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Reestruturação Do Trabalho Docente e Saúde Mental Das Professoras Na Pandemia
Reestruturação Do Trabalho Docente e Saúde Mental Das Professoras Na Pandemia
Reestruturação Do Trabalho Docente e Saúde Mental Das Professoras Na Pandemia
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
Goiânia
2021
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
Goiânia
2021
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O mundo precisou ser reformulado no ano de 2020, devido à pandemia causada pelo
Coronavírus (COVID-19), que alterou significativamente o funcionamento da sociedade, e,
consequentemente, a escola também teve que se transformar. As relações sociais foram
ressignificadas, porque as aglomerações de pessoas não eram mais recomendadas por conta de
risco à saúde1. Diante deste cenário, a escola precisou formular outras maneiras de garantir
acesso dos estudantes ao processo educativo. E sem condições ideias para o exercício da
profissão, professores da Educação Básica, profissionais da educação e estudantes, que já
enfrentavam diversos problemas estruturais graves, necessitaram se adaptar ao Ensino
Remoto.
Esta pesquisa busca suscitar a reflexão sobre como a crise mundial de saúde pública
interferiu de maneira global no processo educativo, e como a crise global afetou de modo
simbólico o cotidiano de quem faz educação, alterando os sentidos atribuídos por professoras
ao processo docente. Neste caso, o estudo se pautará na escuta da memória e vivências das
professoras, que trabalharam no ensino remoto em condição de quarentena, cuja rotina de
produção do conhecimento e atuação profissional foi totalmente alterada.
Pensar a educação em meio a uma crise sanitária mundial requer a percepção daqueles
que viveram e foram vítimas das transformações no campo do trabalho. Neste caso,
consideramos a situação das professoras, que no Ensino Básico representam a maioria em
relação ao sexo masculino. Segundo a Organização para Cooperação do Desenvolvimento
Econômico (OCDE) após uma pesquisa sobre indicadores da educação, no mundo, cerca de
90% dos professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental são mulheres, no Ensino Médio
esse número sobe para 60% dos docentes. No Brasil, de acordo com o Censo Escolar de 2017,
o número é de 80% de professoras, ou seja, a cada 10 professores, 8 são mulheres e apenas 2
são homens. Diante dessa realidade, esta pesquisa visa escutar as professoras, já que além de
serem maioria nas escolas, ainda são as grandes responsáveis por conciliar o trabalho
profissional com o trabalho doméstico, o que pode ter acarretado com a pandemia o aumento
em suas jornadas de trabalho e consequentemente um maior adoecimento físico e mental.
Portanto, esta pesquisa se configura como um estudo de caso qualitativo, e será
realizada em uma escola pública do município de Goiânia, que atende Educação Infantil e
Ensino Fundamental, campo de atuação de pedagogas, com professoras que enfrentaram o
1
. Segundo as recomendações dadas pela OMS (Organização Mundial de Saúde).
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OBJETIVO GERAL:
Compreender e analisar a memória e a história das educadoras como protagonistas do
processo de ensino aprendizagem em momento de crise pandêmica em Instituição de
Ensino da Educação Básica Municipal de Goiânia em regime de quarentena.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
● Discutir como tem sido o trabalho docente nos períodos de crise e os cenários
possíveis para o pós-crise;
● Delinear as propostas de Saúde Pública no que se refere à saúde mental dos
profissionais de educação nesse período de trabalho remoto devido à pandemia;
● Investigar, por meio de histórias de vida e estudos de casos, como se deu de maneira
individual e subjetiva o trabalho do professor.
RELEVÂNCIA/JUSTIFICATIVA
compreendendo todo esse panorama do trabalho remoto ter invadido o espaço de suas casas e
se misturado com as demandas particulares, é que essa pesquisa se faz relevante. Esse alerta
está expresso no trecho a seguir:
Em estudo sobre a repercussão da dupla jornada nas condições de vida e no trabalho
docente, Zibettie & Pereira (2010, p. 273) concluíram que as políticas de valorização
docente não podem prescindir de atenção à questão de gênero. Considerando que a
maioria expressiva do quadro docente é feminino, qualquer medida que se proponha a
melhorar a qualidade da educação deve considerar as questões de gênero. Melhores
condições de vida e trabalho, inclusive superando-se socialmente a cultura de atribuir
às mulheres a responsabilidade pelo cuidado da casa e dos filhos, terão como retorno
mulheres mais saudáveis, professoras melhor preparadas, aulas mais adequadas às
necessidades das crianças, portanto melhor qualidade de ensino. (Jacomini, M. A. da
Cruz, R. E., & de Castro, E. C. 2020, p. 8)
Neste sentido, pensando a qualidade de vida e de trabalho, essa pesquisa tem como
intuito analisar os discursos sobre as condições de trabalho de professoras de Escola
Municipal na pandemia. Algumas questões nos instigam a desenvolver esta pesquisa: Quais
foram os sentidos atribuídos por professoras que estiveram em atuação direta nas instituições
de ensino da Educação Básica Municipal da cidade de Goiânia em regime de quarentena?
