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BRASÍLIA - DF
2016
DÉBORA RODRIGUES DOS SANTOS
BRASÍLIA - DF
2016
DÉBORA RODRIGUES DOS SANTOS
Banca Examinadora
__________________________________________________
Profª MSc. Francisca Gallardo
(Orientadora)
__________________________________________________
Prof. MSc. Fabrício Lopes Paula
(Membro)
__________________________________________________
Prof. Dr. Weber de Lima Bonfim
(Membro)
AGRADECIMENTOS
A toda a minha família, em especial a minha mãe, Ilma Rodrigues e meu pai, Manoel
Rodrigues, pelo amor, incentivo e investimento nos meus estudos.
Clarisse Lispector
RESUMO
The monograph aims to present international trafficking of people, the third most lucrative
criminal modality in the world that affects millions of people, especially women and children.
In this context the global effort to treat this transnational organized crime resulted in the
creation, in 2000, the main international instrument to prevent, suppress and punish
trafficking in persons, the Palermo Protocol, however, its effectiveness is a challenge that
begins with ratification of the Protocol, which generate specific obligations, and internalising
the domestic legal system of the country that adheres. The Brazil adopted the Palermo
Protocol in 2004, through Presidential Decree No. 5107, shortly after having deposited the
instrument of ratification with the Secretary-General of the United Nations, taking
confronting trafficking in persons as an important issue in its human rights agenda. Therefore,
it is possible to observe the direct influence of international law on the production standards
and Brazilian public policies such as the National Policy to Combat Human Trafficking which
will be analyzed in this work from reports published by the Ministry of Justice of Brazil.
Figura 1 - Mapa das principais áreas de destino dos fluxos transregionais de tráfico e suas
significativas origens, 2010-2012.............................................................................................18
Figura 4 - Gráfico sobre as formas de exploração entre vítimas de tráfico detectadas por
região, 2010 – 2012...................................................................................................................20
LISTA DE TABELAS
Tabela 2 - Número de vítimas do tráfico de pessoas e crimes correlatos entre 2011 a 2013...29
Tabela 3 - Perfil das vítimas de tráfico de pessoas – Sexo, Brasil, 2011 a 2013......................32
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 12
1 TRÁFICO INTERNACIONAL DE PESSOAS ................................................................ 14
1.1 O HISTÓRICO DO TRÁFICO DE PESSOAS.................................................................. 14
1.2 A DEFINIÇÃO ATUAL DO TRÁFICO DE PESSOAS ................................................... 15
1.3 ASPECTOS GERAIS DO TRÁFICO INTERNACIONAL DE PESSOAS ...................... 17
1.4 FATORES COLABORADORES PARA O TRÁFICO DE PESSOAS ............................ 21
2 TRÁFICO DE PESSOAS NO BRASIL ............................................................................ 23
2.1 A INTERNALIZAÇÃO DO PROTOCOLO DE PALERMO AO ORDENAMENTO
JURÍDICO BRASILEIRO ....................................................................................................... 23
2.2 A LEGISLAÇÃO PENAL BRASILEIRA SOBRE O TRÁFICO DE PESSOAS ........... 24
2.3 A REALIDADE BRASILEIRA SOBRE O TRÁFICO DE PESSOAS ............................ 27
2.3.1 O perfil das vítimas de tráfico de pessoas ................................................................... 30
2.3.2 O perfil do traficante e suas características ................................................................ 31
2.3.3 Indiciados e presos ......................................................................................................... 32
3 POLÍTICA NACIONAL DE ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOA ...... 34
3.1 O I PLANO NACIONAL DE ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOAS ....... 34
3.2 O II PLANO NACIONAL DE ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOAS ...... 35
CONCLUSÃO......................................................................................................................... 43
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 45
ANEXO A – DESCRIÇÃO DAS 115 METAS DO II PNETP............................................47
12
INTRODUÇÃO
O presente trabalho aborda sobre tráfico internacional de pessoas, tema relevante para
as Relações Internacionais e para o Brasil por ser um país de origem, trânsito e destino de
vítimas do tráfico. O tráfico de pessoas é uma violação aos Direitos Humanos que afeta
milhões de pessoas além de ser a terceira modalidade criminosa mais lucrativa do mundo,
assim, o seu combate exige uma abordagem complexa e multidimensional.
