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Aula T02:

Estrutura dos Materiais

Docentes: João Carlos Oliveira (responsável)


Ricardo Serra, Nuno Figueiredo

Departamento de Engenharia Mecânica da


Universidade de Coimbra
Ano letivo: 2020/2021

MIEM, 1º ano, 1º semestre


Estrutura dos Materiais

 Frequências: 20/11/2020 e 11/01/2021

 Nova ligação para as aulas online (ZOOM):


https://videoconf-colibri.zoom.us/j/82805437860
Estrutura e Propriedades dos Materiais

 A ciência e engenharia de materiais

 Estrutura dos materiais


Índice

 Microestrutura: grãos e fases

 Materiais cristalinos, amorfos, policristais


e monocristais
 Exemplo: caracterização de um filme fino
Estrutura dos Materiais

A Ciência e Engenharia
Estrutura
de Materiais • Que aspetos dos materiais constituem
a sua estrutura?
• Qual são os elementos presentes?
Caracterização • Quais as melhores estruturas para
• Como é que obtenho informação obter as propriedades desejadas?
química e estrutural?
• Como é que posso avaliar as
propriedades?
• Como avaliar o desempenho em Propriedades
serviço do material?
• Quais são as propriedades mais
importantes?
• Como é que as posso maximizar?
Processamento
• Que tipo de processamento
posso utilizar?
• Como é que devo processar o Performance
material para obter a estrutura
desejada? • Que aspetos dos materiais
constituem a sua estrutura?
• Quais as melhores estruturas para
obter as propriedades desejadas?
Estrutura dos Materiais
Processamento Transparente Translúcido Opaco
(monocristal) (policristal denso) (policristal poroso)
 Sequencia de operações que transformam
os materiais industrias desde o seu estado
nativo até componentes acabados ou
produtos.
 O processamento afeta e limita tanto a
estrutura como as propriedades de
uma material
Exemplo: três amostras de alumina (Al2O3)
processadas por métodos diferentes

Performance (desempenho)
 Resposta do material a um estímulo externo, presente
nas condições reais de utilização.
 A performance de um material pode ser estimada por
simulação ou em laboratório mas é sempre necessário
caracterizar a sua resposta em condições reais
Estrutura dos Materiais
Estrutura 1ª parte EPM
Ciência e
Engenharia
Estrutura dos materiais
de Materiais
Propriedades  Composição
2ª parte EPM  Natureza química dos materiais
(3 aulas teórico-práticas)
Processamento
 Estrutura
Performance
 Arranjo ou organização e distribuição
dos componentes do material em estudo
1ª parte: Objetivos (6 aulas teóricas)

Relação entre a ligação  Pode (e deve) ser analisada em


química e a estrutura dos diferentes escalas
materiais • Macroestrutura (5mm ate 1 m)
• Microestrutura (50 nm a 1 mm)
Relação entre estrutura
• Nanoestrutura (3 a 100 nm)
e propriedades dos
materiais • Estrutura atómica (0.1 a 10nm)
Estrutura dos Materiais
Escala Macro Escalas de estrutura
Escala Micro
dos Materiais

Escala Nano
Escala
Atómica
Macroestrutura
• Bloco de motor
• Até 1 m Microestrutura
• Fases e dendrites
 Propriedades Microestrutura
• Energia gerada • 0.1 m 1 mm
• Grãos
• Tempo de vida  Propriedades • 50 nm a 1 m Nanoestrutura
• Custo • Resistência • Precipitados
 Propriedades • 3 a 100 nm Estrutura atómica
• Limite elástico • Fadiga
• Fadiga • Amorfo ou cristalino
Bloco de motor • Ductilidade  Propriedades • 0.1 a 10 nm
• Dureza • Dureza • Limite elástico
em liga de  Propriedades
• Resistência
alumínio fundido
• Ductilidade • Módulo de Young
• Difusidade
Microestrutura: Grãos
Como cresce um material cristalino ?
 Durante a solidificação formam-se núcleos durante a solidificação que depois
crescem até impingirem uns nos outros
 Cada núcleo acaba por dar origem a
Núcleos um gão.
 No fim os grão ocupam todo o
volume do material

Grão
Liquido

Fronteiras de
grão

Microscopia ótica
Microestrutura: Grãos
Exemplos de grão
Microscopia ótica Microscopia eletrónica de varrimento Microscopia força atómica

Simulação Tamanho de grão


 Desde uma dezenas de
nanómetros até alguns
mícrons.

