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IBFOM (Instituto Bíblico de Formação de Ministros) – Sede da Comunidade Cristã Verdade e Vida
(Av. Expedicionario Bittencourt Rodrigues, 20 - lote 08 Quadra - Maria Paula, São Gonçalo - RJ)
- Exegese: extrair do texto, interpretar, arrancar para fora do texto o que ele significa 4. A exegese
bíblica é a tentativa de extrair o significado de um texto bíblico. O exegeta, neste caso, precisa
conhecer bem os idiomas bíblicos, o contexto histórico, cultural etc. Por isso é tão difícil separar
hermenêutica de exegese, porque esta é o que o texto diz e aquela é o que nós pensamos sobre
ele e como o aplicamos na prática5.
• [Curiosidade] Eisege: não faz parte da hermenêutica. Enquanto exegese é ex-trair, ex-ternar,
ex-teriorizar, ex-por, ou seja, retirar do texto o que ele diz, eisege é injetar no texto algo que
o intérprete quer que esteja ali mas que na não faz parte do que foi escrito 6. É forçar o
texto a dizer o que ele não diz.
Ex: “’Maldito o homem que confia no homem’ (Jeremias 17:5 parte “a” ), por isso não
podemos confiar em ninguém, vivermos isolados, não confessar nada a pastores muito
menos a outros irmãos etc”. O texto do próprio versículo dá parte da resposta “Maldito o
homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do
Senhor”, ou seja, a ênfase não é na confiança em outra pessoa, mas em deixar sua vida
como um todo confiada na força humana e não em Deus.
Apesar de utilizarmos a bíblia, sabemos que não é ela quem salva. Jesus é o Evangelho; suas
palavras, ações, sua morte e ressurreição são a nossa fé, não o escrito em si. Há cristãos no mundo
que nunca tiveram o Evangelho de Mateus nas mãos mas já ouviram e vivem o Evangelho.
“Não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa
capacidade vem de Deus, O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento,
não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica”. 2 Coríntios 3: 5,6.
Assim, toda a bíblia aponta para Jesus; tudo o que foi dito antes (especialmente) e depois dele, é
cumprido n'Ele, e o que não se adequa a Ele e seu Espírito deve ser rejeitado ou compreendido à
luz do que Ele ensinou. Não é possível obedecermos ao pé da letra toda a bíblia e permanecermos
cristãos. Como podemos, por exemplo, desejar a morte de nossos inimigos ou que seus filhos
sejam esmagados contra a rocha (Salmo 137:9), já que o Senhor, pendurado na cruz, pediu ao Pai
que perdoasse o povo que o estava assassinando (Lucas 23:34)? Entender o contexto da época do
Salmo, a revelação que até então tinha o povo judeu e a que nós temos hoje, com o Espírito de
Cristo, é essencial para interpretar e aplicar qualquer parte da bíblia, inclusive no novo testamento.
De todo modo, aprendemos sobre Jesus pelo que está escrito nos evangelhos, nos livros de
Mateus, Marcos, Lucas e João. Jesus mesmo, nada escreveu. Só sabemos sobre Ele em segunda
mão, no mínimo – estou-me referindo apenas aos textos bíblicos. Porém, é inegável que a
revelação de Cristo se dá por uma ação do Espírito, não da leitura. Se dá com novo nascimento
4) A importância do contexto
Esdras Costa Bentho, ao explicar a etimologia da palavra 7: “No latim, cun é preposição do ablativo
que denota união, associação ou companhia, e textum significa 'tecido'; por extensão, 'contextura,
trama'. Aplicados a documentos escritos, expressa a conexão de pensamento que existe entre
diferentes partes para fazer dela um todo coerente”.
Ninguém é um ser isolado da época que vive, nem os personagens dos textos bíblicos eram,
incluindo Jesus. Por isso, antes de retirar qualquer conclusão apressada sobre uma doutrina ou até
aplicação pessoal, necessitamos entender o contexto que cada texto está inserido, a inter-relação
de circunstâncias que acompanham os fatos, histórias, recomendações, cartas bíblicos.
