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ARTICULAÇÃO ENTRE AS TEORIAS DA ARGUMENTAÇÃO

E AS CIÊNCIAS DO LÉXICO ESPECIALIZADO

Tafnes Lais da Silva Gomes1; Edmar Peixoto de Lima2


Palavras-chave: Terminologia. Repertório Terminológico. Argumentação.

Introdução

No âmbito das investigações sobre as comunicações especializadas destaca-se a


Teoria Comunicativa da Terminologia (TCT), proposta por Maria Tereza Cabré e o
grupo de pesquisadores do Instituto de Linguística Aplicada da Universidade Pompeu
Fabra, em Barcelona. Essa vertente teórica configura-se em uma área do conhecimento
de grande relevância para as pesquisas em Terminologia, sobretudo, por apresentar
críticas às bases conceituais defendidas pela Teoria Geral da Terminologia,
desmistificando a noção de univocidade dos termos e, também, pelo fato de considerar
os aspectos variacionistas que permeiam os atos comunicativos das linguagens
especializadas, como um fator importante para se pensar a organização e a
sistematização de uma área especializada. Nesse sentido, Krieger e Finatto (2004)
acrescentam que não há diferença no comportamento linguístico entre termo e palavra a
priori, circulam nesse ato comunicativo apenas unidades lexicais. Segundo as autoras,
essa ideia se justifica visto que um termo é um elemento natural das línguas naturais e,
portanto, adquire caráter terminológico no contexto das comunicações especializadas.
Acrescentamos, ainda, que tanto a Terminografia quanto a Terminologia, no processo
de sistematização do repertório vocabular de uma área de estudos, possuem um caráter
multidisciplinar, pois para os estudos das unidades lexicais especializadas é necessário
acionar, além do conhecimento das áreas em Terminologia, a presença de um linguista
e/ou de um tradutor, a depender do projeto, e do conhecimento dos profissionais da
informática. Esse conjunto de profissionais de áreas de atuação diferentes é
indispensável na construção de um dicionário terminológico, por exemplo, pois cada um

1
Aluna da graduação em Letras Língua Portuguesa da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
(UERN). E-mail: tafneslais2013@gmail.com.
2
Professora do departamento de Letras Vernáculas (DLV) da Faculdade de Letras e Artes (FALA) e do
Programa de Pós-graduação em Letras (PPGL), da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
(UERN); líder do grupo de pesquisa em Linguística e Literatura (GPELL) e coordenadora do
Laboratório de Produção Escrita Acadêmica (LAPEA). E-mail: edmarpeixoto@uern.br.
deles exerce uma função no planejamento terminográfico resultante das investigações
sobre a área especializada.
Diante dessa contextualização, a presente investigação objetivou: i) pesquisar,
analisar e construir o corpus da argumentação (CORPARG); ii) investigar a
Terminologia que circula em teses, dissertações, artigos e livros acerca das teorias da
argumentação; iii) identificar e analisar as ocorrências das UT pertencentes às teorias da
argumentação, principiando a sistematização do banco de dados do repertório
Terminológico da área, utilizando como critério a lista alfabética e delimitando para esta
etapa da investigação apenas o repertório terminológico com a letra “A”.
Por fim, concluímos esta etapa da pesquisa com a convicção de que muitas
investigações ainda serão necessárias para a sistematização do repertório terminológico
das teorias da argumentação e, consequentemente, para a construção da identidade desse
campo do conhecimento, considerando o caráter heterogêneo da área.

Metodologia

A presente pesquisa tem caráter qualitativo, pois envolve a análise subjetiva de


fenômenos sociais da escrita acadêmica, embora não tenha sido esse o objetivo
primeiro. É também uma investigação de orientação linguístico-terminológica, pois se
configura em um estudo no âmbito da Linguística Aplicada e que elege como objeto de
estudos o repertório terminológico pertencente à área da argumentação, considerando os
textos acadêmicos como foco de observação. Nosso percurso metodológico teve início
com as leituras e as discussões do referencial teórico da Teoria Comunicativa da
Terminologia (TCT), com os preceitos instituídos pela Terminologia e pela
Terminografia, pautados em Krieger e Finatto (2004); e, também, pelo estudo de
categorias como: unidade terminológica, texto especializado, banco de dados, ficha
terminológica, entre outros pontos fundamentais para o entendimento do projeto de
sistematizar e organizar a terminologia da área.
Para a organização do corpus, recorremos à Linguística de Corpus que nos
ajudou metodologicamente a estabelecer os princípios para a escolha dos termos a
serem analisados por meio da ferramenta computacional WordSmith Tool 6.0. O corpus
da argumentação (CORPARG) é formado por teses, dissertações, artigos e livros sobre
o tema. Para a seleção das teses e dissertações fizemos um levantamento dos grupos de
pesquisas voltados aos estudos da argumentação, cadastrados no Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Foram encontrados 107 grupos nas
mais diversas áreas de conhecimento. Por essa razão, delimitamos nossa busca para
trabalhos com foco nas pesquisas em argumentação vinculadas aos estudos da
linguagem, chegando ao número de 18 grupos de pesquisas. Continuamos a busca nos
sites dos grupos e/ ou dos programas de pós-graduação das universidades do país, como
também no site da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES), com a intenção de investigar livros, teses, dissertações e artigos publicados
pelos membros que possibilitassem a construção do corpus. Optamos por esses espaços
de busca visando maior credibilidade e confiabilidade, dado o rigor na observação dos
critérios, no sentido de aceitação dos textos para publicação, no caso dos artigos
científicos; e, com relação às dissertações e as teses, pelo fato de esses textos passarem
pela aprovação de uma banca formada por doutores na área do conhecimento. Quanto
aos livros, o critério consistiu no fato de eles serem indicados pelos pesquisadores da
área e, consequentemente, fazerem parte das referências a serem estudas nos cursos que
tratam do tema. Assim, após a seleção do corpus, passamos à digitalização dos textos
impressos para o formato em PDF e a conversão dos textos em PDF para o formato
WORD e, finalizando a organização do CORPARG, convertemos todos os textos no
formato TXT para serem manipulados pelo programa WordSmith Tools 6.0.
Realizada essa etapa, dedicamo-nos às análises das terminologias e, para isso,
estabelecemos os parâmetros e os critérios de organização da área. Para realizar essa
tarefa, segundo Krieger e Finatto (2004, p. 134), primeiro é necessária a construção de
“uma árvore de domínio” que funciona como “um diagrama hierárquico composto por
termos-chave de uma especialidade, semelhante a um organograma”. No caso das
teorias da argumentação, optamos por organizar uma representação conceitual da área
da argumentação e não a árvore de domínio conforme descrita pelas autoras, por
acreditamos que a representação conceitual promoveria “desenho” da área,
considerando o seu caráter de heterogeneidade. Essa representação se configura, a nosso
ver, como uma ferramenta que possibilita o estabelecimento de aproximação entre as
terminologias das teorias da argumentação. Assim sendo, delimitamos as duas subáreas
mais conhecidas no Brasil: a argumentação de base retórica e a de base linguística, já
que ambas têm como ponto de partida a argumentação como objeto de investigação,
mas recorrem a aspectos teórico-metodológicos distintos. Estabelecemos, então, como
critérios para determinar as unidades terminológicas pertencentes às teorias da
Argumentação: a) pertinência temática; b) pertinência pragmática; c) categoria
linguística dos substantivos ou sintagmas nominais; d) confiabilidade. Concluindo,
finalizamos as duas listas com as unidades terminológicas da argumentação de base
retórica e de base linguística com a letra A, que serão apresentados mais adiante.

