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Curso de Formação de Oficiais - CFO

Disciplina: Direito Penal - III


Instrutor: ST QPC PM SAMUEL
AULAS 17 a 21 – Crimes Contra a Liberdade Sexual
Olá pessoal!

INTRODUÇÃO

Nesta oportunidade estudaremos os crimes conta a liberdade sexual, constante nos art. 213 a
216-B, do Código Penal, cujo texto recomendamos a leitura.
Os crimes contra a liberdade sexual estão inseridos dentro do rol dos crimes contra a
dignidade sexual do Título VI, do Código Penal Brasileiro.
Estas espécies de crimes vêm sofrendo diversas alterações nas últimas décadas. Daí se revela
a importância de nos atentarmos ao texto legal atualizado.
A grande alteração se deu em 2009, através da Lei nº 12.015, quando foi ampliado o sujeito
ativo e passivo dessas espécies de crimes, especialmente no tocante ao crime de estupro.
Até 2009, somente mulher poderia figurar como sujeito passivo do crime de estupro, pois o
texto legal apresentava a seguinte redação: “Constranger mulher à conjunção carnal, mediante
violência ou grave ameaça”.
É provável que todos vocês aprenderam que conjunção carnal consistia na penetração do
pênis na vagina, sendo que os demais atos sexuais consistiam naquilo que o legislador resumiu em
chamar de outros atos libidinosos diversos da conjunção carnal.

Se conjunção carnal é a penetração do pênis na vagina, então o que poderia ser esses outros
atos libidinosos? Para a resposta, recorremos à medicina legal que divide esses atos em cópulas
ectópicas; os atos orais e atos manuais.

a) Cópulas ectópicas: cópulas fora da vagina: Cópula anal; cópula retal; cópula vulvar
(cópula vestibular ou “ad introitum") e cópula entre as coxas.

b) Atos orais: Felação; cunilíngua (sexo oral na genitália feminina) e os beijos e sucções
nas mamas, coxas ou outras regiões de conotação sexual.

c) Atos manuais: Masturbação; manipulações eróticas de todos os tipos.

Entenderam!

Em síntese, hoje crime de estupro, segundo o que dispõe o art. 213, do CP, corresponde tanto
a conjunção carnal, quanto qualquer ato libidinoso.

Com essa mudança, foi incorporada ao crime de estupro a antiga conduta do crime do art.
214, conhecido como atentado violento ao pudor, o qual consistia em: “Constranger alguém, mediante
violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso da
conjunção carnal”.

Perceberam a mudança?!

Esta incorporação é conhecida juridicamente como continuidade normativa típica. É quando


uma conduta permanece como típica, mas é incorporada a outro tipo legal.

Vejamos como esse tema poderia ser objeto em nossa prova!

Questão: Com relação aos crimes sexuais e considerando a Lei nº 12015, de 07/08/2009, assinale a alternativa
correta.
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a) O crime de sedução só se caracteriza com a presença dos seguintes elementos: conjunção carnal, virgindade,
menoridade de 14 a 18 anos de idade, inexperiência e justificada confiança.
b) A gravidez pode só resultar de conjunção carnal.
c) A presença de tubérculos ou carúnculas mirtiformes indica ruptura recente do hímen.
d) A partir da conceituação legal do crime de estupro, é correto afirmar que os elementos do crime são
violência ou grave ameaça, a conjunção carnal ou ato libidinoso diverso.
e) No crime de estupro, a vítima é sempre a mulher, sendo o homem o agressor.

Outra mudança significativa que ocorreu dentro do título dos crimes contra a dignidade
sexual, foi quanto ao tipo de ação penal. E neste ponto, vale ressaltar, esta é a terceira mudança na
espécie da ação.

Até 2009, tais crimes eram de ação penal privada. Com a reforma de 2009, passou-se para
ação pública condicionada à representação, salvo nas hipóteses de vítima menor de 18 (dezoito) anos.

Chamamos vossa atenção para a última mudança trazida pela Lei 13.718/2018, que mudou
todos os crimes de estupro, para ação penal pública incondicionada, nos termos do art. 225, do
Código penal.

Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação
penal pública incondicionada. (Redação dada pela Lei nº 13.718, de 2018)

CAPÍTULO I
DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

Estupro
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou
a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso

Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.


§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18
(dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.


§ 2o Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta)

Sujeito ativo: qualquer pessoa – homem ou mulher


Sujeito passivo: qualquer pessoa – homem ou mulher
Coautoria: é possível quando praticado a violência ou grave ameaça.

Obs.: a conjunção carnal após a morte constitui vilipendio de cadáver – art. 212, CP.

Estupro qualificado: §§ 1º e 2º

a) se a vítima é menor de 18 anos ou maior de 14 anos - Pena - reclusão, de 8 a 12 anos;

Caso a vítima complete 14 anos no dia do estupro será estupro qualificado e não estupro de vulnerável.

b) ou se resulta lesão corporal de natureza grave - Pena - reclusão, de 8 a 12 anos;

c) se da conduta resulta morte - Pena - reclusão, de 12 a 30 anos.