Ex: Mateus 2: 23 “E chegou, e habitou numa cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que
fora dito pelos profetas: Ele será chamado Nazareno”. Se formos apressados concluímos que existe
esta profecia no AT, mas em NENHUM lugar há tal referência nem a Nazaré nem a algum nazareno.
O que fazer? Olhar para o contexto. Mateus, o escritor, é judeu e profundo conhecedor do AT,
sendo difícil que ele cometesse um erro crasso como este. Nota-se que quando ele se refere a
algum profeta, faz a introdução no singular: “para que se cumprisse o que o Senhor dissera pelo
profeta” (Mateus 1.22) ou “Então se cumpriu o que fora dito pelo profeta Jeremias” (Mateus 2.17),
o que leva a crer que não está, em 2:23, referindo-se à fala específica de algum profeta, mas ao
ensino geral sobre o Messias no AT.
◦ TRABALHO: Leia o texto 1 Co 2:9 “mas, como está escrito: nem olhos viram, nem
ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado
para aqueles que o amam.” e responda: 1) o que você pensa/sempre pensou que este
texto está dizendo, olhando apenas para este verso? 2) A partir do contexto imediato
anterior e posterior, você mantém sua conclusão da pergunta 1 ou ela é modificada?.
ENTREGA: 1/5/2019 (se tiver aula)
• Contexto REMOTO ou AMPLO: tudo aquilo que está “distante”, mas abrange o texto
estudado (seção— divisões maiores da obra, o livro como um todo e os demais aspectos
que envolvem o texto). É claro que cada pessoa, cada estudante da bíblia, divide as seções
segundo suas preferências, mas há um norte a seguir. Se não considerarmos o propósito do
escritor, os capítulos anteriores e os posteriores, outros textos da bíblia que tratem do
mesmo assunto, a realidade social, política e cultural da época do escritor, será fácil
distorcer o objeto do estudo ou deixar de compreender os principais ensinamentos da
passagem.
Ex: João, no evangelho, em 20: 30 e 31, demonstra o propósito maior em dar seu relato
do ministério do Senhor: “Jesus realizou na presença dos seus discípulos muitos outros
sinais miraculosos, que não estão registrados neste livro. Mas estes foram escritos para que
vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e, crendo, tenham vida em seu nome”. Ou
seja, a intenção do evangelista é que pelo testemunho creiamos que Jesus é o Filho de
Deus, ou seja, que Jesus é Deus. Não é, por exemplo, confirmar que Ele era o Messias
prometido no AT, algo que o livro de Mateus se ocupa mais.
Ex: Isaías 29: 13 “O Senhor diz: Esse povo se aproxima de mim com a boca e me honra com
os lábios, mas o seu coração está longe de mim. A adoração que me prestam só é feita de
regras ensinadas por homens”. O livro de Isaías pode ser dividido – repare que eu disse
“pode”, não deve, porque podemos enxergar o contexto de muitas maneiras - em duas
principais partes9, a primeira pelos 39 capítulos iniciais, cuja temática é a “Denúncia dos
pecados de Judá”, e a segunda, os capítulos 40-60, cujo tema é a “Consolação de Judá”.
Recorrendo a outros textos, fora do livro de Isaías, encontramos o mesmo tema
A palavra luz: podemos comparar 2 Sm 23: 4 (ler versos 1 a 4) com João 8:12 e com
Mateus 5:14. Percebemos que há pontos em comum, mesmo que não imediatos. O de
2 Sm demonstra que, assim como a luz dissipa a escuridão depois da noite ou após um
dia nublado, o sucessor de Davi será o comandante das nações após um período de
dificuldades; os textos do NT demonstram que Jesus é a luz que ilumina os homens (em
João), que estão em trevas por causa do pecado e, ampliando a ideia, seus discípulos
iluminarão o mundo (em Mateus), não apenas cumprindo algum mandamento seu, mas
sendo a sua própria presença no meio de uma geração corrompida.
Não é possível ver o mesmo sentido no texto de João 16:21, que usa “luz” como
nascimento (“dar à luz”). Na comparação de Jesus, assim como a criança está no escuro
até que venha à luz (ou seja, nasça), os discípulos também estavam em trevas, vivendo
as “dores do parto” com a iminente morte de Jesus; porém, logo depois ficariam felizes,
na ressurreição do Senhor, assim como fica a mulher que vê seu filho nascer, não mais
se lembrando das dores que sentira enquanto estava em trabalho de parto.