Nesse contexto o esforço global para enfrentar esse problema resultou na criação do
Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado
Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial
Mulheres e Crianças, o principal instrumento normativo sobre a temática que traz a primeira
definição internacionalmente aceita de tráfico de pessoas. O Protocolo já foi aderido por mais
de 160 países inclusive o Brasil, com isso a hipótese deste trabalho se encontra na influência
direta do Direito Internacional na produção de políticas públicas no âmbito interno de um
país.
Neste sentido o objetivo geral deste trabalho visa analisar a efetividade da Política
Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e seus respectivos Planos Nacionais. Além
disso, os objetivos específicos buscam introduzir o arcabouço histórico e o marco legislativo
internacional sobre o tráfico humano; identificar a aplicação do Protocolo de Palermo no
âmbito jurídico do Brasil e avaliar as políticas públicas brasileiras de combate ao tráfico de
pessoas.
No Brasil o tráfico negreiro perdurou séculos e foi o último país americano a abolir a
escravidão. O motivo de tanta resistência para a libertação dos escravos era porque o Brasil
dependia de sua mão-de-obra para suas atividades econômicas desde meados do século XVI
até meados do século XIX. Depois que a Inglaterra aboliu em 1807 o tráfico nas suas
colônias, torna-se o defensor internacional da luta contra ele. Em 1808 a escravidão foi
considerada crime contra a humanidade e é sob influência ou pressão por parte da Inglaterra
que o Brasil quase meio século depois aboliu o tráfico negreiro.
1
JESUS, Damásio Evangelista de. Tráfico internacional de mulheres e crianças – Brasil: aspectos regionais
e nacionais. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 15.
2
Ibid, p. 27/28.
3
Ibid, p. 27/28.
15
Mais tardar a “Conferência Mundial das Nações Unidas sobre Direitos Humanos”
(Viena, 1993) e a “Conferência Mundial sobre a Mulher” (Beijing, 1995) reforçaram a ideia
de que o tráfico de seres humanos vai contra a dignidade e o valor inerente à pessoa humana e
liberdades fundamentais, e que é de interesse da humanidade combater tal crime.
Por fim, no ano de 2000, em Nova York, foi realizado a “Convenção das Nações
Unidas contra o Crime Organizado Transnacional relativo à Prevenção, Repressão e Punição
do Tráfico de Pessoas, em especial mulheres e crianças”, também conhecido como Protocolo
de Palermo. Ele entrou em vigor internacional em 2003 e encontra-se aberto à adesão dos
Estados, em janeiro de 2016 já contava com 169 Estados-Membros e 117 signatários.5 Seus
objetivos são de caráter preventivo, punitivo e social, de recuperação e de tratamento das
vítimas com observância e respeito aos tratados de direitos humanos, e também a promoção
da cooperação entre os Estados a fim de tornar efetivos esses objetivos.
4
RODRIGUES, Thaís de Camargo. Tráfico internacional de pessoas para exploração sexual. São Paulo:
Saraiva, 2013, p. 62.
5
Disponível em:< https://treaties.un.org/Pages/ViewDetails.aspx?src=tREaty&mtdsg_no=XViii-12-
a&chapter=18&lang=en>. Acesso em: 25 fev. 2016.
6
RODRIGUES, op. cit., p. 63.
16
De acordo com essa definição, o crime de traficar pessoas tem três elementos
constitutivos referentes à forma (recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o
acolhimento de pessoas); os meios (ameaça ou uso da força ou outras formas de coação, rapto,
fraude, engano, abuso de autoridade ou situação de vulnerabilidade ou entrega ou aceitação de
pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade
sobre outra) e a finalidade que envolve diferentes formas de exploração.
Embora o Protocolo não mencione outras finalidades da exploração ele deixa claro,
com o uso da expressão “no mínimo”, que esse rol é meramente exemplificativo8podendo
assumir quaisquer outras modalidades degradantes como casamentos forçados, adoções
ilegais, exploração da mendicância dentre outras. O Protocolo de Palermo cita basicamente as
7
Decreto nº 5.017, de 12 de março de 2004. Promulga o Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas
contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em
Especial Mulheres e Crianças. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-
2006/2004/Decreto/D5017.htm>. Acesso em 04 de maio 2016.
