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Os Números Complexos
Notas de aula de IM442 - Variáveis Complexas
Disponı́vel no quiosque em 05/03/2016
1 Apresentação 4
2 Os Números Complexos 6
2.1 História dos números complexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.1.1 A fórmula que não é de Bhaskara . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.1.2 Como surgiram os números complexos? . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.1.3 Dedução da fórmula de Tartaglia(Cardano) . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.1.4 O problema que levou à descoberta dos Números Complexos . . . . . 10
2.2 O corpo dos números complexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.2.1 Imersão de R em C . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.2.2 Unidade imaginária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.2.3 Representação algébrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.2.4 Por que os complexos não são ordenados? . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.2.5 Representação vetorial, módulo e conjugado . . . . . . . . . . . . . . 20
2.3 Forma polar ou trigonométrica de um número complexo . . . . . . . . . . . . 23
2.3.1 Igualdade, conjugado e inverso de complexo na forma polar . . . . . . 24
2.3.2 Operações com complexos na forma polar . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.4 Geometria das operações em C . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.4.1 Soma e diferença . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.4.2 Multiplicação e divisão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.5 Raı́zes n-ésimas de números complexas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.6 Consequências importantes da teoria dos Números Complexos . . . . . . . . 31
2.7 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2
3.2.3 Séries de números complexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
3
CAPÍTULO 1
APRESENTAÇÃO
Caros estudantes.
f : C −→ C.
Algo similar já foi feito nos cursos iniciais de cálculo, quando o interesse era estudar
funções reais de uma variável real, aquelas assim definidas:
f : R −→ R.
Portanto, Variáveis Complexas é um curso de cálculo para funções complexas. Nele serão
estudadas as noções de limite, derivada e integral destas funções. Aqui as funções analı́ticas
serão o objeto de maior interesse. De modo que o objetivo da disciplina pode ser resumido em
apresentar um estudo da teoria elementar das funções analı́ticas de uma variável complexa e
algumas de suas aplicações, sem desviar a atenção para questões marginais ou muito técnicas.
Embora os números complexos sejam parte da ementa de uma outra disciplina, ainda as-
sim, serão abordados aqui. O primeiro passo será construir o corpo dos números complexos,
mas, dada a natureza mais formal da abordagem, serão vistas propriedades métricas e algu-
mas noções topológicas (convergência, continuidade, séries, etc) necessárias para o conteúdo
intrı́nseco do curso de Variáveis Complexas.
Em seguida será feita a extensão das funções elementares no campo real a funções comple-
xas usando a série de Taylor real e o teorema de Abel para séries de potências convergentes
(para assegurar a unicidade do prolongamento e a conservação das propriedades algébricas).
Será apresentada a noção de logarı́tmo de um número complexo e, por meio dele, caracteriza-
das as funções elementares. Ao tentar estender log x ou xy ao campo complexo, forçosamente
são encontradas funções ou expressões multivalentes (fato inicialmente percebido por Euler)
as quais só foram apropriadamente dominadas com a noção de superfı́cie de Riemann, o que
está fora do escopo desse curso.
Com esses elementos básicos em mente, partimos para o estudo das funções analı́ticas, as
quais podem ser caracterizadas por quatro propriedades equivalentes, a saber:
4
(1) admitir derivada complexa;
(2) satisfazer as equações de Cauchy-Riemann;
(3) admitir representação local por série de potências convergentes;
(4) admitir a existência de uma primitiva local.
A maioria das propriedades das funções analı́ticas são uma consequência imediata ou trivial
de uma dessas propriedades. O que não é trivial é a demonstração da equivalência dessas
quatro propriedades, mas essa é uma tarefa desejável, mesmo, para um primeiro curso de
Variáveis Complexas.
Embora seu real contexto seja a Topologia Algébrica, será apresentado o teorema de
Cauchy-Goursart e uma demonstração simples. E, por fim, uma maneira para calcular vários
tipos de integrais complexas usando o cálculo dos resı́duos - o Teorema dos Resı́duos.
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CAPÍTULO 2
OS NÚMEROS COMPLEXOS
Neste capı́tulo o conjunto dos números complexos será estabelecido como um corpo e um
espaço métrico completo. Também serão abordadas as noções de convergência, continuidade,
sequência e séries em C, todas necessárias para o conteúdo intrı́nseco do curso de Variáveis
Complexas.
sen (a + b) = sen (a) cos (b) + sen (b) cos (a) (2.1)
sen (a − b) = sen (a) cos (b) − sen (b) cos (a) (2.2)
foram apresentadas pela primeira vez por ele. Bhaskara obteve grande reconhecimento pelas
suas importantes contribuições para a Matemática. Em 1207, uma instituição educacional
foi criada para estudar o seu trabalho.
Os babilônicos, egı́pcios e os gregos tinham técnicas capazes de resolver equações de grau
2 muito antes de Cristo, enquanto Bhaskara viveu de 1114 a meados de 1185. Babilônicos e
egı́pcios utilizavam-se de textos e sı́mbolos em seus processos resolutivos, enquanto os gregos
6
davam um viés geométrico aos seus processos de resolução. Até cerca de 1.650, por influência
da orientação geométrica da matemática grega, as únicas raı́zes consideradas verdadeiras
eram as que correspondiam a grandezas geométricas ou fı́sicas, o que hoje chamamos de
números reais positivos.
Contudo, no século XVI, quando a resolução de uma equação da forma ax2 + bx + c = 0,
cujas raı́zes são dadas por
√ √
−b − b2 − 4ac −b + b2 − 4ac
x1 = , x2 =
2a 2a
conduzia a uma raı́z de número negativo, eles, simplesmente, diziam que a equação não tinha
raı́zes.
Não havia preocupação de buscar raı́zes complexas, pois esses números ainda não eram
conhecidos. Sequer os números negativos tinham “plena cidadania” naquela época.
ax3 + bx2 + cx + d = 0, a, b, c, d ∈ R, a 6= 0.
Fazendo a substituição
b
x=y−
3a
a equação anterior pode ser escrita na forma
y 3 + py + q = 0, p, q ∈ R. (2.3)
b2 c 2b3 bc d
p=− 2
+ e q = 3
− +
3a a 27a 3a a
Portanto, saberemos resolver qualquer equação de grau 3 se soubermos resolver equações
do tipo descrito em 2.3. Isso justifica o interesse nesse tipo particular de equação do terceiro
grau. Vamos retomar o contexto histórico.
O primeiro ator da construção dos complexos foi Scipione del Ferro. Consta que ele obteve
uma forma geral para resolver equações do tipo
x3 + px + q = 0, p, q ∈ R,
7
equações de grau 3. Para a surpresa de Fior, Tartaglia desenvolveu um método para a
resolução dessas equações e venceu todas as disputas com Fior.
Ao tomar conhecimento de que Tartaglia sabia resolver tais tipos de equações, Girolamo
Cardano implorou pela “fórmula” para resolvê-las, mas Tartaglia recusou-se e acabou sendo
acusado de mesquinho e egoı́sta. Com a insistência de Cardano e jurando que não divulgaria
o resultado, Tartaglia revelou a solução. Porém, Cardano não cumpriu com sua palavra,
quebrou todas as suas juras e promessas a Tartaglia e em 1545, em sua obra Ars Magna,
publicou a fórmula de Tartaglia como se fosse sua e não fez nenhuma menção de Tartaglia.
Até hoje a fórmula é conhecida como “Fórmula de Cardano”. Essa descoberta marca o
inı́cio da matemática moderna. Como a dedução dessa fórmula não é muito extensa nem
complicada, vamos fazê-la na próxima seção.
Cardano resolveu este problema por meio de radicais, de forma semelhante às equações
de segundo grau.
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2.1.3 Dedução da fórmula de Tartaglia(Cardano)
O problema consistia em resolver a equação
x3 + px + q = 0, p, q ∈ R
O que fez Tartaglia para resolver essa equação? A ideia dele foi decompor a raı́z dessa
equação numa soma, ou seja,
x=u+v
então
(u + v)3 + p(u + v) + q = 0,
Desenvolvendo, tem-se
Daı́ vem
u3 + v 3 + 3uv(u + v) + p(u + v) + q = 0,
E então
u3 + v 3 + (3uv + p)(u + v) + q = 0,
Presume-se que Tartaglia tenha tido a seguinte ideia: que bom seria se 3uv + p = 0, nesse
caso a equação teria solução se
3uv + p = 0 e u3 + v 3 + q = 0
À época métodos para resolver certos sistemas já eram conhecidos e talvez a ideia fosse
transformar a equação em um sistema, o que efetivamente é o caso. De fato, podemos
escrever as condições acima na forma do seguinte sistema
p
3
u3 v 3 = − p
uv = −
3 ou 27
3 3
u + v = −q
3 3
u + v = −q
Resolver esse sistema é o problema de determinar dois números conhecendo sua soma e
seu produto. Esse último sistema é um problema da mesma natureza daquele publicado por
Gardano.
Ao isolar b na segunda equação tem-se b = −q − a. Levando esse valor à primeira equação
do sistema tem-se
2 p3
a + aq − =0
27
9
As raı́zes dessa equação do segundo grau são
q
p3
−q ± q 2 + 27
r
q q 2 p 3
a= ou a = − ± +
2 2 2 3
Então, como b = −q − a
r r
q q 2 p 3 q q 2 p 3
a=− − + =⇒ b = − + +
2 2 3 2 2 3
ou r r
q q 2 p 3 q q 2 p 3
a=− + + =⇒ b = − − +
2 2 3 2 2 3
√ √3
Mas a = u3 e b = v 3 , então u = 3 a e v = b. Assim, independente do valor de a como
raiz da equação do segundo grau, o valor de
√ √
3
x=u+v = 3a+ b
será sempre o mesmo, pois a soma é comutativa e o operador sobre a e b é o mesmo. Daı́
tem-se a
Fórmula de Tartaglia publicada por Cardano
s r s r
3 q q 2 p 3 3 q q 2 p 3
x= − − + + − + +
2 2 3 2 2 3
x3 − 15x − 4 = 0
√ √
As raı́zes dessa equação são: −2 − 3, −2 + 3 e 4.