Ex: Pv 29:20 “Você já viu alguém que se precipita no falar? Há mais esperança para o
insensato do que para ele” e Tiago 1: 19 e 20 “Portanto, meus amados irmãos, todo o
homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. Porque a ira do
homem não opera a justiça de Deus”. É possível perceber em ambos os textos a
necessidade de prudência ao falar; o assunto de um (precipitação na fala) confirma o de
outro (a fala que gera a conclusão precipitada); o assunto do segundo (ira humana não
pode produzir justiça divina) amplia o do primeiro etc.
Textos narrativos são os que descrevem eventos históricos, como a trajetória de uma pessoa ou de
parte de sua vida (ex: Ester), de um evento específico (ex: Neemias, que descreve a saída do povo
de Babilônia para a reconstrução da cidade e dos muros de Jerusalém), de um período da história
de um povo (ex: Êxodo, que conta a história de Moisés, a libertação do povo de Israel e seu
caminho no deserto; Atos, que conta a história dos apóstolos e da igreja primitiva, da ascensão de
Jesus até a chegada de Paulo a Roma; os 4 evangelhos) etc. Tais livros ensinam princípios,
mandamentos ou outros assuntos, mas no decorrer da narrativa. O assunto principal do livro se
desenvolve enquanto a história é contada, e saber o propósito de cada autor ajuda muito na
compreensão do livro, dos trechos, dos assuntos etc.
São perguntas importantes a se fazer em textos deste tipo: a) quem é (são) o principal(is)
personagem(ns)? b) qual o assunto principal (história de amor, conflito, viagem, crise local)?
c)onde ocorre esta história? d)quando ocorre esta história?
Tomemos o livro de Juízes: a) principais personagens: os juízes, que eram líderes militares ou civis
que libertavam o povo de Israel de seus opressores; b) assuntos principais: a falta de liderança
(depois da morte de Josué), idolatria, apostasia, opressão de povos estrangeiros e libertação de
Deus através dos juízes c) Onde: terra de Canaã ainda não totalmente conquistada d) quando:
entre a morte de Josué e a instituição da monarquia, com Saul, no período de 1380 a 1050 a.C.,
aproximadamente.
Textos discursivos são os que tratam de assuntos, temas, mais que de ação. Podem trazer doutrina
(ex: as cartas de Paulo, Pedro, João), poesia/sabedoria (ex: Cânticos, Provérbios, Eclesiastes),
instruções (ex: Filemom), profecia (ex: Apocalipse, Isaías) etc. Eventualmente uma história pode
ser narrada, mas dentro do tema desejado pelo autor. Algumas perguntas importantes: a)quem
escreveu? b)por que escreveu? c)como as ideias são relatadas? d) quais ordens, conselhos,
ensinamentos estão sendo passados pelo autor?
Tomemos como exemplo a carta de 1ª Coríntios: a) quem: Paulo b) por que: para tratar problemas
doutrinários e práticos da comunidade de fé deixada em Corinto c) como as ideias são relatadas:
Paulo trata dos assuntos que lhe chegaram, noticiados por alguns de seus discípulos, e passa a
ensinar e corrigir a igreja a partir destes problemas d) ordens e conselhos: exortação a unidade,
prática do amor, ordem no culto, utilização dos dons na comunidade, tratamento de pecados
sexuais etc.
Por todo o visto, saber o propósito do autor é mais relevante em textos discursivos, mas mesmo
nos narrativos, há um motivo maior para o livro específico a ser estudado.
Aula 4 – 8/5/2019
• Aramaico: parecido com o hebraico, mas não é um dialeto. A partir de 732 a.C., com a
queda da Samaria, o aramaico dominava as províncias do norte do Império Assírio. Quando
passou a ser a língua oficial do Império Persa, tomou conta de todo o ambiente bíblico.
Depois da conquista de Alexandre Magno (336 - 323 a.C), a língua oficial passou a ser o
grego, mas o aramaico estava de tal modo implantado que continuou sendo falado nas
regiões anteriormente ocupadas pelos persas.
