Você está na página 1de 8

REVISTA IMAGEM, VOLUME 1, NÚMERO 1

JUNHO-DEZEMBRO 2011, ISSN 2178-3772


REVISTAIMAGEM.FSG.BR
FACULDADE DA SERRA GAÚCHA

Art Déco e Art Nouveau: confluências

Art Déco and Art Nouveau: confluences

Rodrigo Fernandes Pissetti; Carla Farias Souza

Resumo
Fundamentado em revisão de literatura, o presente artigo analisa comparati-
vamente os objetos de design de estilo Art Nouveau e Art Déco, revelando
que, apesar de muitas vezes serem consideradas antagônicas, estas duas
grandes correntes que marcaram a história do design e da arquitetura do
século XX foram condicionadas pelos contextos, materiais e tecnologias dis-
poníveis em sua época. Com exemplos, teorias e dados históricos, o texto a-
borda trabalhos e técnicas difundidas pelos grandes representantes dos refe-
ridos movimentos, revelando a sensibilidade, sentimento e subjetividade
marcante dos seus estilos pessoais, comprovando que a interpretação estilís-
tica de um objeto vai muito além da sua aparência visual.
Palavras-chave: História do Design; Art Nouveau; Art Decó.

Abstract
Based on literature review, this article examines the comparative design ob-
jects from Art Nouveau and Art Deco, revealing that, though often considered
to be antagonistic, these two currents which mark the history of design and
architecture of the twentieth century were conditioned by the contexts, ma-
terials and technologies available in his day. With examples, theories, and
historical data, the text covers works and techniques disclosed by the major
representatives of such movements, revealing the sensitivity, feeling and
subjectivity their personal styles marked, proving stylistic interpretation of
an object goes far beyond its visual mark.
Keywords: Design History; Art Nouveau; Art Decó.
Art Déco e Art Nouveau: confluências

Introdução indo a estética neoclássica, ligada às cortes


dos séculos anteriores, representando uma
Silva e Menezes (2009) destacam a impor- nova burguesia nascente com “formas or-
tância da pesquisa por revisão de literatura, gânicas, sem hierarquias aparentes”
e explicam sua aplicação. Por meio do le- (KLICZKOWSKI, 2003:65).
vantamento e da análise do que já foi publi-
cado sobre Art Nouveau e Art Decó, o pre- Excesso e ousadia
sente artigo traça um quadro teórico que
proporciona a estruturação conceitual que Com a revolução industrial, algumas inven-
sustenta o desenvolvimento da pesquisa. ções tornaram-se fundamentais para as
modificações estéticas do fim do século XIX.
Art Nouveau De acordo com Gympel (2001), as máquinas
resgataram as formas tradicionais, forne-
O Art Nouveau foi um movimento interna-
cendo meios para as produzir. Esta situação
cional desenvolvido em países da Europa e
verificou-se em todos os domínios. Objetos
nos Estados Unidos entre o final da década
que até aquele momento resultavam do
de 1880 e a Primeira Guerra Mundial, com o
trabalho pesado, executado na forja, podi-
objetivo de criar uma arte moderna em
am ser produzidos industrialmente com
resposta ao revivalismo histórico exaltado
ferro fundido. “Elementos decorativos pas-
pela era vitoriana, e eliminar as distinções
saram a ser fabricados em série, constituin-
entre as belas-artes e as artes aplicadas. A
do artigos de catálogo, que podiam ser esco-
denominação Art Nouveau inspirou-se no
lhidos por imagens, encomendados, e de-
nome da galeria gerenciada por Siegfried
pois colados nas paredes” (GYMPEL,
Bing em Paris – La Maison de l’Art Nouveau
2001:74). Muitos objetos apresentavam a-
- que comercializava as últimas novidades
dornos grotescos graças aos novos métodos
europeias no setor das artes e do artesanato
de produção industriais. (SEMBACH,
(DEMPSEY, 2003).
2007:15).
Em cada país o Art Nouveau recebeu um
Face à concorrência colocada pela produ-
nome ou versão diferente: na Alemanha foi ção mecânica, mais rápida e barata, mui-
chamado Jugendstil (“estilo da juventude”); tos artífices tiveram de fechar as suas ofi-
na Catalunha, Modernisme; na Áustria, Se- cinas, partir para as cidades e trabalhar
zessionstil (referência à Secessão Vienense); nas fábricas. Perdiam-se assim os conhe-
na Bélgica, Paling Stijl (“estilo enguia”) e cimentos e as técnicas que teriam trans-
mitido à geração seguinte. Em vez de cri-
Style des Vingt (de Os Vinte); em Portugal,
arem peças únicas, passaram a produzir
Arte Nova; na Rússia, Stil’ Modern; e na produtos massificados, usando máquinas
Itália, Stile Nouille (“estilo macarrão”), Stile que imitavam o trabalho manual em de-
Liberty (alusão à loja de departamentos zenas de milhares de cópias (GYMPEL,
Liberty, de Londres, que vendia tecidos 2001:73).
estampados neste estilo) e Stile Floreale (ou
estilo dos lírios ou estilo das ondas) O design da época registrou forte inspiração
(DEMPSEY, 2003; HEYL, 2009). na natureza. “Os ornamentos florais brota-
vam de todas as partes, sobretudo no início
O design e a arquitetura Art Nouveau carac- das múltiplas manifestações do Art Nouve-
terizavam-se por enfatizar a linha ondulan- au” (HEYL, 2009:57).
te, figurativa, abstrata ou geométrica, tra-
tada com ousadia e simplicidade (DEMPSEY, O Art Nouveau surgiu como consequência
2003). O estilo foi gradativamente substitu- da dissonância entre a arte e a técnica ob-

