Este documento analisa estudos sobre a relação entre terceirização e acidentes de trabalho. Muitos estudos defendem que a terceirização aumenta os acidentes, mas eles se baseiam em casos específicos e não consideram diferenças entre setores. Estudos mais amplos mostram que as condições de trabalho dependem mais do setor e da qualificação do que da terceirização. Assim, não há evidências conclusivas de que a terceirização em si aumente os acidentes.
Este documento analisa estudos sobre a relação entre terceirização e acidentes de trabalho. Muitos estudos defendem que a terceirização aumenta os acidentes, mas eles se baseiam em casos específicos e não consideram diferenças entre setores. Estudos mais amplos mostram que as condições de trabalho dependem mais do setor e da qualificação do que da terceirização. Assim, não há evidências conclusivas de que a terceirização em si aumente os acidentes.
Este documento analisa estudos sobre a relação entre terceirização e acidentes de trabalho. Muitos estudos defendem que a terceirização aumenta os acidentes, mas eles se baseiam em casos específicos e não consideram diferenças entre setores. Estudos mais amplos mostram que as condições de trabalho dependem mais do setor e da qualificação do que da terceirização. Assim, não há evidências conclusivas de que a terceirização em si aumente os acidentes.
Uma análise da (in)ocorrência do seu aumento à luz da terceirização das
empresas
As firmas têm aumentado a sua flexibilidade organizacional, como forma de se
adaptar à crescente concorrência. Uma das formas mais comuns de flexibilização é a terceirização com a compra de materiais ou aquisição de serviços no mercado, substituindo atividades que antes eram produzidas dentro da firma. Ocorre que em março de 2017, passou pela sanção presidencial um projeto de lei que promoveu uma nova regulamentação sobre as relações contratuais terceirizadas. Tal projeto gerou uma significativa discussão sobre os impactos deste modelo de contrato (BELCHIOR, 2018). Nesse contexto, enfatiza-se que muitos estudos defendem a relação do aumento do número de acidentes de trabalho com a terceirização das empresas. Contudo, o presente trabalho objetiva argumentar contrariamente a esses posicionamentos a partir da análise de alguns artigos científicos e pesquisas neles apontadas. Em primeiro lugar, cumpre aduzir que muitos dos estudos que apontam a relação do aumento dos acidentes de trabalho com a terceirização das empresas, baseiam-se em casos pontuais de setores e atividades bastante específicos, e terminam por generalizar o argumento para as demais atividades da economia, o que é fundamentalmente errado (REBELO; MOREIRA; LOPES; COURA, 2018). Nesse sentido, ainda que a atenção com os acidentes de trabalho deve estar presente em todos os setores da economia, que possuem diferentes necessidades e diferentes características, ressalta-se que esses setores não são comparáveis em si (REBELO; MOREIRA; LOPES; COURA, 2018), não sendo razoável estender, por analogia, o que acontece em um setor específico para os demais setores, como ocorre nos estudos de casos que defendem o posicionamento aqui rebatido. Outrossim, a análise ampla dos dados referentes aos acidentes de trabalho é bastante importante, pois permite avaliar um tema relevante e sensível a todos os trabalhadores, terceirizados ou não. Dessa forma, apontam Rebelo, Moreira, Lopes e Coura (2018), que as condições de trabalho estão muito mais associadas às características do setor de atividade que ao fato de as empresas atuarem como terceirizadoras de mão de obra (REBELO; MOREIRA; LOPES; COURA, 2018). Um dos artigos analisados, de autoria de Rebelo, Moreira, Lopes e Coura (2018) demonstra em tabela, o número de acidentes de trabalho por mil trabalhadores, sendo, em média, praticamente o mesmo nos setores contratantes e nos terceirizados. Todavia, em alguns setores de atividade, como água, esgoto e gestão de resíduos, por exemplo, o número de acidentes entre os terceirizados é maior que entre os contratantes. Há características relevantes nesse setor que fazem com que algumas atividades de campo sejam realizadas por empresas especializadas em serviços bastante específicos, enquanto há uma enorme quantidade de funcionários em atividades administrativas. Da mesma forma, há também outros setores de atividade, como na indústria de transformação, na qual o número de acidentes entre os terceirizados é menor que entre os contratantes. Com isso, destaca-se que há importante diferenciação no risco de acidentes associado às características da atividade envolvida. Não se pode comparar o risco de acidente de uma atividade em um escritório com o risco de acidente durante a manutenção de uma linha de transmissão elétrica, por exemplo, que independe da atividade ser terceirizada ou não (REBELO; MOREIRA; LOPES; COURA, 2018). Assim sendo, estudos de casos específicos são inviáveis e insustentáveis no que tange a generalização do aumento dos acidentes de trabalho à medida que comparações são feitas sem o controle de setor de atividade, distorcendo a realidade. Ocorre que as atividades terceirizadas possuem condições de trabalho