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16/06/2021

NEO-PENTECOSTALISMO
FILHO DA PÓS-MODERNIDADE
O NÚCLEO

Não só no Brasil, mas em todo o mundo, o fenômeno do neo-pentecostalismo


tem ganhado força. Acredito que um dos principais motivos de estes
movimentos terem ganhado tanta força é uma crença miscigenada, uma fé
sincretista. Multidões de pessoas que acreditam em tudo oque lhes é oferecido
por falsos mestres. O problema é que quando se crê em um deus que se revela
de forma diferente das Escrituras, não se crê no Deus da Bíblia. Se tal revelação
miraculosa contradiz a revelação escriturística, Deus se contradiz.
E existem formas de sabermos de onde vem esses erros. Mas antes, preciso
deixar bem claro que a minha crítica não está concentrada nos pentecostais
clássicos, mas no misticismo exagerado que há entre as “igrejas” neo-
pentecostais. Sabemos também que uma boa parte de seus membros são
pessoas simples e despretensas de qualquer maldade.
Mas observando o nosso cenário a volta, principalmente o brasileiro, as igrejas
que menos se preocupam em ensinar boa teologia para seus membros, são as
igrejas neo-pentecostais. Até porque, se eles pregam um Deus vazio, que
teologia poderiam eles produzir? E quando vemos que há escola bíblia nessas
igrejas, o ensino é sobre os mergulhos de Naamã, as 7 unções milagrosas,
demônios no piercing etc.
O problema é que, os textos em que se baseiam, são textos com outros
significados. Muitas vezes os textos não querem dar importância a coisas
pequenas, e por isso citam-nas de forma corrida, apenas como um
complemento; mas os neo-pentecostais pegam exatamente esses textos, e
fazem deles pontos teológicos para suas crenças.

A LUTA DE JACÓ

Por exemplo, a luta de Jacó em Gênesis 32.22-32. Talvez, uma das passagens
mais mal interpretadas do AT por eles. Jacó, após fazer passar a sua família
adiante de seu caminho, ficou “lutando" com um homem (Se é físico ou
espiritual, não vem ao caso). E após a luta, Jacó supostamente vence a batalha.
Essa passagem tem um ensino muito profundo sobre arrependimento, e não
sobre implorar para Deus nos abençoar.
Jacó era um trapaceiro, “passou a perna" em seu irmão para roubar sua
primogenitura e a bênção de seu pai Isaque. E, pensando consigo mesmo,
achava que seu irmão estava indo ao seu encontro para o matar. Jacó estava
implorando pela sua vida a Deus. Ele não estava pensando na pessoa horrível
que era, mentirosa e astuta para o mal, mas em se livrar de seu irmão e
continuar sendo quem era.
E então Deus diz à Jacó: “deixa-me ir", e Jacó, por sua vez, lhe respondeu: “Não
te deixarei ir se não me abençoares”. Então o texto muda de tom na pergunta
de Deus e na resposta de Jacó. Quando Jacó é perguntado sobre como se
chamava, ele reflete sobre o significado de seu nome, que é “enganador", e
responde de forma triste e cabisbaixa dizendo: “Jacó”. E Deus, vendo a postura
de arrependimento de Jacó, dá um novo nome a ele, que agora representa o
nome de uma nação, uma aliança.
E então aparece Deus abençoando a Jacó, mas não a bênção material, mas a
bênção de ser salvo por Deus. O próprio Jacó afirma no verso 30 que viu a
Deus, e sua vida foi salva. O tom da passagem está apontando para a benção
salvífica. Ali Jacó recebeu a bênção prometida à Abraão em Gn 12.3, sobre a
salvação.
Outras passagens também são usadas para embasar os ensinos neo-
pentecostais. O problema é que é mais fácil se esforçar em colocar algo no
texto, que seja do seu agrado e condiga com suas ideias, e agrade os ouvidos
do público, do que comprar livros e comentários bíblicos que lhe farão
raciocinar.

