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Dra.

Cláudia Herrero Martins Menegassi

Gestão Estratégica

PLANO DE ESTUDOS

Análise SWOT e
planejamento estratégico

Estratégia e níveis O modelo de Porter e a


organizacionais Resource-Based View (RBV)

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Discutir sobre os níveis estratégico, tático e operacional • Descrever a Teoria de análise da estrutura da indústria
das organizações e conceitos de estratégia. e estratégias genéricas de Michael Porter e a Visão da
• Descrever a ferramenta estratégica de análise SWOT e sua Empresa Baseada em Recursos.
importância no planejamento estratégico.
Estratégia e Níveis
Organizacionais

Caro(a) aluno(a), bem-vindo(a) a esta nova unidade!


Nela nos dedicaremos à estratégia nas organiza-
ções, considerando seus diferentes aspectos.
Iniciaremos falando um pouco sobre os níveis
hierárquicos que existem em uma organização, ou
os chamados níveis organizacionais: estratégico,
tático e operacional. Por que essa divisão? Em que
consiste cada um deles?
A ideia dessa divisão é classificar os adminis-
tradores pelo nível que ocupam dentro de uma
organização e do âmbito das atividades pelas quais
são responsáveis (SOBRAL; PECI, 2013).
O nível estratégico é o nível mais elevado em ter-
mos hierárquicos em uma organização e é formado
geralmente por poucas pessoas com grande poder
de decisão. A atuação dessas pessoas é basicamente
estratégica, ou seja, buscam ter uma visão da organi-
zação como um todo e perceber o ambiente externo
a fim de procurar traçar os melhores caminhos para
a organização no médio e longo prazos.
O nível tático é o próximo nessa hierarquia
e diz respeito, sobretudo, às áreas funcionais da
empresa, departamentos ou áreas de negócios. Os
administradores desse nível organizacional são os
responsáveis por trazerem aos níveis operacionais
as políticas traçadas pelos administradores do ní-
vel estratégico e coordenar os trabalhos referentes
às suas áreas específicas.
estratégia de vantagem na guerra,
ao fazer o inimigo acreditar que
será feito um determinado mo-
Saiba mais sobre o campo da estratégia em Bulgacov et al. (2007, vimento, quando na realidade se
p. 4), no qual os autores apresentam um quadro bastante didáti- fará outro para pegá-lo despre-
co sobre a evolução histórica do campo da estratégia, com seus venido. Outros escritos famosos
pressupostos teóricos, referências, eventos, ferramentas e modelo. são “O Príncipe”, de Maquiavel,
do século XVI; “Da guerra”, de
Clausewitz (século XIX) e tam-
bém textos de Plutarco (VIZEU;
Por fim, o nível operacional é aquele mais baixo em termos de hierar- GONÇALVES, 2010).
quia, mas não menos essencial. Representa, inclusive, a razão de ser Bem, é claro que houve uma
da maioria das organizações, pois é composto por aqueles que de fato extrapolação desses princípios
executam as atividades e tarefas cotidianas. Os administradores desse em termos militares e políticos
nível organizacional têm atuação operacional e de curto prazo e geral- para o ambiente organizacio-
mente conduzem pequenos grupos ou equipes (SOBRAL; PECI, 2013). nal. Sendo assim, entendemos
Falaremos mais nesta unidade sobre o nível estratégico, entretan- a origem do termo e suas inspi-
to, é importante e fundamental conhecer também os níveis tático e rações em outros campos, mas e
operacional, pois sem eles e, sobretudo, a interação e a sinergia desses sua definição específica para a
três níveis, não é possível que as políticas definidas pelo planejamento realidade organizacional? Bem,
estratégico sejam concretizadas. como na maioria dos casos, não
No entanto, inicialmente, o que é estratégia? Não à toa nos vem em temos um conceito único para
mente quando ouvimos essa palavra exércitos em guerra tentando estratégia. Então vamos apresen-
vencer inimigos. De fato, a origem do termo se deu justamente na área tar alguns aqui.
militar. Estratégia vem do grego strategos, derivado de stratos, que
significa exército, e agein, cujo significado é liderar. Então, o termo
quer dizer liderar o exército, função essa do general ou, no nosso caso,
do administrador. Tanto o general em seu contexto quanto o admi-
nistrador em uma empresa, de fato, têm o papel de planejar as ações e
objetivos, organizar seu pessoal e dirigir os esforços das pessoas rumo
aos objetivos e, ainda, controlar todos os processos que isso pressupõe
(VIZEU; GONÇALVES, 2010).
Não é a toa que há alguns livros clássicos sobre estratégia que re-
metem ao contexto de guerras, conquistas e modos de governar. Um
dos mais notáveis deles é, certamente,“A arte da guerra”. Trata-se de um
livro datado de 500 anos a.C., supostamente escrito pelo general chinês
Sun Tzu, que trata tanto de questões objetivas, como a análise geográ-
fica e o combate com armas de fogo, como de questões mais abran-
gentes como a análise das variáveis em jogo na guerra — e apregoa a
necessidade de conhecimento e controle sobre elas —, o equilíbrio das
A fábula “os cegos e o elefante”
próprias emoções e a dissimulação — sim, a dissimulação — como

UNIDADE V 139
Contudo, antes disso, vamos falar sobre a fábu- A fábula conta a história de seis homens cegos
la “os cegos e o elefante”, de John Godfrey Saxe do Hindustão que foram conhecer um elefante.
(1816-1887). Mintzberg, Ahlstrand e Lampel Cada um deles tocava em uma parte do elefante
(2000) iniciaram seu livro Safári de Estratégia — e tinha uma percepção acerca do animal. Para o
uma das maiores obras primas da estratégia — primeiro, que tocou o lado do elefante, o animal
com essa fábula, justamente para mostrar que em se assemelhava a um muro. O segundo tocou sua
se tratando de estratégia — assim como em tantas presa, então para ele o animal parecia uma lança.
outras instâncias da vida — há diversas formas de O terceiro tocou sua tromba e achou que se pa-
conceber um mesmo fenômeno, dependendo da recia mesmo era com uma cobra. O quarto tocou
percepção de quem o observa. o áspero joelho do elefante a achou muito seme-

Figura 1 – A fábula “os cegos e o elefante”

140 Gestão estratégica


lhante a um tronco de árvore. O quinto tocou a Esses autores, então, trouxeram dez formas di-
orelha e teve a certeza de que o animal se parecia ferentes — que eles chamam de “escolas” — de
mesmo era com um leque. O sexto homem, por se compreender a estratégia nas organizações. O
fim, tocou a cauda do elefante, o que o fez pensar Quadro 1 traz essas dez escolas e o adjetivo que
que o animal se parecia, sem dúvidas, com uma melhor parece descrever a visão que cada uma
corda. Todos discutiram por muito tempo, cada tem do processo de estratégia:
um com sua opinião bastante convicta e achando
que os demais deveriam estar loucos por pen-
sarem de forma diferente. A moral da história é Formulação de estraté-
Escola:
bastante clara, não é? Dificilmente temos a visão gia como um processo:
do todo (na fábula, nenhum deles de fato viu o Escola do Design de concepção
elefante, eram cegos) e nos apegamos àquela parte
que compreendemos através das lentes da nossa Escola do formal
Planejamento
percepção Lampel — influenciados por experiên-
cias passadas, conhecimentos, crenças, ideologias, Escola do analítico
correntes teóricas — sem talvez nos darmos conta Posicionamento

de que a percepção do outro pode apenas ser re- Escola visionário


flexo de outras lentes, diferentes das nossas. Empreendedora
Essa fábula nos serve de lição para muitos as-
Escola Cognitiva mental
pectos da nossa vida, mas aqui a utilizaremos para
entender o que acontece no campo da estratégia. Se- Escola de emergente
Aprendizado
gundo Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000, p. 13),

““
Escola do Poder de negociação
somos os cegos e a formulação de estraté-
gia é nosso elefante. Como ninguém teve a Escola Cultural coletivo

visão para enxergar o animal inteiro, cada Escola Ambiental reativo


um tocou uma ou outra parte e ‘prosseguiu
em total ignorância’ a respeito do restante. Escola de de transformação
Configuração
Somando as partes, certamente não teremos
um elefante. Um elefante é mais que isso.
Contudo, para compreender o todo também Quadro 1 - Escolas da estratégia e sua principal característica
precisamos compreender as partes. Fonte: Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000, p. 13-14).

