUA,
citado pelo Financial Times.
O Presidente Biden não mudou de
opinião em relação ao Nord Stream
2. Como vice-presidente de Barack
Obama, aÆrmou que era “um acor-
do mau para a Europa”.
O projecto
vai contra
os objectivos
climáticos da
Europa, dizem
os Verdes alemães
Os trabalhos para o Nord Stream 2 recomeçaram em Janeiro
O Financial Times antevê que Biden
preferiria não aplicar sanções a um
aliado próximo, e nota que o secre-
tário de Estado, Antony Blinken,
escreveu um livro em 1987 sobre um
caso semelhante, a imposição de san-
ções da Administração Reagan no
início dos anos 80 por causa de um
gasoduto da Sibéria para a Europa. A
conclusão de Blinken: era melhor
proteger a relação com o aliado do
que tentar inÇuenciar a sua relação
com Moscovo.
A expectativa em Berlim é que os
EUA queiram aprofundar com a Ale-
manha uma série de acções em áreas
importantes, do comércio às altera-
ções climáticas, da China ao Irão, e
não se centrarem já no Nord Stream
2. Isto é o que tem defendido, em
entrevista após entrevista, o coorde-
nador do Governo para a relação
transatlântica, Peter Beyer.
Mas para Biden não será fácil ir
contra a opinião dominante, e uma
das raras questões com apoio bipar-
tidário no país, sublinha o The Wall
Street Journal. O vice-presidente do
German Marschall Fund, Thomas
Kleine-Brockhoè, não acredita que
seja possível passar por cima do
assunto. O Nord Stream 2 “foi um
grande erro de cálculo estratégico da
parte da Alemanha”.
Os dois aliados estão agora a discu-
tir soluções criativas, de moratórias a
potenciais cortes automáticos de for-
necimento através deste gasoduto,
caso Moscovo tente pressionar a Ucrâ-
nia com cortes arbitrários no forneci-
mento, por exemplo. Todas as ideias
têm vantagens e diÆculdades.
Berlim aguarda com expectativa o
que se irá seguir, esperando ainda
que Biden possa fazer uma visita em
breve. Como disse Beyer ao diário
Saarbücker Zeitung, “depois de qua-
tro anos de Trump [que não visitou o
país] há na Alemanha um anseio por
uma visita destas”.
MAXIM SHEMETOV/REUTERS
22 • Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021
Mundo
Colapso da rede energética no Texas deixa
milhões ao frio e a ferver água da torneira
Alexandre Martins
Muitas pessoas tiveram de
procurar refúgio fora de
casa. O plano de vacinação
contra a covid-19
também foi afectado
O estado norte-americano do Texas,
sinónimo de calor, deserto e petróleo,
Æcou coberto de branco, nos últimos
dias, com uma camada de gelo e neve
empurrada desde o Pólo Norte até à
região conhecida como Cinturão do
Sol. A onda de frio extremo que varre
a América do Norte desde o Ænal da
semana passada abrange 70% do ter-
ritório dos EUA, mas em nenhum
outro sítio as consequências têm sido
tão dramáticas como no Texas.
Em poucos dias, o colapso da rede
de energia deixou milhões de famílias
sem aquecimento nem água, e as
autoridades tiveram de emitir um
aviso que poucos acreditariam ser
possível na economia mais rica do
mundo: na quarta-feira, pelo menos
sete milhões de pessoas nas regiões
de Houston e de Austin foram acon-
selhadas a ferver a pouca água que
ainda chegava às torneiras, e muitos
habitantes passaram a derreter neve
para usarem na casa de banho ou
para lavarem loiça.
“A partir de agora, a água só deve
ser usada para garantir a sobrevivên-
cia”, avisaram, no mesmo dia, as
autoridades de Kyle — uma cidade a
30 quilómetros de Austin. “Estamos
na iminência de Æcar sem forneci-
mento de água.”
Com a temperatura a descer aos 18
graus negativos em algumas zonas do
Texas na segunda-feira — o dobro dos
9 negativos em Anchorage, a maior
cidade do Alasca —, e com a neve a
chegar a 20 centímetros de altura, a
rede de energia não resistiu ao frio
extremo e pouco habitual na região,
e até o plano de vacinação contra a
covid-19 foi afectado. A falta de elec-
tricidade criou problemas nos siste-
mas de refrigeração, e o corte de
estradas tornou impossível a chegada
das vacinas ao ritmo planeado.
O frio da última semana causou
pelo menos 23 mortes no Texas e 38
em todo o país, e as autoridades
dizem que o balanço Ænal pode ser
muito pior. À medida que as tempe-
raturas forem subindo, é possível que
sejam encontradas mais vítimas soter-
radas na neve, ou mortas por intoxi-
cação com monóxido de carbono.
Para fazerem face às temperaturas
mais baixas em décadas — num esta-
do onde as casas são feitas para dei-
xarem o calor do lado de fora —, os
GO NAKAMURA/REUTERS
Pouco habituados à neve e ao habitantes usam fogões, grelhadores
muito frio e com os cortes de e geradores a gasolina para se aque-
energia, os texanos procuraram cerem. Na terça-feira, seis pessoas
fugir ao frio onde puderam morreram por intoxicação com
monóxido de carbono, na zona de
Houston, quando tentavam manter-
-se quentes. Uma avó e os três netos
Os republicanos, morreram num incêndio depois de
terem adormecido junto à lareira e
que governam o com velas acesas; e uma criança e a
estado desde os mãe morreram quando tentavam
aquecer-se num automóvel com o
anos 90, tentaram motor ligado.
acusar os
“Pior do que o Katrina”
democratas e as Ontem de manhã, a energia já tinha
“suas” energias voltado à maioria das habitações em
Houston, segundo o jornal Houston
renováveis pelas Chronicle. Mas, em todo o estado,
falhas de energia 600 mil clientes da principal empre-
BRONTE WITTPENN/USA TODAY
sa de electricidade continuavam às
escuras — ainda assim, uma melho-
ria signiÆcativa em relação a quarta-
feira, quando o número chegou a 1,4
milhões.
Mas a relativa subida das tempera-
turas ontem parece não ter vindo
para Æcar. As autoridades alertaram
para a chegada de uma nova tempes-
tade, entre ontem e hoje, num corre-
dor entre o Texas e a região de Nova
Iorque, na costa atlântica dos EUA.
As consequências da falta de água
e de electricidade no Texas levaram
os habitantes a fazer comparações
com os maiores desastres naturais
dos últimos anos.
Quem não tinha água nem electri-
cidade tentou encontrar refúgio em
hotéis ou junto a familiares, numa
luta pela sobrevivência que podia
terminar à porta de hotéis repletos
— ou também sem água nem electri-
cidade — e em casas particulares onde
se tornava impossível manter o dis-
tanciamento entre os diferentes agre-
gados familiares.
“Eu passei pelo furacão Katrina e
pelo Harvey, e isto é, de longe, o pior
que vi”, disse Brent Shives, gerente
de um hotel em Austin, ao The New
York Times. “Tive de recusar a entra-
da a uma mãe com um bebé de sete
meses. Não tinham electricidade
nem água em casa. Acabei no escri-
tório a chorar.”
Guerra política
No meio do desastre, a guerra para
encontrar culpados passou a domi-
nar o debate político no Texas. O
Partido Republicano, que domina o
poder estadual no Texas desde a
década de 90, quis centrar o debate
no Partido Democrata e no seu pla-
no para a transição ecológica da
economia (o Green New Deal) — ape-
sar de as energias renováveis serem
responsáveis por 28% da electrici-
dade no estado, contra os 64% dos
combustíveis fósseis como o gás
natural e o carvão.
Na quarta-feira, o governador do
Texas, o republicano Greg Abbott,
disse numa entrevista à Fox News
que foram as quebras na energia
solar e eólica que “puseram o Texas
nesta situação”.
Mais tarde, em declarações ao
Houston Chronicle, Abbott disse que
estava a referir-se a um futuro em
que o Texas dependeria apenas de
energias renováveis, que também
foram afectadas pelo frio. Mas a
cobertura da situação no Texas, nos
programas dos pivôs da Fox News
mais populares entre o eleitorado de
Donald Trump, passou a reduzir o
colapso da rede de energia ao deba-
te sobre energias renováveis e com-
bustíveis fósseis, e sobre as altera-
ções climáticas.
Ontem, o governador do Texas
recuou na sugestão de que os cortes
de energia se Æcaram a dever ao con-
gelamento de hélices das turbinas
eólicas, reconhecendo que “todas as
fontes de energia foram afectadas”.
Principalmente o gás natural e o
carvão — responsáveis pelas emis-
sões que contribuem para agravar
as consequências de tempestades
como a que tem afectado o Texas
nos últimos dias.
Ted Cruz em Cancun
Para além das declarações de Abbott
no momento em que milhões de
texanos exigem a reposição imediata
da electricidade e do abastecimento
de água, o Partido Republicano pode
ter sofrido outro golpe no Texas com
a notícia de que o senador Ted Cruz
viajou para Cancun, no México, na
quarta-feira.
Depois de ter sido fotografado no
aeroporto com a família, Cruz foi
acusado de fugir às suas responsa-
bilidades. Nas redes sociais, foi
recuperada uma mensagem que o
senador republicano publicou no
Twitter, em Dezembro, com críticas
ao presidente da Câmara de Austin,
o democrata Stephen Adler, quando
foi passar uma semana de férias a
cabo São Lucas, também no México,
depois de ter apelado aos texanos
que Æcassem em casa por causa da
pandemia.

Por António Rodrigues
Jornalista. Escreve à sexta-feira
Diário de uma
mulher no
Porto da
Solidão
Uma vez No pomposo que
costumam ser os homens
cartografado o ao mitiÆcar a gesta
simples das gentes, a
mundo, os Argentina transformou
María Saéz Pérez de Vernet na
navegadores “cronista da soberania argentina
Äcaram presos às das ilhas Malvinas”. A mulher do
primeiro comandante militar e
rotas marítimas político do arquipélago no
Atlântico Sul, Luis Vernet,
mais rápidas e mais escreveu um diário de um
seguras. A literatura quotidiano normal nas ilhas em
1829, a partir do qual um seu
recebeu como descendente, o poeta Marcelo
Luís Vernet, dedicou 20 anos da
legado os prodígios sua vida a escrever uma obra em
dois volumes que amplia,
do desvio. contextualiza e maximiza o
Juan Bautista alcance do diário com a história
de todas as viagens e expedições
Duzeide às ilhas anteriores à chegada dos
Vernet a Puerto Soledad — hoje, na
Escritor ilha a que os britânicos chamam
argentino Falklands, leva o nome de Port
Louis. Obra de uma vida que o
poeta deixou inacabada quando
morreu em 2017 e que os Ælhos
concluíram, Malvinas, mi Casa,
recentemente publicado na
Argentina, imita, na sua linha
narrativa, aquilo que os
exploradores antigos faziam nas
suas explorações do
desconhecido, deixando-se perder
para encontrar rumo novo,
resultando numa narrativa “tão
original como eÆcaz para explorar
tanto um território como as
memórias, linguagens ou
imaginários a ele vinculados”,
como escreve Juan Bautista
Duzeide no Página/12. Tornado o
mun previsível e com as rotas
mundo
segu
seguras estabelecidas, cabe à
liter
literatura embrenhar-se pelo
desc
desconhecido e explorar. DeÆnida
ca
a cartograÆa, resta fechar os olhos
av
e avançar à apalpadela do verbo
ness fossa das Marianas que
nessa
cont
continua a ser a imaginação
hum
humana e a arte que daí emana. A
part de um diário de seis meses
partir
u
de uma mulher que chega aos 29
anos a um porto de solidão no
difíc clima do Atlântico Sul, com
difícil
três Ælhos e mais um a caminho
que já nascerá ilhéu, Vernet
cons
construiu um livro “feito de
mui
muitos livros e muitas viagens” e
que “emergiu em forma de
arqu
arquipélago”.
Até o hotel
Explora
Mais de uma centena
de mulheres, apoiadas
pelas 36 famílias que
compõem o honui, o
conselho de clãs da
ilha da Páscoa, ocuparam esta
quinta-feira o aeroporto mais
remoto do mundo para impedir
que um avião com 300 pessoas
proveniente do território
continental chileno aterrasse na
ilha. O voo faz parte do “plano de
retorno” (é o quinto) com que o
Governo pretende enviar para casa
os rapanui e os residentes que
Æcaram presos longe de casa por
causa da pandemia. Mas quem
protesta reclama contra os abusos
cometidos nesse plano de retorno
que permite a viagem a quem não
é da Páscoa, sejam novos
residentes em busca de trabalho,
seja gente que procura apenas o
único lugar do Chile sem casos de
covid-19 há mais de 300 dias, os
chamados “turistas de covid”. A
presença das mulheres na pista do
aeroporto de Mataveri levou as
autoridades a adiar o voo e a
marcar uma reunião para
segunda-feira, para tentar
desbloquear a situação. “Nós,
como comunidade, temo-nos
mantido livres de contágios e esta
abertura põe-nos completamente
em risco”, disse Ana Parakati, uma
das porta-vozes do protesto, ao El
Ciudadano. “Todos os esforços que
se Æzeram para manter a
população saudável vão para o lixo
se se Æzer isto a curto prazo”,
acrescentou. Além disso,
aparentemente há
verdeiros rapanui, a etnia
originária da ilha, que
não conseguiram lugar
no voo porque parte
dos assentos estava
ocupada por gente que
vai trabalhar no hotel
Explora. Porque, já
sabemos, mesmo no
meio do PacíÆco, a mais
de 2000 quilómetros
de outro pedaço de
terra (Pitcairn), há
nomes que se
justiÆcam a si mesmos.
Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021 • 23
4 esquinas
Pensão
completa
para a covid
Com a pandemia a
controlar as idas e
vindas do mundo, há
quem se deixe tentar
pelo turismo livre de
constrangimentos por causa da
covid. O México, governado pelo
populista Andrés Manuel López
Obrador, apesar de ter mais de
dois milhões de infectados e ser o
terceiro país com mais mortos
pela doença (superando os 177
mil), está a atrair o turista que
prefere destinos que não lhe
exigem nada, em detrimento de
outros locais que, com menos
incidência do coronavírus, exigem
testes de covid a quem os visita.
Como conta à BBC Mundo Pierre,
um jovem francês a residir em
Nova Iorque: “Decidi ir ao México
porque não pediam testes de
covid-19 para entrar. Queríamos ir
às ilhas Turcos e Caicos, mas havia
muitas restrições. Por isso,
embora o México não fosse a
nossa primeira opção,
decidimo-nos pelo mais fácil”. O
Governo mexicano, alheio às
muitas críticas à sua política de
fronteiras abertas ao turismo que
chegue de avião, garante que a sua
decisão não é económica, mas se
baseia na conclusão de que
restringir a entrada de viajantes
estrangeiros não tem um efeito
visível na redução de número de
contágios. E com isso, em 2020,
no ano classiÆcado como “o pior
ano da história do turismo”, o
México foi o terceiro país mais
visitado e, enquanto o turismo
caía no mundo 74% em relação a
2019, conseguiu que a sua
descida andasse à volta de 45%.
Para isso, há hotéis que
passaram a incluir no regime
de pensão completa testes de
coronavírus e até hospedagem
gratuita se alguém for infectado.
Mundo
O mundo que se conta
a partir do que se diz
Direito a seguir
pessoas
Felwine Sarr, o autor
de Afrotropia, passou
o ano passado por
Lisboa para falar
sobre o relatório
Restituir o património africano:
para uma nova ética relacional, que
co-escreveu com Bénédicte Savoy,
contribuindo para um debate
intenso, que já vinha de antes e se
ampliou, sobre a restituição das
obras de arte que os colonizadores
roubaram no continente africano
durante a sua ocupação e
exploração. O pensador senegalês,
que também é músico, estudou
economia em França e é professor
de FilosoÆa Política Africana e da
Diáspora na Universidade de Duke,
nos EUA, depois de ter criado um
Centro de Investigação em
Civilizações, Religião, Arte e
Comunicação no Senegal.
Organizador desde 2016, com
Achille Mbembe, dos Ateliers do
Pensamento, em Dacar, publicou
agora em França uns cadernos de
viagem (La saveur des derniers
mètres) que percorrem, em 26
capítulos, caminhos que vão desde
a sua ilha de Niodior, na região do
Saloum, cenário de pântano e
mangais que a UNESCO classiÆcou
como património mundial, até
Nova Iorque, passando por Lisboa,
Douala, Roma, Port-au-Prince,
Kampala, México, Cairo. Mais do
que um percurso, este “sabor dos
derradeiros metros” é uma
deambulação que, ao invés de
descrições, reÇecte mais sobre os
sítios e as pessoas. “Viajar permite
olhar de soslaio, em relevo, à vez
dentro e fora”, aÆrmava à France
Culture Sarr, que defende a
necessidade de “considerar a
mobilidade como um direito
fundamental” do ser humano. Ao
pensador os lugares não lhe
interessam tanto enquanto cenário
para fotograÆas mais ou menos
bonitas, interessa-lhe o olhar do
outro: “Não sou atraído por
lugares. Quando chego a uma
cidade, não corro a ver lugares
imperdíveis. Sigo-os pelas pessoas
que lá encontro.”
24 • Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021
Economia Patrões apontam falhas no modelo
Só 0,3% das
empresas em
layoff pediram
formação
proƊssional
Das 113 mil empresas com trabalhadores
parados em 2020, apenas 310 requereram
planos de formação. Centrais sindicais
falam em oportunidade perdida
Victor Ferreira
Das mais de cem mil empresas que
passaram pelo layoff simpliÆcado,
apenas 310 pediram planos de forma-
ção para os trabalhadores. Essa era
uma opção complementar, que dava
direito a um pequeno apoio Ænancei-
ro para trabalhadores e para empre-
sas, mas poucos o aproveitaram.
As centrais sindicais dizem que foi
uma oportunidade perdida, quando
havia centenas de milhares de traba-
lhadores parados, sobretudo na pri-
meira fase da pandemia. Do lado dos
patrões, como a Confederação do
Turismo de Portugal (CTP), reconhe-
ce-se que foi uma medida “relegada
para segundo plano” porque “faltou
divulgação”, sobrou “burocracia” e
a preocupação dos gestores foi pri-
meiro “garantir a sobrevivência”.
O Governo incluiu dois apoios à
formação proÆssional na resposta à
crise. Por um lado, criou os planos
extraordinários de formação, para
empresas que estivessem em crise
mas que não recorressem ao layoff.
Nestes casos, o Estado só apoiava o
trabalhador (que receberia 50% da
retribuição ilíquida, até ao máximo
de 635 euros).
O apoio duraria no máximo um
mês, era pago directamente ao fun-
cionário, em proporção das horas de
formação frequentadas. Apenas 32
empresas aplicaram este mecanismo,
abrangendo 2000 trabalhadores, a
quem o Estado pagou, através dos
centros que ministraram a formação,
um total de 592 mil euros. A medida
foi retirada em Julho, aponta a Con-
federação Empresarial de Portugal
(CIP), para quem este apoio teve
“muito pouco tempo” de vida, o que
ajudará a explicar por que razão “a
adesão das empresas não foi, de fac-
to, aquela que todos desejávamos”.
Por outro lado, o Governo inscre-
veu no decreto de criação do layoff
simpliÆcado um segundo apoio a pla-
nos de formação. Era acumulável
com o layoff simpliÆcado (e com o
Apoio à Retoma, que substituiu o
layoff simpliÆcado em Agosto).
Neste caso, o Estado pagava como
apoio o que estava previsto no Códi-
go do Trabalho: 30% do valor do
Indexante dos Apoios Sociais (438,81
euros em 2020 e 2021). Estes 131 euros
seriam divididos em partes iguais
entre empresa e trabalhador.
A este apoio recorreram 310
empresas, abrangendo mais de 8000
trabalhadores. A despesa inerente foi
de 1,9 milhões de euros em 2020.
Os números são do Instituto do
Emprego e da Formação ProÆssional
(IEFP), que tinha a incumbência de
aprovar os planos de formação e a
quem o PÚBLICO pediu estes dados,
depois de quase dois meses de silên-
cio do gabinete da ministra do Traba-
lho, a quem estes dados foram pedi-
dos diversas vezes, sem sucesso,
desde Dezembro.
Somando os números das duas
medidas, signiÆca que 342 empresas
encaminharam trabalhadores para a
formação proÆssional, durante a pan-
demia, aproveitando os mecanismos
lançados pelo Governo.
Face a este número, patrões e sin-
dicatos convergem numa ideia: a
adesão foi muito baixa face à grande
travagem económica. AÆnal, 113 mil
empresas recorreram ao layoè sim-
pliÆcado, e mais de 800 mil traba-
lhadores viram o contrato suspenso
ou o horário cortado. Mas, desse
universo, apenas 0,3% das empresas
pediram apoio para formação pro-
Æssional, que envolveu somente
1,25% dos trabalhadores que estive-
ram total ou parcialmente parados
na primeira fase da pandemia.
Para a CTP, “a baixa adesão a
medidas relacionadas com forma-
Acesso aos planos de formação “envolve bastante burocracia em empresas que, nestes tempos conturbados, e
32
empresas aderiram ao
mecanismo extraordinário de
formação, destinado a quem
estivesse em crise mas que não
recorresse ao layoff
MIGUEL MANSO
ção” tem diversas razões. Francisco
Calheiros, presidente da entidade
que representa um dos sectores que
mais trabalhadores tiveram em para-
gem total ou parcial, aponta a “pou-
ca divulgação, em comparação com
as medidas de apoio ao emprego”.
“Estas medidas têm sido relegadas
para segundo plano e as de layoff sim-
pliÆcado ou o apoio extraordinário à
retoma progressiva da actividade têm
sido enaltecidas”, argumenta.
Além disso, refere o líder da CTP,
o acesso a estes planos de formação
“envolve bastante burocracia em
empresas que, nestes tempos contur-
bados, estão focadas em garantir a
sua sobrevivência e em manter os
postos de trabalho”. Havia ainda
“custos que, neste momento, as
empresas não estão em condições de
suportar”.
Para a direcção da CIP, a “fraca
adesão ao plano extraordinário de
formação é, hoje, por todos, reconhe-
cida”. O facto de não poder ser acu-
mulado com o layoff, também contri-
buiu para esse desfecho, sustenta.
Outro problema foi que não houve
tempo para identiÆcar necessidades,
planear e executar a formação.
De futuro, conclui, é necessário
“alargar o leque de entidades forma-
doras”, apostar mais na formação à
distância e “privilegiar a formação
prevista no Sistema Nacional de Qua-
liÆcações”, mas permitir também “a
formação mais adequada à actividade

