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Gestão Estratégica
PLANO DE ESTUDOS
Análise SWOT e
planejamento estratégico
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Discutir sobre os níveis estratégico, tático e operacional • Descrever a Teoria de análise da estrutura da indústria
das organizações e conceitos de estratégia. e estratégias genéricas de Michael Porter e a Visão da
• Descrever a ferramenta estratégica de análise SWOT e sua Empresa Baseada em Recursos.
importância no planejamento estratégico.
Estratégia e Níveis
Organizacionais
UNIDADE V 139
Contudo, antes disso, vamos falar sobre a fábu- A fábula conta a história de seis homens cegos
la “os cegos e o elefante”, de John Godfrey Saxe do Hindustão que foram conhecer um elefante.
(1816-1887). Mintzberg, Ahlstrand e Lampel Cada um deles tocava em uma parte do elefante
(2000) iniciaram seu livro Safári de Estratégia — e tinha uma percepção acerca do animal. Para o
uma das maiores obras primas da estratégia — primeiro, que tocou o lado do elefante, o animal
com essa fábula, justamente para mostrar que em se assemelhava a um muro. O segundo tocou sua
se tratando de estratégia — assim como em tantas presa, então para ele o animal parecia uma lança.
outras instâncias da vida — há diversas formas de O terceiro tocou sua tromba e achou que se pa-
conceber um mesmo fenômeno, dependendo da recia mesmo era com uma cobra. O quarto tocou
percepção de quem o observa. o áspero joelho do elefante a achou muito seme-
““
Escola do Poder de negociação
somos os cegos e a formulação de estraté-
gia é nosso elefante. Como ninguém teve a Escola Cultural coletivo
UNIDADE V 141
Aqui não será nossa intenção falar sobre cada uma co importante que se origina não de um esforço
delas, pois entraríamos em uma discussão teórica formal de planejamento, nem do alto escalão
bastante aprofundada que não é nosso objetivo. decisório da organização, mas, em vez disso, as
O importante é perceber que há diversas formas estratégias se devem
“
“
de se conceber a estratégia. Inclusive até mesmo
o próprio conceito de estratégia muda de acordo a uma variedade de pequenas ações e decisões
com o pensamento adotado a respeito do tema. tomadas por todos os tipos de pessoas dife-
Vamos, então, para alguns deles. rentes (algumas vezes de forma acidental ou
Segundo a definição do grupo de Harvard, es- por sorte, em nenhuma consideração quanto
tratégia é “um conjunto coerente de objetivos que, às suas consequências estratégicas). Tomadas
ao serem atingidos, promoveria o devido ajuste em conjunto ao longo do tempo, essas peque-
da organização ao seu ambiente” (VIZEU; GON- nas mudanças frequentemente produziam
ÇALVES, 2010, p. 35). Nessa perspectiva, conside- grandes mudanças de direção (MINTZBERG;
ra-se o ambiente e os objetivos organizacionais. AHLSTRAND; LAMPEL, 2000, p. 135).
Para Sobral e Peci (2013, p. 206), estratégia é a
“busca deliberada por um plano de ação que per- Por vezes esse processo gera um outro talvez até
mita desenvolver, e continuamente ajustar, uma mesmo inusitado: estratégias emergentes do pas-
vantagem competitiva da empresa sobre seus con- sado se convertem em estratégias deliberadas para
correntes”. Esse conceito tem como base os planos o futuro. Isso se deve ao processo de aprendizagem
de ação e a ideia de competitividade. que ocorre nas organizações, que faz que reco-
Quando falamos em estratégia, de fato, na nheçam seus padrões em seus próprios compor-
maioria das vezes estamos nos referindo àquilo tamentos, ou seja, aquilo que funciona para elas
que é deliberado, ou seja, intencional, planejado e como fazer isso (MINTZBERG; AHLSTRAND;
propositalmente. Contudo, sabe-se que até mes- LAMPEL, 2000).
mo estratégias não pretendidas são consideradas Gosto muito dessa forma de se conceber a
estratégias! Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) estratégia por causa de seu enfoque nas carac-
e Mintzberg (2004) as denominam estratégias terísticas singulares de cada organização. Afinal,
emergentes. E o que são elas? São aquelas em que o aprendizado se dá de forma diferente em cada
“um padrão realizado não foi expressamente ambiente, dependendo de quem são as pessoas en-
pretendido. Foram tomadas providências, uma volvidas, do ramo de atividade ao qual se refere, no
a uma, que convergiram com o tempo para algum mercado e contexto no qual a organização está in-
tipo de consistência ou padrão” (MINTZBERG, serida… enfim, é uma forma de se valorizar tudo
2004, p. 35). Essa concepção é oriunda da Escola isso, toda essa riqueza de experiência e aprendi-
de Aprendizado, que sugere que as organizações zado e agir da melhor forma para aquele contexto
aprendem ao longo do tempo e que há um redi- específico. E quantas vezes isso é ignorado por
mensionamento e redirecionamento estratégi- modelos estratégicos rígidos e pré-definidos!
