Você está na página 1de 2

ECOLOGIA POLÍTICA COMO ETNOGRAFIA: UM GUIA TEÓRICO E

METODOLÓGICO

O artigo de Paul Elliot Little aborda sobre um tempo ainda marginal na acadêmica, a
Ecologia Política, a qual é resultado do diálogo entre disciplinas que compõe as ciências
naturais e as ciências sociais, em uma dinâmica transdisciplinar. O autor com o seu texto tinha
a finalidade mapear alguns dos aportes conceituais e metodológicos que a antropologia,
sobretudo a etnografia, oferece à ecologia política.
A segunda seção do texto é dedica a abordagem da ecologia política, uma das
ramificações das ciências ecológicas que, conforme o autor, apresentam respostas para as
novas realidades políticas e ambientais que as sociedades confrontam hoje. Little considera
que as consequências naturais e sociais expansão do sistema capitalista, atrelado a ideologia
neoliberal, são argumentos para justificar a importância da ecologia política como campo de
pesquisa.
Apesar da divisão epistemológica/institucional entre as ciências sociais e naturais, a
pesquisa ecológica trabalha está entre o mundo biofísico (“a natureza”) e o mundo social (“a
cultura”). Assim, o autor entende que só haverá uma ciência verdadeiramente ecológica,
quando houve diálogo profundo entre as ciências sociais e as ciências naturais, voltadas ao
relacionamento dinâmico e interdependente entre o mundo biofísico e o mundo social. Isto
implicaria em mudanças paradigmáticas que eliminasse, em exemplo, a distinção entre
natureza e cultura.
Apontando algumas falhas na abordagem das ciências naturais e ciências sociais, o
autor destaca que alguns cientistas sociais só procuram causas sociais e ignoram as causas
biofísicas, ao mesmo tempo que o cientistas sociais tendem a lidar exclusivamente com
causas biofísicas. Em função disso, o diálogo entre ambas áreas seria imprescindível para a
construção da ecologia política, posto que o pesquisador deve se atentar para questões
biofísicas e socioambientais.
Em síntese, as ciências ecológicas a todo tempo está a lidar com diferentes esferas de
interação, o que demanda uma abordagem transdisciplinar, incorporando disciplinas além da
antropologia, a geografia ou a econômica política, segundo Little. Enfatiza três princípios que
fazem parte do núcleo do paradigma ecológico, cuja aplicação pode variar conforme o lugar
ou tema sob pesquisa. Para o primeiro princípio o cerne da pesquisa ecológica são as relações
sociais, naturais e socioambientais. O segundo princípio diz que a pesquisa ecológica deve
utilizam análise que coloquem as relações dentro seus respectivos marcos históricos e
ambientais. Por fim, “a ecologia utiliza metodologias processuais onde o acompanhamento
dos fluxos (de energia; de pessoas; de sementes; de idéias; de pólen; etc.) e a identificação de
sua dinâmica interna é uma parte essencial da pesquisa (LITTLE, 2001, p. 96).
É importante frisar que a etnografia trabalhada na ecologia política não é a tradicional,
focada no modo de vida de um grupo social, há outras como a Etnografia multiator, em que o
objeto é analisar os conflitos socioambientais em si e as múltiplas interações sociais e naturais
que os fundamentam. Ao fim, o autor destaca a função do etnógrafo, o qual realizará a análise
ecológica do conflito. Entende que o etnógrafo não é uma agente imparcial, a escolha de
estudar determinado conflito já se consolida como uma decisão política, além disso essa
análise cientifica poderá dar visibilidade aos atores socioambientais marginalizados e revela
conexões e relações de poder antes ignoradas, conhecimento esse que poderá ser utilizado
pelos atores sociais para reivindicar inúmeros direitos ignorados por atores hegemônicos e
realizar denúncias ao poder público, em exemplo.

Você também pode gostar