É fácil ver que 4 é uma raı́z, daı́, dividindo por (x − 4) pode-se achar as outras raı́zes.
Então
√ √
q q
3 3
x = 2 − 4 − 125 + 2 + 4 − 125
E, por fim
√ √
q q
3 3
x = 2 − −121 + 2 + −121 (2.4)
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Quando aparecia uma raı́z de número negativo na fórmula que resolve equações de grau
2 havia o conforto de dizer que aquilo indicava que não existia solução. Mas, agora essa não
era uma possibilidade, pois eram conhecidas as raı́zes da equação de grau 3. O problema era
que o processo passava pela extração de raı́z quadrada de números negativos.
Convém ressaltar que naquela época os números negativos não eram bem vistos, ainda
não gozavam de “cidadania plena”. Imagine o que dizer então de raiz quadrada de número
negativo? É de se supor que os matemáticos da época acacharam que a fórmula não prestava,
ou seja, não resolveria qualquer equação de terceito grau. Ficou evidente que os números
reais não eram suficientes para resolver equações do terceiro grau.
Cardano chamou as raı́zes quadradas de números negativos de “números sofisticados” e
os qualificou de “sutis/inúteis”, mas ele estava errado. Um discı́pulo de Cardano chamado
Rafael Bombelli, engenheiro hidráulico nascido em Bolonha, Itália, em 1530, resolveu dedicar-
se ao estudo dos números sofisticados, ou seja, números da forma
√
a + −b, a, b ∈ R
e, segundo ele mesmo, teve a “ideia louca” de operar com os números sofisticados como se
fossem reais. Certamente, depois de muito esforço observou que
√ √ √ √
(2 − −1)3 = 2 − −121 e (2 + −1)3 = 2 − −121 (2.5)
É oportuno fazer essas contas. Lembre, vamos reproduzir Bombelli, ou seja, operar com
as mesmas regras dos números reais sem maiores preocupações existenciais.
√ √ √ √
(2 + −1)3 = 23 + 3 · 22 −1 + 3 · 2( −1)2 + ( −1)3
√ √
= 8 + 12 −1 + 6(−1) + (−1) −1
√ √
= 8 + 12 −1 − 6 − −1
√
= 2 + 11 −1
√
= 2 + −121
Veja como Bombelli foi arrojado. Numa época em que os números negativos sequer eram
considerados verdadeiros números, ele ousou
√ √ √
( −1)2 = −1 e ( −1)3 = − −1
isso foi um verdadeiro ato de bravura. Tamanha coragem foi recompensada. Com esse salto
no escuro ele finalmente destravou a fórmula de seu professor. E então, levando os valores de
2.5 à equação 2.4 tem-se
√ √ √ √
q q
3 3
x = 2 − −121 + 2 + −121 = 2 − −1 + 2 + −1 = 4
Portanto, havendo coragem para encarar as raı́zes de números negativos seria possı́vel
encontrar a raiz 4.
Esse foi o marco inicial da história dos números complexos, mas a desconfiança era tanta
que foram chamados de números imaginários, e demorou mais de dois séculos para serem
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plenamente aceitos. Isso aconteceu com a estruturação dada por Euler e pelo uso dado por
Gauss.
Bombelli, em 1572, em √ sua obra L’Algebra, estabeleceu as operações algébricas básicas
com as quantidades a + b −1 e mostrou que essas operações são fechadas, ou seja, sempre
produzem números da mesma natureza.
Em seu livro Géométrie, René Descartes escreveu a seguinte frase: “Nem sempre as raı́zes
verdadeiras (positivas) ou falsas (negativas)
√ de uma equação são reais. Às vezes elas são
imaginárias”. A partir de então o número −1 passou a ser chamado de número imaginário
e manipulado de acordo com as regras dos números reais. √
Leonhard Euler criou vários sı́mbolos e foi ele que definiu a notação i = −1, em 1777.
Segundo Euler, os números complexos também podem possuir uma parte real e são do tipo:
mas essa ideia só foi aceita depois de retomada por Gauss. Euler ainda mostrou que os
números complexos são um corpo fechado.
Caspar Wessel deu representação geométrica aos números complexos. Em 1797 fez uma
correspondência entre os números complexos e os pontos do plano, mas seu trabalho só foi
publicado em 1806 por Jean Argand. Por isso, Argand leva o crédito por essa representação.
Em 1798, Carl Friedrich Gauss demonstrou em sua tese de doutorado que toda equação
algébrica de grau n(n > 0) e coeficientes complexos, tem pelo menos uma raiz complexa.
Esse é o chamado Teorema Fundamental da Álgebra. Tal teorema resolveu a questão das
soluções de equações algébricas. √
Em 1831, Gauss retomou a ideia de Wessel e pensou nos números a + b −1 como pontos
do plano cartesiano, ou seja √
a + b −1 ⇐⇒ (a, b),
e deu interpretação geométrica para a adição e multiplicação dos complexos. Isso abriu as
portas para a aceitação definitiva dos números complexos. E, para finalizar, em 1832, Gauss
introduz a expressão número complexo.
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Figura 2.4: Carl Friedrich Gauss
Em 1837 Willian Rowan Hamilton reconhece os números complexos como um par orde-
nado de números reais e reescreve as definições geométricas de Gauss na forma algébrica, e
então os números complexos estavam plenamente estabelecidos.
No século XIX, os números complexos foram difundidos e largamente utilizados em vários
ramos da ciência: Matemática, Mecânica dos Fluı́dos, Eletricidade e outros fenômenos em
meios contı́nuos.
Tartaglia Cardano Bombelli Euler Gauss
1535 1545 1572 1777 1798
Teorema fun-
Apresenta, Aluno de
damental da
como se fosse Cardano,√ con- Introduz a
Descobriu uma Álgebra. Conso-
sua, a fórmula siderou −1 e notação
√ i =
fórmula geral lida o estudo da
de Tartaglia na operou como −1, z = a + bi,
para resolver representação
sua obra Ars se fosse real parte real, parte
equações do tipo geométrica dos
e desenvolveu imaginária e
x3 + px + q = 0, Magna. Surge números com-
o impasse da regras para mostra que
com p, q ∈ R. plexos. E, em
raiz quadrada trabalhar com os complexos
Mas, não publi- 1832, Gauss
de um número números
√ do tipo são um corpo
cou sua obra. introduz a ex-
negativo. a+b −1, a, b ∈ fechado.
pressão número
R.
complexo.
1. BOYER, Carl B. História da Matemática. Trad. Elza F. Gomide. SP: Editora Edgard
Blücher Ltda, 1996.
2. GARBI, Gilberto Geraldo. O romance das equações algébricas. São Paulo: Makron
Books, 1997.
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Teorema 2.1: O conjunto
R2 = {(x, y) | x, y ∈ R}
munido das operações internas soma e produto, assim definidas
• Soma: (x, y) + (u, v) = (x + u, y + v) ∀ (x, y), (u, v) ∈ R2
• Produto: (x, y) · (u, v) = (xu − yv, xv + yu) ∀ (x, y), (u, v) ∈ R2
é um corpo.
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Comutatividade: Seja (x, y), (u, v) ∈ R2 , então
(x, −y)
Portanto, é o inverso de (x, y), qualquer que seja o par (x, y) ∈ R2 − {(0, 0)}.
x2 + y 2
Associatividade: Seja (x, y), (u, v), (s, t) ∈ R2 , então
Portanto, [(x, y) · (u, v)] · (s, t) = (x, y) · [(u, v) · (s, t)] quaisquer que sejam os elementos
de R2 , assim vale a lei associativa para o produto.
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Comutatividade: Seja (x, y), (u, v) ∈ R2 , então
(x, y) · (u, v) = (xu − yv, xv + yu) = (ux − vy, vx + uy) = (u, v) · (x, y)
Para concluir que (R2 , +, ·) é um corpo resta provar que a multiplicação é distributiva em
relação a adição. Façamos isso
Portanto, (x, y) · [(u, v) + (s, t)] = (x, y) · (u, v) + (x, y) · (s, t) assim a multiplicação é
disbributiva em relação a soma em R2 .
Definição 2.1 (números complexos): O conjunto dos Números Complexos, que indicamos
por C, é o conjunto R2 munido da soma e do produto assim definidos
Portanto
C = (R2 , +, ·).
2.2.1 Imersão de R em C
R é um conjunto numérico, C é um conjunto de pares ordenados de coordenadas reais.
Portanto, os elementos de R e C são de natureza diferente. Assim, no sentido estrito, não se
pode dizer que R ⊂ C, ou seja
R * C.
Mas, para todo x, y ∈ R
(x, 0) + (y, 0) = (x + y, 0)
(x, 0) · (y, 0) = (x · y, 0)
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isso diz que o subconjuto dos números complexos dado por
< = {(x, 0) | x ∈ R}
é preservado pela soma e multiplicação complexa. Além disso, qualquer que seja x ∈ R,
x ∈ R e (x, 0) ∈ C
ocupam o mesmo lugar do espaço, representam o mesmo lugar geométrico. O exposto, dito
de maneira formal, significa que a aplicação f : R −→ < assim definida
f (x) = (x, 0)
i2 = i·i
= (0, 1) · (0, 1)
= (0 · 0 − 1 · 1, 1 · 0 + 0 · 1)
= (−1, 0)
= −1 (aqui usando 2.6)
Portanto, √
i2 = −1 ou i = −1
Então
z = x + yi ou z = x + iy (2.7)
Considerando a forma algébrica dada em 2.7, tem-se
17
• x é a parte real do número complexo z, denotada por Re(z);
Esse teorema dá certo conforto para efetuar as operações com complexo utilizando o
conhecimento das operações elementares reais (e mostra que Bombelli não teve uma ideia
tão louca, pelo contrário).