 Classificação: normas
ASTM para diferentes
tipos de materiais
Microestrutura: Grãos
Distribuição de tamanho de grão)
 Microscopia eletrónica de transmissão Distribuição
unimodal

Numero de grãos
Tamanho de grão (nm)
 Distribuição bi-modal de grãos para um aço ligado.
Distribuição

Numero de grãos
bi-imodal

Microscopia ótica Numero ASTM dos grão


Microestrutura: Grãos
Aspeto de uma soldadura (carácter policristalino)
 Duas placas de uma liga metálica (Nb-Hf-W) soldadas com um feixe de eletrões.

Placa 1 Placa 2

1 mm

• Cada "grão" é um monocristal.


• Se os monocristais estão aleatoriamente orientados as propriedades
dever ser homogéneas em todas as direções.
• O tamanho dos grãos vai de 1 nm a 2 cm (i.e., de umas poucas a milhões
de camadas atómicas).
Microestrutura: Grãos
Resistência
Tensão máxima que um material pode suportar
antes de falhar ou quebrar.
Efeito do tamanho de grão nas
propriedades mecânicas
Propriedades
mecânicas

Ductilidade  O aumento do tamanho de grão


Grau de deformação até o
momento de sua fratura. diminui tanto a resistência como a
tenacidade dos materiais
Tenacidade
Capacidade de absorver energia e deformar  O aumento do tamanho de grão
permanentemente (plasticamente) sem fraturar.
aumenta a ductilidade dos
Tamanho de grão materiais.
 10 nm

Dureza  Até tamanhos de grão entre 10 e 20 nm a


Capacidade de resistir á penetração
dureza aumenta com a diminuição do
Dureza

(resistir á deformação plástica)


tamanha de grão (deslocações)
Diminuição do
tamanho de grão

Endurecimento por diminuição


do tamanho de grão
0.001 m 0.01 m 0.1 m 1 m 10 m 100 m
Tamanho de grão
Microestrutura: Fases
Fases e diagramas de fases
 Os sólidos apresentam, em geral, regiões com diferentes características
(estrutura atómica e/ou molecular,…). Estas regiões distintas entre elas são
denominadas fases e as fronteiras entre elas são chamadas contornos de fase.
 Região no espaço na qual todas as propriedades físicas e químicas de um
material são essencialmente uniformes (propriedades homogéneas).
Propriedade: densidade, índice de refração,
estrutural cristalina, composição química….etc
Ex.: Água com açúcar:
Ex.: Água e gelo 2 fases  Açúcar dissolvido  1 fase
Propriedades uniformes da solução
Quimicamente idênticas – H20
Fisicamente distintas– líquido e sólido  Açúcar em excesso 2 fases
Quimicamente distintas - H20 + açúcar e açúcar
Fisicamente distintas– líquido e sólido

As fases e suas distribuições são características importantes dos sólidos. Mas


não são características estáticas. Podem ser alteradas por processos
térmicos, mecânicos, elétricos, óticos, eletrónicos, etc.
Microestrutura: Fases
Quais as fases que existem ?
 Na Física, um mínimo na função energia potencial (gravítica,
eléctrica…) representa um estado de equilíbrio de um sistema.

 um mínimo da energia livre de Gibbs (G) ("potencial termodinâmico”)


representa um estado de equilíbrioTermodinâmico, quanto a temperatura (T)
e a pressão (P) são mantidas constantes:
G = H -TS ou G = E + PV - TS
No equilíbrio termodinâmico: dG = dH - T dS - S dT = 0

 A energia livre de Gibbs é uma função de estado que diminui em todas as mudanças espontâneas e
assume um valor mínimo no equilíbrio termodinâmico a temperatura e pressão constantes.

 Num sistema constituído por uma substância pura o estado de


equilíbrio para cada par de valores (P,T) consiste nas fases ou
combinação de fases que minimizam G.
 Se conhecermos G = f(P,T) então podemos construir teoricamente o
diagrama de fases.
Microestrutura: Fases
Diagramas de fases

Diagrama de fase: representação gráfica que indica quais as


fases presentes num sistema material em determinadas
condições (P, T, composição,….).

A maior parte dos diagramas de fases são construidos em


condições de equilibrio termodinâmico.

Líquido
Permitem compreender e prever algumas as Fe

propriedades dos materias em equilibrio Delta

com o seu ambiente.