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Obs.: as qualificadoras “a” e “b” são exclusivamente preterdolosas, não admitindo a modalidade
tentada.

Violação sexual mediante fraude

Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude
ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se
também multa.

Sujeito ativo: qualquer pessoa

Importunação sexual

Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de
satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui crime mais grave.

Este tipo penal foi transformado em crime em 2018, através da lei 13.718, surgido da antiga
contravenção penal de importunação sexual.

Assédio sexual

Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual,
prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao
exercício de emprego, cargo ou função.

Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.

§ 2o A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos.

DA EXPOSIÇÃO DA INTIMIDADE SEXUAL

Registro não autorizado da intimidade sexual

Art. 216-B. Produzir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, conteúdo com cena de
nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado sem autorização dos participantes:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e multa.

Na mesma pena incorre quem realiza montagem em fotografia, vídeo, áudio ou qualquer outro
registro com o fim de incluir pessoa em cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo.

Este tipo penal, também, foi inserido em 2018, mediante a Lei 13.772/2018.

Estupro de vulnerável

Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze)
anos:
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Pena - reclusão, de 8 a 15 anos

Se o menor mente a sua idade, pode ser reconhecido o erro de tipo, excluindo o dolo da conduta.

É crime hediondo.

Sujeito ativo: qualquer pessoa, homem ou mulher.

Sujeito passivo: qualquer pessoa vulnerável, homem ou mulher.

Quem é o vulnerável:

a) os menores de 14 anos;

O Código penal abandonou o sistema de presunção de violência.

b) As pessoas portadora de enfermidade ou doença mental, que não tenham o necessário


discernimento para a prática do ato – é indispensável perícia.

c) pessoa que por qualquer outra causa não pode oferecer resistência.

Ex.: vítima com idade avançada, embriaguez, uso de droga e etc.

Qualificadoras:

Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave

Pena - reclusão, de 10 a 20 anos.

§ 4o Se da conduta resulta morte:

Pena - reclusão, de 12 a 30 anos.

§ 5º As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste artigo aplicam-se independentemente


do consentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido relações sexuais anteriormente ao crime.
(Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)

Corrupção de menores

Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia de outrem:

Pena - reclusão, de 2 a 5 anos

Conduta: o crime se verifica quando o sujeito ativo induz (alicia, persuade) menor de 14 anos a
satisfazer a lascívia (sensualidade, libidinagem, luxúria) de outrem.

Trata-se de práticas sexuais meramente contemplativas.

Atenção! Caso o agente convença uma menor de 14 anos a manter conjunção carnal com 3º e o
ato se concretize, este responde por estupro de vulnerável e quem induziu a menor é participe.

Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou

Art. 218-A. Praticar, na presença de alguém menor de 14 (catorze) anos, ou induzi-lo a


presenciar, conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de outrem:
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Pena - reclusão, de 2 a 4 anos

Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou


adolescente ou de vulnerável.

Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual
alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o
necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone:

Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos.

§ 1o Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa.

§ 2o Incorre nas mesmas penas:

I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18 (dezoito) e
maior de 14 (catorze) anos na situação descrita no caput deste artigo

II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as práticas


referidas no caput deste artigo.

Na hipótese do inciso II do § 2o, constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença


de localização e de funcionamento do estabelecimento.

Divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável, de cena de sexo ou de


pornografia (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)

Art. 218-C. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda, distribuir,
publicar ou divulgar, por qualquer meio - inclusive por meio de comunicação de massa ou sistema de
informática ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que contenha cena de
estupro ou de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o
consentimento da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia: (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)

Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não constitui crime mais grave.

Aumento de pena

A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se o crime é praticado por agente que
mantém ou tenha mantido relação íntima de afeto com a vítima ou com o fim de vingança ou
humilhação.

Exclusão de ilicitude

Não há crime quando o agente pratica as condutas descritas no caput deste artigo em
publicação de natureza jornalística, científica, cultural ou acadêmica com a adoção de recurso que
impossibilite a identificação da vítima, ressalvada sua prévia autorização, caso seja maior de 18
(dezoito) anos.

Ação penal

Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, PROCEDE-SE MEDIANTE
AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA.
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Aumento de pena

A pena é aumentada – art. 226:

I – de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2 (duas) ou mais pessoas;

II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro,


tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tiver autoridade sobre
ela;

III - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado

Estupro coletivo

a) mediante concurso de 2 (dois) ou mais agentes;

Estupro corretivo

b) para controlar o comportamento social ou sexual da vítima

Neste conteúdo privilegiamos o estudo da lei, sem nos estender em teorias, mas para
aprofundamento da matéria, recomendamos a leitura da doutrina especializada sobre o tema.

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