A PÓS-MODERNIDADE

Como vivemos em um tempo pós-moderno, acredito que muito do que se vê


nas igrejas neo-pentecostais, é fruto de nosso tempo. A internet, por exemplo,
proporcionou momentos de rapidez, onde tudo o que fazemos nela, é rápido.
A internet boa é aquela que navega rápido, e não a que apenas entrega a
pesquisa feita, independente se for rápida ou não. A internet discada, por
exemplo, entregava os resultados de pesquisa, mas o problema é que não era
rápida o suficiente, demorava. Mas hoje não, tudo precisa ser rápido; e pode
parecer besteira, mas isso influenciou até no nosso modo de pensar, de
produzir conteúdo. Podemos ver nos posts de Instagram (mais um exemplo)
que, quando se trata de um texto mais elaborado, os produtores de conteúdo
não recomendam posts com muitas palavras, mas textos de rápida leitura.
Obviamente, eu quero mostrar que isso influenciou nas formas de estudo das
igrejas neo-pentecostais, onde ninguém quer realmente gastar tempo de
estudo das escrituras, mas apenas uma rápida leitura, que resultará em uma
explicação deformada do texto, e consequentemente, a alimentação imatura
de uma igreja; e isso quando não dizem que “Deus revela na hora". Se Deus
revela o sermão na hora, por que Ele deixou um bíblia para nós? Ou, por que
Jesus em Lucas 24, expunha as Escrituras a respeito dele, sendo que ele
mesmo é o Verbo de Deus? Por que, então, os discípulos passaram 3 anos com
Jesus aprendendo, sendo que eles só precisariam da revelação instantânea, ou
eles estavam aprendendo a ter revelações? Por que Paulo, em 1 Timóteo 3,
instrui Timóteo a levantar bispos aptos para ensinar, e não àqueles que
recebiam revelação na hora para pregar?
Poderíamos continuar com perguntas infinitas sobre o assunto, mas este artigo
não tem a intenção de questionar, mas de alertar os irmãos na fé em Cristo, os
perigos dessa mistificação da fé cristã.
Outra coisa a ser considerada, usando a nossa época como base, é o conceito
de prazeres desenfreados. Luiz Sayão diz o seguinte em seu livro "Cabeças
feitas":

“As exigências de prazer são ordenadas pelas necessidades


consumistas estabelecidas pela máquina mercadológica."

Em nossos tempos, existe um grande mercado de prazeres, onde nele, você


pode encontrar o que quiser para se satisfazer. Variando de comidas, sexo e
roupas.
O homem hoje, é definido por aquilo que tem, e não por aquilo que é, e nem
por aquilo que poderia ser. As grandes empresas de marketing já se deram
conta que nos comerciais, deve-se vender sensações, e não o produto em si.
Eles precisam mostrar quantas sensações uma pessoa pode sentir com aquele
produto, como em um carro por exemplo.
Eles precisam mostrar que estar dentro daquele carro, é a mesma coisa que
estar em casa. Que aquele banco estofado com algodão, chega ser melhor que
o sofá de 5 lugares da sua casa, tem muito mais espaço. Você poderia morar
dentro daquele carro!
Não basta dizer que o carro anda e te leva nos lugares onde você precisa ir, é
necessário mais. O homem moderno se tornou facilmente influenciável por
sensações, por coisas “líquidas”, como diria Bauman em "Modernidade
líquida".
E isso, mudou totalmente nosso sentido e percepção do que realmente
importa na vida. Hoje, o conceito de viver “bem” está atrelado a uma
satisfação das “demandas”, de desejos que temos dentro de nós. Enquanto
que, por volta de até o século XVIII, o mundo foi guiado pela ideia de viver com
o necessário, e não com o esbanjar.
A respeito disso, Aleksandr Solzhenitsyn, diz em sua entrevista para a New
Perspectives Quarterly (NPQ), que também foi publicado em forma de livro,
com o nome de "No final do Século", editado por Nathan P. Gardels, o
seguinte:

“Consumidas na conquista de interesses materiais, as pessoas


encontram apenas uma solidão avassaladora”

e também, no mesmo livro, Ivan Illich fala que:

"'Desenvolvimento', por outro lado, é um desses termos


modernos que expressa a rebelião contra a "necessidade", e:
"Dado que o desenvolvimento diminui os aspectos da
necessidade, o povo deve, para seu próprio bem, transformar
seus desejos vagos e às vezes inconscientes em 'demandas' que
devem ser satisfeitas."