““
estratégico.
1. A estratégia esforça-se para definir o me-
lhor futuro, não apenas o mais óbvio ou uma
extrapolação do passado.
2. Esse futuro precisa ser algo que se possa
alcançar. [...] o processo da elaboração da estratégia pre-
3. Deve haver um roteiro lógico para al- cisa ser considerado tanto de cima para baixo
cançá-lo. quanto de baixo para cima. Valiosos insights para
4. Por fim, esse futuro deve ser comunica- a formulação de estratégias podem partir tanto
do claramente à empresa para que se torne daqueles que as implementam quanto daque-
realidade (MCKEAN, 2012, p. 26). les que as elaboram (ou assim acreditam). Além
disso, a implementação e quaisquer defeitos ou
O primeiro ponto se refere àquela expressão “pensar novos insights que surjam podem constituir a
fora da caixa”, para que não somente a extrapolação base da estratégia do amanhã. Na verdade, a
do passado seja considerada, mas também coisas implementação vem a ser uma parte do processo
completamente novas — mesmo que seja para co- de formulação de estratégia.
locar tudo em uma balança e verificar que a melhor Fonte: Carter, Clegg e Kornberger (2010, p. 112).
estratégia no momento seja mesmo somente extra-
UNIDADE V 143
Análise Swot e
Planejamento
Estratégico
Análise do
ambiente
externo
Análise de
pontos fortes
e fracos
UNIDADE V 145
O modelo SWOT foi concebido por Kenneth An- as que podem ser desenvolvidas, análise de oferta
drews e o chamado grupo de Harvard do qual ele e demanda, mudanças políticas e legais, relacio-
fazia parte, e namento com sindicatos e até mesmo condições
“
“
de clima e temperatura, dependendo da natureza
[...] corresponde ao ajuste interno através da da atividade (agricultura ou comercialização de
observação das tendências em determinado produtos agrícolas, por exemplo, ou o turismo em
setor. Ou seja, o papel da gerência geral de regiões procuradas por suas características climá-
uma organização seria a ativação das forças ticas). Bom, aqui os exemplos ocupariam o livro
e a eliminação das fraquezas, no sentido de todo, porque afinal de contas cada organização
aproveitar as oportunidades de mercado, mas terá seu próprio ambiente externo, ou seja, terá
também para se proteger das ameaças do am- sua própria gama de elementos que a influenciam
biente (VIZEU; GONÇALVES, 2010, p. 34). ou são influenciados por ela.
A ideia dessa análise é conhecer a organização
Apesar da sigla SWOT ser a mais comumente e seu ambiente do modo mais amplo e realista
usada mesmo em publicações em português, al- possível, para assim poder desenvolver um pla-
guns autores a traduziram como FOFA (forças, nejamento estratégico com mais chances de êxito.
oportunidades, fraquezas e ameaças). Vamos falar um pouco mais de cada uma dessas
Trata-se da análise tanto de dentro quanto de quatro variáveis de análise.
fora da organização, para assim se ter as infor- As forças são aquilo que a empresa faz
mações e a compreensão necessárias para poder de melhor ou tem de potencial. Aqui caberia
começar a se pensar em planejamento estratégico. identificar o que a organização como um todo
Forças e fraquezas é o olhar para dentro. Signifi- e também cada um de seus membros e equipes
ca analisar quais são os pontos fortes e os fracos da fazem bem ou tem o potencial de fazer, de acor-
organização. Isso envolve uma série de elementos do com suas características e conhecimentos.
a serem considerados, tais como localização, Também a análise de quais recursos possui ou
pessoal, estrutura, tecnologia utilizada, carteira tem acesso, quais deles representam diferencial
de clientes, participação de mercado, poder de ou algo que alavanca sua produção ou contribui
barganha, parcerias com fornecedores e tantos e para a oferta de bons serviços. E entraria até mes-
tantos outros aspectos. mo a análise da imagem da organização, ou seja,
Oportunidades e ameaças é o olhar para fora da
organização, ou seja, para o ambiente externo. E
qual ambiente deve ser esse? A região onde
se encontra a empresa? Todo o planeta
Terra? Nem uma coisa nem outra.