REVISTA IMAGEM, VOLUME 1, NÚMERO 1, JUNHO-DEZEMBRO 2011 18


Rodrigo Fernandes Pissetti; Carla Farias Souza

servada no século XIX, como uma “tentati- ram os mais de cem matizes de cor diferen-
va de conciliar as aspirações artísticas her- tes que conseguiu em vidro e celebraram-se
dadas do passado e os novos fenômenos da as suas impressionantes e inovadoras técni-
era da técnica (SEMBACH, 2007:09 e 14). cas de trabalho” (HEYL, 2009:126). No even-
to, Émile Gallé fez furor com Les Vases de
A Arte Nova prestava-se a equívocos. As Tristesse (Jarros de Tristeza, figura 1), cons-
suas formas de expressão refletiam pro-
tituídos de vidro hialino. Sintetizando o
fundamente o individualismo dos auto-
res. Partiam à aventura, cada um segundo espírito do Fim do Século e refletindo a
as técnicas pessoais, temperamento, sen- intensa melancolia da sociedade em deca-
sibilidade, reflexões, tendências espiritu- dência, dedicou os “jarros tristes” às flores-
ais e meios próprios de expressão. Ao cri- tas que já não existiam e aos bons amigos
ar uma Arte Moderna aplicada à sua épo- que morreram jovens (HEYL, 2009:126 e
ca, entregavam-se à proezas sem futuro,
127).
crendo-se que faziam de propósito para
desconcertar o público.

(CHAMPIGNEULLE, 1976, p.89)

