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Processo Penal Militar

207.05
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada
pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na
jurisprudência dos Tribunais.

Sumário
1. Extinção da punibilidade na parte geral do CPM (art. 123) – continuação .................................. 2
1.1. Ressarcimento do dano no peculato culposo .............................................................................. 2
2. Extinção da punibilidade na parte especial do CPM (art. 255, parágrafo único, CPM) ................ 4
2.1. Perdão judicial na receptação culposa ........................................................................................ 4
3. Prescrição na esfera militar ........................................................................................................... 8
3.1. Prescrição da pretensão punitiva ................................................................................................ 9
3.1.1 Prescrição em abstrato ........................................................................................................ 11
3.1.2 Causas suspensivas da prescrição........................................................................................ 13
3.1.3. Prescrição em concreto ...................................................................................................... 14
3.2. Prescrição da pretensão executória .......................................................................................... 19
3.2.1. Causas suspensivas e interruptivas da prescrição .............................................................. 21
4. Casos especiais ............................................................................................................................ 21
4.1 Penas principais de reforma e suspensão (art. 127, CPM) ......................................................... 22
4.2. Execução de penas acessórias (art. 130, CPM) .......................................................................... 22
4.3. Prescrição no crime de insubmissão.......................................................................................... 22
4.4. Prescrição no crime de deserção ............................................................................................... 23

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1. Extinção da punibilidade na parte geral do CPM (art. 123) – continuação

Causas extintivas

Art. 123. Extingue-se a punibilidade:

I - pela morte do agente;

II - pela anistia ou indulto;

III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso;

IV - pela prescrição;

V - pela reabilitação;

VI - pelo ressarcimento do dano, no peculato culposo (art. 303, § 4º).

1.1. Ressarcimento do dano no peculato culposo


É um dos temas mais cobrados em prova. Está previsto expressamente no art. 123, IV
CPM (parte geral), bem como no art. 303, §4º, CPM (parte especial).

VI - pelo ressarcimento do dano, no peculato culposo (art. 303, § 4º).

Peculato

Art. 303. Apropriar-se de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou
particular, de que tem a posse ou detenção, em razão do cargo ou comissão, ou desviá-
lo em proveito próprio ou alheio:

Pena - reclusão, de três a quinze anos.

§ 1º A pena aumenta-se de um terço, se o objeto da apropriação ou desvio é de


valor superior a vinte vezes o salário mínimo.

Peculato-furto

§ 2º Aplica-se a mesma pena a quem, embora não tendo a posse ou detenção do


dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou contribui para que seja subtraído, em proveito
próprio ou alheio, valendo-se da facilidade que lhe proporciona a qualidade de militar ou
de funcionário.

Peculato culposo

§ 3º Se o funcionário ou o militar contribui culposamente para que outrem subtraia


ou desvie o dinheiro, valor ou bem, ou dele se aproprie:

Pena - detenção, de três meses a um ano.

Extinção ou minoração da pena


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§ 4º No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede a sentença


irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena
imposta.

Não se confunde com o arrependimento posterior, uma vez que se trata de crime
culposo. Sendo culposo o crime, não há arrependimento, pois o agente não desejou praticar
o crime.

No peculato culposo, a reparação do dano antes do trânsito em julgado implica


extinção da punibilidade. A mesma situação está prevista no art. 312, §3º, CP comum.

Peculato

Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro


bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo,
em proveito próprio ou alheio:

Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse


do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito
próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de
funcionário.

Peculato culposo

§ 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem:

Pena - detenção, de três meses a um ano.

§ 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença


irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena
imposta.

DPU – 2010 (CESPE)

No peculato culposo, a reparação do dano, antes da sentença irrecorrível, acarreta a


extinção da punibilidade do agente, tanto no CP como no CPM.

Resposta: Correta. A reparação do dano no peculato culposo se precede à sentença


irrecorrível, ou seja, antes do trânsito em julgado, é causa de extinção da punibilidade.

Observe-se também que existe uma benesse caso a reparação do dano ocorra após o
trânsito em julgado. Tanto no CP comum quanto no CPM, ainda que o ressarcimento seja
feito depois do trânsito em julgado, haverá a redução da pena pela metade. Não extingue a
punibilidade.

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2. Extinção da punibilidade na parte especial do CPM (art. 255, parágrafo único, CPM)

Receptação culposa

Art. 255. Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela manifesta
desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve
presumir-se obtida por meio criminoso:

Pena - detenção, até um ano.

Parágrafo único. Se o agente é primário e o valor da coisa não é superior a um


décimo do salário mínimo, o juiz pode deixar de aplicar a pena.

2.1. Perdão judicial na receptação culposa


O perdão judicial somente está previsto na parte especial. A presença da causa de
extinção da punibilidade pelo perdão, na esfera militar, só tem previsão expressa na parte
especial no caso da receptação culposa.

Instituto semelhante está previsto no art. 180, §5º, CP comum.

Receptação

Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou


alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a
adquira, receba ou oculte: (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996)

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 9.426, de
1996)

§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção


entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por
meio criminoso: (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996)

Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas. (Redação


dada pela Lei nº 9.426, de 1996)

§ 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em


consideração as circunstâncias, deixar de aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-
se o disposto no § 2º do art. 155. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)

Requisitos para que seja aplicado o perdão na receptação culposa:

a) O receptador deve ser primário;


b) O valor da causa não pode ultrapassar um décimo (10%) do salário mínimo;

O legislador no CP comum fala em “pequeno valor”. Nesse caso, doutrina e


jurisprudência atribuem a esta expressão o valor de até um salário mínimo.

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Já no CPM, além de o receptador ser primário, exige-se expressamente que o valor


da coisa não ultrapasse 10% do salário mínimo. Para a esfera comum, este valor seria caso
de aplicação do Princípio da Insignificância.

No Direito Penal Militar, o Princípio da Insignificância encontra previsão nas lesões


levíssimas, no furto atenuado. O juiz pode considerar atípico o fato e encaminhar a questão
para ser resolvida na esfera administrativa, com aplicação de sanção disciplinar.

O Direito Penal Militar não prevê a atipicidade, isto é o cabimento do Princípio da


Insignificância para a receptação culposa. Reconhece-se o perdão judicial, de forma que o
Conselho pode deixar de aplicar a pena, concedendo perdão judicial pela desnecessidade da
pena.

A diferença é que o perdão afeta a punibilidade, já a insignificância afasta apropria


tipicidade do comportamento. Quando o legislador desejou aplicara a insignificância na
esfera militar, ele o fez expressamente.