8
RODRIGUES, op. cit., p. 128.
17
seguintes finalidades de exploração: a exploração sexual que para Guilherme Nucci deve ser
caracterizada como forma de retirada de vantagem em relação a alguém, valendo-se de fraude,
ardil, posição de superioridade ou qualquer forma de opressão;9 o trabalho ou serviços
forçados ou similares a escravidão que abrange uma gama de atividades de recrutamento,
abrigo e transporte da pessoa utilizando a força física ou ameaças, coerção psicológica ou
outros meios coercitivos para obrigar alguém trabalhar e o tráfico de órgãos que se caracteriza
pelo recrutamento ou recepção de pessoas vivas ou mortas ou dos respectivos órgãos por meio
de ameaça ou utilização da força ou recepção por terceiros de pagamentos ou benefícios no
sentido de conseguir a transferência de controle sobre o potencial doador, para fins de
exploração por meio da remoção de órgãos para transplante.10
Observa-se de modo geral que os países de origem são menos desenvolvidos, local
onde se encontram as pessoas mais vulneráveis a esse tipo de crime. Os países de trânsito são
aqueles marcados por insuficiências de fiscalização em suas fronteiras. Já os países de
destino, em regra, são países mais desenvolvidos, ressaltando-se o crescente aparecimento de
países em desenvolvimento nessa categoria.
9
NUCCI, Guilherme de Souza. Crimes contra a dignidade sexual. 2. Ed. São Paulo, Revista dos Tribunais,
2010, p. 144.
10
SIQUEIRA, Priscila; QUINTEIRO, Maria (Orgs.). Tráfico de Pessoas: Quanto vale o ser humano na
balança comercial do lucro?São Paulo: Ideias & Letras, 2013, p.46.
11
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Secretaria Nacional de Justiça. Tráfico de Pessoas Uma Abordagem para os
Direitos Humanos. 1. Ed. Brasília: Edição do autor, 2013, p. 26.
12
UNODC. Global report on trafficking in persons.2014, p. 7. Disponível em: <
http://www.unodc.org/documents/data-and-analysis/glotip/GLOTIP_2014_full_report.pdf>. Acesso em: 22 mar.
2015.
18
Figura 1 - Mapa das principais áreas de destino dos fluxos transregionais de tráfico e suas significativas origens,
2010-2012
Meninos
12%
Meninas Mulheres
21% 49%
Homens
18%
A fonte de lucro dos traficantes de pessoas esta nos diversos tipos de exploração das
vítimas. Os dois tipos mais freqüentes são a exploração sexual e o trabalho forçado com 53%
e 40% respectivamente. Apesar da baixa percentagem global, 0,3%, a remoção de órgãos se
enquadra nas formas de exploração. Além dessas finalidades de exploração o gráfico abaixo
ilustra que 7% correspondem a outros tipos de exploração que foram identificados durante a
elaboração do Relatório Global sobre Tráfico de Pessoas de 2014, são eles: exploração mista
de trabalho forçado e exploração sexual, pornografia (incluindo via internet), casamentos
forçados, venda de bebês, adoção ilegal, combate armado e ritual. As informações da figura 3
foram fornecidas por 88 países e refere-se a um total de 30.592 vítimas de tráfico de pessoas
detectadas entre 2010-2012.
Remoção
de órgão
0, 3 %
Outros
7%
Trabalho Exporação
Forçado sexual
40% 53%
Figura 4 - Gráfico sobre as formas de exploração entre vítimas de tráfico detectadas por região, 2010 – 2012
Europa e
66% 26% 8%
Ásia Central
Sudeste
Asiático 26% 64% 10%
e Pacífico
África e
53% 37% 10%
Oriente Médio
As regiões da África e Oriente Médio são as que mais precisam preencher a lacuna da
legislação penal, enquanto os países grandes e densamente povoados da Ásia e da América do
13
UNODC. Global report on trafficking in persons.2014, p. 7. Disponível em: <
http://www.unodc.org/documents/data-and-analysis/glotip/GLOTIP_2014_full_report.pdf>. Acesso em: 22 mar.