Significa tudo aquilo que é exte-
rior à organização e que de algum
modo a influencia ou pode vir a
influenciar, o que inclui: a conjuntura
econômica e social, os concorrentes, as pers-
pectivas de inserção no mercado de determinado
produto ou serviço, as tecnologias disponíveis e
UNIDADE V 147
Em termos pessoais, o planejamento estraté-
Informação gico ajuda muito também em termos de prepa-
ro. Se quero daqui a dez anos morar na Itália e
trabalhar com engenharia, é importante que eu
faça o curso de engenharia, que me informe sobre
Definição Execução o modo de validar meu diploma lá e comece desde
Estratégia agora a aprender italiano. “O tempo voa”, não é
mesmo? Olha aí outra máxima popular — e muito
verdadeira! Se o planejamento não incluir os pla-
nos de ação, ou seja, aquilo que vou fazer de fato
Integração para atingir o meu objetivo, os dez anos chegam
da mesma forma e a oportunidade poderá não es-
tar lá — pela falta do meu preparo. Falta de sorte?
Isso tudo se aplica também em termos
Figura 2 - Informação e estratégia competitiva organizacionais. Os recursos de uma empresa,
Fonte: McGee e Prusak (1993, p. 10).
os investimentos que devem ser realizados, os
Você já deve ter ouvido aquela famosa definição contatos a serem estabelecidos, as pessoas a
de sorte. Não tenho como colocar a fonte dela serem contratadas — ou mantidas, ou desligadas
aqui porque já li e ouvi de um bocado de lados —, tudo isso e muito mais são questões a serem
diferentes essa mesma máxima, então seu autor pensadas diante do objetivo estratégico da orga-
primeiro deve ter se perdido no tempo já... A má- nização. Queremos chegar lá e o que fazer nesse
xima é: “sorte é o encontro da oportunidade com o meio tempo para estarmos preparados?
preparo”. Bem, há controvérsias em determinados As oportunidades também podem aparecer
aspectos. Algumas coisas podem ser apenas pura inesperadamente. Sendo assim, talvez não haja —
sorte mesmo, interpretadas como obras do acaso, pelo menos até o momento — preparo suficiente
ou presentes de Deus. Outras — a maioria esma- para aproveitá-las. Contudo, aí entra a análise de
gadora — requer também nossa parte: o preparo. riscos e de retornos que a oportunidade ofere-
Receber uma ótima proposta de emprego nos Es- ce. Para aproveitar essa oportunidade, a empresa
tados Unidos e não saber falar inglês, pode ser a precisaria comprar uma máquina específica ou
falta de preparo em idiomas e os exemplos aqui contratar mais gente ou estabelecer uma parce-
seriam infinitos. Talvez você tenha tantas opor- ria. Quais são os prós e os contras dessas ações?
tunidades e esteja tão preparado para elas que Caso as vantagens sejam maiores — tendo, é claro,
nem se dê conta mais disso. Nem vê mais como uma visão holística e ética do termo “vantagens”
sorte, mas como coisas legais que acontecem na —, pode se tratar mesmo de uma oportunidade
sua vida. Talvez o sentimento ainda seja de que para a qual valha a pena “ajustar o preparo”. Se as
faltam algumas coisas e que novas oportunida- desvantagens forem maiores, talvez não se trate
des podem aparecer se você estiver preparado exatamente de uma verdadeira oportunidade e
para coisas específicas: acho que você está aqui, seja melhor não seguir por esse caminho. Análise
fazendo este curso e lendo neste momento este de risco e de impacto dentro e fora da organização
material justamente por essa razão. é fundamental nesse processo.
Análise Análise
externa interna
Avaliação subjetiva
e implementação Estratégia
estratégica
Modelo básico do grupo de Harvard
UNIDADE V 149
O que Ansoff acrescentou à ideia do grupo de pecificação do responsável pelo processo; a con-
Harvard foram “as operações que cada setor da sideração da missão, visão e valores da organiza-
organização deverá desempenhar no curto e no ção; a avaliação do ambiente interno e externo; a
médio prazo para concretizar estes objetivos de identificação de questões estratégicas relevantes
longo prazo” (VIZEU; GONÇALVES, 2010, p. 45). à organização; e a formulação das estratégias em
Bem, em se tratando de planejamento estraté- si (BRYSON, 1988).
gico, é evidente que não somente a análise SWOT O que todos eles têm em comum? A análise
é importante. Há outros instrumentos, como a SWOT, que serve de base para a qualquer planeja-
análise de portfólio proposta pelo Boston Con- mento estratégico e, a partir dela, o planejamento
sulting Group — a famosa matriz BCG — entre detalhado dos planos de ação específicos, con-
diversos outros. É importante lembrar que as fer- tendo equipe executora, custos, prazos, recursos
ramentas são fundamentais, mas não possuem necessários e resultados esperados. O segredo é
um fim em si mesmas. Elas são a base para todo reservar um tempo para isso, e não somente uma
o planejamento estratégico que advém delas, con- vez, mas um espaço semanal na agenda do gestor
siderando tempo, recursos, investimentos, formas e talvez também da equipe para se pensar sobre
de se realizar as ações e assim por diante. aonde a organização pretende chegar e os meios
Há vários modelos de planejamento estraté- para isso, com metas viáveis, de curta, média e
gico, muitos mesmo. A tese de Coral (2002) traz longa exequibilidade e mensuráveis.