18
As relações de maior igual ou menor igual são um disfarce, as vezes conveniente, da noção
de positivo. De fato, no conjunto dos números reais, diz-se que
Mas quando um número é maior que zero? Resposta. Quando é um número positivo. E
quando um número é positivo?
A noção de positivo está definida da seguinte forma.
Definição 2.2 (números positivos): Seja (K, ⊕, ⊗) um corpo, se existe em K uma classe
K + cujos elementos satisfazem
Fechamento: ∀x, y ∈ K + =⇒ x ⊕ y ∈ K + e x ⊗ y ∈ K+
Tricotomia: ∀x ∈ K =⇒ x ∈ K + ou x = 0 ou − x ∈ K+
Então
a > b ⇐⇒ a ⊕ b−1 ∈ K + , ∀ a, b ∈ K)
é uma relação de ordem total em K, o corpo (K, ⊕, ⊗) é ordenado e os elementos de K + são
os elementos positivos do corpo K. Neste caso, um elemento b ∈ K é dito negativo se o seu
simétrico b−1 é positivo, ou seja, b−1 ∈ K + .
Os números reais com as operações soma e produto usuais satisfazem essa propriedade e
e dela vem as boas propriedades de sua ordenação. Então, se desejamos definir em C uma
ordem que preserve as boas propriedades da ordem dos números reais, devemos procurar em
C a classe C+ dos números complexos positivos.
Se uma tal classe existe em C a tricotomia aplica-se a todos os complexos, em particular
aplica-se a 1 e i. Examinemos esses números.
É claro que 1 6= 0, restam as duas possibilidades 1 ∈ C+ ou −1 ∈ C+ .
Se −1 ∈ C+ então
(−1)(−1) ∈ C+ =⇒ 1 ∈ C+
Portanto, em qualquer dos casos, 1 ∈ C+ , ou seja, 1 é positivo.
Da mesma forma, i 6= 0, restam as duas possibilidades i ∈ C+ ou −i ∈ C+
i ∈ C+ −i ∈ C+
⇓ ⇓
ii ∈ C+ (−i)(−i) ∈ C+
⇓ ⇓
−1 ∈ C+ −1 ∈ C+
19
2.2.5 Representação vetorial, módulo e conjugado
A álgebra linear nos ensina que R2 munido da soma usual, que é a mesma dos números
complexos, e da multiplicação por escalar assim definida
λ(x, y) = (λx, λy) ∀λ, x, y ∈ R
é um espaço vetorial. Mas, por definição, C = (R2 , +, ·), então C é um espaço vetorial sobre
R. Isso quer dizer que todo o rico e generoso conhecimento geométrico sobre R2 , acumulado
desde o curso de geometria analı́tica e que foi enriquecido nos cursos de cálculo, álgebra
linear, análise e quem sabe espaços métricos, está presente e disponı́vel em C.
Assim, dado um complexo z = x + yi, existe:
Representação vetorial: é o vetor com origem em (0, 0) e extremidade em z = (x, y);
Módulo de z: é a distância de z à origem, ou o comprimento da representação vetorial.
Indica-se o módulo de z por |z|
p
|z| = x2 + y 2 .
Conjugado de z: é o simétrico de z em relação ao eixo das abscissas, o qual indica-se por z
z = x − yi.
y z = (x, y) = x + yi
|z|
Representação vetorial de z
x
Representação vetorial de z
|z|
−y z = (x, −y) = x − yi
Teorema 2.3 (Inverso, módulo e conjugado): Seja z ∈ C, z 6= 0, então seu inverso, seu
conjudado e seu módulo estão relacionados da seguinte forma
1 z
= 2 (2.8)
z |z|
Demonstração: Escrevendo z ∈ C na forma álgébrica tem-se z = x+yi. Então, conforme
visto na página 15, todo complexo não nulo tem inverso dado por:
1 x − yi
= 2 . (2.9)
z x + y2
Pelas definições de conjugado e módulo, sem óbices, tem-se
1 z
= 2
z |z|
o que encerra a demonstração.
Propriedades(conjugado) Sejam z, w ∈ C, então
20
1. z = z 7. λz = λz, ∀λ ∈ R
2. z + z = 2Re(z) 8. z · w = z · w
3. z − z = 2iIm(z) 1 1
9. = , z 6= 0
z z
4. zz = [Re(z)]2 + [Im(z)]2
z z
5. z + w = z + w 10. = , w= 6 0
w w
6. z − w = z − w 11. z = z ⇐⇒ z ∈ R
zw = (x + yi)(u + vi)
= xu − yv + i(yu + vx)
= xu − yv − i(yu + vx)
= xu − yv − iyu − ivx
= (xu − ivx) + (−yv − iyu)
= (xu − ivx) + [−iyu − y(−v)i2 ]
= x(u − vi) + (−yi)(u − vi)
= (x − yi)(u − vi)
= zw
21
1. |z| = dist(z, 0) 4. |z| = |z|
z |z|
7. = , w 6= 0
w |w|
5. |zw| = |z||w|
2. |z| = kzk2 8. |z + w| 6 |z| + |w|
1 1
3. |z|2 = zz 6. = , z 6= 0 9. |z − w| > ||z| − |w||
z |z|
Demonstração:
1. Seja z ∈ C, z = x + yi
p p
dist(z, 0) = (x − 0)2 + (y − 0)2 = x2 + y 2 = |z|
2. Seja z ∈ C, z = x + yi p
kzk2 = x2 + y 2 = |z|
3. Seja z ∈ C, z = x + yi
4. Seja z ∈ C, z = x + yi
p p
|z| = x2 + y 2 = x2 + (−y)2 | = |z|
5. Sejam z, w ∈ C
Tomando a raiz quadrada tem-se |zw| = |z||w| pois essas quantidades são números
reais não negativos.
6. Seja z ∈ C, z 6= 0
1 1 z z
= · = |z| |z| 1
z z z |z|2 = |z|2 = |z|2 = |z|
7. Sejam z, w ∈ C, w 6= 0
z 1
1 1 |z|
= z = |z| = |z| =
w w w |w| |w|
8. Sejam z, w ∈ C
Tomando a raiz quadrada tem-se |z + w| 6 |z| + |w| pois essas quantidades são números
reais não negativos.
22
9. Sejam z, w ∈ C
y z = (x, y) = x + yi
|z|
θ
x
arg(z) = θ + 2kπ, k ∈ Z
23
isso mostra claramente que o argumento de um número complexo é multivalente. Chama-se
argumento principal de z ao valor do argumento compreendido no intervalo [0, 2π[, geome-
tricamente ele corresponde ao menor valor positivo para o ângulo formado pelo eixo 0x e a
reta que une z à origem, considerado no sentido anti-horário a partir do eixo 0x e medido
em radianos.
Substituindo os valores de x e y dados pelas equações 2.12 nas formas cartesiana e
algébrica do número complexo z tem-se
Os casos em que y = 0 correspondem a pontos sobre o eixo real (eixo x), então
Os casos em que x = 0 correspondem a pontos sobre o eixo imaginário (eixo y), então
π 3π
|z| = |y| e θ = (se y > 0) ou θ = (se y < 0)
2 2
e a fórmula continua válida.
24
Isso prova o teorema. Na demonstração fica provado que
1
arg = −arg(z)
z
Exemplo 1: Encontre a forma polar de z = 1 + i.
Neste caso, x = 1 e y = 1, então
√ √ 1 π
|z| = 12 + 12 = 2 e tan θ = = 1 =⇒ θ =
1 4
Assim, a forma polar do complexo z é
√ π π
1+i= 2(cos + isen )
4 4
Exemplo 2: Encontre a forma polar de z = cos θ − isen θ.
√ √
|z| = cos2 θ + sen 2 θ = 1 = 1
então
z |z|
zw = |z||w|[cos(θ + φ) + isen (θ + φ)] e = [cos(θ − φ) + isen (θ − φ)], w 6= 0
w |w|
25
Demonstração:
então
z1 · . . . · zn = |z1 | · . . . · |zn |[cos(θ1 + . . . + θn ) + isen (θ1 + . . . + θn )]
26
Substituindo θ = θ1 + . . . + θn e |z| = |z1 | · . . . · |zn | tem-se
z1 · . . . · zn · zn+1 = |z1 | · . . . · |zn | · |zn+1 |[cos(θ1 + . . . + θn + θn+1 ) + isen (θ1 + . . . + θn + θn+1 )]
E o teorema fica demonstrado.
Esse teorema tem duas consequências importantes, tanto que em alguns textos são apre-
sentadas como resultado principal. Antes, vamos estabelecer a noção de potência de com-
plexo.
Definição 2.3 (potência): Seja z ∈ C, z 6= 0 e n ∈ N, então
1
z n = z| × z × z{z× . . . × z}, z0 = 1 e z −n =
zn
n−vezes
• Se n < 0, não podemos aplicar o teorema 2.7 a z n , pois ele só vale para potência de
expoente positivo, o que não é o caso. Vamos contornar esse pequeno problema, pelo
teorema 2.5
1 1
= [cos(−θ) + isen (−θ)].
z |z|
Defina m = −n ∈ N, então
−n m m
n 1 1 n 1
z = = =⇒ z =
z z z
m
1
Agora, aplicando o teorema 2.7 a tem-se
z
m
n 1 1
z = = m [cos(m(−θ)) + isen (m(−θ))] substituindo m = −n
z |z|
1
= [cos((−n)(−θ)) + isen ((−n)(−θ))]
|z|−n
= |z|n [cos(nθ) + isen (nθ)]
E o teorema fica demonstrado.