Dentro deste contexto, o Art Nouveau era


defensor dos interesses artísticos e sempre
que se empenhava em reformas sociais, o
fazia com uma postura de superioridade
(SEMBACH, 2007). Neste contexto de revo-
lução industrial, de utopismo social cons-
truído com base num excesso decorativo Figura 1: Les Vases de Tristesse, Émille Gallé, Expo-
sição Universal de Paris (1889).
urbano, encontravam-se vários designers e
Fonte: Site da 20th Century Decorative Art and
arquitetos que foram expoentes em diver- Design Department
sos países .
do Acompanhando a literatura de sua época
Émile Gallé foi um dos artistas mais – em especial o Simbolismo –Gallé fez cita-
importantes do Art Nouveau. Em 1889, pa- ções literárias em diversos trabalhos, che-
tenteou as técnicas da pátina e da marche- gando a criar a “decoração simbólica”. Sen-
taria. Também obteve grande êxito em pro- do assim, norteando a sua criação este prin-
jetos com o vidro – um dos materiais prefe- cípio, ele torna-se o autêntico representan-
ridos do movimento – cuja superfície per- te de todos os estilos de Art Nouveau, cuja
mite várias formas de tratamento, texturas maior preocupação era o tema decorativo.
e matizes. Com o desenvolvimento do vidro (HEYL, 2009).
opaco preto e vermelho (hialite), o artista
aproveitou a estética do material para dotar Referências estéticas
os seus objetos de uma atmosfera peculiar.
Émile Gallé desenvolveu a técnica do reves- Sembach (2007) afirma que, apesar de uma
timento, que consistia em cobrir a peça aparente oposição, a Art Nouveau possuía
bruta com uma camada adicional de vidro, pontos em comum com o Historicismo,
geralmente de outra cor (SEMBACH, 2007; estilo dominante na segunda metade do
HEYL, 2009). século XIX, que ocultava ou impedia a assi-
milação do “essencial da técnica” e das re-
A Exposição Universal de Paris de 1889 pro- lações formais e construtivas dos materiais.
jetou Gallé para o mundo. “Nela se admira-

REVISTA IMAGEM, VOLUME 1, NÚMERO 1, JUNHO-DEZEMBRO 2011 19


Art Déco e Art Nouveau: confluências

Seja como reação romântico-utópica face o luxo, as festas e o jazz auxiliavam as pes-
ao poder da máquina, seja como precur- soas a esquecer os traumas da Primeira
sor do estilo moderno, como argumento
Guerra Mundial, divertirem-se e olhar espe-
contra o ecletismo ou ainda como desejo
de expressão do homem moderno, o con- rançosamente para o futuro. Inserido em
texto histórico favoreceu o desenvolvi- um contexto que exaltava o consumismo, o
mento da Arte Nova, permitindo também estilo foi amplamente aplicado na arquite-
conhecer o espírito da época manifestado tura e na configuração e promoção de pro-
através desta arte. (HEYL, 2009:11) dutos como fonógrafos, aparelhos de rádio,
Nem em 1900, nem antes, a novidade não automóveis, transatlânticos, aviões, cosmé-
chegou a ser uma característica do Art ticos e filmes de Hollywood (DEMPSEY,
Nouveau. Especialmente em campos como o 2003).
do mobiliário, os exemplos do Art Nouveau
francês remetem a modelos mais antigos, Os objetos Art Déco representavam asas de
como os modelos do século XVIII. aviões, proas de barcos, motores de auto-
(SEMBACH, 2007). móveis e olhos-de-boi de cabinas de transa-
tlânticos: O bule de prata dourado com asa
Com exceção aos movimentos de Viena e de cristal Teapot de Jean Puiforcat (figura
obras como a de Frank Lloyd Wright, em 2), por exemplo, faz claras referências às
Chicago, Sembach (2007) acredita que, em elegantes linhas dos transatlânticos.
sua essência, o Art Nouveau foi “uma reação (LEMME, 1997).
ao impulso da técnica e aos fenômenos que
a acompanhavam” (SEMBACH, 2007:29).

Art Decó

O Art Déco foi um estilo decorativo de ex-


tensão internacional que surgiu na França e
atingiu seu auge no período entre a Primei-
ra e a Segunda Guerra Mundial. Apesar de
nem tudo o que se exibiu no evento ser
qualificado como Art Déco, o termo faz alu-
são à Exposition Internationale des Arts
Décoratifs et Industriels Modernes (Exposi- Figura 2: Teapot, Jean Puiforcat (1935).
ção de Artes Decorativas e Industriais Mo- Fonte: blog The Zaray Gazette
dernas), realizada em Paris em 1925, ocasião
onde o estilo foi visto pela primeira vez em René Lalique, um dos expoentes do Art Dé-
projetos de decoração de interiores, estam- co, foi herdeiro direto de Emile Gallé
paria, tapeçaria, cerâmica, vidro, jóias, arte- (LEMME, 1997). Lalique exibiu seus primei-
fatos de metal, esculturas e luminárias ros objetos de vidro em 1905, e em 1907
(DEMPSEY, 2003; LEMME, 1997:08). A prin- abriu uma fábrica perto de Paris, onde criou
cípio, o estilo era conhecido por “Style Mo- um vidro especial cristalino, brilhante e
derne” ou “Paris 1925”, só passando a ser transparente. Em 1912, lançou um frasco de
chamado de Art Déco em meados dos anos fabricação menos trabalhosa dos que até
60 (DEMPSEY, 2003). então o mercado dispunha, de pormenores
exteriores que refletiam o seu conteúdo, e
O Art Déco se desenvolveu em uma com uma sensação de movimento impossí-
época onde o lazer, a velocidade, as viagens, vel de se conseguir sem as novas técnicas de

