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Texto de apoio para adisciplina de Sociologia Empresarial

Módulo I

1. A sociologia como ciência


1.1 – O contexto histórico e cultural do surgimento da Sociologia
1.2 – As principais correntes do pensamento sociológico
1.3 – A Sociologia do Trabalho – A Era da Industrialização e da Automação
1.4 – O estudo científico da organização do trabalho – Elton Mayo

MÓDULO I

I- A SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA: CONTEXTUALIZAÇÃO DA DISCIPLINA

Profissionais das mais diversas áreas desconhecem a utilidade da Sociologia, pois a


sociedade tem características que precisam ser conhecidas para que aqueles que nela
actuam tenham sucesso.
Não existe, portanto, nenhum sector da vida onde os conhecimentos sociológicos não
sejam de ampla utilidade. E essa certeza perpassa hoje toda a linguagem dos meios de
comunicação e toda a actuação profissional das pessoas e, é por isso que a Sociologia
faz parte dos programas universitários que preparam os mais diversos profissionais.
Hoje afirmamos que: a Sociologia é uma ciência que se define não por seu objecto de
estudo, mas por sua abordagem, isto é, pela forma com que pesquisa, analisa e
interpreta os fenómenos sociais.
Dizer que “o objecto da Sociologia é a sociedade” é dar ao cientista social um objecto
sem limites precisos, amplos demais para que ele possa dar conta. Tudo que existe,
desde que o homem se reconhece como tal, existe em sociedade. Portanto, não é por
fazer parte da sociedade, ou de um meio social que um facto se torna objecto de
pesquisa sociológica. Um acontecimento ou um comportamento é sociológico quando
sobre ele se debruça o sociólogo, tentando entendê-lo nos aspectos que dizem
respeito às relações entre os homens e às raízes de seu comportamento.
Os conhecimentos sociológicos tentam explicar as relações entre acontecimentos
complexos e diferenciados, unindo fenómenos aparentemente dissociados, permite ao
homem transpor os limites de sua condição particular para percebê-lo como arte de
uma totalidade mais ampla, que é o todo social. Isso faz da Sociologia um
conhecimento indispensável num mundo que, à medida que cresce, mais diferencia e
isola os homens e os grupos entre si.

1. A SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA


1.1- O Contexto histórico do aparecimento do pensamento científico

O pensamento sociológico ganha estrutura no século XIX, entre outras coisas, como
produto das novas concepções do pensamento científico moderno que se consolidara
no século XVIII, quando surgiram as primeiras tentativas de explicar o comportamento
humano pelas situações de existência e formou-se a convicção de que os fenómenos
sociais variam não porque sejam sujeitos ao arbítrio dos indivíduos, mas porque são
regulados por uma ordem inerente às relações deles entre si, a qual é variável de uma
sociedade para outra.
E, assim, a Sociologia surge como um ramo especializado do conhecimento e se
sistematiza como ciência, dentro de um quadro que articula transformações, no plano

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intelectual, com as condições sociais que destruíram a sociedade medieval e


edificaram os tempos modernos, marcados por um novo modo de viver e produzir.
As transformações económicas e sociais que assinalam a primeira metade do século
XIX e o desenvolvimento do método científico noutros sectores do conhecimento
humano, paralelos à sociologia, criaram, a esse tempo, as condições práticas e
teóricas, históricas e filosóficas, para a organização da sociologia como disciplina.
Os pioneiros do pensamento sociológico, no entanto, não aspiravam somente um
conhecimento da realidade social. Seu objectivo maior era transformar o saber
sociológico num instrumento de acção sobre a sociedade, pretendendo modificá-la. E
foi com este objectivo que se elaborou, inicialmente, a ciência da sociedade para
racionalizar a construção de uma nova ordem social que deveria surgir a partir do
antigo sistema.
“(...) Se sabemos em que sentido evolui o direito de propriedade à medida que as
sociedades se tornam mais volumosas, mais densas, e se qualquer novo aumento de
volume ou de densidade torna necessárias novas modificações, poderemos prevê-las e,
prevendo-as, querê-las antecipadamente. Enfim, comparando o tipo normal com ele
mesmo – operação estritamente científica – poderemos verificar que ele não está
inteiramente de acordo com ele próprio, que contém contradições, isto é, imperfeições,
e procurar eliminá-las ou corrigi-las (...1)”
Com as transformações nas concepções da ciência, em geral, e da Sociologia, em
particular, chega-se, hoje, à compreensão da serventia do pensamento sociológico,
que Wright Mills tão bem definiu em sua obra “A Imaginação Sociológica”:
“A imaginação sociológica habilita-nos a apanhar a história e a biografia, e as relações
de ambas no interior da sociedade. Essa é a sua tarefa e promessa. Nenhum estudo
social se completa se não estiver voltado para os problemas da biografia, da história e
das suas conexões recíprocas na sociedade.”

- Conceito de Sociologia
A palavra Sociologia é de origem tão recente quanto a disciplina que designa. Foi
criada pelo filósofo francês Augusto Comte, no século XIX (1839) que tomando por
base os termos extraídos do latim socio (que exprime a ideia de “social”) e do grego
logos (que exprime a ideia de “palavra” ou “estudo”) deu origem ao nome que viria a
designar a nova ciência: Sociologia. Do ponto de vista etimológico, Sociologia significa
simplesmente “o estudo do social” ou “o estudo da sociedade”.
É claro que a etimologia da palavra não é suficiente para nos fazer entender o que é a
Sociologia.
A Sociologia é uma ciência que se define não por seu objecto de estudo, mas por sua
abordagem, isto é, pela forma com que pesquisa, analisa e interpreta os fenómenos
sociais No sentido, de criar um conceito que melhor definisse a nova ciência, vários
estudiosos, elaboraram teorias sociológicas, das quais trataremos mais adiante.

– Objecto de estudo
Dizer que o objecto da Sociologia é a sociedade significa dar ao cientista social um
objecto sem limites precisos, amplos demais para que ele possa dar conta. Pois, tudo
que existe desde que o homem se reconhece como tal, existe em sociedade. Portanto,
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Durkheim, Emile. De la division du travail social. Paris: Librairie Felix Alcan, 1926.