2015
21
Sul ainda têm legislação parcial, ou seja, nesses países existem pessoas desamparadas e
vulneráveis ao tráfico por não ter leis em conformidade com as normas internacionais, que
lhes proporcionariam proteção integral, como o Protocolo de Tráfico de Pessoas.14
14
Ibid, p. 7.
15
JESUS, Damásio Evangelista de. Tráfico internacional de mulheres e crianças – Brasil: aspectos regionais
e nacionais. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 13/14.
22
Conforme Maria L. Leal e Maria de F. Leal o tráfico de pessoas tem suas raízes no
modelo de desenvolvimento desigual do mundo capitalista globalizado e do colapso do
Estado, não só do ponto de vista ético, mas, sobretudo pela falta de atenção à questão social16.
O atual modelo de globalização centraliza a riqueza mundial nas mãos de uns poucos
privilegiados, deixando marginalizada uma massa imensa de excluídos do processo produtivo.
O resultado desse processo é a existência da extrema pobreza em diversas regiões do mundo,
daí surge à vulnerabilidade das pessoas, com baixas condições de vida e ausência de
oportunidade de trabalho, tornam-se presas fáceis das promessas de uma vida melhor para si e
suas famílias em empreitadas envolvendo o tráfico humano.
Por fim, vale ressaltar a deficiência das leis. Leis brandas ou em desconformidade com
as diretrizes internacionais favorecem a consumação e crescimento do crime19, na medida em
que torna custoso o combate e prevenção tanto na esfera interna de um país quanto em âmbito
internacional20.
16
LEAL, Maria Lúcia; LEAL, Maria de Fátima (Orgs.). Pesquisa sobre tráfico de mulheres, crianças e
adolescentes para fins de exploração sexual comercial – PESTRAF. Relatório Nacional – Brasil. Brasília:
CECRIA, 2002.
17
OIT. Tráfico de pessoas para fins de exploração sexual. Brasília: OIT, 2006, p. 16.
18
OIT, loc. cit.
19
JESUS, op. cit, p. 20.
20
BRASIL. Secretaria Nacional de Justiça. Política nacional de enfrentamento ao tráfico de pessoas. Brasília:
SNJ, 2 ed., 2008, p. 40.
23
O Tráfico de Pessoas foi abordado na “Convenção das Nações Unidas contra o Crime
Organizado Transnacional”, realizada em 1999 na Itália, ganhando profundidade e
sistematização no Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime
Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas,
em Especial Mulheres e Crianças, elaborado em 2000 em Nova Iorque. Nesse mesmo ano o
representante do Brasil assinou o Protocolo de Palermo concordando com seu conteúdo. Após
a assinatura do Protocolo compete ao Congresso Nacional a autorização da ratificação do
mesmo. O processo administrativo percorre o seguinte trâmite:
21
VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4ª. Ed. São Paulo: editora: Saraiva, 2014, p.68
24
22
Decreto nº 5.017, de 12 de março de 2004. Promulga o Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas
contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em
Especial Mulheres e Crianças. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-
2006/2004/Decreto/D5017.htm>. Acesso em: 25 de junho de 2015.
23
VARELLA, op. cit., p. 88.
24
Decreto nº 5.017, de 12 de março de 2004. Promulga o Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas
contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em
Especial Mulheres e Crianças. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-
2006/2004/Decreto/D5017.htm>. Acesso em: 25 de junho de 2015.
25
SIQUEIRA, Priscila; QUINTEIRO, Maria (Orgs.). Tráfico de Pessoas: Quanto vale o ser humano na
balança comercial do lucro?São Paulo: Ideias & Letras, 2013, p. 224.
