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10 RELAÇÕES DE SEGREGAÇÃO, IDENTIDADES, SOCIOLOGIA

PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO

IDENTIDADE E CULTURA
Identidade cultural é a relação que se estabelece entre
“semelhantes”, ou seja, os símbolos que constituem uma cultura
quando são partilhados por um grupo acabam criando uma
identidade cultural, que por vezes acaba dando sentido a uma
nação — esse conceito de Nação passa a ganhar força a partir
do século XVI, quando são constituídos os Estados Nacionais
Modernos.
A ideia de identidade é criada e está presente mesmo em
organizações muito primitivas, e podemos encontrá-la até em
organizações tribais.
Existem muitos traços culturais presentes na identidade cultural
de alguém que permitem identificar, por exemplo, sua origem.
Imagine que uma mulher sambE muito bem em uma festividade em
Nova York. Quando as pessoas olharem para ela, qual nacionalidade
normalmente virá na mente daquelas pessoas? Brasileira, com Exemplos de representações culturais religiosas.
certeza, já que o samba faz parte da nossa identidade cultural. É a
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/templo-santu%C3%A1rio-buda-budismo-
identidade cultural que desenvolve nos indivíduos o sentimento de %C3%A1sia-629754/
pertencimento a uma comunidade, sociedade e nação.
A identidade aparece, portanto, na relação que se estabelece
com a diferença, na medida em que esse sistema de representações IDENTIDADE E ALTERIDADE
só pertence a um dado grupo ou nação e reflete a ideia de que A identidade é criada no exercício da determinação da
“tudo aquilo que está fora” desse contexto não pertence à mesma diferença. Ou seja, quando estabeleço quem eu sou? Quando
identidade, ao mesmo grupo e àquela nação. delimito quem eu não sou. Esta relação entre identidade e
diferença ocorre, então, quando o grupo cria símbolos e partilha
dessas mesmas normas de comportamento, valores, costumes,
religiosidade, ritos, e enxerga o outro — o que não partilha como
“o diferente”.
O princípio de alteridade aparece no exercício da formação da
identidade, e “o outro é o não eu”. Pois o “outro” é aquele que nega
os meus símbolos, podendo compartilhá-los comigo. Em alguns
momentos, o conceito de Raça esteve presente como forma de
justificar a criação de uma identidade. A origem do conceito era a
designação das espécies diferentes e a classificação das mesmas
na Zoologia e na Botânica. Na Idade Moderna, esse conceito
passou a ser utilizado pela sociedade, designando e determinando
os diferentes tipos de esferas sociais. Graduando, conseguiram
criar caminhos para o racismo ou “racialismo”, o que nos leva ao
exercício da intolerância ao outro e a identificação não por símbolos,
mas essencialmente por características físicas (cor de pele etc.).
Essa identidade é que forma o conceito de ação moderna, como
vimos anteriormente. Assim, a nação expressa não somente a
formação de uma identidade única, mas também a territorialidade,
a língua e outros símbolos materiais como bandeira e hino, que
formam o que é nacional: ao serem compartilhados enquanto
símbolos, os indivíduos passam a ter uma consciência coletiva de
que fazem parte de um todo.

NACIONALISMO
Benedict Anderson em seu livro “Comunidades Imaginadas”
propõe uma definição instrumental do conceito de nação: “Uma
comunidade política imaginada – e imaginada como sendo
intrinsecamente limitada e, ao mesmo tempo, soberana”. A palavra
imaginada vira o cerne da explicação de Anderson para a construção
de uma nação, o adjetivo provém da tentativa de se demonstrar
que as nações não são criadas, o uso do termo “imaginada” se
contrapõe ao termo “criada” ou “inventada”, a ideia de invenção ou
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/db/ criação pode dar a ideia de que existam comunidades verdadeiras.
Sri_Mariamman_Temple_Singapore_3_amk.jpg