Como o novo cenário de trabalho a que foram submetidas, durante a pandemia, impactou em
suas rotinas profissional e pessoal?
REFERENCIAL TEÓRICO
Outro aspecto que pode ser levado em conta e foi mencionado por Giddens (2012) ao
discorrer sobre as condições de trabalho no mundo globalizado, é o excesso de trabalho para
além da carga-horária prevista nos contratos. A tecnologia que poderia ser uma aliada nas
condições de trabalho, muitas vezes, se torna a vilã, pela exigência de se estar o tempo todo
conectado, extrapolar horas, conciliar a vida pessoal com a profissional. Por isso, esta
pesquisa busca encontrar nas histórias narradas pelas professoras como a realidade pandêmica
atingiu suas rotinas, após a necessidade da implantação do ensino remoto. Nesse sentido,
Giddens questiona:
qualquer caso, respostas sob a forma de juízos diretos. Uma crise só se torna um desastre
quando respondemos a ela com juízos pré-formados, isto é, com preconceitos”.
Dessa forma, a educação brasileira é marcada, historicamente, como um território em
constantes disputas, em que imperam jogos de interesses que evidenciam o processo de
exclusão social das classes trabalhadoras. Infelizmente, em tempos de pandemia, isto não foi
diferente. As condições socioeconômicas precárias ressaltaram realidades de estudantes não
tinham nem mesmo acesso à internet ou aparelhos que possibilitassem conexão com as
escolas e professores, somadas à baixa escolaridade dos pais que não tem condições de
ensinarem os conteúdos, o aumento do desemprego e consequentemente brecha para o
trabalho infantil, dentre outras evidencias que contribuíram para o aumento da evasão escolar.
O Movimento da Escola Nova, por exemplo, comandado por Anísio Teixeira, no
Brasil, foi importante no sentido de chamar a atenção para a democratização do ensino e para
a criação da escola pública de qualidade. Segundo Anísio Teixeira (1989), o Brasil deveria se
preocupar com uma escola única, destinada a todas as classes e que diminuísse as
desigualdades de oportunidades. Além disso, a educação democrática deveria ser pensada por
quem estava no chão da escola, ou seja, os professores e a comunidade escolar. Dessa forma,
caberia ao Estado manter o acesso e qualidade da educação a todas as crianças, conforme o
fragmento a seguir:
[n]ão se cogitava de dar ao pobre a educação conveniente ao rico, mas, antes, de dar
ao rico a educação conveniente ao pobre - pois, a nova sociedade democrática não
deveria distinguir - entre os indivíduos, os que precisavam dos que não precisavam
de trabalhar, mas a todos queria educar para o trabalho, distribuindo-os pelas
ocupações, conforme o mérito de cada um e não segundo a sua posição social ou
riqueza. Não se tratava, com efeito, de generalizar a educação para os privilégios,
mas de acabar com tais privilégios, em uma sociedade hierarquizada nas ocupações,
mas desierarquizada socialmente. (TEIXEIRA, 1989, p.17)
Nesse sentido, é cada vez mais importante que educadores brasileiros sejam ouvidos,
com o intuito de alcançarmos uma educação de qualidade, prevista pela Constituição de 1988
e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDBEN). Dessa maneira propomos que o
enfrentamento da crise pelas redes de educação parta da escuta de professores que estão no
cotidiano da escola.
METODOLOGIA
a ciência social está sempre exposta a receber do mundo social que ela estuda os
problemas que levanta a respeito dele: cada sociedade, em cada momento, elabora
um corpo de problemas sociais tidos legítimos, dignos de serem discutidos,
públicos, por vezes oficializados e, de certo modo garantidos pelo Estado.”