REVISTA IMAGEM, VOLUME 1, NÚMERO 1, JUNHO-DEZEMBRO 2011 20


Rodrigo Fernandes Pissetti; Carla Farias Souza

trabalhar o vidro (HEYL, 2009). “O vidro nítidas, eram tão austeras e duras como a
colorido também adquiriu um papel cada escadaria de um templo. O óbvio podia
ser elegante (LEMME, 1997:34).
vez mais importante nos seus desenhos.
Lalique conseguia criações assombrosas Além do bronze, do ferro, da prata, do ouro,
com as suas representações abstratas de do mármore, da cerâmica, do veludo e da
plantas talhadas nesse frio material” (HEYL, seda, o Art Déco utilizou em seus projetos
2009:82). novos materiais como o cromo, o alumínio,
a baquelita, resinas fenólicas e vários tipos
Fascinado com a concepção japone- de plásticos (LEMME, 1997). A capacidade de
sa da natureza, Lalique empregava e com- moldagem da baquelita adequou-se perfei-
binava materiais preciosos com vulgares tamente às linhas aerodinâmicas e escultu-
(ouro e diamantes com vidro e pedras se- rais do Art Déco. Esse tipo de plástico come-
mipreciosas, por exemplo), elementos exó- çou a ser comercializado em 1909, mas se
ticos (carapaças de tartaruga) e pormenores tornou viável para a produção em larga
diversos (trabalhos em esmalte), ampliando escala somente no final da década de 20,
o horizonte da criação de jóias (HEYL, 2009). marcando nos anos 30 o design de objetos
como os aparelhos de rádio (FIELL, 2006).
A interpretação mitológica da figura femi-
nina tornou-se uma de suas marcas distin- A diversidade de materiais e do contraste
tivas. A “mulher-flor”, uma mistura de entre colorações e texturas fizeram parte
planta e figura feminina, tornou-se tema dos objetos Art Déco, que apresentavam
recorrente em seu trabalho, assim como a formas que refletiam as inovações tecnoló-
combinação de criaturas como aranhas e gicas da época. A versatilidade dos materi-
libélulas (HEYL, 2009). ais foi fator fundamental para a inovadora
configuração de muitos objetos. Edgar
As peças de joalharia de Lalique, fabricadas Brandt concebeu sua lâmpada Cobra (figura
de forma onerosa, eram de um modo geral em bronze em uma estrutura que só foi
únicas (HEYL, 2009:80), o que novamente possível graças à maleabilidade e resistên-
abre margem para a discussão: uma vez que cia do bronze. “Em madeira ou em outros
os objetos do desenho industrial devem ser materiais a serpente não haveria podido
passíveis de produção seriada, os trabalhos suportar seu próprio peso” (LEMME,
de Lalique seriam design ou artesanato? 1997:69).