A Bíblia contém poucos textos em aramaico, por isso seu estudo não é priorizado entre os
Ex de Arqueologia15:
“Em 1993, arqueólogos descobriram na região de Tel Dan (norte de Israel) uma estela (pedra) que
celebra a vitória do rei de Damasco (capital da Síria) sobre a 'Casa de Davi'”. O artefato – datado
para o século VIII a.C. – seria a primeira evidência extrabíblica da existência do rei Davi. Ocorre que
o hebraico não possuía vogais, por isso a tradução geralmente não é fácil. Na inscrição aparecem
as seguintes consoantes: BYT DVD. Inserindo as vogais podemos lê-la como BeYT DaViD (“Casa de
Davi”) ou como BeYT DoD (“Casa do amado”). A expressão “Casa de Davi” seria uma referência à
dinastia davídica (como “casa de Jeroboão”, cf. 1Rs 13,34). A expressão “Casa do Amado” seria
uma referência à Jerusalém (como “casa do Sol”, cf. Js 15,10)”.
Esta referência externa reforça a historicidade do rei Davi.
Ex de História Bíblica16:
“A Bíblia hebraica apresenta os querubins com a função de guardiões (Gn 3:24; Ez 28:16) e
montaria de Javé (Sl 18:10). Dotados de asas e corpo de animais, têm aparência semelhante aos
lamassus assírios/persas e esfinges egípcias (Ez 1;10).
Na iconografia do Antigo Oriente Próximo aparecem ilustrando tronos de reis/divindades. Isso
explica a fórmula: “Jávé se assenta sobre os querubins” (2Sm 6:2). Não eram vistos como “anjos”
(mensageiros celestes), mas como guardiões. Não eram percebidos como meninos peladinhos e
gordinhos alados (como na iconografia renascentista), mas seres com aparência imponente,
Na maioria das bíblias de estudo encontramos alguns mapas e descrições sobre como era a
geografia de alguma época específica sobre o livro que estamos lendo. Nosso curso não é sobre
Geografia Bíblica, mas daremos alguns exemplos de como esta matéria influencia na compreensão
do texto.
Ex: Deuteronômio 11:10-1218. Este texto trata da diferença entre a terra do Egito e a de Israel. O
Egito tem geografia plana (como o Rio Grande do Sul) e toda a sua cultura de alimentos se
desenvolveu às margens do rio Nilo, que com suas inundações deixava o solo pronto para o plantio
e adubado para a agricultura. A terra de Israel tem relevo acidentado, com vales e montanhas,
mais parecido, nesse sentido, com o Rio de Janeiro. E o texto usa uma figura de linguagem, “da
chuva dos céus beberá as águas”, para se referir que lá a agricultura depende da chuva; e que por
isso, depende de dos céus, depende de Deus.
Ex: Êxodo 16:35. Entre o Egito e Israel há cerca de 500km – alguns dizem 430km, a distância entre
Rio e São Paulo – a depender da escolha da rota, e obviamente não justificam 40 anos de
caminhada. Com certeza as caravanas daquele período faziam esse trajeto em cerca de 1 mês. Há
algo a considerar na narração bíblica para além de uma simples viagem do Egito para a Terra
Prometida. Há várias respostas: as guerras pelo caminho, os constantes acampamentos no deserto,
a complicada movimentação de 3 milhões de pessoas e, principalmente, o pecado do povo, o que
fez Deus retardar a chegada para esperar que a geração que saiu do Egito morresse e entrasse
apenas os filhos, com exceção de Josué e Calebe. Hoje é possível fazer a travessia Jerusalém-Cairo
em 12 dias a pé (450km em 6 horas por dia, a 6km/h cada dia perfazendo 36km percorridos),
apesar de ser uma aventura complicada (deserto, calor, conflitos na região etc).
A primeira bíblia completa na língua portuguesa foi a Almeida Revista e Corrigida de 1898, fim do
século XIX. Hoje há inúmeras e cada uma serve a um propósito. A NTLH, por exemplo, serve para
pessoas com pouca instrução, mas constantemente faz paráfrases (releituras); a NVI (minha de
preferência) é mais fiel ao texto original mas “atualiza”, por exemplo, medidas, distâncias, para
padrões atuais (coloca côvados em metros, arrobas em kg etc) e assim por diante.