(BOURDIEU, 2001, p. 35)
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E por se tratar de algo que não está alheio ao que acontece socialmente é que o objeto
está em constante relação com outros problemas e conhecimentos, que se modificam e variam
o tempo todo. O olhar sobre o objeto exigirá da pesquisadora uma visão global do espaço
maior da realidade em que está inserido esse objeto estudado, que não é senão um fragmento.
Sobre isso, menciona:
[c]onstruir o objeto supõe também que se tenha, perante os fatos, uma postura ativa
e sistemática. (...) trata-se de construir um sistema coerente de relações, que deve ser
posto à prova como tal. Trata-se de interrogar sistematicamente o caso particular,
construído em ‘caso particular do possível’ como diz Bachelard, para retirar dele as
propriedades gerais ou invariantes que só se denunciam mediante uma interrogação
assim conduzida. (BOURDIEU, 2001, p.32)
informações, mas a qualidade, ou seja, as memórias e os dizeres presentes em cada fala. Nos
dizeres de Delgado (2006),
Além disso, esta é uma pesquisa bibliográfica em que consultaremos livros e trabalhos
acadêmicos para sustentar teoricamente conceitos importantes sistematizados para melhor
compreensão do objeto. Sabendo que ela “[...] deve encabeçar qualquer processo de busca
científica que se inicie [...]” (SANTOS, 1999 p.31)
Para gerar os dados e contemplar as vivências e a escuta dos sujeitos, utilizaremos
como instrumentos: o questionário, entrevista.
Inicialmente, aplicaremos um questionário com o intuito de construir o perfil
sociocultural do grupo de professoras. Escolhemos o questionário, porque concordamos com
as vantagens apresentadas por Moreira (2008) sobre o uso desse instrumento pelo
pesquisador: uso eficiente do tempo, anonimato para o respondente, possibilidade de uma alta
taxa de retorno.
Em um segundo momento, realizaremos uma entrevista com as professoras
selecionadas, com o objetivo de gerar informações detalhadas e necessárias sobre o trabalho
em tempos de pandemia. Segundo Colin (2008) a entrevista é um método de coleta de dados
muito útil para esclarecer as interpretações do pesquisador.
Consideramos o questionário e a entrevista como fontes muito importantes para o
registro oral e compreensão das questões de pesquisa. Conforme Almeida (2019):
[a] fonte oral é a base primária para a obtenção de qualquer forma de conhecimento,
seja ele científico ou não, o que vai dar legitimidade científica serão os critérios
adotados na busca desse conhecimento. As narrativas ganharam caráter científico
quando os argumentos foram sistematizados, arranjados metodologicamente,
equiparados uns aos outros em diálogo continuado e cumulativo e assumidos
profissionalmente (ALMEIDA et al 2019).
pelas universidades e seus grupos de professores sobre o mesmo tema que pretendemos
trabalhar.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Maria Zeneide C. M., Silva, Priscilla Barros da. Dialogando com Hannah Arendt:
narrativas sobre educação, família e infância. In: OLIVEIRA, Daniele L. ALMEIDA, Maria
Zeneide C. M. Hannah Arendt pensando Educação. Goiânia: Kelps, 2019.
ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. Tradução de Mauro W. Barbosa. São Paulo:
Perspectiva 2016.
BAUMAN, Zygmunt. Sobre educação e juventude: conversas com Riccardo Mazzeo. Rio
de Janeiro: Zahar, 2013.
BOURDIEU, Pierre. Introdução a uma sociologia reflexiva. In: BOURDIEU, Pierre. O Poder
Simbólico. Trad. Fernando Tomaz. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.
______. 3 lições da privatização na educação e uma solução para o contexto da pandemia. São
Paulo / Fortaleza: CNDE / CEDECA-CE / DiEPEE-UFABC / REPU, 2020.
OECD - Education at a Glance 2015: OECD Indicators, OECD Publishing, Paris, 2015.
SANTOS, Maria A. M. dos. In: PORTELA F.O. & BRIDI, F. R. S. (Org.) Aprendizagem –
Tempos e espaços do aprender. Rio de Janeiro: Wak ED., 2008.
SILVA, Giuslaine F. Aedos. Memória Coletiva. Porto Alegre, v. 8, n. 18, p. 247-253, Ago.
2016. Disponível em: <https://seer.ufrgs.br › aedos › article › download>. Acesso em: 12 nov.
2020.