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1) O que são enfermidades neuromusculares?

As doenças neuromusculares incluem um grupo de enfermidades de


etiologia hereditária ou adquirida, muitas vezes com caráter progressivo, que
podem afetar os componentes do sistema nervoso periférico , responsável por
conduzir as informações de movimento e sensibilidade através da medula
espinal, dos nervos e músculos.

2) Cite dois (2) exemplos de enfermidades neuromusculares para cada


espécie.

Canina 

Doença do disco intervertebral ( DDIV ) e 


Meningoencefalomielite

Felina 

Meningoencefalomielite e Peritonite infecciosa felina 

Equina 

Tétano e Encefalomielite parasitária por Halicephalobus gingivalis

Bovina 

Raiva e Botulismo 

Ovina

Tétano e  Polioencefalomalacia 

Suína 

Meningite estreptocócica e  Meningite por circovírus

3) Com base nas respostas da questão anterior comente sobre a etiologia,


sinais clínicos e evolução da doença (patogenia) de no mínimo quatro (4)
enfermidades neuromusculares.

Encefalomielite parasitária por Halicephalobus gingivalis

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Etiologia 

A doença é causada pelo Halicephalobus gingivalis, um nematódeo de


vida livre que infecta e se reproduz em equinos , zebras e humanos. O
nematódeo possui entre 250 e 370 μm de extensão e 15 a 20 μm de diâmetro,
corpo cilíndrico e esôfago do tipo rabditiforme. A distribuição geográfica desta
infecção sugere que este nematódeo é cosmopolita. Existem poucos relatos
desta doença no Brasil.

Patogenia

O ciclo de vida, a patogênese e a rota de infecção do agente ainda não


são bem compreendidos , mas a disseminação hematógena do parasita,visto
que estes foram previamente relatados no lúmen de vasos sanguíneos do
encéfalo, onde as larvas penetram na pele e nas membranas dos equinos,
especialmente os que se mantêm em decúbito, com subsequente invasão da
cavidade nasal e/ou vasos sanguíneos. Podem infectar principalmente a
cavidade nasal, os rins e o SNC dos equinos.

Sinais Clínicos

O curso típico da infecção gera um quadro de ataxia, incoordenação da


cabeça, paresia e sinais de nervos cranianos.

 Tétano

Etiologia e epidemiologia

Tétano é uma doença infecciosa causada por toxinas do Clostridium


tetani, um bacilo Gram-positivo, esporulado, anaeróbico obrigatório, que habita
normalmente o trato gastrointestinal de herbívoros e também o solo. A doença
tem distribuição mundial, principalmente nas regiões de clima tropical e
subtropical, afetando todas as espécies de interesse zootécnico. Os equinos
possuem maior susceptibilidade a doença em relação aos bovinos.

Patogenia

O Clostridium tetani produz as toxinas tetanosespasmina (neurotoxina),


hemolisina (tetanolisina) e toxina não-espasmogênica de ação periférica. A
tetanosespasmina é uma exotoxina lipoprotéica que, após atingir as
terminações nervosas do sistema nervoso periférico, migra retrogradamente
até o sistema nervoso central e atinge as áreas pré-sinápticas das placas
motoras, interferindo na liberação de neurotransmissores como a glicina e o
ácido gama aminobutírico (GABA), provocando hiperexcitabilidade.
Os sinais neurológicos são observados após a infecção de feridas por
esporos de C. tetani e o crescimento desses clostrídios se dá em ambiente
com pouco oxigênio, portanto, feridas profundas são fontes comuns de
infecção, bem como feridas com abundante tecido necrótico ou com pouco
suprimento sanguíneo. Há produção contínua da toxina na ferida, que se
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espalha pelas junções neuromusculares de todo o corpo através da circulação,
causando espamos musculares generalizados. Essa doença tem sido
observada após castrações, metrites, retenções de placenta e abscessos pós-
vacinais em equinos adultos. Nos neonatos, a principal fonte de infecção é o
umbigo