stão focadas em garantir a sobrevivência”, defende Francisco Calheiros
desenvolvida na empresa ou naquele
posto de trabalho em concreto”.
“Desinteresse das empresas”
Responsáveis das duas centrais sin-
dicais, a CGTP e a UGT, também
dizem que a adesão é “baixa”, mas
esse é mesmo o único ponto em que
estão de acordo com os patrões.
Andrea Araújo, dirigente da
comissão executiva da CGTP, onde
é responsável pela área do Emprego,
diz que a central “sempre denunciou
o baixíssimo interesse que as empre-
sas demonstraram em utilizar o tem-
po de paragem para reciclar, refor-
çar e criar competências” entre
trabalhadores.
A opção do Governo de não esta-
belecer uma “conexão obrigatória”
entre formação e layoff resultou “nos
dados agora conhecidos”, diz.
“Tratou-se, portanto, de uma polí-
tica desenhada ao contrário”, consi-
dera Andrea Araújo. “Desta vez [as
empresas tinham tempo, tinham o
Ænanciamento, mas não o Æzeram na
mesma. O facto de o Governo não ter
conjugado as duas medidas, mais
NUNO FERREIRA SANTOS
parecia que pretendia evitar que as
empresas em layoff recorressem à
formação dos trabalhadores que
empregam”, antes de concluir que o
que deveria ter sido “um investimen-
to em qualiÆcações”, aÆnal, “não
passou de uma medida de contingên-
cia para salvação das empresas”.
Para José Cordeiro, secretário-geral
da UGT, qualquer balanço implica ter
em conta a especiÆcidade da pande-
mia. “As empresas e os trabalhadores
dispuseram de poucas condições
para reÇectir e programar um tipo de
formação que se adequasse à situa-
ção pandémica”, anota.
“Houve de facto um desinteresse
das empresas”, constata ainda, “mas
também não será legítimo” avaliar o
resultado sem levar em conta as cir-
cunstâncias “extraordinárias”. Até
porque, como frisa, havia medidas
“mais simples e imediatas”.
O dirigente da UGT destaca, contu-
do, que falta “uma cultura de forma-
ção proÆssional aos empregadores e
mesmo em muitos trabalhadores”.
“Foi uma oportunidade que deveria
ter sido aproveitada, com certeza.”
Apoio a 100% obriga
a partilha semanal da
assistência aos filhos
Raquel Martins
Diploma aprovado permite
que pais em teletrabalho
com filhos na escola até ao
4.º ano possam aceder ao
apoio excepcional à família
O Conselho de Ministros aprovou
ontem o diploma que alarga o apoio
excepcional à família aos pais em
teletrabalho e que prevê a majoração
deste subsídio nas situações em que
os pais optam por partilhar semanal-
mente a assistência às crianças e no
caso das famílias monoparentais que
recebem o complemento do abono
de família.
O diploma começa por alargar o
universo de trabalhadores que
podem aceder ao apoio, passando a
abranger os pais em teletrabalho que
comuniquem à empresa nos três dias
anteriores que pretendem interrom-
per a sua actividade para prestar
assistência à família.
Este alargamento abrange as famí-
lias monoparentais, assim como os
trabalhadores com Ælhos a frequen-
tar o 1.º ciclo do ensino básico,
incluindo creches e pré-escolar, ou
os que têm dependentes que, inde-
pendentemente da idade, têm inca-
pacidade comprovada igual ou supe-
rior a 60%.
Nestes casos, os pais em teletraba-
lho terão a falta justiÆcada e direito
a um apoio correspondente a 66%
da remuneração-base, com o limite
mínimo de 665 euros, num regime
igual ao que agora é aplicado aos pais
de crianças até aos 12 anos que fazem
trabalho presencial.
O valor do apoio pode ser majora-
do e chegar a 100% quando a assis-
tência às crianças for alternada
semanalmente entre os pais ou caso
se trate de uma família monoparen-
tal que já esteja a receber o comple-
mento do abono de família destinado
a estas famílias. A Segurança Social
assumirá o diferencial entre os 66%
e os 100%.
“Alterámos a possibilidade de o
pagamento dos trabalhadores que se
encontrem em apoio à família poder
ser a 100% nas situações em que os
progenitores alternem semanalmen-
te o acompanhamento da criança ou
nas situações em que as famílias
sejam monoparentais, concretamen-
te nas situações em que beneÆciem
da majoração do abono de família
por ser família monoparental”,
adiantou ontem a ministra do Traba-
lho e da Segurança Social, na confe-
rência de imprensa após a reunião
Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021 • 25
do Conselho de Ministros. Ana Men-
des Godinho lembrou que se trata de
uma medida de conciliação — uma
vez que 82% dos beneÆciários do
apoio à família em 2020 foram
mulheres — e de combate à pobreza.
Esta semana, questionada pelo
PÚBLICO, a ministra explicara já que
o controlo da partilha de responsa-
bilidades será feito através de uma
declaração em que os próprios pais
assumem que o acompanhamento
das crianças será partilhado.
A ministra garantiu ontem que
estas alterações vão aplicar-se aos
trabalhadores independentes, mas
não precisou como é que isso se irá
processar, uma vez que o apoio em
si já é diferente.
Estas alterações abrangem tam-
bém os funcionários públicos, em
particular os professores que, até
agora, não podiam aceder ao apoio
por estarem a trabalhar em casa.
“Relativamente aos professores,
aplicam-se exactamente as mesmas
regras — um professor nessas condi-
ções beneÆcia da mesma resposta. A
regra é a mesma para todos os pro-
Æssionais”, conÆrmou a ministra da
Presidência, Mariana Vieira da Silva,
também durante a conferência de
imprensa que se seguiu ao Conselho
de Ministros.
As alterações ao apoio à família
entram em vigor “assim que o diplo-
ma for publicado” em Diário da
República, após promulgação do Pre-
sidente da República.
Desde que o Governo decidiu
encerrar as escolas, em meados de
Janeiro, a Segurança Social recebeu
68 mil pedidos de apoio à família.
Em 2020, o apoio chegou a 201 mil
famílias, com um impacto de 83
milhões de euros.
Ana Mendes Godinho, ministra
do Trabalho e Segurança Social
Economia
PS aceita
alargar acesso
a escolas de
acolhimento
Marta Moitinho Oliveira
No Parlamento, o Governo
avisou que os apoios sociais
“têm de ser sustentáveis”.
Propostas dos partidos vão
a votos na próxima semana
O PS está disponível para estudar
formas de alargar o acesso às escolas
de acolhimento por parte dos traba-
lhadores dos serviços sociais. Este
foi o único avanço registado ontem,
no Parlamento, num debate em que
o Governo recusou a ideia de estar a
gastar pouco nos apoios às famílias
e avisou que as ajudas “têm de ser
sustentáveis”.
“Estamos abertos a analisar com
interesse as possibilidades de alar-
gamentos do acesso às escolas de
acolhimento e estamos cientes de
que é preciso estudar as melhores
formas de conciliar os interesses dos
trabalhadores dos serviços essen-
ciais e dos seus Ælhos com o interes-
se dos próprios serviços essenciais
para o país”, disse a deputada socia-
lista Rita Borges Madeira.
Uma avaliação que será feita na
próxima semana na Comissão de
Trabalho, onde serão debatidas as
propostas dos partidos sobre reforço
dos apoios sociais e à família. Dentro
deste pacote de propostas está uma
do PCP que propõe que os trabalha-
dores dos serviços essenciais possam
ter acesso às escolas de acolhimento,
independentemente de terem ou
não o cônjuge em teletrabalho.
No entanto, de todo o debate que
se centrava especialmente no apoio
excepcional à família, não Æcou qual-
quer sinal de que houvesse margem
do Governo ou do PS para aceitar
mais mexidas no regime que já tinha
sido melhorado durante a manhã de
ontem, com a aprovação de altera-
ções no Conselho de Ministros.
O secretário de Estado adjunto e
do Trabalho explicou que a intenção
do Governo ao repor na segunda
vaga da pandemia os mesmos apoios
que existiram na primeira, aquando
do fecho das escolas, foi o de “cele-
ridade máxima” e evitar “demoras”.
Miguel Cabrita lembrou que na área
da Segurança Social foram pagos
apoios de mais de 2,2 mil milhões de
euros em 2020. “Não podemos per-
der a noção de escala dos apoios que
têm sido dados”, disse, acrescentan-
do que “é preciso perceber que
temos de tornar os apoios que temos
hoje sustentáveis para o ano de
2021”. Ou seja, fechou a porta a alte-
rações com impacto orçamental.
26 • Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021
Economia
“Pensão na Hora”
avança em Fevereiro
Raquel Martins
Medida destina-se a quem
cumpre determinados
requisitos, como ter o
registo de toda a carreira
contributiva em Portugal
O Conselho de Ministros aprovou
ontem a “Pensão na Hora” que per-
mitirá, em determinadas circunstân-
cias, o deferimento automático das
pensões, evitando que os beneÆciá-
rios esperem meses por uma respos-
ta da Segurança Social.
A medida Æcará disponível ainda
durante este mês, adiantou a ministra
do Trabalho e da Segurança Social,
Ana Mendes Godinho, indicando que
há alguns requisitos para que o pro-
cesso seja totalmente automático,
nomeadamente o facto de o beneÆ#
ciário ter toda a sua carreira contri-
butiva em Portugal.
Ana Mendes Godinho explicou
que todo o processo de atribuição
da pensão de velhice poderá ser fei-
to através da Segurança Social Direc-
ta, sendo o deferimento da pensão
“automático”, caso o beneÆciário
aceite o valor que lhe é apresentado.
As pessoas Æcam com uma pensão
provisória que será posteriormente
conÆrmada pelos serviços. “Esta é
uma mudança radical no processo
de atribuição de pensão de velhice
e será implementada no sistema da
Segurança Social Directa durante o
mês de Fevereiro”, garantiu.
A ministra adiantou que o tempo
Programa de 500 estágios na Administração
Pública arranca em Abril
Raquel Martins
O programa de estágios na Adminis-
tração Pública tem 500 vagas dispo-
níveis e deverá arrancar em Abril. O
anúncio foi feito ontem pela ministra
da Modernização do Estado e da
Administração Pública, Alexandra
Leitão, no Ænal do Conselho de
Ministros que aprovou o programa
extraordinário de estágios na Admi-
nistração directa e indirecta do Esta-
do, destinado à carreira de técnico
superior.
O processo de selecção dos candi-
datos “será célere e muito simpliÆ#
cado”, adiantou a ministra. “A nossa
expectativa é que isso possa ocorrer
médio de espera entre o pedido e a
atribuição de pensão é actualmente
de 106 dias, sendo que, no último
ano, se veriÆcou “uma redução de
cerca de 75% das pendências” nas
pensões de velhice.
Segundo o comunicado do CM, o
diploma integra um mecanismo de
protecção dos beneÆciários de pres-
tações sociais “quando, por força das
regras de actualização do indexante
de apoios sociais, a variação daí resul-
tante seja negativa”.
Fonte oÆcial do Ministério do Tra-
balho e da Segurança Social precisou
ao PÚBLICO que a alteração visa
garantir que, quando da evolução da
inÇação possa resultar uma desvalo-
rização do indexante de apoios sociais
(IAS), este não será reduzido.
A medida ficará disponível ainda durante este mês, garante a tutela
durante o mês de Março e que duran-
te o mês de Abril os estágios possam
começar. É este o cronograma que
temos planeado, veremos se é possí-
vel cumpri-lo à risca”, aÆrmou Ale-
xandra Leitão, acrescentando que a
bolsa atribuída será de 998.50 euros
(o valor correspondente à primeira
posição remuneratória da carreira
de técnico superior)
O programa EstágiAP XXI, refere
o comunicado do Conselho de
Ministros, é uma medida prevista
no Programa de Estabilização Eco-
nómica e Social e “visa valorizar as
qualiÆcações e competências dos
jovens licenciados, promovendo a
empregabilidade num contexto
A actualização do IAS (que depois
serve de referência à actualização das
pensões) depende da inÇação e do
crescimento do PIB. Ora em 2021, tal
como já aconteceu anteriormente, a
evolução destes indicadores aponta-
ria para uma redução do IAS, algo
nunca aconteceu porque os governos
optaram por congelar o indexante.
Foi o que aconteceu em 2021: o IAS
manteve o seu valor e o Governo
optou por dar um aumento extraor-
dinário às pensões mais baixas.
Actualizações aprovadas
O Governo aprovou também o decre-
to para a actualização extraordinária
das pensões, prevista no Orçamento
do Estado para 2021 e que já foi paga
este mês com retroactivos a Janeiro.
NELSON GARRIDO
socioeconómico em que será neces-
sário um excepcional apoio à recu-
peração económica”.
“Pretende-se ainda promover o
rejuvenescimento da administração
pública e atrair jovens qualiÆcados
para os serviços do Estado”, acres-
centa o Governo, embora no Ænal
do estágio os jovens estejam impe-
didos de continuar nos serviços e
O processo de
selecção dos
candidatos “será
célere e muito
simplificado”,
adiantou a
ministra
O aumento de dez euros abrange
1,9 milhões de pessoas que recebem
pensões no valor de 658,21 euros. A
medida deverá ter um impacto orça-
mental de 270 milhões de euros,
segundo os cálculos apresentados em
Novembro passado, quando a medida
foi aprovada no Parlamento.
A antecipação do pagamento extra
das pensões para Janeiro, assim como
um aumento “único” de dez euros,
resultaram das negociações do Gover-
no com o PCP no OE2021. A proposta
de lei do OE previa um aumento extra
das pensões, de dez e seis euros con-
forme os casos, a partir de Agosto.
Se se aplicasse a fórmula de actua-
lização automática, todas as pensões
Æcariam congeladas em 2021, sem o
aumento extraordinário de 10 euros
referido. A regra de actualização auto-
mática das pensões tem em conta
dois indicadores: a variação média da
inÇação (sem habitação) nos últimos
12 meses disponível em Dezembro ou
em 30 de Novembro (se a de Dezem-
bro não estiver disponível na data de
assinatura do diploma de actualiza-
ção) e a média da taxa do crescimen-
to anual dos últimos dois anos, termi-
nados no 3.º trimestre. A inÇação
serve de referência para o aumento a
realizar, mas, depois, consoante o
valor da pensão e a evolução da eco-
nomia nos anos anteriores, acrescen-
ta-se ou retira-se algumas décimas ao
valor da inÇação. Com os preços em
terreno negativo e com a contracção
da economia provocada pela pande-
mia de covid-19, a aplicação da fórmu-
la não traz qualquer aumento.
apenas terão direito a uma majora-
ção quando abrirem concursos de
recrutamento.
Foi ainda aprovado um diploma
que extingue a Direcção-Geral da
QualiÆcação dos Trabalhadores em
Funções Públicas e cria o Instituto
Nacional de Administração (INA), que
passará a ter autonomia administra-
tiva e Ænanceira, recuperando o esta-
tuto de instituto público que teve no
passado. Esta alteração permitirá ao
INA assumir “um papel fundamental
no Programa de Recuperação e Resi-
liência”, adiantou a ministra, que tem
cerca de 600 milhões de euros desti-
nados à renovação e reforma da
Administração Pública.
Empresas têm
mais quatro
dias para
pagar IVA
Pedro Crisóstomo
Data-limite para a entrega
do IVA mensal ou trimestral
passa de 25 de Fevereiro
para 1 de Março
As empresas e os trabalhadores inde-
pendentes vão ter mais quatro dias
para pagar ao Estado o IVA que deve-
ria ser entregue durante este mês. O
Governo decidiu adiar a data-limite
do pagamento de 25 de Fevereiro
para 1 de Março.
A prorrogação por quatro dias
abrange quer os contribuintes enqua-
drados no regime trimestral (com um
volume de negócios anual abaixo de
650 mil euros), quer quem está no
regime mensal (com um volume de
negócios acima daquele patamar).
A extensão foi decidida através de
um despacho do secretário de Esta-
do dos Assuntos Fiscais, António
Mendonça Mendes, assinado na últi-
ma segunda-feira.
Ao mesmo tempo, as declarações
periódicas do IVA a entregar em
Fevereiro poderão ser submetidas
até dia 24, “sem quaisquer acrésci-
mos ou penalidades”, para os dois
regimes (IVA de Janeiro ou IVA do
quatro trimestre).
Em paralelo, continuam de pé os
planos de pagamento a três ou seis
prestações do IVA a entregar neste
primeiro semestre de 2021, sem ser
necessário pagar juros ou apresentar
garantia.
Por exemplo, uma pequena empre-
sa que está no regime trimestral e que
adira ao pagamento diferido em seis
meses entrega agora um sexto do IVA
do quarto trimestre de 2020 (o que
pode ser pago até 1 de Março), outro
sexto no prazo de Março, outro idên-
tico em Abril e assim sucessivamente,
até perfazer o pagamento. Quem ade-
rir à modalidade dos três meses
entrega agora um terço do IVA trimes-
tral do quarto trimestre do ano pas-
sado, outro terço em Março e outro
terço em Abril.
Ao PÚBLICO, sobre se o Governo
estava a prever algum adiamento adi-
cional do IVA a entregar em Feverei-
ro, dado haver neste momento
empresas e trabalhadores indepen-
dentes obrigados a uma paragem da
actividade por determinação legisla-
tiva, e de estar em causa o IVA de um
período em que ocorreu actividade
económica, as Finanças responderam
que o actual plano de Çexibilização é
possível para independentes e empre-
sas, “independentemente de even-
tuais restrições à actividade”.