A fórmula
z n = |z|n [cos(nθ) + isen (nθ)]
é conhecida como fórmula de Moivre, em homenagem a Abraham de Moivre. Essa fórmula
é importante porque estabelece uma ligação entre os números complexos e a trigonometria,
mais precisamente, ela é o cerne das operações de potenciação e radiciação complexa e apon-
tou o caminho para Euler definir a função exponencial complexa.
27
2.4 Geometria das operações em C
Nesta seção vamos examinar a geometria das operação básicas em C, ou seja, o significado
geométrico das operações com números complexos.
y+v
v w
z+w
y z z−w
u x x+u x
Um exemplo numérico
Tome z = (3, 1) e w = (1, 2), então z + w = (4, 3) e z − w = (2, −1).
y
3
z+w
w
2 z−w
1 z z − w transladado
2
1 3 4 x
−1
28
2.4.2 Multiplicação e divisão
Multiplicação por i
A multiplicação de um número complexo z ∈ C pela unidade imaginária i corresponde a
uma rotação, no sentido anti-horário, de um ângulo de comprimento π2 do vetor correspon-
dente.
De fato, lembre que um complexo é um ponto do R2 e tem representação vetorial, então,
dado
z = x + iy = (x, y), i = (0, 1) ⇒ iz = ix − y = (−y, x)
Note que
hz, izi = h(x, y), (−y, x)i = x(−y) + yx = −xy + xy = 0 =⇒ hz, izi = 0.
iz
π
Portanto, multiplicar por i é o mesmo que rotacionar em 2
no sentido anti-horário
daı́ vê-se que para multiplicar dois complexo multiplica-se seus módulos e soma-se seus argu-
mentos. Assim, multiplicar um complexo z por outro complexo w é rotacionar z no sentido
anti-horário, de um ângulo igual ao argumenteo de w, e depois multiplicar o resultante da
rotação pelo módulo de w. Geometricamente
y y Tome z = (1, 1) e
zw zw w = (2, 1).
3
Então zw = (1, 3)
w z z w
1
x 1 2 x
z 1
A divisão é idêntica, basta considerar =z· .
w w
29
2.5 Raı́zes n-ésimas de números complexas
O problema que levou a criação dos complexos também trouxe a necessidade de calcular
raı́z cúbica desses números, algo que ainda não abordamos, mas esta seção será dedicada
exclusivamente a esse propósito.
Dados n ∈ N e w ∈ C queremos determinar todas as soluções de
z n = w. (2.16)
Se w = 0 a única solução é z = 0. Portanto, daqui em diante, vamos supor w 6= 0.
Suponha z ∈ C uma solução de 2.16, escrevendo z e w na forma polar tem-se
z = |z|(cos θ + isen θ) e w = |w|(cos φ + isen φ)
Levando esses valores à equação 2.16 tem-se
|z|n (cos(nθ) + isen (nθ)) = |w|(cos φ + isen φ)
Daı́, considerando a igualdade de números complexos, equação 2.15, resulta
|z|n = |w| e nθ − φ = 2kπ, k ∈ Z
Então
p
n φ + 2kπ
|z| = |w| e θ = , k∈Z
n
Então a solução z é dada por
p
n φ + 2kπ φ + 2kπ
z = |w| cos + isen , k ∈ Z.
n n
Para cada valor de k corresponde um valor de z, que denotaremos por zk , então
pn φ + 2kπ φ + 2kπ
zk = |w| cos + isen , k ∈ Z.
n n
Mas esses zk , k ∈ Z são todos distindos? Resposta. Não. Sabemos que dois complexos são
iguais quando seus módulos são iguais
p e a diferença de seus argumentos é um múltiplo inteiro
de 2π. Para todo k ∈ Z, |zk | = n |w|. De fato, pois
2
p
n φ + 2kπ φ + 2kπ
|zk | = zk zk = |w| cos + isen ·
n n
p
n φ + 2kπ φ + 2kπ
|w| cos − isen
n n
2 2 !
p φ + 2kπ φ + 2kπ p
= ( n |w|)2 cos + sen = ( n |w|)2 .
n n
Assim, o que difere esses números é o argumento. Então, zk = zj se, e somente se,
φ + 2kπ φ + 2jπ
argzk − arg(zj ) = 2πq, q ∈ Z ⇐⇒ − = 2πq, q ∈ Z
n n
2π(k − j)
⇐⇒ = 2πq, q ∈ Z
n
(k − j)
⇐⇒ = q, q ∈ Z
n
⇐⇒ k − j = nq, q ∈ Z
30
Então zk será igual a zj sempre que k − j for um múltiplo de n, ou seja, as raı́zes zk e zk+n
são iguais. Dessa forma, só podem existir n raı́zes distintas, as quais indicamos por
pn φ + 2kπ φ + 2kπ
zk = |w| cos + isen , k = 0, 1, 2, . . . , n − 1. (2.17)
n n
Essas são as n raı́zes da equação z n = w. Esses números complexos são chamados de
raı́zes n-ésimas de w e são indicadas com o mesmo sı́mbolo da raı́z real, ou seja,
√n
w = z0 , z1 , z2 , z, . . . , zn−1
√
Note a diferença de entendimento em relação aos números √ reais, onde o sı́mbolo x indica
um único valor. No conjunto dos complexos o sı́mbolo z indica todas as raı́zes do número
complexa z.
Exemplo 4: Encontrar todas as soluções de z 3 = 1 + i.
Neste caso
√ h π π i
n = 3, w = 1 + i, na forma polar, w = 2 cos + isen
4 4
Então as raı́zes são
√ √
π π
+2·0·π +2·0·π
h π π i
6 4 4 6
z0 = 2 cos + isen = 2 cos + isen
3 3 12 12
√ √
π π
+2·1·π +2·1·π
6 6 3π 3π
z1 = 2 cos 4 + isen 4 = 2 cos + isen
3 3 4 4
√ √
π π
+2·2·π +2·2·π
6 4 4 6 17π 17π
z2 = 2 cos + isen = 2 cos + isen
3 3 12 12
31
2.7 Exercı́cios
1. Prove que para todo z ∈ C, z 6= 0 o inverso de z é único e (z −1 )−1 = z
1
4. Considere z = 1 + i, representar geometricamente os complexos z, , z 2 e z −2 .
z
5. Considere z = 1 + i e w = 1 − 2i, representar geometricamente os complexos
z z
z, w, z + w, zw, e .
w w
9. Seja θ um número real, determine uma representação polar para w = sen θ − i cos θ.
10. Seja θ um número real e w = cos θ + isen θ. Achar uma forma polar para os números
complexos w + 1 e w − 1.
(a)n = 2, w = 1 − i;
(b)n = 3, w = 1 − i;
(c)n = 4, w = 1 − i;
(d)n = 4, w = 1 + i.
32
14. Determinar e representar geometricamente todas as raı́zes de z 5 = −1.
17. Provar que se w é uma raı́z n-ésima não real de α ∈ R, então seu conjugado w também
o é.
18. Seja P (x) um polinômio de grau n e coeficientes reais. Mostre que se w = a + bi é uma
solução de P (x) = 0 então seu conjugado w = a − bi também o é.
19. Agora que você conhece os complexos tintim por tintim, considere
√ √ p √
−1 = i2 = i · i = −1 · −1 = (−1)(−1) = 1 = 1 =⇒ −1 = 1.
33
CAPÍTULO 3
TOPOLOGIA DOS NÚMEROS COMPLEXOS
Para estudar as noções de limite, continuidade e derivada precisamos antes de mais nada
definirmos funções no plano complexos. Também vamos estabelecer algumas noções to-
pológicas em C, séries de números complexos, e outros conceitos. Vamos fazer uma aborda-
gem mı́nima dessas noções utilitárias para então prosseguirmos ao estudo de limite e conti-
nuidade de funções complexas.
Definição 3.1: A distância entre z, w ∈ C, que indica-se por d(z, w), é o módulo da diferença
z − w. Para z = x + yi e w = u + vi, em sı́mbolos tem-se
p
d(z, w) = |z − w| = (x − u)2 + (y − u)2 .
34
Demonstração: é imediata a partir da definição, mas vamos fazer a prova da terceira
propriedade, as demais ficam como exercı́cio.
Sejam z, w, t ∈ C, então
Munido dessa distância o conjunto dos números complexos passa a ser um espaço métrico
e herda todas as noções, linguagem e propriedades desses espaços - algumas com benefı́cios,
já que C também é corpo.
r r r r
w w w w
35
Definição 3.3 (conjunto limitado): Dizemos que Ω ⊂ C é limitado se existe r > 0 tal que
Ω ⊂ D(0, r).
Exemplo 7:
(1) Todo disco fechado é um conjunto fechado.
(2) O conjunto vazio é fechado.
(3) O próprio C é fechado.
(4) A região Ω = {z ∈ C; Re(z) > 0}, ou seja, o semiplano a direita o eixo imaginário do
plano complexo, é um conjunto fechado.
(5) Considere a região Ω compreendida entre dois discos com centro em w ∈ C, um disco
aberto de raio r > 0 e um fechado de raio s > 0, com s < r. Ω = {z ∈ C; s 6 |z − w| < r}.