Simplicidade e vigor
Como as importantes correntes artísticas
que marcaram sua época, o Art Déco com-
partilhava a tendência à abstração, “de mo-
do que a forma, a cor, a linha e o volume
adquiriram importância por si próprios”, e
se supunha que os sentimentos e sensibili-
dade do artista se refletiriam mediante a
Figura 3: luminária Cobra, Edgar Brandt (1925).
manipulação dessas variáveis flexíveis. Fonte: Site da 20th Century Decorative Art and
(LEMME, 1997:27) Design Department
O que a Art Déco ensinava, e o público a-
prendeu, foi a audácia do design. Se as co-
res tinham que se brilhantes, o eram até o
deslumbramento, se as linhas deviam ser

REVISTA IMAGEM, VOLUME 1, NÚMERO 1, JUNHO-DEZEMBRO 2011 21


Art Déco e Art Nouveau: confluências

Referências Estéticas veis e não necessariamente caros –, atual-


mente é possível encontrar objetos Art Dé-
De caráter extremamente eclético, o Art
co em lojas e feiras de antiguidades a um
Déco inspirou-se em elementos do Impres-
preço bastante acessível (LEMME, 1997:42 e
sionismo, Pós-impressionismo, Expressio-
74).
nismo, Cubismo, Futurismo, Simbolismo,
Neoclassicismo, Fauvismo, Surrealismo,
Art Nouveau e Art Déco
Construtivismo, Orfismo, Purismo, Vorti-
cismo, Abstracionismo Geométrico e Cultu- No plano ideológico, o Art Déco possuia
ra Popular, assim como na arte primitiva e afinidades com Art Nouveau, movimento
em motivos egípcios e africanos (FIELL, comumente considerado sua maior antíte-
2006; DEMPSEY, 2003; LEMME, 1997). Desde se. Assim como o no caso do Art Nouveau,
o final do século XIX, os artefatos das cultu- os designers do Art Déco também pretendi-
ras primitivas foram amplamente valoriza- am eliminar a distinção entre as belas-artes
dos pelos museus europeus, que abriram e as artes decorativas, promover a colabo-
suas portas expondo-os como obras de arte. ração entre os artistas e artesãos e reafir-
mar a importância do seu trabalho na pro-
A influência egípcia, assim como a africa-
na, são evidentes nas cadeiras de Pierre dução (DEMPSEY, 2003) (LEMME, 1997).
Legrain. São pesadas e sólidas peças de Já no plano estético, as diferenças entre os
mobiliário, toscas e feitas para durar, da
dois movimentos revelavam-se bastante
mesma forma que os primeiros aparelhos
de rádio e relógios triangulares para cor- evidentes. Enquanto o Art Nouveau se em-
nijas que imediatamente recordam as pi- basava em motivos florais na ornamentação
râmides egípcias ou os templos astecas de edifícios e objetos, o Art Déco tendia à
(LEMME, 1997:34). abstração e, quando recorria à natureza em
Nas primeiras décadas do século XX, tudo o busca de inspiração, preferia retratar ani-
que não provinha da Europa era reconheci- mais e as formas femininas. Enquanto a
do como de elevado valor artístico. “Isto foi versão mais tradicional do Art Nouveau era
particularmente relevante para o Art Déco, complexa, intrincada e densa, o Art Déco
já que na época que este estilo se começou a era simples, límpido e ordenado. “No Art
se desenvolver a tendência pelo primitivo Déco as linhas não se ondeiam como o vór-
não era uma alternativa, e sim uma obriga- tice de um redemoinho; se se curvam, o
ção” (LEMME, 1997:32). fazem de forma gradual e com amplitude,
seguindo um fino arco; se são retas, o são
Os plásticos permitiam a fabricação de obje- tanto quanto uma régua”, proporcionando
tos do cotidiano baratos e vulgares, que ao observador um sentimento de alívio e
representavam o humor da época. Afinal, bem-estar (LEMME, 1997:08 e 17).
uma das qualidades mais simpáticas do Art
Déco é seu caráter irônico e divertido, capaz Notas
de transpor sem hesitar elementos de um
Anke von Heyl informa que o impulso decisivo
contexto para outro. Muitas vezes beirando para a renovação da linguagem formal da arte deu-
o absurdo ou o ridículo, “o Art Déco foi res- se com a obra Kunstformen der Natur (Formas
ponsável do pior gosto kitsch . Mereceria Artísticas da Natureza). Iniciada em 1899 pelo
ter inventado o cachorro de cabeça balan- biólogo Erich Haeckel, a publicação reuniu dezenas
çante” (LEMME, 1997:33). de imagens com desenhos de animais e plantas
(HEYL, 2009:57).
Devido às tecnologias que permitiam sua
fabricação em série e aos materiais empre- Expoentes do Utopismo Social: Bruxelas: Henry
gados na sua fabricação – resistentes, durá- van de Velde, Victor Horta, Jules van Riesbroek,