muitos desses modelos, inclusive sistematizando- Talvez hoje o trabalho dos coaches tenha tan-
-os em um extenso quadro. Alguns dão ênfase ao to sucesso nem tanto pelo que acrescentam em
mix de produto ou mercado (modelos de Ansoff; termos de conteúdo ou insights, mas porque, de
Ackoff; e Gracioso, por exemplo), outros à van- certo modo, “obrigam” as pessoas a pararem suas
tagem competitiva (como os de Cunha; Certo e atividades e pensarem a respeito das metas e do
Peter; Tavares; e Oliveira), valores da alta gestão e planejamento para cumpri-las, tanto em termos
processo de planejamento (como Andrews) e até organizacionais como pessoais. Desafio você a se
mesmo planejamento em ambientes turbulentos organizar para reservar esse tempinho semanal
(Rasmussen). Veja que há modelos de planeja- (meia hora talvez já seja suficiente), sem inter-
mento estratégico para diversas finalidades e cada rupções e dedicado à profunda reflexão sobre o
um deles propõe um caminho a ser seguido, al- que você quer para sua vida e para sua carreira
guns dando ênfase ao controle (como os modelos ou sua empresa, com base na análise das forças,
de Cunha; e Certo e Peter), outros ao processo de fraquezas, oportunidades e ameaças, e traçando
implantação do planejamento estratégico (como os planos de ação específicos para essa finalidade.
Ackoff) e assim por diante (CORAL, 2002). Tendo compreendido a análise SWOT e alguns
Há até mesmo modelos de planejamento es- elementos básicos de planejamento estratégico,
tratégico para organizações que não visam lucro. vamos conhecer agora duas das principais cor-
Inclui elementos como a concordância a respeito rentes estratégicas existentes: o modelo de Porter
da realização do planejamento estratégico; a es- e a Resource-Based View.
UNIDADE V 151
O modelo de Porter tem como foco o ambiente indústria depende de cinco forças competitivas
no qual a empresa está inserida. Ambiente no básicas: i) a ameaça de novos entrantes; ii) o poder
sentido de espaço de competição e relacionar a de negociação dos compradores; iii) a ameaça de
empresa ao seu ambiente é a essência da formu- produtos ou serviços substitutos; iv) o poder de
lação de uma estratégia competitiva, segundo negociação dos fornecedores; e v) a rivalidade
Porter (2004). entre as empresas existentes. Estas cinco forças
O grau de concorrência em uma determinada estão representadas na Figura 4.
ENTRANTES
POTENCIAIS
Ameaça de novos
entrantes
FORNECEDORES COMPRADORES
Rivalidade entre as
empresas existentes
Ameaça de produtos
ou serviços substitutos
SUBSTITUTOS
Figura 4 - Forças que dirigem a concorrência na indústria As cinco forças competitivas em conjunto deter-
Fonte: Porter (2004, p. 4). minam a intensidade da concorrência na indústria
e, consequentemente, sua rentabilidade. E por que
essa preocupação com a concorrência? Porque “a
concorrência em uma indústria age continuamen-
te no sentido de diminuir a taxa de retorno sobre
o capital investido na direção da taxa competitiva
Indústria na teoria de Porter significa: “o grupo básica de retorno” (PORTER, 2004, p. 5).
de empresas fabricantes de produtos que são Vamos falar sobre cada uma das cinco forças.
substitutos bastante próximos entre si” (PORTER, É importante destacar que essa análise pode ser
2004, p. 5). feita por ambos os interessados: as empresas que
E quando se fala em produto, é no sentido de já estão na indústria e também aquelas que pre-
produto final de uma indústria, que pode ser tendem nela entrar. Ou seja, se estou na indústria,
tanto um produto de fato quanto um serviço preciso analisar a nova configuração quando um
(PORTER, 2004). novo concorrente entra ou, ainda, me prevenir
para o caso disso acontecer (por meio de produtos
Economias de escala Referem-se aos declínios nos custos unitários de um produto à medida que
o volume absoluto por período aumenta. É uma barreira de entrada porque
força a empresa entrante a ingressar em larga escala e arriscar-se a uma
forte reação das empresas existentes ou a ingressar em pequena escala e
sujeitar-se a uma desvantagem de custo.