Antigamente, viver “bem" significava que você tinha o que era importante, o
necessário para a vida continuar, o básico já era considerado bom. Mas hoje os
valores estão invertidos, porque viver bem, para a nossa geração, é ter um Jeep
na garagem e um emprego que lhe pague R$ 10.000 por mês. Por isso em
nosso tempo nossos desejos se tornaram necessidades da alma. Porque não há
valores nesta geração líquida, não existe nada sólido, nada pode ser feito para
permanecer hoje em dia.

São pessoas vazias tentando preencher um abismo dentro da alma, no caso


infinito. Ao invés de colocar o Criador no coração, este século tem nos
ensinado a colocar a criação no lugar, e claro, isso não é algo exclusivo de
nosso tempo. Mas nos tempos antigos, tinha, pelo menos, valores e virtudes,
coisa que nem isso nossa geração tem.

OS DESEJOS E AS SATISFAÇÕES

O que eu quero deixar bem claro, é que, se nós estamos vivendo em um


tempo, onde as pessoas precisam se satisfazer a todo custo, elas acabarão,
uma hora ou outra, usando Deus como seu amuleto. Deus será o saciador de
seus desejos, Deus será o ser que cumprirá cada demanda de nossa lista de
vontades.
O problema não está na satisfação da carne, embora alguns achem isso um
escândalo. Foi Deus quem criou o corpo, foi Ele quem criou a boca para
mastigar coisas deliciosas criadas por Ele mesmo, foi Ele quem criou o sexo;
após Deus criar tudo, a Escritura diz:

"E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom"
Gn 1.31

O problema está em como nós nos satisfazemos. A satisfação correta é aquela


que segue os mandamentos de Deus, pois aqueles que encontram satisfação
nas coisas de Deus e no próprio Deus, já encontraram a maior satisfação que
existe. Nada pode ser mais satisfatório do que viver em comunhão com Cristo,
e desfrutar das coisas criadas com "ações de graça" (1Tm 4.4-5).
Nós precisamos nortear as nossas vontades, precisamos fazer uma reforma na
forma como nós desejamos. Caso contrário, ainda não encontramos prazer em
Deus. E se for assim, certamente, ainda não sabemos como desejar as coisas,
estamos desejando com a mente de um ser caído, ao invés de desejar com a
mente e coração de Cristo.

EXPERIÊNCIAS NOVAS

O neo-pentecostalismo é uma teologia pós-moderna. Porque, a pós-


modernidade foca na vivência das sensações como o ápice da existência
humana; e o neo-pentecostalismo, por sua vez, também tem o seu foco nas
experiências, nas sensações que podem ser apercebidas através do
transcendente. Para ficar bem claro o que eu disse: Os dois querem sentir
sensações, prazeres e bem estar!
Muitas vezes nós ouvimos por ai à fora o seguinte:

"Precisamos ter experiências com Deus! Precisamos viver algo


diferente em nossas vidas!"

Nada poderia estar tão errado comparado com o que nos está proposto nas
Escrituras Sagradas. Primeiro que Pedro nos diz que:

"Por esta razão, sempre estarei pronto para trazer-vos


lembrados acerca destas coisas, embora estejais certos da
verdade já presente convosco e nela confirmados.
Também considero justo, enquanto estou neste tabernáculo,
despertar-vos com essas lembranças,
certo de que estou prestes a deixar o meu tabernáculo, como
efetivamente nosso Senhor Jesus Cristo me revelou.
Mas, de minha parte, esforçar-me-ei, diligentemente, por fazer
que, a todo tempo, mesmo depois da minha partida, conserveis
lembrança de tudo."
(2 Pe 1.12-15)