REVISTA IMAGEM, VOLUME 1, NÚMERO 1, JUNHO-DEZEMBRO 2011 22


Rodrigo Fernandes Pissetti; Carla Farias Souza

Paul Hankar, Gustave Serrurier-Bovy, Philippe


Wolfers e Franz Hoosemans; em Nancy, Emile O surgimento do Kitsch conforme Moles (2001)
Gallé, Jacques Gruber e Louis Majorelle. Munique e ocorreu na Alemanha por volta de 1860, Kitschen
Weimar: Peter Behrens, Ernst Neumann, Franz von em alemão significa “produzir algo novo a partir
Stuck, Theodor Fischer, Bruno Paul, Bernhard de objetos existentes”. A época áurea do Kitsch se
Pankok, Richard Riemerschmid, Thomas Theodor dá com a ascensão da burguesia na Europa em
Heine, Hermann Obrist, August Endell, Friedrich meados do século XIX.
Adler, Ferdinand Morave, Ludwig von Zumbusch,
Otto Eckmann, Hermann Gradl Rudolf Hentschel, Os seguidores do Art Déco admiravam e incorpora-
Louis Held e Konrad Hentschel. Darmstadt: Joseph ram na sua estética as formas geométricas e retilí-
Maria Olbrich, Paul Bürch, Friedrich Pützer, Hans neas das produções dos representantes do Art
Christiansen, Patriz Huber, Ludwig Habich e Ru- Nouveau tardio, como Charles Rennie Mackintosh
dolf Bosselt. Glasgow: Charles Rennie Mackintosh, e Josef Hoffmann (DEMPSEY, 2003:135).
Margaret Macdonald-Mackintosh, Herbert Mac-
Nair e Frances Macdonald MacNair. Helsínquia:
Herman Gesellius, Armas Lindgren, Eliel Saarinen, Referências
Louis Sparre. Barcelona: Antoni Gaudi. Viena:
Joseph Maria Olbrich, Otto Wagner, Adolf Loos, BYARS, Mel. Enciclopédia do Design. Tradu-
Josef Hoffmann, Alois Ludwig, Max Klinger, Adolf ção de Aline Lacerda Menegat, André de
Böhm, Wilhelm Schmid, Bertold Löffer, Otto Godoy Vieira, Helena D. Chaves Barcellos
Czeschka, Fritz Zeymer, Koloman Moser, Otto Guaspary e Leila Ferreira de Souza Mendes.
Prutscher. Chicago: Frank Lloyd Wright e Louis
São Leopoldo: editora Unisinos, 2007. 934
Sullivan.
pág.
Simbolismo: Corrente que floresceu na França nas CHAMPIGNEULLE, Bernard. A “Art Nouve-
décadas de 1880 e 1890, o Simbolismo encontrou
au”. São Paulo: editora Verbo, 1976. 309 pág.
vazão principalmente na pintura e na poesia. Em
clara oposição ao mecanicismo, cientificismo e DEMPSEY, Amy. Estilos, Escolas e Movimen-
visibilidade aparente das coisas naquele momento tos. Tradução de Carlos Eugênio Marcondes
defendida por movimentos como o Impressionis-
de Moura. São Paulo: editora Cosac Naify,
mo, com seu timbre místico e espiritualista o Sim-
bolismo buscava diminuir o hiato entre o mundo 2003. 304 pág.
material e o espiritual. Absorvendo idéias difundi- FIELL, Charlotte & Peter. Design Handbook
das pela recentemente surgida ciência da psicaná-
– Conceitos, Materiais, Estilos. Tradução de
lise, os simbolistas exaltavam o valor intrínseco do
indivíduo e de sua realidade subjetiva. João Bernardo Boléo. Colônia: editora Tas-
chen, 2006. 189 pág.
Art Déco: René Lalique, Paul Poiret, Louis Süe,
FIELL, Charlotte & Peter. Design do Século
Pierre-Émile Legrain, Jean Dunand, Edgar-William
Brandt, Jacques-Émile Ruhlmann, André Groult, XX. Tradução de João Bernardo Boléo. Co-
Paul Follet, Eileen Gray, Pierre Chareau e Robert lônia: editora Taschen, 2000. 767 pág.
Mallet-Stevens foram os principais representantes
HEYL, Anke von. A Arte Nova. Coleção Art
do estilo. Na pintura, os grandes nomes do Art
Déco foram os artistas René Buthaud, Tamara de Pocket. Colônia: editora H. F. Ullmann, 2009.
Lempicka, Raphaël Delorme, Fernand Léger, Jean- 288 pág.
Gabriel Domergue, André Lhote, Jean Dupas e
LEMME, Arie Van de. Art Déco – Guía Ilus-
Robert Delaunay – cuja esposa, Sonia Delaunay,
desenhou trajes, acessórios e estamparias. Paul trada del Estilo Decorativo. Tradução de
Colin e Adolphe Jean-Marie Mouron – de pseudô- Gloria Mora. Madri: Editorial Ágata, 1997.
nimo A. M. Cassandre – foram os maiores designers 130 pág.
de cartazes Art Déco, mídia que nos Estados Unidos
teve como expoentes Rockwell Kent e Edward MOLES, Abraham. O Kitsch: a arte da felici-
McKnight Kauffer (LEMME, 1997; FIELL, 2006; dade. Tradução de Sergio Miceli. São Paulo:
DEMPSEY, 2003) Editora Perspectiva, 2001.