Diferenciação Significa que as empresas estabelecidas têm sua marca identificada e de-
do produto senvolvem um sentimento de lealdade em seus clientes. A diferenciação
cria uma barreira à entrada, forçando os entrantes a efetuarem pesados
investimentos para superar os vínculos estabelecidos entre os clientes e as
empresas já existentes.
Custos de mudança É o custo com que se depara o comprador quando muda de um fornecedor
de produto para outro. Se esses custos são altos, os entrantes precisam
oferecer algo que faça que o comprador deixe um produtor já estabelecido
para optar pelo novo.
Acesso aos canais de Os canais de distribuição lógicos provavelmente já são usados pelas em-
distribuição presas existentes. É um desafio à entrante conseguir espaço nesses canais
ou criar outros, se for o caso.
Política O governo pode limitar ou mesmo impedir a entrada em indústrias com con-
governamental troles como licenças de funcionamento e limites ao acesso a matérias-primas.
UNIDADE V 153
“
“
Você pode perceber que essa primeira análise os fornecedores podem exercer poder de
da indústria é fundamental para quem pretende negociação sobre os participantes de uma
iniciar um novo negócio. Pode poupar muitos indústria ameaçando elevar preços ou re-
prejuízos! duzir a qualidade dos bens e serviços for-
Vamos falar agora sobre o poder de negociação necidos. Fornecedores poderosos podem
dos compradores. Segundo Porter (2004, p. 26), consequentemente sugar a rentabilidade
“
“
de uma indústria capaz de repassar os au-
os compradores competem com a indústria mentos de custos em seus próprios preços
forçando os preços para baixo, barganhando (PORTER, 2004, p. 28-29).
por melhor qualidade ou mais serviços e
jogando os concorrentes uns contra os ou- Um grupo de fornecedores exerce demasiada
tros - tudo à custa da rentabilidade da in- influência sobre a empresa ou a indústria, quan-
dústria. O poder de cada grupo importante do: é dominado por poucas companhias e é mais
de compradores da indústria depende de concentrado do que a indústria para a qual vende,
certas características quanto à sua situação a indústria não é um cliente importante para o
no mercado e da importância relativa de fornecedor, os produtos dos fornecedores são in-
suas compras da indústria em comparação sumos fundamentais para o negócio do compra-
com seus negócios totais. dor, os produtos do fornecedor são diferenciados
ou há custos elevados de mudança, entre outros
O grupo de compradores terá maior poder de in- (PORTER, 2004).
fluência conforme algumas características estejam Por fim, a rivalidade entre as empresas existen-
presentes, tais como: estar concentrado ou adqui- tes. Porter (2004) compreende essa relação entre
rir grandes volumes em relação às vendas do ven- concorrentes como aquela que assume geralmente
dedor; impactar no orçamento do comprador; o a forma de disputa por posição, com táticas rela-
comprador ter total informação; enfrentar poucos cionadas a preço, publicidade, garantias e imagem
custos de mudança, entre outros (PORTER, 2004). da empresa com relação aos clientes e assim por
Sobre a ameaça de produtos ou serviços subs- diante. Há vários fatores que influenciam essa
titutos: Aqui se trata da relação custo/benefício relação. Porter (2004) elenca alguns deles, mas o
do substituto e da indústria analisada; o nível e que chama a atenção é esse pressuposto do autor
o impacto da ação coletiva tanto do substituto de que a empresa quer sempre que a concorrente
quanto da indústria analisada e o lucro médio se dê mal. Esse pode ser o objetivo de muitas delas,
do substituto (VIZEU; GONÇALVES, 2010). Es- mas há também tantas outras — talvez cuja gestão
ses pontos compõem a análise mínima a ser feita esteja influenciada por valores diferentes — em
acerca dos produtos ou serviços substitutos. que os concorrentes não são vistos como inimigos,
A respeito do poder de negociação dos for- mas como parceiros de um mesmo segmento e
necedores, seu poder de barganha ou de nego- que podem, inclusive, se ajudarem em caso de
ciação também é bastante relevante na análise necessidade. Veremos alguns casos de gestão di-
da indústria: ferenciada pautada em valores na Unidade VIII.
VANTAGEM ESTRATÉGICA
No âmbito
LIDERANÇA NO
ALVO ESTRATÉGICO
de toda a DIFERENCIAÇÃO
CUSTO TOTAL
indústria
Apenas um
segmento ENFOQUE
particular
Esse é o coração da visão estratégica Porteriana. mesma teoria com outros nomes: Resource-Ba-
É claro que sua análise se estende e se desenvolve sed Model (RBM), Resource-Based Perspective
para diversos contextos, inclusive para países, mas (RBP), e Resource-Based Theory (RBT). E, ainda,
aqui focaremos no conhecimento desse núcleo em português, como Visão da Empresa Baseada
básico da teoria de Porter, tão relevante para o em Recursos (VBR). O termo mais utilizado na
estudo da estratégia. literatura, mesmo em publicações nacionais, é Re-
Passamos agora para a Resource-Based View source-Based View (RBV), por isso, usaremos aqui
(RBV). Você também poderá encontrar essa essa nomenclatura (MENEGASSI, 2013).