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não é por fazer parte da sociedade, ou de um meio social que um facto se torna
objecto de pesquisa sociológica. Um acontecimento, ou um comportamento é
sociológico quando sobre ele se debruça o sociólogo, tentando entendê-lo nos
aspectos que dizem respeito às relações entre os homens e às raízes de seu
comportamento.
No entanto, mesmo havendo consenso entre os sociólogos modernos quanto à ideia
de que a Sociologia é o estudo científico do comportamento social ou da acção social
dos seres humanos, permanece a discordância no que concerne:

a) à natureza do método científico aplicado aos fenómenos sociais;


b) à conceituação dos fenómenos sociais, incluindo ou não os aspectos que são
directamente observáveis;
c) ao âmbito e alcance dos fenómenos sociais a serem considerados como sua matéria
própria.

Surgiu uma maneira nova de pensar o “porquê” e o “para que” das coisas. Surgiram os
sábios, homens cuja actividade era descobrir os segredos do mundo e do universo.
Durante a Idade Média, com o grande poder da Igreja Católica, novamente imperou o
saber ligado à religião.
Só com o Renascimento é que o homem volta aos textos antigos e redescobre o prazer
de investigar o mundo, descobrir as leis de sua organização como actividade de valor
em si mesma, independente de suas implicações religiosas.
A partir do século XVII, vimos assistimos ao crescente progresso da ciência, destinada à
descoberta das relações entre as coisas, das leis que regem o mundo natural.
Eis que no século XIX surge uma ciência nova – a Sociologia, a ciência da sociedade,
preocupada com as regras que organizavam a vida social.
O aparecimento da sociologia significou que as questões relativas às relações entre os
homens deixaram de ser apenas matéria religiosa passaram a interessar também aos
cientistas. O homem começou a desenvolver métodos (observação e experimentação)
e instrumentos de análise capazes de traduzir sua experiência social de maneira
científica.
Criou-se um jargão científico, isto é, um vocabulário próprio com conceitos que
designam aspectos precisos da vida social. De tal forma se alastraram os resultados das
pesquisas sociológicas que, hoje, boa parte desse vocabulário faz parte da vida
quotidiana. Palavras e expressões como contexto social, movimentos sociais, classes,
estratos, camadas, conflito social, são usadas no dia-a-dia das pessoas e
profundamente veiculadas pelos meios de comunicação de massa.

1.2 –As principais correntes do pensamento sociológico

i) Augusto Comte e o positivismo


Os primeiros cientistas sociais, através do método de investigação científica, tentaram
explicar que as ciências sociais derivam das ciências físicas. Entre esses se destaca o
seu fundador e sistematizador, o filósofo francês Auguste Comte (1798-1857). O
positivismo foi a primeira teoria a organizar alguns princípios a respeito do homem e
da sociedade tentando explicá-los cientificamente. O próprio Comte deu inicialmente o
nome de “física social” às suas análises da sociedade, antes de criar o termo
“Sociologia”.

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O positivismo foi também chamado de organicismo porque concebia a sociedade


como um organismo constituído de partes integradas e coesas que funcionam
harmonicamente, segundo um método físico e mecânico. Suas pesquisas levaram-no a
identificar na sociedade dois movimentos vitais: a) o movimento dinâmico e b) o
movimento estático.
Chamou de movimento dinâmico, aquele que representava a passagem para formas
mais complexas de existência, como a industrialização, e de movimento estático, o
responsável pela preservação dos elementos permanentes de toda organização social,
isto é, as instituições que mantinham a coesão e garantiam o funcionamento da
sociedade: família, religião, linguagem, direito etc. Caberia à Sociologia manter um
equilíbrio entre os aspectos estáticos e os aspectos dinâmicos, isto é, entre a ordem e
o progresso.
Em meio a tudo isso e devido ao desenvolvimento industrial europeu, repleto de
conflitos sociais, os positivistas respondem aos anseios de organização e controle da
sociedade justamente com ideias de ordem e progresso, procurando ajustar todos os
indivíduos às condições estabelecidas, que garantiriam o melhor funcionamento da
sociedade.
O positivismo foi o pensamento que glorificou a sociedade europeia do século XIX, em
franca expansão. Buscava justificar, através de um método científico adequado, os
padrões burgueses e industriais de organização social. Procurava resolver os conflitos
sociais por meio de exaltação à coesão, à harmonia natural entre os indivíduos, ao
bem-estar do todo social. A primeira corrente de pensamento que se deteve a estudar
a sociedade a partir da análise de seus processos e estruturas, para possibilitar uma
reforma das instituições, foi a “filosofia positiva”.
Charles Darwin, cientista inglês, nesta época muito contribuiu com sua teoria da
evolução biológica das espécies animais. Suas ideias transpostas para as análises da
sociedade fizeram surgir o Darwinismo social, isto é, a crença de que as sociedades
mudariam e evoluiriam sempre de um estágio inferior para um outro superior, em que
o organismo social se mostraria mais evoluído, mais adequado e mais complexo. Esse
tipo de mudança garantiria a sobrevivência dos organismos – sociedade e indivíduos –
mais fortes e mais evoluídos. Em meio a tudo isso e devido ao desenvolvimento
industrial europeu repleto de conflitos sociais, os positivistas respondem aos anseios
com ideias de ordem e progresso, onde procurariam ajudar todos os indivíduos às
condições estabelecidas que garantiriam o melhor funcionamento da sociedade.
Comte identificou na sociedade esses dois movimentos vitais chamaram de dinâmico o
que representava a passagem para formas mais complexas de existência, com a
industrialização, e de estático o responsável pela preservação dos elementos
permanentes de toda organização social, isto é, as instituições que mantinham a
coesão e garantiam o funcionamento da sociedade, família, religião, linguagem, direito
etc.
O positivismo foi, portanto, o pensamento que glorificou a sociedade europeia do
século XIX, em franca expansão. Buscava justificar, através de um método científico
adequado, os padrões burgueses e industriais de organização social. Procurava
resolver os conflitos sociais por meio de exaltação à coesão, à harmonia natural entre
os indivíduos, ao bem-estar do todo social.

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ii) A sociologia de Durkheim - Funcionalismo

Nasceu em Epinal, na Alsácia, descendente de uma família de rabinos. Iniciou seus


estudos filosóficos na Escola Normal Superior de Paris, indo depois para a Alemanha.
Leccionou Sociologia em Bordéus, primeira cátedra dessa ciência criada na França.
Transferiu-se, em 1902, para a Sorbonne, para onde levou inúmeros cientistas, entre
eles seu sobrinho Marcel Mauss, reunindo-os num grupo que ficou conhecido como
escola sociológica francesa. Suas principais obras foram: Da Divisão do Trabalho Social
(1893), As Regras do Método Sociológico (1895), O Suicídio (1897), As Formas
Elementares da Vida Religiosa (1912), Educação e Sociologia (1922), Sociologia e
Filosofia (1928) e Lições de Sociologia (1950). Essas três últimas foram obras póstumas,
pois Durkheim morre em Paris, em 1917.

