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INTEIRO TEOR DA DELIBERAÇÃO

35ª SESSÃO ORDINÁRIA DO TRIBUNAL PLENO REALIZADA EM 19/09/2012


PROCESSO TC Nº 1107932-0
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO INTERPOSTOS PELOS SRS. JOSÉ BATISTA DA
GAMA, PAULO AFONSO DE SOUZA, ODACY AMORIM DE SOUZA E JOSÉ
CRISPINIANO COELHO CONTRA O ACÓRDÃO TC Nº 593/11 (PROCESSO TC
Nº 0903278-2)
ADVOGADOS: DR. MÁRCIO JOSÉ ALVES DE SOUZA – OAB/PE Nº 5.786;
RELATOR: CONSELHEIRO EM EXERCÍCIO RUY RICARDO W. HARTEN JÚNIOR
PRESIDENTE: CONSELHEIRA TERESA DUERE

RELATÓRIO

Cuida-se de Embargos de Declaração interpostos por


José Batista da Gama, José Crispiniano Coelho, Odacy Amorim de
Souza e Paulo Afonso de Souza, por meio de advogado
devidamente habilitado nos autos, contra o Acórdão TC nº
593/11, publicado no Diário Oficial do Estado em 12.10.2011,
que deu provimento parcial ao Recurso Ordinário protocolado
sob o número TC nº 0903278-2, para reformar a Decisão TC nº
0330/09, que julgou irregulares as contas objeto da Auditoria
Especial – Processo TC nº 0705402-6, exercício financeiro de
2001.
O Acórdão ora atacado determinou, tão somente, a
retirada do débito originalmente imputado, fazendo constar
como fundamento da deliberação os seguintes considerandos:

1) considerando as despesas com combustíveis em desrespeito ao


Princípio da Razoabilidade;

2) considerando os dispêndios com locação de veículos sem


atenção ao Princípio da Razoabilidade.

Os Embargantes alegam a existência de contradição e


erro material na deliberação vergastada, nos seguintes termos:

“[...]

3. DA EXISTÊNCIA DE ERRO MATERIAL

O acórdão embargado ao analisar a admissibilidade do


Recurso Ordinário não o admitiu por ter sido interposto fora do
prazo legal (intempestivo). No entanto, como foi interposto
dentro do prazo previsto para pedido de rescisão como tal foi
conhecido.

Eis os fundamentos do acórdão embargado:

1
As partes são legítimas, tendo indiscutível
interesse jurídico no deslinde da questão e, o recurso
ora interposto, embora intempestivo para Recurso
Ordinário, foi protocolado no prazo previsto para Pedido
de Rescisão nos termos do § único do art. 83 da LOTCE, e
como tal deve ser conhecido, em face, da amplitude que
vem sendo dada ao Pedido de Rescisão neste Tribunal,
aliado a aplicação do Princípio da Formalidade Moderada.
Destarte, pugnamos pelo conhecimento do recurso.

Há erro material, pois o Recurso Ordinário foi interposto


dentro do prazo legal.

[...]”.

Os embargantes também alegam a existência de


contradição na deliberação atacada, nos seguintes termos:

4.1. O acórdão embargado deu provimento parcial ao


Recurso interposto pelos embargantes para excluir o débito no
valor de R$790.650,00, devido à ausência de dano ao erário, no
entanto, manteve a rejeição das contas, por subsistir as
seguintes irregularidades: (i) realização de despesas sem
prévio processo de licitação, (ii) notas fiscais que não
apresentam informações suficientes para garantir a veracidade
da transação, (iii) inexistência de sistema de controle de
combustíveis, (iv) que o consumo de combustíveis foi registrado
em Notas Fiscais pelo valor do mês.

A contradição reside no fato da decisão ter excluído o


débito, no valor de R$790.650,00(irregularidade insanável) e
manter a rejeição da Prestação de Contas dos embargantes, por
identificar irregularidades formais (sanáveis), sem dano.
(grifos nossos)

Visando firmar convencimento no sentido da tese


exposta, acrescentam que as falhas no controle de
abastecimento de veículos é erro comum nas Prefeituras e
Câmaras Legislativas do Estado, e que essa, a exemplo das
demais irregularidades levantadas pela auditoria, este
Tribunal vem as considerando como falhas formais, passíveis de
ensejar o julgamento regular, com ressalvas. Nesses termos,
foram feitas transcrições de algumas deliberações da Casa.
Por fim, acrescentam que não foi verificada a
ocorrência de grave infração à norma legal ou regulamentar de
natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional ou
patronal que tenha resultado dano ao erário, sendo assim,
restaria afastada a possibilidade de enquadramento dos fatos
tratados pela auditoria nas hipóteses previstas nas alíneas do
inciso III do art. 59 da Lei Orgânica do TCE/PE (Lei Estadual
nº 12.600/04).

2
Consta dos autos opinativo da assessoria da
presidência, reconhecendo a legitimidade das partes
Recorrentes, bem como da tempestividade do protocolo da peça
recursal, nos termos previstos no § 1º do art. 81 da Lei
Estadual nº 12.600/2004, fl. 10.
É o relatório.