Sinais clínicos

Os sinais clínicos iniciais incluem relutância ou inabilidade em se


alimentar (devido aos espasmos nos músculos do pescoço), andar enrijecido e
hiperreflexia aos estímulos externos. A contração dos músculos da face resulta
na expressão facial conhecida como “riso sardônico”, associada à retração dos
lábios, abertura
das narinas e posição ereta das orelhas. O prolapso da membrana
nictitante é observado devido à retração do globo ocular.
A tetania progressiva dos músculos esqueléticos resulta em andar
enrijecido, caracterizado por extensão rígida do pescoço e membros, que induz
uma “posição de cavalete” quando o equino permanece em estação. Espasmos
nos músculos do dorso e da cernelha causam extensão do pescoço e cabeça.
Disfagia, que pode ocorrer devido o envolvimento de músculos
mastigatórios e da deglutição, espasmos dos músculos mastigatórios e
elevação da cauda são comumente observados. Com a evolução dos sinais
clínicos o animal entra em decúbito e as contrações musculares prolongadas
podem provocar fraturas de ossos longos. A morte ocorre em 5-7 dias após o
início dos sinais clínico, devido à paralisia dos músculos da respiração

Botulismo 

Etiologia 

O Clostridium botulinum é um bastonete gram positivo, móvel, disposto


geralmente em cadeias, esporulado, anaeróbio obrigatório. Os agentes
esporulados com esporos ovais em localização subterminal apresentam,
frequentemente, forma de colher ou de raquete de tênis.

O Clostridium botulinum é encontrado normalmente na microbiota


intestinal e nas fezes dos animais, contaminando o solo, fontes de água e os
alimentos. Quando encontra condições favoráveis para seu desenvolvimento
como anaerobiose em matéria orgânica (de origem animal ou vegetal) em
putrefação, temperatura adequada e umidade, o esporo passa para a forma
vegetativa iniciando então a produção da toxina botulínica.
Existem oito tipos distintos de toxina botulínica (A, B, C1, C2, D, E, F e
G) de acordo com a resposta imune dos hospedeiros, porém todas têm a
mesma ação farmacológica.

Patogenia 

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A toxina botulínica é uma exotoxina ativa, de ação neurotrópica, e a
única que tem a característica de ser letal por ingestão. São sete tipos de
neurotoxina , que por serem antigenicamente diferentes, não induzem a
proteção cruzada. Ao contrário do esporo, a toxina é termolábil, sendo
destruída à temperatura de 65 a 80oC por 30 minutos ou a 100oC por 5
minutos.
A toxina botulínica age sobre as terminações nervosas colinérgicas dos
sistemas periférico e autônomo. Após sua ingestão, a toxina é absorvida pelo
estômago e chega ao intestino delgado, onde é absorvida intacta e ganha a
circulação sanguínea pelo sistema porta-hepático. Então a toxina alcança as
placas motoras do sistema nervoso: a toxina possui uma cadeia leve com ação
neurotrópica e uma cadeia pesada que atua nas placas motoras, esta cadeia
pesada se liga aos receptores pré-sinápticos e a cadeia leve se invagina nas
terminações nervosas e interage com vesículas contendo acetilcolina,
impedindo sua liberação o que provoca uma paralisia flácida do músculo. A
toxina não penetra no sistema nervoso central devido à barreira
hematoencefálica, permanecendo o suscetível consciente durante a evolução
do quadro.
A doença evolui produzindo a paralisia progressiva dos nervos motores,
e essas lesões nervosas são irreversíveis.

