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GABRIELA CANDAL

GEOGRAFIA HUMANA E ECONÔMICA III


PROFESSOR: WALTER CARMO

ARTIGO: Sobre o conceito de território

NITERÓI, RJ
2019
INTRODUÇÃO.

A necessidade de compreender como funcionam os processos de


territorialização e simultaneamente desterritorialização é objeto de pesquisa de
muitos autores. Neste texto será destacada a utilização da palavra território
relacionadas ao conceito de poder, nele serão abordadas as várias correntes
filosóficas que discutem sobre a existência do poder e suas implicações na
sociedade e no espaço.
Existe a necessidade de desconstruir o conceito de território como
se vê: ideologicamente relacionado ao conceito de espaço geográfico. Serão feitas
reconsiderações a respeito de tal afirmação.
O artigo possui base em um livro que tem por título “Os conceitos
fundamentais da pesquisa sócio-espacial” do geógrafo Marcelo Lopes de Souza,
principalmente com as questões abordadas no capítulo quatro: “território e (des)
territorialização”.
Tal discussão tem campo dentro da Geografia: pois o conceito de
território é muitas vezes utilizado de maneira ideológica, faltando assim com a real
compreensão da utilização do conceito.
O objetivo do artigo é se utilizar do estudo do Marcelo Lopes para
compreender tais relações sociais e dinâmicas.

TERRITÓRIO E PODER.

Território é uma palavra usada de maneiras diversas e coerentes.


Por ser relacionado ao espaço e seu estudo, a geografia se utiliza de forma
expansiva desse conceito. Território possui significados diferentes e dentro de áreas
diferentes pode ser visto de inúmeras formas, de tal modo, com o passar dos anos,
este termo foi considerado genérico por muitos cientistas. O autor critica essa
postura tanto de geógrafos como cientistas políticos em transformarem tal termo em
uma palavra genérica.
O espaço geográfico pode ser um dos variados sinônimos que se
encontra dentro da geografia (por vezes fora dela) para palavra território. O que
seria esse espaço geográfico? A determinante seriam as relações de poder
expressas. Um espaço geográfico tem inicio e fim ao considerar o poder que se
exerce sobre tal território e deste modo é definido.
Muito se é utilizado o conceito “território nação” que é expresso
exatamente por essa lógica de relações de poder e dominação. Marcelo Lopes de
Souza afirma dentro de sua pesquisa que esta resposta pode servir como uma
aproximação, mas de modo algum é completa em si mesmo (SOUZA, 2011). Este
discurso a respeito de território pode ser considerado um discurso de fim político,
pois reitera os conflitos por espaço que cercam a humanidade desde seus tempos
mais remotos.
O discurso político atrai uma questão já aqui exposta, no entanto
ainda sem detalhes, que é o conceito de poder. Poder possui uma ligação firme com
território, que será necessário explicar e esmiuçar as características conceituais para
por fim relacionar ao entendimento de território.
Para se falar sobre a conceituação de poder é necessário realizar
algumas leituras, pois este tema já foi muito abordado, tanto dentro da geografia
como dentro da ciência política. O texto utilizado como base deste artigo traz outro
texto, a qual não pode deixar de ser analisado. Tal texto, escrito pelo cientista
político Günther Maluschke demonstra a forma que as teorias relacionam o conceito
de poder, dominação violência, autoridade e competência.
Mas será o poder relacionado sempre a violência?
Segundo Hannah Arendt, relacionar esses termos em variadas
circunstâncias pode ser considerado um erro, ou seja, uma confusão porque parte
de um principio que o poder pode ser mantido sem utilização. O que para a autora,
não é verdade, o poder ele é em si mesmo. O poder existe em prática e não em
discurso.
O poder é diferente da força e não necessita ser rechaçado, pois
não se baseia em coerção e repressão – mas sim entendimento de ambos os lados.
Os anarquistas pelo contrário sempre utilizou o termo como negatividade, pois o
relaciona diretamente ao estado.
No entanto, o poder não tem necessidade de ser a prática do
estado, muito pelo contrario, poder pode ser exercido em determinados campos de
conhecimento e prática. O poder era demonizado por ser relacionada de forma
ampla ao estado, a força, a repressão. O poder não poderia ser visto como
instrumento útil e de grande eficiência? Esta pergunta é de grande valor dentro
desse estudo.
Michael Focault compreende ainda que existe uma diferença entre
poder e poder estatal. É importante saber que apesar dessa visão limitada, Focault
ainda foi criticado pelo filósofo Cornelius Castoradius – ele diz que além da
ambivalência do poder, existe um grau de necessidade. Uma sociedade sem poder
é uma sociedade “incoerente”. O poder poderia ser visto portanto como autônomo –
uma linha assimétrica de dominação de pessoas sobre pessoas.
A autonomia do poder pode se cumprir em uma situação em que
todos os membros possuem igualdade fundamentada no processo de decisão,
definindo regras para organização de um espaço, como a elaboração de uma regra
de punição para transgressores, sendo assim a autonomia do poder estaria sendo
exercida.
Todos os indivíduos trabalhando juntos em um determinado espaço
– seja uma casa ou um centro de trabalho - estão exercendo poder. De tal modo
existem regras e punições a quem as transgredir. As regras podem virar um tabu,
de modo a se ter um poder heterônomo – e não uma ausência de poder.
É de fato característico que os locais possuem afirmações da
existência do poder – o poder está em existência, independe da necessidade física
de um líder, mas sim compreende a existência de inúmeras pessoas.
Hanna Arendt ao mencionar o estado puro: fala sobre o estado a
qual o dialogo é a fonte da resolução. Arendt afirma ainda que o diálogo não exclui
totalmente a mentira, a falta de sinceridade e a mistificação, pois a sociedade que
nos é mostrada não é uma sociedade autônoma.. O que pode se chamar de
autonomia – a compreender que existe uma falsa percepção de que se pode
renunciar a violência. O que se conclui é que o poder autônomo a violência só deve
ser levado em consideração em ultimo caso.
Foi de extrema necessidade tratar do conceito de poder, pois agora
será retratado do conceito de território. Souza explica que o espaço e poder em sua
conjunção são o que definirá conceito de território. Ele também reproduz que quem
domina está sob controle do espaço.
Segundo Souza, governo não é necessariamente um governo
estatal. Todo espaço delibera sobre regras e condutas que convém em
determinadas circunstâncias. Os espaços informais também são objetos de governo
e dominação o que confirma a idéia de que governos estão formados em relação ao
espaço, e que independe de um território formalmente criado para existir. Outro
quesito importante é ter a capacidade de entender que quando se trata do poder
heterônomo e a sua relação de dominação, não tem necessariamente a ligação com
a violência, mesmo que estejam sempre em boa parte perceptíveis dentro dessa
dinâmica.
Seja em espaço democrático ou não, observa-se a necessidade do
consentimento no exercício do poder. A violência é utilizada como manutenção em
determinados fatores, no entanto é preciso que se observe, que sempre existirá o
consentimento.