UNIDADE V 141
Aqui não será nossa intenção falar sobre cada uma co importante que se origina não de um esforço
delas, pois entraríamos em uma discussão teórica formal de planejamento, nem do alto escalão
bastante aprofundada que não é nosso objetivo. decisório da organização, mas, em vez disso, as
O importante é perceber que há diversas formas estratégias se devem



de se conceber a estratégia. Inclusive até mesmo
o próprio conceito de estratégia muda de acordo a uma variedade de pequenas ações e decisões
com o pensamento adotado a respeito do tema. tomadas por todos os tipos de pessoas dife-
Vamos, então, para alguns deles. rentes (algumas vezes de forma acidental ou
Segundo a definição do grupo de Harvard, es- por sorte, em nenhuma consideração quanto
tratégia é “um conjunto coerente de objetivos que, às suas consequências estratégicas). Tomadas
ao serem atingidos, promoveria o devido ajuste em conjunto ao longo do tempo, essas peque-
da organização ao seu ambiente” (VIZEU; GON- nas mudanças frequentemente produziam
ÇALVES, 2010, p. 35). Nessa perspectiva, conside- grandes mudanças de direção (MINTZBERG;
ra-se o ambiente e os objetivos organizacionais. AHLSTRAND; LAMPEL, 2000, p. 135).
Para Sobral e Peci (2013, p. 206), estratégia é a
“busca deliberada por um plano de ação que per- Por vezes esse processo gera um outro talvez até
mita desenvolver, e continuamente ajustar, uma mesmo inusitado: estratégias emergentes do pas-
vantagem competitiva da empresa sobre seus con- sado se convertem em estratégias deliberadas para
correntes”. Esse conceito tem como base os planos o futuro. Isso se deve ao processo de aprendizagem
de ação e a ideia de competitividade. que ocorre nas organizações, que faz que reco-
Quando falamos em estratégia, de fato, na nheçam seus padrões em seus próprios compor-
maioria das vezes estamos nos referindo àquilo tamentos, ou seja, aquilo que funciona para elas
que é deliberado, ou seja, intencional, planejado e como fazer isso (MINTZBERG; AHLSTRAND;
propositalmente. Contudo, sabe-se que até mes- LAMPEL, 2000).
mo estratégias não pretendidas são consideradas Gosto muito dessa forma de se conceber a
estratégias! Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) estratégia por causa de seu enfoque nas carac-
e Mintzberg (2004) as denominam estratégias terísticas singulares de cada organização. Afinal,
emergentes. E o que são elas? São aquelas em que o aprendizado se dá de forma diferente em cada
“um padrão realizado não foi expressamente ambiente, dependendo de quem são as pessoas en-
pretendido. Foram tomadas providências, uma volvidas, do ramo de atividade ao qual se refere, no
a uma, que convergiram com o tempo para algum mercado e contexto no qual a organização está in-
tipo de consistência ou padrão” (MINTZBERG, serida… enfim, é uma forma de se valorizar tudo
2004, p. 35). Essa concepção é oriunda da Escola isso, toda essa riqueza de experiência e aprendi-
de Aprendizado, que sugere que as organizações zado e agir da melhor forma para aquele contexto
aprendem ao longo do tempo e que há um redi- específico. E quantas vezes isso é ignorado por
mensionamento e redirecionamento estratégi- modelos estratégicos rígidos e pré-definidos!

142 Gestão estratégica


Bem, mas é claro, nem sempre tudo funcio- polar o passado, mas o exercício de pensar novas
na bem. A essa linha de pensamento são feitas possibilidades deve sempre ser feito, pois é ali que
também muitas críticas, tais como de ser uma podem estar oportunidades antes impensadas.
organização sem objetivos definidos (inexistência O segundo ponto trata da viabilidade das coi-
de estratégia), deixar de lado estratégias que fun- sas. Se não é possível alcançar, é insano considerar
cionam por se dar excessiva ênfase às novidades como estratégia, seria apenas perda de energia e
oriundas do aprendizado (estratégia perdida) e frustração anunciada de todos os envolvidos. O
o perigo de se basear as ações em aprendizado terceiro ponto se refere ao caminho, aos planos
incremental, que pode fazer que se chegue onde de ação, à lógica das ações para se chegar naquilo
nunca ninguém quis (estratégia errada) (MINTZ- que se almeja, considerando todos os recursos
BERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000). Enfim, necessários para isso. Por fim, a estratégia e o que
como todas as demais abordagens, também essa se almeja com ela deve ser de conhecimento de
requer uma boa dose de cuidado e bom senso. todos. É justo e inteligente que todos saibam para
Voltemos agora para as tentativas de definição qual finalidade estão trabalhando; certamente aju-
para estratégia. da em termos de motivação, de compartilhamento
McKean (2012, p. 26) tem uma definição de de conhecimentos, de esforços direcionados e de
estratégia bastante interessante e direta: estratégia é integração entre pessoas e setores.
a “definição do melhor futuro para a sua equipe ou Tendo visto as diversas formas de se conceber a
empresa, mapeamento da rota para alcançá-lo e sua estratégia e também os níveis que fazem parte das
clara comunicação”. O autor prossegue explicando organizações, passamos no próximo tópico para
aspectos importantes inerentes a esse conceito: a operacionalização das coisas: o planejamento

““
estratégico.
1. A estratégia esforça-se para definir o me-
lhor futuro, não apenas o mais óbvio ou uma
extrapolação do passado.
2. Esse futuro precisa ser algo que se possa
alcançar. [...] o processo da elaboração da estratégia pre-
3. Deve haver um roteiro lógico para al- cisa ser considerado tanto de cima para baixo
cançá-lo. quanto de baixo para cima. Valiosos insights para
4. Por fim, esse futuro deve ser comunica- a formulação de estratégias podem partir tanto
do claramente à empresa para que se torne daqueles que as implementam quanto daque-
realidade (MCKEAN, 2012, p. 26). les que as elaboram (ou assim acreditam). Além
disso, a implementação e quaisquer defeitos ou
O primeiro ponto se refere àquela expressão “pensar novos insights que surjam podem constituir a
fora da caixa”, para que não somente a extrapolação base da estratégia do amanhã. Na verdade, a
do passado seja considerada, mas também coisas implementação vem a ser uma parte do processo
completamente novas — mesmo que seja para co- de formulação de estratégia.
locar tudo em uma balança e verificar que a melhor Fonte: Carter, Clegg e Kornberger (2010, p. 112).
estratégia no momento seja mesmo somente extra-

UNIDADE V 143
Análise Swot e
Planejamento
Estratégico

Tendo conhecido os níveis hierárquicos de uma


organização e definições de estratégia, passamos
agora para o planejamento estratégico, que une
esses conceitos e esses níveis para o alcance de
um objetivo específico.

Planejamento estratégico é o “processo formal


de determinação de objetivos e metas básicas de
longo prazo de uma empresa e adoção de cursos
de ação e alocação de recursos necessários para
alcançar esses objetivos”.
Fonte: Sobral e Peci (2013, p. 207).

144 Gestão estratégica


O processo de planejamento estratégico consiste em uma sequência de análises e decisões que com-
preende:
• Análise da situação estratégica presente da organização (onde estamos?).
• Análise do ambiente (quais são as ameaças e oportunidades do ambiente?).
• Análise interna (quais são os pontos fortes e fracos dos sistemas internos da organização?).
• Elaboração do plano estratégico da organização (para onde devemos ir? O que devemos fazer para chegar
até lá?) (MAXIMIANO, 2011, p. 103).

Esse processo pode ser visualizado na Figura 1:

Análise do
ambiente
externo

Análise da Definição Estratégias


Execução e
situação de objetivos funcionais e
avaliação
estratégica e estratégias operacionais

Análise de
pontos fortes
e fracos

Figura 1 - Processo de planejamento estratégico


Fonte: Maximiano (2011, p. 103).