Sinais clínicos 

O quadro clínico da intoxicação botulínica caracteriza-se por paralisia


progressiva, iniciando-se geralmente nos membros posteriores. O animal
apresenta dificuldades na locomoção, cambaleante e tendência a se deitar.
Com a evolução da doença a paralisia vai se acentuando e agravando o
quadro clínico. Em cães, o quadro clínico e a gravidade dependem da
quantidade de toxina ingerida e apresentam desde incoordenação motora,
constipação intestinal e retenção urinária à paralisia. Muitas espécies de aves
também podem ser afetadas pela toxina botulínica, sendo que o botulismo
aviário é provavelmente a doença mais importante de aves migratórias. A
incapacidade de sustentar o vôo é visto logo no início, mas não é um sinal
patognomônico. As aves com botulismo além de não conseguirem voar
também apresentam paralisia das patas e também não conseguem andar,
geralmente se posicionam para frente com suas asas. Outro sinal mais
facilmente reconhecido é a paralisia da pálpebra interna e dos músculos do
pescoço, resultando na incapacidade de manter a cabeça ereta. Quando as
aves chegam a esse estágio, elas geralmente se afogam antes de morrerem
por falha respiratória causada pela toxina.

Raiva 

Etiologia 

A raiva é causada por um vírus RNA de aproximadamente 11 Kb de


tamanho, pertence a ordem Mononegavirales, família Rhabdoviridae do gênero
Lyssavirus, a qual, possui 16 espécies.

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É envelopado, apresenta ‘‘formato de bala’’, 180 nm de comprimento e
75 nm de largura (SIB, 2020). O vírus da raiva (VRA), possui ampla diversidade
genética e depende principalmente do hospedeiro e da origem geográfica.
No Brasil, o VRA possui sete caracterizações antigênicas (AgV), duas
em cães (AgV1 - Canis familiaris e AgV2 - Canis familiaris), três em morcegos
(AgV3 - Desmodus rotundus; AgV4 - Tadarida brasiliensis e AgV6 - Lasiurus
spp.) e duas em reservatórios silvestres, Cerdocyon thous (AgV2*) e Callithrix
jacchus (AgVCN) (BRASIL, 2016)
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) anualmente
morrem aproximadamente 59.000 pessoas em 150 países, com 95% dos casos
concentrados na África e Ásia. Este número é subestimado pois há
subnotificação e estimativa incerta. Cabe ressaltar que 99% dos casos
humanos ocorrem após ataques de cães e, aproximadamente metade dos
casos ocorrem em crianças e adolescentes de até 15 anos. O VRA causa uma
encefalite progressiva fatal e possui duas formas clínicas bem características, a
forma furiosa a qual cursa com hiperatividade e alucinações, e a forma
paralítica caracterizada por paralisia e coma.

 Patogenia

A patogenia da raiva e semelhante em todas as espécies de mamíferos.