VOTO DO RELATOR

É de se conferir admissibilidade aos presentes


embargos de declaração, haja vista a tempestividade da
interposição e alegações específicas acerca da existência de
contradições, cujo mérito será tratado a seguir.
Inicialmente, cumpre afirmar que os embargantes
cometem equívoco ao afirmar a existência de erro material no
Acórdão T.C. nº 593/11, tendo em vista que a passagem
transcrita na peça recursal, indicando o acolhimento do
recurso originalmente interposto como pedido de rescisão,
corresponde a trecho do opinativo do Ministério Público de
Contas que não foi acolhido por ocasião do julgamento. Vejamos
o seguinte trecho do voto de minha relatoria:

Não posso deixar de concordar com a nobre Procuradora Dra.


Maria Nilda da Silva, quando, em seu Parecer, enfatizou a
impossibilidade da manutenção da decisão ora atacada. De fato,
não se fez no Relatório de Auditoria e, por conseguinte, na
decisão arrostada distinção entre os valores efetivamente
gastos no exercício da atividade parlamentar e aqueles que se
constituiriam excessos. Devo, contudo, dissentir da insigne
Procuradora no que diz respeito à aplicação de penalidade
pecuniária, haja vista o decurso do prazo de 24 (vinte e
quatro) meses contado da data de autuação do processo. Também
divirjo quanto à tempestividade do recurso em tela. O prazo de
30 (trinta) dias completou-se no dia 06/06/2009. Contudo,
tratou-se de um sábado. A interposição do recurso deu-se no
primeiro dia útil seguinte (08/06/2009). (grifos nossos)

No que diz respeito à alegação de contradição,


verifica-se que a tese trazida à lume pelo embargante tem como
base o fato de ter ocorrido exclusão do débito imputado,
referente aos gastos com combustíveis e locação de veículos,
sem o afastamento da rejeição das contas analisadas. Frise-se
que tal argumento também foi utilizado pelos embargantes do
Processo TC nº 1108273-2, anteriormente julgado nesta mesma
Sessão Ordinária de julgamento, que tratou, igualmente, do
Acórdão sob exame. Sendo assim, lanço mão dos mesmos
fundamentos daquele meu voto:

3
De acordo com o inteiro teor da deliberação vergastada, o
voto acolhido pelo Tribunal Pleno teve como fundamento as
ponderações feitas pela representante do Ministério Público de
Contas, Procuradora Nilda Maria, ressalvadas a sugestão de
aplicação de multa aos responsáveis, em razão do decurso do
prazo de mais 24 (vinte e quatro) meses da autuação daqueles
autos, e, ainda, a sugestão de conhecimento do recurso como
pedido de rescisão, haja vista a constatação da efetiva
tempestividade da interposição.

O parecer emitido pelo Parquet, nos autos do recurso


ordinário, precedida de acurada análise dos argumentos da
defesa, foi no sentido da confirmação da desarrazoabilidade dos
gastos impugnados pela auditoria e da existência de graves
irregularidades “de ordem legal e procedimental”, inobstante, a
impossibilidade de determinação de devolução dos valores
impugnados pela auditoria, dada a inexistência nos autos de
elementos suficientes à delimitação do quantum efetivamente
gasto na real atividade parlamentar, do que foi gasto para fins
diversos dos correspondentes à atividade parlamentar. O
opinativo do Ministério Público de Contas foi totalmente
transcrito no relatório de voto do recurso em comento, restando
claramente demonstrados os fundamentos da deliberação ora
atacada.

Não vislumbro a ocorrência de contradição no teor da


deliberação em questão, uma vez que a imputação de dano não
representa condição indispensável ao julgamento irregular dos
processos sob exame nesta Casa.

A razão do afastamento do dano, defendido pelo Ministério


Público, e acolhido no voto condutor, foi a impossibilidade de
conferir liquidez ao dano; não tendo sido afastada a ocorrência
da desarrazoabilidade dos gastos e a existência de graves
irregularidades de ordem legal e procedimental.

Ao contrário do que afirmam os embargantes, a Lei


Orgânica do TCE-PE (Lei nº 12.600/2004) elenca as hipóteses de
julgamento regulares das contas que não estão, necessariamente,
ligadas à ocorrência de dano, a exemplo da hipótese de “grave
infração a norma legal ou regulamentar de natureza contábil,
financeira, orçamentária, operacional ou patrimonial”. Vide
teor do inciso III, art. 59, da Lei nº 12.600/04, transcrito a
seguir:

Art. 59. As contas serão julgadas:

[...]

III – irregulares, quando comprovada qualquer das


seguintes ocorrências:

a) conduta da administração tipificada como ato de


improbidade administrativa, nos termos da Lei;

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b) grave infração a norma legal ou regulamentar de
natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional
ou patrimonial;

c) culposa aplicação antieconômica de recursos públicos;

d) desfalque, desvio de dinheiro, bens ou valores


públicos;

e) descumprimento de determinação de que o responsável


tenha tido ciência, feita em processo anterior de Tomada
e Prestação de Contas.

[...].

Quanto às alegações de contradição com outros


julgados desta Corte, não posso deixar de dizer que os
Embargos de Declaração não se prestam à invocação de suposta
divergências entre julgados.

Pelas razões acima expostas,

Conheço dos presentes Embargos de Declaração e,


quanto ao mérito, nego-lhes provimento.

OS CONSELHEIROS CARLOS PORTO, VALDECIR PASCOAL, ROMÁRIO DIAS,


MARCOS LORETO E CARLOS BARBOSA PIMENTEL VOTARAM DE ACORDO COM O
RELATOR. PRESENTE A PROCURADORA GERAL, DRA. ELIANA MARIA LAPENDA
DE MORAES GUERRA.

PAN/W

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