25
outros tipos penais que são chamados correlatos ou subsidiários ao tráfico de pessoas, no
sentido de que se cometidos em paralelo ou com meio para alcançar o fim, que seria o tráfico
de pessoas e a exploração.
responsabilizando aqueles que pratiquem o tráfico de pessoas com outras finalidades que não
a exploração sexual.26
Há uma precariedade muito grande com relação aos dados correspondentes ao tráfico
de pessoas, no entanto, existe um número considerável de fontes oficiais capazes de produzir
informações sobre o tema que são aqueles pertencentes ao campo da justiça e da segurança
pública, como a Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) do Ministério da Justiça
através do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais e sobre Drogas
(SINESP), o Departamento de Polícia Federal (DPF), o Departamento Penitenciário Nacional
(DEPEN), o Departamento de Polícia Rodoviária Federal (DPRF). Além desses órgãos
também há outras instituições que possuem informações importantes sobre tráfico de pessoas.
São elas a Divisão de Assistência Consular do Ministério das Relações Exteriores
(DAC/MRE), a Secretaria de Direitos Humanos (SDH), a Secretaria de Políticas para as
Mulheres (SPM), a Coordenação-Geral de Vigilância de Doenças e Agravos não
Transmissíveis e Promoção da Saúde da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da
Saúde (MS), o Departamento de Proteção Social Especial da Secretaria Nacional de
26
BRASIL. Secretaria Nacional de Justiça. Relatório Nacional sobre Tráfico de Pessoas: Consolidação dos
dados de 2005 a 2011. Brasília: Ministério da Justiça, 2011, p. 10.
27
LEAL, Maria Lúcia; LEAL, Maria de Fátima (Orgs.). Pesquisa sobre tráfico de mulheres, crianças e
adolescentes para fins de exploração sexual comercial – PESTRAF. Relatório Nacional – Brasil. Brasília:
CECRIA, 2002.
28
Tabela 2 - Número de vítimas do tráfico de pessoas e crimes correlatos entre 2011 a 2013.
Ano/ Ator
DAC SDH/PR SPM/PR MS MDS MTE SENASP DPRF
estratégico
2011 9 32 35 80 - 2.485 2 169
2012 8 170 58 130 292 2.750 71 547
2013 62 309 340 115 64 2.089 254 329
Fonte: Secretaria Nacional de Justiça. Relatório Nacional sobre Tráfico de Pessoas: Dados de 2013 (Adaptado
pela autora, 2016).
28
BRASIL. Secretaria Nacional de Justiça. Relatório Nacional sobre Tráfico de Pessoas: Dados de 2013.
Brasília: Ministério da Justiça, 2014, p. 10.
29
Ibid, p. 17.
30
O Disque Denúncia Nacional é um serviço de discagem direta e gratuita disponível para todo o Brasil. É
coordenado pela Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República. Sua função é encaminhar as
denúncias de violações contra direitos humanos em geral à rede de proteção e responsabilização local onde a
vítima se encontre, além de utilizar os dados para mapear as regiões mais críticas, possibilitando uma definição
das regiões prioritárias no estabelecimento de políticas públicas.
29
vítimas de tráfico de pessoas em 2013, São Paulo com 51 vítimas, Minas Gerais com 35 e Rio
de Janeiro com 34.31
31
Ibid, p. 21.
32
Em 2005, a Secretaria de Políticas para as Mulheres lançou a Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180,
que tem como finalidade recebe denúncias, orientar e encaminhar para os órgãos competentes os casos de tráfico
de pessoas e de cárcere privado. Nos casos de violência contra mulher (doméstica, por exemplo), a central
orienta a mulher sobre seu direitos e sobre onde deve buscar ajuda e/ ou fazer a denúncia.
33
Ibid, p. 25.
34
Ibid, p. 28.
30
saltou para 13, 35 em 2013, ou seja, 278 estrangeiros de um total de 2.089 trabalhadores
resgatados.35
35
Ibid, p. 28.
36
Ibid, p. 32.
37
Ibid, p. 34.