O vírus se replica no local da inoculação, inicialmente nas células musculares
ou nas células do tecido subepitelial, ate que atinja concentração suficiente
para alcançar as terminações nervosas, sendo este período de replicação
extraneural responsável pelo período de incubação relativamente longo da
raiva.
Nas junções neuromusculares, o vírus rabico, por meio da glicoproteina,
se liga especificamente ao receptor nicotínico da acetilcolina. Apos essa fase,
os vírus atingem os nervos periféricos, seguindo um trajeto centrípeto, em
direção ao sistema nervoso central (SN C). O vírus segue o fluxo
axoplasmático retrogrado e o transporte e célula a célula. Estima-se que o
genoma viral tenha um deslocamento de 25 a 50 mm por dia, ate chegar ao
sistema nervoso central. A distribuição do vírus rabico não e homogênea no SN
C e, por tal razão, a porção de eleição para encaminhamento ao laboratório de
diagnostico varia de espécie para espécie. As regiões mais habitualmente
atingidas são: o hipocampo, o tronco cerebral e as células de Purkinje, no
cerebelo. Muitas vezes, os sintomas estão associados com a localização
anatômica no cérebro.
Nos ruminantes suspeitos de raiva, deve ser feita a colheita de todo o
encéfalo ou, de preferência, de fragmentos do sistema nervoso (córtex,
cerebelo e hipocampo ou corno de Amon) de ambos os hemisférios. Nos
equídeos, deve-se enviar, também, o bulbo e fragmentos das porções inicial,
medial e terminal da medula espinhal. Nos cães, a porção de eleição e o corno
de Amon ou o hipocampo. Ressalta-se que, na coleta de amostras de todas as
espécies (domesticas ou silvestres), deve ser encaminhada porção da medula.
A partir da intensa replicação no SN C, o vírus da raiva segue em
direção centrifuga, disseminando-se através do sistema nervoso periférico e
autônomo para diferentes órgãos (pulmões, coração, rins, bexiga, útero,
testículos, folículo piloso, etc.) e glândulas salivares, sendo eliminado pela
saliva. A disseminação possibilita que o vírus atinja, também, terminações
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nervosas sensoriais do tecido cutâneo da cabeça e do pescoço, onde se pode
demonstrar a presença de antígeno viral. Por tal razão, utiliza-se a biopsia de
tecido dessa região como método de diagnostico ante-mortem. O vírus rabico
pode localizar-se também na retina e no epitélio da córnea.
A viremia tem sido documentada em modelos experimentais, sendo
fugaz e temporária, mas não há evidencias de que tenha importância
significativa durante o processo de disseminação viral.
Em cães e gatos, a saliva pode ter maior concentração de vírus do que o
próprio SNC. Em herbívoros, no entanto, a concentração de vírus eliminado
pela saliva e baixa.
As lesões histopatológicas são as inclusões de Negri, que são
patognomônicas para a raiva. A sua ausência, porem, não invalida o
diagnóstico da raiva, tendo em vista que nos episódios de evolução rápida,
com período de incubação curto e óbito precoce, pode não haver tempo
suficiente para o aparecimento das inclusões. Tal fato tem sido observado, com
frequência, no diagnostico laboratorial da raiva em equídeos. Outra lesão
observada deve-se a formação de vacúolos, que conferem ao sistema nervoso
o aspecto espongiforme.
A via nasal e particularmente as células neuroepiteliais olfativas podem
ser uma via alternativa de penetração viral. Mais recentemente, nos Estados
Unidos e na Alemanha, foi verificada a transmissão entre humanos mediante
transplantes de órgãos sólidos.
O período de incubação da raiva e extremamente variável e depende,
fundamentalmente, da concentração do inoculo viral e da distancia entre o local
do ferimento e o cérebro. De igual forma, esta relacionada com a extensão, a
gravidade e o tamanho da ferida causada pelo animal agressor. E o período
que vai desde o momento em que o agente penetra no organismo ate o
aparecimento da sintomatologia clinica. Pode variar, em media, de 20 a 90
dias, em humanos e animais.
O período de transmissibilidade e o período em que existe a
possibilidade de transmissão do agente infeccioso de um organismo a outro.
Varia de espécie a espécie, mas, em todos os animais, inclusive nos seres
humanos, precede ao aparecimento da sintomatologia e perdura durante o
quadro clinico, ate a morte. Tal período foi bastante estudado em cães e gatos,
sendo, na grande maioria das vezes, de cerca de dois a quatro dias antes do
surgimento dos sintomas no animal ate sua morte, que ocorre geralmente cinco
dias após.

Sinais clínicos

Como na maioria dos casos documentados no Brasil, a doença


geralmente é manifestada na forma paralítica, entretanto há uma forma furiosa
que também é relatada em bovinos. O curso clínico em bovinos varia de três a
quatorze dias, e os sinais
apresentados na forma paralítica são caracterizados por apatia ou
inquietação, mudança no comportamento, incoordenação motora, paresia e
paralisia inicial dos membros pélvicos, decúbito, depressão, movimentos de
pedalagem, sialorreia, opistótono seguida de morte.