Para estudar, o mais indicado é recorrer a várias traduções, pois é na comparação que teremos
visão melhor e mais ampliada. Um dos muitos sites que encontramos versões é o
bibliaonline.com.br.
Mateus 10:28: E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele
que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo.
E aí vem o verso 28: não temam os que podem matar o corpo (soma), mas o que pode tanto a
alma (psyche) quanto o corpo (soma) lançar no inferno (geena).
Este “o que pode lançar a alma e o corpo...” no grego é um artigo acusativo masculino; pode ser
“aquele que”. Jesus parece não mais se referir a várias pessoas, como “os que” matam o corpo,
mas a um ser específico, que lança corpo e a alma (vida) na geena. A vida – ou alma, ou psyche -
quem pode matar? O HOMEM, você. Eu. No contexto imediato, é o espírito do homem que se
oporia à pregação e mataria os apóstolos (corpo) e tentariam exterminar com sua vida. Não
temam os que matam apenas o corpo, que só podem infligir castigos corporais, mas sim aquele
que lança corpo e vida na destruição.
Também é possível ver uma terceira figura: o DIABO. Com suas mentiras ele também pode lançar
os discípulos na destruição. Se, durante a caminhada, o discípulo para de crer em Jesus, assim
como Pedro afunda em meio às águas, sua fé, sua vida pode ser destruída – ainda que não
definitivamente – pelas ciladas do inimigo.
19 [AUXÍLIO EXTERNO - ARQUEOLOGIA] “Nome do lugar em que eles faziam seus filhos passarem pelo fogo para
Moloque. O nome do lugar era Tofete, e diziam que era chamado assim porque eles dançavam e tocavam
pandeiros [hebr.: tuppím] por ocasião da adoração, para que o pai não escutasse os gritos do filho quando o
estivessem fazendo passar pelo fogo, e para que seu coração não ficasse agitado e ele o tirasse da mão deles. E
esse lugar era um vale que pertencia a um homem chamado Hinom, de modo que era chamado de 'Vale de
Hinom' e de 'Vale do Filho de Hinom'. E Josias conspurcou [profanou] aquele lugar, reduzindo-o a um lugar impuro,
para nele se lançarem carcaças e toda impureza, a fim de que nunca mais subisse ao coração do homem fazer seu
filho ou sua filha passar pelo fogo para Moloque” (Biblia Rabbinica, Jerusalém, 1972). O Vale de Hinom, em
https://www.cafetorah.com/o-vale-de-hinom/ acesso em 15/5/2019.
2. Ir ao original da palavra, no caso, o grego. O nome “geena” é traduzido por inferno, que não
é a melhor ideia do que o termo trata.
3. Procurar referências no restante bíblia, no caso, Jeremias e Isaías.
4. Aprofundar o máximo que conseguir, pedindo a Deus direcionamento para que nos dê a
entender a Sua palavra.
5. Qualquer interpretação é fruto de alguma escolha de ênfase do intérprete, inevitavelmente
– eu fiz a minha na interpretação deste texto. A questão é que quanto mais noção do todo
se tem (de toda a bíblia, do contexto próximo, da língua, da cultura, do tempo presente),
melhor e mais profundamente se interpreta.
• Judeu: nome que se dá ao natural de Israel no NT. A origem mais primitiva deste povo é o
povo hebreu, já que Abraão é designado por esta origem (Gn 14:13), que se refere aos
descendentes de Héber. O capítulo 10 de Gênesis fala dos descendentes de Noé e das
nações que se formaram a partir deles. Noé – descendente de Sete, um dos filhos de Adão
e Eva - teve três filhos: Sem, Cam e Jafé, além de outros mais que nasceram depois do
dilúvio. Héber foi um dos trinetos de Sem, filho de Noé. Segundo a tradição judaica, Héber
teria se recusado a participar da construção da Torre de Babel e o idioma de seu povo foi
preservado, o qual recebeu o nome de seu “protetor”, por isso a língua é hebraica.