TERRITÓRIO E O ESPAÇO GEOGRÁFICO

Percebe-se então que o conceito de território só existe com o


conceito de poder, mas não é apenas isto. O contrário também ocorre, mas não é
tão perceptível. O poder só é validado quando ocorre dentro de certos limites
espaciais, por isso, a espacialidade tem tanta influência e importância. Mesmo que
não seja completamente explicito, a existência do poder delimita certa área. Mesmo
quando se trata de dominação a distância por meio de tecnologias, se observa a
ligação com um espaço. Observar esse fato é importante para compreender a
ligação entre território e poder, em relação as dinâmicas relevantemente percebidas.
Souza levanta uma questão sobre a territorialização, “Porque razões
se deseja territorializar um espaço e manter controle sobre eles?” (SOUZA, 2011),
ele aponta várias possibilidades de motivações, dentre elas, aponta o espaço
material, e também possível significados culturais vinculados ao espaço. Traduzindo
assim que o poder é quem define o território e que o conceito de território é político e
não econômico.
Define-se então território:

“Mais uma vez o que “define” o território é em primeiríssimo lugar, o poder.


Ou em outras palavras o que determina o “perfil” do conceito é a dimensão
política das relações sociais compreendendo essa dimensão no sentido
amplo de o político e não no sentido de a política. Isto não quer dizer que a
cultura ou economia não estejam contemplados ao se lidar com o conceito
de teritório”. (SOUZA, 2014).

O território, portanto existe uma forca a mantê-lo: não se fala do


substrato material. Mas sim de território que não é objeto possível de se ter em
mãos, ou seja, ser palpável. O território é um ciclo abstrato e existe perante a
existência das relações sociais. O território é o que verdadeiramente projeta as
relações sociais e abastem as relações de poder e espacialidade.
A cultura se torna um fator de extrema importância – os motivos que
podem vir a tona para se defender um território podem estar ligados a cultura ou a
fatores econômicos. Por isso se afirma: “A conexão estabelecida entre os pólos de
força que tem os territórios de um lado e a materialidade de outro, é tão transparente
de que se em uma possível desvinculação entre eles seria tolice.” (Souza, 2014).
Os autores transformaram a palavra território em sinônimo de
materialidade. Começou-se então a materializar e confundir substrato espacial com
território, o que se promove um erro e reitera ideologias. É necessário entender que
a territorialidade pode sofrer mudanças sem existir mudança no substrato.
De tal modo, foi assim que começou a se utilizar território como
sinônimo de espaço geográfico dando espaço para criações ideológicas, como já
ditas anteriormente. Em determinado momento, o território se torna o próprio
substrato espacial com sua geografia ampla de florestas e rios e entende-se que se
torna histórico esta forma de uso da palavra.
Friedrich Ratzel foi um dos objetos de critica de Marcelo Souza, ele
é um dos autores clássicos que claramente tratam dessa “objetificação” com o termo
território. Ele relaciona diretamente a palavra território a solo, o que deixa claro essa
dinâmica.