O Princípio da Insignificância, na esfera militar, em que pese até seja admitido pelo
STF em casos muito especiais, é tratado de forma restrita pelo STM.

O valor de 10%, tratado na esfera comum como ínfimo, para a esfera militar será
considerado pequeno valor para efeito de perdão judicial, sendo o instituto tratado com
maior rigidez no CPM que no CP comum.

Observação: em recente julgado do STF (em sede de HC na esfera militar) foi


acolhida tese da DPU de que crimes praticados fora do ambiente militar, entre militares, por
questões alheias à vida militar, sejam julgados na esfera comum (HC 131076 de Dezembro
de 2015).

A imputação feita pelo MP militar foi de desrespeito e violência à superior (art. 157
e 160, CPM).

Violência contra superior

Art. 157. Praticar violência contra superior:

Pena - detenção, de três meses a dois anos.

Desrespeito a superior

Art. 160. Desrespeitar superior diante de outro militar:

Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.

DECISÃO HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL MILITAR. DELITOS PRATICADOS


FORA DE SITUAÇÃO DE ATIVIDADE E DE LOCAL SUJEITO À ADMINISTRAÇÃO MILITAR.
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COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM. PLAUSIBILIDADE JURÍDICA. MEDIDA LIMINAR


DEFERIDA. INFORMAÇÕES. VISTA AO PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA.

(HC 131076 MC, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, julgado em 28/10/2015, publicado em
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-220 DIVULG 04/11/2015 PUBLIC 05/11/2015)

O caso envolveu uma briga entre militares por causa de uma lata de cerveja, fato
que cominou em agressões físicas e verbais contra outros militares na comemoração de
aniversário de um deles, realizada na área de lazer de um condomínio em Tabatinga,
Amazonas. Nessa situação, um subalterno agrediu um superior.

O STF decidiu que embora o crime tenha sido cometido de militar contra militar, é
caso de crime comum. A visão do STM e do MP militar é de que o crime é militar.

Entretanto, nesse caso, o STF decidiu, por unanimidade, que ainda que os agentes
saibam da condição de militar um do outro, por ter sido o crime praticado fora da atividade
e de lugar sujeito à jurisdição militar, a competência será da justiça comum.

Houve mitigação da caracterização do crime militar, observando que o motivo do


delito não diz respeito à esfera militar.

É possível, por analogia, aplicar o perdão a outras situações na esfera militar?

 Homicídio Culposo ou Lesão Corporal Culposa

Lembrar-se do art. 121, §5º, CP comum. Se o agente é atingido de forma tão grave
pelo fato (resultado que ele mesmo produziu de forma descuidada) que a pena se torna
desnecessária, o juiz pode deixar de aplicar a pena.

§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as


consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção
penal se torne desnecessária. (Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)

A fundamentação desse perdão é a desnecessidade da pena. A pena tem função


preventiva e retributiva. Se o sujeito já foi castigado pela vida, não há necessidade de pena.

Ex.: o militar que acidentalmente, em lugar sob a administração militar, mata o


próprio filho. Não existe pena necessária e suficiente para reprovação e prevenção do crime,
nem necessidade ressocializadora dessa pena. Não há recado a se passar para a sociedade,
em caráter de prevenção geral, caso seja aplicada a pena a esse sujeito.

Em se tratando de crime militar, não há previsão de perdão judicial nem na parte


geral, nem na parte especial.

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No Código de Trânsito Brasileiro, há a previsão do homicídio culposo no art. 302,


CTB, mas foi vetado o art. 300, CTB, que previa o perdão judicial. Uma parte da doutrina
sugeriu que não caberia perdão no crime de trânsito, mas a jurisprudência e a doutrina
majoritárias entendem que é possível o perdão (o próprio STF entende dessa forma).

Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:

Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a


permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

O Ministro Gilmar Mendes entende que quando se tem a previsão de um crime


remetido (cujo conceito está previsto no CP comum), ele fica impregnado de todas as
características do delito originário pra onde ele foi remetido. Por conta disso, o perdão
judicial do CP comum se aplica ao CTB, conforme entendimento da doutrina e jurisprudência
majoritárias.

Na esfera militar, há quem entenda que é possível a aplicação do perdão judicial por
analogia, diante da omissão do legislador castrense, sobretudo por uma visão constitucional
sobre as finalidades e funções retributiva e preventiva da pena.

O homicídio culposo está previsto no art. 206, CPM e por esta visão favorável à
aplicação do perdão, esse artigo poderia ser ampliado pelo art. 121, §5º, CP comum.

Homicídio culposo

Art. 206. Se o homicídio é culposo:

Pena - detenção, de um a quatro anos.

Art. 121,§ 5º, CP - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a
pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave
que a sanção penal se torne desnecessária. (Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)

No entanto, a 1ª turma do STF (informativo 712), no julgamento do HC 116254,


entendeu que: o art. 123, CPM, não contempla a hipótese do perdão judicial como causa de
extinção da punibilidade e, ainda que in bonam partem, não se aplica por analogia o art. 121,
§5º, CP comum. Embora o perdão judicial seja previsto no art. 255, CPM, a analogia
pressuporia lacuna ou omissão na lei e na situação tratar-se-ia de silêncio eloquente, sendo
evidente no CPM a vontade do legislador de excluir o perdão judicial do rol de causas de
extinção da punibilidade.

EMENTA HABEAS CORPUS. PENAL MILITAR. HOMICÍDIO CULPOSO. PERDÃO JUDICIAL


PREVISTO NO CÓDIGO PENAL. ANALOGIA. INAPLICABILIDADE. LACUNA LEGAL
INEXISTENTE. 1. A analogia, ainda que in bonan partem, pressupõe lacuna, omissão na
lei, o que não se verifica na hipótese, em que é evidente no Código Penal Militar a

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vontade do legislador de excluir o perdão judicial do rol de causas de extinção da


punibilidade. 2. Ainda que fosse o caso de aplicação da analogia, necessário seria o
exame do conjunto fático-probatório para perquirir a gravidade ou não das
consequências do crime para o paciente, o que é inviável na via estreita do writ. 3.
Ordem denegada.

(HC 116254, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 25/06/2013,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-158 DIVULG 13-08-2013 PUBLIC 14-08-2013)

Nesse caso, prevalece a especialidade e o fato de que não é uma lacuna involuntária
da lei. O STF entendeu que se trata de um silêncio eloquente. Se o CPM previu perdão na
parte especial quando trata da receptação culposa e não o fez com o homicídio culposo nem
na parte geral, não se pode utilizar esse benefício por analogia, sob pena de descaracterizar
a índole do Direito Penal Militar, em nome da especialidade.