31
Tabela 3- Perfil das vítimas de tráfico de pessoas – Sexo, Brasil, 2011 a 2013
Feminino 15 57 135
Masculino 11 46 49
Quanto à faixa etária, houve uma maior concentração de vítimas entre as crianças e
adolescentes, no ano de 2013, 177 de um total de 309 casos de vítimas de tráfico de pessoas
reportadas à SDH 162 estavam nas faixas entre recém-nascidos e 17 anos de idade. Também
constaram como vítimas nas denúncias feitas ao órgão 15 adultos distribuídos entre os 18 e 55
anos de idade. De acordo com os dados do MS, de 115 vítimas reportadas ao órgão 82 eram
do sexo feminino e as vítimas se concentravam entre 0 e 29 anos de idade.38
Nas denúncias feitas à SDH e o MS em 2013, a maior parte das vítimas foi reportada
pelos denunciantes como brancas, seguidas das pardas e das pretas. O MS também trouxe
informações sobre a escolaridade, considerando o total válido de dados (70 de 115), houve
uma concentração maior de vítimas (22 de 70) que concluíram entre a quinta e a oitava série
do Ensino Fundamental. Percebe-se também um número considerável de vítimas (16 de 70)
que ou são analfabetas ou concluíram no máximo até a quarta série do Ensino Fundamental.
Com relação ao estado civil das vítimas notificadas ao sistema de saúde, 42 vítimas de um
total válido (73 de 115) se declararam como solteiras e 25 casadas ou em união consensual. O
MS também reportou que a grande maioria das vítimas 99 de 115 residia em zona de
residência urbana.39
38
Ibid, p. 36.
39
Ibid, p. 37.
32
Além dos dados relativos ao perfil das vítimas de tráfico de pessoas, já apresentados
anteriormente, há também informações sobre o perfil dos suspeitos do crime reportados pelos
denunciantes junto a Secretaria de Direitos Humanos.
40
Ibid, p. 40.
41
Ibid, p. 45.
33
estados, como São Paulo (10) e Goiás (7) seguidos por Ceará (5), Roraima (5) e Paraná (5).
Além disso, a Polícia Federal apresentou 268 inquéritos instaurados sobre o crime de redução
à condição análoga à de escravo (Art. 149) totalizando 343 inquéritos em 2013, não havendo
significativas alterações em relação ao ano de 2012, 348 inquéritos.42
42
Ibid, p. 48.
43
Ibid, p. 51.
34
44
BRASIL. Secretaria Nacional de Justiça. Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas Brasília:
Ministério da Justiça, 2008, p. 13. Disponível em: < http://www.unodc.org/documents/lpo-
brazil//Topics_TIP/Publicacoes/2008_PlanoNacionalTP.pdf>. Acesso em: 25 de junho de 2015.
35
Em 2013, foi promulgado o Decreto nº. 7.901 que instituiu a Coordenação Tripartite
da Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e o Comitê Nacional de
Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, responsáveis pela aprovação do II Plano Nacional de
Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e a instituição do Grupo Interministerial de
Monitoramento e Avaliação do II PNETP através da Portaria Interministerial nº 634, de
fevereiro de 2013.
O II PNETP visa ampliar e aperfeiçoar as medidas adotadas pelo I PNETP e para isso
ele conta com o Ministério da Justiça; a Secretaria de Políticas para as Mulheres da
Presidência da República; a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República;
Casa Civil da Presidência da República; o Ministério das Relações Exteriores; o Ministério da
Educação; o Ministério da Defesa; o Ministério da Cultura; o Ministério do Trabalho e
Emprego – Secretaria de Inspeção do Trabalho; o Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome; o Ministério da Saúde; o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão;
o Ministério do Turismo; o Ministério do Desenvolvimento Agrário; a Secretaria-Geral da
45
Ibid, p. 16.
36
Fonte: Secretaria Nacional de Justiça. Avaliação sobre o progresso do II Plano Nacional de Enfrentamento
ao Tráfico de Pessoas (II PNETP). Brasília: Ministério da Justiça, 2014, p. 10.
Das 115 metas existentes no II PNETP, apenas 07 não foram iniciadas e 108 já
iniciaram sua execução, sendo que 16 estão concluídas e as outras 92 metas estão em
andamento, destas, 22 são consideradas metas em situação contínua e/ou permanente. Em
relação aos resultados obtidos das 115 metas, segundo os indicadores de gestão do progresso
das metas, 54 metas estão com ótimo progresso, 28 metas estão com bom progresso e 15 estão
com progresso regular, verifica-se que 12 metas apresentam um progresso ruim e 02 metas
foram avaliadas com péssimo progresso.46
46
BRASIL. Secretaria Nacional de Justiça. Avaliação sobre o progresso do II Plano Nacional de
Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (II PNETP). Brasília: Ministério da Justiça, 2014, p. 40.
