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INTRODUÇÃO
O levantamento e a valorização de elementos ligados as características físicas e naturais da região amazônica ou de elementos que
Fonte: Acervo da família
possam figurar como representantes tradicionais de uma identidade regional presentes na obra de Mário Ypiranga Monteiro no início de sua
trajetória intelectual, deve ser analisada na relação que este autor estabelece enquanto um intelectual regional, nos termos de Rodolfo Vilhena
(1997), entre a sua obra acerca do folclore amazônico e o conjunto de representações elencadas pelo esforço de diferentes intelectuais
radicados nas demais regiões brasileiras.
O que está em questão é a participação do autor no projeto empreendido pela Comissão Nacional de Folclore (CNFL) que, na década de
1950, irá congregar intelectuais das diversas regiões do país em prol do resgate e valorização do folclore tomado como representante máximo
da brasilidade uma vez que responde pelo que de mais tradicional existe na cultura brasileira frente ao intenso processo de urbanização e
modernização vivido pelo país a partir de 1930.
O trabalho se configurou como uma pesquisa bibliográfica na medida em que buscou percorrer os itinerários do pensamento social brasileiro acerca da temática da
identidade nacional e regional entendidas enquanto um conjunto de representações com o intuito de legitimar uma visão específica acerca de uma dada realidade.
A releitura de Gilberto Freyre naquilo que representa uma proposta de identidade contextualizada no tempo e no espaço e representada pela gama multifacetada de regiões
culturais que compõem o Brasil, presente em textos como Nordeste (1937) e Continente e Ilha (1943) nos levou a situar os estudos de um intelectual nativo, a saber, Mário
Ypiranga Monteiro no conjunto abrangente das leituras sobre o Brasil uma vez que a valorização regional do país permite com que uma gama de intelectuais deslocados dos
grandes centros de produção do pensamento social dêem vazão para um conjunto de representações produzidos no âmbito das regiões.
Estudando o folclore regional e participando do movimento da CNFL, a produção do autor é representativa de uma retomada da regionalidade e permite a compreensão
ampliada da relação de confronto-associação entre o conjunto de representações sobre a região amazônica que emerge de trabalhos como O Regatão (1958), O Aguadeiro
(1947) e Roteiro do Folclore Amazônico (1964) e a perspectiva gilbertiana de Brasil regional no bojo do movimento folclórico cuja maior vitalidade ocorreu entre os anos de 1947
e 1964 (VILHENA, 1997).
RESULTADOS
A compreensão do Brasil a partir do conjunto de regiões culturais guardiãs da tradição genuinamente brasileira, proposta por Gilberto Freyre
a partir da década de 1930, acaba por fundamentar a posição da CNFL acerca da necessidade do resgate e valorização dos aspectos relativos
ao folclore nas diversas regiões brasileiras. Participante ativo desse projeto marcado pela congregação de intelectuais regionais no sentido de
valorizar e resgatar o folclore, Mário Ypiranga Monteiro se insere no campo de produção do pensamento social brasileiro com um discurso
“criador” da região amazônica reconhecido e legitimado por instâncias de consagração como o Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas
(IGHA) e a Academia Amazonense de Letras (AAL). No cenário de possibilidades aberto pelo movimento folclórico a partir da década de 1940,
nosso autor forja um conjunto de representações que “inventam” a região enquanto um cenário não apenas natural, mas social e cultural,
participante do conjunto abrangente da identidade e da cultura nacional.