A crítica do Professor é de que o STF desconsiderou a visão constitucional. Na


prova, considera-se que não há previsão de perdão judicial no CPM em relação ao homicídio
culposo.

Ex.: militar que atirou acidentalmente e mata um amigo. Nesse caso, pode-se entrar
na discussão de que o agente foi atingido de forma tão grave que seria desnecessária a pena,
a depender da amizade e relação entre autor e vítima.

Diante de questão que aborde caso como este, deve-se expor a visão do STF de
inadmitir o perdão, mas também abordar que ainda que se admitisse, se é possível se
reconhecer o abalo causado pelo crime, em virtude de o agente ter atingido um amigo. A
legislação exige que o sujeito seja atingido de forma tão grave que a pena se torne
desnecessária.

Os Tribunais Superiores têm afirmado que a afetação tão grave é aquela que
envolve relação de parentesco, amizade, mas desde que haja relação forte, exigindo-se o
conhecimento prévio entre as pessoas. Não se aplica o perdão quando um estranho é
atingido ou pessoa que não tenha relacionamento próximo.

O entendimento dos Tribunais Superiores é o de que o abalo psicológico natural e


inerente ao cometimento de um crime culposo não é suficiente para aplicação do perdão
judicial. É necessário que haja efetivamente um abalo exacerbado, em âmbito psicológico, a
justificar a aplicação do instituto.

3. Prescrição na esfera militar

É a perda de uma pretensão. O Estado tem uma pretensão punitiva, que se


desenvolve em dois momentos. Antes do trânsito em julgado, há a pretensão punitiva stricto
sensu, ou seja, o ius puniendi com a formação de um título executivo que é a sentença
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condenatória. Será buscada por meio da persecução penal para que se possa obter o título
condenatório e, por conseguinte, satisfazer a pretensão. Após o trânsito em julgado, a
pretensão punitiva se converte em executória. Nesse segundo momento, o Estado quer
fazer valer o título obtido.

Portanto, há a prescrição da pretensão punitiva e a prescrição da pretensão


executória.

O art. 124, CPM refere-se ao instituto pelas expressões prescrição da ação penal e
prescrição da pena. O professor critica esta linguagem por considera-la atécnica. Mas há
doutrinadores, como Damásio, que utilizam essa expressão.

Espécies de prescrição

Art. 124. A prescrição refere-se à ação penal ou à execução da pena.

A prescrição da ação penal é o mesmo que prescrição da pretensão punitiva, já a


prescrição da pena é o mesmo que prescrição da pretensão executória.

3.1. Prescrição da pretensão punitiva


O art. 125, CPM trata da prescrição da pretensão punitiva, apresentando os prazos
da prescrição pela pena em abstrato. É regulada pela pena máxima abstratamente
cominada.

Prescrição da ação penal

Art. 125. A prescrição da ação penal, salvo o disposto no § 1º deste artigo, regula-se
pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se:

I - em trinta anos, se a pena é de morte;

II - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze;

III - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito e não excede a doze;

IV - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro e não excede a oito;

V - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois e não excede a quatro;

VI - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não
excede a dois;

VII - em dois anos, se o máximo da pena é inferior a um ano.

Observe-se que no inciso I, o CPM traz a prescrição para a pena de morte, que é de
30 anos. Isso é um diferencial. Os demais incisos trazem previsão semelhante à do art. 109,
CP comum.

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Prescrição antes de transitar em julgado a sentença

Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o


disposto no § 1o do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de
liberdade cominada ao crime, verificando-se: (Redação dada pela Lei nº 12.234, de
2010).

I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze;

II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito anos e não excede a


doze;

III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não excede a
oito;

IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não excede a


quatro;

V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não
excede a dois;

VI - em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um) ano. (Redação dada


pela Lei nº 12.234, de 2010).

O inciso VII do art. 125, CPM apresenta diferença em relação ao CP comum. Se a


pena máxima é inferior a 1 ano, a prescrição é de 2 anos no CPM. A Lei 12.234/2010
ampliou, no CP comum, o prazo prescricional mínimo para 3 anos. Portanto, quando a pena
máxima abstratamente cominada é inferior 1 ano, no CP comum prescreve em 3 anos e no
CPM em 2 anos. O CPM nesse ponto não foi afetado pelo CP comum com a reforma da Lei
12.234/2010.

Então, os únicos prazos que divergem do CPM em relação ao CP comum, são os das
prescrições máxima e mínima. A prescrição máxima é de 30 anos (no caso da pena de morte)
e a prescrição mínima é de 2 anos (no caso da pena em abstrato inferior a 1 ano). Os demais
prazos são idênticos nos dois diplomas.

O §1º do art. 125, CPM traz a hipótese de prescrição pela pena em concreto.

Superveniência de sentença condenatória de que somente o réu recorre

§ 1º Sobrevindo sentença condenatória, de que somente o réu tenha recorrido, a


prescrição passa a regular-se pela pena imposta, e deve ser logo declarada, sem prejuízo
do andamento do recurso se, entre a última causa interruptiva do curso da prescrição (§
5°) e a sentença, já decorreu tempo suficiente.

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3.1.1 Prescrição em abstrato


A prescrição em abstrato tem como marco inicial o fato (§2º do art. 125, CPM). Tem
como marco interruptivo, primeiramente, o recebimento da inicial acusatória (denúncia ou
queixa subsidiária), depois a publicação1 da sentença condenatória (§5º do art. 125, CPM).

Termo inicial da prescrição da ação penal

§ 2º A prescrição da ação penal começa a correr:

a) do dia em que o crime se consumou;

b) no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade criminosa;

c) nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência;

d) nos crimes de falsidade, da data em que o fato se tornou conhecido.

Interrupção da prescrição

§ 5º O curso da prescrição da ação penal interrompe-se:

I - pela instauração do processo;

II - pela sentença condenatória recorrível.

No Direito Penal comum, há interrupção do prazo prescricional com a publicação do


acórdão condenatório. O CPM silencia quanto a este ponto.

O STF tem certa oscilação quanto ao tema.

No HC 111653, o STF entendeu que se fosse aplicado ao CPM a previsão do CP


comum de que o acórdão condenatório interrompe a prescrição, haveria uma analogia in
malam partem porque zerar o prazo prescricional é ruim para o réu.