A Comissão, liderada por Von der Leyen, afirma que as lacunas de um Estado-membro afectam toda a União Europeia
Falhas na lei contra a lavagem de
dinheiro levam Portugal a infracção
Pedro Crisóstomo
Comissão Europeia
encontrou lacunas na
transposição de directiva
de 2015 em Portugal, na
Alemanha e na Roménia
A Comissão Europeia abriu um pro-
cedimento de infracção contra Por-
tugal por considerar que a quarta
directiva europeia de prevenção do
branqueamento de capitais e Ænan-
ciamento do terrorismo através do
sistema Ænanceiro foi transposta de
forma incorrecta.
A Alemanha e a Roménia também
são alvo de um processo pelo mesmo
motivo. Através de um comunicado
emitido ontem, a Comissão, dirigida
por Ursula von der Leyen, aÆrma que
os três países “devem resolver aspec-
tos fundamentais do quadro de luta
contra o branqueamento de capitais,
tais como o intercâmbio adequado de
informações com as unidades de
informação Ænanceira (UIF) [dos
outros países], as obrigações de vigi-
lância [que os bancos e outras entida-
des têm de ter] quanto à clientela e de
cooperação adequada entre as UIF,
ou a transparência dos registos cen-
trais de beneÆciários efectivos”. Os
três governos têm agora dois meses
para responder aos argumentos da
Comissão.
Governo assegura alterações
Lisboa diz que o fará “dentro do pra-
zo estipulado” e promete fazer
“todas as alterações” necessárias
para cumprir a legislação, respondeu
ao PÚBLICO o gabinete do secretário
de Estado dos Assuntos Fiscais,
António Mendonça Mendes, que
preside à comissão de coordenação
das políticas de prevenção do bran-
queamento de capitais.
Se não o fizer, ou se Bruxelas con-
tinuar a considerar que as deficiên-
cias encontradas persistem, a Comis-
são pode avançar para a segunda
fase da infracção, enviando um pare-
cer fundamentado. Se o problema
não for resolvido, poderá apresentar
uma queixa perante o Tribunal de
Justiça da UE.
Por norma, Portugal procura evitar
esse desfecho e, por isso, é expectável
que o volte a fazer, sob pena de, não
agindo, comprometer a reputação do
Estado depois de ter Æcado sob os
holofotes internacionais por causa
das revelações Ænanceiras do caso
Luanda Leaks.
Questionado pelo PÚBLICO sobre
quais foram os problemas colocados
pela Comissão, o gabinete do secre-
tário de Estado dos Assuntos Fiscais
aÆrma que “respeitam a questões
muito pontuais de índole profunda-
mente técnica, como a delimitação
de alguns conceitos Ænanceiros com-
plexos ou a extensão de determinadas
obrigações de diligência, relativamen-
te a algumas das quais a Comissão
Europeia entende inclusivamente
que a transposição pode ter sido mais
exigente do que o necessário”.
A directiva em causa é de 20 de
Maio de 2015. Os governos nacionais
tinham de dar cumprimento a essas
orientações até 26 de Junho de 2017
e Portugal transpôs a directiva par-
cialmente nesse ano através da Lei
n.º 83/2017, de 18 de Agosto, que
entraria em vigor 30 dias depois.
Prevenir casos de utilização inde-
vida dos bancos e de todo o sistema
Ænanceiro em operações de lavagem
de dinheiro (por exemplo, com a
introdução de receitas ilegais ou
resultantes de elisão Æscal na econo-
mia legítima) é central para a União
Europeia, porque, como lembra a
Comissão, se houver lacunas legisla-
tivas num Estado-membro (neste
caso, em três), essas falhas têm impac-
Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021 • 27
RUI GAUDENCIO
to em todo o mercado único.
A questão é relevante tanto para as
transacções realizadas dentro do
mercado comum como para aquelas
que envolvem países terceiros consi-
derados de risco por terem maiores
deÆciências na prevenção do bran-
queamento de actividades ilícitas e
prevenção do Ænanciamento do ter-
rorismo na Europa.
O Luanda Leaks — exposto em Por-
tugal pela SIC e pelo Expresso, parcei-
ros do Consórcio Internacional de
Jornalistas de Investigação — pôs a
descoberto as fragilidades do sistema
Ænanceiro português, e dos supervi-
sores, no controlo de operações sus-
peitas de branqueamento de capitais
e crimes conexos.
É a segunda vez em um ano que
Bruxelas coloca Portugal no radar por
causa da transposição de directivas
europeias que se destinam a comba-
ter a lavagem de dinheiro.
Em Fevereiro do ano passado,
quando o país acabara de Æcar sob
atenção internacional por causa do
Luanda Leaks, a Comissão abriu um
procedimento de infracção idêntico
pelo facto de Portugal não ter concluí-
do, à data, a transposição da quinta
directiva, o que acabaria por fazer
mais tarde.
Economia
UE quer ter
uma política
comercial
mais “aberta”
Rita Siza, Bruxelas
A reforma da OMC e a
conclusão das negociações
de novos tratados
comerciais são as grandes
prioridades da Comissão
Reformar e modernizar a Organiza-
ção Mundial de Comércio (OMC) e
concluir as negociações de importan-
tes acordos comerciais com os países
da América Central e do Sul, da Ásia
e PacíÆco, e com o vizinho Reino Uni-
do, são os principais objectivos e as
grandes prioridades da Comissão
Europeia, que apresentou ontem um
documento estratégico sobre o rumo
que pretende imprimir à política
comercial da União Europeia nos pró-
ximos dez anos.
Segundo o vice-presidente execu-
tivo da Comissão Europeia, Valdis
Dombrovskis, responsável pela pas-
ta do Comércio, as linhas gerais da
nova estratégia podem ser deÆnidas
em três palavras: Bruxelas defende
uma política comercial “aberta, sus-
tentável e assertiva”, e nesse sentido
tem em preparação várias acções
concretas, seja para fortalecer par-
cerias (por exemplo, com os chama-
dos “países da vizinhança” e também
com o continente africano), seja para
defender os seus direitos no quadro
internacional.
Foi a pandemia do novo coronaví-
rus que precipitou o processo de revi-
são da estratégia comercial europeia,
para a adaptar ao esforço de recupe-
ração da crise através do investimen-
to na dupla transição ecológica e
digital e da promoção da autonomia
estratégica da UE — que o vice-presi-
dente executivo da Comissão insiste
nada ter que ver com proteccionismo.
“Para recuperar da pandemia preci-
samos de abertura comercial mais do
que nunca”, frisou Dombrovskis, que
destacou a importância do comércio
para a economia da UE: 35 milhões
de postos de trabalho, muitos dos
quais altamente qualiÆcados.
“Há potencial para crescer, mas
para isso a UE tem de olhar para fora
das suas fronteiras”, uma vez que as
estimativas mostram que 85% do cres-
cimento global na próxima década
acontecerá fora da Europa.
O timing para a apresentação da
nova direcção que a UE quer dar à sua
política comercial não está desligado
da tomada de posse da Administração
de Joe Biden nos Estados Unidos e da
eleição de Ngozi Okonjo-Iweala para
a direcção da Organização Mundial
de Comércio.
28 • Público ClassiÄcados • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021
Câmara Municipal de Valongo
AVISO N.º 27
ALTERAÇÃO AO ALVARÁ DE LOTEAMENTO N.º 312/1979, DE 14/09
ADITAMENTO N.º 3/2021
Nos termos do Art.º n.º 27º do Decreto-Lei n.º 555/99 de 16 de Dezembro, na
redação vigente, torna-se público que a Câmara Municipal de Valongo emitiu
em 02/02/2021, o aditamento n.º 3/2021, em nome de Ana Helena Vieira
Ferreira, ao alvará de loteamento n.º 312/1979, de 14/09, através do proc.
n.º 61-L/2020, referente ao processo de loteamento número 531-L/1973, em
nome de Margarida Morais, sito na Rua Tenente Sá Nogueira, lotes n.ºs 39,
40 e 41, da freguesia e concelho de Valongo, por despacho de 10/12/2020.
Aglutinação dos 3 lotes, de modo a criar um único lote com a designação de
lote 39, e aí implantar um edifício de habitação unifamiliar de rés-do-chão,
andar e andar recuado, com a tipologia T3.
Valongo e Paços do Concelho, 2 de fevereiro de 2021
O Vereador com poderes delegados,
Eng.º Paulo Jorge Esteves Ferreira
A Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos, tendo
em vista o reforço do seu mapa de pessoal, face às necessidades
decorrentes do cumprimento da sua missão, pretende recrutar em
regime de contrato individual de trabalho, por tempo indeterminado,
um trabalhador para a Carreira Técnica Especialista.
O respetivo anúncio, requisitos, perfil e critérios objetivos e
específicos de avaliação e seleção dos candidatos foram publicados
em www.ersar.pt.
Só serão admitidos a concurso os candidatos que cumpram os
respetivos requisitos obrigatórios.
O prazo para a apresentação das candidaturas é até às 23h59m do
dia 19 de março de 2021.
O Presidente do Conselho de Administração
Orlando Borges
Assembleia-geral ordinária
De harmonia com o disposto nos Estatutos e no exercício da
competência consignada nos seus artigos 14º e 19º, convoco a
Assembleia-geral ordinária da Associação Portuguesa de Sociologia
a realizar no dia 31 de março de 2021 (quartafeira), de forma virtual,
com a seguinte Ordem de Trabalhos:
1. Finalização do Processo Eleitoral para os corpos sociais para o
biénio 20212023, iniciado a 12 de fevereiro de 2021 - contagem
dos votos (eletrónicos e por correspondência).
A Assembleia-geral ordinária decorrerá no dia indicado, com início às
17h30. Se à hora marcada não estiver presente a maioria dos sócios,
a Assembleia-geral terá lugar uma hora depois (18h30 horas) com os
sócios presentes, de acordo com o artigo 20º dos Estatutos. Estará
disponível o voto eletrónico acessível em www.aps.pt. É igualmente
possível o voto por correspondência nos termos aqui expressamente
indicados1.
A Assembleia Geral irá realizar-se na modalidade online devendo
os/as associados/as que pretendam participar usar o link que será
divulgado na semana anterior à realização da mesma em www.aps.pt
e através da Newsletter APS.
As listas candidatas deverão entregar o respetivo programa e
constituição até ao final do dia 3 de março de 2021 na sede da APS
(Av. Prof. Aníbal de Bettencourt, 9 Piso 2 – Sala 2.16, 1600-189 Lisboa),
ou através do endereço eletrónico aps@aps.pt, ficando disponíveis
para consulta em www.aps.pt no espaço dedicado aos Destaques a
partir de 4 de março de 2021.
Lisboa, 12 de fevereiro de 2021
A Vice-presidente da Mesa da Assembleia-geral
Inês Pereira
1
Para exercer o voto eletrónico deverá aceder em www.aps.pt, e autenticar-se com os seus dados
de acesso de sócio/a da APS. O voto eletrónico pode ser efetuado entre 24 e 31 de março de
2021 (no último dia, até às 17h00).
O voto por correspondência exerce-se mediante obtenção do respetivo boletim em www.aps.pt,
e o posterior envio postal para APS, Av. Professor Aníbal de Bettencourt, nº 9, 1600-189 Lisboa,
acompanhado de comprovativo (cópia de BI ou CC) - até 5 dias úteis antes do ato eleitoral (i.e.,
dia 24 de março é a data postal limite).
Câmara Municipal de Valongo Câmara Municipal de Valongo
AVISO N.º 28 AVISO N.º 29
ALTERAÇÃO AO ALVARÁ DE LOTEAMENTO N.º 8/2000, DE 10/10 ALTERAÇÃO AO ALVARÁ DE LOTEAMENTO N.º 593/1983, DE 20/05
ADITAMENTO N.º 4/2021 ADITAMENTO N.º 5/2021
Nos termos do Art.º n.º 27º do Decreto-Lei n.º 555/99 de 16 de Dezembro, Nos termos do Art.º n.º 27º do Decreto-Lei n.º 555/99 de 16 de Dezembro,
na redação vigente, torna-se público que a Câmara Municipal de Valongo
na redação vigente, torna-se público que a Câmara Municipal de Valongo
emitiu em 02/02/2021, o aditamento n.º 4/2021, em nome de GESTINVICTA emitiu em 02/02/2021, o aditamento n.º 5/2021, em nome de Juliarte –
– Gestão e Investimentos Imobiliários, Lda, ao alvará de loteamento n.º
Fábrica de Estatuaria Decorativa, Lda, ao alvará de loteamento n.º
8/2000, de 10/10, através do proc. n.º 77-L/2020, referente ao processo de 593/83, de 20/05, através do proc. n.º 49-L/2020, referente ao processo
loteamento número 17-L/1992, em nome de Quinta da Lousa – Investimentos
de loteamento número 86-L/1981, em nome de Adão Inácio Lopes, sito na
Imobiliários, SA, sito na Rua Sara Afonso, lote n.º 88, da freguesia e concelho Rua Bernardino Machado, lote n.º 17, da freguesia de Alfena, concelho de
de Valongo, por despacho de 21/01/2021. Valongo, por despacho de 22/01/2021.
Alteração da tipologia, de uni para bifamiliar; acréscimo da área de construção
do 1.º piso e redução das áreas de construção dos pisos 2 e 3, não havendo Diminuição da área do lote, alteração de uso do mesmo, de “armazém”
alteração da área total de construção; alteração dos arranjos exteriores. para “armazém e indústria”.
Valongo e Paços do Concelho, 2 de fevereiro de 2021 Valongo e Paços do Concelho, 2 de fevereiro de 2021
O Vereador com poderes delegados, O Vereador com poderes delegados,
Eng.º Paulo Jorge Esteves Ferreira Eng.º Paulo Jorge Esteves Ferreira
EDUCAÇÃO
Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares
Agrupamento de Escolas de Pedome - Vila Nova de Famalicão AVISO DE ABERTURA DE PROCEDIMENTO
Aviso (extrato) CONCURSAL DE SELEÇÃO INTERNACIONAL
Sumário: Abertura do procedimento concursal prévio à eleição do diretor do PARA A CONTRATAÇÃO DE DOUTORADO(A)
Agrupamento de Escolas de Pedome - Vila Nova de Famalicão para
o quadriénio 2021/2025. NO ÂMBITO DO PROJETO STEROID COM O
M/F Nº 069989 (POCI-01-0247-FEDER-069989),
Nos termos do disposto no artigo 22.º do Decreto-Lei n.º 75/2008, de 22 de FINANCIADO PELO FUNDO EUROPEU DE
abril, na versão publicada em anexo ao Decreto-Lei n.º 137/2012, de 2 de julho,
torna-se público que se encontra aberto, pelo prazo de dez dias úteis a contar
DESENVOLVIMENTO REGIONAL (FEDER), DO
ao dia seguinte ao da publicação do aviso n.º 2947/2021 do Diário da República, PROGRAMA OPERACIONAL COMPETITIVIDADE
2.ª Série n.º 34 de 18/02/2021, o procedimento concursal prévio à eleição do
Diretor do Agrupamento de Escolas de Pedome-Vila Nova de Famalicão.
E INTERNACIONALIZAÇÃO (COMPETE 2020)
Este aviso encontra-se afixado nos locais apropriados da Escola sede do DO PORTUGAL 2020.
agrupamento e na página da Direção-Geral da Administração Escolar.
Os interessados deverão consultar a página eletrónica do agrupamento Mais informações deverão ser consultadas em:
Pedome-Vila Nova de Famalicão, 18 de fevereiro de 2021
http://www.eracareers.pt ou em https://www.it.pt/positions
A presidente do Conselho Geral, Paula Neto Gaspar da Silva
AVISO DE ABERTURA DE PROCEDIMENTO CONCURSAL
AVISO DE SELEÇÃO INTERNACIONAL PARA A CONTRATAÇÃO
Lista unitária de ordenação final dos candidatos - notificação DE INVESTIGADOR(A) SÉNIOR (1 vaga) AO ABRIGO DO
Para efeitos do estipulado no artigo 28.º da Portaria n.º 125-A/2019 DECRETO-LEI n.º 7/2009, DE 12 DE FEVEREIRO
de 30 de abril, ficam notificados os candidatos excluídos no decurso
da aplicação dos métodos de seleção e os candidatos aprovados nos Encontra-se aberto um concurso para a contratação de um(a)
procedimentos concursais, publicados sob o aviso n.º 10606/2020, na
2.ª Série do Diário da República, n.º 137, de 16 de julho de 2020 e ofertas
Investigador Sénior no âmbito do “BLUEBIO4FUTURE - Blue
Biotechnology and Bioengineering for the Current and Future
de emprego público publicitadas na Bolsa de Emprego Público, que no
Development of a Blue Bioeconomy” com a referência GA
prazo de 10 dias úteis a contar da publicação de aviso em Diário da
República, que ocorreu no dia 18 de fevereiro de 2021, podem exercer 952374, na Instituição de I&D CIIMAR (Centro Interdisciplinar
o direito de audiência dos interessados, para, querendo, dizerem por de Investigação Marinha e Ambiental), apoiado pelo Programa
escrito o que se lhes oferecer, através do preenchimento do formulário
de audiência de interessados, disponibilizado na página eletrónica
Horizonte 2020, na área de Bioengenharia Científica.
do Municipio, em www.povodelanhoso.pt, remetido aos serviços de Prazo de Candidaturas: 1 de Março.
recursos humanos, da Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso, sito
Av.ª da Republica, 4830-513 Póvoa de Lanhoso, ou no Balcão Único do Para ver condições e outras informações consultar:
Edifício dos Paços do Concelho, no horário de expediente ou para o https://www2.ciimar.up.pt/jobs.php ou rh@ciimar.up.pt
endereço de correio eletrónico, com recibo de entrega da notificação,
para recursoshumanos@mun-planhoso.pt.
Município da Póvoa de Lanhoso,19 de fevereiro de 2021
O Presidente da Câmara Municipal,
Avelino Adriano Gaspar da Silva CONHEÇA AS NOSSAS COLECÇÕES
Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso
Avenida da República - 4830-513 Póvoa de Lanhoso
DE FILMES E SÉRIES EM LOJA.PUBLICO.PT
T. +351 253 639 700 F. +351 253 639 709 E. geral@mun-planhoso.pt W. www.povoadelanhoso.pt MAIS INFO: 210 111 010
Fundada em 1988 pelo Professor Doutor Carlos Garcia, a Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer
- Alzheimer Portugal é uma Instituição Particular de Solidariedade Social. É a única organização em Portugal, de âmbito nacional,
especificamente constituída para promover a qualidade de vida das pessoas com demência e dos seus familiares e cuidadores. Tem
cerca de dez mil associados em todo o país.
Oferece Informação sobre a doença, Formação para cuidadores formais e informais, Apoio domiciliário, Apoio Social e Psicológico e Consultas Médicas da Especialidade.
Como membro da Alzheimer Europe, a Alzheimer Portugal participa ativamente no movimento mundial e europeu sobre as demências, procurando reunir e divulgar os
conhecimentos mais recentes sobre a Doença de Alzheimer, promovendo o seu estudo, a investigação das suas causas, efeitos, profilaxia e tratamentos.
Contactos
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Centro de Dia Prof. Doutor Carlos Garcia: Av. de Ceuta Norte, Lote 1, Loja 1 e 2 Quinta do Loureiro, 1350-410 Lisboa - Telefone: 213 609 300 - E-mail: geral@alzheimerportugal.org
Lar, Centro de Dia e Apoio Domiciliário «Casa do Alecrim», Rua Joaquim Miguel Serra Moura, n.º 256 - Alapraia, 2765-029 Estoril - Telefone: 214 525 145 - E-mail: casadoalecrim@alzheimerportugal.org
Horário de Atendimento: Quartas e sextas, entre as 9h e as 13h
Núcleo do Ribatejo da Alzheimer Portugal: R. Dom Gonçalo da Silveira n.º 31 «A, 2080-114 Almeirim - Telefone: 243 000 087 - E-mail: geral.ribatejo@alzheimerportugal.org
Delegação Norte da Alzheimer Portugal: Centro de Dia «Memória de Mim», Rua do Farol Nascente, n.º 47A R/C, 4455-301 Lavra - Telefone: 229 260 912 | 226 066 863 - E-mail: geral.norte@alzheimerportugal.org
Delegação Centro da Alzheimer Portugal: Centro de Dia do Marquês, Urb. Casal Galego - Rua Raul Testa Fortunato n.º 17, 3100-523 Pombal - Telefone: 236 219 469 - E-mail: geral.centro@alzheimerportugal.org
Núcleo de Aveiro: Santa Casa da Misericórdia de Aveiro, Complexo Social da Quinta da Moita - Oliveirinha 3810 Aveiro, Telefone: 234 940 480 - E-mail: geral.aveiro@alzheimerportugal.org
Delegação da Madeira da Alzheimer Portugal: Avenida do Colégio Militar, Complexo Habitacional da Nazaré, Cave do Bloco 21 - Sala E, 9000-135 Funchal
Telefone: 291 772 021 - Fax: 291 772 021 - E-mail: geral.madeira@alzheimerportugal.org