O termo “israelita” é a versão em português do termo “filhos de Israel” (Bnei Yisrael). Ish ra
El é “aquele que luta com Deus”, nome que recebeu Jacó após ter lutado com Deus. Assim,
Jacó (Israel) é descendente de um hebreu (Abraão), assim os termos se relacionam. De
certa forma, todo o povo de Israel é também hebreu.
Por fim, o termo judeu vem da tribo de Judá, um dos 12 filhos de Israel (Jacó). Há três
razões porque este é o termo mais utilizado hoje:
1) é a tribo de maior proeminência no período de maior glória de Israel, o dos Reis, sendo
Davi (e o próprio Jesus) seu descendente;
2) foi a tribo que restou (junto com Benjamin) após a aculturação do reino do Norte pelo
Império Assírio em meados de 700 a.C, que abarcava as outras dez tribos (eram os
samaritanos da época de Jesus, um povo miscigenado);
3) é a região em que ficava o templo de Israel após o retorno da Babilônia;
O judeu é, portanto, o povo de Israel, escolhido por Deus no passado e que, na época de
Jesus, se opôs fortemente à sua pregação. Paulo, em Romanos 9 a 11, descreve esta
complicada e maravilhosa história do povo judeu e seu relacionamento com Deus.
Vejamos:
Pois eu até desejaria ser amaldiçoado e separado de Cristo por amor de meus irmãos, os de
minha raça, o povo de Israel. Deles é a adoção de filhos; deles é a glória divina, as alianças,
a concessão da lei, a adoração no templo e as promessas. Deles são os patriarcas, e a partir
deles se traça a linhagem humana de Cristo, que é Deus acima de tudo, bendito para
sempre! Amém. Romanos 9:3-5.
E ainda: Nem por serem descendentes de Abraão passaram todos a ser filhos de Abraão.
Pelo contrário: "Por meio de Isaque a sua descendência será considerada". Noutras
palavras, não são os filhos naturais que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa é que
são considerados descendência de Abraão. Romanos 9:7,8
Ex: em Mt 15: 21 a 28 vemos claramente este conflito, em que Jesus compara os judeus a
filhos e os gentios a cães. Pela boca da siro-fenícia falam as mulheres e os representantes
gentios marginalizados naquelas comunidades cristãs, confirmada pela resposta de Jesus
que enxerga fé e humildade em suas palavras, o que é ainda ampliado por Paulo, que
justamente implica que é verdadeiro israelita aquele que o é pela fé, não pelo nascimento.
• Igreja: é a comunidade que nasce dos que creem em Jesus. Na verdade, a igreja é iniciada
pelos judeus. Foi profetizada por um judeu – Jesus (Mt.16:18) -, começou com apóstolos
judeus (Mt.10:1-5), na cidade judaica de Jerusalém, por ocasião da Festa Judaica de
Shavuot – Semanas (conhecida em grego por Pentecostes, Atos 2). No início da Igreja, a
maioria dos “membros” era composta por judeus ou, no máximo, prosélitos convertidos ao
Deus de Abraão, Isaque e Israel (Atos 2:5,9-11,37-42) 20. O livro sagrado era o Tanach
(acrônimo para Torá – Lei, Neviim – Profetas e Ketuviim – Escritos; isto é, o Antigo
Testamento), conforme 2 Timóteo 3:16, uma vez que o Novo Testamento ainda não havia
sido escrito pelos apóstolos e profetas (todos judeus, com exceção de Lucas).
Logo no início, os gentios começaram a fazer parte, através da pregação dos judeus, da
igreja. Em Atos 2 (Pentecostes) ocorre o milagre de Pedro falar em sua língua (aramaico) e
cada um dos presentes ouvir em sua língua materna (At 2:9 a 11). O episódio mais
emblemático é o de Atos 10, com a história da visão de Pedro sobre os animais impuros e a
visita à casa do centurião romano Cornélio. A frase de Deus para o apóstolo é “não
consideres impuro o que Deus purificou”, indicando que o próprio Senhor estava chamando
seu povo em meio a todas as línguas, povos e raças.