EMENTA Habeas corpus. Penal Militar. Pena agravada em sede de apelação. Prescrição
intercorrente. Ocorrência. Princípio da especialidade, o qual impede a aplicação, em
prejuízo do réu, do disposto no inciso IV do art. 117 do CP. Extinção da punibilidade pela
prescrição reconhecida. Ordem concedida. 1. O tema fulcral para o deslinde da
controvérsia posta nesta impetração diz com a eficácia ou não do acórdão que majorou
a pena imposta ao paciente para fins de interrupção da prescrição. 2. No ordenamento
penal castrense, dentre as causas de interrupção da prescrição estabelecidas no § 5º
do art. 125 do CPM, não há menção ao acórdão condenatório recorrível. 3. Princípio da
especialidade, a impedir a aplicação analógica do disposto no inciso IV do art. 117 do
CP. 4. Ordem concedida.

1
Importante lembrar que a publicação é inerente á sentença. Não é a publicação no Diário Oficial. A publicação
da sentença mencionada pelo professor é quando o diretor de secretaria recebe a sentença, ou quando a
sentença é proferida na sessão de julgamento.
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(HC 111653, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em 06/11/2012,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-022 DIVULG 31-01-2013 PUBLIC 01-02-2013)

Em julgado posterior, no HC 115035, a interpretação é de que a expressão


“sentença condenatória” abrangeria também o acórdão condenatório irrecorrível.

Ementa: Penal militar. Habeas corpus. Desacato a militar – art. 299 do CPM. Sentença
absolutória. Acórdão condenatório. Prescrição da pretensão punitiva. Inexistência.
Publicação do acórdão da apelação: Causa interruptiva da prescrição (art. 125, § 5º, II,
do CPM). Inocorrência de analogia in malam partem. Menoridade. Redução do prazo
prescricional pela metade. Pena de 3 (três) meses de detenção. Não transcurso de 1 (um)
ano entre o recebimento da denúncia e a publicação do acórdão da apelação. Atenuante
da menoridade. Impossibilidade: pena fixada no mínimo legal. Detração penal.
Formalização perante o juízo da execução penal – art. 66, II, c, da Lei n. 7.210/84. 1. A
causa interruptiva da prescrição, inserta no art. 125, § 5º, inciso II, do Código Penal
Militar, refere-se à sentença ou acórdão condenatório recorríveis, posto não haver
distinção ontológica entre ambos, não incidindo o entendimento em analogia in
malam partem. 2. Consectariamente, absolvido o paciente em primeiro grau, a causa
interruptiva a ser considerada é a data da publicação do acórdão da apelação que o
condenou, sobretudo porque é nele que será fixada a pena in concreto que balizará o
cálculo da prescrição. Precedentes: RHC 109.973, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJ de
12/12/2011 e HC 109.390, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJ de 9/10/2012. 3. In casu, a
denúncia pelo crime de desacato a militar, tipificado no art. 299 do CPM, foi recebida em
28/04/2011, sobrevindo sentença absolutória, em 30/11/2011, e acórdão da apelação,
publicado em 21/03/2012, condenando o paciente à pena de 3 (três) meses de detenção,
com previsão de prazo prescricional de dois anos (art. 125, inciso VII do Código Penal
Militar). 4. Ad argumentandum tantum, ainda que se admita a menoridade relativa
(vinte e um anos), afirmada pela impetrante, mas não comprovada nos autos, o que
reduziria a prazo prescricional de 2 (dois) para 1 (um) ano, faz-se mister anotar que entre
a data do recebimento da denúncia – 28/04/2011 –, primeira causa interruptiva da
prescrição, e a publicação do acórdão condenatório – 21/03/2012 –, segunda causa
interruptiva da prescrição, não transcorreu lapso temporal superior a 1 (um) ano, por
isso inocorrente a prescrição da pretensão punitiva. 5. A atenuante da menoridade é
inaplicável quando a pena é fixada no mínimo legal (HC 94.243, Rel. Min. Eros Grau, DJ
de 31/03/2009). 6. A detração de 1 (um) dia da pena (o paciente foi preso em flagrante,
em 30/03/2011, e posto em liberdade no dia seguinte), deve ser formulada ao juízo da
execução penal, a luz do art. 66, inciso III, alínea c, da Lei n. 7.210/84. 7. Ordem
denegada.

(HC 115035, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 18/06/2013,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-125 DIVULG 28-06-2013 PUBLIC 01-07-2013)

No caso concreto, o réu havia sido absolvido em primeiro grau, de forma que o
acórdão foi o primeiro decreto condenatório. Ocorrendo a absolvição em primeiro grau, o

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MP recorre e o agente é condenado em segundo grau, houve a primeira decisão


condenatória em segundo grau, sendo esta considerada como marco interruptivo da
prescrição.

Observação: Imagine-se que o sujeito tenha sido condenado em primeiro grau. Em


grau de recurso, caso o Tribunal mantenha a condenação, mas aumente a pena, haverá
interrupção da prescrição? Quanto a esta questão há grande polêmica nos Tribunais
Superiores.

Há decisões do STF no sentido de que o acórdão que mantém a condenação, mas


aumenta a pena interrompe a prescrição porque com a nova pena, há criação de nova base
de cálculo. Então, o acórdão se aperfeiçoa como marco interruptivo da prescrição. Mas esse
entendimento é aplicável à esfera comum.

Para o Professor, o melhor entendimento é o estampado no HC 115035. Se o


acórdão é o primeiro decreto condenatório, deve haver a interrupção. Mas se o agente já foi
condenado em primeiro grau e o acórdão mantém a condenação e aumenta a pena, não
deve haver a interrupção, pois seria o caso de analogia in malam partem já que a primeira
condenação ocorreu em primeiro grau (já houve o marco interruptivo).

A tendência dos Tribunais Superiores é no sentido de que deve haver a interrupção,


desde que o acórdão modifique a pena, trazendo alguma inovação. Se, por exemplo, o
acórdão mantém a condenação e a pena, não há modificação, não justificando a interrupção
da prescrição.

Observe-se que o CPM não traz previsão expressa nesse sentido. Trata-se de
construção jurisprudencial.

A prescrição em abstrato é aquela que ocorre antes da prolação da sentença.

O cálculo da prescrição em abstrato é efetuado contando-se a partir do fato até a


instauração da ação penal (primeiro marco interruptivo) e do recebimento até a sentença
condenatória ou o acórdão se este for o primeiro marco interruptivo (conforme
entendimento do STF estampado no HC115035).

3.1.2 Causas suspensivas da prescrição


Art. 125, § 4°, CPM.

Suspensão da prescrição

§ 4º A prescrição da ação penal não corre:

I - enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o


reconhecimento da existência do crime;

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II - enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro.