Dentro dessa perspectiva, é claro que é necessário


considerar — e realizar — a tão famosa análise
Strenght Weaknesses
SWOT. Você já deve ter ouvido falar sobre ela. O = =
significado da sigla é: forças fraquezas

Tenha sua dose extra de Opportunities Threats


conhecimento assistindo ao
vídeo. Para acessar, use seu
= =
leitor de QR Code. oportunidades ameaças

UNIDADE V 145
O modelo SWOT foi concebido por Kenneth An- as que podem ser desenvolvidas, análise de oferta
drews e o chamado grupo de Harvard do qual ele e demanda, mudanças políticas e legais, relacio-
fazia parte, e namento com sindicatos e até mesmo condições



de clima e temperatura, dependendo da natureza
[...] corresponde ao ajuste interno através da da atividade (agricultura ou comercialização de
observação das tendências em determinado produtos agrícolas, por exemplo, ou o turismo em
setor. Ou seja, o papel da gerência geral de regiões procuradas por suas características climá-
uma organização seria a ativação das forças ticas). Bom, aqui os exemplos ocupariam o livro
e a eliminação das fraquezas, no sentido de todo, porque afinal de contas cada organização
aproveitar as oportunidades de mercado, mas terá seu próprio ambiente externo, ou seja, terá
também para se proteger das ameaças do am- sua própria gama de elementos que a influenciam
biente (VIZEU; GONÇALVES, 2010, p. 34). ou são influenciados por ela.
A ideia dessa análise é conhecer a organização
Apesar da sigla SWOT ser a mais comumente e seu ambiente do modo mais amplo e realista
usada mesmo em publicações em português, al- possível, para assim poder desenvolver um pla-
guns autores a traduziram como FOFA (forças, nejamento estratégico com mais chances de êxito.
oportunidades, fraquezas e ameaças). Vamos falar um pouco mais de cada uma dessas
Trata-se da análise tanto de dentro quanto de quatro variáveis de análise.
fora da organização, para assim se ter as infor- As forças são aquilo que a empresa faz
mações e a compreensão necessárias para poder de melhor ou tem de potencial. Aqui caberia
começar a se pensar em planejamento estratégico. identificar o que a organização como um todo
Forças e fraquezas é o olhar para dentro. Signifi- e também cada um de seus membros e equipes
ca analisar quais são os pontos fortes e os fracos da fazem bem ou tem o potencial de fazer, de acor-
organização. Isso envolve uma série de elementos do com suas características e conhecimentos.
a serem considerados, tais como localização, Também a análise de quais recursos possui ou
pessoal, estrutura, tecnologia utilizada, carteira tem acesso, quais deles representam diferencial
de clientes, participação de mercado, poder de ou algo que alavanca sua produção ou contribui
barganha, parcerias com fornecedores e tantos e para a oferta de bons serviços. E entraria até mes-
tantos outros aspectos. mo a análise da imagem da organização, ou seja,
Oportunidades e ameaças é o olhar para fora da
organização, ou seja, para o ambiente externo. E
qual ambiente deve ser esse? A região onde
se encontra a empresa? Todo o planeta
Terra? Nem uma coisa nem outra.
Significa tudo aquilo que é exte-
rior à organização e que de algum
modo a influencia ou pode vir a
influenciar, o que inclui: a conjuntura
econômica e social, os concorrentes, as pers-
pectivas de inserção no mercado de determinado
produto ou serviço, as tecnologias disponíveis e

146 Gestão estratégica


daquilo que o mercado ou a concorrência percebe que deixem de ser considerados como tal; e ii) a
de bom nela, que precisa ser mantido (reputação que considera que não se deve empregar recursos
de boa qualidade, por exemplo) e que se bem tra- e esforços excessivos naquilo em que não se é bom
balhada pode ser ainda mais bem aproveitada e e sim focar nas forças da organização. É claro que
direcionada para os objetivos da organização. isso dependerá muito da situação. Se a fraqueza,
As fraquezas são os pontos fracos que por exemplo, é acerca de algo fundamental para
precisam, primeiramente, serem reconhecidos, a organização, que pode comprometer sua ima-
identificados. Ter consciência deles é o primeiro gem ou a qualidade dos produtos ou serviços que
importante passo. As fraquezas podem oferece ou ainda sua participação de mercado,
representar, por exemplo, aquilo em que a talvez a primeira postura seja a mais indicada.
organização deve dispender excessivo esforço Se, ao invés, trata-se de algo cujo esforço em me-
ou uso de recursos, de modo não fluído e difi- lhorar não compensar perante o possível ganho a
cultoso. Também pode representar a falta dos se obter, talvez seja melhor mesmo investir mais
recursos necessários — sejam eles tangíveis ou nas forças do que nas fraquezas. E, evidentemente,
intangíveis — para se chegar ao objetivo preten- também não estamos falando de tudo ou nada.
dido. O que os outros percebem como fraqueza Cada fraqueza específica terá que ser analisada e
também representam uma fraqueza, mesmo que a decisão sobre o que fazer poderá variar de uma
seja somente de imagem da organização — o que para a outra.
não é nem de longe pouca coisa! Enfim, é aquilo Sobre as oportunidades: Podemos dizer que
que por alguma razão a empresa não faz bem ou oportunidade é aquilo que a organização ainda
precisa empregar demasiado esforço ou recurso não é ou tem e que pode vir a ser ou ter e isso seria
na proporção mais de oneração do que de retorno bom para ela. Aqui envolve uma série de questões
desse esforço empregado. a serem consideradas. Primeiramente, informa-
Aqui cabem duas perspectivas de análise da ção. A forma de se conseguir entrever oportuni-
situação: i) a que compreende que esses pontos dades é ter um bom grau de informação, tanto
devem ser melhorados e que os a respeito da própria organização (os recursos,
problemas que fazem que de- as capacidades, os conhecimentos e as poten-
terminada questão represente cialidades que se tem) quanto do ambiente,
uma fraqueza sejam tra- do mundo de modo geral, das tendências…
balhados e resolvidos, que requer uma dose também de boa observa-
investimentos sejam feitos ção e de feeling, ou seja, de sensibilidade e
nesse sentido, enfim, que percepção apurada acerca daquilo que possa
se procure trabalhar os representar uma oportunidade.
pontos fracos para A respeito do papel da informação no proces-
so estratégico das organizações, McGee e Prusak
(1993) consideram a informação como elemento
fundamental tanto do processo de definição
da estratégia como de execução e integração
dos processos de uma estratégia. Ela é a base
para essas três dimensões e abarca todas
elas, conforme representado na Figura 2:

UNIDADE V 147
Em termos pessoais, o planejamento estraté-
Informação gico ajuda muito também em termos de prepa-
ro. Se quero daqui a dez anos morar na Itália e
trabalhar com engenharia, é importante que eu
faça o curso de engenharia, que me informe sobre
Definição Execução o modo de validar meu diploma lá e comece desde
Estratégia agora a aprender italiano. “O tempo voa”, não é
mesmo? Olha aí outra máxima popular — e muito
verdadeira! Se o planejamento não incluir os pla-
nos de ação, ou seja, aquilo que vou fazer de fato
Integração para atingir o meu objetivo, os dez anos chegam
da mesma forma e a oportunidade poderá não es-
tar lá — pela falta do meu preparo. Falta de sorte?
Isso tudo se aplica também em termos
Figura 2 - Informação e estratégia competitiva organizacionais. Os recursos de uma empresa,
Fonte: McGee e Prusak (1993, p. 10).
os investimentos que devem ser realizados, os
Você já deve ter ouvido aquela famosa definição contatos a serem estabelecidos, as pessoas a
de sorte. Não tenho como colocar a fonte dela serem contratadas — ou mantidas, ou desligadas
aqui porque já li e ouvi de um bocado de lados —, tudo isso e muito mais são questões a serem
diferentes essa mesma máxima, então seu autor pensadas diante do objetivo estratégico da orga-
primeiro deve ter se perdido no tempo já... A má- nização. Queremos chegar lá e o que fazer nesse
xima é: “sorte é o encontro da oportunidade com o meio tempo para estarmos preparados?
preparo”. Bem, há controvérsias em determinados As oportunidades também podem aparecer
aspectos. Algumas coisas podem ser apenas pura inesperadamente. Sendo assim, talvez não haja —
sorte mesmo, interpretadas como obras do acaso, pelo menos até o momento — preparo suficiente
ou presentes de Deus. Outras — a maioria esma- para aproveitá-las. Contudo, aí entra a análise de
gadora — requer também nossa parte: o preparo. riscos e de retornos que a oportunidade ofere-
Receber uma ótima proposta de emprego nos Es- ce. Para aproveitar essa oportunidade, a empresa
tados Unidos e não saber falar inglês, pode ser a precisaria comprar uma máquina específica ou
falta de preparo em idiomas e os exemplos aqui contratar mais gente ou estabelecer uma parce-
seriam infinitos. Talvez você tenha tantas opor- ria. Quais são os prós e os contras dessas ações?
tunidades e esteja tão preparado para elas que Caso as vantagens sejam maiores — tendo, é claro,
nem se dê conta mais disso. Nem vê mais como uma visão holística e ética do termo “vantagens”
sorte, mas como coisas legais que acontecem na —, pode se tratar mesmo de uma oportunidade
sua vida. Talvez o sentimento ainda seja de que para a qual valha a pena “ajustar o preparo”. Se as
faltam algumas coisas e que novas oportunida- desvantagens forem maiores, talvez não se trate
des podem aparecer se você estiver preparado exatamente de uma verdadeira oportunidade e
para coisas específicas: acho que você está aqui, seja melhor não seguir por esse caminho. Análise
fazendo este curso e lendo neste momento este de risco e de impacto dentro e fora da organização
material justamente por essa razão. é fundamental nesse processo.