36
r
w s
Região Ω
Esta região não é um conjunto aberto e nem fechado. Não é um conjunto aberto porque
os pontos da circunferência S(w, s) pertencem a Ω mas não são pontos interiores a Ω, logo Ω
não é aberto. Não é um conjunto fechado porque os pontos de S(w, r) não pertencem a Ω,
logo pertencem a Ωc , mas qualquer disco com centro em um ponto de S(w, r) e raio positivo
contém pontos de Ω, logo Ωc não é aberto, então (Ωc )c = Ω não é fechado.
Definição 3.7 (fronteira ou bordo): A fronteira de Ω ⊂ C, denotada por ∂Ω, é o conjunto
dos pontos que não são interior a Ω nem a seu complementar. De forma equivalente, z ∈ ∂Ω
se, e somente se, para todo r > 0, existe w ∈ Ω e t no complementar de Ω tais que w, t ∈
D(z, r).
Definição 3.8 (conjunto compacto): Dizemos que Ω ⊂ C é compacto se for fechado e li-
mitado.
Exemplo 8:
(1) Um disco fechado é um conjunto compacto.
(2) O conjunto vazio é compacto.
(3) O próprio C não é compacto, pois não é limitado.
D(z, r) ∩ Ω 6= ∅, ∀ r > 0.
37
Definição 3.12 (ponto isolado): Dizemos que z ∈ Ω ⊂ C é um ponto isolado se não é ponto
de acumulação.
Dizer que z é ponto isolado é equivalente a dizer que existe r > 0 tal que
D(z, r) ∩ Ω = {z}.
Definição 3.13 (conjunto conexo): Dizemos que Ω ⊂ C é conexo se não existem abertos
não vazios e disjuntos A, B ∈ C, tais que
(A ∩ Ω) ∪ (B ∩ Ω) = Ω.
f : N −→ Ω
Em R é comum denotar uma sequência por (xn )N e seu termo geral por xn . Como nosso
conjunto de interese é C, vamos denotar uma sequência qualquer por (zn )N e seu termo geral
por zn .
Dada uma sequência zn de números complexos, como C = (R2 , +, .) então
38
Neste caso, escrevemos
lim zn = z ou zn −→ z.
n→+∞
Se uma sequência não converge, dizemos que ela diverge ou que é divergente.
Ao afirmar que uma sequência converge a um ponto, diz-se que os pontos da sequência
aproximam-se do limite para o qual ela converge. Afirmar que uma sequência diverge é dizer
que seus pontos (todos) não se aproximam de qualquer ponto.
Exemplo 10:
1 1
(1) a sequência zn = , converge a (0, 0), então podemos escrever.
n 2n
1 1
zn = , −→ (0, 0).
n 2n
1
(2) a sequência zn = n, n diverge pois a sequência real xn = n diverge.
2
Teorema 3.4: seja zn = xn + iyn uma sequência de números complexos e z ∈ C, z = x + iy.
Então
zn −→ z ⇐⇒ xn −→ x e yn −→ y.
Isso significa que |z − w| pode ser feito tão pequeno quanto qualquer ε > 0 dado, portanto
|z − w| = 0, então z = w. Isso completa a demonstração.
39
A definição de sequência convergente é pouco prática porque ela exige o conhecimento do
ponto para o qual a sequência converge e, em geral, não conhecemos esse ponto, apenas a
sequência. Cauchy elaborou uma outra maneira para verificar se uma sequência é convergente
sem depender de um ponto, mas apenas dos pontos da sequência.
A idéia de Cauchy aplica-se a qualquer espaço métrico, mas sua versão apresentada a
seguir não.
Definição 3.16 (sequência de Cauchy): uma sequência zn ∈ C é de Cauchy se para todo
ε > 0 existe p ∈ N tal que
|zn − zm | < ε, ∀ m, n > p.
Intuitivamente uma sequência ser de Cauchy significa que seus pontos aproximam-se uns
dos outros arbitrariamente.
O teorema seguinte é fonte de muitos exemplos de sequência de Cauchy.
Teorema 3.6: toda sequência convergente é de Cauchy.
Teorema 3.7: o conjunto dos números complexos (C) é um espaço métrico completo.
zn = xn + iyn , n ∈ N.
Então p
(xn − xm )2 + (yn − ym )2 < ε =⇒ (xn − xm )2 + (yn − ym )2 < ε2
Daı́ tem-se
xn −→ x ∈ R e yn −→ y ∈ R
40
Definimos z = x + yi, é claro que z ∈ C. Resta provar que zn −→ z.
Seja ε > 0, como xn e yn são sequências convergentes, existem m, q ∈ N tais que
ε ε
|xn − x| < √ , ∀n > m e |yn − y| < √ , ∀n > q.
2 2
ε ε
Tome p = max {m, q}, então, |xn − x| < √ e |yn − y| < √ , ∀n > p.
2 2
Então, elevando ao quadrado tem-se
ε2
2 2 ε2
|xn − x| < e |yn − y| < , ∀n > p.
2 2
Somando essas desigualdades tem-se
Definição 3.18 (subsequência): seja zn uma sequência. Uma subsequência é uma função
definida em qualquer K ⊂ N tal que seus valores coincidem com os valores de zn . Nesse
caso indica-se os valores da subsequência por znk com os ı́ndices nk ∈ K. Tem-se para cada
nk ∈ K.
znk = zm , para algum m ∈ N
n zn nk znk
1 1 + i −− − − −
2 12 + 2i 2 12 + 2i
3 13 + 3i −− − − −
4 41 + 4i 4 14 + 4i
5 15 + 5i −− − − −
6 61 + 6i 6 16 + 6i
41
3.2.2 Caracterização por sequência
Em espaços métricos, a caracterização de certas noções topológicas por meio de sequências
é uma alternativa de notável conveniência em várias abordagens e contextos. Neste pequena
seção vamos caracterizar algumas noções topológicas por meio de sequências.
Definição 3.19: no conjunto dos números complexos, dizemos que uma sequência zn é li-
mitada se o conjunto de seus termos é um conjunto limitado, ou seja, se existe k > 0 tal
que
|zn | < k, ∀n ∈ N.
Daı́
|xn | < k e |yn | < k ∀n ∈ N.
Então (xn ) e (yn ) são sequências limitadas, e como são reais, a elas aplica-se o teorema de
Bolzano-Weierstrass em R. Portanto (xn ) possui uma subsequência convergente, digamos
Defina
(znk )nk ∈N2 e z = x + yi
Pelo teorema 3.4 tem-se lim znk = z. O que encerra a demonstração.
nk ∈N2
Demonstração: [(1) ⇒ (2)] supondo (1), como z é ponto de acumulação, por definição, para
qualquer ε > 0 o disco furado D∗ (z, ε) contem pontos de Ω. Então, para todo n ∈ N, tomando
1
ε = obtem-se zn ∈ Ω tal que
n
1 1
zn ∈ D∗ (z, ) =⇒ 0 < |zn − z| <
n n
42
Portanto, lim zn = z. Logo (1) ⇒ (2).
n→+∞
[(2) ⇒ (3)] supondo (2), dado um disco D(z, r), r > 0, como lim zn = z tomando ε = r
n→+∞
existe p ∈ N tal que
Demonstração: [(1) ⇒ (2)] supondo (1), dado X infinito, X ⊂ Ω, então podemos tomar
uma sequência (zn ) de modo que zn ∈ X para todo n ∈ N. Como Ω é limitado e X ⊂ Ω,
X é limitado, então o mesmo acontece a (zn ). Pelo teorema 3.8 existe uma subsequência
convergente (znk ), nk ∈ N1 . Pelo teorema 3.9 o limite dessa subsequência é um ponto de
acumulação que pertence a Ω pois este, por hipótese, é fechado. Logo (1) ⇒ (2).
[(2) ⇒ (3)] supondo (2), (3) é imediata pois o conjunto dos termos de uma sequência é
um conjunto infinito, logo, por hipótese, tem um ponto de acumulação, e pelo teorema 3.9
todo ponto de acumulação tem uma sequência que converge a ele. Logo (2) ⇒ (3).
[(3) ⇒ (1)] supodo (3) devemos provar que Ω é compacto, ou seja, fechado e limitado.
Provemos que é fechado. Devemos provar que Ω = Ω. Como Ω = Ω ∪ Ω0 , basta provar
que Ω0 ⊆ Ω. Seja z ∈ Ω0 , pelo teorema 3.9 existe uma sequência de pontos de Ω que converge
a z e devido nossa hipótese, z ∈ Ω. Portanto Ω0 ⊆ Ω, então Ω = Ω ∪ Ω0 = Ω, ou seja, Ω é
fechado.
Provemos que é limitado. Se Ω = ∅ não há o que provar. Supondo Ω não vazio, existe
z1 ∈ Ω. Se o conjunto Ω − D(z1 , 1) é vazio, então Ω ⊆ D(z1 , 1) e portanto Ω é limitado. Se
Ω − D(z1 , 1) não é vazio, podemos escolher
Prosseguindo definimos
Esse procedimento não pode continuar indefinidamente pois, nesse caso, zn seria uma
sequência infinita de elementos de Ω que não admite subsequência convergente, uma vez que
43
a distância de dois elementos consecutivos é maior ou igual a 1, isso contradiz a hipótese de
que toda sequência de elementos de Ω admite uma subsequência convergente. Portanto, para
algum p ∈ N o conjunto
que é limitado porque está contido em uma união finita de conjuntos (bolas - discos em C)
limitados. Portanto (3) ⇒ (1) e o teorema fica demonstrado.
De forma explı́cida.
s1 = z1
s2 = z1 + z2
s3 = z1 + z2 + z3
↓ ↓ ↓
sn−1 = z1 + z2 + . . . + zn−1
sn = z1 + z2 + . . . + zn−1 + zn
Daı́ é fácil ver que
zn = sn − sn−1 , ∀ n ∈ N.