37
são consideradas orçamentárias e apenas 26% não são orçamentárias.47 Assim, os cortes
orçamentários poderão prejudicar o progresso das metas até finalizar o plano.
47
Ibid, p. 40.
48
Ibid, p. 47.
38
A atividade 2.C tem 04 metas visto que 03 estão iniciadas e 01 é permanente. Das 04
metas estabelecidas 02 são orçamentárias. Essa atividade teve ótima classificação e mostrou
um progresso de 85% quanto à instauração de cooperação e acordos entre o Brasil e outros
países de fronteira com destaque para a implementação da Estratégia Nacional de Fronteira, a
inclusão da temática do tráfico de pessoas em operações das Forças Armadas (Operação
Ágata), a inclusão da temática do tráfico de pessoas em todas as reuniões das Comissões
Bilaterais, a realização da reunião de Altas Autoridades em Tráfico de Pessoas da
Organização dos Estados Americanos (OEA) para monitoramento do Plano Hemisférico e as
Declarações de entendimento e cooperação mútua entre Brasil, Argentina, Venezuela,
Paraguai, Uruguai, etc.51
49
Ibid, p. 48.
50
Ibid, p. 48.
51
Ibid, p. 49.
39
A atividade 2.E tem 12 metas, 09 estão iniciadas, 02 são permanentes e apenas 01 não
foi iniciada. Das 12 metas estabelecidas 09 são de naturezas orçamentárias. A atividade
apresentou um progresso de 73,2% em relação à implementação de mecanismos voltados à
repressão do tráfico de pessoas como a inclusão de defensores públicos nas instâncias dos
Comitês de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, a inclusão da temática do tráfico humano
em cursos de formação de policiais rodoviários, a formação de diretrizes e mecanismos de
monitoramento para o funcionamento dos Gabinetes de Gestão Integrada de Segurança
Pública, a inclusão de Oficiais de ligação e adidos da polícia federal em países estrangeiros,
caso haja necessidade da articulação com a Rede de Núcleos e Postos de Enfrentamento ao
Tráfico de Pessoas e a elaboração de projetos de Delegacia de Direitos Humanos para a
atuação da Polícia Federal nos crimes de tráfico de pessoas. No geral a atividade foi
classificada com boa por mais que as metas 2.E.7 e 2.E.8 fossem classificadas com ruins por
não ter Oficiais da Polícia Federal presentes nos países que recebem vítimas brasileiras de
tráfico de pessoas atuando como ponto de contato para a cooperação bilateral e multilateral na
repressão e responsabilização ao tráfico e por não ter delegacias especializadas de combate
aos crimes contra os direito humanos.53
52
Ibid, p. 50.
53
Ibid, p. 51.
54
Ibid, p. 52.
40
Por fim, a atividade 2.H é composta por 04 metas, sendo que 03 estão iniciadas e 01 é
permanente. Dentre as 04 metas existentes 03 são orçamentárias. Houve um progresso de 80%
nessa atividade, classificada com um bom progresso, pois estão sendo implementados um
conjunto de ações e estratégias, advindas da realização da 1º Conferência Nacional de
Migração e Refugio voltadas à promoção da garantia de direitos de cidadãos estrangeiros
vítimas do tráfico humano no Brasil.56
55
Ibid, p. 53.
56
Ibid, p. 54.
57
Ibid, p. 55.
58
Ibid, p. 56.
41
A última linha operativa tem apenas uma atividade que concerne no desenvolvimento
e apoio de campanhas bem como estratégias comunicativas sobre o tráfico humano. Das 04
metas da atividade 5.A, 01 já foi concluída, 01 está iniciada, 01 é permanente e 01 ainda será
iniciada, todas elas são metas orçamentárias. Essa atividade foi classificada com boa e
apresentou um progresso de 73,2% de ações voltadas à disseminação de informações,
mobilização e realização de campanhas sobre o Enfrentamento ao tráfico de pessoas,
envolvendo vários órgãos públicos e organizações da sociedade civil.60A Assembleia Geral da
ONU instituiu em novembro de 2013 o dia 30 de Julho como o Dia Mundial de
Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas onde foi marcada pela mobilização nacional através da
Campanha Coração Azul das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) em conjunto
com os Comitês Sociais e a Rede de Núcleo e Postos do Coração Azul contra tráfico humano.