No inciso I, a pretensão punitiva também fica sobrestada. No caso do inciso II, o


agente não pode estar presente para ser processado no Brasil.

DPU - 2007 (CESPE)

No processo penal militar, efetivada a citação por edital, não comparecendo o réu,
nem constituindo advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional,
podendo o juiz determinar a produção antecipada de provas consideradas urgentes e, se for
o caso, decretar a prisão preventiva.

Resposta: Errada. Esse é o caso do Art. 366, CPP comum.

Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado,
ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar
a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar
prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312. (Redação dada pela Lei nº 9.271,
de 17.4.1996) (Vide Lei nº 11.719, de 2008)

O CPPM na hipótese de citação por edital, se o réu não comparece, há a decretação


de revelia. Não se aplica o art. 366, CPP comum à esfera militar, pois não há lacuna. Para o
CPPM, não comparecendo o réu, é designado Defensor Público e o processo segue à revelia
do réu.

Não existe suspensão da prescrição e do processo no CPPM. Caso fosse aplicado o


art. 366, CPP comum à esfera militar, estar-se-ia diante de uma analogia in malam partem,
pois suspender a prescrição é gravoso para o réu. Ademais, não houve silêncio por parte da
legislação castrense quanto a esse ponto. A não aplicação do art. 366, CPP comum é uma
orientação pacífica da doutrina e da jurisprudência.

3.1.3. Prescrição em concreto


Art. 125, §1º, CPM.

Superveniência de sentença condenatória de que somente o réu recorre

§ 1º Sobrevindo sentença condenatória, de que somente o réu tenha recorrido, a


prescrição passa a regular-se pela pena imposta, e deve ser logo declarada, sem prejuízo
do andamento do recurso se, entre a última causa interruptiva do curso da prescrição (§
5°) e a sentença, já decorreu tempo suficiente.

Requisitos para aplicação da prescrição em concreto:

a) Não ter ocorrido a prescrição em abstrato pela pena máxima;


b) Pressupõe o trânsito em julgado para a acusação (prescrição retroativa);

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jurisprudência dos Tribunais.

Houve pena fixada na sentença (marco interruptivo) e a partir desta, utilizar-se-ão


os prazos previstos no art. 125, caput, CPM.

Prescrição da ação penal

Art. 125. A prescrição da ação penal, salvo o disposto no § 1º deste artigo, regula-se
pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se:

I - em trinta anos, se a pena é de morte;

II - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze;

III - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito e não excede a doze;

IV - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro e não excede a oito;

V - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois e não excede a quatro;

VI - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não
excede a dois;

VII - em dois anos, se o máximo da pena é inferior a um ano.

Modalidades:

 Retroativa

Funciona da sentença até o recebimento.

A Lei 12.234/2010 alterou o art. 110, CP comum e extinguiu a prescrição retroativa


que ocorre do recebimento até o fato.

Prescrição depois de transitar em julgado sentença final condenatória

Art. 110 - A prescrição depois de transitar em julgado a sentença


condenatória regula-se pela pena aplicada e verifica-se nos prazos fixados no
artigo anterior, os quais se aumentam de um terço, se o condenado é
reincidente. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

§ 1o A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em


julgado para a acusação ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena
aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial data anterior
à da denúncia ou queixa. (Redação dada pela Lei nº 12.234, de 2010).

§ 2o (Revogado pela Lei nº 12.234, de 2010).

Observação: Antes da Lei 12.234/2010, aplicava-se ao Direito Penal Militar a


prescrição retroativa até a data do fato, em que pese a lei penal militar silenciar quanto ao
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jurisprudência dos Tribunais.

tema. A prescrição retroativa do CPM só vai até o recebimento. Era uma analogia in bonam
partem, já que o instituto era previsto no CP comum.

A partir da Lei 12.234/2010, essa prescrição retroativa do recebimento até o fato foi
abolida do CP comum e, portanto, também foi extinta na esfera militar. Não há como se
fazer a analogia utilizada anteriormente ao advento da lei.

Hoje (desde 2010), assim como na esfera comum, na esfera militar não se aplica mais
a prescrição retroativa até o fato, ou seja, marco inicial anterior ao recebimento da inicial
acusatória. Os fatos ocorridos antes da lei permitem essa prescrição.

O STF reconhecia a prescrição retroativa entre o recebimento e o fato. Foi o que


ocorreu no julgamento do HC 103407:

EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO. INEXISTÊNCIA. EMBARGOS


REJEITADOS. O HC 103.407 foi impetrado somente em favor de Rosa Maria de Oliveira
Varella. Daí por que no acórdão embargado foi apreciada apenas a situação jurídica da
paciente. Logo, não há que se falar em omissão. Por outro lado, a situação fático-jurídica
da embargante é a mesma da paciente do HC 103.407. Embargos de declaração
rejeitados. Concessão de habeas corpus de ofício, para declarar extinta a punibilidade
de Sônia Maria Varela de Souza, pela ocorrência da prescrição, considerada a pena em
concreto.

(HC 103407 ED, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Segunda Turma, julgado em
15/02/2011, DJe-049 DIVULG 15-03-2011 PUBLIC 16-03-2011 EMENT VOL-02482-01 PP-
00045)

No caso em tela, houve prescrição considerada a pena em concreto. Entre as


condutas delituosas e o recebimento da denúncia se passaram aproximadamente 10 anos. A
condenada teve a pena cominada em 2 anos, sendo a prescrição de 4 anos. O STF declarou
extinta a punibilidade neste caso, já que o fato foi de 1998 (anterior à lei 12.234/2010).

Observação: Outra questão importante acerca do tema é a prescrição pela pena


ideal ou hipotética. Esse fenômeno só faz sentido se existir a prescrição retroativa do
recebimento até o fato. Portanto, após 2010, esta discussão não faz mais sentido.

A prescrição pela pena ideal ou hipotética é o reconhecimento antecipado da


prescrição retroativa, com base em uma pena em concreto hipotética, que não foi aplicada
ainda.

Ex.: Imagine-se que a pena mínima seja 1 ano, que prescreve em 4 anos. Do fato até
o recebimento se passaram 10 anos. Supondo-se que a pena prevista para o delito seja de 1
a 5 anos, se o parâmetro for a pena máxima de 5 anos, a prescrição será de 12 anos então

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neste caso ainda não teria havido prescrição. Mas se o cálculo tomar por base a pena
mínima restará configurada a prescrição retroativa.