+∞
X
Definição 3.21 (série convergente): Uma série de números complexos zn é dita con-
n=1
vergente e tem soma z ∈ C se a sequência de suas somas parciais sn converge a z. Nesse
caso escreve-se
+∞
X +∞
X
zn = lim sn = z, ou simplesmente, zn = z.
n→+∞
n=1 n=1
Dizemos que uma série diverge se ela não converge. Nesse caso também dizemos que a
série é divergente.
44
+∞
X
Teorema 3.11 (equivalência): Seja zn = xn + yn i, n ∈ N. A série zn converge com
n=1
+∞
X +∞
X
soma z = x + yi se, e somente se, as séries de números reais xn e yn convergem
n=1 n=1
com soma x e y respectivamente. Em sı́mbolos
+∞
X +∞
X +∞
X
zn = z ⇐⇒ xn = x e yn = y
n=1 n=1 n=1
Demonstração: pelo teorema 3.4 a sequência de somas parciais (sn )N converge se, e somente
se, suas sequências de números reais associadas convergem. Como
n
X n
X n
X n
X
lim sn = lim zj = lim xj + iyj = lim xj + i yj
n→+∞ n→+∞ n→+∞ n→+∞
j=1 j=1 j=1 j=1
Então
n
X n
X
lim sn existe se, e somente se lim xj e lim yj existem.
n→+∞ n→+∞ n→+∞
j=1 j=1
E como
+∞ n n n n
!
X X X X X
zn = lim sn = lim zj = lim xj + iyj = lim xj + i yj
n→+∞ n→+∞ n→+∞ n→+∞
n=1 j=1 j=1 j=1 j=1
+∞
X +∞
X +∞
X
a série zn converge se, e somente, as séries de números reais xn e yn convergem.
n=1 n=1 n=1
Como são únicos os elementos x, y ∈ R tais que
∞
X ∞
X
xn = x e lim yn = y,
n→+∞
n=1 n=1
+∞
X +∞
X +∞
X +∞
X +∞
X
(zn + wn ) = zn + wn e t · zn = t · zn .
n=1 n=1 n=1 n=1 n=1
45
+∞
X
Teorema 3.13: Seja zn = xn + yn i, n ∈ N. A série zn será absolutamente convergente
n=1
+∞
X +∞
X
quando, e somente quando, as séries de números reais xn e yn também o forem.
n=1 n=1
+∞
! +∞
!
X X X
zn wm = zn wm
m,n n=1 m=1
46
CAPÍTULO 4
FUNÇÕES COMPLEXAS: LIMITE E CONTINUIDADE
f : A −→ B
f : Ω −→ C
47
As grandezas Re[f (z)], Im[f (z)] variam com z e como z = x + yi = (x, y) as funções reais
u(z) = u(x, y) = Re[f (x, y)] e v(z) = v(x, y) = Im[f (x, y)]
dadas por
u(z) : Ω −→ R e v(z) : Ω −→ R
z 7→ Re[f (z)] z 7→ Im[f (z).
estão bem definidas e são chamadas de partes real e imaginária de f , respectivamente. É óbvio
que elas são funções reais de duas variáveis reais, ou seja, são funções da mesma natureza
daqueles estudadas no cálculo 2.
Exemplo 13: Considere f (z) = z −1 e determine sua parte real e sua parte imaginária.
Ja vimos que essa função está definida para z ∈ C, z 6= 0. Então
1 z x y
f (z) = = 2 = 2 2
− 2 · i.
z |z | x +y x + y2
Logo
x y
u(x, y) = e v(x, y) = − 2 (x, y) 6= (0, 0).
x2+y 2 x + y2
são a parte real e imaginária de de f . Observe que são funções reais de duas variáveis.
4.1.1 Polinômios
Definição 4.1 (polinômio): Dados os números complexos a0 , a1 , . . . , an a função
n
X
p(z) = a0 + a1 z, . . . , an z n = aj z j
j=0
Demonstração: seja
um polinômio com coeficientes reais. Tomemos z na forma polar z = |z|(cos θ + isen θ), então
daı́
Portanto,
z j = (z)j , ∀ j = 1, 2, 3, . . . , n.
48
Com esta informação mostremos que p(z) = p(z).
p(z) = a0 + a1 z + a2 z 2 + . . . + an−1 z n−1 + an z n
= a0 + a1 z + a2 z 2 + . . . + an−1 z n−1 + an z n
= a0 + a1 z + a2 z 2 + . . . + an−1 z n−1 + an z n
= a0 + a1 z + a2 (z)2 + . . . + an−1 (z)n−1 + an (z)n = p(z)
Portanto, p(z) = p(z). E o teorema fica demonstrado.
Decorre desse resultado que as raı́zes complexas de um polinômio de coeficientes reais
sempre ocorrerem em pares conjugados, ou seja, se z é raı́z, então seu conjungado z também
é raı́z.
A hipótese de que os coeficientes sejam reais é fundamental, sem ela a tese não se verifica.
Exemplo 14: considere o polinômio
p(z) = z 2 + (2 + i)z − 1 − 5i.
seus coeficientes são 2, 2 + i e − 1 − 5i, dois deles não são reais, por isso acontece
p(1 + i) = 0 mas p(1 + i) = p(1 − i) = 2 − 8i 6= 0.
Definição 4.2: seja Ω ⊂ C e f : Ω −→ C. Dizemos que f é limitada se existe k > 0 tal
que
|f (z)| 6 k, ∀ z ∈ Ω
Se uma função não é limitada, é dita ilimitada.
Exemplo 15: toda função constante é limitada. Os polinômios são exemplos de funções
ilimitadas.
49
Corolário 1 (segmento de reta): Sejam z1 , z2 ∈ C, o segmento de reta que une esses dois
pontos é dado por
z = z1 + t(z2 − z1 ), t ∈ [0, 1].
Demonstração: pelo teorema 4.2 a reta que passa por z1 e z2 tem equação dada por
z = z1 + t(z2 − z1 ), t ∈ R.
Basta restringir o parâmetro t ao intervalo [0, 1] e observar que quando t percorre esse inter-
valo z percorre os pontos de z1 a z2 .
Corolário 2: Sejam z1 , z2 ∈ C, a reta que passa por esses dois pontos é dada por
z − z1
Im = 0.
z2 − z1
Demonstração: pelo teorema 4.2 a reta que passa por z1 e z2 tem equação dada por
z = z1 + t(z2 − z1 ), t ∈ R.
Teorema 4.3 (reta): A equação da reta que passa em (x0 , y0 ) e tem incliação m é dada em
R e C, respectivamente, por
m
v
θ
1
Portanto, dada uma direção arbitrária d = (a, b) e um ponto (x0 , y0 ) = x0 +iy0 faz sentido
perguntar como seria a equação da reta que passa nesse ponto e tem essa direção.
Teorema 4.4 (reta): a equação da reta que passa em (x0 , y0 ) e tem direção d = (a, b) é
(b + ai)z + (b + ai)z + c = 0, c = 2y0 a − 2x0 b.
Demonstração: Vamos utilizar o teorema 4.3 para demonstrar este resultado sem esforço.
Se a ou b for zero a reta é paralela a um dos eixos, portanto vamos considerar ambos não
nulos. Os vetores
b b
d = (a, b) e 1, = (1, m), m =
a a
representam a mesma direção, mas o segundo está na forma do teorema 4.3, então, usando
este resultado tem-se que a equação da reta que passa por (x0 , y0 ) = x0 + iy0 e tem a direção
de d = (a, b) é:
b b
+i z+ + i z + c = 0 ⇐⇒ ×(a)
a a
(b + ai)z + b + aiz + c = 0 ⇐⇒ c = 2y0 a − 2x0 b
E o teorema fica provado. A tese desse teorema também pode ser escrita na forma
Re[(b + ai)z] + c = 0, c = 2y0 a − 2x0 b.
Exemplo 16: determine a equação
51
1. do segmento de reta que une os pontos z1 = 1 + i e z2 = 3 − i.
Resolução
z = 1 + i + t(−2 − 3i), t ∈ R.
3. as hipóteses do teorema 4.4 são um ponto e uma direção d. Como foram dados dois
pontos escolhemos um (z1 ) e definimos a direção
d = z2 − z1 =⇒ d = −1 − 2i − (1 + i) =⇒ d = −2 − 3i = (−2, −3)
Por fim, aplicando o teorema 4.4 com o ponto z1 = 1 + i e a direção d = (−2, −3) temos
z1
z2
z3
zz − zw − zw + c = 0, c = |w|2 − r2 . (4.4)
52
Demonstração: se z ∈ C pertence à circunferência de centro em w e raio r então |z − w| = r,
daı́ vem
|z − w| = r ⇐⇒ |z − w|2 = r2 ⇐⇒ (z − w)z − w = r2 ⇐⇒ zz − zw − zw + ww = r2
Defina c = ww − r2 = |w|2 − r2 =⇒ c ∈ R e
zz − zw − zw + c = 0.
Exemplo 17: determinar a equação dos pontos que pertencem a circunferêcia de raio 3 e tem
centro em w = 1 + i.
Pelos dados tem-se w = 1 + i e r = 3 =⇒ c = |w|2 − r2 = 2 − 9 = −7. Então a equação
da circunferência de centro w = 1 + i e raio 3 é
zz − z(1 − i) − z(1 + i) − 7 = 0.
Exemplo 18: determine o centro e o raio da circunferência descrita pela equação
1. zz + z(i − 2) + z(−2 − i) − 4 = 0
2. zz + z(3 + 2i) − z(−3 + 2i) + 12 = 0
Resolução (1): basta colocar a equação dada na forma da equação da circunferência, então
zz − z(2 − i) − z(2 + i) − 4 = 0
Daı́ vem w = 2 − i e c = −4. Então
|w2 | − r2 = −4 ⇐⇒ 5 − r2 = −4 ⇐⇒ r2 = 9 ⇐⇒ r = 3.
