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- Vovó, isto que você está fazendo é o meu bolo de chocolate? – perguntou
o menino de cinco anos, que entrou correndo na cozinha.
- Só se não sujar a cara nem a roupa porque sua mãe fica brava comigo. –
respondeu a vovó colocando o bolo no forno. Entregou a tigela para o
menino, sentou-se em frente dele e disse:
- Enquanto você lambe o resto de massa de bolo, que ficou na tigela, eu vou
contar a história da floresta de chocolate.
- Não. Só nesta história que vou lhe contar. – e a vovó começou a sua
narrativa.
- Num tempo que já vai longe demais, havia um reino governado por um rei
muito triste. O seu palácio era pintado com tinta cinza, o manto real era de
seda cinza, o céu, que ficava acima do palácio real, era coberto de nuvens
cinzentas. O rei tinha fechado o seu reino e o seu coração para a alegria não
entrar. Ele não deixava as crianças brincarem. Elas não podiam cantar, nem
dançar, nem correr, tinham de ficar caladas andando nas pontas dos pés
para não incomodar o rei.
O rei proibiu que fabricassem doces, balas, bolos e todas as guloseimas que
as crianças adoram. Ele dizia que as crianças fazem algazarra quando
comem doces e ele não suportava isso. Ficava na janela do palácio, horas e
horas, olhando as crianças sentadas no chão da praça conversando bem
baixinho para não perturbar o seu sossego. Depois se recolhia no quarto
real com os olhos vermelhos como se tivesse chorado.
Era neste reino que morava a menina Lisandra com sua cadelinha Lilica.
Toda manhã a menina levava a cadelinha para passear pelas ruas do reino
e quando estavam chegando perto do castelo do rei, ela dizia:
Foi de Lisandra a idéia. Já que não podiam brincar no reino que tal brincar
em outro lugar bem longe. De repente as crianças desapareceram. Durante
as manhãs e as tardes de verão não se via mais elas andando
silenciosamente pelas ruas. O rei ficou intrigado. Chamou seu primeiro-
ministro e perguntou:
Assim foi feito. Quando o rei chegou ficou admirado. Dentro da floresta
verdadeira havia uma outra toda de chocolate. As árvores, as frutas, as
flores, os pássaros, os bichos, os rios, córregos e riachos, tudo era de
chocolate. As pedras eram feitas de torrão de açúcar mascavo com gotas de
chocolate, assim como os morros e as montanhas. Foi a fada Lilás quem fez
a mágica. O rei ficou parado vendo a alegria das crianças. Elas corriam,
riam alto e comiam os frutos de chocolate. Para beber era só se agachar, e
com um canudinho, sugar o chocolate quentinho do rio. Depois foram
brincar de roda. Cantaram uma canção que fez cair lágrimas dos olhos do
rei.
Lisandra, com todo o respeito, chegou perto do rei e com o seu lencinho de
seda na mão pediu:
- Senhor rei, posso secar esta lágrima que está no canto do seu olho?
E Lisandra secou a lágrima real. Depois, tomando o rei pela mão, o levou
para conhecer a floresta de chocolate. O rei subiu e desceu morros, bebeu
chocolate do rio, subiu na goiabeira e saboreou uma gostosa goiaba de
chocolate branco. Correu atrás de uma borboleta de jujuba com os olhinhos
de chocolate. Descobriu, no meio do capim açucarado, um leão de
chocolate com a juba de creme de amêndoas; uma cobra listrada de
chocolate marrom e branco; um coelho branquinho, de açúcar, com olhos
de amendoim com cobertura de chocolate. A guarda do rei estava
preocupada. Ele mudou. Já não estava triste. Pela primeira vez eles viram
um sorriso no rosto do monarca. Quando cansou de tanta brincadeira, o rei
pediu silêncio, ele ia falar.
28/06/06.
(histórias que contava para o meu neto).
A FLORESTA DE CHOCOLATE
(Luiza Valio)
Era uma vez uma floresta. Como o Parque Botelho. Só que era mágica.
Quando os animais ali se encontravam, não havia briga. De jeito nenhum.
As horas demoravam a passar, porque não existia tristeza e o sol brincava nas águas
frescas dos regatos que passeavam lentos, cheios de pedrinhas coloridas navegando nos
seus leitos.
Era uma beleza identificar aquela natureza viva e satisfeita carregando a fauna e a flora
nos seus grandes braços maternais.
Um dia, o canguru chegou apavorado. Todo sujo de barro, correu para lavar-se na lagoa
azul, seguido pelos companheiros assustados.
- “Mas não é barro, não!“ - exclamou o esquilo.
- “Parece tinta...” – profetizou a anta.
- “Não é nada disso. É doce!” – disse a abelha, já tonta de tanto experimentar.
- “É mel, seus tolos!” – disse o urso.
- “É gostoso... É gostoso...”. E caiu desmaiado o colibri.
Mais do que assustados, os bichos se reuniram num círculo em volta da avezinha
desmantelada no chão, com a barriga dura de tanto sugar aquele “troço” doce. Parecia
morta. Será que morreu?