O juiz, ao analisar se recebe ou não a denúncia, verificando as circunstâncias do fato


e pessoais, chega à conclusão de que provavelmente será cominada ao réu a pena mínima.
Assim, sendo a pena mínima de 1 anos e a prescrição de 4 anos, o crime já estaria prescrito.
O juiz, antecipadamente, reconhece a prescrição retroativa cm base em uma pena
hipotética, vez que ainda não houve condenação.

As razões para os doutrinadores que pensam dessa forma são:

a) Perda superveniente do interesse de agir; Para haver ação, deve haver


interesse. Se futuramente será reconhecida a prescrição retroativa, não existe
razão para se iniciar a ação penal.
b) Economia processual; Se a lógica do sistema é evitar o dispêndio de recursos
financeiros, não existe razão para se iniciar uma ação penal custosa em caso de
reconhecimento da prescrição.
c) O processo criminal já é um castigo em si mesmo, ainda mais quando se demora
muito tempo para apurar o fato. A duração razoável do processo é garantia
constitucional.

Um dos fundamentos políticos da prescrição é a Teoria do Esquecimento do fato. O


decurso do tempo leva ao esquecimento do fato. Se não houve reincidência, a pena perde
sua função retributiva e ressocializadora.

Com base nessa ideia, seria possível essa prescrição antecipada com base numa
pena hipotética.

Em contrapartida, a posição que prevalece nos Tribunais Superiores é:

a) Não há previsão legal2;


b) Violação do princípio da presunção de inocência 3;

Esse entendimento está estampado na Súmula 438, STJ.

Súmula 438, STJ - É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão


punitiva com fundamento em pena hipotética, independentemente da existência ou
sorte do processo penal.

Toda essa discussão arrefeceu com o advento da Lei 12.234/2010, pois a prescrição
retroativa nesses termos não mais existe.

2
Para o professor, esse argumento é falacioso, vez que a própria prescrição retroativa é criação pretoriana.
Antes de constar no CP, foi súmula do STF.
3
É um argumento que importa apenas tecnicamente. Para o acusado, o que importa é o fim do processo.
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Observação: A prescrição retroativa tem como pressuposto o trânsito em julgado


para a acusação.

 Intercorrente ou Superveniente

Vai da sentença para o futuro, ou seja, da sentença condenatória ao acórdão. São


duas situações possíveis: recurso exclusivo da defesa ou improvido o recurso da acusação.

O pressuposto da prescrição intercorrente é não ter havido a prescrição retroativa.

Se o recurso é exclusivo da defesa, houve trânsito em julgado para a acusação.

Ex.: Supondo-se que a pena na condenação seja de 2 anos e sendo o recurso


exclusivo da defesa, não pode haver reformatio in pejus. A prescrição nesse caso é de 4 anos
(com base na pena de 2 anos). Assim, se o tribunal demorar mais de 4 anos para julgar o
recurso, haverá prescrição intercorrente ou superveniente.

Se, neste mesmo exemplo, o réu for menor de 21 anos de idade, a prescrição será
reduzida à metade, sendo de 2 anos. Caso não haja celeridade processual, pode haver
prescrição intercorrente.

A prescrição intercorrente ou superveniente não depende do provimento ou


improvimento do recurso exclusivo da defesa.

Se improvido o recurso da acusação, não havendo trânsito em julgado, a pena se


mantém. Nesse caso, a prescrição intercorrente será calculada no acórdão. Aqui, não
importa se houve recurso por parte da defesa nem se este foi provido ou improvido.

Esse acórdão interrompe a prescrição, conforme entendimento recente do STF.

Se a acusação e a defesa recorreram, sendo que o recurso do Ministério Público foi


improvido e o da defesa foi provido reduzindo-se a pena.

Ex.: em um caso em que a pena cominada era de 2 anos e o acórdão diminui para 8
meses, criando nova base de cálculo para a prescrição. Tendo por base essa nova pena, a
prescrição será de 2 anos. Havendo o trânsito em julgado para a acusação, como essa nova
pena tem novo prazo prescricional, pode-se recalcular a prescrição retroativa.

Imagine-se que da sentença até o acórdão o lapso temporal foi de 2 anos e 1 mês.
Há prescrição. Mas para reconhecê-la é necessário o trânsito em julgado para a acusação em
relação ao acórdão.

Também se pode pensar na prescrição retroativa. Se entre o recebimento e a


sentença houve um lapso temporal de 2 anos e 1 mês, com base na pena cominada em
primeiro grau não teria havido prescrição vez que para apena de 2 anos a prescrição
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ocorreria em 4 anos. Com a modificação da pena para 8 meses, o prazo prescricional cai para
2 anos, então ressurge a possibilidade de uma prescrição retroativa antes não admitida.

3.2. Prescrição da pretensão executória


O CPM impropriamente denomina esse instituto de prescrição da pena (artigos 124
e 126, CPM).

Espécies de prescrição

Art. 124. A prescrição refere-se à ação penal ou à execução da pena.

Prescrição da execução da pena ou da medida de segurança que a substitui

Art. 126. A prescrição da execução da pena privativa de liberdade ou da medida de


segurança que a substitui (art. 113) regula-se pelo tempo fixado na sentença e verifica-
se nos mesmos prazos estabelecidos no art. 125, os quais se aumentam de um terço, se o
condenado é criminoso habitual ou por tendência.

No caso do art. 113, COM, se houve condenação do semi-imputável e substituição da


pena por medida de segurança, o prazo prescricional deve ser calculado com base na pena
concretizada transitada em julgado para a acusação e para a defesa.

Substituição da pena por internação

Art. 113. Quando o condenado se enquadra no parágrafo único do art. 48 e


necessita de especial tratamento curativo, a pena privativa de liberdade pode ser
substituída pela internação em estabelecimento psiquiátrico anexo ao manicômio
judiciário ou ao estabelecimento penal, ou em seção especial de um ou de outro.

Então, a pretensão executória abrange a execução da pena e da medida de


segurança imposta em substituição.

Pode-se, ainda, reconhecer a questão da prescrição da medida de segurança aplicada


sem substituição, ou seja, no caso de absolvição imprópria.

Qual é a base de cálculo da prescrição da medida de segurança?

A prescrição executória da pena tem como pressuposto o trânsito em julgado e será


lastreada com base na pena em concreto ou no caso da medida de segurança, na pena
concretizada na sentença.

Se a medida de segurança for aplicada em sentença absolutória imprópria (art. 112,


CPM), haverá prescrição.

Manicômio judiciário

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Art. 112. Quando o agente é inimputável (art. 48), mas suas condições pessoais e o
fato praticado revelam que ele oferece perigo à incolumidade alheia, o juiz determina
sua internação em manicômio judiciário.