A preocupação de Pedro era que, mesmo após a sua morte, os irmãos


espalhados por todo lado, os quais ele mesmo, aparentemente, discipulou,
ficassem cientes de suas informações a respeito do evangelho. Pedro queria
reforçar tudo o que ele já havia ensinado. Logo podemos perceber que não há
mais nada de novo para se aprender ou viver no evangelho. O que precisamos
entender para viver uma vida piedosa com Deus, está escrito. Nenhuma
experiência pode ser mais deseja do que a Bíblia. E mais, todas as experiências
devem julgadas pela Palavra. Não podemos usar nossas experiências para
validar algo que está escrito, a Escritura por sí só já é a autoridade para ela
mesma. E toda Experiência que vá além do que está escrito, ou que não possa
ser deduzida, ou ao menos baseada pela Bíblia(evangélica), deve ser levada ao
descrédito com mais facilidade.
E a segunda coisa a ser considerada com relação as experiências, as sensações
miraculosas pós-modernistas, é que: As revelaçoes descritas e os fatos
extraordinários que temos relatados no AT e no NT eram coisas tão raras de
acontecerem, que é exatamente por isso que foram registradas. As passagens
que mostram tais acontecimentos apontam para as raras vezes que Deus se
revelou ao homem, de forma visível, audível ou sensível, de forma
sobrenatural em geral.
As revelaçoes não servem para nos estimular a viver todos os dias com
experiências extraordinárias. A bíblia relata coisas extraordinárias vividas pelos
apóstolos e pelos profetas justamente porque eram eventos marcantes, e
deveriam ser anotados para as próximas gerações. Não queria dizer que quem
quisesse poderia viver aquilo, mas pretendia mostrar o evento raro que Deus
fez àquela geração ou época.
Isso não quer dizer que viveremos coisas fora do comum, assim como foi com
os grandes homens da Bíblia. É exatamente por ser algo tão "fora da caixa"
que os autores bíblicos precisavam deixar registrado o que tinha acontecido.
Nós não vemos uma vez por mês o Mar Vermelho se abrindo, nós não vemos
uma vez por semana algum irmão da igreja transfigurado em glória, nem tão
pouco alguém sendo transladado à lugares distantes para evangelizar.
Obviamente, preciso deixar bem claro que não estou dizendo que tais coisas
não podem acontecer mais, mas elas não dependem do tanto que eu oro ou
me santifico. Deus faz isso com quem Ele quer, e na hora que deseja. Porque a
partir do momento em que se normaliza esses eventos extraordinários, eles se
tornam ordinários, normais e possíveis, não impossíveis.

Essa busca de formular uma teologia das experiências, coerente, não pode se
sustentar em si mesma. A Pós-modernidade nos ensina a viver o momento, as
sensações. Assim como um dos braços do Neo-pentecostalismo ensina que
devemos viver experiências. No final, o objetivo de se viver essas
sensações/experiências é o prazer de se satisfazer, e não a satisfação de Deus.
Essas pessoas buscam para si mesmas prazeres nas sensações, e não o prazer
de Deus em nós.

Essas pessoas não gostam da mensagem da cruz, gostam de se sentir bem, e


por isso montam igrejas com esse pensamento (2 Tm 4.3-4), só que usando
Deus como seu cumpridor de prazeres/experiências. As vezes me pergunto se
essas pessoas conseguem conceber um Deus em sua mente que derramou
toda a sua ira em seu próprio filho. Acho que para eles isso é de mais!
Desmontaria o seu mundo de Disney(conto de fadas).
Por isso, preferem criar um deus à sua imagem e semelhança. E como o
Ocidente é quase todo "cristianizado", e também tem a sua influência moral
judaico-cristã, o deus que eles usam, e diz que servem, é o Deus cristão,
infelizmente; porque é a divindade mais fácil, próximo e popular do povo em
geral.