António de Jesus Figueira Mendes, Presidente da Câmara Municipal de
Grândola, Faz Saber:
Em cumprimento do disposto na alínea a) do n.º 2 do artigo 78.º do D.L. n.º 555/99,
de 16 de Dezembro, na sua atual redação, foi emitido Aditamento n.º 4 ao Alvará
de Loteamento n.º 2/2007, em nome de CostaTerra Sociedade Imobiliária de
Grândola, Lda com o Contribuinte n.º 503584789, através do qual foi licenciado
o loteamento que incidiu sobre o prédio, denominado “Fontainhas de Baixo” ou
“Fontainhas do Poente”, da freguesia de Melides descrito na Conservatória do
Registo Predial sob o n.º 2396/20070718, da respetiva freguesia.
A alteração ao Loteamento incide sobre os lotes n.ºs 2, 4, 6, 8, 10, 12, 18, 20,
22, 24, 26, 28, 30, 32, 38, 40, 42, 44, 48, 150, 54, 206, 56, 58, 85, 87, 86, 88,
89, 91, 90, 92, 93, 95, 102, 133, 104, 135, 109, 111, 112, 114, 116, 145, 118,
147, 119, 121, 120, 149, 122, 151, 124, 153, 126, 155, 128, 157, 159, 130, 132,
138, 140, 152, 154, 158, 160, 165, 167, 177, 179, 190, 191, 195, 196, 197,198,
226 e 230, descritos na Conservatória do Registo Predial de Grândola sob
os n.ºs 2398, 2400, 2402, 2404, 2406, 2408, 2413, 2415, 2417, 2419, 2421,
2423, 2425, 2427, 2433, 2435, 2437, 2439, 2443, 2495, 2274, 2350, 2275, 2276,
2453, 2455, 2454, 2456, 2457, 2459, 2458, 2460, 2461, 2463, 2470, 2312, 2472,
2313, 2477, 2479, 2480, 2481, 2301, 2320, 2302, 2321, 2484, 2485, 2303, 2322,
2304, 2323, 2305, 2496, 2306, 2498, 2308, 2500, 2325, 2310, 2488, 2491, 2492,
2324, 2497, 2501, 2502, 2506, 2508, 2516, 2329, 2334, 2335, 2339, 2340, 2341,
2342, 2358, 2362, e inscritos na matriz sob os artigos 2864, 2866, 2868, 2870,
2872, 2874, 2879, 2881, 2883, 2885, 2887, 2889, 2891, 2893, 2899, 2901, 2903,
2905, 2909, 2961, 2675, 2751, 2676, 2677, 2919, 2921, 2920, 2922, 2923, 2925,
2924, 2926, 2927, 2929, 2936, 2713, 2938, 2714, 2943, 2945, 2946, 2947, 2702,
2721, 2703, 2722, 2950, 2951, 2704, 2723, 2705, 2724, 2706, 2962, 2707, 2964,
2709, 2966, 2726, 2711, 2954, 2957, 2958, 2725, 2963, 2967, 2968, 2972, 2974,
2982, 2730, 2735, 2736, 2740, 2741, 2742, 2743, 2759, 2763, aprovada por meu
despacho, exarado em 2020/10/02, proferido no uso da competência delegada
pela Câmara na Reunião de 20/10/2017 e na reunião de 26/10/2017, e respeita
o Plano de Diretor Municipal PP ADT4 (Núcleo de Desenvolvimento Turístico das
Fontainhas), e consta do seguinte, conforme memória descritiva, quadro síntese,
enquadramento e plantas sínteses, que constituem o Anexo l, os quais fazem
parte integrante do presente aditamento:
A alteração visa o emparcelamento de 77 lotes maioritariamente em operações
de união de duas unidades e uma de três unidades, perfazendo o total final de
165 lotes remanescentes e sendo suprimidos 39 lotes e a correção de erros
materiais (polígonos de implantação do lote 226 — Restaurante e lote 230 —
Clube de Golf e Campo de Golf).
Na identificação dos novos lotes, mantém-se o lote de menor numeração,
suprimindo-se o anexado conforme a seguir se descreve:
- Supressão do lote 4 cuja área foi integrada no lote 2;
- Supressão do fote 8 cuja área foi integrada no lote 6;
- Supressão do lote 12 cuja área foi integrada no lote 10;
- Supressão do lote 20 cuja área foi integrada no lote 18;
- Supressão do lote 24 cuja área foi integrada no lote 22;
- Supressão do lote 28 cuja área foi integrada no lote 26;
- Supressão do lote 32 cuja área foi integrada no lote 30;
- Supressão do lote 40 cuja área foi integrada no lote 38;
- Supressão do lote 44 cuja área foi integrada no lote 42;
- Supressão do lote 150 cuja área foi integrada no lote 48;
- Supressão do lote 206 cuja área foi integrada no lote 54;
- Supressão do lote 58 cuja área foi integrada no lote 56;
- Supressão do lote 87 cuja área foi integrada no lote 85;
- Supressão do lote 88 cuja área foi integrada no tote 86;
- Supressão do lote 91 cuja área foi integrada no lote 89;
- Supressão do lote 92 cuja área foi integrada no lote 90;
- Supressão do lote 95 cuja área foi integrada no lote 93;
- Supressão do lote 133 cuja área foi integrada no lote 102;
- Supressão do lote 135 cuja área foi integrada no lote 104;
- Supressão do lote 111 cuja área foi integrada no lote 109;
- Supressão do lote 114 cuja área foi integrada no lote 112;
- Supressão do lote 145 cuja área foi integrada no lote 116;
- Supressão do lote 147 cuja área foi integrada no lote 118;
- Supressão do lote 121 cuja área foi integrada no lote 119;
- Supressão do lote 149 cuja área foi integrada no lote 120;
- Supressão do lote 151 cuja área foi integrada no lote 122;
- Supressão do lote 153 cuja área foi integrada no lote 124;
- Supressão do lote 155 cuja área foi integrada no lote 126;
- Supressão do lote 157 e 159 cuja área foi integrada no lote 128;
- Supressão do lote 132 cuja área foi integrada no lote 130;
- Supressão do lote 140 cuja área foi integrada no lote 138;
- Supressão do lote 154 cuja área foi integrada no lote 152;
- Supressão do lote 160 cuja área foi integrada no lote 158;
- Supressão do lote 167 cuja área foi integrada no lote 165;
- Supressão do lote 179 cuja área foi integrada no lote 177;
- Supressão do lote 191 cuja área foi integrada no lote 190;
- Supressão do lote196 cuja área foi integrada no lote 195;
- Supressão do lote 198 cuja área foi integrada no lote 197;
Correções materiais
Durante o período de execução das obras de urbanização, foram identificados
dois erros materiais relativamente aos polígonos de implantação dos lotes 226
— Restaurante e 230 — Clube de Golfe e Campo de Golfe, tais erros resultam de
uma incompatibilidade patente e manifesta entre a área máxima de implantação
definida no quadro de áreas que consubstancia a área do projeto aprovado, e a
sua tradução gráfica na planta síntese do loteamento.
No caso do lote 226 — Restaurante, o quadro de áreas do loteamento apresenta
350,00 m2 de área máxima de implantação permitida, enquanto a planta
síntese apresenta um polígono com apenas 150,00 m2 de área de implantação
efetiva. Considerando a área máxima de construção estabelecida para o lote —
721,00m2 e o respetivo número de pisos — 2, verifica-se a impossibilidade de
utilização da totalidade da ABC.
No que diz respeito ao lote 230 — Clube de Golfe e Campo de Golfe, o quadro
de áreas apresenta 2.602,00 m2 de área máxima de implantação permitida,
enquanto a planta síntese apresenta um polígono com apenas 1.250,00 m2 de
área de implantação efetiva. Nesse contexto, o mesmo raciocínio utilizado no lote
226 se revela coerente, ou seja, com 4.281,00 m2 de área máxima de construção
e 2 pisos previstos no quadro de áreas, seria impossível a utilização da totalidade
da área bruta de construção.
Neste sentido, os lotes passam a ter a seguinte descrição:
LOTE 2 - com a área total de 3905 m2 (três mil novecentos e cinco metros
quadrados), com a área bruta de construção máxima acima do solo de 976 m2
(novecentos e setenta e seis metros quadrados), uma área de implantação de
586 m2 (quinhentos e oitenta e seis metros quadrados), com uma cércea máxima
de 6.5m (seis metros e cinquenta centímetros), correspondente a 2 (dois) pisos
MUNICÍPIO DE GRÂNDOLA
acima da cota de soleira, destinado a moradia residencial ou Turística e três (3)
pisos abaixo da cota de soleira destinado a estacionamento, arrecadações ou
áreas técnicas.
LOTE 6 - com a área total de 3747 m2 (três mil setecentos e quarenta e sete
metros quadrados) com a área bruta de construção máxima acima do solo de
937 m2 (novecentos e trinta e sete metros quadrados), uma área de implantação
de 562 m2 (quinhentos e sessenta e dois metros quadrados), com uma cércea
máxima de 6.5m (seis metros e cinquenta centímetros), correspondente a 2
(dois) pisos acima da cota de soleira destinado a moradia residencial ou turística,
podendo ser edificados 3 (três) pisos abaixo da cota de soleira destinados a
estacionamento, arrecadações ou áreas técnicas.
LOTE 10 - com a área total de 3779 m2 (três mil setecentos e setenta e nove
metros quadrados), com a área bruta de construção máxima acima do solo
de 945 m2 (novecentos e quarenta e cinco metros quadrados , uma área de
implantação de 567 m2 (quinhentos e sessenta e sete metros quadrados),
com uma cércea máxima de 6.5m (seis metros e cinquenta centímetros),
correspondente a 2 (dois) pisos acima da cota de soleira destinado a moradia
residencial ou turística, podendo ser edificados 3 (três) pisos abaixo da cota de
soleira destinados a estacionamento, arrecadações ou áreas técnicas.
LOTE 18 - com a área total de 3998 m2 (três mil novecentos e noventa e oito
metros quadrados), com a área bruta de construção máxima acima do solo de
1000 m2 (mil metros quadrados), uma área de implantação de 600 m2 (seiscentos
metros quadrados), com uma cércea máxima de 6.5m (seis metros e cinquenta
centímetros), correspondente a 2 (dois) pisos acima da cota de soleira destinado
a moradia residencial ou turística, podendo ser edificados 3 (três) pisos abaixo
da cota de soleira destinados a estacionamento, arrecadações ou áreas técnicas.
LOTE 22 - com a área total de 4049 m2 (quatro mil e quarenta e nove metros
quadrados), com a área bruta de construção máxima acima do solo de 1012 m2
(mil e doze metros quadrados), uma área de implantação de 607 m2 (seiscentos
e sete metros quadrados), com uma cércea máxima de 6.5m (seis metros e
cinquenta centímetros), correspondente a 2 (dois) pisos acima da cota de soleira
destinado a moradia residencial ou turística, podendo ser edificados 3 (três) pisos
abaixo da cota de soleira destinados a estacionamento, arrecadações ou áreas
técnicas.
LOTE 26 - com a área total de 4069 m2 (quatro mil e sessenta nove metros
quadrados), com a área bruta de construção máxima acima do solo de 1017m2
(mil e dezassete metros quadrados), uma área de implantação de 610 m2
(seiscentos e dez metros quadrados), com uma cércea máxima de 6.5m (seis
metros e cinquenta centímetros) correspondente a 2 (dois) pisos acima da cota
de soleira destinado a moradia residencial ou turística, podendo ser edificados 3
(três) pisos abaixo da cota de soleira destinados a estacionamento, arrecadações
ou áreas técnicas.
LOTE 30 - com a área total de 4003 m2 (quatro mil e três metros quadrados), com
a área bruta de construção máxima acima do solo de 1001 m2 (mil e um metros
quadrados), uma área de implantação de 600 m2 (seiscentos metros quadrados),
com uma cércea máxima de 6.5m (seis metros e cinquenta centímetros),
correspondente a 2 (dois) pisos acima da cota de soleira destinado a moradia
residencial ou turística, podendo ser edificados 3 (três) pisos abaixo da cota de
soleira destinados a estacionamento, arrecadações ou áreas técnicas.
LOTE 38 - com a área total de 4034 m2 (quatro mil e trinta e quatro metros
quadrados) com a área bruta de construção máxima acima do solo de 1008 m2
(mil e oito metros quadrados), uma área de implantação de 605 m2 (seiscentos
e cinco metros quadrados), com uma cércea máxima de 6.5m (seis metros e
cinquenta centímetros), correspondente a 2 (dois) pisos acima da cota de soleira
destinado a moradia residencial ou turística, podendo ser edificados 3 (três) pisos
abaixo da cota de soleira destinados a estacionamento, arrecadações ou áreas
técnicas.
LOTE 42 - com a área total de 4064 m2 (quatro mil e sessenta e quatro metros
quadrados), com a área bruta de construção máxima acima do solo de 1016m2
(mil e dezasseis metros quadrados), uma área de implantação de 610 m2
(seiscentos e dez metros quadrados), com uma cércea máxima de 6.5m (seis
metros e cinquenta centímetros), correspondente a 2 (dois) pisos acima da cota
de soleira destinado a moradia residencial ou turística, podendo ser edificados 3
(três) pisos abaixo da cota de soleira destinados a estacionamento, arrecadações
ou áreas técnicas.
LOTE 48 - com a área total de 3960 m2 (três mil novecentos e sessenta metros
quadrados), com a área bruta de construção máxima acima do solo de 990 m2
(novecentos e noventa metros quadrados), uma área de implantação de 594 m2
(quinhentos e noventa e quatro metros quadrados), com uma cércea máxima
de 6.5m (seis metros e cinquenta centímetros), correspondente a 2 (dois) pisos
acima da cota de soleira destinado a moradia residencial ou turística, podendo ser
edificados 3 (três) pisos abaixo da cota de soleira destinados a estacionamento,
arrecadações ou áreas técnicas.
LOTE 54 - com a área total de 4478 m2 (quatro mil quatrocentos e setenta e
oito metros quadrados ), com a área bruta de construção máxima acima do solo
de 1120 m2 (mil cento e vinte metros quadrados), uma área de implantação
de 672 m2 (seiscentos e setenta e dois metros quadrados), com uma cércea
máxima de 6.5m (seis metros e cinquenta centímetros), correspondente a 2
(dois) pisos acima da cota de soleira destinado a moradia residencial ou turística,
podendo ser edificados 3 (três) pisos abaixo da cota de soleira destinados a
estacionamento, arrecadações ou áreas técnicas.
LOTE 56 - com a área total de 4094 m2 (quatro mil e noventa e quatro metros
quadrados), com a área bruta de construção máxima acima do solo de 1023m2
(mil e vinte e três metros quadrados), uma área de implantação de 614 m2
(seiscentos e catorze metros quadrados), com uma cércea máxima de 6.5m (seis
metros e cinquenta centímetros), correspondente a 2 (dois) pisos acima da cota
de soleira destinado a moradia residencial ou turística, podendo ser edificados 3
(três) pisos abaixo da cota de soleira destinados a estacionamento, arrecadações
ou áreas técnicas.
LOTE 85 - com a área total de 4445 m2 (quatro mil quatrocentos e quarenta
e cinco metros metros quadrados), com a área bruta de construção máxima
acima do solo de 1111 m2 (mil cento e onze metros quadrados), uma área
de implantação de 667 m2 (seiscentos e sessenta e sete metros quadrados),
com uma cércea máxima de 6.5m (seis metros e cinquenta centímetros),
correspondente a 2 (dois) pisos acima da cota de soleira destinado a moradia
residencial ou turística, podendo ser edificados 3 (três) pisos abaixo da cota de
soleira destinados a estacionamento, arrecadações ou áreas técnicas.
LOTE 86 - com a área total de 4133 m2 (quatro mil cento e trinta e três metros
quadrados), com a área bruta de construção máxima acima do solo de 1033m2
(mil e trinta e três metros quadrados), uma área de implantação de 620 m2
(seiscentos e vinte metros quadrados), com uma cércea máxima de 6.5m (seis
metros e cinquenta centímetros), correspondente a 2 (dois) pisos acima da cota
de soleira destinado a moradia residencial ou turística, podendo ser edificados 3
(três) pisos abaixo da cota de soleira destinados a estacionamento, arrecadações
ou áreas técnicas.
Público ClassiÄcados • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021 • 29
CÂMARA MUNICIPAL
EDITAL N.º 37
LOTE 89 - com a área total de 4569 m2 (quatro mil quinhentos e sessenta e
nove metros quadrados), com a área bruta de construção máxima acima do
solo de 1142 m2 (mil cento e quarenta e dois metros quadrados), uma área
de implantação de 685 m2 (seiscentos e oitenta e cinco metros quadrados),
com uma cércea máxima de 6.5m (seis metros e cinquenta centímetros),
correspondente a 2 (dois) pisos acima da cota de soleira destinado a moradia
residencial ou turística, podendo ser edificados 3 (três) pisos abaixo da cota de
soleira destinados a estacionamento, arrecadações ou áreas técnicas.
LOTE 90 - com a área total de 4372 m2 (quatro mil trezentos e setenta e dois
metros quadrados), com a área bruta de construção máxima acima do solo de
1093 m2 (mil e noventa e três metros quadrados), uma área de implantação de
656 m2 (seiscentos e cinquenta e seis metros quadrados), com uma cércea
máxima de 6.5m (seis metros e cinquenta centímetros), correspondente a 2
(dois) pisos acima da cota de soleira destinado a moradia residencial ou turística,
podendo ser edificados 3 (três) pisos abaixo da cota de soleira destinados a
estacionamento, arrecadações ou áreas técnicas.
LOTE 93 - com a área total de 3855 m2 (três mil oitocentos e cinquenta e cinco
metros quadrados), com a área bruta de construção máxima acima do solo de
964 m2 (novecentos e sessenta e quatro quadrados), uma área de implantação
de 578 m2 (quinhentos e setenta e oito metros quadrados), com uma cércea
máxima de 6.5m (seis metros e cinquenta centímetros), correspondente a 2
(dois) pisos acima da cota de soleira destinado a moradia residencial ou turística,
podendo ser edificados 3 (três) pisos abaixo da cota de soleira destinados a
estacionamento, arrecadações ou áreas técnicas.
LOTE 102 - com a área total de 3697 m2 (três mil seiscentos e noventa e sete
metros quadrados), com a área bruta de construção máxima acima do solo de
924m2 (novecentos e vinte e quatro metros quadrados), uma área de implantação
de 555 m2 (quinhentos e cinquenta e cinco metros quadrados), com uma cércea
máxima de 6.5m (seis metros e cinquenta centímetros), correspondente a 2
(dois) pisos acima da cota de soleira destinado a moradia residencial ou turística„
podendo ser edificados 3 (três) pisos abaixo da cota de soleira destinados a
estacionamento, arrecadações ou áreas técnicas.
LOTE 104 - com a área total de 4351 m2 (quatro mil trezentos e cinquenta e
um metros quadrados), com a área bruta de construção máxima acima do solo
de 1088 m2 (mil e oitenta e oito metros quadrados), uma área de implantação
de 653 m2 (seiscentos e cinquenta e três metros quadrados), com uma cércea
máxima de 6.5m (seis metros e cinquenta centímetros), correspondente a 2
(dois) pisos acima da cota de soleira, destinado a moradia residencial ou turística
podendo ser edificados 3 (três) pisos abaixo da cota de soleira destinados a
estacionamento, arrecadações ou áreas técnicas.
LOTE 109 - com a área total de 4305 m2 (quatro mil trezentos e cinco metros
quadrados), com a área bruta de construção máxima acima do solo de 1076m2
(mil e setenta e seis metros quadrados), uma área de implantação de 646 m2
(seiscentos e quarenta e seis metros quadrados), com uma cércea máxima de
6.5m (seis metros e cinquenta centímetros), correspondente a 2 (dois) pisos
acima da cota de soleira destinado a moradia residencial ou turística, podendo ser
edificados 3 (três) pisos abaixo da cota de soleira destinados a estacionamento,
arrecadações ou áreas técnicas.
LOTE 112 - com a área total de 3777 m2 (três mil setecentos e setenta e sete
metros quadrados), com a área bruta de construção máxima acima do solo
de 944 m2 (novecentos e quarenta e quatro metros quadrados), uma área de
implantação de 567 m2 (quinhentos e sessenta e sete metros quadrados),
com uma cércea máxima de 6.5m (seis metros e cinquenta centímetros),
correspondente a 2 (dois) pisos acima da cota de soleira destinado a moradia
residencial ou turística, podendo ser edificados 3 (três) pisos abaixo da cota de
soleira destinados a estacionamento, arrecadações ou áreas técnicas.
LOTE 116 - com a área total de 4936 m2 (quatro mil novecentos e trinta e seis
metros quadrados), com a área bruta de construção máxima acima do solo
de 1234 m2 (mil duzentos e trinta e quatro metros quadrados), uma área de
implantação de 740 m2 (setecentos e quarenta metros quadrados), com uma
cércea máxima de 6.5m (seis metros e cinquenta centímetros), correspondente
a 2 (dois) pisos acima da cota de soleira destinado a moradia residencial ou
turística, podendo ser edificados 3 (três) pisos abaixo da cota de soleira
destinados a estacionamento, arrecadações ou áreas técnicas.
LOTE 118 - com a área total de 5487 m2 (cinco mil quatrocentos e oitenta e
sete metros quadrados), com a área bruta de construção máxima acima do solo
de 1372 m2 (mil trezentos e setenta e dois metros quadrados), uma área de
implantação de 823 m2 (oitocentos e vinte e três metros quadrados), com uma
cércea máxima de 6.5m (seis metros e cinquenta centímetros), correspondente
a 2 (dois) pisos acima da cota de soleira destinado a moradia residencial ou
turística, podendo ser edificados 3 (três) pisos abaixo da cota de soleira
destinados a estacionamento, arrecadações ou áreas técnicas.
LOTE 119 - com a área total de 4816 m2 (quatro mil oitocentos e dezasseis
metros quadrados ), com a área bruta de construção máxima acima do solo de
1204 m2 (mil duzentos e quatro metros quadrados), uma área de implantação de
722 m2 (setecentos e vinte e dois metros quadrados), com uma cércea máxima
de 6.5m (seis metros e cinquenta centímetros), correspondente a 2 (dois) pisos
acima da cota de soleira destinado a moradia residencial ou turística, podendo ser
edificados 3 (três) pisos abaixo da cota de soleira destinados a estacionamento,
arrecadações ou áreas técnicas.
LOTE 120 - com a área total de 4959 m2 (quatro mil novecentos e cinquenta
e nove metros quadrados), com a área bruta de construção máxima acima do
solo de 1240 m2 (mil duzentos e quarenta metros quadrados), uma área de
implantação de 744 m2 (setecentos e quarenta e quatro metros quadrados),
com uma cércea máxima de 6.5m (seis metros e cinquenta centímetros),
correspondente a 2 (dois) pisos acima da cota de soleira destinado a moradia
residencial ou turística, podendo ser edificados 3 (três) pisos abaixo da cota de
soleira destinados a estacionamento, arrecadações ou áreas técnicas.
LOTE 122 - com a área total de 3864 m2 (três mil oitocentos e sessenta e
quatro metros quadrados .com a área bruta de construção máxima acima do
solo de 966m2 (novecentos e sessenta e seis metros quadrados), uma área
de implantação de 580 m2 (quinhentos e oitenta metros quadrados), com uma
cércea máxima de 6.5m (seis metros e cinquenta centímetros), correspondente
a 2 (dois) pisos acima da cota de soleira destinado a moradia residencial ou
turística, podendo ser edificados 3 (três) pisos abaixo da cota de soleira
destinados a estacionamento, arrecadações ou áreas técnicas.
LOTE 124 - com a área total de 3732 m2 (três mil setecentos e trinta e dois
metros quadrados), com a área bruta de construção máxima acima do soto de
933 m2 (novecentos e trinta e três metros quadrados), uma área de implantação
de 560m2 (quinhentos e sessenta metros quadrados), com uma cércea máxima
de 6.5m (seis metros e cinquenta centímetros), correspondente a 2 (dois) pisos
acima da cota de soleira destinado a moradia residencial ou turística, podendo ser
edificados 3 (três) pisos abaixo da cota de soleira destinados a estacionamento,
arrecadações ou áreas técnicas.
LOTE 126 - com a área total de 3558 m2 (três mil quinhentos e cinquenta e oito
metros quadrados) com a área bruta de construção máxima acima do solo de
889 m2 (oitocentos e oitenta e nove metros quadrados), uma área de implantação
de 534 m2 (quinhentos e trinta e quatro metros quadrados), com uma cércea
máxima de 6.5m (seis metros e cinquenta centímetros), correspondente a 2
(dois) pisos acima da cota de soleira destinado a moradia residencial ou turística,
podendo ser edificados 3 (três) pisos abaixo da cota de soleira destinados a
estacionamento, arrecadações ou áreas técnicas.
LOTE 128 - com a área total de 5854 m2 (cinco mil oitocentos e cinquenta e
quatro metros quadrados), com a área bruta de construção máxima acima do
solo de 1463 m2 (mil quatrocentos e sessenta e três metros quadrados), uma
área de implantação de 878 m2 (oitocentos e setenta e oito metros quadrados),
com uma cércea máxima de 6.5m (seis metros e cinquenta centímetros),
correspondente a 2 (dois) pisos acima da cota de soleira destinado a moradia
residencial ou turística, podendo ser edificados 3 (três) pisos abaixo da cota de
soleira destinados a estacionamento, arrecadações ou áreas técnicas.
LOTE 130 - com a área total de 5542 m2 (cinco mil quinhentos e quarenta e
dois metros quadrados), com a área bruta de construção máxima acima do solo
de 1385 m2 (mil trezentos e oitenta e cinco metros quadrados), uma área de
implantação de 831 m2 (oitocentos e trinta e um metros quadrados), com uma
cércea máxima de 6.5m (seis metros e cinquenta centímetros), correspondente
a 2 (dois) pisos acima da cota de soleira destinado a moradia residencial ou
turística, podendo ser edificados 3 (três) pisos abaixo da cota de soleira
destinados a estacionamento, arrecadações ou áreas técnicas.
LOTE 138 - com a área total de 4261 m2 (quatro mil duzentos e sessenta e um
metros quadrados), com a área bruta de construção máxima acima do solo de
1065 m2 (mil e sessenta e cinco metros quadrados), uma área de implantação
de 639 m2 (seiscentos e trinta e nove metros quadrados), com uma cércea
máxima de 6.5m (seis metros e cinquenta centímetros), correspondente a 2
(dois) pisos acima da cota de soleira destinado a moradia residencial ou turística,
podendo ser edificados 3 (três) pisos abaixo da cota de soleira destinados a
estacionamento, arrecadações ou áreas técnicas.
LOTE 152 - com a área total de 3419 m2 (três mil quatrocentos e dezanove metros
quadrados), com a área bruta de construção máxima acima do solo de 855 m2
(oitocentos e cinquenta e cinco metros quadrados), uma área de implantação de
513 m2 (quinhentos e treze metros quadrados), com uma cércea máxima de 6.5m
(seis metros e cinquenta centímetros), correspondente a 2 (dois) pisos acima
da cota de soleira destinado a moradia residencial ou turística, podendo ser
edificados 3 (três) pisos abaixo da cota de soleira destinados a estacionamento,
arrecadações ou áreas técnicas.
LOTE 158 - com a área total de 4025 m2 (quatro mil e vinte cinco metros
quadrados), com a área bruta de construção máxima acima do solo de 1006 m2
(mil e seis metros quadrados), uma área de implantação de 604 m2 (seiscentos
e quatro metros quadrados), com uma cércea máxima de 6.5m (seis metros e
cinquenta centímetros), correspondente a 2 (dois) pisos acima da cota de soleira
destinado a moradia residencial ou turística, podendo ser edificados 3 (três) pisos
abaixo da cota de soleira destinados a estacionamento, arrecadações ou áreas
técnicas.
LOTE 165 - com a área total de 4053 m2 (quatro mil e cinquenta e três metros
quadrados), com a área bruta de construção máxima acima do solo de 1013 m2
(mil e treze metros quadrados), uma área de implantação de 608 m2 (seiscentos
e oito metros quadrados), com uma cércea máxima de 6.5m (seis metros e
cinquenta centímetros), correspondente a 2 (dois) pisos acima da cota de soleira
destinado a moradia residencial ou turística, podendo ser edificados 3 (três) pisos
abaixo da cota de soleira destinados a estacionamento, arrecadações ou áreas
técnicas.
LOTE 177 - com a área total de 3634 m2 (três mil seiscentos e trinta e quatro
metros quadrados). com a área bruta de construção máxima acima do solo de
909 m2 (novecentos e nove metros quadrados), uma área de implantação de
545 m2 (quinhentos e quarenta e cinco metros quadrados), com uma cércea
máxima de 6.5m (seis metros e cinquenta centímetros), correspondente a 2
(dois) pisos acima da cota de soleira destinado a moradia residencial ou turística,
podendo ser edificados 3 (três) pisos abaixo da cota de soleira destinados a
estacionamento, arrecadações ou áreas técnicas.
LOTE 190 - com a área total de 3750 m2 (três mil setecentos e cinquenta
metros quadrados), com a área bruta de construção máxima acima do solo de
938m2 (novecentos e trinta e oito metros quadrados), uma área de implantação
de 563m2 (quinhentos e sessenta e três metros quadrados), com uma cércea
máxima de 6.5m (seis metros e cinquenta centímetros), correspondente a 2
(dois) pisos acima da cota de soleira destinado a moradia residencial ou turística,
podendo ser edificados 3 (três) pisos abaixo da cota de soleira destinados a
estacionamento, arrecadações ou áreas técnicas.
LOTE 195 - com a área total de 3584 m2 (três mil quinhentos e oitenta e
quatro metros quadrados), com a área bruta de construção máxima acima do
solo de 896 m2 (oitocentos e noventa e seis metros quadrados), uma área de
implantação de 538 m2 (quinhentos e trinta e oito metros quadrados), com uma
cércea máxima de 6.5m (seis metros e cinquenta centímetros), correspondente
a 2 (dois) pisos acima da cota de soleira destinado a moradia residencial ou
turística, podendo ser edificados 3 (três) pisos abaixo da cota de soleira
destinados a estacionamento, arrecadações ou áreas técnicas.
LOTE 197 - com a área total de 3773 m2 (três mil setecentos e setenta e três
metros quadrados), com a área bruta de construção máxima acima do solo
de 943m2 (novecentos e quarenta e três metros quadrados), uma área de
implantação de 566 m2 (quinhentos e sessenta e seis metros quadrados),
com uma cércea máxima de 6.5m (seis metros e cinquenta centímetros),
correspondente a 2 (dois) pisos acima da cota de soleira destinado a moradia
residencial ou turística, podendo ser edificados 3 (três) pisos abaixo da cota de
soleira destinados a estacionamento, arrecadações ou áreas técnicas.
LOTE 226 - com a área total de 4475,00 m2 (quatro mil quatrocentos e setenta e
cinco metros quadrados) com área bruta de construção de 721,00 m2 (setecentos
e vinte um metro quadrado) uma área de implantação de 350,00 m2 (trezentos e
cinquenta metros quadrados), com uma cércea de 6,5 m (seis metros e cinquenta
centímetros) dois pisos acima da cota de soleira destinado a restaurante.
LOTE 230 - com a área de 759 201,00 m2 (setecentos e cinquenta e nove
mil duzentos e um metros quadrados) com a área bruta de construção de
4 281,00m2 (quatro mil duzentos e oitenta e um metros quadrados) e uma
implantação de 2602,00m2 (dois mil seiscentos e dois metros quadrados) com
uma cércea de 6,5m (seis metros e cinquenta centímetros) 2 pisos acima da cota
de soleira destinado a Clube de Golfe + Golfe.
Mantendo-se tudo o resto.
Para constar se lavrou este e outros de igual teor que vão ser afixados nos locais
de estilo.
Grândola, Paços do Concelho aos 29 dias do mês de janeiro do ano de dois
mil e vinte um
O Presidente da Câmara Municipal
António de Jesus Figueira Mendes
30 • Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021
Ciência Perseverance irá procurar antigos sinais de vida
Robô da NASA já pousou
em Marte e leva consigo
um helicóptero
Depois de “sete minutos de terror”, tivemos a notícia de que
o robô Perseverance pousou em solo marciano. Com ele foi
o primeiro helicóptero enviado para outro planeta, que teve
a participação de uma cientista portuguesa
Teresa Sofia Serafim
O Perseverance já pousou em Marte.
O robô mais soÆsticado enviado pela
NASA para o planeta vermelho che-
gou à sua superfície ainda antes das
21h (de Lisboa) de ontem. Agora, pre-
para-se para recolher amostras e pro-
curar antigos sinais de vida microbia-
na. Missão inclui também o primeiro
helicóptero a voar noutro planeta.
Momentos de muita tensão, mas
com a noção de que estava tudo a
correr bem. É assim que se podem
resumir os minutos que antecederam
a chegada do Perseverance ao solo
marciano. Através da transmissão em
directo, a partir da sala de comandos
do Laboratório de Propulsão a Jacto
da NASA, na Califórnia (nos EUA),
chegavam-nos aos poucos a conÆrma-
ção de que as várias fases do processo
iam sendo superadas. “O veículo está
na direcção certa”, dizia Rob Man-
ning, engenheiro-chefe no laborató-
rio, com um certo nervosismo na voz.
Depois lá nos íamos apercebendo de
que a fase de cruzeiro tinha sido ultra-
passada ou que o veículo estava a
desacelerar. “Sim, sim. É um bom
sinal”, sussurrava Rob Manning.
Mas a fase que todos esperávamos
era mesmo a de entrada, descida e
pouso. Essa fase começou quando o
robô alcançou o topo da atmosfera
marciana e já saberíamos que duraria
sete minutos, conhecidos como “os
sete minutos de terror”. Mas pode
dizer-se que correram como planea-
do. A certa altura o pára-quedas
abriu-se, o veículo continuava a des-
cer e as etapas mostradas no ecrã iam
sendo atingidas. Até que tivemos a
conÆrmação: o robô chegou à super-
fície de Marte. Os aplausos Æzeram-se
ouvir numa sala com cientistas de
máscara e onde o silêncio até então
tinha reinado.
Segundos depois, já o robô estava
a enviar uma foto da sua nova casa,
Marte. “Olá, mundo. O meu primeiro
olhar para a minha casa eterna”, lia-se
na conta de Twitter oÆcial da missão,
juntamente com a imagem.
Pousar em Marte não é tarefa fácil:
só cerca das 40% das missões envia-
das para este planeta o conseguiram.
No caso do Perseverance Æcou prati-
camente por sua conta, porque
durante a aterragem o sinal vindo de
Marte demorou mais de 11 minutos a
chegar à Terra. Quando a equipa esta-
va a ouvir a entrada do robô na atmos-
fera, ele já estaria no solo.
A NASA considera que o sítio onde
o robô pousou — a cratera Jezero — foi
o “mais desaÆador” até agora. Com
um diâmetro de 45 quilómetros, a
Jezero é uma bacia de impacto com
um delta seco de um antigo rio, assim
como penhascos íngremes, dunas ou
crateras de impacto de meteoritos. A
equipa cientíÆca do Perseverance refe-
riu em comunicado que neste antigo
delta poderão ser recolhidas e estar
preservadas moléculas orgânicas e
outros potenciais vestígios de vida
microbiana. Um dos objectivos do
robô é mesmo recolher amostras e
sedimentos para que depois sejam
enviados e analisados na Terra.
Futuras missões humanas
É verdade de que há sondas que orbi-
tam Marte e que já recolheram dados
da Jezero, mas procurar sinais de vida
na superfície requer uma inspecção
à lupa. E aqui chegamos à grande mis-
são do robô. Missões anteriores da
NASA descobriram provas de que
Marte terá tido água corrente antes
de se ter tornado num deserto gelado.
No início da sua história, o planeta
terá tido ambientes mais quentes à
superfície que poderão ter permitido
vida microbiana. Agora, o Perseveran-
ce quer mesmo responder à questão:
existem sinais de vida microbiana
passada em Marte?
Para isso, está acompanhado com
instrumentos que terão um impor-
tante papel na procura desses antigos
sinais de vida . O SHERLOC tentará
detectar matéria orgânica e minerais.
Já o PIXL mapeará a composição quí-
mica de rochas e sedimentos. O Per-
severance também vai apetrechado
com equipamentos que conseguirão
recolher dados cientíÆcos à distância,
como câmaras que aumentarão o
zoom a texturas das rochas. Outro dos
seus objectivos é recolher dados para
caracterizar a geologia e o clima do
planeta, o que nos poderá dar a ideia
da razão porque é que a Terra e Mar-
te acabaram por ser tão diferentes.
Mas este também é um robô a des-
bravar terreno para futuras missões
humanas em Marte e na Lua. Uma das
tecnologias voltadas para o futuro
que vão a bordo do Perseverance é a
Terrain-Relative Navigation. Faz par-
te do sistema de aterragem do robô e
é a principal razão para que consiga
explorar um sítio como Jezero. No
futuro, espera-se que esta tecnologia
seja usada em aterragens de missões
robóticas e tripuladas na Lua.
A bordo da missão vai também uma
tecnologia de demonstração chama-
da “Mars Oxygen In-Situ Resource
Utilization Experiment”, que tentará PHILIPP SCHMIDLI
produzir oxigénio a partir da atmos-
fera de Marte. Quer-se assim procurar
uma forma de no futuro se gerar no
planeta oxigénio para o combustível
de foguetões ou para respiração dos
humanos.
Autonomia é também um dos
nomes do meio do Perseverance. Até
agora, este será o robô com mais auto-
nomia na superfície de Marte, o que
inclui “inteligência autodirigida que
lhe permitirá cobrir mais terreno nas
suas operações durante o dia e com
poucas instruções dos engenheiros a
partir da Terra”, esclarece a NASA.
Espera-se assim que consiga reunir
mais dados cientíÆcos ao longo da sua
jornada pelo planeta. Esta missão
também levou consigo mais câmaras
do que qualquer outra missão inter- Ilustração da primeira tentativa Maxon Group (na Suíça) e foi a gesto-
planetária na história: 19 só no robô. de voo do helicóptero Ingenuity; ra técnica do projecto para o desen-
e a engenheira aeronáutica volvimento e produção de seis moto-
A portuguesa e o helicóptero Florbela Costa res que controlam o movimento das
Outro dos elementos-chave e comple- pás do rotor (parte giratória que faz a
tamente novo da missão é o helicóp- não leva consigo instrumentos cien- propulsão) do helicóptero. “Será a
tero Ingenuity, a primeira aeronave tíÆcos e tem como objectivo demons- primeira vez que um helicóptero irá
que a humanidade envia para outro trar o voo de um helicóptero na descolar da superfície de Marte, o que
planeta. Este é um projecto experi- atmosfera extremamente Æna de Mar- irá ajudar a entender melhor e estu-
mental que quer testar a capacidade te. Para não haver risco para ambos, dar o ambiente do planeta.”
deste tipo de tecnologia em Marte. Os terão de estar a uma certa distância e Florbela Costa sublinha que a
resultados que daí saírem poderão a 19 de Março acontecerá essa sepa- atmosfera é muito mais rarefeita em
ser usados em futuras explorações ao ração. “Nunca mais estarão juntos”, Marte do que na Terra. E, tal como o
planeta, incluindo com astronautas. nota ao PÚBLICO Florbela Costa, robô, o helicóptero terá de aguentar
O helicóptero foi “colado à barriga” engenheira aeronáutica que ajudou as diferenças de temperaturas em
do robô e pousará com ele. Ao con- no desenvolvimento do helicóptero. Marte e teve de resistir às vibrações e
trário do Perseverance, o Ingenuity A portuguesa trabalha na empresa choques do transporte até ao planeta.