UNIDADE V 155
Você perceberá que a RBV não tem a clareza No entanto, a autora ainda traz algo bastante
conceitual que tem a teoria de Porter. E por que importante a respeito da análise dos recursos das
isso? Porque Porter sozinho criou aquela teoria, firmas: os serviços prestados pelos recursos. Trago
então ela tem todo um sentido lógico das coisas, suas palavras para explicar melhor essa ideia:
“
“
enquanto a RBV é uma teoria construída a partir
de diversos autores que nem estavam exatamente em termos estritos, nunca são os recursos
ligados entre si, mas que se inspiraram no anterior em si que constituem os insumos do pro-
para fornecerem um insight a mais. E nesse pro- cesso produtivo, mas apenas os serviços
cesso há, é claro, diferentes formas de interpreta- que eles podem prestar. Os serviços pro-
ção e de condução da trajetória da teoria. porcionados pelos recursos são função do
O início de tudo, dizem as boas línguas (arti- modo pelo qual eles são utilizados, com
gos científicos), deu-se na obra de Edith Penrose, exatamente o mesmo recurso podendo ser
economista, em sua obra originalmente de 1959, usado para diversos fins ou de modos dife-
que foi traduzida como “A teoria do crescimen- rentes, e em combinação com vários tipos
to da firma”, publicada no Brasil em 2006. Nessa ou várias quantidades de outros, podendo
obra, a autora — lembrando: economista — foi proporcionar diferentes serviços ou conjun-
além daquilo que se caracterizava como análise tos de serviços. A importante distinção entre
econômica até a época, que pouco considerava o os recursos e os serviços não reside em suas
interior das “firmas” (entenderemos aqui firmas durabilidades respectivas, mas no fato de
como empresas ou organizações) e procurou que os recursos constituem um conjunto de
analisar “se havia algo inerente na natureza delas serviços potenciais, podendo em sua maio-
que tanto promovia o seu crescimento como ria ser definidos independentemente do seu
limitava seu ritmo” (PENROSE, 2006, p. 12). uso, enquanto a própria palavra “serviço”
Como muitos estudos já existiam a respeito da já implica uma função ou uma atividade
análise do ambiente externo, em termos econômi- específica (PENROSE, 2006, p. 62-63).
cos, a perspectiva de Penrose (1959) foi de trazer a
ideia de que para que a firma pudesse responder Essa análise nos permite compreender uma pers-
positivamente a uma oportunidade ou conjuntura pectiva fundamental de análise para a teoria que
externa, precisaria ter recursos internos disponíveis dela adveio (a Resource-Based View), que:
“
“
para isso, e aí lançou sua teoria a respeito do cresci-
mento das firmas: “argumentamos que a expansão para a autora, portanto, os serviços são as
das firmas se baseia em boa parte nas oportunidades contribuições que os recursos podem pro-
de usarem mais eficientemente os recursos produ- porcionar às atividades produtivas da firma,
tivos de que dispõem” (PENROSE, 2006, p. 147). o que faz com que todo recurso seja visto
Como recursos internos das firmas, a autora com- como um conjunto de possíveis serviços.
preende os “serviços produtivos de que elas dispõem Desse modo, não é a análise dos recursos em
com base em seus próprios recursos” (PENROSE, si que dá os resultados esperados, mas sim a
2006, p. 36). E esses recursos podem ser tanto os que análise dos serviços que são de fato presta-
fazem parte da própria empresa quanto os que possam dos por cada recurso material ou humano,
ser adquiridos ou herdados, e podem ser tanto mate- ou seja, daquilo que eles podem proporcio-
riais quanto humanos, ou seja, tangíveis ou intangíveis. nar às firmas (MENEGASSI, 2013, p. 40).