– Os factos sociais como objecto da sociologia


Durkheim e seus colaboradores se esforçaram em emancipar a Sociologia das filosofias
sociais e constituí-la definitivamente como disciplina científica. Para a teoria
sociológica de Durkhein o objecto de estudo da Sociologia é o “facto social”.
Durkheim, em seu trabalho “Les règles de la méthode sociologigue” (1895), faz a
seguinte afirmativa:
“Quando desempenho meus deveres de irmão, de esposo ou de cidadão, quando me
desincumbo de encargos que contraí, pratico deveres que estão definidos fora de mim
e de meus actos, no direito e nos costumes.
Mesmo estando de acordo com sentimentos que me são próprios, sentindo-lhes
interiormente a realidade, esta não deixa de ser objectiva; pois não fui eu quem os
criou, mas recebi-os através da educação. (...) Não somente esses tipos de conduta ou
de pensamento são apenas exteriores ao indivíduo, como também são dotados de um
poder imperativo e coercitivo em virtude do qual se lhe impõem, quer queira, quer não.
2

Prosseguindo na sua tentativa de evidenciar o objecto de estudo da Sociologia,
Durkheim assim define facto social:
“(...) Nossa definição compreende, então, todo o definido se dissermos: É facto social,
toda maneira de agir, fixa ou não, susceptível de exercer sobre o indivíduo uma coerção
exterior; ou mais ainda, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando
uma existência própria, independente das manifestações individuais que possa ter.3”
Examinando a definição durkheimiana, pode-se perceber claramente as três
características fundamentais do facto social:
Exterioridade - É exterior uma vez que actua sobre os indivíduos, independentemente
de sua vontade, como por exemplo, as regras sociais, os costumes, as leis.
Coercitividade - É coercitivo porque se impõe, porque tem força de actuar sobre os
indivíduos que, se resistirem a ele, sofrem sanções do grupo social.
Generalidade - É geral no contexto de uma determinada sociedade, por isso que se
manifesta colectivamente.
Durkheim considerava, ainda que, para garantir a objectividade científica necessária, o
sociólogo devia encarar os factos sociais como coisas, isto é, como fenómenos que não
são inteligíveis imediatamente, senão que precisam de um método para se tornar

2
DURKHEIM, Èmile. As Regras do Método Sociológico. São Paulo, Nacional, 1956, p.3 - 4.
3
Idem Pg.14
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conhecidos. Neste sentido, o senso comum, na medida em que é acrítico, marcado,


por pré-noções e preconceitos, é contrário ao conhecimento científico do facto social.
Para Durkheim, a Sociologia tinha por finalidade não só explicar a sociedade como
também encontrar remédios para a vida social.
A generalidade de um facto social, isto é, sua unanimidade, é garantia de normalidade
na medida em que representa o consenso social e a vontade colectiva.
A harmonia é conseguida através do consenso social, a “saúde” do organismo social.
Os factos patológicos são considerados transitórios e excepcionais.
Toda teoria sociológica de Durkheim pretende demonstrar que os factos sociais têm
existência própria e independente daquilo que pensa e faz cada indivíduo em
particular. Ele chamou isto de consciência colectiva. É ela que vai revelar o tipo
psíquico da sociedade. A consciência colectiva é, em certo sentido, a forma moral
vigente na sociedade.
Para Durkheim, a Sociologia deveria ter ainda por objecto comparar as diversas
sociedades. Ele se distingue dos demais positivistas, porque suas ideias ultrapassaram
a simples reflexão filosófica e chegaram a constituir um todo organizado e sistemático
de pressupostos teóricos e metodológicos sobre a sociedade.

– A divisão do trabalho social


Os factos sociais compõem a teia de regras e normas que configuram um determinado
meio moral, compartilhado por todos aqueles que vivem em determinada sociedade.
Para Durkheim, este meio moral é possível porque os indivíduos que participam de
uma mesma sociedade desenvolvem um processo de interacção que ele chamou de
divisão do trabalho social.
Ao analisar o pensamento de Durkheim, Rodrigues formula o seguinte:
(...) conforme o tipo de divisão do trabalho social que predomina na vida colectiva
numa determinada época, temos um tipo diferente de cooperação entre os indivíduos.
E esse tipo diferente de cooperação, por sua vez, dá origem a uma vida moral
diferente. Vida moral que será a base dos conteúdos transmitidos na forma de crenças,
valores e normas de geração para geração (...)4
Como se pode perceber, além de indivíduos humanos vivos, para que haja sociedade é
necessário que haja entre eles um consenso, pois sem isso não há cooperação e,
portanto, não há divisão social do trabalho.
E Durkheim completa: O valor moral da divisão do trabalho social está em que é
através dela que o indivíduo toma consciência do seu estado de dependência com
relação à sociedade; é dela que vêm as forças que o retém e o contém. Em síntese,
uma vez que a divisão do trabalho se torna a fonte eminente da solidariedade social,
ela se torna ao mesmo tempo a base da ordem moral (...)5

– Da solidariedade mecânica à solidariedade orgânica


Na óptica de Durkheim, para que a vida social tenha prosseguimento, é necessário que
os indivíduos desempenhem diferentes funções. No entanto, dependendo do meio
moral, esta diferença entre as funções, isto é, a divisão do trabalho social, poderá ser
maior ou menor.

4
Rodrigues, Alberto Tosi. Sociologia da Educação. Rio de Janeiro; DP&A, 2001, p. 27
5
Durkheim, Emile. De la division du travail social. Paris: Librairie Felix Alcan, 1926, p. 396