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Anderson diz que: “as comunidades se distinguem não por sua c) os jovens, na sociedade atual, configuram o futuro do Brasil
falsidade/autenticidade, mas pelo estilo em que são imaginadas”, e todos têm igualdade de oportunidades na sociedade,
mesmo não se conhecendo todos os indivíduos presentes em sua dependendo apenas do esforço individual para alcançar
nação, existe um sentimento intrínseco de comunhão entre eles. sucesso na vida.
É interessante também observar a utilização do termo “limitada” d) não se pode falar em juventude, mas em juventudes, devido à
devido à existência de fronteiras territoriais em cada nação. O diversidade e pluralidade de situações que definem o lugar e a
adjetivo comunidade se refere à existência de uma “camaradagem” pertença dos jovens na sociedade.
entre os membros de determinada nação e o adjetivo soberana
vem da possibilidade de pluralidade e liberdade de cada nação.
03. (ENEM PPL) Quanto mais a vida social se torna mediada
pelo mercado global de estilos, lugares e imagens, pelas viagens
PROEXPLICA internacionais, pelas imagens da mídia e pelos sistemas de
comunicação interligados, mais as identidades se tornam
A identidade cultural é cobrada no Enem apresentando desvinculadas – desalojadas – de tempos, lugares, histórias
elementos que produzem um sentimento de pertencimento. e tradições específicos e parecem “flutuar livremente”. Somos
A identidade cultural nacional é enfatizada e patrimônios confrontados por uma gama de diferentes identidades (cada qual
material e imaterial, festas e comidas típicas são elementos nos fazendo apelos, ou melhor, fazendo apelos a diferentes partes
priorizados para se trabalhar esse conceito, normalmente de nós), dentre as quais parece possível fazer uma escolha.
com interdisciplinaridade com História (identidade ao longo HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
do tempo) e com Geografia (identidades em lugares em
Do ponto de vista conceitual, a transformação identitária descrita
lugares diversos).
resulta na constituição de um sujeito
• O conceito de “raça” não envolve:
a) altruísta.
• características físicas e genéticas;
b) dependente.
• afinidades linguísticas e cultura;
c) nacionalista.
• cor da pele, tipo de cabelo e gênero;
d) multifacetado.
• a classificação de grupos sociais em superior e inferior;
e) territorializado.
• o desejo de um povo dominar outro povo.
04. (ENEM PPL) As primeiras ações acerca do patrimônio histórico
no Brasil datam da década de 1930, com a criação do Serviço do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), em 1937. Nesse
período, o conceito que norteou a política de patrimônio limitou-
se aos monumentos arquitetônicos relacionados ao passado
EXERCÍCIOS brasileiro e vinculava-se aos ideais modernistas de conhecer,
PROPOSTOS compreender e recriar o Brasil por meio da valorização da tradição.
SANTOS, G. Poder e patrimônio histórico: possibilidades de diálogo entre educação
histórica e educação patrimonial no ensino médio. EntreVer, n. 2, jan.-jun. 2012.
01. (UEMA) (...) Uma opinião diversa da minha, um modo de se
comportar oposto ao meu, obriga-me a refletir. Eu me questiono, Considerando o contexto mencionado, a criação dessa política
o que enriquece minha maneira de ver, de pensar e de agir. Enfim, patrimonial objetivou a
o outro me faz progredir e ajuda-me na construção de minha a) consolidação da historiografia oficial.
personalidade. Não se trata de aceitar, sem refletir, os modismos
ou de ser um cata-vento girando aos quatro ventos. Trata-se, b) definição do mercado cultural.
somente, de se abrir ao mundo exterior, de ficar atento aos outros; c) afirmação da identidade nacional.
ou seja, de estar pronto a compreender, reagir, construir. O racismo d) divulgação de sítios arqueológicos.
somente será vencido quando nós soubermos dizer ao outro um
e) universalização de saberes museológicos.
“muito obrigado”, tanto maior quanto maiores forem as diferenças
entre nós.
JACQUARD, Albert. Todos semelhantes, todos diferentes. São Paulo: Augustos, 1993.
05. (ENEM 2ª APLICAÇÃO) O acervo do Museu da Língua
Portuguesa é o nosso idioma, um “patrimônio imaterial” que não
Os seres humanos se percebem na relação social com o outro e esse pode ser, por isso, guardado e exposto em uma redoma de vidro.
outro, dentro de um possível, nos leva a refletir sobre o nosso modo Assim, o museu, dedicado à valorização e difusão da língua
de ser, de pensar e de agir. Na relação do eu – outro constrói-se portuguesa, reconhecidamente importante para a preservação
de nossa identidade cultural, apresenta uma forma expositiva
a) idiolatricidade. d) idealidade.
diferenciada das demais instituições museológicas do país e do
b) identidade. e) idealismo. mundo, usando tecnologia de ponta e recursos interativos para a
c) igualdade. apresentação de seus conteúdos.
Disponível em: www.museulinguaportuguesa.org.br.
Acesso em: 16 ago. 2012 (adaptado).
02. (UECE) Sob o ponto de vista da Sociologia, a juventude não
é homogênea, é plural, pois os grupos juvenis da sociedade se De acordo com o texto, embora a língua portuguesa seja um
distinguem tanto pelas desigualdades sociais, de raça e de gênero “patrimônio imaterial”, pode ser exposta em um museu. A relevância
quanto pela diferenciação cultural. desse tipo de iniciativa está pautada no pressuposto de que
De acordo com a proposição acima, é correto afirmar que a) a língua é um importante instrumento de constituição social de
a) a juventude é definida como um segmento social que partilha seus usuários.
uma mesma faixa de idade e expectativas de vida semelhantes. b) o modo de falar o português padrão deve ser divulgado ao
b) juventude é o momento de entrar no mercado de trabalho grande público.
para garantir o futuro, pois é logo cedo que se aprende uma c) a escola precisa de parceiros na tarefa de valorização da língua
profissão. portuguesa.