UNIDADE V 157
Sendo assim, a análise dos recursos precisa ser mas causam diferença de desempenho; [2] as fir-
minuciosa, ou seja, deve-se considerar também mas procuram aumentar (se não necessariamente
como eles são adquiridos, o custo deles, a relação maximizar) seu desempenho econômico” (FOSS,
dos novos recursos com aqueles que já existem 1997, p. 4, tradução nossa).
nas empresas, a combinação entre eles, quanti- O que isso tudo quer dizer? Que cada organi-
dade, qualidade, defasagem, prazo de aquisição e zação terá sua própria configuração de recursos
disponibilidade de cada recurso (BRUSH; GREE- mediante suas perspectivas estratégicas e que
NE; HART, 2002). isso não muda muito com o tempo. Claro! Ima-
Uma análise fundamental quando se pensa gine que a cada ano a empresa quisesse focar
em recursos é a combinação daqueles recursos em outra coisa e fazer tudo diferente — o que
que já existem na organização com os possíveis necessitaria de novos recursos. Isso não seria
novos recursos. Você já comprou uma linda peça viável. Vamos lembrar: não se trata de renovar
de roupa que depois não conseguiu usar com nada o guarda-roupas inteiro, mas de adquirir peças
que você já tinha no guarda roupas? Pois é, aqui a que combinem com aquelas que você já tem.
lógica é semelhante. Não adianta parecer um óti- Assim também nas organizações. Isso evita
mo recurso a ser adquirido. Se ele não “combinar” custos desnecessários.
com aqueles que a organização já possui, pode ser Sobre as suposições, é evidente que a maneira
um investimento em vão. como uma organização alocará seus recursos
De fato, uma organização não é um amontoa- influenciará diretamente no seu desempenho e
do de recursos, mas uma combinação de recur- que o que as organizações procuram é a melhor
sos complementares que fazem dela algo viável forma para aumentar esse desempenho econô-
e sustentável. Além disso, quando se trata de mico.
vantagem competitiva e de análise dos recursos Grant (1991) afirma que são os recursos das
para esse fim, Wernerfelt (1995) chama a aten- organizações que sustentam suas estratégias no
ção para uma realidade: não dá para ganhar em longo prazo e isso ocorre porque “primeiramente,
todas as frentes: é necessário escolher “as lutas” recursos internos e capacidades proporcionam a
em que a organização pretende se empenhar; orientação básica para a estratégia de uma empre-
assim, procurará investir nos recursos necessários sa; segundo, recursos e capacidades são a principal
para essas atividades específicas em que quer se fonte de lucro para a empresa” (GRANT, 1991, p.
destacar da concorrência. 116, tradução nossa). Desse modo, o autor pro-
Nicolai Foss (1997) traz importantes conceitos põe um modelo de cinco etapas para a utilização
sobre a Resource-Based View, por ele chamada de da Resource-Based View para a formulação de
Resource-Based Perspective, ou RBP. O autor afir- estratégias:
“
“
ma que a RBP tem duas generalizações empíricas
de base: “[1] há diferenças sistemáticas entre as a análise dos recursos básicos da empresa, a
firmas na medida em que elas controlam os recur- avaliação das capacidades presentes nela, a
sos que são necessários para a implementação de análise do alcance da lucratividade poten-
estratégias; [2] essas diferenças são relativamen- cial dos recursos e capacidades da empresa
te estáveis” (FOSS, 1997, p. 4, tradução nossa). E e a ampliação e modernização do conjunto
acrescenta a essas generalizações, duas suposições: de recursos e capacidades da empresa (ME-
“[1] diferenças nas alocações de recursos das fir- NEGASSI, 2013, p. 47).
““
a respeito do investimento em recursos:
“
“
(a) deve ser valioso, no sentido de que ele
explora oportunidades e/ou neutraliza Barney (1989) defende a importância da
ameaças no ambiente da firma, (b) deve ser análise do custo de aquisição dos recursos,
raro dentre os concorrentes atuais e poten- uma vez que o recurso se torna estratégico
ciais da empresa, (c) devem ser imperfei- somente quando seu custo de oportunida-
tos quando imitados, e (d) não pode haver de é menor do que o retorno que ele pode
substitutos estratégicos equivalentes para trazer à empresa (MENEGASSI, 2013, p. 50).
esse recurso que sejam valiosos nem raros
ou imperfeitos quando imitados (BARNEY, Collins e Montgomery (1995) seguem nessa mes-
1991, p. 105-106, tradução nossa). ma linha, propondo que se façam alguns “testes”
além daquele de mercado (se no mercado o re-
Aqui abro um parênteses sobre meu fascínio por curso é considerado ou não como valioso) para
essa teoria. Primeiramente: os gestores de fato in- compreender se um determinado recurso poderá
serem em suas atividades cotidianas uma análise ser a base para uma estratégia efetiva. Os autores
sobre os recursos que já existem na organização sugerem que sejam feitos ao menos os seguintes
e na forma como podem ser utilizados e, ainda, testes a respeito do recurso:
UNIDADE V 159
“
“
“(1) o teste da não imitabilidade: o recurso é
difícil de ser copiado? [...]; (2) O teste da du-
rabilidade: quão rapidamente esse recurso
se deprecia? [...]; (3) O teste da apropriação:
quem detém o valor que o recurso cria? [...];
(4) O teste da substituibilidade: um recurso
único pode ser superado por um recurso
diferente? [...]; (5) O teste da superioridade
competitiva: os recursos de quem são real-
mente melhores? (COLLINS; MONTGO-
MERY, 1995, p. 120-123, tradução nossa).