148 Gestão estratégica


Por fim, as ameaças. Podemos considerar da a obter — muitas delas que se transformam
ameaças aquilo que poderia prejudicar de algum em conhecimento e sobre isso falaremos mais na
modo a empresa em um futuro próximo ou dis- unidade em que trataremos sobre Gestão do Co-
tante. Apesar do nome soar um pouco estranho, nhecimento — para tomar as melhores decisões
trata-se de uma realidade bastante relevante a estratégicas possíveis, usufruir das próprias forças
ser considerada. O que os concorrentes estão e potencializá-las, saber perceber e aproveitar as
fazendo, por exemplo, pode caracterizar uma oportunidades, lidar da melhor forma com as fra-
ameaça. Leis, regulamentos e convenções sindi- quezas, procurando minimizá-las ou trabalhando
cais, por exemplo, podem também representar para transformá-las em forças e utilizar-se de to-
ameaças ao negócio (no sentido de requererem dos os recursos que possui para que a organização
certas medidas ou adaptações que muitas ve- não seja prejudicada com as possíveis ameaças.
zes geram custos ou penalidades quando não A análise SWOT é parte fundamental do pla-
realizadas). Outra questão fundamental a ser nejamento estratégico, pois ela dá justamente a
considerada é que as ameaças são algo sobre base para se começar a pensar nele. Todavia, há
as quais a organização não tem controle, mas a outros elementos a serem considerados em um
respeito das quais precisa se precaver de algum modelo de planejamento estratégico. Igor Ansoff,
modo. São tudo aquilo que cria um ambiente por exemplo, foi um dos autores que incorporou
desfavorável ao negócio e que pode prejudicá-lo outros elementos à ideia de planejamento estra-
de algum modo. tégico. A Figura 3 faz esse comparativo entre a
O importante de toda a análise SWOT é a concepção de planejamento estratégico do grupo
utilização de todas as informações que ela aju- de Harvard e da escola de Ansoff.

Análise Análise
externa interna

Avaliação subjetiva
e implementação Estratégia
estratégica
Modelo básico do grupo de Harvard

Natureza socioeconômica Definição de objetivos


e valores de curto prazo Organização
para execução
de planos
Definição de objetivos
Análise de de médio prazo
oportunidades Avaliação e
e ameaças controle de
Definição de objetivos desempenho
estratégicos
Análise de
forças e
fraquezas
Modelo insugurado por Ansoff

Figura 3 - Diferentes concepções do processo estratégico, grupo de Harvard e a escola de Ansoff


Fonte: Vizeu e Gonçalves (2010, p. 46).

UNIDADE V 149
O que Ansoff acrescentou à ideia do grupo de pecificação do responsável pelo processo; a con-
Harvard foram “as operações que cada setor da sideração da missão, visão e valores da organiza-
organização deverá desempenhar no curto e no ção; a avaliação do ambiente interno e externo; a
médio prazo para concretizar estes objetivos de identificação de questões estratégicas relevantes
longo prazo” (VIZEU; GONÇALVES, 2010, p. 45). à organização; e a formulação das estratégias em
Bem, em se tratando de planejamento estraté- si (BRYSON, 1988).
gico, é evidente que não somente a análise SWOT O que todos eles têm em comum? A análise
é importante. Há outros instrumentos, como a SWOT, que serve de base para a qualquer planeja-
análise de portfólio proposta pelo Boston Con- mento estratégico e, a partir dela, o planejamento
sulting Group — a famosa matriz BCG — entre detalhado dos planos de ação específicos, con-
diversos outros. É importante lembrar que as fer- tendo equipe executora, custos, prazos, recursos
ramentas são fundamentais, mas não possuem necessários e resultados esperados. O segredo é
um fim em si mesmas. Elas são a base para todo reservar um tempo para isso, e não somente uma
o planejamento estratégico que advém delas, con- vez, mas um espaço semanal na agenda do gestor
siderando tempo, recursos, investimentos, formas e talvez também da equipe para se pensar sobre
de se realizar as ações e assim por diante. aonde a organização pretende chegar e os meios
Há vários modelos de planejamento estraté- para isso, com metas viáveis, de curta, média e
gico, muitos mesmo. A tese de Coral (2002) traz longa exequibilidade e mensuráveis.
muitos desses modelos, inclusive sistematizando- Talvez hoje o trabalho dos coaches tenha tan-
-os em um extenso quadro. Alguns dão ênfase ao to sucesso nem tanto pelo que acrescentam em
mix de produto ou mercado (modelos de Ansoff; termos de conteúdo ou insights, mas porque, de
Ackoff; e Gracioso, por exemplo), outros à van- certo modo, “obrigam” as pessoas a pararem suas
tagem competitiva (como os de Cunha; Certo e atividades e pensarem a respeito das metas e do
Peter; Tavares; e Oliveira), valores da alta gestão e planejamento para cumpri-las, tanto em termos
processo de planejamento (como Andrews) e até organizacionais como pessoais. Desafio você a se
mesmo planejamento em ambientes turbulentos organizar para reservar esse tempinho semanal
(Rasmussen). Veja que há modelos de planeja- (meia hora talvez já seja suficiente), sem inter-
mento estratégico para diversas finalidades e cada rupções e dedicado à profunda reflexão sobre o
um deles propõe um caminho a ser seguido, al- que você quer para sua vida e para sua carreira
guns dando ênfase ao controle (como os modelos ou sua empresa, com base na análise das forças,
de Cunha; e Certo e Peter), outros ao processo de fraquezas, oportunidades e ameaças, e traçando
implantação do planejamento estratégico (como os planos de ação específicos para essa finalidade.
Ackoff) e assim por diante (CORAL, 2002). Tendo compreendido a análise SWOT e alguns
Há até mesmo modelos de planejamento es- elementos básicos de planejamento estratégico,
tratégico para organizações que não visam lucro. vamos conhecer agora duas das principais cor-
Inclui elementos como a concordância a respeito rentes estratégicas existentes: o modelo de Porter
da realização do planejamento estratégico; a es- e a Resource-Based View.

150 Gestão estratégica


O Modelo de Porter e a
Resource-Based View (RBV)

Como falar em estratégia sem falar no modelo


de Michael Porter? Não há como… E também
não há como deixar de fora outra teoria bastante
relevante no campo da estratégia: a Resource-Ba-
sed View. São duas abordagens diferentes e talvez
até mesmo complementares em certo sentido e
que têm uma mesma finalidade: que as empresas
alcancem a vantagem competitiva sustentável.
Dedicaremos este tópico a essas duas vertentes
da estratégia.
Começaremos pelo modelo porteriano.

