A necessidade de compreender como funcionam os processos de
territorialização e simultaneamente desterritorialização é objeto de pesquisa de muitos autores. Neste texto será destacada a utilização da palavra território relacionadas ao conceito de poder, nele serão abordadas as várias correntes filosóficas que discutem sobre a existência do poder e suas implicações na sociedade e no espaço. Existe a necessidade de desconstruir o conceito de território como se vê: ideologicamente relacionado ao conceito de espaço geográfico. Serão feitas reconsiderações a respeito de tal afirmação. O artigo possui base em um livro que tem por título “Os conceitos fundamentais da pesquisa sócio-espacial” do geógrafo Marcelo Lopes de Souza, principalmente com as questões abordadas no capítulo quatro: “território e (des) territorialização”. Tal discussão tem campo dentro da Geografia: pois o conceito de território é muitas vezes utilizado de maneira ideológica, faltando assim com a real compreensão da utilização do conceito. O objetivo do artigo é se utilizar do estudo do Marcelo Lopes para compreender tais relações sociais e dinâmicas.
TERRITÓRIO E PODER.
Território é uma palavra usada de maneiras diversas e coerentes.
Por ser relacionado ao espaço e seu estudo, a geografia se utiliza de forma expansiva desse conceito. Território possui significados diferentes e dentro de áreas diferentes pode ser visto de inúmeras formas, de tal modo, com o passar dos anos, este termo foi considerado genérico por muitos cientistas. O autor critica essa postura tanto de geógrafos como cientistas políticos em transformarem tal termo em uma palavra genérica. O espaço geográfico pode ser um dos variados sinônimos que se encontra dentro da geografia (por vezes fora dela) para palavra território. O que seria esse espaço geográfico? A determinante seriam as relações de poder expressas. Um espaço geográfico tem inicio e fim ao considerar o poder que se exerce sobre tal território e deste modo é definido. Muito se é utilizado o conceito “território nação” que é expresso exatamente por essa lógica de relações de poder e dominação. Marcelo Lopes de Souza afirma dentro de sua pesquisa que esta resposta pode servir como uma aproximação, mas de modo algum é completa em si mesmo (SOUZA, 2011). Este discurso a respeito de território pode ser considerado um discurso de fim político, pois reitera os conflitos por espaço que cercam a humanidade desde seus tempos mais remotos. O discurso político atrai uma questão já aqui exposta, no entanto ainda sem detalhes, que é o conceito de poder. Poder possui uma ligação firme com território, que será necessário explicar e esmiuçar as características conceituais para por fim relacionar ao entendimento de território. Para se falar sobre a conceituação de poder é necessário realizar algumas leituras, pois este tema já foi muito abordado, tanto dentro da geografia como dentro da ciência política. O texto utilizado como base deste artigo traz outro texto, a qual não pode deixar de ser analisado. Tal texto, escrito pelo cientista político Günther Maluschke demonstra a forma que as teorias relacionam o conceito de poder, dominação violência, autoridade e competência. Mas será o poder relacionado sempre a violência? Segundo Hannah Arendt, relacionar esses termos em variadas circunstâncias pode ser considerado um erro, ou seja, uma confusão porque parte de um principio que o poder pode ser mantido sem utilização. O que para a autora, não é verdade, o poder ele é em si mesmo. O poder existe em prática e não em discurso. O poder é diferente da força e não necessita ser rechaçado, pois não se baseia em coerção e repressão – mas sim entendimento de ambos os lados. Os anarquistas pelo contrário sempre utilizou o termo como negatividade, pois o relaciona diretamente ao estado. No entanto, o poder não tem necessidade de ser a prática do estado, muito pelo contrario, poder pode ser exercido em determinados campos de conhecimento e prática. O poder era demonizado por ser relacionada de forma ampla ao estado, a força, a repressão. O poder não poderia ser visto como instrumento útil e de grande eficiência? Esta pergunta é de grande valor dentro desse estudo. Michael Focault compreende ainda que existe uma diferença entre poder e poder estatal. É importante saber que apesar dessa visão limitada, Focault ainda foi criticado pelo filósofo Cornelius Castoradius – ele diz que além da ambivalência do poder, existe um grau de necessidade. Uma sociedade sem poder é uma sociedade “incoerente”. O poder poderia ser visto portanto como autônomo – uma linha assimétrica de dominação de pessoas sobre pessoas. A autonomia do poder pode se cumprir em uma situação em que todos os membros possuem igualdade fundamentada no processo de decisão, definindo regras para organização de um espaço, como a elaboração de uma regra de punição para transgressores, sendo assim a autonomia do poder estaria sendo exercida. Todos os indivíduos trabalhando juntos em um determinado espaço – seja uma casa ou um centro de trabalho - estão exercendo poder. De tal modo existem regras e punições a