160 Gestão estratégica
Sem dúvidas, cada um desses testes é fundamen- utilizados em uma certa configuração ou combi-
tal para a análise de um recurso. Essas questões nação com demais recursos e o resultado disso foi
podem ser a base de importantes decisões acerca analisado. Então, é difícil também identificar com
de investimentos a serem feitos em recursos e de exatidão se um recurso será ou não fonte de van-
possíveis combinações entre eles. tagem competitiva antes de adquiri-lo e utilizá-lo.
É claro que, como toda teoria, a Resource-Ba- Bem, conforme podemos notar, a Resource-
sed View tem também suas fraquezas conceituais. -Based View se trata de uma teoria bastante rea-
Uma das maiores críticas referentes a ela é a am- lística por um lado (todas as empresas possuem
biguidade causal. O que seria isso? recursos e é legítimo analisá-los sob a ótica da
Bem, “em algum nível, tudo na empresa se vantagem competitiva, pois eles são parte fun-
torna um recurso e, portanto, recursos perdem damental desse processo) e subjetiva por outro
poder de explicação” (CONNER, 1991, p. 145), (difícil ter exatidão sobre as relações causais que
não é verdade? Diericks e Cool (1989 apud ME- os envolvem).
NEGASSI, 2013, p. 55) explicam essa questão da O que podemos tirar de aprendizado dessas duas
ambiguidade causal da seguinte forma: teorias principais da estratégia que abordamos aqui
““
— a de Porter e a RBV — é que existe mais de uma
A ambiguidade causal é tida na RBV como maneira de se conceber a estratégia e que é possível
um problema de ordem gerencial, uma vez e desejável que sejam feitas análises considerando
que, havendo um desempenho superior da ambas as perspectivas: a que analisa a indústria e as
empresa, esse desempenho é conseguido forças competitivas externas e os recursos de que
através da articulação de recursos, mas uma empresa dispõe ou pode vir a dispor.
não se sabe ao certo em função de quais O que se espera é justamente isto: visão estraté-
recursos. O conceito de ambiguidade cau- gica. E o que isso significa? Um olhar mais amplo
sal refere-se à impossibilidade dos próprios possível a respeito de todos os elementos relacio-
gestores e também dos concorrentes, em nados à organização e sua atividade, bem como a
distinguir qual recurso ou qual combinação conjuntura em que seu ambiente se encontra e os
exata de recursos levaram determinada em- recursos disponíveis.
presa a obter vantagem competitiva, dada a Com essa visão, é possível pensar estrategica-
complexidade da combinação dos recursos. mente todos os tipos de organização: um escritório
de engenharia ou arquitetura, uma loja de atacado
Reed e DeFillippi (1990) trazem alguns elementos ou varejo, uma universidade, uma empresa de lo-
que, segundo eles, colaboram para o problema gística, indústrias, organizações não governamen-
da ambiguidade causal: o conhecimento tácito, a tais…. enfim, todas elas. Até mesmo em termos
complexidade dos recursos e suas especificidades. pessoais se pode ter esta mesma perspectiva!
De fato, por serem elementos de difícil mensura- Finalizamos, então, esta unidade sobre estra-
ção e análise, é difícil compreender objetivamente tégia. Tenho certeza de que seu conhecimento
a relação causal deles com a vantagem competitiva sobre esse tema tão fascinante e tão importante
sustentável de uma empresa. para qualquer tipo de organização se elevou e sua
Outra crítica à RBV é que geralmente os recursos visão sobre todos os elementos que fazem parte
só são classificados como importantes para a vanta- direta ou indiretamente de uma empresa nunca
gem competitiva ex post, ou seja, depois que já foram mais será a mesma.
UNIDADE V 161
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.
162
Assinale a alternativa correta:
a) Apenas I e II estão corretas.
b) Apenas II e III estão corretas.
c) Apenas I está correta.
d) Apenas II, III e IV estão corretas.
e) Nenhuma das alternativas está correta.
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LIVRO
FILME
164
WEB
WEB
E este que faz uma crítica à sua tipologia: “Porter revisitado: análise crítica da
tipologia estratégica do mestre”, dos autores: Jorge Manoel Teixeira Carneiro;
Maria Alice Ferreira Deschamps Cavalcanti; Jorge Ferreira da Silva.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.
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