REVISTA IMAGEM, VOLUME 1, NÚMERO 1, JUNHO-DEZEMBRO 2011 23


Art Déco e Art Nouveau: confluências

PAIM, Gilberto. A Beleza Sob Suspeita: O Rodrigo Fernandes Pissetti


Ornamento em Ruskin, Lloyd Wright, Loos,
Mestre em Comunicação e Linguagens pela
Le Corbusier e outros. Rio de Janeiro: Jorge
Universidade Tuiuti do Paraná/UTP. Docen-
Zahar Editor, 2000. 148 pág.
te no curso de Bacharelado em Design da
PEVSNER, Nikolaus. Origens da Arquitetura Faculdade da Serra Gaúcha.
Moderna e do Design. Tradução de Luiz Raul
Machado. São Paulo: editora Martins Fon-
tes, 2001. 3ª edição. 226 pág. Carla Souza Farias

PEVSNER, Nikolaus. Os Pioneiros do Dese- Mestre em Educação na linha de Arte e Edu-


nho Moderno – de William Morris a Walter cação pela Universidade Federal de Santa
Gropius. Tradução de João Paulo Monteiro. Maria/ UFSM. Docente no curso de Bacha-
São Paulo: editora Martins Fontes, 2002. 3ª relado em Design da Faculdade da Serra
edição. 242 pág. Gaúcha.
SEMBACH, Klaus-Jürgen. Arte Nova – A U-
topia da Reconciliação. Tradução de Luís
Milheiro. Colônia: editora Taschen, 2007.
242 pág.
SILVA, Edna Lúcia da; MENEZES, Estera
Muszkat. Metodologia da pesquisa e elabo-
ração de dissertação. 3ª edição. Florianópo-
lis: Laboratório de Ensino a Distancia da
UFSC, 2001. 121 pág.
TAMBINI, Michael. O Design do Século. Tra-
dução de Cláudia Sant’Anna Martins. São
Paulo: editora Ática, 2004. 2ª edição. 288
pág.
Site da 20th Century Decorative Art and
Design Department. Disponível em <
http://www.christies.com/departments/20
th-century-decorative-art-and-design/>.
Acesso em: 21/10/2011

REVISTA IMAGEM, VOLUME 1, NÚMERO 1, JUNHO-DEZEMBRO 2011 24

Você também pode gostar