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Poder Judiciário
JUSTIÇA FEDERAL
Seção Judiciária de Santa Catarina
2ª Vara Federal de Itajaí
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PROCEDIMENTO COMUM Nº 5006587-44.2019.4.04.7208/SC


AUTOR: NELLY MARIA LIMA
RÉU: UNIÃO - ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO
RÉU: MUNICÍPIO DE ITAJAÍ/SC
RÉU: ESTADO DE SANTA CATARINA

SENTENÇA

RELATÓRIO

1. Pedido inicial: fornecimento de medicamento(s) não incorporado(s) em atos normativos


do Sistema Único de Saúde (SUS), com requerimento de tutela de urgência.

2. Medicamentos prescritos: alfa 1 anti-tripsina, beclometasona +


formoterol e acetilcisteína.

3. Moléstia a ser tratada: DPOC (deficiência de alfa 1 anti-tripsina).

Tutela de urgência deferida em parte (evento 14 e 41).

Devidamente citadas, os requeridos apresentaram contestações sustentando a improcedência


do pedido inicial (eventos 32, 35 e 52).

FUNDAMENTAÇÃO

Jurisprudência consolidada sobre o tema:

i) STF, RE 855178 - PE (Rel. Min. Luiz Fux, Plenário, DJe 13.03.2015), com repercussão
geral, reconhecendo que “o tratamento médico adequado aos necessitados se insere no rol dos deveres
do Estado, porquanto responsabilidade solidária dos entes federados”, com a definição, no mesmo
julgamento, de que “o polo passivo pode ser composto por qualquer um deles, isoladamente, ou
conjuntamente.”

ii) STJ, EDcl no RESP repetitivo 1.657.156 - RJ (Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira
Seção, DJe 21.09.2018). Tese fixada: "A concessão dos medicamentos não incorporados em atos
normativos do SUS exige a presença cumulativa dos seguintes requisitos: i) Comprovação, por meio de
laudo médico fundamentado e circunstanciado expedido por médico que assiste o paciente, da
imprescindibilidade ou necessidade do medicamento, assim como da ineficácia, para o tratamento da
moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS; ii) incapacidade financeira de arcar com o custo do
medicamento prescrito; iii) existência de registro do medicamento na ANVISA, observados os usos
autorizados pela agência."

iii) STF, RE657718 (Rel. Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, DJe 22.05.2019), com
repercussão geral reconhecida. Tese fixada: “1) O Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos
experimentais. 2) A ausência de registro na Anvisa impede, como regra geral, o fornecimento de
medicamento por decisão judicial. 3) É possível, excepcionalmente, a concessão judicial de medicamento
sem registro sanitário, em caso de mora irrazoável da Anvisa em apreciar o pedido (prazo superior ao
previsto na Lei 13.411/2016), quando preenchidos três requisitos: I – a existência de pedido de registro do
medicamento no Brasil, salvo no caso de medicamentos órfãos para doenças raras e ultrarraras; II – a

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existência de registro do medicamento em renomadas agências de regulação no exterior; III – a
inexistência de substituto terapêutico com registro no Brasil. 4) As ações que demandem o fornecimento
de medicamentos sem registro na Anvisa deverão ser necessariamente propostas em face da União.”

Análise desses requisitos no caso concreto:

i) imprescindibilidade ou necessidade do medicamento e ineficácia dos fármacos


fornecidos pelo SUS. Requisito comprovado, em parte, pelo(s) seguinte(s) documento(s):

a) Laudo médico da parte autora (Evento 6, ATESTMED2), no qual o médico assistente


da parte autora afirma que o medicamento ALFA 1 ANTI-TRIPSINA não pode ser substituído por opções
disponíveis no SUS.

b) Nota Técnica do Núcleo de Apoio Técnico do Judiciário - NATJUS, constituído na


forma da Resolução 238/2016, do CNJ, para elaboração de pareceres à luz de dados da Medicina Baseada
em Evidências (Evento 12, PARECER1):

"(...)

Os medicamentos alfa 1 anti-tripsina e acetilcisteína não pertencem ao elenco de medicamentos da Relação


Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) e até o
momento, não foram avaliados pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS
(CONITEC).

A associação dos medicamentos beclometasona + formoterol não está disponível no SUS, entretanto, os
medicamentos na sua forma isolada, pertencem a RENAME. O medicamento beclometasona 50 e 250 mcg
está disponível via Componente Básico da Assistência Farmacêutica (CBAF) nas unidades básicas de saúde
no município de Itajaí e o medicamento formoterol 12 mcg está disponível via Componente Especializado da
Assistência Farmacêutica (CEAF) para portadores de DPOC, desde que o paciente atenda aos critérios de
inclusão do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) da patologia.

(...)

A parte autora é acometida por deficiência de alfa 1 anti-tripsina que acarreta doença pulmonar grave
(DPOC). Com base nas informações citadas ao longo desta Nota Técnica, para o pleito do medicamento
beclometasona + formoterol, os medicamentos na forma isolada estão disponíveis no SUS: beclometasona
via CBAF e formoterol via CEAF, contemplado no PCDT da DPOC, assim como outros medicamentos da
mesma classe farmacológica e com a mesma eficácia para tratamento da DPOC. Sendo assim, a autora
poderá ter acesso pela via administrativa (CEAF) a estes medicamentos.

Para o pleito do medicamento alfa 1 anti-tripsina, o estudo citado relata que a terapia de reposição foi
capaz de retardar a progressão da gravidade dos sintomas quando comparada ao placebo. Entretanto, cabe
salientar que a bula do medicamento destaca que o efeito da terapia sobre exacerbações e progressão de
enfisema não foi demonstrado de maneira conclusiva em ensaios clínicos randomizados e dados sobre
efeitos de longo prazo não estão disponíveis.