Quem é Michael Eugene Porter? Segundo sua


apresentação em seu próprio livro seminal, Es-
tratégia competitiva: técnicas para análise de in-
dústrias e da conconcorrência, Porter é “uma das
maiores autoridades em estratégia competitiva
e competitividade internacional, é professor de
Administração de Empresas na Harvard Business
School. É consultor de chefes de estados, gover-
nadores, prefeitos e CEOs em todo o mundo”.
Fonte: orelha do livro de Porter (2004).

UNIDADE V 151
O modelo de Porter tem como foco o ambiente indústria depende de cinco forças competitivas
no qual a empresa está inserida. Ambiente no básicas: i) a ameaça de novos entrantes; ii) o poder
sentido de espaço de competição e relacionar a de negociação dos compradores; iii) a ameaça de
empresa ao seu ambiente é a essência da formu- produtos ou serviços substitutos; iv) o poder de
lação de uma estratégia competitiva, segundo negociação dos fornecedores; e v) a rivalidade
Porter (2004). entre as empresas existentes. Estas cinco forças
O grau de concorrência em uma determinada estão representadas na Figura 4.

ENTRANTES
POTENCIAIS

Ameaça de novos
entrantes

Poder de CONCORRENTES Poder de


negociação dos NA INDÚSTRIA negociação dos
fornecedores compradores

FORNECEDORES COMPRADORES

Rivalidade entre as
empresas existentes

Ameaça de produtos
ou serviços substitutos

SUBSTITUTOS

Figura 4 - Forças que dirigem a concorrência na indústria As cinco forças competitivas em conjunto deter-
Fonte: Porter (2004, p. 4). minam a intensidade da concorrência na indústria
e, consequentemente, sua rentabilidade. E por que
essa preocupação com a concorrência? Porque “a
concorrência em uma indústria age continuamen-
te no sentido de diminuir a taxa de retorno sobre
o capital investido na direção da taxa competitiva
Indústria na teoria de Porter significa: “o grupo básica de retorno” (PORTER, 2004, p. 5).
de empresas fabricantes de produtos que são Vamos falar sobre cada uma das cinco forças.
substitutos bastante próximos entre si” (PORTER, É importante destacar que essa análise pode ser
2004, p. 5). feita por ambos os interessados: as empresas que
E quando se fala em produto, é no sentido de já estão na indústria e também aquelas que pre-
produto final de uma indústria, que pode ser tendem nela entrar. Ou seja, se estou na indústria,
tanto um produto de fato quanto um serviço preciso analisar a nova configuração quando um
(PORTER, 2004). novo concorrente entra ou, ainda, me prevenir
para o caso disso acontecer (por meio de produtos

152 Gestão estratégica


ou atendimento diferenciados ou alguma outra estratégicas. Imaginem que pode haver casos em
estratégia); se pretendo entrar na indústria, pre- que o fato de outra empresa entrar na indústria
ciso analisar quais são as barreiras para os novos possa colocar as empresas que já fazem parte dela
entrantes e que podem significar custos altos. A em situação problemática ou até levá-las à falên-
mesma lógica se aplica a todas as demais forças cia. Essa análise, portanto, é fundamental para
competitivas. Vamos começar, então, pela ameaça aquelas que fazem parte da indústria.
de entrada. Pela visão daquela que pensa em entrar, há di-
Novas empresas que entram para uma indús- versas barreiras de entrada em uma indústria e que
tria trazem consigo ameaças àquelas existentes, deverão considerar, tais como: i) as economias de
uma vez que sua finalidade geralmente é a mesma escala; ii) diferenciação do produto; iii) necessida-
que as demais empresas ali existentes: ganhar a des de capital; iv) custos de mudança; v) acesso aos
maior parcela possível de mercado. Considerar canais de distribuição; vi) desvantagens de custo
os impactos que possíveis entrantes irão gerar na independentes de escala; vii) política governamen-
configuração da indústria e, por consequência, na tal; e mais tantas outras. No Quadro 2, vemos essas
própria empresa, é fundamental para as decisões barreiras de entrada e suas características.

Barreira de entrada Características

Economias de escala Referem-se aos declínios nos custos unitários de um produto à medida que
o volume absoluto por período aumenta. É uma barreira de entrada porque
força a empresa entrante a ingressar em larga escala e arriscar-se a uma
forte reação das empresas existentes ou a ingressar em pequena escala e
sujeitar-se a uma desvantagem de custo.

Diferenciação Significa que as empresas estabelecidas têm sua marca identificada e de-
do produto senvolvem um sentimento de lealdade em seus clientes. A diferenciação
cria uma barreira à entrada, forçando os entrantes a efetuarem pesados
investimentos para superar os vínculos estabelecidos entre os clientes e as
empresas já existentes.

Necessidades Trata-se da necessidade de investir muitos recursos financeiros para poder


de capital competir com as empresas existentes.

Custos de mudança É o custo com que se depara o comprador quando muda de um fornecedor
de produto para outro. Se esses custos são altos, os entrantes precisam
oferecer algo que faça que o comprador deixe um produtor já estabelecido
para optar pelo novo.

Acesso aos canais de Os canais de distribuição lógicos provavelmente já são usados pelas em-
distribuição presas existentes. É um desafio à entrante conseguir espaço nesses canais
ou criar outros, se for o caso.

Desvantagens de As empresas estabelecidas podem ter vantagens de custos impossíveis de


custo independentes serem igualadas pelas entrantes potenciais, tais como: tecnologia patenteada
de escala do produto, acesso favorável às matérias-primas, localizações favoráveis,
subsídios oficiais, maior experiência e aprendizagem.

Política O governo pode limitar ou mesmo impedir a entrada em indústrias com con-
governamental troles como licenças de funcionamento e limites ao acesso a matérias-primas.

Quadro 2 - Barreiras de entrada e suas características


Fonte: adaptado de Porter (2004, p. 7-14).

UNIDADE V 153


Você pode perceber que essa primeira análise os fornecedores podem exercer poder de
da indústria é fundamental para quem pretende negociação sobre os participantes de uma
iniciar um novo negócio. Pode poupar muitos indústria ameaçando elevar preços ou re-
prejuízos! duzir a qualidade dos bens e serviços for-
Vamos falar agora sobre o poder de negociação necidos. Fornecedores poderosos podem
dos compradores. Segundo Porter (2004, p. 26), consequentemente sugar a rentabilidade



de uma indústria capaz de repassar os au-
os compradores competem com a indústria mentos de custos em seus próprios preços
forçando os preços para baixo, barganhando (PORTER, 2004, p. 28-29).
por melhor qualidade ou mais serviços e
jogando os concorrentes uns contra os ou- Um grupo de fornecedores exerce demasiada
tros - tudo à custa da rentabilidade da in- influência sobre a empresa ou a indústria, quan-
dústria. O poder de cada grupo importante do: é dominado por poucas companhias e é mais
de compradores da indústria depende de concentrado do que a indústria para a qual vende,
certas características quanto à sua situação a indústria não é um cliente importante para o
no mercado e da importância relativa de fornecedor, os produtos dos fornecedores são in-
suas compras da indústria em comparação sumos fundamentais para o negócio do compra-
com seus negócios totais. dor, os produtos do fornecedor são diferenciados
ou há custos elevados de mudança, entre outros
O grupo de compradores terá maior poder de in- (PORTER, 2004).
fluência conforme algumas características estejam Por fim, a rivalidade entre as empresas existen-
presentes, tais como: estar concentrado ou adqui- tes. Porter (2004) compreende essa relação entre
rir grandes volumes em relação às vendas do ven- concorrentes como aquela que assume geralmente
dedor; impactar no orçamento do comprador; o a forma de disputa por posição, com táticas rela-
comprador ter total informação; enfrentar poucos cionadas a preço, publicidade, garantias e imagem
custos de mudança, entre outros (PORTER, 2004). da empresa com relação aos clientes e assim por
Sobre a ameaça de produtos ou serviços subs- diante. Há vários fatores que influenciam essa
titutos: Aqui se trata da relação custo/benefício relação. Porter (2004) elenca alguns deles, mas o
do substituto e da indústria analisada; o nível e que chama a atenção é esse pressuposto do autor
o impacto da ação coletiva tanto do substituto de que a empresa quer sempre que a concorrente
quanto da indústria analisada e o lucro médio se dê mal. Esse pode ser o objetivo de muitas delas,
do substituto (VIZEU; GONÇALVES, 2010). Es- mas há também tantas outras — talvez cuja gestão
ses pontos compõem a análise mínima a ser feita esteja influenciada por valores diferentes — em
acerca dos produtos ou serviços substitutos. que os concorrentes não são vistos como inimigos,
A respeito do poder de negociação dos for- mas como parceiros de um mesmo segmento e
necedores, seu poder de barganha ou de nego- que podem, inclusive, se ajudarem em caso de
ciação também é bastante relevante na análise necessidade. Veremos alguns casos de gestão di-
da indústria: ferenciada pautada em valores na Unidade VIII.