Portanto a circunferência tem centro em w = 2 − i e raio r = 3.
Resolução (2): basta colocar a equação dada na forma da equação da circunferência, então
zz − z(−3 − 2i) − z(−3 + 2i) + 12 = 0
Daı́ vem w = −3 + 2i e c = 12. Então
|w2 | − r2 = 12 ⇐⇒ 13 − r2 = 12 ⇐⇒ r2 = 1 ⇐⇒ r = 1.
Portanto a circunferência tem centro em w = −3 + 2i e raio r = 1.
S(−3 + 2i, 1)
1
S(2 − i, 3)
2
2
−3
−1 3
53
z − i
Exemplo 19: descreva o lugar geométrico dos ponto que satisfazem = 2.
z + i
Resolução:
z − i 2 2
z + i = 2 ⇐⇒ |z − i| = 2|z + i| ⇐⇒ 4|z + i| = |z − i|
|w|2 − r2 = c.
5i
Mas, como w = − e c = 1 então |w| = 35 . Daı́
3
2 2 2
5 2 5 25 16 4
− r = 1 =⇒ r = −1= −1= =⇒ r = pois r > 0.
3 3 9 9 3
− 5i3
54
4.2 Funções contı́nuas
O estudo das funções contı́nuas reais de uma variável real, feito no primeiro curso de
análise, estabelece os fatos e conceitos topológicos essenciais à análise. Nesta seção, ali-
cerçados pela experiência adquirida, vamos fazer a mesma coisa, agora para o conjunto dos
números complexos.
Intuitivamente a noção de função contı́nua, em qualquer espaço métrico, consiste em poder
tomar f (z) tão próximo de f (w) quanto se queira, desde que se tome z convenientemente
próximo de w. Quando isso é possı́vel para uma função f em algum ponto de seu domı́nio,
dizemos que f é contı́nua neste ponto.
Há várias maneiras de descrever formalmente essa noção, vamos estabelecer a definição
com a seguinte redação.
Definição 4.3: seja Ω ⊆ C um conjunto não vazio. Uma função f : Ω −→ C é dita contı́nua
em w ∈ Ω quando, para qualquer ε > 0, existe δ(w, ε) > 0 tal que
Demonstração: seja ε > 0, como g é contı́nua em f (w) existe γ > 0 tal que
Como f é contı́nua em w a condição t ∈ D, |t − f (w)| < γ implica que existe δ > 0 tal
que
z ∈ Ω, |z − w| < δ =⇒ |f (z) − f (w)| < γ (4.7)
55
De 4.6 e 4.7 tem-se
são contı́nuas.
ja sabı́amos dessa igualdade, a novidade aqui é que as funções parte real e parte imaginária
são projeções. As funções π1 ◦ f e π2 ◦ f são chamadas de funções coordenadas.
Teorema 4.8: uma função f : Ω −→ C é contı́nua se, e somente se, suas funções coordena-
das são contı́nuas.
Demonstração: (⇒) seja w ∈ Ω. Como f é contı́nua, para qualquer ε > 0 existe δ > 0 tal
que
z ∈ Ω e |z − w| < δ =⇒ |f (z) − f (w)| < ε (4.8)
Como
|Re(f (z)) − Re(f (w))| 6 |f (z) − f (w)| e |Im(f (z)) − Im(f (w))| 6 |f (z) − f (w)|
e
z ∈ Ω e |z − w| < δ2 =⇒ |Im(f (z)) − Im(f (w))| < ε
Portanto, as funções coordenadas são contı́nuas em w.
56
(⇐) se as funções coordenadas são contı́nuas em w, qualquer que seja ε > 0 existem
δ1 > 0, δ2 > 0 tais que
ε2
|z − w| < δ1 =⇒ |Re(f (z)) − Re(f (w))| < , e
2
ε2
|z − w| < δ2 =⇒ |Im(f (z)) − Im(f (w))| <
2
Tome δ = min {δ1 , δ2 }, então para todo z ∈ Ω tal que |z − w| < δ tem-se
r
p ε2 ε2
|f (z) − f (w)| = [Re(f (z)) − Re(f (w))]2 + [Im(f (z)) − Im(f (w))]2 < + =ε
2 2
Portanto, f é contı́nua e o teorema fica demonstrado.
(b) f (z)g(z).
1
(c) , se g(z) 6= 0, ∀z ∈ Ω.
g(z)
f (z)
(d) , se g(z) 6= 0, ∀z ∈ Ω.
g(z)
Demonstração:
|αf (z) + βg(z) − (αf (w) + βg(w))| = |αf (z) − αf (w) + βg(z) − βg(w)|
6 |α||f (z) − f (w)| + |β||g(z) − g(w)|
ε ε
< |α| + |β|
2|α| 2|α|
ε ε
= + =ε
2 2
57
(b) vamos aplicar a definição de continuidade três vezes com valores convenientes de ε0 s e
δ 0 s, como a definição vale para todo ε, vale em particular para esses valores escolhidos.
Seja w ∈ Ω e ε > 0, devemos encontrar δ > 0 tal que
Mas
|f (z)| = |f (z) − f (w) + f (w)| 6 |f (z) − f (w)| + |f (w)|
Portanto
z ∈ Ω, |z − w| < δ1 =⇒ |f (z)| 6 1 + |f (w)| (4.9)
ε
Tome ε2 = , pela definição de continuidade existe δ2 > 0 tal que
2(1 + |g(w)|)
ε
z ∈ Ω, |z − w| < δ2 =⇒ |f (z) − f (w)| < ε2 = (4.10)
2(1 + |g(w)|)
ε
Tome ε3 = , pela definição de continuidade existe δ3 > 0 tal que
2(1 + |f (w)|)
ε
z ∈ Ω, |z − w| < δ3 =⇒ |g(z) − g(w)| < ε3 = (4.11)
2(1 + |f (w)|)
Portanto
z ∈ Ω, |z − w| < δ =⇒ |f (z)g(z) − f (w)g(w)| < ε.
Assim f g é contı́nua e o item (b) do teorema fica provado.
58
Note que
1 1 |g(w) − g(z)| |g(z) − g(w)|
g(z) − g(w) = |g(w)||g(z)| = |g(w)||g(z)| (4.12)
1
Então vamos buscar majorantes para os termos |g(z) − g(w)| e .
|g(z)|
ε |g(w)|
Defina ε1 = |g(w)|2 e ε2 = . Como g é contı́nua em w, pela definição de
2 2
continuidade existem δ1 > 0 e δ2 > 0 tais que
ε
z ∈ Ω, |z − w| < δ1 =⇒ |g(z) − g(w)| < ε1 = |g(w)|2 (4.13)
2
|g(w)|
z ∈ Ω, |z − w| < δ2 =⇒ |g(z) − g(w)| < ε2 = (4.14)
2
Como
(d) como g(z) é continua e não se anula, pelo item (c) h : Ω −→ C dada por
1
h(z) =
g(z)
59
é contı́nua. Como f é contı́nua, pelo item (b) deste teorema, f h : Ω −→ C definida por
1 f (z)
f (z)h(z) = f (z) =
g(z) g(z)
é contı́nua. Portanto
f (z)
g(z)
é contı́nua e o item (d) do teorema fica provado.
Para encerrar essa seção vamos enunciar e demonstrar o um resultado que caracteriza a
continuidade por meio de sequência convergente. Resultado idêntico ao seu correspondente
para funções reais de uma variável real.
Teorema 4.10: seja Ω ∈ C e w ∈ Ω. A função f : Ω −→ C é contı́nua em w se, e somente
se, para toda sequência de pontos zn ∈ Ω com lim zn = w, tem-se lim f (zn ) = f (w).
n→+∞ n→+∞
Logo lim f (zn ) = f (w). Suponha, por absurdo, que a resı́proca não seja verdadeira, ou
n→+∞
seja, f não é contı́nua em w. Então existe ε > 0 tal que para qualquer δ > 0 não se verifica
4.3 Limite
Definição 4.5 (limite): Sejam Ω ⊂ C, f : Ω −→ C e w um ponto de acumulação de Ω, ou
seja, w ∈ Ω0 . Dizemos que existe o limite de f em w se existir L ∈ C tal que para todo ε > 0
existe δ(ε) > 0 de modo que
60
O leitor deve observar que essa definição é estruturalmente a mesma de limite de funções
reais de uma variável real, mas o espaço, os elementos e o módulo aqui são bem diferentes.
Convém ressaltar que a expressão 0 < |z − w| < δ diz que z pertence ao disco furado
∗
D (w, δ), ou seja, z 6= w embora possa aproximar-se arbitrariamente dele. O limite de f em w
significa que dado qualquer disco D(L, ε), ε > 0, sempre existe um outro disco D(w, δ), δ > 0
cujos pontos distintos de w e que estão em Ω são mandados por f em D(L, ε), ou seja, a
definição pode ser reescrita assim
Para que a definição de limite tenha sentido é fundamental que w seja um ponto de
acumulação do domı́nio da função, sem essa premissa qualquer complexo L poderia ser limite
e a definição perderia o sentido. Se for considerada a definição de limite sem que w seja um
ponto de acumulação do domı́nio de f , então existe δ > 0 tal que o disco furado D∗ (w, δ)
não contem pontos do domı́nio de f , ou seja, não existe z ∈ Ω que satisfaça 0 < |z − w| < δ.