quem as transgredir. As regras podem virar um tabu, de modo a se ter um poder heterônomo – e não uma ausência de poder. É de fato característico que os locais possuem afirmações da existência do poder – o poder está em existência, independe da necessidade física de um líder, mas sim compreende a existência de inúmeras pessoas. Hanna Arendt ao mencionar o estado puro: fala sobre o estado a qual o dialogo é a fonte da resolução. Arendt afirma ainda que o diálogo não exclui totalmente a mentira, a falta de sinceridade e a mistificação, pois a sociedade que nos é mostrada não é uma sociedade autônoma.. O que pode se chamar de autonomia – a compreender que existe uma falsa percepção de que se pode renunciar a violência. O que se conclui é que o poder autônomo a violência só deve ser levado em consideração em ultimo caso. Foi de extrema necessidade tratar do conceito de poder, pois agora será retratado do conceito de território. Souza explica que o espaço e poder em sua conjunção são o que definirá conceito de território. Ele também reproduz que quem domina está sob controle do espaço. Segundo Souza, governo não é necessariamente um governo estatal. Todo espaço delibera sobre regras e condutas que convém em determinadas circunstâncias. Os espaços informais também são objetos de governo e dominação o que confirma a idéia de que governos estão formados em relação ao espaço, e que independe de um território formalmente criado para existir. Outro quesito importante é ter a capacidade de entender que quando se trata do poder heterônomo e a sua relação de dominação, não tem necessariamente a ligação com a violência, mesmo que estejam sempre em boa parte perceptíveis dentro dessa dinâmica. Seja em espaço democrático ou não, observa-se a necessidade do consentimento no exercício do poder. A violência é utilizada como manutenção em determinados fatores, no entanto é preciso que se observe, que sempre existirá o consentimento.
TERRITÓRIO E O ESPAÇO GEOGRÁFICO
Percebe-se então que o conceito de território só existe com o
conceito de poder, mas não é apenas isto. O contrário também ocorre, mas não é tão perceptível. O poder só é validado quando ocorre dentro de certos limites espaciais, por isso, a espacialidade tem tanta influência e importância. Mesmo que não seja completamente explicito, a existência do poder delimita certa área. Mesmo quando se trata de dominação a distância por meio de tecnologias, se observa a ligação com um espaço. Observar esse fato é importante para compreender a ligação entre território e poder, em relação as dinâmicas relevantemente percebidas. Souza levanta uma questão sobre a territorialização, “Porque razões se deseja territorializar um espaço e manter controle sobre eles?” (SOUZA, 2011), ele aponta várias possibilidades de motivações, dentre elas, aponta o espaço material, e também possível significados culturais vinculados ao espaço. Traduzindo assim que o poder é quem define o território e que o conceito de território é político e não econômico. Define-se então território:
“Mais uma vez o que “define” o território é em primeiríssimo lugar, o poder.
Ou em outras palavras o que determina o “perfil” do conceito é a dimensão política das relações sociais compreendendo essa dimensão no sentido amplo de o político e não no sentido de a política. Isto não quer dizer que a cultura ou economia não estejam contemplados ao se lidar com o conceito de teritório”. (SOUZA, 2014).
O território, portanto existe uma forca a mantê-lo: não se fala do
substrato material. Mas sim de território que não é objeto possível de se ter em mãos, ou seja, ser palpável. O território é um ciclo abstrato e existe perante a existência das relações sociais. O território é o que verdadeiramente projeta as relações sociais e abastem as relações de poder e espacialidade. A cultura se torna um fator de extrema importância – os motivos que podem vir a tona para se defender um território podem estar ligados a cultura ou a fatores econômicos. Por isso se afirma: “A conexão estabelecida entre os pólos de força que tem os territórios de um lado e a materialidade de outro, é tão transparente de que se em uma possível desvinculação entre eles seria tolice.” (Souza, 2014). Os autores transformaram a palavra território em sinônimo de materialidade. Começou-se então a materializar e confundir substrato espacial com território, o que se promove um erro e reitera ideologias. É necessário entender que a territorialidade pode sofrer mudanças sem existir mudança no substrato. De tal modo, foi assim que começou a se utilizar território como sinônimo de espaço geográfico dando espaço para criações ideológicas, como já ditas anteriormente. Em determinado momento, o território se torna o próprio substrato espacial com sua geografia ampla de florestas e rios e entende-se que se torna histórico esta forma de uso da palavra. Friedrich Ratzel foi um dos objetos de critica de Marcelo Souza, ele é um dos autores clássicos que claramente tratam dessa “objetificação” com o termo território. Ele relaciona diretamente a palavra território a solo, o que deixa claro essa dinâmica.