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Numa sociedade tribal, por exemplo, na qual todas as pessoas desempenham


praticamente as mesmas actividades, crêem-nos mesmos deuses, adoram o mesmo
totem, obedecem aos mesmos tabus, estabelece-se o que na teoria durkheimiana se
conhece por solidariedade mecânica, já que no seu interior os indivíduos possuem
pouca divisão do trabalho social.
A solidariedade permanece mecânica enquanto a divisão do trabalho social não se
Desenvolve. Assim, existe uma estrutura social de natureza determinada a que
corresponde a solidariedade mecânica. Caracteriza-se por um sistema de segmentos
homogéneos e semelhantes entre si.
Ao contrário, quando se trata de uma sociedade mais complexa, como a moderna
sociedade industrial, em que há uma intensa divisão do trabalho social, acontece o que
Durkheim chamou de solidariedade orgânica. A sociedade industrial exige um certo
grau de diferenciação, entre as funções que os indivíduos devem desempenhar, que a
solidariedade baseada na semelhança é substituída pela solidariedade baseada na
diferença.
Diferente é a estrutura da sociedade onde a solidariedade orgânica é preponderante.
Elas são constituídas, não por uma repetição de segmentos similares ou homogéneos,
mas por um sistema de órgãos diferentes dos quais cada um tem um papel especial,
sendo eles próprios formados de partes diferenciadas. Assim como os elementos
sociais não são da mesma natureza, tão pouco estão dispostos da mesma maneira.
As diferentes sociedades, como se vê, correspondem diferentes tipos de solidariedade.
Quanto mais complexa a sociedade se mostra, maior possibilidade de interpretações
pessoais das regras que estão no grupo, mais se caminha da solidariedade mecânica
para a solidariedade orgânica.
Entretanto, positivista que era, Durkheim acreditava que “(...) todo o progresso
desencadeado pelo capitalismo, traria um aumento generalizado da divisão do
trabalho social e, por conseguinte, da solidariedade orgânica, a ponto de fazer com que
a sociedade [capitalista] chegasse a um estágio sem conflitos e problemas sociais.6”

– O normal e o patológico
De acordo com o exposto, percebe-se que, mesmo admitindo que nas sociedades mais
complexas se enfraqueçam as relações entre os indivíduos, tornando a solidariedade
orgânica cada vez maior, sempre resta um determinado nível de controlo, sem o qual
se presenciaria a desintegração da vida social, num processo que Durkheim chamou de
anomia, isto é, ausência de regras. Na concepção durkheimiana, os problemas sociais
têm origem numa crise moral, isto é, num estado social em que as regras de conduta
não estão funcionando. A esse estado de coisas em que as regras sociais não estão
funcionando, ele chamou de patológico.
Reunindo essas duas categorias, presentes na formulação de Durkheim, é que se
compreende porque, para ele, de acordo com as concepções positivistas, o
funcionamento da sociedade se dava na linha do equilíbrio-linearidade-harmonia.
A interpretação positivista da sociedade apontava que, no futuro, a sociedade
industrial capitalista, caminhando dentro da ordem e do progresso, resolveria os seus
problemas. Para isso bastava que se compreendesse, objectivamente, a forma como a
sociedade capitalista se desenvolvia e, descobrindo as leis sociais que são falhas, se

6
Meksenas, Paulo. Sociologia. São Paulo: Cortez, 1994, p. 68.

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procedesse à sua substituição por outras mais eficientes. E, para Durkheim, esse seria
o trabalho do sociólogo.

iii) Max Weber (1864 – 1920) - Estruturalismo


Nasceu na cidade de Erfurt, Alemanha. Filho de uma família de burgueses liberais.
Desenvolveu estudos de Direito, Filosofia, História e Economia, constantemente
interrompidos por uma doença que o acompanhou por toda a vida. Iniciou a carreira
de professor em Berlim e, em 1895, foi catedrático na Universidade de Heidelberg.
Sua maior influência nos ramos especializados da Sociologia foi no estudo das religiões,
firmando relações entre formações políticas e crenças religiosas. Suas principais obras
foram:
A ÉTICA PROTESTANTE E O ESPÍRITO DO CAPITALISMO (1904) e ECONOMIA E
SOCIEDADE (1922).
Enquanto a França e a Inglaterra desenvolveram o pensamento social influenciado
pelo desenvolvimento industrial e urbano, que tornou esses países potências
emergentes nos séculos XVII e XVIII e, portanto, sedes do pensamento burguês da
Europa. Somado ao grande avanço alcançado pelas ciências físicas e biológicas cuja
influência se exerceu sobre as primeiras escolas sociológicas que adaptaram os
princípios e as metodologias dessas ciências a realidade social. A Alemanha, por outro
lado, apresentava uma realidade distinta. Aí, o pensamento burguês se organiza
tardiamente e quando o faz, já no século XIX, é sob a influência de outras correntes
filosóficas e da sistematização de outras ciências humanas, como a História e a
Antropologia.
Na Alemanha o positivismo teve menor repercussão. A grande fonte filosófica ali foi o
idealismo de Kant e Hegel que exerceram grande influência sobre o pensamento
sociológico desenvolvido por Weber e outros.
O conhecimento para a filosofia alemã é fruto da relação da razão com os objectos do
mundo, ou seja, os conhecimentos não são apenas vividos, mas também pensados.
O positivismo valoriza apenas a lei de evolução, a generalização e a comparação entre
formações sociais, enquanto para a teoria sociológica weberiana a pesquisa histórica é
essencial para a compreensão das sociedades. Seu objecto de estudos é a acção social,
definida como toda a conduta humana orientada por um motivo que lhe dá sentido.
Cabe ao sociólogo perceber a conexão entre o motivo da acção, a acção propriamente
dita e seus efeitos.
Para a sociologia Weberiana os acontecimentos que integram o social têm origem nos
indivíduos. O que garante uma explicação científica é o método de reflexão e não a
objectividade pura dos factos. Weber relembra sempre que, embora os
acontecimentos sociais possam ser quantificáveis, a análise do social envolve sempre
uma questão se qualidade, interpretação, subjectividade e compreensão.
Seus trabalhos abriram as portas para as particularidades históricas das sociedades e
para a descoberta do papel da subjectividade na acção e na pesquisa social.

- A sociedade sob uma perspectiva histórica


O contraste entre o positivismo e o idealismo se expressa, entre outros elementos, nas
maneiras diferentes como cada uma dessas correntes encara a história.
Para o positivismo, a história é o processo universal de evolução da humanidade, cujos
estágios o cientista pode perceber pelo método comparativo, capaz de aproximar
sociedades humanas de todos os tempos e lugares. A história particular de cada
sociedade desaparece, diluída nessa lei geral que os pensadores positivistas tentaram
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reconstruir. Essa forma de pensar torna insignificantes as particularidades históricas, e


as individualidades são dissolvidas em meio a forças sociais impositivas.
Max Weber pensador, com sólida formação histórica se opôs a essa concepção. Para
ele, a pesquisa histórica é essencial para a compreensão das sociedades. Essa pesquisa,
baseada na colecta de documentos e no esforço interpretativo das fontes, permite o
entendimento das diferenças sociais, que seriam, para Weber, de génese e formação,
e não de estágios de evolução.
Portanto, segundo a perspectiva weberiana, o carácter particular e específico de cada
formação social e histórica deve ser respeitado. Os conhecimentos históricos,
entendidos como a busca de evidências, torna-se um poderoso instrumento para o
cientista social.
Weber consegue combinar duas perspectivas: a histórica, que respeita as
particularidades de cada sociedade, e a sociológica, que ressalta os elementos mais
gerais de cada fase do processo histórico.
Entretanto, Weber, não achava que uma sucessão de factos históricos fizesse sentido
por si mesma. Para ele todo historiador trabalha com dados esparsos e fragmentários.
Por isso, propunha para suas análises o método compreensivo, isto é, um esforço
interpretativo do passado e de sua repercussão nas características peculiares das
sociedades contemporâneas. Essa atitude de compreensão é que permite ao cientista
atribuir aos factos esparsos um sentido social e histórico.