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Salienta-se que, alguns animais podem apresentar a forma furiosa da
doença que é caracterizada por agressividade e mugidos frequentes, com
relatos de prurido intenso. De acordo com Fernandes & Riet-Correa, a forma
furiosa é mais comum em cães e geralmente está relacionada a lesões
cerebrais e a forma paralítica a lesões da medula, tronco encefálico e é mais
frequente em herbívoros.
Lima et al. (2005) realizaram um levantamento na região Nordeste do
Brasil que constatou que a evolução clínica em bovinos e equinos variou de 2 a
8 dias, em ovinos de 3 a 5 dias e em um caso diagnosticado em caprino foi de
35 dias, o que chama a atenção por este tempo ser até 17 vezes maior que em
bovinos e equinos, em determinadas situações (2 dias de evolução). Ainda
neste estudo é citado que o quadro mais característico na espécie bovina é a
forma paralítica progressiva e as lesões preferentemente medulares e com
comprometimento variável de tronco encefálico; em equinos a principal
característica foi a evidência de lesões difusas no SNC, pois afetou medula,
tronco e cerebelo; em ovinos os sinais clínicos são mais voltados a lesões em
medula e tronco encefálico assim como nos caprinos, porém nesta última
espécie também pode ser observado sinais clínicos voltados a lesões cerebrais
e cerebelares.
Nos equinos, os primeiros sinais são depressão, perda do apetite,
claudicação e sinais de cólica, posteriormente paralisia facial, salivação
excessiva, incapacidade de engolir, espasmos repetitivos, hipersensibilidade ao
toque, coceira, automutilação, mudança no comportamento, como
agressividade e ansiedade, fotofobia, hipermetria e dismetria, debilidade de
membros, incoordenação motora, paralisia de membros pélvicos, paralisia de
cauda, perda no tônus da língua seguida de morte.
Em ovinos, os sinais clínicos variam de dois a quinze dias e são
caracterizados por apatia, incoordenação dos membros pélvicos, tremores
musculares, decúbito lateral prolongado, movimentos de pedalagem,
convulsões e opistótono seguidos de morte.
Os suínos podem apresentar sinais em aproximadamente dez dias após
a inoculação do vírus e caracterizam-se por anorexia, paresia seguida de
paralisia flácida dos membros pélvicos e cauda, postura de cão sentado,
seguida de decúbito lateral, alguns suínos desenvolvem agressividade e
acabam mordendo uns aos outros. É relatado também hiperexcitação,
grunhidos, espasmos em resposta a estímulos táteis, auditivos e visuais.