154 Gestão estratégica


Enfim, a partir da análise dessas cinco forças A diferenciação, por sua vez, consiste em “diferen-
competitivas, Porter (2004) traçou três estratégias ciar o produto ou o serviço oferecido pela empresa,
genéricas que as empresas podem adotar a fim de criando algo que seja considerado único no âmbito
criarem uma posição defensável no longo prazo e de toda a indústria” (PORTER, 2004, p. 39). Isso pode
superarem os concorrentes de sua indústria: i) lide- estar relacionado à marca, tecnologia, peculiaridades,
rança no custo total; ii) diferenciação; iii) enfoque. serviços sob encomenda, rede de fornecedores, entre
A liderança no custo total é uma estratégia que muitas outras formas de se diferenciar um produto.
“consiste em atingir a liderança no custo total em Por fim, a estratégia genérica do enfoque. Essa
uma indústria por meio de um conjunto de políti- consiste em focar em um grupo determinado de
cas funcionais orientadas para esse objetivo bási- compradores ou um segmento da linha de pro-
co” (PORTER, 2004, p. 37). É evidente que existem dutos ou mercado geográfico. A ideia é conseguir
inúmeras formas de se atingir esse objetivo, uma com isso baixo custo e maior diferenciação pe-
vez que isso dependerá das características de cada rante seus compradores. As três estratégias estão
empresa e de cada indústria. ilustradas na Figura 5.

VANTAGEM ESTRATÉGICA

Unicidade observada pelo Posição de baixo


cliente custo

No âmbito
LIDERANÇA NO
ALVO ESTRATÉGICO

de toda a DIFERENCIAÇÃO
CUSTO TOTAL
indústria

Apenas um
segmento ENFOQUE
particular

Figura 5 - Três estratégias genéricas de Porter


Fonte: Porter (2004, p. 41).

Esse é o coração da visão estratégica Porteriana. mesma teoria com outros nomes: Resource-Ba-
É claro que sua análise se estende e se desenvolve sed Model (RBM), Resource-Based Perspective
para diversos contextos, inclusive para países, mas (RBP), e Resource-Based Theory (RBT). E, ainda,
aqui focaremos no conhecimento desse núcleo em português, como Visão da Empresa Baseada
básico da teoria de Porter, tão relevante para o em Recursos (VBR). O termo mais utilizado na
estudo da estratégia. literatura, mesmo em publicações nacionais, é Re-
Passamos agora para a Resource-Based View source-Based View (RBV), por isso, usaremos aqui
(RBV). Você também poderá encontrar essa essa nomenclatura (MENEGASSI, 2013).

UNIDADE V 155
Você perceberá que a RBV não tem a clareza No entanto, a autora ainda traz algo bastante
conceitual que tem a teoria de Porter. E por que importante a respeito da análise dos recursos das
isso? Porque Porter sozinho criou aquela teoria, firmas: os serviços prestados pelos recursos. Trago
então ela tem todo um sentido lógico das coisas, suas palavras para explicar melhor essa ideia:



enquanto a RBV é uma teoria construída a partir
de diversos autores que nem estavam exatamente em termos estritos, nunca são os recursos
ligados entre si, mas que se inspiraram no anterior em si que constituem os insumos do pro-
para fornecerem um insight a mais. E nesse pro- cesso produtivo, mas apenas os serviços
cesso há, é claro, diferentes formas de interpreta- que eles podem prestar. Os serviços pro-
ção e de condução da trajetória da teoria. porcionados pelos recursos são função do
O início de tudo, dizem as boas línguas (arti- modo pelo qual eles são utilizados, com
gos científicos), deu-se na obra de Edith Penrose, exatamente o mesmo recurso podendo ser
economista, em sua obra originalmente de 1959, usado para diversos fins ou de modos dife-
que foi traduzida como “A teoria do crescimen- rentes, e em combinação com vários tipos
to da firma”, publicada no Brasil em 2006. Nessa ou várias quantidades de outros, podendo
obra, a autora — lembrando: economista — foi proporcionar diferentes serviços ou conjun-
além daquilo que se caracterizava como análise tos de serviços. A importante distinção entre
econômica até a época, que pouco considerava o os recursos e os serviços não reside em suas
interior das “firmas” (entenderemos aqui firmas durabilidades respectivas, mas no fato de
como empresas ou organizações) e procurou que os recursos constituem um conjunto de
analisar “se havia algo inerente na natureza delas serviços potenciais, podendo em sua maio-
que tanto promovia o seu crescimento como ria ser definidos independentemente do seu
limitava seu ritmo” (PENROSE, 2006, p. 12). uso, enquanto a própria palavra “serviço”
Como muitos estudos já existiam a respeito da já implica uma função ou uma atividade
análise do ambiente externo, em termos econômi- específica (PENROSE, 2006, p. 62-63).
cos, a perspectiva de Penrose (1959) foi de trazer a
ideia de que para que a firma pudesse responder Essa análise nos permite compreender uma pers-
positivamente a uma oportunidade ou conjuntura pectiva fundamental de análise para a teoria que
externa, precisaria ter recursos internos disponíveis dela adveio (a Resource-Based View), que:



para isso, e aí lançou sua teoria a respeito do cresci-
mento das firmas: “argumentamos que a expansão para a autora, portanto, os serviços são as
das firmas se baseia em boa parte nas oportunidades contribuições que os recursos podem pro-
de usarem mais eficientemente os recursos produ- porcionar às atividades produtivas da firma,
tivos de que dispõem” (PENROSE, 2006, p. 147). o que faz com que todo recurso seja visto
Como recursos internos das firmas, a autora com- como um conjunto de possíveis serviços.
preende os “serviços produtivos de que elas dispõem Desse modo, não é a análise dos recursos em
com base em seus próprios recursos” (PENROSE, si que dá os resultados esperados, mas sim a
2006, p. 36). E esses recursos podem ser tanto os que análise dos serviços que são de fato presta-
fazem parte da própria empresa quanto os que possam dos por cada recurso material ou humano,
ser adquiridos ou herdados, e podem ser tanto mate- ou seja, daquilo que eles podem proporcio-
riais quanto humanos, ou seja, tangíveis ou intangíveis. nar às firmas (MENEGASSI, 2013, p. 40).

156 Gestão estratégica


Dentro dessa perspectiva, outra característica es- sed View — lembrando que Penrose (1959) foi
sencial a ser analisada nos recursos é sua hetero- a precursora na análise aprofundada dos recur-
geneidade dos serviços contidos neles. Isso quer sos das firmas, mas não falou especificamente
dizer o que? Que os mesmos recursos, quando sobre RBV — e esse cara foi Birger Wernerfelt
usados de formas diferentes podem produzir ser- (1984). Lembra que Porter (2004) falava sobre
viços também diferentes. Desse modo,“os produ- posicionamento na indústria como estratégia de
tos finais representam apenas uma das diversas vantagem competitiva? Pois é, Wernerfelt (1984)
combinações possíveis de utilização dos recursos traz outra perspectiva para o mesmo objetivo
e dos serviços por eles oferecidos” (MENEGASSI, — a vantagem competitiva: que as empresas são
2013, p. 41). caracterizadas por uma combinação de recursos
Bem, por isso aí você já pode perceber que a e não pelo posicionamento de seus produtos no
análise acerca de recursos é bastante complexa. mercado e que, então, o foco da análise é o de
Não é só a análise do recurso em si e nem mesmo relacionar recursos à rentabilidade e estabelecer
do serviço que ele presta, mas do conjunto de cada assim “barreiras de recursos” para garantir a van-
recurso e dos possíveis serviços que cada um deles tagem competitiva da empresa (MENEGASSI,
pode vir a oferecer. É, o leque é grande! 2013). Desse modo, segundo Wernerfelt (1984,
A teoria exposta por Penrose (1959; 2006) é p. 173, tradução nossa), “o que uma firma quer
bem mais ampla que isso, evidentemente, mas a é criar uma situação onde a sua própria posição
ideia era trazer o ínicio da RBV e ainda há tanto de recursos torne essa posição mais difícil de
chão pela frente, então vamos passar agora para ser alcançada por outras firmas, diretamente ou
aquele que primeiro usou o termo Resource-Ba- indiretamente”.