muito díspares, sendo que, em alguns setores de atividade ou nível de escolarização, as condições nas empresas prestadoras de serviço são muito próximas das encontradas nas contratantes ou até melhores, por exemplo (REBELO; MOREIRA; LOPES; COURA, 2018). Para aprofundar a discussão, foi realizada uma análise considerando não apenas as principais ocupações tipicamente industriais, mas também as que são encontradas em empresas prestadoras de serviço. Identificaram vinte e uma ocupações em que todas as características analisadas, quais sejam: remuneração média, tempo de emprego e horas contratuais semanais, são tão boas quanto ou melhores quando estão alocadas nos setores de serviço do que quando estão na indústria de transformação, teoricamente sua atividade-fim (REBELO; MOREIRA; LOPES; COURA, 2018). Evidencia-se, portanto, que as diferenças de remuneração, jornada e tempo no emprego estão muito mais associadas às características dos setores e à qualificação dos trabalhadores que a questões relacionadas à terceirização ou não das atividades. Claramente, os problemas se concentram onde há a contratação de um volume elevado de trabalhadores pouco qualificados, portanto, mais desprotegidos. Além disso, constata-se uma predominância de estudos do tipo estudo de caso, com abordagem qualitativa. São encontrados, por sua vez, poucos estudos do tipo levantamento, com abordagens teórico-metodológicas mais robustas, para verificar relações causais entre o processo de terceirização e o estresse, doenças relacionadas ao trabalho, riscos de acidentes e sofrimento psíquico (BELCHIOR, 2018). O que fica aparente é que a terceirização tenha impactos negativos sobre a saúde e qualidade de vida do trabalhador, ocasionando doenças e sofrimento relacionados ao trabalho. No entanto, os fatores que podem resultar na deterioração da saúde dos profissionais terceirizados são estudados predominantemente de forma isolada nos artigos, não sendo possível identificar as inter-relações entre os mesmos (BELCHIOR, 2018). Assim, há uma lacuna de estudo das inter-relações entre estes fatores, de forma a investigar o processo saúde doença desses profissionais, as condições de trabalho a que são submetidos e os processos de saúde-adoecimento deles (BELCHIOR, 2018). Não obstante, a formação da base de dados não é discutida de maneira clara, o que é extremamente problemático no caso brasileiro, uma vez que as bases de dados usualmente utilizadas para estudar o mercado de trabalho no Brasil não apresentam uma divisão clara entre trabalhadores terceirizados e não terceirizados (BELCHIOR, 2018). Além disso, a relação inferida entre acidentes de trabalho e a terceirização baseia-se apenas no alto número de trabalhadores terceirizados que sofrem acidentes em determinados ramos industriais. Existem, contudo, pelo menos duas outras explicações adicionais para a mencionada correlação. A primeira é de que os trabalhadores que costumam aceitar contratos terceirizados podem ser mais propensos ao risco e se acidentar mais e a segunda é de que as empresas que terceirizam suas atividades podem realizar atividades mais perigosas (BELCHIOR, 2018). Assim, nota-se que não se pode estabelecer uma relação de causa entre a terceirização e um aumento de acidentes de trabalho, a não ser que haja um controle também para os fatores indicados. Há também a questão também de que a falta de regulamentação do trabalho terceirizado e sua restrição às atividades levaram a uma maior concentração em atividades auxiliares à atividade produtiva, como por exemplo, de limpeza e controle de portarias, que possuem como características a baixa qualificação de sua mão de obra e condições de trabalho piores que a média de outros setores, como é o caso da indústria de transformação (REBELO; MOREIRA; LOPES; COURA, 2018). Dessa forma, com o foco da análise em setores que utilizam mão de obra mais qualificada, percebe-se que o fato de esse trabalhador estar ou não alocado em uma empresa terceirizadora de mão de obra, pouco influencia em suas condições de trabalho: remuneração, jornada e tempo no emprego. Em alguns casos, até mesmo melhora sua remuneração. Sendo assim, a mera comparação de médias, desconsiderando-se esses fatos, leva a conclusões equivocadas e a generalizações distorcidas, que não necessariamente refletem a realidade (REBELO; MOREIRA; LOPES; COURA, 2018). REFERÊNCIAS
BELCHIOR, Carlos Alberto. A terceirização precariza as relações de trabalho? O
impacto sobre acidentes e doenças. Revista Brasileira de Economia. V. 72. N. 1. P. 41 – 60. ISSN 1806-9134. DOI 10.5935/0034-7140.20180003. Publicado em: Jan – Mar, 2018.
REBELO, André Marques; MOREIRA, Guilherme Renato Caldo; LOPES, Guilherme
Byrro; COURA, Eduardo Batista. Terceirização : o que os dados revelam sobre remuneração, jornada e acidentes de trabalho. Capítulo 3. Publicado em: Terceirização do trabalho no Brasil : novas e distintas perspectivas para o debate. Organizador: André Gambier Campos. Brasília: Ipea, 2018.
João Ramos Almeida e José Castro Caldas (Cadenos Do Observatório) 2014 - Quanto É Que Os Salários Teriam de Descer para Tornar A Economia Portuguesa Competitiva (Mar) PDF