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d) o contato do público com a norma-padrão solicita o uso de a lógica circulatória do mercado, ao mesmo tempo que acena
tecnologia de última geração. democraticamente para as massas com os supostos “ganhos
e) as atividades lúdicas dos falantes com sua própria língua distributivos” (a informação ilimitada, a quebra das supostas
melhoram com o uso de recursos tecnológicos. hierarquias culturais), afeta a velha cultura disseminada na esfera
pública. A participação nas redes sociais, a obsessão dos selfies,
tanto falar e ser falado quanto ser visto são índices do desejo de
06. (ENEM) Em algumas línguas de Moçambique não existe a
“espelhamento”.
palavra “pobre”. O indivíduo é pobre quando não tem parentes.
SODRÉ, M. Disponível em: http://alias.estadao.com.br.
A pobreza é a solidão, a ruptura das relações familiares que, na Acesso em: 9 fev. 2015 (adaptado).
sociedade rural, servem de apoio à sobrevivência. Os consultores
internacionais, especialistas em elaborar relatórios sobre a miséria, A crítica contida no texto sobre a sociedade contemporânea
talvez não tenham em conta o impacto dramático da destruição enfatiza
dos laços familiares e das relações de entreajuda. Nações inteiras
a) a prática identitária autorreferente.
estão tornando-se “órfãs”, e a mendicidade parece ser a única via
de uma agonizante sobrevivência. b) a dinâmica política democratizante.
COUTO, M. E se Obama fosse africano? & outras intervenções. c) a produção instantânea de notícias.
Portugal: Caminho, 2009 (adaptado).
d) os processos difusores de informações.
Em uma leitura que extrapola a esfera econômica, o autor associa e) os mecanismos de convergência tecnológica.
o acirramento da pobreza à
a) afirmação das origens ancestrais. 09. (ENEM 2ª APLICAÇÃO) A abordagem do patrimônio cultural,
b) fragilização das redes de sociabilidade. centrada nos aspectos técnicos da conservação e da restauração,
tende o ocultar a ideia de que a sua preservação é uma prática social
c) padronização das políticas educacionais. que implica um processo de interpretação da cultura, não apenas
d) fragmentação das propriedades agrícolas. material como simbólica, portadora de referência à identidade, à
e) globalização das tecnologias de comunicação. ação e à memória dos grupos formadores da sociedade.
FONSECA, M. C. L. Para além da pedra e cal. In: ABREU, R.; CHAGAS, M. Memória e
patrimônio: ensaios contemporâneos. Rio de Janeiro: DP&A, 2003 (adaptado).
07. (ENEM PPL) TEXTO I
É notório que o universo do futebol caracteriza-se por ser, A defesa do patrimônio histórico busca valorizar os bens que
desde sua origem, um espaço eminentemente masculino; como representam a nossa identidade. Nesse sentido há manifestações
esse espaço não é apenas esportivo, mas sociocultural, os valores culturais cuja preservação demanda seu reconhecimento como
nele embutidos e dele derivados estabelecem limites que, embora patrimônio imaterial. Essa concepção de patrimônio expressa-se
nem sempre tão claros, devem ser observados para a perfeita a) no conjunto de bens culturais classificados segundo a sua
manutenção da “ordem”, ou da “lógica’” que se atribui ao jogo e que natureza: arqueológica, histórica e etnográfica.
nele se espera ver confirmada. A entrada das mulheres em campo
b) no tombamento dos bens imóveis. Como grupos urbanos,
subverteria tal ordem, e as reações daí decorrentes expressam
sítios arqueológicos e paisagísticos.
muito bem as relações presentes em cada sociedade: quanto mais
machista, ou sexista, ela for, mais exacerbadas as suas réplicas. c) na preservação e proteção de monumentos históricos e bens
FRANZINI, F. Futebol é “coisa pra macho”? culturais de diversas regiões brasileiras.