Temperatura (ºC)
Gamma

Embora muitos materias de engenharia estejam


fora do equilibrio (condição metaestavel) estes
diagramas permitem obter informações sobre Alfa Epsilon

mutios aspectos do comportamento dos


materiais, mesmo fora do equlibrio. Pressão (atm)
Microestrutura: Fases
Microestrutura
 Caracterizada pelas fases presentes, quantidade e
morfologia de cada fase e pela forma em que estão
distribuídas ou organizadas.

 Depende de vários parâmetros: pressão, temperatura,


concentração dos componentes presentes, historial de
processamento.
Material policristalino com fronteiras
de grão aparentes. 1 fase

Microestrutura Perlite. 2 fases: Microestrutura de um ferro Microestrutura da liga A390.


Ferrite (a-Fe) + Cementite (Fe3C) fundido: 2 fases: várias fases: Al (CFC) +
Grafite + Cementite diferentes compostos
Materiais cristalinos e amorfos
Estado liquido vs. Estado solido
 Compromisso entre dois tipos de energia
• Energia térmica (Et = k * T)
• Energia de ligação (El) entre átomos ou moléculas
 Et ↓ (temperatura diminui) a energia de ligação torna-se preponderante e
estado gasoso → estado líquido → estado sólido

 No estado sólido os átomos ou moléculas podem estar organizados ou


desorganizados
Cristalino Amorfo

Cristal 1

Fronteira

Cristal 2 1 nm 1 nm

Fronteira entre 2 cristais de TiO2 Revestimento de WS2 Carbono amorfo


Materiais cristalinos e amorfos

 Materiais Cristalinos ...


• Compostos por átomos, moléculas ou iões arranjados de uma
forma periódica em três dimensões (3D).
• As posições ocupadas seguem uma ordenação que se repete
para grandes distâncias atômicas (ordem a longa distância).
 -metais Si
Típico de:  -muitos cerâmicos
 -alguns polímeros SiO2 Cristalina
O
 Materiais não cristalinos (amorfos)...
• Compostos por átomos, moléculas ou iões sem ordenação
de longo alcance.
• Podem apresentar ordenação de curto alcance.
• São caraterizados pela temperatura de transição vítrea

 estruturas muito complexas SiO2 Amorfa


Ocorrem quando:
 arrefecimentos rápidos
Materiais cristalinos e amorfos
Cristalino ou amorfo – comportamento térmico?
Líquido
(desordem)  Os materiais cristalinos apresentam uma descontinuidade
no volume especifico á temperatura de fusão (solidificação).
Tf – temperatura de  Nos materiais amorfos (vidros) o volume decresce
solidificação (fusão) continuamente com a redução de temperatura
Volume especifico

• Apresentam uma ligeira descontinuidade (declive) na


sua temperatura de transição vítrea.
Tg – temperatura de
transição vítrea

Vidro (sólido SiO2 Amorfa


amorfo)
Si
O
Sólido cristalino
(ordem)

Tf Tg
SiO2 Cristalina
Arrefecimento (T)
Policristais e monocristais
E(diagonal) = 273 GPa
 Monocristais
• Constituídos por um único cristal em toda a
extensão do material, sem interrupções.
• Propriedades variam com a direção: Anisotrópico
Exemplo: o módulo de elasticidade (E) no ferro CCC:
E(aresta) = 125 GPa

 Policristais Al: grãos Laminagem


equiaxias
• Constituído de vários cristais ou grãos, cada um
deles com diferentes orientações espaciais.

• Propriedades podem ou não variar com a direção.


 Grãos aleatoriamente orientados: Isotrópico
(Epoly ferro = 210 GPa)
Al: grãos alongados
na direção de
 Grãos texturados: Anisotrópico laminagem
Policristais e monocristais

 Algumas aplicações de engenharia requerem monocristais:


• A rede cristalina é continua e homogénea até á superfície, não há fronteiras
de grão.
• A ausência de defeitos associados ás fronteiras de grão permite que os
monocristais tenham propriedades únicas. Si (CFC)

Mercado global de células solares


 Ex.1: Silício monocristalino para células solares
• A estrutura monocristalina permite uma deslocação
mais fácil dos eletrões (não tem fronteiras de grão)
em comparação com um policristal.
• Estas células permitem uma maior eficiência na
conversão da radiação solar.