ESPAÇO GEOGRÁFICO E ESPAÇO SOCIAL

Levando em consideração todas as notas compreendidas por meio


do trabalho de Marcelo Souza: fica aqui a questão de expressão máxima:
O que é espaço geográfico e o que é espaço social?
Reitera-se a dinâmica da aproximação.
Espaço geográfico, portanto, seria o substrato social enquanto o
espaço social seria minimamente relacionado ao território que busca as relações de
poder dentro de determinado espaço e assim forma um território.
Se for apenas considerar essas relações de poder, seria mais uma
contribuição para o território ser identificado como um pedaço de terra visível e
palpável. É necessário então completar essa afirmação.
De qual modo?
O que pretende ser deixado explicito é compreensão de que
território é sim uma manifestação do espaço, no entanto as relações sociais de
dominação e poder expressam esse espaço mas não sobrevivem dele, pois fazem
parte de uma dinâmica não somente física mas abstrata. Considerando assim ainda
este substrato espacial.
Entende se que os territórios são formados por linhas invisíveis que
determina certas relações de poder, portanto, estas linhas não podem ser mudadas
sem que se mude o substrato espacial?
Por exemplo, se o Rio Grande do Sul consegue se separar do Brasil,
criando assim um país à parte, sua parte material seria mudada ou apenas suas
formas de relações? De fato é perceptível que o substrato material não mudaria. O
espaço natural e das terras do Rio Grande do Sul permaneceriam os mesmos,
porém o que mudaria seriam as relações sociais que ali são expressas e as
dominações que se criam.
Enquanto se propõe descoisificar o território, termo utilizado por
Souza em seu texto, é necessário observar que não se retira a importância da
materialidade do espaço, apenas não a propõe como centro principal da discussão.
O espaço é formado por milhares de preponderâncias.
Tais preponderâncias recorrem a fatores culturais, se for correr o
espaço tempo da história e tentar entender os motivos da formação de território se
observarão: fatores culturais que permeiam os acontecimentos, relações sociais
ligadas a principio de dominação e dominados, fatores econômicos, entre outros.
Assim ocorre os processos de territorialização e muitas vezes de desterritorialização,
que pode ocorrer de maneira traumática.
Muitas vezes, a geografia deixa de usar o conceito território no
abranger da vida quando assim o poderia ser feito. O conceito pode ser usado na
vida social para compreender questões remotas.
Assim pode-se dizer de dinâmicas sociais como ativismos e causas
sociais, percebe-se que entende dentro das práticas a existência dos processos
espaciais. As praticas sociais recorrem a territorialização. Percebe-se também a
instabilidade mediante a violência do estado.
Assim entende-se como funciona relações de poder e denominação
em relação as práticas espaciais. Assim se cria uma reestruturação do espaço, se
compreende e traz as pessoas de diferentes lugares para o mesmo território.
O autor chama de artesanato territorial.

CONCLUSÃO

A discussão aqui exposta teve por objetivo inicial uma questão:


conceituar território e poder, para assim fazer uma ligação dos dois. Essa discussão
é importante dentro da Geografia e dentro das Ciências Sociais. Max Weber já trazia
esse assunto ao dizer que as dominações são feitas por minorias de uma forma a
uma impor seu ponto de vista sobre outra.
Ao trazer o conceito de poder, foi necessário entender que este
termo não é só usado para tratar questões relativas ao estado ou a violência. Não se
trata de violência, mas sim de relações sociais dinamizadas em uma relação
dominante e dominado.
O território por sua vez, seria entendido como não só um substrato
social, mas sim as relações de poder observadas dentro dele.
Nós tentamos compreender que utilizar do conceito de território
apenas como substrato material é um erro ideológico. Não obstante, seria também
um erro tirar todas as considerações de materialização do termo.
A discussão foi finalizada com uma análise a respeito destes dois
termos, suas ligação. Observar que as relações mudam e não o substrato material.
Ocorre então uma percepção da dinâmica de espaço, e entender a
reestruturação dos espaços.
O texto então finaliza ao concluir a afirmação e construir uma
narrativa sobre território em contexto social e tratar de sua territorialização e
destorrialização.
BIBLIOGRAFIA

SOUZA, Marcelo Lopes de. Os conceitos fundamentais da pesquisa


sócio espacial. In:Território e (des)territorialização. Cap 4. 2014.

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