A teologia neo-pentecostal é filha da pós-modernidade. O fim último das duas


coisas é o homem, são pensamentos totalmente antropocêntricos, e nada
cristocêntricos. O homem do nosso tempo se perdeu em seus desejos, e isso
influênciou, grandemente, dentro das igrejas analfabetas de boa teologia. Por
isso o neo-pentecostalismo tem crescido tanto mundo à fora, porque é uma
religião que atende às demandas deste século pós-moderno, onde o centro da
mensagem é somente o homem, e não a glória de Deus.

OS CARGOS

No meio neo-pentecostal, e as vezes até em outras igrejas, é muito comum


haverem pastores dependentes financeiramente da igreja local na qual foram
ordenados ou simplesmente abriram uma igreja.
Mas é necessário repensarmos essa magnífica obra do pastoreio, como
funciona e como se torna um, ou melhor, como se é chamado para isso. Digo
isso por conta do grande pensamento que existe nas igrejas em torno do
assunto, e como existem grandes distorções sobre a vocação episcopal.
Nas igrejas neo-pentecostais, um dos meios do chamamento é através de uma
revelação por meio de alguém. Dado essa premissa, vemos que a revelação em
Cristo, por meio das escrituras não bastam (Hb 1.1).
Cristo é a nossa fonte de pesquisa para a vida devocional, espiritual, intelectual
e o regimento de nossas vidas com relação a Ele mesmo. Essas pessoas que
"revelam algo da parte de Deus" se colocam ao mesmo nível da bíblia (do que
Deus diz), e os seus ouvintes tratam essas revelações com o mesmo peso da
Palavra de Deus. O Canon bíblico foi fechado há muito tempo atrás, na época
em que os apóstolos e o profetas do antigo testamento morreram; foram eles
que tiveram uma revelação direta de Deus para guiar o povo. O que Deus
queria falar a seu povo, Ele já disse, e está muito bem escrito e registrado,
qualquer acréscimo na Palavra de Deus é se colocar no mesmo nível
doutrinário que os homens que Deus inspirou para tal tarefa. Para eles não há
diferença entre a revelação de um homem e a Palavra do Deus majestoso.
Bom, se a bíblia é inspirada por Deus, porque Ele se contradiria com a palavra
dEle mesmo em revelações e sonhos dados por esses “profetas e pregadores”?
Outros tem outro tipo de ousadia, que é a de tentar ao Senhor, pois quando
dizem: “O Senhor proverá o pão de amanhã, tenha fé”, na verdade estão
tentando a Deus. Viver da obra requer prudência acima de tudo (Mt 10.16). E
mesmo assim, as escrituras não nos dão a plena certeza de que Deus proverá
todos os alimentos e necessidades que precisamos. Mesmo que nós oremos
dizendo:

"O pão nosso de cada nos dá hoje"(Mt 6.11),

pedindo o básico para Deus, nós também devemos aprender com Paulo
quando diz:

"Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi


o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja
bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando
necessidade." (Fp 4.12)
A verdadeira promessa que sabemos que Deus cumprirá é a que Ele estará
conosco até a consumação dos séculos todos os dias (Mt 28.20). Se temos
comida em abundância ou padecemos de fome, tanto faz, devemos aprender a
ter Deus como o suficiente de nossas vidas.
Essas coisas que estamos analisando são importantes, porque quando alguém
que recebe a "revelação" de que foi chamado por Deus à exercer algum cargo
dentro da igreja, lhe é dito que será preciso viver da obra e que Deus proverá
todas as suas necessidades, e alguns reforçam que até luxos e caprichos Deus
dará. Obviamente, não são todas as igrejas neo-pentecostais que podem pregar
isso (embora todas pensem assim), porque a maioria são carentes, e com
poucas condições de se manterem, e por isso os pastores de lá precisam
trabalhar para se manterem. Mas aquelas que possuem um grande acúmulo
financeiro, às costas dos fiéis (que também são os culpados de existirem essas
igrejas, porque gostam e preferem esse tipo de coisa ao invés da Bíblia), são as
maiores pregadoras desse tipo de "vida com Deus".