– A acção social: Uma acção com sentido


Cada formação social apresentava, para Weber, especificidade e importância próprias.
Mas o ponto de partida da Sociologia de Weber não estava nas entidades colectivas,
grupos ou instituições.
Seu objecto de investigação era a “acção social”. A acção social é a conduta humana
dotada de sentido, isto é, de uma justificativa subjectivamente elaborada. Assim, o
homem passou a ter, como indivíduo, na teoria weberiana, significado e
especificidade. É o agente social que dá sentido à sua acção pois, estabelece a conexão
entre o motivo da acção, a acção propriamente dita e seus efeitos.
Enquanto para a Sociologia positivista, a ordem social submete os indivíduos como
força exterior a eles, para Weber, ao contrário não existe oposição entre indivíduo e
sociedade: as normas sociais só se tornam concretas quando se manifestam em cada
indivíduo sob a forma de motivação. Cada sujeito age levado por um motivo que é
dado pela tradição, por interesses racionais ou pela emotividade. O motivo que
transparece na acção social permite desvendar o seu sentido, que é social na medida
em que cada indivíduo age levando em conta a resposta ou a reacção de outros
indivíduos.
Para Max Weber, a tarefa do cientista é descobrir os possíveis sentidos das acções
humanas presentes na realidade social que lhe interesse estudar. O sentido, por um
lado, é expressão da motivação individual, formulado expressamente pelo agente ou
implícito em sua conduta. O carácter social da acção individual decorre, segundo
Weber, da interdependência dos indivíduos. Um actor age sempre em função de sua
motivação e da consciência de agir em relação a outros actores. Por outro lado, a
acção social, gera efeitos sobre a realidade em que ocorre. Tais efeitos escapam,
muitas vezes, ao controlo e à previsão do agente.
Weber distingue a acção da relação social. Para que se estabeleça uma relação social é
preciso que o sentido seja compartilhado. Por exemplo, um sujeito que pede uma
informação a outro estabelece uma acção social: ele tem um motivo e age em relação
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a outro indivíduo, mas tal motivo não é compartilhado. Numa sala de aula, em que o
objectivo da acção dos vários sujeitos é compartilhado, existe uma relação social.
Pela frequência com que certas acções sociais se manifestam, o cientista pode
conceber as tendências gerais que levam os indivíduos, em dada sociedade, a agir de
determinado modo.

– A tarefa do cientista
Max Weber rejeita a maioria das proposições positivistas: o evolucionismo, a
exterioridade do cientista social em relação ao objecto de estudo e a recusa em aceitar
a importância dos indivíduos e dos diferentes momentos históricos na análise da
sociedade. Para esse sociólogo, o cientista, como todo indivíduo em acção, também
age guiado por seus motivos, sua cultura e suas tradições, sendo impossível descartar-
se de suas pré-noções como propunha Durkheim. Para Weber existe sempre certa
parcialidade na análise sociológica, intrínseca à pesquisa, como toda forma de
conhecimento.
As preocupações do cientista orientam a selecção e a relação entre os elementos da
realidade a ser analisada. Os factos sociais não são coisas, mas acontecimentos que o
cientista percebe e cujas causas procura desvendar. A neutralidade durkheimiana se
torna, impossível nessa visão. Para Weber o cientista, como todo indivíduo em acção,
age guiado por seus motivos, sua cultura, sua tradição.
No entanto, admite que, uma vez iniciado o estudo, este deve se conduzir pela busca
da maior objectividade na análise dos acontecimentos. A realização da tarefa científica
não deveria ser dificultada pela defesa das crenças e das ideias pessoais do cientista.
Para a Sociologia weberiana, os acontecimentos que integram o social têm origem nos
indivíduos. O cientista parte de uma preocupação com significado subjectivo, tanto
para ele como para os demais indivíduos que compõem a sociedade. Sua meta é
compreender, buscar os nexos causais que dêem o sentido da acção social.
Qualquer que seja a perspectiva adoptada pelo cientista, ela sempre resultará numa
explicação parcial da realidade. Um mesmo acontecimento pode ter causas
económicas, políticas e religiosas, sem que nenhuma dessas causas seja superior à
outra em significância. Todas elas compõem um conjunto de aspectos da realidade que
se manifesta, necessariamente, nos actos individuais. Weber destaca que, embora os
acontecimentos sociais possam ser quantificáveis, a análise do social envolve sempre
uma questão de qualidade, interpretação, subjectividade e compreensão.

– KARL MARX E FREDERICH ENGELS E A LUTA CONTRA A EXPLORAÇÃO DO HOMEM

iv) Karl Marx (1818 – 1883) – Teorias do conflito

Em uma de suas frases mais famosas, escrita em 1845, nas Teses sobre Feuerbach,
dizia que, até então, “os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras
diferentes; a questão, porém, é transformá-lo”.
Viveu como jornalista entre a Alemanha, a França e a Inglaterra, despertando a ira de
governos e da imprensa. Em 1864, com a fundação da Internacional Socialista
(Associação Internacional dos Trabalhadores), aparece como líder formulador das
ideias socialistas. Em 1871, a eclosão da Comuna de Paris o torna internacionalmente
conhecido. Em recente pesquisa da rádio BBC, que mobilizou grande parte da
imprensa inglesa, Marx foi considerado o mais importante pensador de todos os
tempos.
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Foram Marx e Engels os primeiros a revelar o papel histórico do proletariado como


demolidor do capitalismo e construtor do comunismo, convertendo-se em educadores
e dirigentes do proletariado, na sua luta pela emancipação dos trabalhadores. “as
lendas antigas” escreve Lénine “oferecem exemplos comovedores de amizade. O
proletariado europeu pode dizer que sua ciência foi criada por dois sábios e militantes
cujas relações pessoais empalidecem as mais comovedoras lendas antigas sobre a
amizade entre dois homens”.