Portanto, se escolhermos este δ para qualquer ε > 0, a definição de limite será satisfeita, pois
se não existe z ∈ Ω que satisfaça 0 < |z − w| < δ a implicação
é satisfeita com qualquer L. Dito de outro modo, nos termos da reescrita da definição de
limite, se não existe z ∈ Ω que satisfaça 0 < |z − w| < δ, então a interseção do disco furado
D∗ (w, δ) com o domı́nio de f é vazia, ou seja, D∗ (w, δ) ∩ Ω = ∅. Daı́ segue que
A afirmação lim f (z) = L nada diz a respeito do valor da função em w, mesmo que se
z→w
tenha w ∈ Ω, o limite descreve apenas o comportamento de f (z) quando z está próximo de w
mas é diferente de w. O limite não exige que w pertença ao domı́nio da função, na verdade,
/ Ω mas w ∈ Ω0 .
os casos de maior interesse são aqueles em que w ∈
Neste caso, pela definição de limite, para qualquer ε > 0 existem δ1 > 0 e δ2 > 0 tais que
para
ε
z ∈ C e |z − w| < δ1 =⇒ |f (z) − L| <
2
ε
z ∈ C e |z − w| < δ2 =⇒ |f (z) − M | <
2
Defina δ = min{δ1 , δ2 }. Como w ∈ Ω0 , existe t ∈ C tal que 0 < |t − w| < δ. Então
61
|L − M | = |L − f (t) + f (t) − M | (4.16)
= |(L − f (t)) + (f (t) − M )| (4.17)
6 |L − f (t)| + |f (t) − M | (4.18)
= |f (t) − L| + |f (t) − M | (4.19)
ε ε
< + =ε (4.20)
2 2
Logo |L − M | < ε para todo ε > 0, isso implica que |L − M | = 0, então L = M . Portanto,
o limite é único.
Demonstração: de fato. Como lim f (z) = L, para ε = 1 a definição de limite assegura que
z→w
existe δ > 0 talque
z ∈ Ω, 0 < |z − w| < δ =⇒ |f (z) − L| < 1
|f (z)| = |f (z) − L + L| 6 |f (z) − L| + |L| < 1 + |L| =⇒ |f (z)| 6 1 + |L|
Pomha k = 1 + |L| e D(w, δ). O teorema está demonstrado.
Demonstração: (⇒) suponha que lim f (z) = L e que lim zn = w com zn ∈ Ω − {w}.
z→w n→+∞
Dado ε > 0 existem m ∈ N e δ > 0 tais que
Daı́ tem-se
∀ n > m, |f (zn ) − L| < ε =⇒ lim f (zn ) = L.
n→+∞
(⇐) suponha, por absurdo, que lim f (zn ) = L para toda sequência zn que converge a w
n→+∞
mas não se tenha lim f (z) = L. Então existe um ε > 0 para o qual qualquer que seja δ > 0
z→w
62
1
Então, para esse ε > 0 escolhemos δ = . Pela equação 4.21 e pela definição sequência
n
convergente, existe zn tal que
Teorema 4.15: sejam f, g funções tais que lim f (z) = L e lim g(z) = M . Então
z→w z→w
1 1
(c) Se lim g(z) = M 6= 0 =⇒ lim = .
z→w z→w g(z) M
Demonstração:
(b) a demonstração é idêntica ao caso real, vamos aplicar a definição três vezes com valores
convenientes de ε0 s e δ 0 s, como a definição vale para todo ε, vale em particular para
esses valores escolhidos.
Seja ε > 0, devemos encontrar δ > 0 tal que
Mas
|f (z)| = |f (z) − L + L| 6 |f (z) − L| + |L|
Portanto
|f (z)| 6 1 + |L| sempre que |z − w| < δ1 (4.22)
ε
Tome ε2 = , pela definição de limite existe δ2 > 0 tal que
2(1 + |M |)
ε
|f (z) − L| < ε2 = sempre que |z − w| < δ2 (4.23)
2(1 + |M |)
63
ε
Tome ε3 = , pela definição de limite existe δ3 > 0 tal que
2(1 + |L|)
ε
|g(z) − M | < ε3 = sempre que |z − w| < δ3 (4.24)
2(1 + |L|)
Note que
1 1 |M − g(z)| |g(z) − M |
g(z) − M = |M ||g(z)| = |M ||g(z)|
1
Então vamos buscar majorantes para os termos |g(z) − M | e .
|g(z)|
ε |M |
Defina ε1 = |M |2 e ε2 = . Como lim g(z) = M , pela definição de limite
2 2 z→w
existem δ1 > 0 e δ2 > 0 tais que
ε
|g(z) − M | < ε1 = |M |2 sempre que |z − w| < δ1 (4.25)
2
|M |
|g(z) − M | < ε2 = sempre que |z − w| < δ2 (4.26)
2
Como
|M | = |M − g(z) + g(z)|
6 |M − g(z)| + |g(z)|
= |g(z) − M | + |g(z)|
⇓
|g(z)| > |M | − |g(z) − M |
64
Substituinto nessa última inequação a majoração dada em 4.26 tem-se
|M | |M |
|g(z)| > |M | − |g(z) − M | > |M | − = sempre que |z − w| < δ2
2 2
Portanto,
1 2
< sempre que |z − w| < δ2 (4.27)
|g(z)| |M |
Tome δ = min{δ1 , δ2 }, então
ε 1 2
|g(z) − M | < |M |2 e < sempre que |z − w| < δ
2 |g(z)| |M |
Daı́
1 1 |M − g(z)| 1 ε 2 2
g(z) − M = |M ||g(z)| < |M | 2 |M | |M | = ε sempre que |z − w| < δ (4.28)
Portanto
1 1
g(z) M < ε sempre que |z − w| < δ
−
Portanto
lim z 2 = w2
z→w
lim z n = wn , ∀w ∈ C.
z→w
Segue dai, com o auxı́lio das outras partes do teorema 4.15 que, para todo polinômio
n
X
n
p(z) = a0 + a1 z, . . . , an z = aj z j
j=0
65
tem-se
lim p(z) = p(w) qualquer que seja w ∈ C.
z→w
p(z)
Também para uma função racional f (z) = , quociente de dois polinômio, tem-se
q(z)
p(z) p(w)
lim f (z) = f (w), ou seja lim =
z→w z→w q(z) q(w)
desde que o demoninador não se anule em w, ou seja, desde que q(w) 6= 0. Quando q(w) = 0
o polinômio q(z) é divisı́vel por z − w, então podemos escrever
Se m < n então
(z − w)n p1 (z)
p(z) n−m p1 (z) p(w)
lim = lim = lim (z − w) =0· =0
z→w q(z) z→w (z − w)m q1 (z) z→w q1 (z) q(w)
Se m = n então
p(z) (z − w)n p1 (z) p1 (z) p(w)
lim = lim = lim =
z→w q(z) z→w (z − w)m q1 (z) z→w q1 (z) q(w)
p(z) p1 (z)
Se m > n então lim = lim que não existe pois o denominador tem
z→w q(z) z→w (z − w)n−m q1 (z)
limite zero e o numerador não. Tem-se
p(z)
lim = +∞
z→w q(z)
A noção de limite lateral que assiste às funções de uma variável real não existe para as
funções de uma variável complexa, pois é possı́vel aproximar-se de um ponto w ∈ C por
infinitas direções e caminhos, diferente do que ocorre em R. Existe, no entantanto, e sem a
mesma força, a noção de limite por caminhos, tal como vista no estudo de funções de mais
de uma variável real. Os limites sobre caminhos não servem para garantir que o limite da
função existe, mas são úteis para provar que ele não existe, temos o seguinte resultados.
66
Demonstração: é simples e fica como exercı́cio. Lembre que um caminho é uma curva
contı́nua que passa pelo ponto, neste caso, w.
z
Exemplo 22: a função f (z) = não tem limite em w = 0.
z
De fato, basta considerar os caminhos sobre os eixos real e imaginário. Sobre o eixo real
a função vale 1 para todo z não nulo, portanto seu limite sobre esse caminho é 1. Mas sobre
o eixo imagináio a função vale −1 para todo z não nulo, logo seu limite sobre esse caminho é
−1. Como os limites sobre esses dois caminhos são distintos, f não possui limite em w = 0.
Demonstração: (⇒) por hipótese, existe limite de f (z) em w, então podemos escrever
lim f (z) = L. Daı́, pela definição de limite, para todo ε > 0 existe δ > 0 tal que
z→w
ε
z ∈ Ω e 0 < |z − w| < δ =⇒ |f (z) − L| < e
2
ε
t ∈ Ω e 0 < |t − w| < δ =⇒ |f (z) − L| <
2
Daı́
zn ∈ Ω − {w} e lim zn = w.
n→+∞
67
Então, dado ε > 0, pela nossa hipótese existe δ > 0 de modo que
Mas isso significa que os pontos da sequência (zn )n∈N satisfazem a hipótese, então, reescre-
vendo a hipótese para os pontos da sequência tem-se
∀ zn , zm ∈ Ω | 0 < |zn − w| < δ e 0 < |zm − w| < δ =⇒ |f (zn ) − f (zm )| < ε. (4.30)
Note que, devido 4.29, a condição zn , zm ∈ Ω | 0 < |zn − w| < δ e 0 < |zm − w| < δ é o
mesmo que m, n > p. Assim, podemos reescrever 4.30 da seguinte forma
ou seja, a sequência (f (zn ))n∈N é de Cauchy, e como C é completo, converge em C, logo existe
lim f (zn ), qualquer que seja a sequência (zn )n∈N . Portanto, existe lim f (z). E o teorema
n→+∞ z→w
fica demonstrado.
Para encerrar os resultado sobre limite vamos estabelecer quando e como obter o limite de
uma função composta a partir das funções fatores (aquelas com as quais se fez a composição).
Bons estudos
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