A posição mais forte é a de que a medida de segurança, no caso da absolvição


imprópria, prescreve com base na pena máxima (utilizando-se os parâmetros do art. 125,
caput, CPM).

Prescrição da ação penal

Art. 125. A prescrição da ação penal, salvo o disposto no § 1º deste artigo, regula-se
pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se:

I - em trinta anos, se a pena é de morte;

II - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze;

III - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito e não excede a doze;

IV - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro e não excede a oito;

V - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois e não excede a quatro;

VI - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não
excede a dois;

VII - em dois anos, se o máximo da pena é inferior a um ano.

O STF, em casos antigos, já afirmou que a prescrição seria a prescrição máxima de 20


anos, já que não houve pena concretizada na sentença.

O melhor entendimento é utilizar a pena máxima abstratamente cominada, num


critério de proporcionalidade. Se condenado o agente teria a prescrição regulada a partir da
pena máxima de encarceramento, no caso de medida de segurança também deve ser
utilizado o critério de pior hipótese em relação ao internado.

O CPM somente se preocupou com a medida de segurança que substitui a pena do


semi-imputável do art. 113. A prescrição em relação à sentença absolutória imprópria é
construção doutrinária.

A prescrição da pretensão executória começa a correr (art. 126, §1º, CPM):

§ 1º Começa a correr a prescrição:

a) do dia em que passa em julgado a sentença condenatória ou a que revoga a


suspensão condicional da pena ou o livramento condicional;

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b) do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o tempo da interrupção


deva computar-se na pena.

Ex.: a fuga interrompe a execução. Nesse caso, o cálculo da prescrição será efetuado
com base na pena que resta a cumprir.

Ex.: em caso de doença mental superveniente, o agente deve ser transferido para um
hospital de custódia. Em primeiro momento, há tão somente uma transferência e o tempo
da interrupção é computado na pena. Se o agente recuperar a sua capacidade de
entendimento pelo tratamento, ele volta a cumprir pena. Apenas não haverá o retorno em
caso de conversão definitiva da pena em medida de segurança. A execução da pena é
interrompida, mas não conta como marco para início do cálculo da prescrição.

O termo inicial da prescrição da pretensão executória é o trânsito em julgado da


sentença condenatória ou da que revoga o sursis ou livramento condicional, e quando há
interrupção da execução da pena, salvo quando esse período é computado na pena.

Quando há interrupção na execução, a prescrição será calculada pelo que resta de


pena a cumprir.

Ex.: Se o sujeito foi condenado a 3 anos e cumpriu 1 ano e meio depois fugiu, faltava
1 ano e meio de pena a cumprir. A prescrição da pretensão executória que antes era de 8
anos, agora será de 4 anos. Essa regra vale para o CP comum e para o CPM.

3.2.1. Causas suspensivas e interruptivas da prescrição


Há suspensão da prescrição em caso de prisão por outro motivo e interrupção pelo
início ou continuação do cumprimento da pena ou pela reincidência (art. 126, §3º, CPM).

§ 3º O curso da prescrição da execução da pena suspende-se enquanto o condenado está


preso por outro motivo, e interrompe-se pelo início ou continuação do cumprimento da
pena, ou pela reincidência.

Quando o agente começa ou recomeça a cumprir pena, ou em caso de reincidência,


interrompe-se a prescrição.

A Súmula 220, STJ também é aplicável à esfera militar.

Súmula 220, STJ - A reincidência não influi no prazo da prescrição da pretensão punitiva.

A reincidência é causa interruptiva da prescrição executória, não afetando o prazo da


prescrição da pretensão punitiva. Ademais, a reincidência aumenta em um terço o prazo
prescricional, mas só se aplica ao prazo da prescrição pretensão executória.

4. Casos especiais

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4.1 Penas principais de reforma e suspensão (art. 127, CPM)


A prescrição nos crimes cuja pena cominada, no máximo, é de reforma ou de
suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou função verifica-se em quatro anos
(art. 127, CPM).

Prescrição no caso de reforma ou suspensão de exercício

Art. 127. Verifica-se em quatro anos a prescrição nos crimes cuja pena cominada, no
máximo, é de reforma ou de suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou
função.

As penas de reforma e suspensão não são privativas de liberdade para ser base de
cálculo, o legislador estabeleceu prazo especial. Esse prazo é fixo para pretensão punitiva e
executória.

4.2. Execução de penas acessórias (art. 130, CPM)


De acordo com o artigo 130 do CPM, é imprescritível a execução das penas
acessórias.

Imprescritibilidade das penas acessórias

Art. 130. É imprescritível a execução das penas acessórias.

A imposição de pena acessória impõe a imposição de uma pena principal.

Ex.: perda de posto e patente. Transitada em julgado a sentença condenatória e o


oficial foi condenado a pena superior a dois anos, o MP faz uma representação ao STM para
declarar perda de posto e patente a esse oficial. A execução desta pena é imprescritível.

A execução é que é imprescritível. Se a pena principal é pressuposto da pena


acessória, caso prescreva a pena principal, não há como aplicar a pena acessória. A
pretensão punitiva antes do trânsito em julgado fulmina esta pretensão estatal.

Se for declarada extinta a punibilidade, reconhecida a prescrição da pretensão


punitiva em relação àquele fato, nenhuma pena subsiste. Mas se houve trânsito em julgado
da sentença condenatória já há a pretensão executória. Assim, a execução da pena acessória
será imprescritível.

4.3. Prescrição no crime de insubmissão


No crime de insubmissão, a prescrição começa a correr do dia em que o insubmisso
atinge a idade de trinta anos (artigo 131, CPM). Essa regra especial somente se aplica à
prescrição em abstrato referente aos trânsfugas: insubmissos que não foram capturados
nem se apresentaram espontaneamente.

Prescrição no caso de insubmissão

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Art. 131. A prescrição começa a correr, no crime de insubmissão, do dia em que o


insubmisso atinge a idade de trinta anos.

Na insubmissão a pena é impedimento de 3 meses a 1 ano. Caso se considere a pena


máxima, o prazo prescricional é de 4 anos. Em regra, a prescrição para o insubmisso é de 4
anos. O art. 131, CPM diz que a prescrição só começa a correr quando o agente completa 30
anos (esse é o marco inicial). Isso significa que aos 34 anos ocorrerá a prescrição em
abstrato, se ele não responder a nenhum processo por insubmissão.