Vamos lá!
Para sabermos quem deve ou não ser pastor, presbítero, diácono ou bispo,
temos 1 e 2 Timóteo e Tito como cartas escritas a jovens pastores, ensinando
como levantar novos líderes, e a se comportar diante de algumas coisas como
pastor e a como resolver outras coisas como um pastor. Logo vemos que
existem padrões a serem seguidos, nada é feito a partir de si mesmo dentro da
igreja, mas sempre com todos concordando. Quem define os padrões do líder
eclesiástico é a própria Escritura Sagrada, e não o pastor a seu bel-prazer.

1 Timóteo 3.1-13 Paulo manda julgar as qualidades espirituais e o caráter


pessoal de quem deseja obter algum cargo na igreja. Não é através de
revelações, mas pela analise da pessoa. E em Tito 1.5-9 nós vemos o mesmo
conceito de analise sendo ensinado à outro jovem pastor, que é Tito.
O problema é que o conceito de cargos na igreja tem se tornado o mesmo de
uma empresa. É como se fosse uma "escada", "degraus", onde o membro, se se
esforçar muito, pode alcançar cargos altos dentro da igreja. Se o membro estiver
em todos os cultos (bater o cartão), estiver sempre com a vestimenta correta
(uniforme[normalmente um blaser]) e proceder do jeito que o pastor manda
(procedimentos internos da empresa) o membro pode ser um "obreiro". E se
cumprir as tarefas de obreiro corretamente, a pessoa pode ser um diácono, e
depois um presbítero, depois um pastor; e depois, quem sabe, até um serafim!

É mais um conceito pós-moderno dentro da igreja. Todos almejam cargos de


respeito dentro da igreja, todos querem assumir uma posição importante, onde
todos possam olhar para aquela pessoa e dizer: "Devemos respeitar aquela
pessoa, porque ela é um servo do Senhor."
Elas acham que quanto maior o cargo, mais Deus está agindo à seu favor; é
como um mérito por cumprir todos os procedimentos da empresa-igreja. Mas
elas esqueçem que Cristo lavou os pés dos discípulos, ensinando que:

"Mas todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal; E,
qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo;" (Mt 20.26-27)

Jesus está ensinando o oposto do que é pregado por esses pastores. Se alguém
quiser mostrar que Deus está em sua vida, será preciso se rebaixar ao último
nível, e se preciso, até à lugares humilhantes, por amor a igreja que congrega.
Porque foi exatamente isso que Cristo fez, só de Ele ter se rabaixado ao nível de
homem, como nós, já é humilhante de mais para Ele. Mas foi tudo por amor!
Entende o exemplo que Ele nos deixou?

Os cargos dentro de uma igreja não são como uma hierarquia de poderes, onde
um tem mais respeito que o outro, ou que um manda mais do que o outro. Na
igreja primitiva não era assim.
Temos o texto de Fp 1.1 onde Paulo diz:

"Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a todos os santos em Cristo Jesus,


inclusive bispos e diáconos que vivem em Filipos" (Fp 1.1)

A primeira coisa a ser percebida aqui é que Paulo não está fazendo divisão
hierárquica, de quem tem mais autoridade dentro da igreja. Ele direciona a carta
a todos os "santos". Mas então você diria: "Então porque Paulo disse 'inclusive
bispos e diáconos'? Ele está fazendo separação!"
Não, ele não está fazendo separação de poderes. Paulo está direcionando a
todos a sua carta, mas ao que parece, ele irá dizer coisas específicas para quem
é diácono e bispo.
Para os diáconos, ele fala sobre ter recebido uma boa contribuição para as suas
despesas (Fp 4.10-19), coisa que ele quer deixar bem claro nesta carta em
específico. E aos bispos ele quer deixar bem claro a sua alegria ,e certeza, de
que Deus está operando no meio deles (Fp 1.3-11).
Embora a carta seja para todos, Paulo quer deixar bem claro que o trabalho dos
diáconos na administração das finanças tem sido benção para a proclamação do
Evangelho. E para os bispos, ele pretende expressar sua alegria em saber que
Deus tem completado a sua obra (Fp 1.6), mas também os exorta a ensinar ao
povo como proceder e a perseverança na palavra (Fp 2.12-16), que é a função
de um bispo.

