Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
David de Carvalho
Feagri, Unicamp, Campinas, Brasil
RESUMO: O solo superficial de Bauru-SP é uma areia fina argilosa com característica colapsível.
Têm-se verificadas inúmeras patologias em edificações devido a recalques de fundações
provocados pela infiltração de água no solo, cujo reforço tem sido feito com estacas prensadas de
concreto. Para se quantificar a perda de carga nessas estacas devido à infiltração de água no solo e
determinar a capacidade de carga com o terreno natural e pré-inundado realizou-se monitoramento,
durante 6 dias, de 2 estacas cravadas por prensagem, sob carga, com 8m de comprimento e 0,20m
de diâmetro. Foram realizadas provas de carga rápida; numa estaca com o terreno inundado e na
outra com o terreno natural. O efeito do encharcamento do solo provocou redução da carga de
ruptura em 60%, valor próximo do obtido em outros programas de pesquisa. Para a previsão da
capacidade de carga, o método de Décourt-Quaresma (1978) mostrou-se aplicável a esse tipo de
estaca.
PALAVRAS-CHAVE: Estacas Mega, Estacas Prensadas, Prova de Carga, Carga de Ruptura, Solo
Colapsível.
1 INTRODUÇÃO radier.
São muitos os casos de fundações que se
Grandes extensões de área do Estado de São comportaram de forma adequada durante certo
Paulo, no Brasil, têm seu solo superficial tempo e, repentinamente, começaram a
constituído por um solo arenoso, de alta apresentar problemas de recalques, sem
porosidade e baixo grau de saturação. Esse qualquer mudança no nível de carregamento.
material, constituído por sedimentos cenozóicos Mudanças no comportamento das fundações,
ou por solo residual de arenito, se encontra principalmente em solos com características
presente até vários metros de profundidade e colapsíveis, geralmente estão associadas à
tem a característica de ser colapsível. infiltrações de água no terreno, sendo
O SPT nos primeiros metros é muito baixo, notadamente maior as ocorrências nos meses de
iniciando com 2 ou 3 golpes no primeiro metro chuvas intensas (novembro a março).
e crescendo de forma praticamente linear com a Esses recalques se refletem, inicialmente nas
profundidade até cerca de 10 a 12 metros. Em alvenarias e pisos, sob a forma de trincas e
Bauru, em edifícios altos predomina o uso de rachaduras. No caso de se estabelecer um
fundação profunda em tubulões; em edificações processo contínuo de deformações, ocorre a
de 4 a 8 pavimentos predomina o uso de estacas evolução e o agravamento das trincas, podendo
escavadas e apiloadas, assim como em colocar em risco a estabilidade geral da
residências térreas ou assobradadas. O uso de edificação.
fundação superficial (sapata corrida) está No sentido de recompor o desempenho das
limitado a edificações de pequeno porte fundações é comum o uso de estacas tipo Mega,
edificadas no sistema de autoconstrução, sem de concreto armado, cravadas em seguimentos
qualquer acompanhamento técnico e em de cerca de 0,50 m de comprimento, com
núcleos habitacionais onde predomina o uso de diâmetro usual de 0,20 m. É conhecida
popularmente como estaca “hidráulica”, pelo
fato de ser cravada com uso de macaco
hidráulico. Os elementos de concreto são 2 CRAVAÇÃO DAS ESTACAS
simplesmente justapostos, não sendo usual
qualquer tipo de solidarização entre eles. Para a realização dos ensaios foram cravadas,
Segundo Albiero (1996), os problemas com no campo experimental de fundações da
fundações são antigos e os romanos já Faculdade de Engenharia de Bauru, da Unesp,
utilizavam reforço de fundação. No entanto, os duas estacas, tipo Mega, entre estacas de reação
exemplos de utilização mais intensa datam do existentes e já utilizadas em outros projetos de
século XIII e se referem, principalmente, a pesquisa. As estacas foram cravadas pelo
recuperação de catedrais. processo de prensagem, com o macaco
O uso de estacas prensadas no Brasil se faz hidráulico reagindo contra viga metálica,
desde a década de 30, no século passado. No devidamente ancorada nas estacas de reação
entanto, é bastante limitado, para o tipo de solo através de barras de aço do tipo Dywidag .
predominante nessa região, o número de A figura 1 fornece valores médios de SPT e
trabalhos científicos abordando sua aplicação, classificação do solo obtidos em sondagem
seu comportamento e principalmente uma realizadas no campo experimental. Resultados
metodologia adequada de dimensionamento. de ensaios de caracterização realizados em
Alguns trabalhos são disponíveis sobre amostras coletadas no local e resultados de
comportamento desse tipo de estaca em outras outros tipos de ensaio de campo podem ser
regiões, cita-se Junqueira (1994), que mostra obtidos em Ferreira et al (1994).
em seu trabalho, um histórico sobre estacas
prensadas. Enumerando 26 casos práticos de
reforço de fundações ou fundações, dos quais,
cincos acompanhados por ele, onde o registro
manométrico de cargas era comparado ao
Método Decourt & Quaresma (1978).