ESPAÇO GEOGRÁFICO E ESPAÇO SOCIAL
Levando em consideração todas as notas compreendidas por meio
do trabalho de Marcelo Souza: fica aqui a questão de expressão máxima: O que é espaço geográfico e o que é espaço social? Reitera-se a dinâmica da aproximação. Espaço geográfico, portanto, seria o substrato social enquanto o espaço social seria minimamente relacionado ao território que busca as relações de poder dentro de determinado espaço e assim forma um território. Se for apenas considerar essas relações de poder, seria mais uma contribuição para o território ser identificado como um pedaço de terra visível e palpável. É necessário então completar essa afirmação. De qual modo? O que pretende ser deixado explicito é compreensão de que território é sim uma manifestação do espaço, no entanto as relações sociais de dominação e poder expressam esse espaço mas não sobrevivem dele, pois fazem parte de uma dinâmica não somente física mas abstrata. Considerando assim ainda este substrato espacial. Entende se que os territórios são formados por linhas invisíveis que determina certas relações de poder, portanto, estas linhas não podem ser mudadas sem que se mude o substrato espacial? Por exemplo, se o Rio Grande do Sul consegue se separar do Brasil, criando assim um país à parte, sua parte material seria mudada ou apenas suas formas de relações? De fato é perceptível que o substrato material não mudaria. O espaço natural e das terras do Rio Grande do Sul permaneceriam os mesmos, porém o que mudaria seriam as relações sociais que ali são expressas e as dominações que se criam. Enquanto se propõe descoisificar o território, termo utilizado por Souza em seu texto, é necessário observar que não se retira a importância da materialidade do espaço, apenas não a propõe como centro principal da discussão. O espaço é formado por milhares de preponderâncias. Tais preponderâncias recorrem a fatores culturais, se for correr o espaço tempo da história e tentar entender os motivos da formação de território se observarão: fatores culturais que permeiam os acontecimentos, relações sociais ligadas a principio de dominação e dominados, fatores econômicos, entre outros. Assim ocorre os processos de territorialização e muitas vezes de desterritorialização, que pode ocorrer de maneira traumática. Muitas vezes, a geografia deixa de usar o conceito território no abranger da vida quando assim o poderia ser feito. O conceito pode ser usado na vida social para compreender questões remotas. Assim pode-se dizer de dinâmicas sociais como ativismos e causas sociais, percebe-se que entende dentro das práticas a existência dos processos espaciais. As praticas sociais recorrem a territorialização. Percebe-se também a instabilidade mediante a violência do estado. Assim entende-se como funciona relações de poder e denominação em relação as práticas espaciais. Assim se cria uma reestruturação do espaço, se compreende e traz as pessoas de diferentes lugares para o mesmo território. O autor chama de artesanato territorial.
CONCLUSÃO
A discussão aqui exposta teve por objetivo inicial uma questão:
conceituar território e poder, para assim fazer uma ligação dos dois. Essa discussão é importante dentro da Geografia e dentro das Ciências Sociais. Max Weber já trazia esse assunto ao dizer que as dominações são feitas por minorias de uma forma a uma impor seu ponto de vista sobre outra. Ao trazer o conceito de poder, foi necessário entender que este termo não é só usado para tratar questões relativas ao estado ou a violência. Não se trata de violência, mas sim de relações sociais dinamizadas em uma relação dominante e dominado. O território por sua vez, seria entendido como não só um substrato social, mas sim as relações de poder observadas dentro dele. Nós tentamos compreender que utilizar do conceito de território apenas como substrato material é um erro ideológico. Não obstante, seria também um erro tirar todas as considerações de materialização do termo. A discussão foi finalizada com uma análise a respeito destes dois termos, suas ligação. Observar que as relações mudam e não o substrato material. Ocorre então uma percepção da dinâmica de espaço, e entender a reestruturação dos espaços. O texto então finaliza ao concluir a afirmação e construir uma narrativa sobre território em contexto social e tratar de sua territorialização e destorrialização. BIBLIOGRAFIA
SOUZA, Marcelo Lopes de. Os conceitos fundamentais da pesquisa
sócio espacial. In:Território e (des)territorialização. Cap 4. 2014.