UNIDADE V 157
Sendo assim, a análise dos recursos precisa ser mas causam diferença de desempenho; [2] as fir-
minuciosa, ou seja, deve-se considerar também mas procuram aumentar (se não necessariamente
como eles são adquiridos, o custo deles, a relação maximizar) seu desempenho econômico” (FOSS,
dos novos recursos com aqueles que já existem 1997, p. 4, tradução nossa).
nas empresas, a combinação entre eles, quanti- O que isso tudo quer dizer? Que cada organi-
dade, qualidade, defasagem, prazo de aquisição e zação terá sua própria configuração de recursos
disponibilidade de cada recurso (BRUSH; GREE- mediante suas perspectivas estratégicas e que
NE; HART, 2002). isso não muda muito com o tempo. Claro! Ima-
Uma análise fundamental quando se pensa gine que a cada ano a empresa quisesse focar
em recursos é a combinação daqueles recursos em outra coisa e fazer tudo diferente — o que
que já existem na organização com os possíveis necessitaria de novos recursos. Isso não seria
novos recursos. Você já comprou uma linda peça viável. Vamos lembrar: não se trata de renovar
de roupa que depois não conseguiu usar com nada o guarda-roupas inteiro, mas de adquirir peças
que você já tinha no guarda roupas? Pois é, aqui a que combinem com aquelas que você já tem.
lógica é semelhante. Não adianta parecer um óti- Assim também nas organizações. Isso evita
mo recurso a ser adquirido. Se ele não “combinar” custos desnecessários.
com aqueles que a organização já possui, pode ser Sobre as suposições, é evidente que a maneira
um investimento em vão. como uma organização alocará seus recursos
De fato, uma organização não é um amontoa- influenciará diretamente no seu desempenho e
do de recursos, mas uma combinação de recur- que o que as organizações procuram é a melhor
sos complementares que fazem dela algo viável forma para aumentar esse desempenho econô-
e sustentável. Além disso, quando se trata de mico.
vantagem competitiva e de análise dos recursos Grant (1991) afirma que são os recursos das
para esse fim, Wernerfelt (1995) chama a aten- organizações que sustentam suas estratégias no
ção para uma realidade: não dá para ganhar em longo prazo e isso ocorre porque “primeiramente,
todas as frentes: é necessário escolher “as lutas” recursos internos e capacidades proporcionam a
em que a organização pretende se empenhar; orientação básica para a estratégia de uma empre-
assim, procurará investir nos recursos necessários sa; segundo, recursos e capacidades são a principal
para essas atividades específicas em que quer se fonte de lucro para a empresa” (GRANT, 1991, p.
destacar da concorrência. 116, tradução nossa). Desse modo, o autor pro-
Nicolai Foss (1997) traz importantes conceitos põe um modelo de cinco etapas para a utilização
sobre a Resource-Based View, por ele chamada de da Resource-Based View para a formulação de
Resource-Based Perspective, ou RBP. O autor afir- estratégias:



ma que a RBP tem duas generalizações empíricas
de base: “[1] há diferenças sistemáticas entre as a análise dos recursos básicos da empresa, a
firmas na medida em que elas controlam os recur- avaliação das capacidades presentes nela, a
sos que são necessários para a implementação de análise do alcance da lucratividade poten-
estratégias; [2] essas diferenças são relativamen- cial dos recursos e capacidades da empresa
te estáveis” (FOSS, 1997, p. 4, tradução nossa). E e a ampliação e modernização do conjunto
acrescenta a essas generalizações, duas suposições: de recursos e capacidades da empresa (ME-
“[1] diferenças nas alocações de recursos das fir- NEGASSI, 2013, p. 47).

158 Gestão estratégica


E agora entramos em uma das maiores contri- como podem ser combinados com novos recur-
buições à Resource-Based View: a de Barney sos para gerar maior desempenho e vantagem
(1991). Em seu artigo Firm Resources and Sus- competitiva sustentável? Esse é um primeiro e
tained Competitive Advantage, o autor procurou básico ponto. Segundo: é feita essa análise sobre
estabelecer a relação entre os recursos das or- o quão valioso é cada recurso, o quão raro ele é,
ganizações e sua vantagem competitiva susten- o quão fácil ou difícil ele é de ser imitado pela
tável. O que ele quis realmente saber era quais concorrência, se existem substitutos a ele? Essas
condições fariam de um determinado recurso características são as que definem um recurso
uma fonte de vantagem competitiva sustentá- como um diferencial para a organização e, como
vel para uma organização. As características que consequência, como aquele que contribui para
ele concluiu serem fundamentais para esse fim sua vantagem competitiva sustentável.
foram: que os recursos fossem valiosos, raros, A RBV traz, portanto, uma proposta de análise
que não pudessem ser facilmente imitados pelos que, se feita com esmero, pode ser diferencial para
concorrentes e nem substituíveis. Nas palavras as organizações além de conduzi-las às decisões
do próprio autor: corretas sobre investimentos em recursos. De fato,

““
a respeito do investimento em recursos:



(a) deve ser valioso, no sentido de que ele
explora oportunidades e/ou neutraliza Barney (1989) defende a importância da
ameaças no ambiente da firma, (b) deve ser análise do custo de aquisição dos recursos,
raro dentre os concorrentes atuais e poten- uma vez que o recurso se torna estratégico
ciais da empresa, (c) devem ser imperfei- somente quando seu custo de oportunida-
tos quando imitados, e (d) não pode haver de é menor do que o retorno que ele pode
substitutos estratégicos equivalentes para trazer à empresa (MENEGASSI, 2013, p. 50).
esse recurso que sejam valiosos nem raros
ou imperfeitos quando imitados (BARNEY, Collins e Montgomery (1995) seguem nessa mes-
1991, p. 105-106, tradução nossa). ma linha, propondo que se façam alguns “testes”
além daquele de mercado (se no mercado o re-
Aqui abro um parênteses sobre meu fascínio por curso é considerado ou não como valioso) para
essa teoria. Primeiramente: os gestores de fato in- compreender se um determinado recurso poderá
serem em suas atividades cotidianas uma análise ser a base para uma estratégia efetiva. Os autores
sobre os recursos que já existem na organização sugerem que sejam feitos ao menos os seguintes
e na forma como podem ser utilizados e, ainda, testes a respeito do recurso:

