Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo
Aluna: Carla
Disciplina: AUH 236 - Estudos de Urbanização I
Prof.ª: Flávia Brito do Nascimento
Texto: CLÍMACO, Joana. A Alexandria dos antigos: entre a polêmica e o
encantamento. Tese (Doutorado), DH- FFLCH-USP, 2013. Capítulo 1, pp. 10-46. Joana Campos Clímaco possui bacharelado e licenciatura em História pela Universidade de Brasília, mestrado em História Social pela Universidade de São Paulo e doutorado na mesma instituição. Participa do Laboratório de Estudos do Império Romano - LEIR, núcleo regional USP (LEIR-MA). Tem experiência de pesquisa e ensino na área de História, com ênfase em História Antiga. Alexandria foi uma grande metrópole da Antiguidade, sendo fundada por Alexandre, o Grande, no delta do rio Nilo. Sua história foi registrada através dos tempos por diversos autores, o que resultou em uma grande variedade de perspectivas sobre a cidade. No entanto, é fato que naquele tempo, a taxa de letramento era muito baixa, e, portanto, as histórias registradas eram feitas por uma elite para uma elite. Alexandria tornou-se a maior cidade do período helenístico, mesmo após Alexandre. Sob a dinastia Ptolomaica, a cidade se desenvolveu rapidamente, tornando-se um importante centro econômico e cultural na região do Mediterrâneo. Em termos de população, em seu auge, Alexandria possuía cerca de quinhentos mil habitantes, ficando apenas atrás de Roma, que possuía um milhão. O sucesso da cidade deve-se a diversos fatores, principalmente os geográficos. Sua localização geográfica, entre o Mar Mediterrâneo e o Lago Mareótis, tinha um acesso ao rio Nilo. Assim, esse local se mostrava favorável por ser próximo ao Egito, país fornecedor de riquezas, mas também por ser na sua extremidade, o que traria um distanciamento cultural desse povo, além de estrategicamente barrar invasões. A partir dessas informações, especula-se que Alexandre tenha apreendido de Aristóteles, seu professor, as características ideais para uma boa estrutura urbana. O império conquistado por Alexandre demandava uma capital grega para o Egito, já que este agora estava sob seu domínio. Assim, a cidade seria uma forma de atestar a hegemonia grega e ao mesmo tempo forçar uma abertura econômica e cultural egípcia. Nesse contexto, Alexandria em muito se assemelhava à Atenas, pois a instituições ali criadas foram transplantadas para a nova cidade. Uma diferença, porém, se encontrava no traçado urbano, composto por ruas paralelas e perpendiculares, afim de facilitar a movimentação do seu cotidiano. No entanto, a cultura grega não foi hegemônica em Alexandria, pois há diversos indícios de forte presença cultural não grega na cidade. Isso contraria, por exemplo, muitas vertentes de pesquisadores que afirmavam não haver quase nenhum resquício do Egito em sua história. As influências dos egípcios e de tantos outros povos transformaram a cidade num centro cosmopolita, que acabou por desenvolver uma originalidade cultural transcendente à síntese entre gregos e egípcios. Apesar da forte herança grega, como dito acima, Alexandria desenvolveu suas próprias características e tradições. Por esse motivo, tornou-se um polo de atração para eruditos e curiosos, que buscavam entender esse novo lugar. Nesse sentido, a Biblioteca e o Museu de Alexandria foram uma forte presença. Apesar de serem locais de supremacia da cultura grega, eles contribuíram para o desenvolvimento da cidade ao atrair estudiosos que ali aperfeiçoavam seus conhecimentos e tornavam a metrópole um centro de especialistas dos mais variados assuntos. Muitas vezes, esses estudiosos posteriormente saíam de Alexandria, indo a outros lugares para ensinar. Essa prática formou uma espécie de “integração das elites” no Mediterrâneo, além de promover a perpetuação de antigos escritos gregos através do tempo. O esplendor de Alexandria entrou em declínio a partir de problemas dinásticos e crises na realeza, o que acabou por interromper o patrocínio cultural na cidade. Assim, os estudiosos começaram a sair dela em busca de outros núcleos culturais. Assim, a cidade que era nova e não possuía tradição consolidada, passou a fabricar uma identidade predominantemente grega, que traria mais prestigio à sua história. No entanto, as características gregas não foram completamente absorvidas, visto que em Alexandria não se abordava temas filosóficos profundos acerca de questões cívicas ou polêmicas. O saber ali acumulado voltava-se principalmente ao divertimento e descontração e por esse motivo configurava-se como outro tipo de helenismo. A partir dessas informações, Alexandria pode ser vista como uma metrópole produzida pelo mundo grego, mas que ao longo de sua história, desenvolveu uma originalidade em todos os aspectos da sua configuração urbana. Por ser um espaço de confluência de diversos povos, tornou-se um centro cosmopolita de desenvolvimento do saber e da arte, sendo responsável por influenciar a cultura e a economia toda a região do Mediterrâneo durante muitos séculos.