– As bases do pensamento de Marx e Engels


Rompendo com as concepções positivistas, que interpretam o funcionamento da
sociedade na linha do equilíbrio-linearidade-harmonia, o pensamento marxista coloca
que a sociedade contém contradições entre as forças produtivas e as relações de
produção, e que, em certos momentos, esses conflitos tornam-se entraves, abrindo-se
a oportunidade de uma época de ‘revolução social’, que transforma as relações de
produção, constituidoras da base económica da sociedade e de toda a super-estrutura
que sobre ela se ergue.
Para Marx e Engels, o conhecimento da realidade social, isto é, das contradições da
vida material, do conflito que existe entre as forças produtivas e as relações de
produção, é um instrumento político que pode orientar a luta pela transformação da
sociedade que, para eles, é gerada na luta de classes.
Marx e Engels vêem a História como a ciência social única, capaz de abarcar o estudo
da sociedade, do ponto de vista do modo de produção, que é fundamental para se
compreender como se organiza e funciona a sociedade. As relações de produção,
nesse sentido, são consideradas as mais importantes relações sociais. A história do
homem é a história do desenvolvimento e do colapso de diferentes modos de
produção.
Conseguiram imprimir às análises da sociedade a ideia de totalidade, não fazendo
separação entre as dimensões sociais, económica, política, ideológica e religiosa da
sociedade. Do mesmo modo, não colocam a divisão entre teoria e prática, pois a
verdade histórica não supõe apenas o ponto de vista teórico. Ela se dá na prática.
Para Marx e Engels, a ciência não dependia da objectividade, mas de uma consciência
crítica. Ao invés de sugerir soluções para uma sociedade “doente”, eles propunham um
caminho prático de acção política e um objectivo claro a ser atingido. Substituíram a
ideia de harmonia pela de contradição.
A trajectória desses dois pensadores é marcada pelo desenvolvimento de outras
categorias importantes para entender sua formulação: modo de produção,
consciência/alienação, ideologia.

– A teoria do modo de produção


No Prefácio de Contribuição à Crítica da Economia Política (1859), Marx e Engels
expõem um resumo do que viria a se constituir no seu método de interpretação da
sociedade, o materialismo histórico7, criando determinadas categorias necessárias à
compreensão da sociedade.

7
O materialismo histórico é um marco teórico que visa explicar as mudanças e o desenvolvimento da
história, utilizando-se de factores práticos, tecnológicos (materiais) e o modo de produção. A principal
teoria assenta no facto de na perspectiva do materialismo histórico, as mudanças tecnológicas e do
modo de produção são os dois factores principais de mudança social, política e jurídica.

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A primeira delas é a de que a sociedade é resultante das relações dos homens entre si
e dos homens com a natureza, mediadas pelo trabalho. E, para isso, vêm produzindo,
ao longo de sua história, aquilo que Marx e Engels chamaram de meios de trabalho ou
meios de produção: energia, trabalho, matéria-prima, tecnologia, com a finalidade de
aumentar e melhorar a sua capacidade de produzir. Segundo Marx e Engels, o meio de
trabalho é aquele objecto ou conjunto de objectos que o trabalhador interpõe entre
ele e o objecto que trabalha e que lhe permite dirigir sua actividade sobre esse
objecto. O homem serve-se das qualidades mecânicas, físicas e químicas das coisas
para utilizá-las, conforme o objectivo que tiver em mente, como instrumento de
actuação sobre outras coisas.
Além de criar os meios de trabalho, o homem foi, também organizando a produção,
distribuindo tarefas e benefícios entre os membros da sociedade. Inicialmente, a
diferenciação se deu entre os sexos, depois entre a agricultura e a criação de animais,
entre o campo e a cidade e, finalmente, entre as produções agrícolas, industriais e
comerciais. A divisão do trabalho, como também tem o intuito racionalizar a produção,
é parte do conjunto das forças produtivas.
Mas a divisão do trabalho não é igualmente distribuída no interior da sociedade. Ela
depende das diferentes relações de produção, isto é, da propriedade dos meios de
produção. Pode-se dizer que, na sociedade capitalista, “do ponto de vista de Marx [e
Engels], elas implicam numa separação básica (...) nem sempre os homens que
possuem os meios para realizar o trabalho trabalham e nem sempre os que trabalham
possuem esses meios.”8
Ou seja, nem sempre quem tem a propriedade dos meios de produção, trabalha.
Quem trabalha, em geral, são aqueles que não são os donos dos meios de produção.
Isto equivale a dizer que há tipos diferentes de proprietários: os proprietários da
simples força de trabalho – os trabalhadores, e os proprietários dos meios de
produção – os capitalistas. Além desses, Marx e Engels se referiam aos proprietários de
terras, os latifundiários. Esses proprietários “formam as três grandes classes da
sociedade moderna, baseada no regime capitalista de produção”.
Para resumir, pode-se dizer que a cada época histórica corresponde um conjunto de
forças produtivas que se desenvolvem a partir de um conjunto instituído de relações
de produção, isto é, das relações de propriedade que estão presentes nessa dada
sociedade. A este conjunto Marx e Engels chamaram de modo de produção.

 Consciência. Ideologia. Alienação


Num contexto de pensamento em que não se coloca a divisão entre teoria e prática,
pois a verdade histórica não supõe apenas um ponto de vista teórico – uma vez que se
dá na prática –, não se pode admitir que a forma como o homem pensa e o trabalho
que executa possam estar dissociados.
Daí, Marx e Engels se preocuparem em explicar de que forma as crenças, os valores, as
normas, se relacionam com a produção material da existência.
Para eles, são as condições materiais da existência que determinam a consciência:
São os homens que desenvolvem sua produção material e seu intercâmbio material
que mudam também, ao mudar esta realidade, seu pensamento e os produtos de seu