Asas abertas, a águia falou:
- “Os humanos plantaram isso. E a coruja me disse que é chocolate. Não sei o que
significa isso, mas ele disseque vai explicar tudo. Acho que ela descobriu alguma
trapaça dos humanos”.
- “Onde está a coruja?” – perguntou o elefante.
- É... é... a... coru... ja. Onde é que... que... quela está...a...?
Era o bicho preguiça que já chorava de medo.
- “Ela vem já, já”, respondeu a águia.
Mas a coruja já chegara.
Pensativa, ergueu e mais alteou o pescoço, girando-o até formar um ângulo de 360
graus e, muito calmamente, começou a falar:
- “O chocolate. É, o chocolate. Os humanos estão roubando a nossa floresta. Eles estão
derrubando tudo o que cresce e tem folhas verdes para fazer papel, casas, móveis
modernos, transformando a floresta num monte de lixo. E para que a gente não
perceba, eles estão plantando árvores de chocolate no lugar. Acho que eles estão cheios
de intenções ruins”.
- “Mas isso é ilegal, é contra as leis da natureza. Temos que lutar contra isso”, disse o
hipopótamo.
- “Mas eles tem armas poderosas, poderosíssimas”, respondeu a coruja, apreensiva.
“Eles tem caminhões enormes, aviões barulhentos, umas motoserras infernais e até um
navio gigante que pode carregar todos nós nele e ainda sobra espaço”.
A maritaca se apavorava. As borboletas se chocavam no ar. Os saguis pulavan e
gritavam feito doidos. A cegonha chorava feito um bebê.
De repente, alguém lembrou:
- “O Sol!! Vamos pedir ajuda ao Sol”.
- “Mas o Sol anda sumido! Com o inverno, ele parece que tem preguiça e some da terra,
não dá as caras para nós!”.
Era o macaco ponderando.
- “É... Ele prefere descansar”, concordou o elefante. “Mas vou procurar por ele. Me
acompanhe, compadre búfalo. Nós somos grandões, ele há de nos ver e acordar do seu
sono”.
E partiram em busca do Sol que morava nas montanhas vermelhas.
O caminho era bem difícil.
O vento soprava gelado e forte demais, as folhas eram arrancadas das árvores e caíam
formando montes pelo chão, dificultando o movimentar das patas. Andaram, andaram,
tropeçaram, sentiram muita falta de ar, cansaço, dor nas pernas, e nada do Sol
aparecer. Parecia até que o mundo ia acabar por aqueles lados.
E nada de se aproximarem das montanhas vermelhas.
Cada vez mais desanimados, sentaram-se o elefante e o búfalo no chão... E dormiram...
E até sonharam sonhos maus, sem pé, nem cabeça, sem fim e nem começo.
Acordaram suados.
- “Não sei de nada, compadre elefante. Eu também estou ensopado e nem consigo
levantar. Me ajude aqui, compadre, faz favor!”, pediu o coitado do búfalo.
Sem entender nada, voltaram a caminhar em busca do Sol. Nada de Sol! Algumas luas
já haviam passado no céu. Perderam a conta. Acharam até que estavam perdidos. Havia
pântano. Nenhum animal passava por ali. Só mesmo urubus e gaviões.
Como ir em frente? Como voltar? Com o sono, esqueceram até da direção a tomar...
- “Tão grandes e tão inúteis!” – pensava um.
E o outro pensava igual:
- “Tão grandes e tão bocós!”.
- “Im-pres-tá-veis!”.
Era a consciência. De cada um deles.
Mas não adiantaram lamentos. Recomeçaram a andar. E a correr. E a descer
montanhas. E a subir penhascos. E nada do astro aparecer.
Teria o Sol evaporado?
Teria implodido?
Que fariam sem ele?
Era só tristeza.
Mas eles caminhavam. Pelo menos, eram dois. Dois grandes compadres. Haveriam de
sobreviver!
Mas de repente... A paisagem começou a mudar, a parecer meio familiar.
E então reconheceram o grande lago azul que um dia viu todos os animais dali
nascerem. Era a floresta mágica.
Enfim, voltavam para casa.
Mas havia algo estranho nela. Estava um pouco menor, mas os animais cantavam em
rodinhas. E então perceberam os amigos que chegavam da grande viagem.
- “Obrigado, obrigado, obrigado”.
E todos vieram agradecer. E atropelavam-se, falando alto.
- “O Sol nos contou que vocês estiveram nas montanhas vermelhas e avisaram que a
gente precisava de ajuda”.
- “Ele chegou e derreteu todo o chocolate”.
- “Com sua força, deixou os humanos tão fracos e anêmicos que eles foram embora
daqui, envergonhados”.
- “Bem, - disse a coruja piscando um olho -, graças a Deus, tudo será como antes.
Estamos em paz e tudo graças a vocês dois”.
Não havia como explicar.
Os dois compadres nem chegaram a ver o Sol.
Ou será que estiveram nas montanhas vermelhas enquanto dormiam? Será que eram
sonâmbulos e não sabiam?
Ou será que os animais da floresta também tem seus anjos da guarda?!
A FÁBRICA DE OVOS DE
PÁSCOA