Por fim, o apóstolo Paulo, judeu que falava o grego (língua culta mundial da época, junto
com o latim), recebeu a revelação de que em Cristo não há judeu nem grego, escravo ou
livre, homem ou mulher, porque todos somos um em Cristo.
Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos; Mas, quando vier o que é perfeito, então
o que o é em parte será aniquilado… Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então
veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.
Se olharmos para a lei de Deus do AT vemos como se trata, por exemplo, o adúltero. Lv 20:10 diz
que devem ser apedrejados o adúltero e a adúltera. Jesus, ao se deparar com a mulher adúltera –
curiosamente o homem não foi encontrado – não a apedreja e ainda lança sobre os acusadores o
peso de suas próprias acusações. O que é isso se não a revelação de Deus sobre a profundidade de
todo o pecado humano e seu consequente apedrejamento? Jesus não disse que ela não merecia o
apedrejamento; ela merecia. Ele apenas mostrou que todos, absolutamente todos, tropeçavam em
algum ponto da lei, e quem quisesse ser defensor da lei, que o fosse para os outros e para si
mesmo. Por isso, Jesus foi o “apedrejado” em lugar de todo o pecador que n'Ele crê.
7.2.3 - A Bíblia contém ciência mas não é um livro científico; contém história, mas não é um livro
histórico; contém geografia, mas não é um livro geográfico
Há erros na bíblia. Contradições. Heresia? Não. A questão é que nossa visão do que é erro não é a
visão do que para o escritor bíblico o era. Um bom exemplo é como enxergamos a narrativa da
criação do homem e sua queda. Alguns sustentam ser literal, outros apenas linguagem figurada
(afinal, há uma cobra falante na história, correto?).
Outros detalhes ficam perdidos no pós-dilúvio. Alguns teólogos dizem que o dilúvio não foi
Em qualquer resposta, o hermeneuta deve buscar ser honesto e não ter medo das respostas que
obtém, sempre tendo em conta que tais aspectos não são essenciais, mas podem ajudar na
compreensão do texto. Muitas vezes há imprecisões históricas, científicas ou geográficas, e à
medida que os estudos avançam, podemos compreender um pouco melhor o universo “distante”
do texto bíblico.
7.2.4 - O objetivo de Deus ao inspirar e revelar a palavra escrita (Bíblia) foi se revelar ao homem
A bíblia, apesar do livro maravilhoso que é, não tem a proposta de provar a existência de Deus de
forma científica. A ciência só pode provar aquilo que é observável, que mediante repetições em
ambiente controlado se mostra plausivelmente razoável como existente. A revelação de Deus ao
homem é algo – sempre – sobrenatural, e à medida que o conhecemos sentimos o desejo e até
necessidade de entender como Ele se revelou a outros homens na história. A bíblia é a história de
Deus com o homem, não a prova de sua existência.
Na bíblia temos os dois tipos, e na maioria das vezes não há referência se a linguagem utilizada é
literal ou figurada, dependendo o texto da interpretação que se dá. Um bom exemplo é o Milênio:
alguns acham que é literal – os pré-milenistas creem em um reino terreno de Cristo por mil anos
literais – e outros, como eu, acreditam se tratar de linguagem figurada, o reino de Cristo por toda a
era da igreja no coração das pessoas – posição amilenista. Uma situação rara de explicação, em Mt
16: 1 a 1223, mostra Jesus falando com os discípulos sobre o tipo de linguagem que utilizara,
dizendo que não falava literalmente de fermento, de comida, mas dos fariseus, usando o fermento
9) Figuras de linguagens
Para que entendamos o significado de uma palavra ou frase, temos de levar em conta o contexto
literário, ou seja, o sentido que as pessoas da época do texto davam àquela expressão. Não é raro
que, com o passar do tempo, o mesmo significante assuma significados distintos. Bom exemplo é
“coração”, que em nossa cultura está ligado a sentimentos, enquanto na bíblia quer dizer todas as
“fontes da vida”, ou seja, além de sentimentos os pensamentos, os desejos, as crenças. Davi era
“segundo o coração de Deus” não apenas porque “sentia” o que Deus sentia, mas porque pensava
de acordo com a mente de Deus para o seu tempo e inclinava sua vida em adoração a Jeová.