8
Rodrigues, Alberto Tosi. Sociologia da Educação. Rio de Janeiro; DP&A, 2001, p. 39

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pensamento. Não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a
consciência.
No entanto, como as ideias dominantes na sociedade são as ideias da classe
dominante, as concepções sobre o mundo e sobre como funciona são marcadas pelas
ideias de como a classe dominante ‘determina’ que elas sejam.
Para Marx e Engels, quando a burguesia domina como classe, é de se esperar que seus
membros ajam enquanto pensadores, enquanto produtores de ideias que regulem a
produção e a distribuição das ideias de seu tempo; e que suas ideias sejam, por isso
mesmo, as ideias dominantes da época.
Assim sendo, a classe operária, ao adoptar como suas as ideias da burguesia, o faz
porque a sua concepção de mundo está comprometida com uma visão que lhe parece
própria de sua classe social.
Essa concepção, é produto de uma falsa consciência que não lhe permite captar a
essência das relações às quais as classes sociais, na sociedade capitalista, estão
submetidas. Ou seja, a representação que fazem de suas vidas é aquela que lhes é
fornecida pela sociedade onde a burguesia é dominante.
Marx chamou essa falsa consciência de ideologia, cuja origem histórica ocorre com a
emergência da divisão entre trabalho intelectual e manual. É a partir deste momento
que surge a ideologia, derivada de agentes sociais concretos que autonomizariam o
mundo das ideias e assim inverteriam a realidade.
Com isso, a classe operária acaba por adoptar como sua uma ideologia de outra classe
social. Um exemplo disso é a aceitação, como se fosse natural, de uma situação de
exploração presente na sociedade capitalista, que nada tem de natural, pois foi
socialmente construída. Essa exploração, que se traduz no que Marx e Engels chamam
de mais-valia9, é aceita porque a classe operária, no seu quotidiano não tem
consciência real da mesma.
A percepção da exploração e das consequências da exploração não são claras para o
trabalhador. A ideologia da classe dominante faz com que ele acredite que existem as
fábricas e seus proprietários. Ao trabalhador cabe trabalhar na fábrica e obedecer às
ordens do dono. É o proprietário quem determina o que vai ser produzido, quanto vai
ser produzido, em que tempo, com que matéria-prima e quanto custará. O trabalhador
fica impedido, no capitalismo, de ter qualquer decisão sobre o seu trabalho e sobre o
produto do seu trabalho. O trabalhador não consegue perceber o seu trabalho como
algo que lhe pertence. A isto Marx e Engels chamaram de alienação.
A alienação do trabalhador do produto de seu trabalho promove uma auto-alienação
do homem, contribuindo para uma existência em que se observa uma essência
desumanizada. No entanto, é possível mudar a direcção desse processo se a classe
operária der uma guinada e se consciencializar de seu destino humano e de sua
dignidade. E, para Marx e Engels, isso aconteceria porque o próprio capitalismo
engendraria a forma de sua superação.
A concentração do capital nas mãos de uns poucos levaria à revolução. A missão dessa
revolução seria recuperar o homem, derrubando todas as situações em que ele
9
“ Mais valia” é uma categoria presente no pensamento marxista e que se refere à diferença entre o valor do bem
produzido pelo trabalho e o salário pago ao trabalhador, que seria a base da exploração no sistema capitalista. Marx
chama a atenção para o facto de que os capitalistas, uma vez pago o salário de mercado pelo uso da força de
trabalho, podem lançar mão de duas estratégias para ampliar sua taxa de lucro: estender a duração da jornada de
trabalho mantendo o salário constante - o que ele chama de mais-valia absoluta; ou ampliar a produtividade física
do trabalho pela via da mecanização - o que ele chama de mais-valia relativa.

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pudesse ser degradado, escravizado, abandonado e desprezado. Com isso se superaria


toda alienação.
Marx considera tudo isto, tarefa do movimento comunista. O comunismo possibilitaria
a superação positiva da propriedade privada, elemento de auto-alienação do homem,
e se constituiria no resgate do homem para ele mesmo, enquanto ser social.
Desapareceria, dessa forma, o antagonismo entre o homem e a natureza e entre o
homem e o homem. Com o comunismo, "encerra-se a pré-história da sociedade
humana" e inicia-se a sociedade "realmente humana".

Algumas influências do pensamento marxista


►Leitura crítica da filosofia de Hegel (observou e aplicou o método dialéctico de modo
peculiar)
►Destacou o pioneirismo dos críticos da sociedade burguesa (Saint-Simon, Fowier e
Proudhon), mas reprovava o “utopismo”.
►Crítica a obra dos economistas clássicos ingleses: Adam Smith e David Ricardo →
maior parte de sua obra teórica.
A trajectória do pensamento marxista é marcada pelo desenvolvimento de conceitos
importantes: alienação, classes sociais, valor, trabalho, mais-valia e modo de
produção.
→ Alienação – o capitalismo alienou, isto é, separou o trabalhador dos seus meios de
produção – as ferramentas, as terras e as máquinas que se tornaram propriedade
privada do capitalismo. O homem só pode recuperar sua condição humana através da
crítica radical. Essa crítica radical só se efectiva nas praxes, isto é, a acção política
consciente e transformadora.
→ Classes Sociais – são formadas pelas desigualdades sociais provocadas pelas
relações de produção do sistema capitalista.
As relações entre os homens resultam das relações de oposição, antagonismo,
exploração e complementaridade entre as classes sociais.
Os trabalhadores, para assegurar a sobrevivência, vendem sua força de trabalho ao
empresário capitalista, o qual se apropria do produto do trabalho de seus operários.
→ Operários - aluga “por um certo tempo” a força de trabalho e, em troca recebe
salário (contrato).
→ Valor – o valor de uma mercadoria era dado pelo tempo de trabalho socialmente
necessário à sua produção.
→ Mais-valia – valor excedente produzido pelo operário.
Para Marx, o estudo do modo de produção é fundamental para se compreender como
se organiza e funciona uma sociedade. As relações de produção, nesse sentido, são
consideradas as mais importantes relações sociais. A história do homem é a história do
desenvolvimento e do colapso de diferentes modos de produção. Marx conseguiu
imprimir às análises da sociedade a ideia de totalidade. Para este, a ciência não
dependia da objectividade, mas de uma consciência crítica. Ao invés de sugerir
soluções para uma sociedade “doente”, Marx propunha um caminho prático de acção
política e um objectivo claro a ser por ele atingido. Substituiu a ideia de “harmonia”
pela de universalização dos interesses da classe burguesa, através do Estado.