Para si, estas estão entre as maiores
diÆculdades que o Ingenuity atraves-
sará na sua missão.
“Foi óptimo participar neste pro-
jecto. Foi muito especíÆco e com mui-
tos detalhes técnicos”, conta a enge-
nheira de 32 anos. “Tínhamos de
analisar todos os possíveis riscos e
tomar acções através de testes ou aná-
lises para que nada falhe.”
Quanto ao Perseverance, a enge-
nheira diz que “o peso desta missão
é imensa”. “As amostras que o Perse-
verance irá recolher fazem parte de
uma longa missão [a MARS 2020 da
NASA] para trazer amostras de solo
de Marte de volta para a Terra”, indi-
ca. Espera-se que essas amostras che-
guem ao nosso planeta em 2031.
Além disso, sabe que todos os avan-
ços técnicos poderão um dia ser usa-
dos para a exploração humana de
Marte. “Tenho a certeza de que
vamos lá chegar! A única pergunta é
daqui a quantos anos”, reÇecte. E,
como é óbvio, gostaria de fazer parte
das pessoas que Æzessem essa explo-
ração. Por agora, através da Microsoft
Teams, acompanhou a aterragem do
Perseverance com a restante equipa
da sua empresa.
Há ainda um consórcio português
que participa nesta aventura liderado
pela corticeira Amorim. Fazem parte
dele o ISQ, o Pólo de Inovação em
Engenharia de Polímeros e a empresa
NASA/JPL-CALTECH
Stratosphere. O escudo de protecção
onde as amostras recolhidas no pla-
neta farão a última fase da viagem (a
reentrada na atmosfera terrestre foi
concebido e testado pelo consórcio.
Será a primeira O projecto teve como objectivo o de-
senvolvimento de um sistema de
vez que um escudo de protecção térmica e de
helicóptero irá amortecimento de choques na ater-
ragem, a ser incluído na cápsula.
descolar da O Perseverance junta-se agora à
superfície de família de robôs que já pisaram o
solo marciano — como o Opportunity
Marte, o que irá e o Spirit — e vai acompanhar outros
ajudar a entender ainda no activo. O Curiosity chegou
a Marte em 2012 à cratera Gale. Des-
melhor e estudar de então recolheu amostras de
o ambiente rochas, solo e ar para análises. No
fundo, quer responder à questão:
do planeta alguma vez Marte teve as condições
Florbela Costa ambientais certas para os micró-
Engenheira aeronáutica bios? Já a missão InSight chegou ao
solo do planeta em 2018 para estu-
dar o seu interior profundo. O gran-
de objectivo é sabermos mais sobre
a formação e evolução dos planetas
rochosos do nosso sistema solar,
incluindo a Terra.
Marte é um mundo por explorar e
em breve outros robôs aí desbravarão
caminho, como um da missão Exo-
Mars 2022 no próximo ano (da Agên-
cia Espacial Europeia e da Agência
Espacial Federal Russa). Por agora,
Æquemos atentos aos sinais enviados
pelo Perseverance.
Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021 • 31
Emirados, China e EUA
Três missões chegaram ao
planeta vermelho este mês
Teresa Sofia Serafim
As sondas espaciais da China e dos
Emirados Árabes Unidos entraram há
cerca de uma semana na órbita de
Marte e têm-nos presenteado com as
suas imagens do planeta. A Tianwen-1,
da China, deu-nos uma fotograÆa a
preto e branco tirada quando estava
a cerca de 2,2 milhões de quilómetros
do planeta. Já a Hope, dos Emirados,
tirou uma fotograÆa a 25 mil quilóme-
tros da superfície de Marte. Ontem
chegou ao solo marciano o robô Per-
severance, dos EUA.
A Tianwen-1 (que signiÆca Questões
para o Céu) é a primeira missão inter-
planetária independente da China a
Marte. Lançada em Julho de 2020,
levou consigo um orbitador, um
módulo de pouso e um robô. Come-
çou a orbitar Marte na semana passa-
da e espera-se que pouse no planeta
em Maio deste ano. O seu grande
objectivo é conseguir informação
sobre o solo, a estrutura geológica, o
ambiente e a atmosfera do planeta,
bem como indícios de água.
Já a Hope (originalmente Al-Amal,
que signiÆca esperança) está em órbi-
ta desde a semana passada para estu-
dar o clima e a meteorologia do pla-
neta. É a primeira missão interplane-
tária e permanecerá, pelo menos, um
ano de Marte (dois na Terra) às voltas
ao nosso planeta vizinho.
Mas estas sondas não estão a orbi-
tar Marte sozinhas. A sonda 2001 Mars
Odyssey da NASA entrou na órbita de
Marte em Outubro de 2001. Uma das
suas missões era fazer o primeiro
mapa da quantidade e distribuição de
elementos químicos e minerais na
superfície marciana. Conseguiu com-
pletar a missão entre 2002 e 2004 e
ainda hoje continua a funcionar.
Também desenvolvida pela NASA,
a Mars Reconnaissance Orbiter (MRO)
está a orbitar Marte desde Março de
2006. Esta sonda levou consigo pode-
Imagem de Marte tirada pela sonda dos Emirados Árabes Unidos
rosas câmaras para captar detalhes
da superfície do planeta com grande
nitidez. A bordo da MRO foi um ins-
trumento para procurar água no sub-
solo, o que foi importante para a
selecção de futuros locais de pouso
para a exploração de Marte.
Em 2014, foi a vez da sonda Mars
Atmosphere and Volatile Evolution
(também da NASA) começar a orbitar
Marte. O seu objectivo era estudar a
composição da atmosfera superior do
planeta. Há uns tempos acabou por
passar para uma órbita inferior para
que pudesse desempenhar um papel
de antena de transmissão para futu-
ras comunicações com o robô Perse-
verance. Esperava-se que a sonda
Æcasse activa só dois anos, mas agora
estima-se que possa viver até 2030.
A Mars Express foi a primeira mis-
são lançada pela Agência Espacial
Europeia (ESA) para explorar outro
planeta. Entrou na órbita de Marte
em 2003 e tem a intenção de explorar
a atmosfera e superfície marcianas a
partir da órbita polar. Esta missão
ainda no activo tem a participação da
NASA e da Agência Espacial Italiana.
Em colaboração com a Agência
Espacial Federal Russa, a ESA desen-
volveu o programa ExoMars, que está
dividido em duas missões: a ExoMars
Trace Gas Orbiter, que orbita Marte
desde 2016; e o robô Rosalind Frank-
lin, que deverá ser lançado em 2022.
Estas duas missões têm o grande
objectivo de descobrir se formas de
vida terão existido no planeta.
Há ainda uma sonda indiana a
orbitar Marte, a Mars Orbiter Mission
(MOM). Em 2014, este orbitador de-
senvolvido pela Organização de
Investigação Espacial da Índia con-
seguiu entrar na órbita de Marte
para explorar a sua morfologia,
mineralogia e atmosfera. A ainda
activa MOM também viajou para o
planeta com a ambição de investigar
possível vida passada.
UAESA/MBRSC/LASP/EMM-EXI
32 • Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021
Cultura Três investigadores analisam polémicas recentes
Como se
resolve a nossa
(má) relação
com o passado
colonial? “Não
vai acontecer”
O trauma nos que participaram na
guerra e uma espécie de acordo feito já
em democracia ajudam a explicar por
que razão Portugal tem ainda diÄculdade
em lidar com o passado colonial
Patrícia Carvalho
A morte do tenente-coronel Marce-
lino da Mata foi só mais um episódio
a mostrar que, quando o tema é o
colonialismo tardio e a Guerra Colo-
nial, o mais provável é que as posi-
ções se extremem. É um fenómeno
com razões conhecidas, mas que,
quase 50 anos depois, não foi pos-
sível ultrapassar. E há quem acredi-
te que nunca se ultrapassará.
“A guerra é um acontecimento
muito recente e que envolveu uma
porção signiÆcativa da sociedade
portuguesa. Há muita gente que fez
a guerra e foi mobilizada porque
havia um serviço militar obrigató-
rio; as pessoas muitas vezes não
tinham uma motivação patriótica e
não acreditavam propriamente no
império. Mas a verdade é que espe-
ram que esse sacrifício tenha uma
espécie de signiÆcado, que não
tenha sido apenas uma experiência
ditada pelo regime. Têm Ælhos, têm
netos, é um assunto sensível. Mes-
mo que se tenham apercebido da
iniquidade e da inutilidade daquele
esforço, esperam algum reconheci-
mento dos poderes públicos.” O
investigador do Instituto de História
Contemporânea da Universidade
Nova de Lisboa, Pedro Aires Olivei-
ra, há muito que trabalha sobre o
colonialismo português e a memó-
ria, e quando lhe perguntam o por-
quê de o tema ainda continuar a
exacerbar paixões extremadas, a
primeira explicação que apresenta
é esta. Mas não é a única.
A forma como o país foi gerindo
a sua relação com as ex-colónias, e
a ideia de uma certa “benignidade”
do colonialismo português (tradu-
zido no “luso-tropicalismo”), leva-
ram a que vários aspectos mais
duros do que signiÆcou esse perío-
do da nossa História não fossem
devidamente discutidos e assimila-
dos. E como é que isso se resolve?
“Não vai acontecer, tal como não
aconteceu com a Guerra da Seces-
são e a do Vietname [nos Estados
Unidos] ou com a Guerra da Argélia,
em França. Não podemos decretar
que vamos ser todos muito Çeumá-
ticos e que o passado, passou”, diz
o historiador.
António Costa Pinto, do Instituto
de Ciências Sociais da Universidade
No 25 de Abril de Lisboa também sorri quando lhe
fazem a mesma pergunta. “Não se
houve uma espécie resolve. Ou melhor, resolve-se qua-
de pacto implícito se intuitivamente, porque estes
casos são erupções da memória. Na
de não se fazer realidade, no dia-a-dia, a grande
averiguações sobre maioria não liga nenhuma. Quando
se fala nisto, eu diria que é inevitá-
a Guerra Colonial. vel que em democracia exista uma
A democracia foi dimensão de múltiplas identidades.
E estas guerras identitárias atingi-
generosa ao não ram outras potências coloniais,
averiguar os como a França, enquanto em
Espanha temos, sobretudo, o
crimes de caso da herança do franquis-
guerra e agora mo”, diz.
Para o investigador, o 25 de
está a sofrer a Abril de 1974 foi caracterizado
paga por essa por “uma radicalidade
p nias, em frente ao Mosteiro dos Jeró-
antifascista, que
generosidade fez com que o
Francisco Bethencourt Estado Novo fos-
Historiador se, de facto, des-
legitimado”, mas que não tratou da
mesma forma o colonialismo e a
Guerra Colonial. “Não se lidou com
o colonialismo tardio e as suas con-
sequências. Eu diria até que houve
um consenso relativo entre as forças
políticas que dominaram a consoli-
dação democrática, do centro-direi-
ta e do centro-esquerda, para, no
fundo, se esquecer rapidamente os
temas do colonialismo tardio e da
Guerra Colonial. E, fundamental-
mente, integrando Portugal na
União Europeia, tentar construir
uma nova realidade pós-colonial”,
acrescenta o investigador.
É também esta percepção que leva
António Costa Pinto a dizer que
outros fenómenos recentes ligados
ao passado colonial português —
como a vandalização da estátua do
Padre António Vieira ou a polémica
em torno dos brasões das ex-coló-
nimos — devem ser encarados mais
como “um impacto em Portugal de
dinâmicas mais globais do hemisfé-
rio norte” do que com razões mais