No entanto, esta regra somente se aplica ao insubmisso ausente (trânsfuga). É aquele


que nunca compareceu para incorporação. Esse processo da insubmissão não pode ser
iniciado, pois a condição de procedibilidade é a inclusão no serviço. Se o insubmisso é
capturado ou se apresenta voluntariamente, ele passa por um exame de saúde e estando
apto, ele será incluído no serviço. Sem a inclusão, não há processo.

O insubmisso ausente não é processado, a instrução fica aguardando o seu


aparecimento. Por conta disso, quando ele faz 30 anos começa a correr o prazo prescricional
e aos 34 anos completa o período de 4 anos exigido para a prescrição já que a pena máxima
é de 1 anos.

O juiz, ouvido o MP, declara extinta a punibilidade e encerra-se definitivamente o


processo.

Em caso de um sujeito que é acadêmico de medicina, ou outros cursos da área de


saúde, como enfermeiros e veterinários, há prorrogação do prazo para apresentação ao
serviço militar até o término do curso. O STF entendeu que é constitucional a obrigação
desse serviço. Esgotados todos os prazos de prorrogação, caso esse profissional não se
apresente, ele se torna insubmisso.

A insubmissão é crime permanente, ou seja, enquanto o sujeito estiver ausente, a


prescrição não corre. No caso especial de ter cessado a permanência antes dos 21 anos, a
prescrição cairá pela metade.

Ex.: se um insubmisso de 18 anos é capturado aos 20 anos, neste momento cessa a


permanência. A prescrição que era de 4 anos cai para 2 anos.

4.4. Prescrição no crime de deserção


Nos termos do artigo 132 do Código Penal Militar, “no crime de deserção, embora
decorrido o prazo da prescrição, esta só extingue a punibilidade quando o desertor atinge a
idade de quarenta e cinco anos, e, se oficial, a de sessenta”.

Essa regra especial para a prescrição no crime de deserção somente se aplica ao


trânsfuga (desertor não capturado).

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Processo Penal Militar
207.05
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada
pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na
jurisprudência dos Tribunais.

Prescrição no caso de deserção

Art. 132. No crime de deserção, embora decorrido o prazo da prescrição, esta só


extingue a punibilidade quando o desertor atinge a idade de quarenta e cinco anos, e, se
oficial, a de sessenta.

O crime de deserção é permanente, ou seja, enquanto o desertor não é capturado ou


não se apresenta a deserção não cessa. Essa é a posição majoritária dos Tribunais Superiores
e da doutrina.

A posição minoritária defende que este seria um crime instantâneo de efeitos


permanentes. O professor acredita que a redação do art. 132, CPM só faz sentido se adotada
a posição minoritária, pois consumada a deserção essa é a data do fato, correndo a
prescrição.

Se o agente não foi capturado, aos 45 anos, é extinta a punibilidade para a Praça.
Nesse caso, também não se inicia o processo vez que é necessária a reinclusão ao serviço.
Na Praça estável é a reversão, ficando agregado (no limbo) e quando se apresenta é
revertido ao serviço. A Praça sem estabilidade é excluída do serviço com a deserção e
quando ela é recaptura ou apresentada, faz o exame e é reincluída, que nesse caso também
é condição de procedibilidade.

O procedimento de deserção de Praças não é iniciado sem a presença do desertor,


extinguindo a punibilidade aos 45 anos.

Para o Oficial desertor, a extinção da punibilidade só ocorre aos 60 anos.

A pena de deserção é 6 meses a 2 anos, não levando obrigatoriamente à perda de


posto e patente.

A prescrição para a deserção, exceto no caso do trânsfuga, ou seja, para o presente, é


de 4 anos (pena máxima de 2 anos). Se é condenado a pena inferior a 1 anos, a prescrição
será de 2 anos.

Importante!

Ex.: Caso um soldado fuzileiro naval seja desertor, se ausentando do quartel por mais
de 8 dias, mas depois se apresenta, passa pelo exame e é reincluído no serviço. Suponha-se
que ele tinha na época 19 anos e ao se reapresentar responde por deserção e é reincluído.

Como ele era menor de 21 anos, a prescrição que era de 4 anos cai para 2 anos (art.
129, CPM).

Redução

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Processo Penal Militar
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O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada
pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na
jurisprudência dos Tribunais.

Art. 129. São reduzidos de metade os prazos da prescrição, quando o criminoso era,
ao tempo do crime, menor de vinte e um anos ou maior de setenta.

No entanto, o agente comete uma segunda deserção e nunca mais é encontrado.


Para a segunda deserção, ele é considerado um trânsfuga e por ser soldado, a extinção da
punibilidade só ocorrerá quando ele completar 45 anos (art. 132, CPM).

Para a primeira deserção, o prazo prescricional é de 2 anos. A segunda deserção não


interfere no prazo prescricional da primeira deserção porque não há expressa previsão legal.
Não há previsão legal de marco interruptivo da prescrição por uma nova deserção.

Questão semelhante foi julgada pelo STF no informativo nº 652:

Ementa: HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL MILITAR. CRIME DE DESERÇÃO.


REINCORPORAÇÃO AO SERVIÇO MILITAR. SUPERVENIÊNCIA DE NOVA DESERÇÃO.
PRESCRIÇÃO DO PRIMEIRO DELITO. INAPLICABILIDADE DA REGRA DO ART. 132 DO
CÓDIGO PENAL MILITAR. ORDEM CONCEDIDA. 1. É firme a orientação jurisprudencial do
Supremo Tribunal Federal no sentido de que a prática de novo crime de deserção não
interfere no cômputo do delito militar antecedente. À falta de previsão legal, a
superveniência de um segundo delito de deserção não é de ser tratada como causa de
suspensão ou mesmo de interrupção do lapso prescricional. 2. Ordem concedida, para
restabelecer a decisão da 2ª Auditoria da 1ª Circunscrição Judiciária Militar, que
declarou extinta a punibilidade do paciente, pela ocorrência da prescrição da pretensão
punitiva, nos exatos termos do inciso IV do art. 123, c/c o inciso VI do art. 125, ambos do
Código Penal Militar.

(HC 102008, Relator(a): Min. AYRES BRITTO, Segunda Turma, julgado em 13/12/2011,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-033 DIVULG 14-02-2012 PUBLIC 15-02-2012)

A jurisprudência está firme neste entendimento.

DPU – 2004 (CESPE)

Se um oficial da Aeronáutica desertasse aos 25 anos de idade e fosse capturado 25


anos depois, a ação penal já se encontraria prescrita em abstrato, pois o crime de deserção
possui pena máxima de 2 anos.

Resposta: Errada. Oficial somente aos 60 anos.

25

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