Mas perceba que ao longo do Novo Testamento inteiro nunca houve uma
separação de mais e menos importante, todos são iguais, mesmo tendo cargos
diferentes na igreja primitiva. O diácono era igual o bispo, e o apóstolo era igual
o trabalhador comum. A diferença era somente nos afazeres, na tarefa que cada
um tinha no Reino. Um era o que cuidava das caridades, o outro cuidava do
ensino e o outro saia por aí para pregar. Mas todos tinham a mesma importância
como pessoa.

Agora, existe um outro ponto importante que é a questão do respeito, no


sentido de que um aparecia mais, ou que a opinião de alguns contavam mais do
que as dos outros. Podemos pegar o exemplo de Pedro e João no livro de Atos.
Embora os dois andassem juntos, nós vemos que Pedro é sempre o personagem
que aparece mais entre os dois (At 3.1-26, 4.5-22). Aqui vemos uma questão de
respeito, e não que Pedro fosse melhor que João. Mas João poderia entender,
ou pensar consigo mesmo, quem sabe, que Pedro fosse melhor com as palavras.
Mas ainda acho que não é isso, porque nós vemos um Pedro muito ativo em
Atos, mas também o vemos nos Evangelhos. Jesus sempre está chamando à
parte Pedro, João e Tiago (Ex.: Mt 17.1-8). Jesus não fazia ascepção de valores
das pessoas, mas de responsabilidades entre elas parece que sim. Não eram
todos que podiam ver a transfiguração, apenas alguns. Mas para resumir, o que
dá a entender de todo esse pensamento, é que Jesus estava colocando alguns
como responsáveis pelos apóstolos, e outro responsável pelos líderes
responsáveis, ao que parece, Pedro era esse. A igreja primitiva era muito
diferente do que vemos nas igrejas neo-pentecostais.

Nas igrejas neo-pentecostais vemos que existe uma ascepção de valores nas
pessoas, onde o pastor é o mais importante, e depois, um pouco menos
importante, o presbítero, e por aí vai, ate chegar no membro de chão, no piso da
igreja, onde esses são os de menos importância.

MÚSICAS WORSHIP

Uma coisa muito comum nas religiões orientais são os mantras. Onde você
repete determinada frase, crendo que aquilo que está sendo repetido se tornará
realidade, porque o universo se move à essas palavras. Logo, não é somente
Deus quem tem o poder no falar, mas os homens também podem dizer e aquilo
acontecer, basta que repitam incessantemente.
Agora, não posso negar que o estilo musical gospel, "worship", têm uma grande
semelhança com os mantras que são ensinados pelos monges hinduístas, ou
religiões que ensinam a mesma prática. Ou seja, se no ato em que se pratica o
mantra nós chamamos algo a existência pelo poder de nossas palavras, o
worship têm o poder de "chamar" a presença de Deus.

Basta que a igreja repita 30x a mesma frase da música, para que Deus se faça
presente. As músicas worship, em sua maioria, são músicas preguiçosas, onde
existem no máximo 4 a 6 notas que compõem o seu corpo. Onde as suas frases
são curtas, para que se possa repeti-las incessantemente, como um mantra que
atrai a presença de Deus.
Mas não é só a parte do mantra que é complicado no worship, mas o objetivo
de ser desse estilo. Precisamos nos lembrar que esse estilo musical têm a
intenção de sentir algo, e esse algo é Deus.
Mais uma vez vemos uma busca por sensações dentro do mundo gospel, mas
dessa vez é algo forçado, onde se acredita que pelo tanto que se canta e se
repete as músicas podemos com as nossas próprias forças trazer a presença de
Deus até nós, como se fosse pelo tanto que cantamos(repetimos o mantra).
Essas pessoas inconscientemente estão dizendo para Deus: "Nós temos o poder
de obter a presença de Deus quando quisermos, basta que cantemos 'Santo'
inúmeras vezes!"