intrínsecas. “Portugal, no funda-
mental, não afrontou este tema.”
Um pacto no pós-25 de Abril
O historiador Francisco Bethen-
court, do King’s College de Londres,
também sublinha o que diz ser “um
problema de memória e educação
cívica” na forma como o país lida
com o seu passado colonial recente.
“No 25 de Abril [de 1974] houve uma
espécie de pacto implícito de não se
fazer extraordinárias averiguações
sobre a Guerra Colonial para passar
a página. A democracia foi generosa
ao não averiguar os crimes de guer-
ra e agora está a sofrer a paga por
essa generosidade”, argumenta.
Admitindo que há uma compo-
nente “traumática” associada a este
período — tanto das populações
naturais das ex-colónias como dos
cidadãos que tiveram de regressar
à metrópole —, este investigador
defende que “deve existir uma cons-
ciência histórica de um momento
de ditadura, de sofrimento colecti-
vo, que tem de ser explicado, atra-
DR
vés da educação”. Isto para não se
estar a tropeçar numa “nostalgia
colonial, inserida numa campanha
da extrema-direita que intoxica as
pessoas e envenena até a relação do
país com as ex-colónias”.
Guerras identitárias
É neste caldo de ausência de con-
fronto com esta parte da história
que nasce a mais recente polémica,
causada pela morte do tenente-co-
ronel Marcelino da Mata, mas que
tem outros contornos, muito mais
ligados ao presente do que ao pas-
sado, defende António Costa Pinto.
Resumindo: o ex-militar português
com origem na Guiné-Bissau, várias
vezes condecorado pelo Estado
Novo pela sua actuação na guerra,
mas criticado pelos que consideram
que cometeu excessos pouco con-
dizentes com um militar, morreu na
semana passada, aos 80 anos.
O CDS pediu um dia de luto nacio-
nal em sua memória e, numa reac-
ção a esta proposta, o activista e
dirigente do SOS Racismo Mamadou
Ba apelidou Marcelino da Mata de
“sanguinário” e “criminoso de guer-
ra que não merece respeito
nenhum”. Uma das reacções a estas
publicações de Mamadou Ba no
Twitter foi uma petição a pedir a sua
expulsão do país, que quinta-feira
ultrapassara já, e largamente, as 26
mil assinaturas. O SOS Racismo já
veio repudiar esta petição, reconhe-
cendo mesmo que a sua validade
legal é “nula”.
“Este episódio do Marcelino da
Mata é interessante porque é um
tema que é activado politicamente,
e em que partidos e movimentos
tentam pré-ocupar um espaço polí-
tico que previam que seria mobili-
zado em volta do tema. É isto que
está em causa, quer com o que se
passou no Parlamento, quer com a
presença do Presidente da Repúbli-
ca e das altas hierarquias das Forças
Armadas no funeral. Porque Portu-
gal já tem um partido populista da
direita radical que dá muito mais
voz a estes temas. Estas guerras
Houve um identitárias dizem-nos muito mais
sobre o presente do que sobre o pas-
consenso relativo sado”, argumenta.
entre as forças Sobre a petição, Pedro Aires Oli-
veira, recusa-se a conferir-lhe gran-
políticas que de importância. “Em termos políti-
dominaram a cos ou cívicos, repudio-a completa-
mente. Agora, a sua aparição é fruto
consolidação das redes sociais, é muito fácil colo-
democrática para car o nome em qualquer coisa. É o
disparate livre. Não lhe atribuo
se esquecer demasiado signiÆcado”, diz.
rapidamente os Uma posição que Francisco
Bethencourt não partilha: “Consi-
temas do dero esta petição um escândalo
colonialismo total, uma afronta a todos os princí-
pios constitucionais. Não deve
tardio e da Guerra ser desvalorizada porque faz parte
Colonial de uma campanha de intoxicação
da opinião pública, que se está a
António Costa Pinto desenvolver de há um ano para cá,
Investigador e a que estamos a assistir de braços
cruzados.”
Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021 • 33
Carta aberta da cultura
a António Costa
Carta aberta
Lisboa, 19 de Fevereiro de 2021
Ao Exmo. Sr. Primeiro-Ministro,
António Costa,
As Entidades da Cultura
subscritoras veriÆcaram que no
Plano de Recuperação e
Resiliência a apresentar em
Bruxelas, trazido a público para
consulta no dia 16 deste mês, não
existe qualquer proposta relativa
ao investimento na Cultura.
Este Plano é reconhecido
transversalmente como uma
oportunidade de intervir de forma
estruturante na deÆnição da vida
do país nos próximos anos:
corrigindo assimetrias que
bloqueiam o seu desenvolvimento
e tornando-o mais competitivo,
enfrentando fragilidades
históricas nos vários sectores da
vida nacional, promovendo a
resiliência.
Estando conscientes das
diretivas especíÆcas da União
Europeia para os objetivos deste
investimento, entendemos que
este documento deve reÇetir as
principais preocupações e linhas
estratégicas deste Governo para a
recuperação económica de todos
os sectores, “de forma que
ninguém Æque para trás”.
Estranhamos, portanto, que a
Cultura não esteja presente, nas
suas variadas áreas — criação,
património, fruição, acesso, e
necessárias dimensões de
capacitação tecnológica,
infraestruturas e
internacionalização. A que se deve
esta ausência? Está este Governo,
e o seu primeiro-ministro, a
assumir que não vê na Cultura um
motor fundamental de
desenvolvimento e coesão
nacional? SigniÆca esta decisão
uma desresponsabilização do
Governo relativamente a este
sector tão vasto, diverso e que
gera um inegável valor?
É sabido, e assumido pelo seu
Governo, que a Cultura tem
sofrido de crónico
subÆnanciamento, precariedade e
falta de investimento estrutural. É
também conhecida a assimetria no
acesso aos bens culturais e às
infraestruturas entre as diferentes
regiões do país. Estas fragilidades
históricas serão agravadas, e a
recuperação e resiliência deste
sector estão ameaçadas. Como
pode este Governo, e o senhor
primeiro-ministro, querer perder
esta oportunidade?
A omissão da Cultura neste
plano a médio prazo terá
Cultura
consequências económicas,
sociais e políticas de larga escala.
Numa época em que a coesão
democrática é um tema de
preocupação transversal,
parece-nos um erro grave que o
nosso Governo opte por não
investir no futuro de um sector tão
fundamental para essa coesão.
Por estes motivos, vimos por
este meio exigir a inclusão de um
plano para a Cultura que aproveite
a oportunidade que se nos
apresenta, revitalizando de forma
estruturante este sector tão
central ao futuro da nossa vida
nacional.
Subscritores:
Aldina Duarte, Ana Margarida de
Carvalho, Anabela Mota Ribeiro,
António Pinto Ribeiro, Bárbara
Bulhosa, Camané, Carlos Vaz
Marques, Irene Pimentel, Jorge
Silva Melo, Maria do Céu Guerra,
Miguel Lobo Antunes, Pilar del
Río, Samuel Rego, Sérgio
Godinho, Tiago Bartolomeu
Costa
Entidades subscritoras: Ação
Cooperativista de Apoio-Artistas,
Técnicos e Produtores, Acesso
Cultura, Agência da Curta
Metragem, AMAEI — Associação
de Músicos Artistas e Editores
Independentes, APNEIA —
Associação de Produtores do
Norte e Empresários,
Independentes do Audiovisual,
APORDOC — Associação Pelo
Documentário, APR —
Associação Portuguesa de
Realizadores, APTA —
Associação Portuguesa de
Técnicos do Audiovisual, APURO
— Associação Cultural e,
Filantrópica, Arte Educadores
em Luta, Associação Os Filhos de
Lumière, Casa da Animação,
Convergência Pela Cultura,
Curtas Vila do Conde,
DocLisboa, IndieLisboa, Lovers &
Lollypops, Monstra, Omnichord,
PCIA — Produtores de Cinema
Independente Associados,
Plataformadança — Associação
Nacional de Dança, Plateia —
Associação dos Profissionais das
Artes Cénicas, Porto Post Doc,
Portugal Film Queer Lisboa,
Tremor Festival, Why Portugal-
Estrutura de Internacionalização
da Indústria da Música
Portuguesa, Subscritores serão
actualizados diariamente. Para
consultar, visitar: www.apordoc.
org
(Para subscrever, enviar email
para: cultura.carta.
aberta@gmail.com)
34 • Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021
Cultura
É pela antiga sala temperada dos banhos que se entra actualmente no bar
Um bar em Sevilha escondia
banhos árabes há muito perdidos
Isabel Salema
Estrutura revelou-se o
complexo de banhos do
século XII islâmico com
pinturas mais bem
preservado da Península
É compreensível que o Facebook se
tenha enchido de partilhas com a
descoberta de um hammam que
esteve escondido aos olhos de todos
durante séculos num bar de tapas
sevilhano do famoso bairro de San-
ta Cruz. A conÆnar e a desconÆnar
há quase um ano, alguns celebraram
este pretexto “extraordinário” para
ir a Espanha logo que a pandemia o
permitir.
De facto, o que se pensava ser “um
pastiche neomudéjar” revelou-se um
esplendoroso conjunto de banhos
islâmicos do século XII coberto por
pinturas únicas na Península Ibérica,
quando o califado almóada reinava
em partes de Espanha e de Portugal,
e também do Norte de África.
A descoberta feita em Sevilha foi
realizada durante um projecto de
reabilitação de uma cervejaria na rua
Mateos Gago, artéria principal de
Santa Cruz, a cargo do arquitecto
Fran Díaz, que começou a descascar
a estrutura coberta por estuque e
azulejos numa campanha de obras
há quase cem anos.
“O mais importante é que consta-
támos que os banhos estavam todos
pintados, de cima a baixo, e com
uma decoração geométrica de gran-
de qualidade”, aÆrmou ao diário
espanhol El País o arqueólogo Álva-
ro Jiménez, que esteve à frente da
investigação e é professor da Univer-
sidade de Sevilha, acrescentando
que se trata do único banho islâmico
que chegou à actualidade com deco-
ração integral.
“Um dos elementos de maior inte-
resse é a conservação de pinturas no
tecto das abóbadas, paredes e arcos.
Além disso, é muito rico nas clara-
bóias, tanto em variantes formais das
estrelas como em tamanho e quanti-
dade geral em cada abóbada, mais
rico do que no resto do al-Andalus”,
explica ao PÚBLICO o arqueólogo
espanhol Fernando Amores, que faz
parte da equipa da Universidade de
Sevilha. As pinturas foram executa-
das em almagre, um pigmento ver-
melho aplicado sobre cal branca.
AÄnal, era a verdadeira
Foram as obras realizadas em 1928
por um arquitecto de gosto regiona-
lista, Vicente Traver, que ao conver-
ter o edifício num hotel ocultou o
hammam almóada sob uma inter-
venção que parecia neomudéjar mas
que mais não era do que a conserva-
ção da verdadeira arquitectura
mudéjar do período islâmico, que
em Sevilha se prolongou até 1248. “O
hammam descoberto está em muito
bom estado de conservação. A sala
fria está completa, à sala temperada
só falta a cúpula central, que man-
tém uma feita no século XVII tam-
bém de oito panos, enquanto a sala
quente encontra-se completa em
planta, mas sem abóbada”, detalha
Fernando Amores.
Segundo o jornal ABC, era provável
que a localização dos banhos árabes
mais conhecidos da época almóada,
denominados banhos “de García
Jofre”, pudesse ser nesta morada.
Mas Jiménez garante ao El País que a
historiograÆa espanhola os deu mais
vezes como perdidos.
A descoberta é de “extraordinária
importância” para a história do
período almóada na Península Ibéri-
ca, para Espanha mas também para
Portugal, diz ao PÚBLICO Santiago
Macias, um especialista em arqueo-
logia islâmica da Universidade Nova
de Lisboa. “Pelo achado em si, que
sublinha a magniÆcência das cidades
andaluzas, e pelo excepcional estado
de conservação em que o edifício
chegou até nós. É espantoso como
durante tantos séculos, os banhos
JOSÉ MANUEL VIDAL/EFE
estiveram ali, à mão de semear. E há,
depois, o carácter invulgar das pin-
turas.” Em Portugal, os banhos ára-
bes mais bem conservados são os de
Loulé, que estão em fase Ænal de rea-
bilitação.
Quase 90 clarabóias
A entrada da cervejaria Giralda coin-
cide com a da sala temperada dos
banhos. Com uma planta centraliza-
da, é um espaço quadrado com a tal
cúpula octogonal seiscentista apoia-
da por quatro colunas. Segue-se, na
organização do espaço do hammam,
a sala fria, com a forma de um rec-
tângulo estreito e comprido, e a sala
quente, onde actualmente se situa a
cozinha do restaurante. A entrada
principal fazia-se pelas actuais tra-
seiras, correspondendo à zona seca
dos banhos.
Foram descobertas 88 clarabóias
que emprestam um aspecto de cons-
telação à cobertura. “São de destacar
também as pinturas do intradorso da
sala temperada, um ziguezague que
representa a água. Quase todas as
representações do mundo islâmico
fazem referência ao paraíso”, expli-
cou Amores ao El País.
Por agora, o paraíso encontra-se
num bar-restaurante em Santa Cruz,
porque não se prevê que o estabele-
cimento mude de uso quando abrir.
Um prémio
ArchDaily para
museu de Siza
e Castanheira
Mariana Durães
“Ganhámos?”, perguntou Carlos
Castanheira ao PÚBLICO. Os vence-
dores do Edifício do Ano 2021 do
ArchDaily tinham sido conhecidos
há poucos minutos e o arquitecto
que, em conjunto com Álvaro Siza,
desenhou um dos projectos vence-
dores, ainda não sabia que fazia par-
te da lista. “Pessoal, ganhámos!”,
disse aos colegas, quando conÆrmá-
mos que o Museu da Arte e da Edu-
cação (MoAE), em Ningbo, na China,
era, de facto, o mais votado na cate-
goria Arquitectura Cultural.
Depois da notícia, confessou a
surpresa e o agrado: “Fico contente.
Este foi um projecto que deu muito
trabalho, mas também muito entu-
siasmo.” E, obviamente, “é sempre
bom ganhar e ser premiado”.
O edifício de 5300 metros quadra-
dos, totalmente revestido a chapa
metálica negra, foi concebido para
albergar a colecção de pintura e
escultura de um empresário chinês
que detém várias escolas na cidade.
Ao PÚBLICO, Carlos Castanheira já
tinha explicado que “uma colecção
belíssima, e valiosíssima, de pinturas
chinesas antigas, seculares” eram
parte do seu acervo. O edifício, “sur-
preendente e muito bem acabado”,
nas suas palavras, obriga-nos a “sen-
tir uma compreensão”. “Absorve-
nos para depois nos libertar no
imenso vazio a toda a altura, onde
serpenteia a rampa que permite o
acesso a todos os pisos.”
“Um museu tem de ter uma alma
grande; não importa o tamanho”,
disse o arquitecto, no mesmo artigo.
E os leitores do ArchDaily Æcaram
convencidos com este projecto, que
era o único da lista de Ænalistas com
assinatura portuguesa.
A eleição online decorreu durante
os últimos 21 dias e, segundo o site,
contou com mais de 200 mil votos
de leitores inscritos. Dos 75 Ænalis-
tas, foram anunciados 15 vencedores
para as 15 categorias desta 12.ª edi-
ção do concurso.
Museu da Arte e da Educação
 Painéis de S. Vicente
A mais conhecida obra
da pintura portuguesa
como nunca a viu
Um novo site de exploração interactiva vai permitir-lhe ver a mais
conhecida obra da pintura portuguesa como nunca antes foi possível.
Com o apoio do mecenas Fundação Millennium bcp e o apoio científico
do Museu Nacional de Arte Antiga, o PÚBLICO leva-o a explorar a obra
com trabalhos publicados regularmente, acompanhando até ao fim um
profundo processo de restauro e análise de um trabalho único, que tem
suscitado a curiosidade de artistas e historiadores ao longo dos tempos.

Veja em publico.pt/paineis-sao-vicente

APOIADO PELO COM APOIO

MECENAS CIENTÍFICO
36 • Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021
Guia
tecnologia
publico.pt/tecnologia
Doar a voz para estudar a covid-19
Uma equipa de investigadores portugueses criou uma plataforma
para recolher excertos de tosse e vozes para aprender mais sobre a covid-19
Karla Pequenino
Um grupo de investigadores portu-
gueses criou uma plataforma online
para recolher gravações — anónimas
— de pessoas a tossir e a falar para
estudar a covid-19.
O projecto resulta de uma colabo-
ração entre o Instituto Superior Téc-
nico (IST) e o Instituto de Engenharia
de Sistemas e Computadores Inves-
tigação e Desenvolvimento (Inesc-
ID) para pôr máquinas a detectar os
primeiros sinais do vírus SARS-CoV-
2 através do som. Com dados suÆ#
cientes, os algoritmos devem ser
capazes de detectar mudanças nas
vibrações das cordas vocais que são
imperceptíveis ao ouvido humano e
assim identiÆcar casos de infectados
assintomáticos.
“Queremos criar um mecanismo
para ajudar a detectar pistas da
covid-19 através de sinais acústicos”,
resume ao PÚBLICO Isabel Tranco-
so, responsável pelo projecto e
docente do Departamento de Enge-
nharia Electrotécnica e de Compu-
tadores (DEEC). “Pedimos às pes-
soas para tossir, mas não estamos só
a ouvir a tosse”, clariÆca. “Também
estamos a analisar indicadores de
descontinuidade no Çuxo de ar que
vem dos pulmões, problemas na
laringe, entre outros.”
Há iniciativas semelhantes
um pouco por todo o mun-
do. A Universidade de
Augsburgo (Alemanha), o
Imperial College de Lon-
dres (Reino Unido) e o Ins-
tituto de Tecnologia do
Isabel Trancoso,
responsável
pelo projecto
Como doar a voz ao estudo da covid-19?
Qualquer pessoa pode participar no projecto do
IST e do Inesc-ID. Basta partilhar pequenos
excertos da voz e indicar o género, a língua
materna, data e resultado do teste de covid (caso
tenha feito algum), e a existência de problemas na
voz. As restantes perguntas são opcionais.
Massachusetts (Estados Unidos)
também estão a recolher excertos
de voz para aprender mais sobre o
vírus que causa a covid-19.
Isabel Trancoso admite que pen-
sou em criar uma versão em portu-
guês já no começo da pandemia.
“Fui demasiado optimista”, reco-
nhece. “Achei que quando tivesse
algo concreto, já não iria a tempo.
Decidi avançar quando começaram
a surgir as notícias das novas
variantes.”
Uma das maiores diÆculda-
des é a obtenção de dados,
particularmente de pessoas
infectadas com covid-19. Cin-
co dias depois do lançamen-
to, menos de um quarto das
g
gravações eram de pes-
soas diagnosticadas
com a doença.
“Só vamos perceber
PAULO PIMENTA
como distinguir problemas respira-
tórios da covid-19 se tivermos dados
suÆcientes de pessoas infectadas e de
pessoas que sofrem de outras pato-
logias”, explica Isabel Trancoso.
Se as bases de dados não forem
variadas, os algoritmos podem ser
induzidos em erro. Por exemplo, se
só existirem dados de homens com
covid-19, o sistema pode passar a
procurar homens em vez do vírus.
“A diversidade é fundamental”,
reforça a investigadora que espera
que o projecto se prolongue além da
pandemia. No futuro, Trancoso vê
as análises da fala a serem tão
comuns como análises ao sangue.
“As análises à voz vão ser cada vez
mais importantes como forma de
diagnóstico”, nota. “Até é bom guar-
darmos dados da nossa própria voz
para percebermos mudanças que
ocorrem se Æcarmos doentes.”
App
Clubhouse, uma rede
social em que só
se usa a voz
Há uma nova rede social (onde
para já se entra só por convite)
que está a ganhar atracção entre
os utilizadores de iPhone. Usa a
voz como ponto de contacto
entre pessoas que se juntam em
“salas” para discutir seja o que for
— não há troca de mensagens
escritas ou imagens. Ainda não
chegou aos telemóveis Android,
mas a plataforma criada há
menos de um ano já está avaliada
em mil milhões de dólares.
Muitos dos que já a
experimentaram dizem que é um
vício.
Software
Tirar o som de cães
a ladrar das
videochamadas
Caso não tenha hipótese ou
interesse em adquirir um bom
microfone, a solução para
melhorar o som das chamadas de
áudio ou vídeo pode passar pela
utilização de um microfone
virtual. Trata-se de um software
com capacidade de “limpar” o
ruído ou eco nas chamadas. O
Krisp (www.krisp.ai) é um bom
exemplo. É capaz de remover
sons de ambiente de rua, cães a
ladrar ou o som da televisão. A
versão gratuita dá acesso a 120
minutos de utilização por
semana, limite que desaparece
por cinco dólares por mês.
Microfone
Como melhorar
o som sem gastar
muito dinheiro?
Os microfones de lapela (que se
prendem no peito) são uma
opção relativamente barata para
melhorar drasticamente a
qualidade do som das reuniões
online. É importante escolher a
entrada mais conveniente: da
tradicional ficha de
auscultadores 3,5’’ a sistemas
sem fios, passando pelas portas
USB, mais adequadas para uso
nos computadores. É possível
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 Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021 • 37

Guia

CINEMA Televisão Os mais vistos da TV

Comprámos Um Zoo!
Hollywood, 14h35
Um Ælme de Cameron Crowe,
baseado numa história verídica.
De luto pela mulher e empenhado
em não se deixar abater pela
amargura, Benjamin (Matt
Damon) demite-se do emprego
como jornalista, vende tudo o que
tem e compra um jardim
zoológico à beira da falência. Ali,
vai conseguir não só ensinar os
Ælhos a como superar a perda e a
lutar pelos sonhos, mas também
reencontrar a serenidade do amor
numa mulher (Scarlett Johansson)
que, tal como ele, acredita nos
“20 segundos de coragem”
fundamentais para que algo de
transformador aconteça.
Jogo da Alta-Roda
TVCine Action, 18h15
Molly Bloom gere um importante
jogo de póquer com apostas altas,
em que participa um grupo
altamente exclusivo de
celebridades de Hollywood, do
mundo do desporto, dos negócios
e até da máÆa russa. Quase dez
anos depois, é apanhada pelo FBI
e tenta defender-se. Dirigido por
Aaron Sorkin (que escreveu Uma
Questão de Honra, A Rede Social e a
série Os Homens do Presidente), na
sua estreia como realizador, este
biopic é interpretado por Jessica
Chastain, Idris Elba, Kevin Costner
e Michael Cera.
Don Jon
AMC, 22h10
Uma comédia escrita, realizada e
protagonizada por Joseph
Gordon-Levitt, sobre o sexo, o
amor e as suas várias formas de
banalização. Jon é uma espécie de
versão moderna de Don Juan. Mas
nenhum encontro se compara ao
êxtase que obtém solitariamente
ao computador, a ver pornograÆa.
Insatisfeito com o vazio que isso
lhe causa, e com alguma pressão
dos pais, que mal podem esperar
por se tornarem avós, acaba por
concluir que chegou o momento
de encontrar um modo de
conciliar o sexo com amor. É
então que conhece duas mulheres
(Scarlett Johansson e Julianne
Moore) que o vão ensinar a ver a
vida de outra maneira.
Wild Rose - Rosa Selvagem
RTP2, 22h53
Uma comédia dramática de Tom
Harper acerca de uma mulher
dividida entre cuidar
responsavelmente dos Ælhos ou
lutar por se tornar a cantora
country que sempre sonhou ser.
Jessie Buckley (nomeada para o
BAFTA), Julie Walters, Adam
Mitchell e Daisy LittleÆeld têm os
papéis principais.
RTP1
6.30 Bom Dia Portugal 10.00 Praça da
Alegria 13.00 Jornal da Tarde 14.24
Filha da Lei 15.06 Os Nossos Dias
15.58 A Nossa Tarde 17.30 Portugal em
Directo 19.08 O Preço Certo
19.55 Direito de Antena
19.59 Telejornal
21.01 Sexta às 9
21.46 Joker
22.59 Miss Beijo
23.37 Trovas Antigas, Saudade Louca
0.37 Eléctrico 1.37 Jorge Vadio - Live in
Oeste
SIC
6.00 Edição da Manhã 8.30 Alô
Portugal 10.10 Casa Feliz 13.00
Primeiro Jornal 14.50 Linha Aberta
com Hernâni Carvalho 16.10 Júlia
18.05 Viver a Vida
19.30 Êta Mundo Bom
19.57 Jornal da Noite
21.45 Amor Amor
22.35 Terra
ra Brava
23.15 Tempo de Amar
23.40 Golpe de Sorte 0.15 Totalmente
Demais 1.05 Investigação Criminal:
Los Angeles 2.00 Um Corpo para
Sobreviver
Quarta-feira, 17
RTP1 9,8%
% SÉRIE
Fc Porto X Juventus
% Aud. Share
TVI 25,3 20,2
RTP2 1,0 Blue Bloods
Fox Crime, 22h50
Amor, Amor SIC 13,5 21,4 SIC 19,3
Estreia da 11.ª temporada da série
Eta Mundo Bom! SIC 12,6 19,8
Terra Brava SIC 12,4 19,7 TVI 21,4 em que Tom Selleck, Donnie
Bem Me Quer TVI 12,2 26,3 Wahlberg, Bridget Moynahan, Will
FONTE: CAEM
Cabo 33,2 Esters e Len Cariou dão vida aos
Reagan, uma família ligada pela
proÆssão: trabalham todos para a
TVCINE TOP
RTP2 polícia de Nova Iorque. Os novos
17.40 Sweetheart 19.30 Assalto ao episódios incluem o regresso de
6.32 Repórter África - 2.ª Edição 7.00 Poder 21.30 Impacto Mortífero 23.05 Whoopi Goldberg como actriz
Espaço Zig Zag 12.17 Escola Nocturna - Bombshell - O Escândalo 0.55 Era Uma convidada.
Os Sonhos Nunca Dormem 13.02 Vez em... Hollywood
Esec-Tv 13.28 Geração Cientista 13.52
Folha de Sala 14.00 Sociedade Civil
15.03 A Fé dos Homens 15.37 FOX MOVIES
DOCUMENTÁRIOS
Indisciplinas 16.01 Habitat Acidental 17.59 Corruptor 19.42 Kiss & Kill - Beijos Os Quartéis de Hitler
16.52 Espaço Zig Zag 20.34 À Direita, & Balas 21.15 O Corpo da Mentira 23.16 Discovery, 21h
na Foto 21.30 Jornal 2 Mestres da Ilusão 1.02 Instinto Fatal 2 Estreia de uma viagem em dez
episódios, entre a Alemanha e a
Polónia, pelos abrigos militares
22.01 Folha de Sala HOLLYWOOD que serviram de esconderijo ao
18.15 O Senhor dos Anéis - O Regresso Führer e foram cenário de acções
do Rei 21.30 Assalto ao Metro 123 23.20 e decisões determinantes para o
22.05 O Dia
ia Knock Knock - Tentações Perigosas 1.00 desenrolar da II Guerra Mundial —
Em Terra Selvagem incluindo o bunker de Berlim, que
integrava um complexo
22.53 Wild
d Rose - Rosa subterrâneo e que foi o local onde
Selvagem AXN se suicidou. A série tem como
18.40 Mentes Criminosas 22.00 As anÆtrião o historiador polaco
Duas Faces de Janeiro 23.42 Noite em ukasz Kazek e assenta em
Fuga 1.42 Operação Swordfish testemunhos, imagens de arquivo
e reconstituições dramatizadas.
FOX El Trabajo o a Quien le
17.22 C.S.I. Miami 18.55 Chicago P.D. Pertenece el Mundo
0.34 Ultra Sessions 1.02 Sociedade 20.32 Hawai Força Especial 22.15 Taken TVCine Edition, 22h
Civil 2.04 Megaoperação 2.54 Folha 3 0.14 Nos Limites da Lei 2.13 Missão O ciclo dedicado ao DocLisboa —
de Sala 3.00 Vela: America´s Cup Impossível 3 em antena às sextas, até dia 26 —
World Series 5.03 Euronews prossegue com este Ælme da
espanhola Elisa Cepedal sobre a
DISNEY luta de uma comunidade mineira
TVI 17.20 Lab Rats: Equipa de Elite 18.05 face ao declínio da indústria em
Anfibilândia 18.30 Gravity Falls 19.16 que trabalha.
6.05 Curious George 6.30 Diário da Casa da Coruja 19.40 Os Green na
Manhã 7.00 Esta Manhã 10.12 Dois às Cidade Grande 20.30 Anfibilândia
10 13.00 Jornal da Uma 14.50 A Única
Mulher 15.20 Destinos Cruzados
MÚSICA
DISCOVERY Eléctrico
17.25 Os Últimos Habitantes do Alasca RTP1, 00h37
16.10 Goucha 19.10 Expedição ao Passado 21.00 Os Confronto electrónico ao vivo
Quartéis de Hitler 22.50 Curiosidades entre Moullinex (Luís Clara
da Terra 0.40 Os Quartéis de Hitler Gomes) e Rodrigo Leão. O
18.05 Big Brother - Duplo Impacto: primeiro, que se prepara para
Última hora lançar o álbum Requiem For
HISTÓRIA Empathy, argumenta com música
17.11 Não Identificados 17.54 A Maldição de dança; o segundo, com as
19.10 Big Brother - Duplo Impacto: de Skinwalker 119.19 Os Maiores composições do recente O Método.
Diário Mistérios da História 20.43 Grandes
Descobertas 22.15 Os Bárbaros II 23.40
19.57 Jornal das 8
Grandes Descobertas 1.13 Forjado no
Fogo: Vencer o Júri
ENTRETENIMENTO
Os Marretas
Disney+, streaming
21.52 Bem Me Quer ODISSEIA O espectáculo de variedades dos
17.27 O Veterinário de Yorkshire 18.13 fantoches de Jim Henson chega
África Desde o Ar 19.04 Engenharia integralmente à plataforma. Além
22.55 Amar Demais Letal 19.51 Grandes Mentiras 20.45 Fora das primeiras três temporadas,
de Controlo 21.44 Os Feitos Mais Æcam disponíveis, pela primeira
Estranhos das Guerras Mundiais 22.30 vez num serviço de streaming, a
0.00 Big Brother - Duplo Impacto: Grandes Mentiras 23.24 Fora de quarta e a quinta. Os Marretas
Extra 2.00 Kick Ass 2: Agora É a Doer Controlo 0.19 Os Feitos Mais Estranhos originais estiveram no ar entre
3.37 Santa Bárbara das Guerras Mundiais 1976 e 1981, com a sua mistura de
sketches, números musicais e
celebridades convidadas.
38 • Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021

Guia

Em casa Jogos Jogue também online.