Apesar de sentir tristeza pela morte de seu filho, fruto de um adultério com Bate-Seba, seu
coração estava inclinado a adorar a Deus, contrariamente a seus sentimentos.
Vejamos algumas – não todas – figuras de linguagem e recursos literários encontrados na bíblia 25.
9.1) Metáfora: uso de uma palavra ou expressão com o sentido de outra com a qual é possível
estabelecer uma relação de analogia26. Mais uma vez é preciso conhecer a cultura da época para
que se entenda o real significado. Chamar alguém de “burro” ou “jumento” em nossa cultura é
ofensa à intelectualidade, mas em Gênesis 49, quando Jacó vai abençoar seus filhos, Issacar é
chamado de “jumento de fortes ossos” (analogia com a força e determinação - "Issacar é um
jumento forte, deitado entre as suas cargas.Gênesis 49:14), Naftali de “gazela solta” (analogia com
velocidade e liberdade - "Naftali é uma gazela solta, que por isso faz festa. Gênesis 49:21) e Dã de
“serpente junto ao caminho” (analogia com perspicácia e estratégia diante dos inimigos - Dã será
uma serpente à beira da estrada, uma víbora à margem do caminho, que morde o calcanhar do
cavalo e faz cair de costas o seu cavaleiro. Gênesis 49:17) etc.
9.2) Metonímia: substituição de uma palavra por outra, quando há relação de contiguidade, ou
seja, proximidade de sentido entre elas. É a substituição de palavras que guardam uma relação de
sentido entre si. A palavra “gordura” estava intimamente ligada às emoções, porque é nas
entranhas que há gordura, além de ser a parte mais saborosa do sacrifício, que era comido pelo
ofertante e/ou pelo sacerdote, a depender do tipo de oferta. A maioria das ofertas
veterotestamentárias tinha sangue – representando expiação, preço pela culpa – e gordura –
representando celebração, alegria, abundância. O sacrifício pacífico de Lv 3 - que não era oferecido
para pagar pecados, mas como gratidão - no verso 3 demonstra que os sentimentos, a paixão do
ofertante era simbolizada pelas entranhas, as vísceras que continham a gordura. Por isso “gordura”
é uma metonímia – palavra substituta - para “sentimentos”, “alegria”, “abundância” etc.
9.3) Hebraísmos27: são figuras de linguagem próprias da cultura semítica antiga, muitas vezes sem
correspondência com a nossa cultura. Não é possível olhar para o texto e saber, a priori, o que o
escritor quer dizer, sendo necessário estudo diligente para adentrar a cultura da época. Nesse
ponto, não adianta fazer um estudo da língua, porque as palavras, ainda que traduzidas, assumem
diferentes significados a depender do contexto. Vejamos alguns tipos de hebraísmos.
9.3.3 – Hebraísmo de Contraste ou Antítese: o contraste é uma figura muito usada no hebraísmo
para passar ideias, conceitos, ensinamentos. É também conhecido como “paralelismo antitético”.
“O filho sábio alegra seu pai, mas o homem insensato despreza a sua mãe” Provérbios 15:20.
“O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã” Salmos 30:5.
“Amei a Jacó e aborreci a Esaú” Rm 9:13.
“Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um
edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus” 2 Coríntios 5:1.
9.3.4 – Hebraísmos de Poder e de Força: o mundo semita se utilizava muito de objetos concretos
para designar coisas abstratas. Muitos exemplos são encontrados e a dificuldade é saber o que se
passava na mente do autor, mas em alguns pontos não é tão complicado. Um dos usos mais
comuns é o de poder ou força.
“O Senhor é o meu rochedo, e o meu lugar forte [segurança], e o meu libertador; o meu Deus, a
minha fortaleza, em quem confio; o meu escudo, a força [chifre ou qeren] da minha salvação, e o
meu alto refúgio” Salmos 18:2 ou
“E quebrarei todas as forças [chifre] dos ímpios, mas as forças dos justos serão exaltadas” Salmo
75:10.
Isso nos ajuda a entender o significado dos chifres em Daniel e em Apocalipse, que significam
reinos, domínios, impérios ou chefes político-espirituais, individualmente falando.