Polioencefalomalacia

Etiologia 

Ruminantes adultos são capazes de sintetizar a tiamina, devido à


presença de bactérias ruminais produtoras desta vitamina, sendo mais comum
a deficiência em bezerros devido
à incapacidade destes em sintetizá-la, no entanto, animais adultos
também podem apresentar deficiência, devido à redução da síntese ruminal,
degradação por tiaminases ou a presença de agentes análogos desta vitamina.
A inativação desta vitamina pode ocorrer devido a tiaminase tipo I,
produzida por bactérias ruminais, esta enzima também pode ser encontrada
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em plantas, sendo um exemplo o rizoma da samambaia, utilizado em indução
experimental de PEM em ovinos, assim como Amaranthus blitoides (erva
aranha).
Bactérias ruminais, especificamente Bacillus thiaminolyticus e
Clostridium sporogenes produzem tiaminase tipo I, podendo levar a deficiência
de tiamina. Ainda existem bactérias que produzem tiaminase tipo II, tal como
Bacillus aneurinolyticus.
A deficiência de tiamina está listada como uma das causas de PEM,
porém, nos últimos anos o excesso de S na dieta também vem sendo
incriminado na etiologia desta enfermidade, visto que nesta ocasião a
quantidade de tiamina se apresenta dentro dos padrões de normalidade.
Há relatos de casos de PEM associando-se ao consumo de melaço,
porém, em um destes, também foi adicionado farinha de peixe, excelente fonte
de tiaminase. Apesar deste fato, não foi encontrado redução de tiamina no
fígado e cérebro de animais com PEM em comparação com bovinos normais,
colocando o S, presentes em altas concentrações no melaço, como causador
da doença A ocorrência desta enfermidade em bovinos já foi relacionada com
animais arraçoados com Brassica oleracea (couve-flor), espécie esta que
apresenta altos teores de S (8500 mg/kg). Ainda correlacionaram à ocorrência
desta doença em bovinos mantidos em pasto de Azevém (Lolium multiflorum) e
suplementados com ração, ambos os alimentos continham altos teores de S.
Rebanhos alimentados por longo período com broto de cevada também
apresentaram esta enfermidade, sendo que neste caso, a concentração de S
se apresentava mais alta que o recomendado para bovinos, que fica em torno
de 0,4% do total de matéria seca ingerida. Esses achados na literatura são
frequentes, colocando as plantas da família Brassicaceae, como importantes
causadoras desta enfermidade em diversas partes do mundo, no entanto, no
Brasil este fator causal não aparenta ser de grande importância.
Não obstante há relato de alta ingestão de sulfato de sódio pela água,
como desencadeante de PEM em bovinos.O alto teor de grãos presentes na
dieta de ruminantes proporciona um acréscimo da concentração de S, o qual
levará a formação de H2S, um provável agente desencadeante de PEM.
A acidose metabólica associada à alta ingestão de grãos tem sido
relatada como desencadeadora de PEM, já que este tipo de dieta leva ao
desequilíbrio do pHruminal, acidificando-o, favorecendo o crescimento de
bactérias produtoras de tiaminases tais como, Bacillus thiaminolyticus e
Clostridium sporogenes, ainda é possível ter um aumento da população de
bactérias dissimilatórias, tais como Desulfovibrio spp.e Desulfotomaculum spp.,
as quais produzem H2S, que ao ser eructado é prontamente absorvido pelas
vias aéreas levando a intoxicação por sulfeto.
Intoxicação por sódio, devido privação de água, e intoxicação por
chumbo também tem sido indicadas como fatores causais de PEM. Em
situações de altas concentrações de sódio sanguíneo o encéfalo também terá
elevada concentração deste elemento, inibindo a glicólise. Mesmo após
ingestão de água o sódio permanece em altas concentrações no encéfalo.
Como o transporte ativo está deficitário devido à falta de energia, predispõe a
ocorrência de edema cerebral.
A infecção por Herpesvirus bovino tipo 5 também deve ser mencionada
na etiogenia desta doença, pois este vírus vem sendo relatado em diversas
ocasiões como agente etiológico de PEM.
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O uso de alguns fármacos também pode desenvolver PEM em
ruminantes, análogos da tiamina, tais como piritiamina, oxitiamina e amprólio.
Anti-helmínticos como levamisole e tiabendazole podem induzir esta
enfermidade, devido seremcosubstratos de tiaminase. A alteração da
microflora, devido utilização de antimicrobianos inibe a síntese de certas
vitaminas podendo levar a deficiência de tiamina.