Palavras-cruzadas, Lotaria Popular 4 3 0 3 2
bridge e sudoku em
1.º Prémio 75.000€
publico.pt/jogos
Esta informação não dispensa a consulta da lista oficial de prémios

CONVERSAS Cruzadas 11.256

#ConversasComSerralves
ONLINE www.serralves.pt
Dia 19/2 às 18h. Grátis, sujeito a
inscrição através do mail
ser.educativo@serralves.pt
Pioneira da cena artística indiana
feminina, e recentemente
distinguida com o Prémio Joan
Miró, a artista Nalini Malani
(n.1946) é a convidada da sessão
de hoje da Palavra de Artista, onde
estará à conversa com o director
do Museu de Serralves, Philippe
Vergne. É dela a exposição
Utopia!?, patente na fundação
desde Dezembro passado, onde
podem ser vistas uma série de
animações desenvolvidas entre
1969 e 2020 e inspiradas na
temática da utopia.
HORIZONTAIS: 1. Onde o Vetevendosje, um partido nacionalista de esquerda, obteve uma
vitória histórica. Vela de moinho. 2. Trituro com os dentes. Tombar. 3. Armações de pesca da
sardinha. Redução de leste. 4. Numeração romana (55). Estados Unidos da América. Rio que
banha a cidade de Setúbal. 5. «Busca amizade do teu igual, se és honrado e (...)». (...)
Okonjo-Iweala, é a primeira mulher a liderar a Organização Mundial do Comércio. 6. Rebocar.
Compact Disc. 7. Grito agudo das aves, quando embravecidas. Autoridade de Segurança
Alimentar e Económica. 8. Termómetro utilizado para temperaturas muito baixas. 9. União
Europeia (sigla). Indivíduo pertencente a uma casta nobre, na Índia. Eternidade. 10. (...) Ravi,
ambientalista presa por divulgar tácticas de Greta Thunberg em apoio aos agricultores da
Índia. Lista. 11. Porco (regional) ou pato (Beira). Prefixo (montanha). Interjeição que exprime
desgosto, admiração, incredulidade ou desdém.
VERTICAIS: 1. Pequeno crustáceo, semelhante ao camarão. Parar e não querer andar (cavalo).
2. Elemento de formação de palavras que exprime a ideia de ovo. Cavidade abdominal. 3. Ecoa.
Segundo. Numeração romana (600). 4. (...) europeu, alerta para risco de “radicalização” da
extrema-direita em Portugal. 5. Unidade monetária do Vanuatu. (...) Tranströmer, o sétimo
escritor sueco a ser premiado com o Nobel da Literatura (2011). 6. Grande massa de água
salgada. Cria de veado. 7. Elas. Gálio (s. q.). Maquinismo para tecer. 8. Antes do meio-dia.
Converter em soro. 9. Impudico, devasso. Ter por costume (ant.). 10. Sermão. Na Catalunha,
tornou-se líder indiscutível da direita não independentista. 11. Sala de Observação. Derribei.
Solução do problema anterior
HORIZONTAIS: 1. Asperger. ID. 2. Neo. Báratro. 3. Erre. Eros. 4. Latim. Crise. 5. Lux. Ma. Noa.
6. Governo. 7. Ega. Alma. 8. Calar. Esgar. 9. Ut. Brancura. 10. Segrel. Emir. 11. Assar. Prelo.
VERTICAIS: 1. Anel. Recusa. 2. Seral. Gates. 3. Portugal. Gs. 4. Eixo. Abra. 5. Rb. Varrer. 6.

TEATRO Gás. Mel. AL. 7. Er. Carmen. 8. Raer. Nascer. 9. Trino. Gume. 10. Iroso. Caril. 11. Dosear. Raro.

Dias Contados
ONLINE Sala Online do Teatro Bridge (bridgepublico@gmail.com e fanhabridge.pt)
D. Maria II. De 19/2 a 5/3. M/6. 3€
Registada em alta resolução e
multicâmara, e dirigida por Dador: Sul
Elizabete Francisca, a peça parte Vul: Todos
de um olhar sobre quem Æca sem
lugar para morar, abordando NORTE
questões de “comunidade, Ƅ 732
Ɔ 98754
território e pertença” na temática
Ƈ K75
da crise habitacional. A ƅ 72
interpretá-la estão Julia Salema e
OESTE ESTE
Vânia Rovisco, numa produção
Ƅ K106 Ƅ J984
d’O Rumo do Fumo. Ɔ- Ɔ3
Ƈ AJ108643 Ƈ Q92
ƅ 1095 ƅ QJ863
FESTA SUL
Ƅ AQ5
Ɔ AKQJ1062
Sempre Carnaval
Ƈ-
ONLINE Site e Facebook do Visit ƅ AK4
Madeira. De 12/2 a 23/2.
Com os festejos de rua conÆnados,
a folia madeirense mudou-se para
a Internet. Para manter viva a Oeste Norte Este Sul
chama dos mascarados, as trupes 2Ƈ1
apostam em desÆles digitais, com 3Ƈ passo2 passo 3Ɔ
passo 4Ɔ passo 6Ɔ
uma série de vídeos que põem o
foco nos protagonistas do Todos passam
Carnaval insular, dando a
Leilão: Qualquer forma de bridge. 1 -
conhecer não apenas as caras por
Forcing de partida; 2 - Promete pelo
detrás das máscaras, mas também menos um Rei (com menos, teria
as experiências e motivações das dobrado)
trupes e dos grupos de animação –
entre outros, estão os Carteio: Saída: 10ƅ. Qual o seu plano
testemunhos das associações para deixar o seu parceiro contente,
Animad, Batucada da Madeira,
depois de ele lhe oferecer um óptimo
Tramas e Enredos, Fitness Team, morto?
Geringonça e Sorrisos de Fantasia.
Também por lá passam os Solução: Haverá alguma forma de
Carnavais de Outrora, evitar a passagem a espadas?
percorrendo as memórias de O excesso de trunfos diz-nos que a
outros tempos com o álbum de primeira coisa a explorar é uma
fotograÆas organizado pelo eliminação de naipes e terminar com
estúdio Photographia Vicente do uma colocação de mão é bastante
frequente tal acontecer. Mas em que
Museu de FotograÆa da Madeira.
João Fanha © Alastair Chisholm 2008
Sudoku www.indigopuzzles.com
naipe faremos a tal colocação em mão? Problema 10.286 (Fácil)
O leilão fornece-nos a resposta: ouros.
Após a primeira vaza ter sido tomada
com o Ás de paus, prosseguimos com
uma pequena copa para o 9 do morto,
eliminando o único trunfo que resta.
Jogamos agora um ouro que cortamos
com um trunfo grande, guardando
preciosamente o duque. Encaixamos o
Rei de paus e cortamos a quadra no
morto. Outro ouro do morto cortado Solução 10.284
com outra das figuras de copas da mão
e, chegamos ao momento-chave do
jogo: duque de copas para a quina (ou
outra qualquer, são todas maiores) e o
Rei de ouros do morto que… baldamos
a quina de espadas da mão! Depois de
fazer esta vaza com o Ás de ouros,
Oeste não tem nenhuma boa volta.
Uma espada será deixada correr para
os braços de AQ e um ouro
permitir-nos-á cortar do morto e baldar
a Dama de espadas da mão. De
qualquer maneira, o contrato será
Problema 10.287 (Muito Difícil)
cumprido e o nosso parceiro terá um
enorme sorriso estampado na cara.
A importância de um duque…
Considere o seguinte leilão:
Oeste Norte Este Sul
1Ƈ passo 1Ɔ
1Ƅ 2Ƈ passo ?
Solução 10.285
O que marcaria, com a mão seguinte?
ƄQ2 ƆKJ8632 Ƈ2 ƅJ754
Resposta: Passe. É verdade que pode
haver um contrato melhor em copas,
mas, a longo prazo, o que é realmente
importante é jogar no contrato em que
se saber haver pelo menos sete cartas
em linha, o que, em copas,nem isso é
uma certeza.
 Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021 • 39
Uma parceria com

Guia José Maria Pimentel

PODCASTS

Meteorologia
PORTUGAL PRÓXIMOS DIAS PORTO
Viana do Castelo Sábado, 20 Domingo, 21 Segunda-Feira, 22
Bragança
12 º
15º
9º 15º 7º 13º 10º 14º
Braga 5º
12º
Pontos de vista que
13º Porto
11 º
14 º
Vila Real
Índice UV
Vento
Baixo
Moderado
Índice UV
Vento
Baixo
Fraco
Índice UV
Vento
Médio
Fraco se cruzam numa
2,8m
12º
16 º 7º
13º Humidade 79% Humidade 77% Humidade 72%
conversa para
Viseu
Guarda
MEDIDOR DE CO2 QUALIDADE DO AR compreender
Aveiro
12 º
18º 9º
15 º
5º
10º Mauna Loa, Havai
Partes por milhão
Portugal o mundo
(ppm) na atmosfera Porto Muito
Coimbra Valores por semana Bom
18º Coimbra Bom
11º Semana de 7 Fev. 416,91
Castelo Branco
Última semana 417,12 Lisboa Médio
Leiria 15 º Há um ano 414,91
7º Há dez anos 391,64
18º Évora Fraco
13º
Nível de segurança 350
Faro Mau
Nível pré-industrial 280
Santarém
Portalegre
18 º
12º 15º
8º SOL LUA
Lisboa 19 Fev. 18h47
17 º 27 Fev. 08h17
14º Évora
Setúbal 17º 6 Mar. 01h30
16º 11º Nascente
Nascen Poente Nascente Poente
14º
7h23 18h18 13 Mar. 10h21 11h22 01h56*
*de amanhã

Sines Beja EUROPA

17º 18º Estocolmo
Helsínquia
13º 10 º Oslo
14º Talín

1,8m Riga
Copenhaga

Vílnius
Dublin Berlim
Amesterdão
Londres Varsóvia
Sagres 17º
14º Bruxelas
17º Faro Praga
15º Paris
Viena Budapeste
15º Genebra
1m
Açores Milão

Corvo Roma
Istambul
Madrid
Flores Lisboa
Graciosa 15º
13º Atenas
10º 3,8m
São Jorge 12º
16º 8º
3m
Faial
Terceira TEMPERATURAS ºC
Pico
15º São Miguel
Min. Máx. Min. Máx.
15º 10º Amesterdão 8 10 Roma 5 16
1,8m Atenas 5 15 Viena 1 8
Ponta Delgada
Berlim 1 8 Bissau 21 34
Sta Maria Bruxelas 9 10 Buenos Aires 17 26
Madeira Bucareste -4 1 Cairo 9 19
Porto Santo Budapeste -1 6 Caracas 19 26
Copenhaga 0 5 Cid. do Cabo 17 22
19º
Madeira
19º 19º 18º Dublin 8 12 Cid. do México 7 24 Como ouvir e subscrever os podcasts do Público:
16º 15º
1,5m 0,5m Estocolmo 0 2 Díli 24 31
1 | Abra a sua app de podcasts
Frankfurt 3 9 Hong Kong 15 22
IOS: App pré-instalada com o nome Podcasts;
Funchal Genebra 2 15 Jerusalém 4 8 Android: Descarregue uma app na Playstore;
Istambul -4 4 Los Angeles 9 22 Computador: No site em publico.pt/podcasts
MARÉS Preia-mar Baixa-mar *de amanhã Kiev -13 -9 Luanda 25 31
2 | Procure por “Público” ou pelo programa que quer ouvir (ex.: P24)
Londres 9 11 Nova Deli 14 27
Leixões m Cascais m Faro m
Madrid 5 17 Nova Iorque -3 1 3 | Subscreva para ouvir em primeira mão os novos episódios
07h34 2,9 07h11 2,7 07h12 2,6 Milão 1 11 Pequim -2 14
13h43 1,2 13h19 1,5 13h07 1,4 Moscovo -22 -13 Praia 18 27
Oslo -3 4 Rio de Janeiro 23 31 Disponível no

20h05 2,7 19h45 2,6 19h45 2,5 Paris 8 13 Riga -10 -8

02h17* 1,3 01h55* 1,6 01h40* 1,5 Praga -1 9 Singapura 25 31
Fontes: AccuWeather; Instituto Hidrográfico; QualAR/Agência Portuguesa do Ambiente; NOAA-ESRL Excepto o programa Quarenta e Cinco Graus
40 • Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021
Desporto Primeira mão dos 16 avos-de-Ɗnal da Liga Europa
Waldschmidt foi titular no Benfica mas esteve bastante discreto no jogo
Benfica tem a Europa
a escapar-lhe pelos dedos
Os “encarnados” empataram ontem frente ao Arsenal. Com o 1-1 em casa, a equipa
de Jorge Jesus está obrigada a marcar um golo na segunda mão, em Atenas
Crónica de jogo
Diogo Cardoso Oliveira
A Supertaça está perdida, bem como
a Taça da Liga. O campeonato é pou-
co mais do que uma quimera e, na
Liga dos Campeões, o BenÆca nem
chegou a sonhar. Ontem, a equipa de
Jorge Jesus deu mais um pequeno
passo para prolongar a já extensa lis-
ta de insucessos nesta temporada.
Diz-se “em Roma, sê romano”,
mas, em Roma, o Benfica foi apenas
mediano. A equipa portuguesa empa-
tou frente ao Arsenal (1-1), na primei-
ra mão dos 16 avos-de-Ænal da Liga
Europa. O resultado conseguido no
Olímpico de Roma — casa emprestada
ao BenÆca, por culpa das restrições
de voos entre Portugal e o Reino Uni-
do — coloca a equipa “encarnada” a
precisar de marcar, pelo menos, um
golo em Atenas, na segunda mão.
Nada está perdido, longe disso, mas
está, no mínimo, mal encaminhado.
Culpa de um jogo em que o BenÆca
teve uma defesa inédita e ainda algo
perdida — incapaz de impedir o Arse-
nal de penetrar das mais variadas
formas — e em que voltou a demons-
trar a já crónica incapacidade para
segurar vantagens no marcador.
BenÄca com três centrais
Jorge Jesus montou um 3x5x2, tendo
na frente a dupla Darwin e
Waldschmidt (que tão bem se enten-
deu a espaços nesta temporada) e um
triângulo de meio-campo com Weigl
atrás de Pizzi e Taarabt. Este sistema
dotou o BenÆca de maior equilíbrio e
de uma ocupação de espaços mais
capaz (é neste domínio que sistemas
de três centrais são mais úteis), mas
houve pouca chegada à área.
Não necessariamente pelo sistema
em si, mas mais pela postura dos
intérpretes: Grimaldo e Diogo Gon-
çalves estiveram pouco “corajosos”
nos corredores, enquanto
Waldschmidt, desligado do jogo, pou-
cas vezes conseguiu associar-se com
Pizzi e Taarabt. E o jogo do BenÆca foi
invariavelmente desprovido de verti-
calidade e presença ofensiva.
O BenÆca pareceu ter algum receio
de encarar esta partida como o jogo
caseiro da eliminatória e o Arsenal
pareceu sem pressa para resolver
uma eliminatória na qual ainda joga-
rá em casa. E assim se passaram vários
minutos de jogo “sem balizas”, com
um futebol lento e pouco rico.
O Arsenal teve o domínio global da
ALBERTO LINGRIA/REUTERS
partida e, mesmo sem ser sufocante,
longe disso, conseguiu alguns lances
de perigo a partir dos 20’, quase sem-
pre pelo lado direito do BenÆca.
Foi nessa altura que Bellerín foi lan-
çado em profundidade, ultrapassou
Grimaldo (que estava “a dormir”) e
serviu Aubameyang, que falhou um
golo quase certo. O 3x5x2 de Jesus até
pode proteger Grimaldo, mas não faz
milagres: o espanhol continua com
diÆculdades em defender o espaço
entre ele e o central.
Aos 39’, um lance em tudo idêntico
ao anterior, novamente com Grimal-
do ultrapassado, deixou Saka com
espaço para cruzar. Valeram Ver-
tonghen e Helton.
Poucos segundos depois, novamen-
te o lado direito do BenÆca na berlin-
da. Odegaard, Bellerín e Ceballos
Æzeram um “meinho” com os jogado-
res “encarnados”, mas o norueguês
falhou perante Helton.
Descontando um remate tímido de
Darwin, o BenÆca passou 45 minutos
sem incomodar o Arsenal — e, refor-
ce-se, jogava em casa. Só já a segun-
dos do intervalo os “encarnados”
criaram perigo, num lance em que
Grimaldo aproveitou um erro do
Arsenal na construção para recuperar
a bola e cruzar com perigo.
Rafa revolucionou
Ao intervalo, Jorge Jesus olhou para
Rafa como o jogador capaz de traba-
lhar entre linhas como Waldschmidt
não trabalhou. E houve um lance cria-
do pelos “encarnados”, por essa zona,
com remate fraco de Pizzi aos 48’.
Aos 53’, a presença de Rafa voltou
a fazer sentir-se. Um canto curto deu
combinação entre Pizzi, Rafa e Diogo
Gonçalves e o cruzamento do lateral
deu mão de Smith-Rowe. Penálti para
o BenÆca e golo de Pizzi. Novamente
dedo de Rafa.
O extremo e Diogo Gonçalves
deram-se muito ao jogo e o BenÆca
beneÆciou com isso no plano ofensi-
vo. No defensivo, tudo na mesma. O
BenÆca continuou muito preso às
referências individuais e o futebol
“rendilhado” do Arsenal continuava
a permitir ultrapassar os defensores
“encarnados” com facilidade.
Reacções Aos 57’, com Diogo Gonçalves a
defender muito por dentro, Cédric
pôde cruzar com espaço e Saka Æna-
“Está tudo em aberto. É lizou sem diÆculdade. Os problemas
verdade que o golo fora defensivos não mudaram com o
pode ter influência, mas na decorrer da partida, tal como a inca-
pacidade crónica do BenÆca para
Grécia vamos à procura de segurar vantagens no marcador.
ganhar e fazer um golo” Depois de um remate perigoso de
Everton e um lance (mais um) perdi-
Jorge Jesus do por Aubameyang, o jogo entrou
Treinador do Benfica numa fase tranquila.
O Arsenal, satisfeito com o resulta-
“É uma pena o golo que do, prolongou os ataques e controlou
a partida com bola, sem arriscar mui-
sofremos. Poderíamos ter to. O BenÆca, em clara quebra física,
saído daqui com um viu-se entre o risco que seria ir à pro-
cura do triunfo e a necessidade de o
resultado melhor” fazer por ter sofrido um golo em casa.
Mikel Arteta Optou pela primeira via e a partida
Treinador do Arsenal caminhou calmamente até ao Ænal.