Pequeno esboço para uma história das mulheres no país do futebol. d) no conhecimento transmitido entre gerações e recriado pelas
Revista Brasileira de História, v. 25, n. 50, jul.-dez. 2005 (adaptado).
comunidades, gerando um sentimento de pertencimento.
TEXTO II e) no arquivamento da produção intelectual como os livros e a
Com o Estado Novo, a circularidade de uma prática cultural conservação de pinturas e esculturas.
nascida na elite e transformada por sua aceitação popular
completou o ciclo ao ser apropriada pelo Estado como parte 10. (ENEM PPL)
do discurso oficial sobre a nacionalidade. A partir daí, o Estado
profissionalizou o futebol e passou a ser o grande promotor do Uma língua, múltiplos falares
esporte, descrito como uma expressão da nacionalidade. O futebol Desde suas origens, o Brasil tem uma língua dividida em falares
brasileiro refletiria as qualidades e os defeitos da nação. diversos. Mesmo antes da chegada dos portugueses, o território
SANTOS, L. C. V. G. O dia em que adiaram o carnaval: brasileiro já era multilíngue. Havia cerca de 1,2 mil línguas faladas
política externa e a construção do Brasil. São Paulo: EdUNESP, 2010. pelos povos indígenas. O português trazido pelo colonizador
tampouco era uma língua homogênea, havia variações dependendo
Os dois aspectos ressaltados pelos textos sobre a história do da região de Portugal de onde ele vinha. Há de se considerar também
futebol na sociedade brasileira são respectivamente: que a chegada de falantes de português acontece em diferentes
a) Simbolismo político — poder manipulador. etapas, em momentos históricos específicos. Na cidade de São
b) Caráter coletivo — ligação com as demandas populares. Paulo, por exemplo, temos primeiramente o encontro linguístico
de portugueses com índios e, além dos negros da África, vieram
c) Potencial de divertimento — contribuição para a alienação
italianos, japoneses, alemães, árabes, todos com suas línguas.
popular.
“Todo este processo vai produzindo diversidades linguísticas que
d) Manifestação de relações de gênero — papel identitário. caracterizam falares diferentes”, afirma um linguista da Unicamp.
e) Dimensão folclórica — exercício da dominação de classes. Daí que na mesma São Paulo pode-se encontrar modos de falar
distintos como o de Adoniran Barbosa, que eternizou em suas
08. (ENEM) Na sociedade contemporânea, onde as relações composições o sotaque típico de um filho de imigrantes italianos,
sociais tendem a reger-se por imagens midiáticas, a imagem de ou o chamado erre retroflexo, aquele erre dobrado que, junto com a
um indivíduo, principalmente na indústria do espetáculo, pode letra i, resulta naquele jeito de falar “cairne” e “poirta” característico
agregar valor econômico na medida de seu incremento técnico: do interior de São Paulo.
amplitude do espelhamento e da atenção pública. Aparecer é então MARIUZZO, P. Disponível em: www.labjor.unicamp.br.
Acesso em: 30 jul. 2012 (adaptado).
mais do que ser; o sujeito é famoso porque é falado. Nesse âmbito,

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A partir desse breve histórico da língua portuguesa no Brasil,


um dos elementos de identidade nacional, entende-se que a
diversidade linguística é resultado da
a) imposição da língua do colonizador sobre as línguas indígenas.
b) interação entre os falantes de línguas e culturas diferentes.
c) sobreposição das línguas europeias sobre as africanas e
indígenas.
d) heterogeneidade da língua trazida pelo colonizador.
e) preservação dos sotaques característicos dos imigrantes.

GABARITO
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
01. B 03. D 05. A 07. D 09. D
02. D 04. C 06. B 08. A 10. B

ANOTAÇÕES

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