 Ex.2: Pás de turbinas em motores a jato


• Desafio: criar pás de turbinas que consigam
sobreviver a muito altas temperaturas
• Materiais monocristalinos possuem menos defeitos
Superligas de Ni
e por isso atrasam o inicio da deformação plástica com differences
(fluência) a alta temperatura. microestruturas
Microestruturas de materiais cristalinos

1 fase

Monocristal: o padrão atómico Policristal: os grãos individuais só diferem na Policristal bi-modal: o tamanho de
repete-se sem interrupções em sua orientação cristalográfica e estão separados grão não é homogéneo, esta
todo o volume do material. por fronteiras de grão (grão grande e pequeno). distribuído em torno de 2 máximos
Ex.: superligas de Níquel Ex.: ferro α (ferrite) Ex.: superligas de Níquel

2 fases

Policristal bifásico: grãos Policristal bifásico: a segunda Policristal bifásico: a segunda Policristal bifásico: as duas
separados por fronteiras de fase está nas fronteiras de fase precipita no interior dos fases formam uma estrutura
grão e por fronteiras de fase. grão da primeira. gão da primeira. lamelar no interior dos grãos.
Ex.: Bronze α+β Ex.: Aço perlítico Ex.: Ligas de Cu com Ni3Al Ex.: Aço perlítico
Exemplo: filme fino da Ti-Si-N

 Desafio: desenvolvimento de novos Processamento


materiais sob a forma de filmes finos

Caso em estudo: TiN +


filmes de Ti-Si-N

 Aumentar a resistência á oxidação a alta


temperatura

 Para otimizar os novos materiais é


-
necessário conhecer a sua composição Pulverização catódica
química e estrutura em diferentes escalas. assistida por magnetrão
Exemplo: filme fino da Ti-Si-N
Microscopia eletrónica de varrimento

Permite observar tanto a


superfície como a secção
dos filmes

Escala: 1 m

A morfologia colunar ou
densa influencia a dureza
do material

1 µm 1 µm

Microestrutura
Exemplo: filme fino da Ti-Si-N
Microscopia eletrónica de transmissão

Escala: 200 a 500 nm


Microestrutura
Tamanho das colunas ou grãos
influencia a dureza do filme
DCMS

Alta resolução
Escala: 10 nm

Nanoestrutura
Tamanho das colunas ou grãos
influencia a dureza do filme
Exemplo: filme fino da Ti-Si-N
Difração de Raios-X (XRD) a : parâmetro de rede

Tamanho de grão (nm)


Intensidade(u.a.)

Estrutura
Cubica de faces
centradas

Potência de pico (kW)

 A partir da posição e da largura dos picos de


difração é possível calcular:
• Amorfo / cristalino
• Qualidade do cristal • O tamanho de grão: Microestrutura
• Monocristalino / policristalino • O parâmetro de rede: Estrutura atómica
Exemplo: filme fino da Ti-Si-N
Microscopia eletrónica + Espectroscopia de dispersão de raios-X

DCMS DOMS71

Composição química á
escala de um grão:
Microestrutura

• Vista de um grão na superfície do filme de Ti-Si-N


• As cores correspondem a diferentes elementos (Azul: Si, Vermelho: Ti)
• Material NanoCompósito: duas fases á escala manométrica
Exemplo: filme fino da Carbono duro (DLC)

Aplicações dos filmes de DLC

Pulverização catódica
Desafio: aumentar a
resistência ao desgastes dos
anéis (segmentos) dos pistons
+ assistida por magnetrão
- Polarização
do
substrato:
energia
de motores a combustão adicional
+ para os
átomos
• Motores com menores cilindradas mas com a
mesma potência
• Motores com turbocompressores
• Maiores temperaturas e pressões de trabalho
• Novos matérias para condições mais exigentes - Processamento
Exemplo: filme fino da Carbono duro (DLC)
Microscopia eletrónica de varrimento Espectroscopia de micro-Raman

DLC
Cr
Si
(sub.)

Zonas de
Permite observar tanto a superfície Grafite
como a secção dos filmes Escala: nm
Escala: 1 m Estrutura atómica
Microestrutura Zonas de Diamante
Exemplo: filme fino da Carbono duro (DLC)
Tribologia: coeficiente de atrito e Resistência ao desgaste
Distância (mm)
0 0.5 1
Coeficiente de atrito 0

Profundidade (m)
-0.4

-0.8

• Pin-on-disk
• 5 N load
• 160,000 cycle Resistência
ao desgaste

Aspeto de uma pista em


microscopia eletrónica
Propriedades do material (DLC)
Perguntas e dúvidas
Contatos

João Carlos Barbas de Oliveira


Dep. Eng. Mecânica, FCTUC
Rua Luis Reis Santos
3030-788 Coimbra
Tel. 239 790745 / 239 790700
Via e-mail: epm@dem.uc.pt
Gabinetes: Grupo de Materiais, Ala norte

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