Benfica
Pizzi 54’ (g.p.),
Arsenal
Saka 57’
Jogo no Estádio Olímpico, em Roma.
Benfica Helton Leite, Lucas Veríssimo
(Chiquinho, 85’), Otamendi,
Vertonghen, Diogo Gonçalves, Weigl,
Taarabt (Gabriel, 77’), Grimaldo, Pizzi
(Everton, 64’), Darwin (Seferovic, 64’) e
Waldschmidt (Rafa, 46’). Treinador
Jorge Jesus.
Arsenal Leno, Bellerín, David Luiz,
Gabriel, Cédric (Tierney, 64’),
Odegaard (Willian, 90’), Ceballos
(Mohamed Elneny, 90’), Xhaka, Saka,
Aubameyang (Pépé, 76’) e Smith Rowe
(Martinelli, 76’). Treinador Mikel
Arteta.
Árbitro Cüneyt ÇakÛr (Turquia)
VAR Massimiliano Irrati (Itália)
Positivo/Negativo
Odegaard e Ceballos
Dois craques no
meio-campo do Arsenal.
Não tiveram 90 minutos de
brilhantismo, como
ninguém teve neste jogo
“morno”, mas tiveram
grandes momentos.
Rafa
Grande entrada em jogo.
Perdeu gás com o passar
dos minutos, mas
revolucionou o futebol
“encarnado”.
Aubameyang
Festival de desperdício do
gabonês, que hipotecou
aos ingleses um resultado
ainda melhor.
Avançados do Benfica
Darwin e Waldschmidt
foram pouco mais do que
irrelevantes.
Resultados
16 AVOS-DE-FINAL
Dínamo Kiev-Club Brugge
Krasnodar-Dínamo Zagreb
Estrela Vermelha-AC Milan
Olympiacos-PSV Eindhoven
Real Sociedad-Manchester United
Sp. Braga-Roma
Slavia Praga-Leicester City
Wolfsberger-Tottenham
Young Boys-Bayer Leverkusen
Benfica-Arsenal
Granada-Nápoles
Lille-Ajax
Maccabi Telavive-Shakhtar Donetsk
Molde-Hoffenheim
Antuérpia-Rangers
Salzburgo-Villarreal
1
Primeira mão
Golos de Dzeko e Borja Mayoral deixam
1 Sp. Braga em apuros para a visita a Roma
Augusto Bernardino
Italianos marcaram cedo,
controlaram e deixaram a
eliminatória encaminhada,
ante adversário reduzido a
dez desde os 54 minutos
O Sp. Braga perdeu 0-2 perante a
Roma, em partida da primeira mão
dos 16 avos-de-final da Liga Europa,
hipotecando seriamente as contas da
eliminatória com a formação italia-
na. O golo de Dzeko (5') na primeira
grande oportunidade do jogo foi
determinante para um duelo em que
a equipa de Paulo Fonseca foi mais
perigosa, mesmo antes da expulsão
de Ricardo Esgaio, chegando ao 0-2
por Borja Mayoral (86').
Carlos Carvalhal poderá lamentar
um penálti sobre Sporar, negado
pelo árbitro, numa tarde em que as
contrariedades encostaram os
minhotos às cordas.
Depois de um momento de
apreensão, na sequência das queixas
físicas de Ricardo Horta durante a
fase de aquecimento, o Sp. Braga não
evitou uma entrada titubeante, mar-
cada pelo golo de Dzeko quando
estavam apenas esgotados pouco
mais de quatro minutos de jogo.
A Roma construía uma vantagem
relevante, tanto na partida como na
eliminatória, com uma investida sim-
ples pelo flanco, aproveitando o
posicionamento de Ricardo Esgaio,
lateral a quem Carlos Carvalhal pedia
para atacar a profundidade, com-
pensando com um Sequeira mais
conservador no lado oposto.
Os italianos perceberam e aprovei-
taram na perfeição o espaço criado
no corredor, com Spinazzola a cru-
zar para a entrada letal de Dzeko.
O Sp. Braga esmorecia e revelava
alguma dificuldade para lidar com as
consecutivas incursões da Roma pelo
lado de Esgaio. Aspecto que criou
instabilidade e deu à equipa de Pau-
lo Fonseca uma base firme para man-
1-1 ter os minhotos sob controlo, apesar
2-3
de a substituição forçada de Cristan-
2-2 te, aos 7 minutos, ter levantado um
4-2 problema que o colectivo resolveu.
0-4 O Sp. Braga tinha, contudo, as fra-
0-2
0-0
gilidades do corredor central da
Roma para explorar, de resto bem
1-4 patentes na equipa de Paulo Fonse-
4-3 ca, que tem tido na defesa o seu prin-
1-1
2-0
cipal problema. Sporar ainda tentou
1-2
forçar essa via, acabando por criar
algumas boas combinações com
0-2 Ricardo Horta, mesmo que sem con-
3-3 seguir uma real situação de golo.
3-4 Essa era a especialidade da Roma,
0-2 com Pedro Rodríguez e Mkhitaryan
a golpearem alternadamente a linha
recuada dos “arsenalistas”. No meio
de alguns calafrios, um golo anulado
ao espanhol (ex-Barcelona e Chelsea)
por fora-de-jogo e uma hesitação do
arménio (ex-Manchester United e
Arsenal) à procura do pé direito para
o remate que saiu contra Esgaio.
O Sp. Braga chegaria ao intervalo a
recompor-se e até a carregar e a cau-
sar constrangumentos aos romanos.
Mas dos ensaios de Galeno nada de
útil resultaria para os bracarenses.
A abrir a segunda parte, o Sp. Bra-
ga teve uma grande penalidade nega-
da pelo árbitro romeno e pelo VAR
espanhol, na sequência de uma car-
ga evidente de Ibáñez (50’) sobre
Sporar. O uruguaio lesionou-se e for-
çou Paulo Fonseca a nova substitui-
ção, o que acabava por ser um pro-
blema bem menor do que seria a
Abel Ruiz foi lançado a meio da segunda parte
Reacções
“Sofremos um golo a frio,
mas agarrámo-nos ao jogo
e empurrámos a Roma.
Tentaremos o impossível”
Carlos Carvalhal
Sp. Braga
Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021 • 41
grande penalidade... perdoada pelo
árbitro. Sobretudo porque, instantes
depois, o Sp. Braga ficava reduzido
a dez jogadores na sequência da
expulsão de Ricardo Esgaio.
O ala foi punido por uma acção
exactamente igual à de Roger Ibáñez
sobre Sporar, mas no meio-campo.
A partir desse momento, o Sp. Braga
interiorizava a importância de não
piorar as circunstâncias de um jogo
que, não estando perdido, exigia
concentração total para não esten-
der uma passadeira vermelha à
Roma na eliminatória.
Infelizmente para a equipa portu-
guesa, os italianos marcaram mesmo
nos últimos minutos, numa incursão
de Veretout pelo lado direito, con-
cluída com finalização fácil de Mayo-
ral, deixando a eliminatória bem
encaminhada.
HUGO DELGADO/LUSA
“A eliminatória ainda não
está fechada. Ganhar aqui
é um passo importante,
mas este Braga é corajoso”
Paulo Fonseca
Roma
Sp. Braga 0
Roma 2
Dzeko 5’, Borja Mayoral 86’
Estádio Municipal de Braga
Sp. Braga Matheus, Tormena,
Raúl Silva a89’, Sequeira, Esgaio
a32’aa54’, Al Musrati, Fransérgio
(André Horta, 69’), Galeno (Borja, 69’),
Ricardo Horta (Abel Ruiz, 62’), Gaitán
(Zé Carlos, 57’), Sporar (Lucas Piazón,
62’). Treinador Carlos Carvalhal
Roma Pau López, Mancini a90+6’,
Cristante (Bruno Peres, 7’), Ibáñez,
Karsdorp, Veretout, Diawara,
Spinazzola, Pedro Rodríguez
(El Shaarawy, 70’), Mkhitaryan,
Dzeko (Borja Mayoral, 70’).
Treinador Paulo Fonseca
Árbitro István Kovács (Roménia)
VAR Juan Martínez Munuera (Espanha)
Positivo/Negativo
Mkhitaryan
Acelerou o jogo da equipa,
juntamente com Pedro
Rodríguez no tridente
atacante da Roma. Também
marcou (60’), em lance
invalidado por escassos
centímetros.
Ricardo Esgaio
Viu a Roma abusar do
corredor que não
conseguiu manter seguro e
acabou expulso aos 54’,
deixando a equipa em
dificuldades.
Arbitragem
Penálti por assinalar sobre
Sporar que o VAR não
podia ignorar. Dualidade
flagrante no segundo
amarelo a Esgaio, em lance
igual ao do penálti.
“Entrámos mal, mas depois
tivemos algumas ocasiões
para empatar. Após a
expulsão, foi mais difícil”
Sequeira
Sp. Braga
42 • Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021
Desporto
Selecção feminina ambiciona entrar
já no Euro 2022 pela porta principal
Nuno Sousa
Triunfo sobre a Finlândia
garante desde logo a
qualificação para o torneio.
Seleccionador destaca a
maior maturidade do grupo
No dia 16 de Setembro de 2016, a
selecção de Portugal venceu, pela
última vez, a Finlândia (3-2), acele-
rando dessa forma para a primeira
presença na fase Ænal de um Cam-
peonato da Europa de futebol femi-
nino. Se hoje (16h15, Canal 11) repe-
tir o triunfo sobre as nórdicas, em
Helsínquia, repetirá também o aces-
so ao Europeu, em 2022, na quali-
dade de vencedora do Grupo E.
Um percurso muito sólido da
equipa portuguesa nesta fase de
qualiÆcação permite-lhe entrar para
a 7.ª e penúltima jornada com a pos-
sibilidade de garantir, desde já, um
lugar na fase Ænal do torneio, que,
dentro de pouco mais de um ano,
terá lugar em Inglaterra. Em igual-
dade pontual com a Finlândia, que
lidera a classiÆcação devido ao
empate com golos em Portugal (1-1),
só um triunfo assegurará de imedia-
to o apuramento para o Europeu
Sem exigências
Opinião
José Manuel Meirim
1. O titulo não é meu, mas sim de
Javier Marías, escritor que
compilou muitas das suas crónicas
(El País Semanal) em livros. Nesta
(Quando os tontos mandam,
Relógio D’Água, 2018, pp. 162-164),
Javier Marías insurge-se contra a
conduta dos Estados italiano e
francês, aquando da visita oÆcial,
do Presidente do Irão, Hassan
Rohani em 2016. Os italianos
decidiram tapar as estátuas antigas
dos Museus Capitolinos, para que
os seus nus não ofendessem “o
alto dignatário”. Em França,
segundo relata o autor, não foi
servido vinho nas recepções
oÆciais.
2. De forma inédita, uma Ænal de
pela porta principal. Em caso de
empate ou derrota, as contas Æcarão
fechadas na última ronda, havendo
ainda duas escapatórias: ser um dos
três melhores segundos ou avançar
para um play-oè, como sucedeu há
cerca de quatro anos e meio.
Francisco Neto, seleccionador
nacional desde 2014, não quer
entrar já no campeonato das contas
e desvaloriza os diferentes cenários.
competição internacional
(Campeonato do Mundo de Clubes,
futebol masculino, por vezes
somente referido por futebol),
contou com duas mulheres a
integrar a equipa de arbitragem
(quarta árbitra e árbitra auxiliar de
reserva). Tudo correu bem.
Todavia, no Ænal do jogo, assim
relata a imprensa, “o xeque Joaan —
membro próximo da família real do
Qatar e elemento destacado para
representar o Governo nesta Ænal
—”, não cumprimentou as duas
árbitras.
Depois, as redes sociais
encarregaram-se de fazer circular a
“informação” de que o presidente
da FIFA teria dado indicações às
duas árbitras para não tentarem
cumprimentar o xeque.
3. No passado dia 15, o presidente
da FIFA, na página oÆcial dessa
federação desportiva
internacional, fez uma impressiva
declaração de clariÆcação. Aí
“Neste momento não pensamos
nisso. O nosso foco é neste jogo.
Depois do jogo, poderemos pensar
no que virá a seguir, se o embate
com a Escócia, penáltis, o que for.
Poder chegar a estes jogos decisivos
e dependermos só de nós é o mais
importante”, assinalou, citado pelo
Portugal soma cinco vitórias e
um empate neste apuramento
PAULO CUNHA/LUSA
aÆrma o seu empenho na defesa
dos direitos das mulheres e na
igualdade de tratamento a
conceder a todo o ser humano,
independentemente de qualquer
factor diferenciador. E relembra
algo de positivo: a inscrição nos
estatutos da FIFA da vinculação
desta organização ao respeito dos
direitos humanos.
4. Naturalmente que não
estamos em condições de avaliar a
falsidade ou não da imputação que
foi dirigida a este dirigente
desportivo. Por isso, partimos do
pressuposto de que não terá agido
dessa forma.
5. Contudo, tal não obsta a que se
relembre o que de grave se passou
no Irão quanto à proibição das
mulheres assistirem a jogos de
futebol, incluindo os da selecção
iraniana. Tudo começou em
Outubro de 2018, quando o
procurador-geral do Irão,
determinou que não iria permitir
site da Federação Portuguesa de
Futebol (FPF).
Se o embate mais recente entre as
duas selecções, a 12 de Novembro de
2019, resultou num empate, o mes-
mo aconteceu nos três encontros
imediatamente anteriores (0-0, 1-1 e
1-1). E é esta nota de equilíbrio que o
técnico tem em mente quando olha
para o desaÆo que tem pela frente,
na Bolt Arena: “Acho que a percen-
tagem de favoritismo é de 50-50.
Este será um jogo em que os porme-
nores irão fazer a diferença e nós
iremos estar ao mais alto nível”.
De resto, Francisco Neto acredita
que o crescimento que o grupo tem
registado é fundamental em momen-
tos decisivos, como este. Para este
upgrade, sublinha, tem sido deter-
minante o capital de experiência
adquirido nos últimos anos, inclusi-
ve em jogos de carácter particular
diante de adversários de topo.
“A diferença está na maturidade.
Desde 2017 até agora, a FPF permi-
tiu-nos fazer jogos internacionais
frente às melhores equipas do mun-
do. Quando estávamos no apura-
mento, em 2016, éramos uma equi-
pa competitiva mas não estávamos
tão maduros. Agora somos compe-
titivos mas com mais experiência.”
que mulheres assistissem a jogos
de futebol de equipas masculinas,
algo que considerou pecado. E a
verdade é que só cerca de um ano
depois, após a morte de uma jovem
que se imolou em frente a um
tribunal de Teerão, depois de ter
sido condenada a seis meses de
prisão por tentar assistir a um jogo
de futebol, é que as mulheres
voltaram aos estádios (quatro mil
em cerca de 80.000 espectadores,
no jogo Irão-Camboja).
A FIFA optou pela via da
“diplomacia”, não obstante ter
todas as normas para sancionar a
federação iraniana de futebol, da
forma que se impunha e era
adequada.
Seria o mesmo se
hipoteticamente estivéssemos (em
escolha aleatória) perante Aruba,
Chade, Curaçau, Eritreia, entre
outros tantos exemplos?
Professor de Direito do Desporto
Breves
Futebol
Pepê confirmado no
FC Porto com cláusula
de 70 milhões
O interesse do FC Porto em
Pepê, médio brasileiro que
actua no Grémio, chegou
ontem a bom porto com um
acordo entre o campeão
português e o emblema
brasileiro. Os “dragões”
garantem a contratação do
jogador a troco de 15 milhões
de euros, a que acresce o
montante de 487.500€
relativo ao mecanismo de
solidariedade. Aos 23 anos,
Pepê é um dos esteios do
Grémio. Tanto pode actuar
como extremo (à esquerda ou
à direita, embora seja destro),
ou como segundo avançado.
Em 2020, fez 30 jogos e nove
golos no Brasileirão. Pepê
assinou um contrato até Junho
de 2026, com uma cláusula de
rescisão de 70 milhões de
euros. Pepê irá juntar-se ao
plantel portista no final da
presente temporada.
Futebol
Liga de clubes
levanta interdição
ao Estádio Nacional
A Liga de clubes levantou
ontem a interdição ao Estádio
Nacional, em Oeiras,
decretada em 9 de Fevereiro,
o que possibilita ao
Belenenses SAD, da I Liga,
continuar a realizar os jogos
caseiros no recinto. “Vamos
jogar no Estádio do Jamor até
ao fim da época. É o terceiro
ano que o fazemos, porque
fomos expulsos do Restelo.
Esperámos dois anos pelas
eleições no Belenenses clube,
manteve-se a perseguição
doentia e, no final desta época
desportiva, vamos encontrar
uma solução duradoura”,
disse Rui Pedro Soares,
presidente do Belenenses
SAD.

Osaka cimenta estatuto
e Serena sai em lágrimas
Pedro Keul
Novak Djokovic é o
primeiro finalista do Open
da Austrália e fica à espera
de Tsitsipas ou Medvedev
Ao derrotar inapelavelmente Serena
Williams, somar o 20.º encontro con-
secutivo e qualiÆcar-se para a quarta
Ænal de um torneio do Grand Slam no
período de dois anos, Naomi Osaka
aÆrma-se como a melhor tenista da
actualidade. A vitória da japonesa de
23 anos sobre a campeoníssima norte-
americana nas meias-Ænais do Open
da Austrália assemelhou-se a uma
passagem de testemunho. Amanhã,
Osaka parte favorita para conquistar
o seu quarto título do Grand Slam
diante da estreante Jennifer Brady.
Osaka venceu os últimos oito pon-
tos do confronto com a ídolo Serena,
que encerrou com os parciais de 6-3,
6-4, em 75 minutos. Uma vitória que
começou a tomar forma no primeiro
set, em que Osaka colocou apenas
36% de primeiros serviços e cometeu
três duplas-faltas.
Serena, que esteve a um ponto de
fazer o 3-0 no primeiro set, só con-
seguiu quebrar a japonesa por duas
vezes: logo no jogo inicial e no
segundo set, quando três duplas-fal-
tas adversárias a ajudaram a recu-
perar para 4-4. Mas uma dupla-falta
Mori caiu e os Jogos de Tóquio passam
a ser dirigidos por uma mulher
A antiga atleta Seiko
Hashimoto assume a
liderança de Tóquio 2020,
depois dos comentários
sexistas do seu antecessor
Seiko Hashimoto é a nova presidente
do comité organizador dos Jogos
Olímpicos de Tóquio, sucedendo no
cargo a Yoshiro Mori, que se demitira
na sequência de comentários sexis-
tas. Hashimoto, de 56 anos, abandona
o cargo de ministra olímpica (era uma
de duas mulheres no Governo japo-
nês) para assumir a supervisão dos
Jogos a pouco mais de cinco meses da
cerimónia de abertura, marcada para
23 de Julho. A nomeação de Hashimo-
Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021 • 43
Naomi Osaka
e três winners de Osaka repuseram
de imediato o ascendente da japo-
nesa e Serena não ganhou mais
nenhum ponto.
A norte-americana de 39 anos con-
tinua à procura do 24.º título do
Grand Slam e apresentou-se em Mel-
bourne na melhor condição física
desde que regressou à competição
após ser mãe, em 2018. Dada a forte
concorrência, Williams sabe que vai
ser mais complicado a cada ano que
passa. Depois de explicar que os ace-
nos ao público não signiÆcaram uma
despedida, Serena não conseguiu
to para o cargo não deixa de ser sur-
preendente, sabendo-se que há pou-
ca tradição no Japão de mulheres em
cargos de liderança. Mas a igualdade
de género é um dos pontos na agenda
da antiga atleta olímpica que passou
a liderar Tóquio 2020.
“Claro que é muito importante
aquilo que Tóquio 2020 possa fazer
pela igualdade e é muito importante
que a pratique”, declarou Hashimoto,
que, enquanto atleta, participou em
Hashimoto
assume a
liderança
nipónica da
organização dos
Jogos a cinco
meses do início
Desporto
responder a uma pergunta sobre os
24 erros não forçados; as lágrimas
apareceram, a voz Æcou embargada
e abandonou a conferência de
imprensa, ao Æm de três minutos.
Amanhã (8h30 em Portugal), Osaka
vai defrontar Jennifer Brady, numa
reedição da meia-Ænal do último
Open os EUA.
A norte-americana de 25 anos, que
nunca enfrentou uma adversária do
top 20 ao longo da quinzena, impôs
a sua maior consistência e maturida-
de e diante de Karolina Muchova
(27.ª), que nunca tinha passado dos
quartos-de-Ænal em Grand Slams,
venceu por 6-4, 3-6 e 6-4.
Na primeira meia-Ænal masculina,
Novak Djokovic terminou com o
memorável percurso do russo Aslan
Karatsev, o primeiro estreante em
torneios do Grand Slam a chegar às
meias-Ænais. O líder do ranking esteve
muito sólido desde o ponto inaugural
e cometeu somente um erro não for-
çado nos primeiros 15 jogos.
Mas Karatsev (114.º) reagiu na
segunda partida, reduziu de 1-5 para
4-5 e dispôs de mais dois break-points
no derradeiro jogo. Foi então que
Djokovic subiu o nível de jogo, ven-
cendo, por 6-3, 6-4 e 6-2.
No domingo, Djokovic defronta o
vencedor da segunda meia-Ænal
(manhã de hoje em Portugal), entre
Daniil Medvedev (4.º) e Stefanos
Tsitsipas (6.º).
sete edições dos Jogos Olímpicos
(quatro de Inverno e três de Verão),
conquistando uma medalha de bron-
ze em Albertville 1992 nos 1500m em
patinagem de velocidade.
Hashimoto assume o cargo uma
semana depois da demissão de Yoshi-
ro Mori. O antigo primeiro-ministro
japonês não resistiu à onda de indig-
nação que se levantou após a divulga-
ção das aÆrmações que proferiu
durante uma reunião. “As mulheres
falam demasiado. Em conselhos com
muitas mulheres, as reuniões levam
muito tempo. Se aumentarmos o
número de mulheres, temos de garan-
tir que o tempo que têm para falar é
limitado. Elas não conseguem calar-
se, o que é muito aborrecido”, foi o
que disse Mori. PÚBLICO
44 • Público • Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021

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Os amigos da onça da história e da liberdade de expressão

escala.
Consoante Bastou menos de um mês e agora
muda foi a vez de o próprio líder da
extrema-direita vir a público
pressionar um professor,
mencionando explicitamente o seu
nome e a escola secundária onde
leciona, divulgando um vídeo
líder político que põe em risco a
segurança de um professor — que
não nomeio, para não agravar a
situação: não esqueçamos que a
extrema-direita já matou e agrediu
gente em Portugal — a Æm de criar
um ambiente de constrangimento
sobre todos os professores, de
particularmente por historiadores.
Em vez disso, deveriam
perguntar-se quais são as razões
desses historiadores, e levá-las a
sério. Ao contrário do que talvez
imaginem, mas não deveria ser
difícil de compreender, não há nada
mais deprimente ou que mais
eminente historiador do fascismo e
um dos que mais hesitaram em
utilizar o termo no contexto atual, a
escrever no mês passado que reviu
a sua opinião e que passou a
considerar que “o uso dessa
etiqueta [de fascista] se tornou
agora não só aceitável como

N
Rui Tavares
o dia das eleições
presidenciais, um
apoiante do
candidato de
extrema-direita
queixava-se nas redes
sociais de que na escola onde tinha
ido votar estava patente uma
exposição sobre o Holocausto, o
que, segundo ele, teria como
intenção prejudicar o seu
candidato. A reação imediata de
muita gente foi de risada com tal
autogolo: se alguém expressa temor
de que uma referência ao nazismo
possa prejudicar o seu candidato, é
porque está a admitir
implicitamente que a carapuça lhe
poderia servir. Mas havia outra
reação possível: de alarme. Porque
a velocidade com que o caricatural
passa a normal é, nos tempos que
correm, cada vez maior. E, assim
sendo, não haveria de passar muito
tempo até que a menção ao
nazismo nas escolas começasse a
criar desconforto político a outra
ilegalmente obtido de uma das
aulas deste na qual ele se referia a
um facto — noticiado por jornalistas,
certificado por verificadores de
factos, e ainda para mais justificado
pelo contexto pedagógico do que se
estava a discutir na aula — de que
militantes neonazis tinham entrado
no partido de extrema-direita
português. Lembram-se do caso de
Samuel Paty, o professor de História
francês assassinado por um fanático
islamista? Quando, há quatro
meses, tive de dar a uma crónica o
doloroso título “Como escrever
sobre um colega decapitado”, notei
que, “se não tivesse havido a
arrogante irresponsabilidade” do
pai de uma das alunas de Samuel
Paty “que optou por escandalizar-se
e escandalizar os outros,
espalhando mentiras e exageros
pelas redes sociais, não teria
provavelmente havido um assassino
fanatizado para matar Samuel
Paty”.
O país e o contexto pode ser
outro, mas a arrogante
irresponsabilidade é agora de um
História e de outras disciplinas, no
qual o nazismo passe a ser um
tópico “congelado” e sem nenhuma
relevância contemporânea, o
contrário daquilo que um tema na
aula de História deve ser.
Tudo isto num contexto em que
certos campos da direita se
escandalizam de cada vez que a
história do fascismo ou do nazismo
é recordada no debate político,
Com amigos como
estes, a prática
da historiograÄa
e da liberdade
de expressão
correrá riscos
sérios perante
os seus inimigos
desagrade a um historiador do que
ter de admitir que a história se
possa repetir. Não é sem pesar nem
contrariedade que historiadores
que passaram anos estudando estes
assuntos lançam os seus alertas. E,
ao contrário também do que
possam imaginar, não faltam entre
eles autores que escreveram
também das mais abrangentes
investigações de crimes
perpetrados pela esquerda.
Para sair do nosso cantinho, que
pensam que leva uma historiadora
conservadora como Anne
Applebaum, autora de uma
monumental história do Gulag, a
alertar sobre as derivas autoritárias
à direita no seu mais recente livro
sobre O Crepúsculo da Democracia?
Ou Timothy Snyder, autor das
páginas mais duras que já li sobre o
Holodomor na Ucrânia soviética, a
escrever explicitamente no seu
Sobre a Tirania acerca das lições que
o século XX tem para nos dar
perante as mutações atuais do
nacional-populismo? Ou ainda
Robert O. Paxton, talvez o mais
necessário”, em particular para
descrever um político como
Trump?
Estamos então perante uma
situação de enorme hipocrisia, na
qual gente que se diz pela
“liberdade de ensinar e aprender”
num dia se cala no outro, quando
um professor de História é na
prática ameaçado em público por
um líder político. Gente que se
arrepelava com o “politicamente
correto”, mesmo em situações
triviais, remete-se ao silêncio
quando há votos de protesto e
petições para deportar do país
Mamadou Ba pelo delito de ter
opinião sobre Marcelino da Mata.
Gente que se queixava de não haver
debate sobre certas facetas ou
personagens da história nacional
queixa-se depois quando o debate
não é todo a seu gosto.
Com amigos como estes, a prática
da historiograÆa e da liberdade de
expressão correrá riscos sérios
perante os seus inimigos.
Historiador

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