Mais recentemente, Araújo (2005) também
analisa 26 casos de obras na grande São Paulo,
comparando a carga de cravação com a prevista
pela fórmula de Décourt-Quaresma (1978)
Com o objetivo de preencher parcialmente a
lacuna no meio técnico, sobre o comportamento
desse tipo de fundação na região de Bauru,
desenvolveu-se esse trabalho de pesquisa, que
consistiu no ensaio de duas estacas cravadas por
prensagem, com a realização de provas de
carga. Objetivou-se medir a influência do
colapso no comportamento desse tipo de estaca,
analisando-se a variação da capacidade de carga
nas estacas durante a inundação do solo ao
redor de uma delas e a capacidade de carga das
duas estacas na condição de terreno com o teor
Figura 1. Perfil médio e representativo do local.
de umidade natural e pré-inundado. Os
resultados fornecem subsídios para projetos de
Para esse fim foi utilizado um conjunto
fundações e de recuperação de fundações,
hidráulico de capacidade de 400 KN, dotado de
utilizando-se esse tipo de estaca em Bauru e em
motor elétrico, bomba, pistão, mangueira,
vasta região do estado de São Paulo que
comando e manômetro de glicerina aferido.
apresenta similaridade nas características
Cada estaca era composta de 16 unidades de
geotécnicas e geológicas.
0,50m de comprimento, pré-moldados de
concreto, não armados (fck 25 MPa), resultando reação, aplicou carga à estaca, forçando-a para
em estacas de 8m de comprimento. baixo, quando então se realizou o
Os segmentos foram cravados sem qualquer encunhamento dos pilaretes com a viga de
tipo de encaixe ou solidarização, como reação para a retirada do macaco.
rotineiramente é feito em trabalhos de reforço Essa operação é chamada no campo de
de fundações na região. O tempo gasto na “fechamento do ponto” realizada com peças de
cravação de cada estaca foi cerca de 50 concreto, pré-moldadas em forma de cunhas,
minutos. O afastamento entre as estacas foi de que são introduzidas entre a viga de reação e o
1,50 m e estas distavam 0,75m das estacas pilarete com golpes de marreta. Essa operação
existentes, duas de reação nas extremidades e 1 está de acordo com a afirmação de Alonso
central que havia sido ensaiada a compressão. A (1979), que cita: “A solidarização da estaca
figura 2 mostra uma foto do local obtida mega com a estrutura é feita sob tensão:
durante essa operação. executa-se um bloco sobre a extremidade da
estaca;com o macaco hidráulico comprime-se a
estaca calçando a estaca sob a estrutura; retira-
se o macaco e concreta-se o conjunto”.
Nesse experimento, como se pretendia medir
o comportamento das estacas com o solo
inundado, instalou-se entre a estaca e a viga de
reação células de carga devidamente aferidas,
de capacidade de carga de 300 kN.
Procurou-se nesse processo aproximar-se o
mais possível da situação de campo, com o
objetivo de medir a “perda de carga” que ocorre
durante o encunhamento (diferença entre carga
máxima de cravação e carga na estaca após o
encunhamento).
Ao se encunhar a primeira estaca chegou-se
a atingir cerca de 160 kN, porém ao se encunhar
a segunda estaca ocorria perda de carga na
primeira, devido à deformação da viga de
reação indicando uma “perda de carga no
encunhamento” da ordem de 25%. (diferença
entre carga máxima de cravação e carga inicial
após encunhamento). Procurou-se no
Figura 2 Detalhe da cravação de uma estaca.
encunhamento, por interesse da pesquisa, deixar
as duas estacas com carga da mesma ordem, o
A maior pressão observada no manômetro,
que se conseguiu após várias tentativas,
ao final da cravação, em ambas estacas
resultando leituras iniciais das células de carga
correspondia a uma carga de 215 kN. Após a
de 125 e 115 kN, respectivamente nas estacas 1
cravação dos elementos pré-moldados das estacas
e 2 (esquerda e direita para quem olha do local
estes foram encunhados contra a viga de reação,
onde os equipamentos foram colocados).
que fazia para a estaca o papel de uma viga
baldrame de uma residência.
Para isso utilizou-se uma viga horizontal curta,
3 ENSAIOS
armada para esforços de flexão a que estaria
sujeita, que foi colocada sobre a estaca e dois
Após o encunhamento das duas estacas iniciou-se
elementos prismáticos de concreto pré-moldados
o monitoramento delas, com o terreno na umidade
(pilaretes), que tinham a função de transmitir a
natural, por 24 horas. Esse monitoramento
carga para a viga de reação.
consistiu em medir a carga normal nas duas
Para essa operação o macaco foi colocado
estacas, através das células de carga e o recalque
entre os pilaretes, que reagindo contra a viga de
através de deflectômetros instalados no eixo das das estacas, em posições diametralmente
estacas (um em cada estaca). A figura 3 mostra opostas.
detalhe dessa etapa do trabalho.
REFERÊNCIAS