1.3-A sociologia do trabalho – A era da industrialização e da automação

A Revolução Industrial, na Europa Ocidental, no século XVIII ocorreu em duas


principais etapas:
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1780 a 1860: 1ª Revolução Industrial (Revolução do Carvão e do Ferro): Trouxe


inovações significativas não apenas ao processo produtivo (substituição do homem
pela máquina) como também ao mundo do trabalho, introduzindo aí transformações
profundas que ainda se fazem presentes nos dias actuais.
Dois foram os países que contribuíram com suas invenções para o nascimento de uma
nova era. Esses países foram por ordem de importância, a Inglaterra e mais tarde, a
França.
Na medida em que o emprego de máquinas pelas indústrias se intensifica nesses
países, começam a surgir controvérsias sobre a mecanização: sob o aspecto económico
constata-se a diminuição dos custos das mercadorias, o que favorece o consumidor e
possibilita que o produtor aumente sua produção, conquistando maiores mercados.
Do ponto de vista social, constata-se que a introdução da máquina além de acrescer as
dificuldades de adaptação e de satisfação no trabalho, gera o desemprego.

1860 a 1914: 2ª Revolução Industrial (A revolução do Aço e da Electricidade):


Marcada pela aparição de novas forças motoras, tais como:
A eléctrica e a derivada do petróleo, pelo aperfeiçoamento do motor a explosão, pelo
grande impulso da indústria química e pelo aperfeiçoamento das primeiras máquinas
automáticas. A indústria automobilística que surgiu nessa época reflectia todas as
novas invenções, juntamente com a indústria metalúrgica que produzia metais e novas
ligas para atender à indústria de automóveis.
Diante desse quadro, na busca de melhorar a situação dos trabalhadores, criaram-se as
associações operárias de produção, e os operários acreditavam que elas seriam as
defensoras de seus interesses, alivio para a miséria em que vivia a sua classe. Como
resultado positivo da acção dessas associações podemos citar a redução da jornada de
trabalho. Por outro lado, enquanto a automação diminuía a fadiga física e aumentava a
produtividade, com aumento de salário, por outro, passava a exigir operários
especializados, o que provocou elevado índice de desemprego daqueles que não se
enquadravam nesse novo padrão de operário que as novas tecnologias passavam a
demandar.
Esse momento, segunda metade do século XIX, é marcado pelas interferências dos
sindicatos que passaram a exigir: aumentos de salários, treinamento, e retreinamento
dos operários, além da garantia de um ano de salários nas indústrias mais afectadas
pela automação, evitando assim demissões em massa. Tal posição fazia do sindicato o
intermediário entre o assalariado e o progresso técnico, “permitindo que o primeiro
não temesse o segundo, mas obrigando o segundo a respeitar o primeiro”.
Existe, contudo a ideia de que o uso da automação tem permitido que o homem deixe
de realizar tarefas mais rudes, que exigem grandes esforços físicos. O emprego da alta
tecnologia traz a necessidade de nova gestão dos fluxos produtivos que permitem o
uso de robots e a substituição dos operários nas operações executivas. Esse facto gera
mudanças profundas no sistema de postos e funções dentro de uma indústria
metalúrgica, por exemplo.
Na indústria, a introdução da alta tecnologia para a fabricação de produtos com o
intuito de redução de custos, eliminação de erros, melhoria na qualidade dos
produtos, e maior rapidez e eficiência na produção reduzem acentuadamente a
utilização da mão-de-obra, ou seja, do factor humano.
“O ser humano busca no trabalho não só o necessário para sua sobrevivência, mas a
realização de seus sonhos, através do recebimento de um salário que não somente lhe

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permita comer, vestir-se, mas que lhe permita também ter prazer e conforto em sua
classe social”.10
Segundo Oliveira, na sociedade actual, a mecanização cria o desemprego, mas o
esforço real da mecanização consiste em criar possibilidades sempre maiores de lazer.
De acordo com Jaccard, a tecnologia moderna - uma conquista do homem sobre a
natureza – não poderia se estabelecer sem causar dolorosas rupturas, sem determinar
graves crises materiais, morais e sociais. Essa conquista proporcionou também, do
ponto de vista do referido autor, O uma liberação da servidão ao automatismo, com a
criação de novos meios, de novos desejos e de novas razões para viver.

1.4 - O estudo científico da organização do trabalho – Elton Mayo

Elton Mayo, após Durkheim, ao iniciar suas primeiras pesquisas dentro das empresas,
contribuiu para mostrar, com factos concretos, que as relações humanas no trabalho
são factores decisivos para o aumento de produtividade, que são fenómenos fora do
alcance da tecnologia e das técnicas de organização social. Mayo criou um centro de
estudos na área de Sociologia do Trabalho, onde havia a perspectiva de uma nova
forma de agir dentro da empresa, cujo objectivo era levar ao máximo os processos de
cooperação espontânea entre os funcionários dentro da organização.
Num estudo de caso, denominado “O Inquérito de Hawthorne”, realizado na Western
Electric, empresa que produzia equipamentos da rede telefónica Bell, outra gigante do
sector. A Western Electric estava situada em Hawthorne, uma cidade perto de Chicago,
nos Estados Unidos. Seus equipamentos eram exportados para vários países e
empregava 30 mil funcionários de 60 nacionalidades diferentes.
Em 1924, realizou-se nessa empresa um estudo sobre os efeitos da iluminação sobre o
trabalho. Elton Mayo, então professor de Harvard, já famoso por ter encontrado
soluções científicas em outras empresas foi, então, contratado para estudar mais
profundamente tal questão. Esse estudo permitiu pela primeira vez um conhecimento
mais profundo sobre a organização do trabalho, superando o taylorismo, ao que as
relações que ligam a indústria às suas actividades de trabalho envolvem uma complexa
relação social. Seus estudos demonstraram que a eficiência no trabalho está
condicionada pelos factores de natureza não apenas económica, mas também por
questões de ordem política, moral, social e de qualidade de vida no trabalho.
A pesquisa mostra ainda, a necessidade de elevação dos papéis e do status do
indivíduo na empresa. Foi verificada também a influência de grupos não-formais no
ajustamento psicológico dos empregados da Western: além de aumento de taxas de
produtividade e diminuição de faltas ao serviço e de abandono de emprego.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
ARON, Raymond. As tapas do pensamento sociológico. São Paulo: Martins Fontes/
Editora Universidade de Brasília, 1990.
COSTA.M.Cristina. Sociologia: introdução à ciência de sociedade. São Paulo: Moderna.
2005.
OLIVEIRA, Silvio Luiz de. Sociologia das organizações: uma análise do homem e das
empresas no ambiente competitivo. São Paulo: Pioneira Thomson Learning,1999.

10
OLIVEIRA,S.L de. Sociologia das organizações: uma Análise do Homem e das Empresas no Ambiente
Competitivo. São Paulo. Pioneira Thomson Learning,2002.
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