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Anussim

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Anusim ou anussim (em hebraico, ‫אנוסים‬, sing. anus, 'forçado') é o termo empregado na
literatura rabínica para designar os judeus convertidos à força, ao Islã ou ao Cristianismo.

Os anusim foram especialmente numerosos na Europa cristã (na Espanha, desde 1391, e
particularmente em 1492, quando se intensificaram as conversões forçadas; em Portugal, em
1496), no Marrocos (sob os Almorávidas e os almóadas cujo território se estendia desde a
Espanha, ao norte, até o Senegal e o Mali, ao sul). No reinado dos almóadas, o célebre rabino
andaluz Moisés Maimônides para não ser obrigado a se converter ao Islã, fugiu com toda sua
família para o Marrocos. Sobre a conversão forçada, Maimônides escreveu uma Epístola sobre
o extermínio, em judeu-árabe, respondendo aos judeus iemenitas perseguidos. [1]

Já a famosa Iggerot Hashmad ("Carta sobre a apostasia") de Maimônides foi escrita no ano de
1160 durante o período em que os almóadas muçulmanos estavam forçando as pessoas de
todos os lugares a recitar o credo muçulmano. O não cumprimento da ordem significava
execução. Um estudioso rabínico em Fez (Marrocos) declarou que qualquer judeu que, em
público, proferisse uma confissão de fé muçulmana, mesmo que na verdade praticasse o
judaísmo secretamente, não poderia mais ser considerado um judeu. Indignado com a
insensibilidade desse rabino, Maimônides escreveu uma epístola, demonstrando que o rabino
marroquino estava seriamente enganado. Tal visão de martírio era, aos olhos de Maimônides,
uma deturpação do judaísmo - e só poderia afastar os judeus do judaísmo. Segundo ele o
simples enunciado de uma fórmula nunca poderia tornar um judeu apóstata. Além disso, o
Talmud menciona que até mesmo alguns dos maiores sábios-rabinos Meir e Eliezer (cf. Avodah
Zara 18a) - fingiram apostasia, a fim de salvar suas vidas. Segundo Maimônides é permitida a
conversão a uma outra religião para salvar a própria vida. [2]

Anusim e marranos

Anusim é um termo legal rabínico genérico, aplicável, independentemente de contexto


histórico ou geográfico, aos judeus forçados a abandonar o judaísmo:

"A denominação hebraica 'anusim' é mais genérica e se aplica aos judeus que adotaram outra
religião sob coação e aos seus descendentes, os quais continuaram a pertencer a outra fé,
mantendo ou não as tradições judaicas" [3]

Já o marranismo é historicamente referenciado: refere-se aos cristãos-novos ibéricos, forçados


à conversão entre 1391 e 1497, frequentemente identificados como criptojudeus. Vale
ressaltar, no entanto, que os criptojudeus eram os convertidos que continuavam a manter
uma prática secreta e frequentemente deformada do judaísmo), enquanto o termo "marrano"
se refere, sem distinção, tanto aos convertidos sinceros como aos cristãos de fachada.[4]

Há, no presente, uma certa unanimidade, entre vários estudiosos, de que o termo 'marrano'
provém mesmo de mumar anus[5][6] ou mar anus, que significa 'homem convertido à força',
em que a partícula mar (que significa 'homem') é caldaica ou aramaica (línguas similares ao
hebraico) e anus significa 'forçado'. "Marrano" é um decalque fonético aportuguesado que,
por um mero acaso, no português corrente, coincide com uma da denominação regional do
porco (do árabe muḥarram, 'coisa proibida', em alusão à carne do porco, alimento não
permitido, tanto pelo judaísmo quanto pelo islamismo, [7]), mas que não se relaciona, em
nada, com essa noção pejorativa, porque se trata apenas de um decalque fonético
aportuguesado a partir da junção de duas palavras: uma caldaica ou aramaica e outra
hebraica: mar anuss, ou seja 'homem convertido à força'.[8]

Referências

1.

Igeret Teman ha-nikrah Petah Tikvah (Epistle to Yemen called Gate of Hope) Hanau, 1715.
«Maimonides' Practical Advice: On Feigning Apostasy». Consultado em 17 de dezembro
de 2012. Arquivado do original em 18 de março de 2012
Descendants of the Anusim (Crypto-Jews) in Contemporary Mexico, por Schulamith Chava
Halevy, p.4.
ROTH, Cecil A History of The Marranos Arquivado em 19 de julho de 2014, no Wayback
Machine.. Meridian Books, Inc., and The Jewish Publication Society of America, October 1959.
First printing September 1959.
Presença judaica na língua portuguesa. Expressões e dizeres populares em português de
origem cristã-nova ou marrana. Por Jane Bichmacher de Glasman (UERJ).
NETANYAHU, Benzion. The Marranos of Spain: From the Late 14th to the Early 16th
Century. Cornell University Press, 1999, p. 59.
Dicionário Houaiss: 'marrano'
"As derivações mais remotas e mais aceitáveis sugerem a origem hebraica ou aramaica do
termo. Mumar: converso, apóstata. Da raiz hebraica mumar, acrescida do sufixo castelhano -
ano derivou a forma composta mumrrano [...] Mar-anús: homem batizado à força. Mumar-
anus: convertido à força. Contração dos dois termos hebraicos, mediante a eliminação da
primeira sílaba". In LIPINER, Elias, Santa inquisição: Terror e linguagem; Rio de Janeiro, editora
Documentário, 1977, apud Presença judaica na língua portuguesa. Expressões e dizeres
populares em português de origem cristã-nova ou marrana. Por Jane Bichmacher de Glasman
(UERJ).

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