A Semana de Mobilização pelo Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e as Campanhas de
enfrentamento à exploração sexual de crianças e adolescentes são outras mobilizações
nacionais realizadas até o momento.
Pode-se constatar que o Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o
Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de
Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças foi um marco importante no tange a criação e
implementação de políticas públicas brasileira para combater o tráfico de pessoas. Conforme
59
Ibid, p. 59.
60
Ibid, p. 59.
42
o Relatório Global do Escritório da ONU sobre Drogas e Crime (UNDOC), o Brasil está entre
os países que apresentaram avanços efetivos nas ações e na legislação sobre a temática.
CONCLUSÃO
Por fim, pode-se constatar que embora a comunidade internacional e o Brasil estejam
empregando esforços significativos para a erradicação do tráfico de seres humanos, soluções
definitivas para o problema apenas surgirão quando a repressão ao crime organizado, a
44
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LEAL, Maria Lúcia; LEAL, Maria de Fátima (Orgs.). Pesquisa sobre tráfico de mulheres,
crianças e adolescentes para fins de exploração sexual comercial – PESTRAF. Relatório
Nacional – Brasil. Brasília: CECRIA, 2002.
NUCCI, Guilherme de Souza. Crimes contra a dignidade sexual. 2. Ed. São Paulo, Revista
dos Tribunais, 2010, p. 144
OIT. Tráfico de pessoas para fins de exploração sexual. Brasília: OIT, 2006.
SIQUEIRA, Priscila; QUINTEIRO, Maria. Tráfico de Pessoas: Quanto vale o ser humano
na balança comercial do lucro?São Paulo: Ideias & Letras, 2013.
46
VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4ª. Ed. São Paulo: editora: Saraiva,
2014.
47
Classificação
Classificação
da meta,
da meta,
conforme
conforme
Prazo de indicadores
115 metas do II PNETP Líderes da Meta indicadores de
implementação de resultado
gestão do
da meta
progresso da
(n/a= não se
meta
aplica)
DEJUS/ SNJ/MJ;
2.D.1 - Protocolo nacional para atendimento a vítima criado e SPM; SDH
2015-2016 ótimo ótimo
implementado. (PPCAM e
PROVITA)
3.A.6 - Tema do enfrentamento ao tráfico de pessoas incluída na SENASP/MJ 2013 ótimo bom
matriz curricular nacional de formação dos profissionais de
52
segurança pública.
SDH; SENASP;
3.A.12 - Dez projetos de formação sobre prevenção ao tráfico de
DEJUS/SNJ/MJ; 2014-2016 ótimo bom
pessoas apoiados.
SPM
MS/SAS/DAPES
(Saúde da Mulher,
Saúde da Criança,
Saúde Mental,
Programa de
3.A.13 - Capacitação dos profissionais de saúde no tema do
Humanização, 2014-2016 regular n/a
enfrentamento ao tráfico de pessoas realizada
Saúde do Homem,
Saúde no Sistema
Penitenciário, Saúde
do Adolesc e
Jovem) e SVS
3.A.19 - Capacitação dos profissionais do Sistema Único de MDS (SAGI) 2015-2016 bom n/a
Assistência Social - SUAS envolvidos, direta ou indiretamente, com
53
SESGE/ MJ;
5.A.1 - Campanha nacional sobre tráfico de pessoas realizada durante ACS/MJ;
2013-2014
os grandes eventos. DEJUS/SNJ/MJ; ótimo ótimo
MTE
SEPPIR; SPM;
MDA;
5.A.4 - Campanha nacional de prevenção ao tráfico de pessoas
DEJUS/SNJ/MJ; 2013-2014
realizada. ótimo ótimo
MTE; DPF/MJ;
MTUR
Fonte: Secretaria Nacional de Justiça. Avaliação sobre o progresso do II Plano Nacional de Enfrentamento
ao Tráfico de Pessoas (II PNETP). Brasília: Ministério da Justiça, 2014.