Patogenia

A tiamina em ruminantes é sintetizada no rúmen sendo facilmente


absorvida e fosforilada em pirofosfato de tiamina. A absorção da tiamina pode
ocorre por transporte ativo ou difusão simples principalmente no intestino. O
pirofosfato de tiamina é necessário para o funcionamento das enzimas piruvato
descarboxilase, piruvato desidrogenase, α-cetoglutarato desidrogenase,
transcetolase e acetolactato sintetase, as quais estão intimamente integradas
no metabolismo energético, logo sua deficiência deprime a capacidade de
produção energética. Também podemos citar trifosfato de tiamina (TT), uma
coenzima oriunda da tiamina assim como o pirofosfato de tiamina, no entanto
TT predomina em tecidos nervosos onde esta intimamente envolvido no fluxo
de sódio através da membrana neuronal.
Ruminantes neonatos e adultos tem 75 e 90%, respectivamente,
daglicose total utilizada, oriunda da gliconeogênese. Nesses animais o acetato
constitui a principal fonte de C para síntese de ácidos graxos (AG) no tecido
adiposo, e para a síntese de AG no músculo o principal precursor é a glicose.
Sabe-se que 50-80% do NADPH utilizado para a síntese de AG são oriundos
da via pentose fosfato, deixando clara a importância de tal via no metabolismo
dos ruminantes. A via pentose fosfato é uma grande fornecedora de energia,
sendo a transcetolase, presente nas células gliais e eritrócitos um limitante
desta via, e a tiamina um cofator necessário a esta enzima. Como o cérebro é
dependente de glicose, esta enzima tem papel impar no metabolismo
encefálico.
Tiaminases podem levar a uma depleção da tiamina. A ação da
tiaminase vem sendo analisada nas fezes e liquido ruminal de animais doentes,
pois já se conhece que esta enzima na presença de cosubstratos tem sua ação
lítica sob a tiamina maximizada. Com a destruição da tiaminaruminal o
organismo recorre às reservas, tãologo as reservas hepáticas de tiamina se
exaurem fazendo com que apareçam as manifestações clínicas da PEM. Um
vasto grupo de drogas foi incriminado como sendo cosubstratos entre os quais
podemos citar ácido nicotínico, hidrato de piperazina, levamisole entre outros.
A tiaminase I tem um efeito mais deletério para o metabolismo da
tiamina, pois além de destruir esta também leva a formação de análogos, mas
de forma que estes não possuem ação biológica, logo terá uma inibição das
reações dependentes de tiamina como, por exemplo, no ciclo do acido cítrico
comprometendo a produção de ATP. Após a redução na síntese de ATP, há
uma deficiência da bomba de sódio e potássio, levando a retenção de sódio e
aumento da pressão osmótica na célula.
Podemos aqui acrescentar que em casos de intoxicação por sódio,
devido privação de água,acumulará altas concentrações de sódio sanguíneo e
no encéfalo, inibindo a glicólise. Mesmo após ingestão de água o sódio
permanece em altas concentrações no encéfalo. Como o transporte ativo esta
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deficitário, devido à falta de energia, ocorrerá edema cerebral. Justificando o
motivo pelo qual esta etiogenia pode levar a PEM.
A alta proporção de concentrado na dieta sabidamente provoca uma
redução no pHruminal, além de proporcionar crescimento de bactérias
produtoras de tiaminases. Já se tem dados na literatura de casos de PEM em
associação com acidose metabólica. Em situações de alta ingestão de S,
acidose ruminal pode ocorrer,então ocorrendo um aumento da produção de
sulfeto e devido parte da eructação ser inalada e absorvida pela via respiratória
pode este composto atingir o sistema nervoso e provocar as lesões de PEM.
Já se conhece que H2S é produzido endogenamente no sistema
nervoso a partir de cisteina com auxilio de enzimas cistationina β-sintase (CBS)
ecistationina y-liase (CSE), sendo esse gás um neuromodulador do cérebro,
porém em situações onde sua concentração ultrapassa um limite fisiológico
ocorre inibição da resposta sináptica.
Sulfeto de hidrogênio é normalmente produzido pelo biofilme ruminal, em
situações de alta ingestão de S a capacidade de produção de sulfeto de
hidrogênio é maximizada,então anions tóxicos derivados deste gás inibem a
função da enzima citocromo oxidase, acarretando um déficit na produção de
ATP, além do mais o S pode se ligar a hemoglobina formando
sulfahemoglobina e consequentemente dificultando a condução de oxigênio.
Ainda podemos citar aqui um estudo que concluiu que H2S não age somente
em citocromo oxidase, mas também em outras enzimas tais como
superoxidodismutase, glutationaperoxidase, glutationaredutase, ecatalase
ampliando assim seu efeito tóxico no cérebro.
Porém estudos em ratos, a respeito da toxicidade de H2S têm sugerido
que não é o próprio H2S o causador das lesões neuronais, mas sim a
hipotensão desencadeada por ele, levando assim a uma isquemia. Outro
estudo mostrou que o excesso de H2S degrada citocromooxidase em diversos
órgãos, incluindo o cérebro, podendo assim explicar o efeito desse composto
neste órgão diante uma alta concentração de S na dieta, pois leva a PEM,
devido uma deficiente produção de ATP. Sendo todos estes estudos de acordo
em que ocorre uma inibição de citocromo oxidase perante altas concentrações
de H2S, não deixando claro o mecanismo pelo qual ocorre esse fato.
Aparentemente, quando se trata de S na causa de PEM, não esta em
sua maioria relacionado ao status de tiamina. No caso em que observaram
redução do nível de tiamina em associação com dieta altamente concentrada
de S, pode este achado estar ligado ao fato de favorecer proliferação de
bactérias produtoras de tiaminases, além de ter ocorrido excreção de tiamina
via urina. Esses mesmos pesquisadores encontraram uma relação positiva
entre a deficiência de cobre e de tiamina. Não muito distante, um estudo
descartou a possibilidade do cobre estar envolvido na patogênese de PEM,
visto que tanto animais deficientes em Cu como aqueles que não o estão,
desenvolveram a doença ao receberem uma dieta rica em S.
Quando se trata de amprólio como causador da PEM, constatou-se que
esta droga reduz a quantidade de influxo de tiamina para o SNC devido uma
inibição competitiva, já que esta se liga aos transportadores da vitamina, em
consequência deste fato ocorre uma deficiência do tecido nervoso em produzir
energia, o que desencadeia as alterações neuronais observadas em
microscopia, bem como macroscopicamente.