Devemos cantar para Deus? Óbvio! Mas nunca confundir isso como se nós
tivéssemos o poder em nossas mãos de atrair a Deus, só porque estamos
repetindo diversas vezes as mesmas palavras. Mas então como ficam as
experiências de choro nos cultos? Para mim a resposta é no entanto fácil, digo
como músico.
Existem notas musicais que são melancólicas. Podemos tomar como exemplo as
próprias músicas seculares. Temos o pagode, que mesmo a pessoa não estando
apaixonada, ela fica com um sentimento de paixão pelo nada. Temos o sertanejo
sofrência, que mesmo sem a pessoa nunca ter sido traída, ela se sente assim, e
algumas até choram por algo que não fez parte de suas vidas.

As notas influênciam nas emoções das pessoas, basta que o compositor saiba
usá-las. E no worship não é diferente, as notas que são ultilizadas, são notas
melancólicas, notas que mexem com as emoções dos membros. Sendo assim,
facilitando o choro na hora do culto, e confundindo com a presença de Deus,
por causa do "mantra gospel". As músicas worship são usadas como
ambientação nos cultos para favorecer as emoções, e nisso, parecer que quando
alguém chora com aquelas notas melancólicas é a presença de Deus. Mas a
verdade é que nós sempre queremos tocar worship nos cultos porque queremos
forçar aquele choro, porque achamos que o choro é sinônimo da presença de
Deus.

CONCLUSÃO

Se Deus quiser, Ele pode se manifestar nas músicas worship, mas não porque
estamos cantando repetidamente as mesmas frases, mas porque Ele é
soberanos e faz as coisas como lhe apraz. Não quero dizer também que as
emoções dentro do culto são erradas, mas a forma de se sentir elas. Devemos
sentir as nossas emoções como pessoas genuinamente emocionadas, e não a
força, para depois dizermos: "Deus me tocou!".

"Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do


conhecimento de Deus." Rm 11.33

Paulo exclama "Ó", assim como nós vemos os mesmos sentimentos expressados
nos salmos. Devemos colocar as nossas emoções diante de Deus, devemos
nortear as nossas sensações em Deus. Se nós temos algum cargo em algum
lugar, estamos ali para servir, e não para mandar. No corpo de Cristo aquele que
"quiser tornar-se grande, será esse o que vos sirva". Não existe quem seja maior
ou menor, o maior precisa ser o menor, e o menor, menor ainda. É como se
fosse uma competição de quem é menor que o outro, claro, não uma
competição de verdade, mas uso de uma ilustração aqui.

Em Deus, não existem coisas novas todos os dias, existe mais do mesmo todos
os dias. Um Deus que se renova em propostas diferentes não é um Deus firme
em suas palavras, mas o Deus que vemos nas Escrituras é um Deus que renova a
mesma aliança. É um Deus que procura estabelecer a sua glória entre os povos e
em seu povo.

Não podemos nos amoldar nas propostas deste século (Rm 12.2). O pós-
modernismo tem entrado em muitas igrejas, e não só entrado, mas aberto
muitas igrejas também. Igrejas que renunciam o evangelho da cruz, o evangelho
pelo qual os apóstolos morrem cruelmente para que chegasse até nós. Falsos
pastores, ou pastores sem instrução nenhuma, abrem igrejas pós-modernistas, e
disseminam seus ensinos. Alguns podem não ter a intenção de fazer mal algum,
mas Uzá (2 Sm 6.6-7) também não tinha, mas mesmo assim Deus o matou "por
esta irreverência".
Nós devemos ir à igreja porque queremos entregar a nossa adoração para Deus
em comunhão com os irmãos, e não porque queremos sentir uma sensação boa
e parecer que "Deus me tocou".
Só existe uma forma de permanecermos fiel a palavra de Deus, que é sendo fiel
a palavra de Deus e mais nada.

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