Resultados e Discussões

Entendemos que a maioria dos trabalhos de pesquisa (principalmente as teses e


as dissertações) relaciona o tema da argumentação à outra área do conhecimento, por
essa razão, fez-se necessária a delimitação da parte do trabalho em que o autor apresenta
apenas a fundamentação teórica nas teses e dissertações. Com relação aos artigos e aos
livros, optamos por utilizar todo o texto, visto que neles contém discussões mais
específicas. Para finalizar a construção do corpus, contabilizamos: 20 teses de
doutorado, 20 dissertações de mestrado, 20 artigos científicos publicados em periódicos
e 06 livros, totalizando 66 textos com mais de 15 milhões de palavras. Como resultados,
iniciamos a sistematização do repertório vocabular das teorias da argumentação com
duas listas: uma da argumentação de base retórica e outra da argumentação de base
linguística. Para isso, inicialmente, priorizamos os termos iniciados com a letra “A”
extraídos com base nos critérios estabelecidos para o reconhecimento da terminologia
da área. A relevância desta pesquisa para os estudos da argumentação se dá na
sistematização dos termos que resultará, posteriormente, em um dicionário
terminológico próprio da argumentação ainda não existente, possibilitando aos
estudiosos iniciantes a facilitação ao acesso do repertório terminológico que compõem a
área de estudos.

Teoria da Argumentação de Base Retórica 10 Argumentação persuasiva

01 Acordo prévio 11 Argumentação Retórica

02 Auditório 12 Argumento

03 Auditório particular 13 Argumento ad hominem

04 Auditório universal 14 Argumentos baseados na estrutura do real

05 Autoimagem 15 Argumento de autoridade

06 Analogia 16 Argumento do desperdício

07 Argumentação convincente 17 Argumento pelo ridículo

08 Argumentação discursiva 18 Argumento pelo exemplo

09 Argumentação no Discurso 19 Argumento pelo modelo


20 Argumento pela analogia 22 Argumentos quase lógicos
21 Argumento pragmático
Teoria da Argumentação de Base 7. Argumentação interna
Linguística
8. Argumentação Linguística
1. ADL 9. Argumentação na língua
2. ADNL 10. Argumento
3. Alocutário 11. Articuladores
4. Alocutório 12. Aspecto factual
5. ANL 13. Ato de argumentar
6. Argumentação externa

Conclusão

A principal contribuição da presente pesquisa é a proposta de sistematização dos


termos pertencentes à área da argumentação, instituindo assim os critérios para a seleção
das unidades terminológicas que, posteriormente, farão parte do Glossário
Terminológico das Teorias da Argumentação. Acreditamos que para a área da
argumentação, essa pesquisa e, consequentemente, esses resultados consistem em uma
grande contribuição visto que, ainda não fora realizado tal projeto no âmbito
terminológico e argumentativo; e, para os estudos da Terminologia, esta pesquisa figura
como relevante pelo fato de ainda não se ter dicionários terminológicos com o enfoque
investigativo sobre área de estudos como a proposição apresentada neste trabalho.

Agradecimentos
À Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN), pela oportunidade
enriquecedora do programa de iniciação científica (PIBIC) que tornou possível a
concretização desta pesquisa.

Referências
KRIEGER, Maria da Graça; FINATTO, Maria José Bocorny. Introdução à
Terminologia: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2004.
LIMA, Edmar Peixoto de; Abordagem Terminológica Nas Veredas Teóricas Da
Argumentação: Uma Investigação Sob A Perspectiva Da Variação Denominativa.
Tese (Doutorado em Linguística aplicada) - Centro De Humanidades, Programa De Pós-
Graduação Em Linguística Aplicada – Posla, Universidade Estadual Do Ceará. Ceará,
2017.

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