Para o pleito do medicamento acetilcisteína, o estudo citado relata que o medicamento diminuiu as
exacerbações em período de tratamento maior ou igual a seis meses, desta forma, configura benefício para o
caso da autora."

Dos esclarecimentos constantes do parecer da lavra do NATJUS se depreende que a


fórmula beclometasona + formoterol, em sua forma isolada, é disponibilizada pela rede pública de saúde,
além de outras opções da mesma classe farmacológica.

Entendo que em relação ao medicamento alfa 1 anti-tripsina o parecer do NATJUS não é


conclusivo, muito embora faça ressalva de que a terapia de reposição foi capaz de retardar a progressão
da gravidade dos sintomas quando comparada ao placebo.

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Por fim, o referido parecer é claro e objetivo ao afirmar que o
fármaco acetilcisteína diminui as exacerbações em tratamentos que se estendam por 06 meses ou mais,
proporcionando benefício para o caso da autora.

ii) incapacidade financeira de arcar com o custo do medicamento prescrito: a


presunção de veracidade da declaração de hipossuficiência econômica para as despesas do processo
(CPC, art. 99, §3º), de regra inferiores ao custo do medicamento prescrito, firmada por advogado com
poderes específico para esse fim (CPC, art. 105), como no caso dos autos (Evento 1, DECLPOBRE3),
mostra-se razoável como parâmetro de atendimento do requisito em análise.

iii) existência de registro do medicamento na ANVISA, observados os usos autorizados


pela agência: o medicamento prescrito é autorizado pela ANVISA, com prescrição em consonância com
as indicações da respectiva bula, nos termos da Nota Técnica do NATJUS citada no item 5.i.b.

Como visto no caso, o parecer subscrito pelo NAT-Jus/SC ratifica a necessidade da


medicação em favor da demandante prescrita pelo profissional especialista em pneumologia, tendo
ressaltado ainda a ineficácia das opções disponíveis no SUS para o tratamento da enfermidade da parte
autora restou demonstrada por meio de informação prestada por seu médico assistente, de cujo teor se
depreende que os medicamentos prescritos não podem ser substituídos, tampouco estão disponíveis no
SUS (evento 41, DESPADEC1).

DISPOSITIVO

Ante o exposto, extinguindo o processo com exame do mérito, com fundamento no art. 487,
inciso I, do Código de Processo Civil, confirmo a antecipação de tutela e JULGO
PROCEDENTE EM PARTE O PEDIDO, para determinar o fornecimento à autora dos
medicamentos ALFA 1 ANTI-TRIPSINA e ACETILCISTEÍNA, na forma prescrita, ou medicamento
genérico com o mesmo princípio ativo, enquanto não houver alteração do seu estado clínico.

Ainda, a critério da administração, autorizo que seja fornecido medicamento genérico com
a mesma fórmula e princípio ativo, de modo continuado e na quantia prescrita na receita médica,
enquanto não houver alteração do estado clínico do autor.

No que tange ao cumprimento da obrigação de fazer, para melhor operacionalizar o


atendimento da decisão judicial, deverá o Estado de Santa Catarina, por meio da Regional de
Saúde, providenciar a aquisição e entrega do medicamento.

Determino que os custos sejam suportados pelos réus de forma solidária, sendo que os
ajustes financeiros decorrentes do cumprimento desta determinação devem ser realizados
administrativamente entre os responsáveis solidários, sem a intervenção do Poder Judiciário.

Intime-se a parte autora para juntar prescrição médica atualizada, conforme


requerido Estado de Santa Catarina (evento 95), sob pena de suspensão no fornecimento. Prazo: 10
(dez) dias.

Ainda, a título de contracautelas: a parte autora deverá (a) comprovar a persistência das
condições que fundamentaram o pedido, apresentando à unidade de saúde competente receita médica
atualizada a cada 3 (três) meses; (b) informar em caso de suspensão/interrupção do tratamento e (c)
devolver, no prazo de 48 horas, os medicamentos/insumos excedentes ou não utilizados, a contar da
interrupção/suspensão do tratamento.

Diante da relevância do direito em questão, tendo em vista seu caráter inestimável, procedo
à fixação da verba honorária por meio de apreciação equitativa, nos termos do §8º do art. 85 do CPC.
Para tanto, utilizo os vetores indicados no §2º do mesmo dispositivo, estabelecendo os seguintes
standarts:
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a) o grau de zelo do profissional;

b) o lugar da prestação do serviço;

c) a natureza e a importância da causa;

d) tempo de duração do processo e trabalho exigido para o seu serviço.

No caso concreto, fixo os honorários sucumbenciais em R$ 3.100,00 (três mil e cem


reais).

Custas na forma da lei.

Sem reexame necessário (art. 496, §3º, I do CPC).

Apresentada apelação por uma das partes, intime-se o apelado para contrarrazões no prazo
de 15 (quinze) dias e remetam-se ao segundo grau independentemente de juízo de admissibilidade (art.
1.010 do CPC).

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Documento eletrônico assinado por INEZIL PENNA MARINHO JUNIOR, Juiz Federal Substituto, na forma do artigo 1º, inciso III,
da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de 2010. A conferência da autenticidade
do documento está disponível no endereço eletrônico http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do
código verificador 720006299071v7 e do código CRC fa2c9718.

Informações adicionais da assinatura:


Signatário (a): INEZIL PENNA MARINHO JUNIOR
Data e Hora: 5/8/2020, às 15:32:42

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