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Em casos de intoxicação por chumbo as lesões de PEM ocorrem devido
ao edema cerebral iniciado em função do depósito deste metal no endotélio
capilar . Já na PEM provocada por Herpesvirus bovino tipo 5 as lesões do
sistema nervoso são em virtude do vírus, podendo ser encontrados inclusões
intranucleares eosinofílicas em astrócitos, não podendo em ambos estes casos
se relacionar a causa da desordem ao metabolismo da tiamina.

Sinais clinicos

A sintomatologia pode se manifestar aguda ou cronicamente. A causa


primária da sintomatologia são lesões primárias presentes no telencefalo, e
secundarias no cerebelo e tronco encefálico.
Os sinais clínicos são a priori envolvidos com o sistema nervoso, sendo
evidenciado ataxia, cegueira, disfagia, depressão, decúbito, apatia, anorexia,
incordenação motora, posição de cavalete, hiperexcitabilidade, bruxismo,
nistagmo, tremores musculares, decúbito esternal e posteriormente lateral,
movimentos de pedalagem,opistótono e coma. Pressão da cabeça contra
objetos também pode ser observado.
Convulsões e movimentos involuntários podem ser encontrados, os
movimentos ruminais se encontram normais exceto se ocorrer intoxicação por
chumbo. Ausência de reflexo de ameaça é frequente no estágio agudo, porém
o reflexo de proteção palpebral esta presente. Estrabismo dorsal em virtude do
estiramento do nervo troclear pode ser encontrado.
Não muito distante podemos relacionar outros sinais clínicos, que
dependendo da etiogenia envolvida serão particularmente distintos dos aqui já
descritos, no caso de intoxicação por sal devido privação de água, o quadro
clinico terá sintomas devido intoxicação por sal, podendo ser evidente vômito,
atonia ruminal, diarreia e dor abdominal. No caso de animais intoxicados por
chumbo pode ocorrer atonia ruminal, cólica e diarreia fétida, anemia, melena e
dor abdominal.
De um modo geral o curso clínico pode perdurar de dois a quatro dias
caso este animal não seja tratado.Bezerro de seis a nove meses não
receberem tratamento poderão vir a óbito em 24 a 48 horas, ao passo que em
bezerros mais velhos o curso da doença é mais prolongado. 

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