UNIDADE V 159


“(1) o teste da não imitabilidade: o recurso é
difícil de ser copiado? [...]; (2) O teste da du-
rabilidade: quão rapidamente esse recurso
se deprecia? [...]; (3) O teste da apropriação:
quem detém o valor que o recurso cria? [...];
(4) O teste da substituibilidade: um recurso
único pode ser superado por um recurso
diferente? [...]; (5) O teste da superioridade
competitiva: os recursos de quem são real-
mente melhores? (COLLINS; MONTGO-
MERY, 1995, p. 120-123, tradução nossa).
160 Gestão estratégica
Sem dúvidas, cada um desses testes é fundamen- utilizados em uma certa configuração ou combi-
tal para a análise de um recurso. Essas questões nação com demais recursos e o resultado disso foi
podem ser a base de importantes decisões acerca analisado. Então, é difícil também identificar com
de investimentos a serem feitos em recursos e de exatidão se um recurso será ou não fonte de van-
possíveis combinações entre eles. tagem competitiva antes de adquiri-lo e utilizá-lo.
É claro que, como toda teoria, a Resource-Ba- Bem, conforme podemos notar, a Resource-
sed View tem também suas fraquezas conceituais. -Based View se trata de uma teoria bastante rea-
Uma das maiores críticas referentes a ela é a am- lística por um lado (todas as empresas possuem
biguidade causal. O que seria isso? recursos e é legítimo analisá-los sob a ótica da
Bem, “em algum nível, tudo na empresa se vantagem competitiva, pois eles são parte fun-
torna um recurso e, portanto, recursos perdem damental desse processo) e subjetiva por outro
poder de explicação” (CONNER, 1991, p. 145), (difícil ter exatidão sobre as relações causais que
não é verdade? Diericks e Cool (1989 apud ME- os envolvem).
NEGASSI, 2013, p. 55) explicam essa questão da O que podemos tirar de aprendizado dessas duas
ambiguidade causal da seguinte forma: teorias principais da estratégia que abordamos aqui

““
— a de Porter e a RBV — é que existe mais de uma
A ambiguidade causal é tida na RBV como maneira de se conceber a estratégia e que é possível
um problema de ordem gerencial, uma vez e desejável que sejam feitas análises considerando
que, havendo um desempenho superior da ambas as perspectivas: a que analisa a indústria e as
empresa, esse desempenho é conseguido forças competitivas externas e os recursos de que
através da articulação de recursos, mas uma empresa dispõe ou pode vir a dispor.
não se sabe ao certo em função de quais O que se espera é justamente isto: visão estraté-
recursos. O conceito de ambiguidade cau- gica. E o que isso significa? Um olhar mais amplo
sal refere-se à impossibilidade dos próprios possível a respeito de todos os elementos relacio-
gestores e também dos concorrentes, em nados à organização e sua atividade, bem como a
distinguir qual recurso ou qual combinação conjuntura em que seu ambiente se encontra e os
exata de recursos levaram determinada em- recursos disponíveis.
presa a obter vantagem competitiva, dada a Com essa visão, é possível pensar estrategica-
complexidade da combinação dos recursos. mente todos os tipos de organização: um escritório
de engenharia ou arquitetura, uma loja de atacado
Reed e DeFillippi (1990) trazem alguns elementos ou varejo, uma universidade, uma empresa de lo-
que, segundo eles, colaboram para o problema gística, indústrias, organizações não governamen-
da ambiguidade causal: o conhecimento tácito, a tais…. enfim, todas elas. Até mesmo em termos
complexidade dos recursos e suas especificidades. pessoais se pode ter esta mesma perspectiva!
De fato, por serem elementos de difícil mensura- Finalizamos, então, esta unidade sobre estra-
ção e análise, é difícil compreender objetivamente tégia. Tenho certeza de que seu conhecimento
a relação causal deles com a vantagem competitiva sobre esse tema tão fascinante e tão importante
sustentável de uma empresa. para qualquer tipo de organização se elevou e sua
Outra crítica à RBV é que geralmente os recursos visão sobre todos os elementos que fazem parte
só são classificados como importantes para a vanta- direta ou indiretamente de uma empresa nunca
gem competitiva ex post, ou seja, depois que já foram mais será a mesma.

UNIDADE V 161
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. Os níveis hierárquicos que existem em grande parte das organizações são os


denominados níveis estratégico, tático e operacional. São importantes para
que a estratégia de uma organização seja traçada, compreendida e executada.
Sobre esses níveis hierárquicos, leia as alternativas abaixo e assinale a correta:
a) O nível estratégico é o nível mais elevado em termos hierárquicos em uma
organização e é formado geralmente por poucas pessoas com grande poder
de decisão.
b) O nível tático se refere às táticas que se usará para realizar a estratégia.
c) Os níveis hierárquicos não são necessários tampouco importantes, pois cada
empresa se organiza como melhor funciona dentro de sua realidade.
d) O nível operacional se refere às operações financeiras necessárias para financiar
o que foi decidido como estratégia da organização.
e) Não há hierarquia entre os níveis organizacionais.

2. Planejamento estratégico é o “processo formal de determinação de objetivos e


metas básicas de longo prazo de uma empresa e adoção de cursos de ação e
alocação de recursos necessários para alcançar esses objetivos” (SOBRAL; PECI,
2013, p. 207). A análise SWOT é um importante instrumento para o planejamento
estratégico. A respeito dela, leia as assertivas abaixo:
I) As fraquezas significam aquilo que a empresa não faz bem e que deve ser
tomado como um fator limitante definitivo em uma organização.
II) A sigla SWOT vem das palavras Strenghts (forças); Weaknesses (fraquezas);
Opportunities (oportunidades) e Threats (ameaças).
III) Trata-se da análise tanto de dentro quanto de fora da organização, para assim
se ter as informações e a compreensão necessárias para poder começar a
se pensar em planejamento estratégico.
IV) As forças são aquilo que a empresa faz de melhor ou tem de potencial.

162
Assinale a alternativa correta:
a) Apenas I e II estão corretas.
b) Apenas II e III estão corretas.
c) Apenas I está correta.
d) Apenas II, III e IV estão corretas.
e) Nenhuma das alternativas está correta.

3. Assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F):


(( ) O modelo de Porter tem como foco o ambiente no qual a empresa está inse-
rida. Ambiente no sentido de espaço de competição e relacionar a empresa
ao seu ambiente é a essência da formulação de uma estratégia competitiva..
(( ) Segundo o modelo de Porter, o grau de concorrência em uma determinada
indústria depende de cinco forças competitivas básicas: i) a ameaça de novos
entrantes; ii) o poder de negociação dos compradores; iii) a ameaça de pro-
dutos ou serviços substitutos; iv) o poder de negociação dos fornecedores; e
v) a rivalidade entre as empresas existentes.
(( ) Há duas generalizações empíricas de base na Resource-Based View ou Resour-
ce-Based Perspective: [1] há diferenças sistemáticas entre as firmas na medida
em que elas controlam os recursos que são necessários para a implementação
de estratégias; [2] essas diferenças são relativamente estáveis.

Assinale a alternativa correta:


a) V-V-V.
b) V-F-F.
c) F-F-F.
d) F-V-V.
e) V-F-V.

163
LIVRO

Safári de estratégia: um roteiro pela selva do planejamento estratégico


Autor: Henry Mintzberg, Bruce Ahlstrand e Joseph Lampel
Editora: Bookman
Sinopse: Henry Mintzberg, classificado por Tom Peters como o número 1 entre
os estrategistas da Administração, trabalhou com Bruce Ahlstrand e Joseph
Lampel para criar o mais completo e profundo roteiro pelas diversas áreas do
planejamento estratégico. Apesar da riqueza e do detalhamento da análise, que
vai muito além de tudo o que já foi publicado sobre o assunto, este é um texto
de leitura fácil e agradável.

FILME

Além da linha vermelha


Ano: 1998
Sinopse: em plena Segunda Guerra Mundial, o resultado do combate de Gua-
dalcanal influenciará fortemente o avanço dos japoneses no Pacífico. Então, um
grupo de soldados americanos é enviado para lá para ajudar as unidades já em
batalha. Contudo, os soldados conhecem o verdadeiro terror da guerra, mas
no meio deste desespero surgem fortes laços de amizade.
Comentário: é um ótimo filme para se analisar sob a perspectiva da estratégia.
De quebra, o elenco traz grandes atores, como Sean Penn, George Clooney, John
Cusack, John Travolta, Nick Nolte e Adrien Brody; alguns deles bem novinhos.

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WEB

Há dois artigos muito bons que recomendo para a compreensão do modelo de


Porter de forma avançada e com alguns elementos novos à sua teoria: “Estratégia
competitiva: uma ampliação do modelo de Porter”, de Wilson Rezende da Silva.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

WEB

E este que faz uma crítica à sua tipologia: “Porter revisitado: análise crítica da
tipologia estratégica do mestre”, dos autores: Jorge Manoel Teixeira Carneiro;
Maria Alice Ferreira Deschamps Cavalcanti; Jorge Ferreira da Silva.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

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